Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
18 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
aos desejos <strong>dos</strong> oprimi<strong>dos</strong>, empolga<strong>dos</strong> pelas esperanças<br />
de se libertarem das cadeias.<br />
Por mais que seus doutrinadores, filósofos e cientistas<br />
procurem por to<strong>dos</strong> os meios criar filosofias e doutrinas,<br />
que assegurem a irrealidade da vida objectiva, a<br />
superioridade de uma concepção idealista e espiritualista<br />
do mundo, a afirmação de que a História é apenas um<br />
suceder de factos, e que o regime capitalista mercantil,<br />
fundado no lucro a todo o custo, é o que melhor corresponde<br />
aos desejos e aos estímulos humanos, a burguesia<br />
sabe, e isso o confessa intimamente, que tudo é passageiro,<br />
que a sua situação como classe dominante é a repetição<br />
sociológica de outras classes, que dominaram e cederam<br />
o lugar a formas mais evoluídas.<br />
Ela sabe que não poderá deter a marcha <strong>dos</strong> acontecimentos,<br />
mas sabe, também, que poderá, pelo menos,<br />
retardá-la. As reformas e as transformações da sociedade<br />
serão inevitáveis. Elas sobrevirão, mas é possível retardá-las.<br />
E a política é a grande arma burguesa de retardamento.<br />
E prosseguem os libertários em seus argumentos:<br />
Se as reformas sociais se processassem facilmente, se<br />
a acção directa das massas, acção imediata, sem intermediários,<br />
sem políticos, se processasse a fazer reformas,<br />
essas sobreviriam rápidas, umas após outras, de tal forma,<br />
que a sequência <strong>dos</strong> acontecimentos teria um ritmo<br />
mais veloz, e a transformação completa da sociedade se<br />
processaria num lapso de tempo muito menor.<br />
Ante essa imprescriptibilidade <strong>dos</strong> acontecimentos, a<br />
burguesia usa do meio mais hábil e mais sagaz criado<br />
pelo espírito humano: a política, a acção indirecta, mediata,<br />
o intermediário. Desta forma, preso no emaranhado<br />
das leis, no ritmo lento <strong>dos</strong> parlamentos, to<strong>dos</strong> os entusiasmos<br />
se esfriam e as massas, ante a realidade <strong>dos</strong> fac-<br />
O PROBLEMA SOCIAL 19<br />
tos, ficam aguardando nas eleições seguintes uma vitória<br />
mais completa, a eleição de outras "esperanças", para que<br />
t>las realizem os seus desejos.<br />
Sabe também a burguesia que a melhor forma de<br />
desmoralizar um partido é elevá-lo a uma posição de<br />
mando. Os mandatários nunca podem realizar, nem uma<br />
parcela mínima do que prometem. Para obterem maior<br />
número de votos, são obriga<strong>dos</strong> a fazer promessas, muitas<br />
das quais sabem perfeitamente que não podem cumprir.<br />
São obriga<strong>dos</strong> a oferecer às massas um futuro que<br />
não lhes está nas mãos. Guinda<strong>dos</strong> ao poder, sob entusiasmo<br />
e esperanças, suas realizações são apenas migalhas<br />
do que cai da mesa de banquete da burguesia. E,<br />
sobrevem a desmoralização do partido! São também os<br />
representantes do povo, <strong>dos</strong> operários, que traem, os Lavai,<br />
os Millerand, que entram a fazer parte <strong>dos</strong> conchavos<br />
políticos, e que se embrutecem na vida parlamentar, que<br />
são empolga<strong>dos</strong> pelos prazeres fáceis das grandes capitais<br />
e da vida parasitária <strong>dos</strong> mandatários do povo, das<br />
conversas fúteis <strong>dos</strong> cafés <strong>dos</strong> parlamentos, <strong>dos</strong> jantares<br />
opíparos e do exemplo pernicioso de to<strong>dos</strong> os salafrários<br />
que os cercam, e que lhes oferecem as possibilidades de<br />
ganhos desonestos, que contribuem para os reflexos do<br />
movimento <strong>social</strong>ista.<br />
E esses "traidores" são os que desmoralizam depois<br />
os parti<strong>dos</strong>!<br />
E nas eleições seguintes, o eleitorado simpatizante,<br />
desanimado com a acção <strong>dos</strong> "representantes", vota noutros<br />
parti<strong>dos</strong>, acredita em novas "esperanças", assim o<br />
tempo passa.<br />
Veja-se o exemplo de toda a história do <strong>social</strong>ismo<br />
eleitoralista. Sobem parti<strong>dos</strong> <strong>social</strong>istas, e nada de <strong>social</strong>ismo.<br />
Na eleição seguinte, sobem os conservadores,<br />
«> tudo fica como estava, ou pior. E a grande ingenuida-