Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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152 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
toriosamente. Podemos considerar a Holanda até o século<br />
XVIII como o país típico da eotécnica; a Inglaterra,<br />
da revolução industrial, como a da paleotécnica; os Esta<strong>dos</strong><br />
Uni<strong>dos</strong>, da neotécnica e, actualmente, a Suécia, como<br />
o iniciador prático da biotécnica. A energia atómica<br />
será a energia predominante desta nova fase, a qual permitirá<br />
uma descentralização ainda maior da indústria.<br />
Tudo se prepara para evidenciar que o marxismo foi apenas<br />
uma filosofia paleotécnica, sobrevivente ainda graças<br />
à predominância da mentalidade paleotécnica. A própria<br />
Rússia ainda é um país paleotécnico e a sua indústria,<br />
embora aplicando a electricidade, segue aquelas normas,<br />
aproveita as lições do taylorismo, transformado em estacanovismo,<br />
não tendo iniciado ainda nenhuma reforma<br />
na indústria a caminho da humanização do trabalho, como<br />
se processa, por exemplo, na Suécia, nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>,<br />
etc.<br />
A supervivência do marxismo se dá graças à existência<br />
da mentalidade paleotécnica de grande parte do capitalismo<br />
e <strong>dos</strong> homens públicos, e morrerá com a destruição<br />
desse espírito. O marxismo é apenas uma reacção<br />
à exploração desmedida da paleotécnica. A política,<br />
que nesta fase é a mais desenfreada, predomina sobre a<br />
administração; na neotécnica, é superada pela administração.<br />
A política é arte, e como arte trabalha com juízos de<br />
valor. Por isso a política é campo de divergências, por<br />
não poder formar juízos universalmente váli<strong>dos</strong>. A administração,<br />
graças à Técnica, torna-se ciência, e trabalha,<br />
com juízos de existência, universalmente váli<strong>dos</strong>. Dessa<br />
forma, não se deve mais confundir uma com a outra.<br />
Assim a política é própria da paleotécnica, como a<br />
administração o é da neotécnica. Colocado o <strong>problema</strong><br />
económico e histórico neste pé, vê-se que a divergência,<br />
a que ora assistimos, é a de uma reacção ao capitalismo<br />
O PROBLEMA SOCIAL 153<br />
paleotécnico de um lado, representado pelo marxismo,<br />
que no seu afã de combatê-lo, engloba o neotécnico, que<br />
é diverso daquele. Mas o espírito de competição e de<br />
lucro desenfreado ainda predomina, sobretudo em países<br />
como o Brasil, genuinamente paleotécnico.<br />
E esse espírito fortalece o bolchevismo. Sim, toda<br />
vez que os capitalistas de mentalidade paleotécnica exercem<br />
uma exploração, aumentam o custo de vida, realizam<br />
eles uma propaganda bolchevista maior que to<strong>dos</strong> os discursos<br />
de seus sequazes. Um país, já predominantemente<br />
neotecnizado, como os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, obriga os bolchevistas<br />
a certas modificações de propaganda, por não<br />
poderem negar o alto padrão de vida e de liberdade do<br />
trabalhador americano. E como não podem fundamenta-se<br />
na exploração desenfreada interna, já minorada pela<br />
neotécnica, afirmam apenas o papel imperialista, desviando<br />
para o terreno internacional a crítica sem bases sólidas<br />
no terreno nacional. A neotécnica, dadas às ligações<br />
mais directas da producção, e <strong>dos</strong> elementos que a<br />
compõem, exige, desde logo, a cooperação que, ao estabelecer-se<br />
em relações sociais positivas, predispõe a valorização<br />
das ideias de cooperação correspondentes, esquecidas<br />
na fase da paleotécnica.<br />
Nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, é tal o desenvolvimento hoje de<br />
formas de cooperação, que vemos ali dezenas de companhias<br />
de petróleo, grandes indústrias, empresas agrícolas,<br />
bancos pertencerem a cooperativas. E ao mesmo tempo<br />
as exigências da cooperação gestam os grandes movimentos<br />
de bairro, de apoio-mútuo, de mutualismo, como nunca<br />
conheceu em sua história. Assim, a neotécnica em sua<br />
marcha para a biotécnica, permite a instalação mais hábil<br />
de formas de cooperação. Tanto o Trabalho como a<br />
Natureza e o Capital podem tomar função <strong>social</strong>, e harmonizarem-se<br />
com o natural desaparecimento do capitalismo<br />
paleotécnico explorador e de seus apêndices, os in-