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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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158 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

O QUE SE DEVE ENTENDER POR DEMOCRACIA<br />

A palavra democracia terminou por ter o destino de<br />

todas as palavras: perdeu seu legítimo sentido original.<br />

A democracia representativa é uma organização, não do<br />

povo, mas <strong>dos</strong> representantes do povo, escolhi<strong>dos</strong> pelo<br />

sistema mais falso e mais prejudicialmente selectivo.<br />

Tornou-se, de verdadeira representação popular, em regime<br />

de caçadores de cargos electivos, com toda a degenerescência<br />

consequente <strong>dos</strong> que transformam os meios em<br />

fins.<br />

O Brasil tem condições ainda fracas para formar uma<br />

democracia. A índole pacífica e hospitaleira do nosso<br />

povo é realmente democrática, mas a inércia, decorrente<br />

do analfabetismo, da incultura e da falta de saúde, não<br />

lhe permite aspirar à responsabilidade. Aceita factos<br />

consuma<strong>dos</strong>. É povo fatalista. Tais condições permitiram<br />

que o sistema de representação, que devera ser selectivo<br />

para melhor, o fosse para pior. Falar de certos<br />

homens públicos, de sua venalidade e de sua incompetência,<br />

seria até mau gosto, porque to<strong>dos</strong> sabem como essas<br />

notas são marcantes da nossa política, apesar das honrosas<br />

excepções de homens bem intenciona<strong>dos</strong>, que se<br />

vêem coarcta<strong>dos</strong> pela acção dissolvente <strong>dos</strong> politiqueiros.<br />

A selecção de valores será sempre frustrada, e muitos homens<br />

dignos de nossa terra negam-se a ombrear com certos<br />

politiqueiros por questão de pejo. Ora, esses valores<br />

são desconheci<strong>dos</strong> do povo, porque eles não buscam a notoriedade.<br />

Portanto, nunca serão eleva<strong>dos</strong> aos altos postos.<br />

Além disso, os políticos mal intenciona<strong>dos</strong> não os<br />

quereriam por serem incómo<strong>dos</strong>. Além de aumentarem<br />

o desvalor de muitos guinda<strong>dos</strong> aos altos postos, não pactuariam<br />

com certas indecências, nem se prestariam a certos<br />

manejos. Dessa forma, está vedada, enquanto continuarem<br />

essas condições, a elevação de homens dignos e<br />

O PROBLEMA SOCIAL 159<br />

competentes. Essa realidade triste de nossa terra é própria<br />

do espírito paleotécnico que ainda a domina, e frustra<br />

a acção desinteressada e honesta daqueles homens públicos,<br />

que visam ao bem de seu povo.<br />

ADMINISTRAÇÃO NEOTÉCNICA<br />

Dadas as nossas condições de cultura, o analfabetismo,<br />

a exiguidade quantitativa e qualitativa de nossas escolas,<br />

a pouca amplitude de nossos conhecimentos médios,<br />

o Brasil é um país que defronta um <strong>dos</strong> maiores<br />

<strong>problema</strong>s, o qual consiste na carência de homens suficientemente<br />

hábeis.<br />

Por isso, o <strong>problema</strong> da autoridade no Brasil é o mais<br />

complexo, e exige uma solução que se enquadre dentro<br />

das nossas condições. A política favorece a investidura<br />

de autoridade, e permite a pessoas inábeis guindarem-se<br />

a postos de grande responsabilidade para os quais seriam<br />

exigíveis conhecimentos amplos. Se essa política paleotécnica<br />

é prejudicial em países que já alcançaram um<br />

nível de cultura elevado, entre nós traz e trará maiores<br />

males. Dado o número restrito de elementos de real<br />

competência intelectual, nós não podemos continuar imitando<br />

as práticas de outros povos. Temos de organizar<br />

a nossa vida econômico-<strong>social</strong>, não sob bases propriamente<br />

políticas, mas administrativas, com o aproveitamento<br />

de to<strong>dos</strong> os elementos de real saber para penetrarmos<br />

na neotécnica e na biotécnica. Não podemos, por<br />

injunções e interesses partidários, deixar de fora <strong>dos</strong> lugares<br />

correspondentes os que realmente são os indica<strong>dos</strong><br />

para os mesmos. Nosso processo eleitoral, sob base<br />

meramente quantitativa, permite uma selecção inversa,<br />

negativa até. No entanto, a organização administrativa,<br />

sob a base eleitoral selectiva e qualitativa, impediria alcançassem<br />

os postos de responsabilidade homens que não

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