Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
É uma banalidade económica afirmar que o Capital,<br />
o Trabalho e a Natureza são factores imprescindíveis da<br />
producção.<br />
Mostra-nos a história económica, que os detentores<br />
do Capital, do Trabalho e da Natureza, exercem, no entanto,<br />
uma espécie de domínio sobre os outros. Assim<br />
como tivemos o predomínio <strong>dos</strong> detentores da Natureza<br />
sobre os outros, que lhe ficaram subordina<strong>dos</strong>, e como<br />
hoje assistimos à subordinação do Trabalho e da Natureza<br />
ao Capitai, em breve, dizem, veremos a predominância<br />
do Trabalho sobre o Capital e sobre a Natureza. A<br />
primeira fase seria representada pelo feudalismo, a segunda<br />
pelo capitalismo, e a terceira pelo <strong>social</strong>ismo autoritário.<br />
Observadas superficialmente essas afirmativas, engenhosamente<br />
expostas, parecem conter toda a verdade. No<br />
entanto, sua colocação é absolutamente falsa e deformante<br />
da realidade. E já vamos mostrar por quê. Não há<br />
producção sem Capital, Trabalho e Natureza. Considerar<br />
qualquer desses factores isoladamente <strong>dos</strong> outros, podemo-lo<br />
fazer através do espírito, como o faz a Economia,<br />
não, porém, na realidade. Considerar, porém, qualquer<br />
<strong>dos</strong> três factores como autónomo, é reduzir a Economia a<br />
uma ciência abstracta. Se os detentores desses factores<br />
são representa<strong>dos</strong> por indivíduos diferentes, como se dá,<br />
pode acontecer que, como realmente acontece, disponham<br />
eles de poder suficiente para exercer sobre os outros um<br />
papel dominante, aproveitando a melhor parte do producto<br />
em seu benefício. Nesse caso, assistimos à realização<br />
de uma forma viciosa, o que aliás nos mostra a História.<br />
Assim o feudalismo é a forma viciosa do predomínio<br />
<strong>dos</strong> detentores da Natureza. O capitalismo, a forma viciosa<br />
do predomínio <strong>dos</strong> detentores do Capital. O <strong>social</strong>ismo<br />
seria a forma viciosa do predomínio <strong>dos</strong> detentores<br />
do Trabalho.<br />
O PROBLEMA SOCIAL<br />
147<br />
Se as duas primeiras formas já se deram na História<br />
e às vezes coexistem numa luta desesperada, uma por<br />
exercer o domínio completo sobre as outras, também se<br />
verifica a luta em nome da terceira posição. Esses ismos<br />
são revelações de formas viciosas, por não se ter constituído,<br />
na sociedade, aquela harmonia perfeita desejada,<br />
que transparece em grau técnico inferior na forma de producção<br />
artesanal.<br />
Não esqueçamos que to<strong>dos</strong> os detentores desses três<br />
factores da producção igualizam-se num ponto: são to<strong>dos</strong><br />
consumidores, e o são por terem necessidades que precisam<br />
ser aplacadas sob pena de perecimento. No entanto,<br />
se to<strong>dos</strong> os indivíduos são consumidores, nem to<strong>dos</strong><br />
são productores.<br />
A COOPERAÇÃO DOS FACTORES<br />
Nas suas relações, os homens praticam relações sociais<br />
positivas e outras opositivas, ou também chamadas<br />
negativas. São positivas aquelas em que ambas as partes<br />
têm vantagens iguais, como as relações de cooperação,<br />
e opositivas aquelas em que tomam posições antagónicas,<br />
inversas, e uma parte se beneficia com o prejuízo da outra.<br />
Em todas as eras, os homens sempre desejaram manter<br />
relações sociais positivas, como o mostram os ideais<br />
religiosos, mas nem sempre o fizeram, condiciona<strong>dos</strong> como<br />
estavam por factores que geraram interesses diversos,<br />
muitas vezes antagónicos.<br />
As relações sociais positivas fundam-se na cooperação,<br />
no apoio mutuo, que tem fundamento biológico e <strong>social</strong>,<br />
alimentado pela própria divisão do trabalho, condicionada<br />
pelas contingências existenciais. As relações sociais<br />
opositivas manifestam-se pela competição, que levada<br />
ao terreno económico, se trouxe benefícios em certas