19.04.2013 Views

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

146<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

É uma banalidade económica afirmar que o Capital,<br />

o Trabalho e a Natureza são factores imprescindíveis da<br />

producção.<br />

Mostra-nos a história económica, que os detentores<br />

do Capital, do Trabalho e da Natureza, exercem, no entanto,<br />

uma espécie de domínio sobre os outros. Assim<br />

como tivemos o predomínio <strong>dos</strong> detentores da Natureza<br />

sobre os outros, que lhe ficaram subordina<strong>dos</strong>, e como<br />

hoje assistimos à subordinação do Trabalho e da Natureza<br />

ao Capitai, em breve, dizem, veremos a predominância<br />

do Trabalho sobre o Capital e sobre a Natureza. A<br />

primeira fase seria representada pelo feudalismo, a segunda<br />

pelo capitalismo, e a terceira pelo <strong>social</strong>ismo autoritário.<br />

Observadas superficialmente essas afirmativas, engenhosamente<br />

expostas, parecem conter toda a verdade. No<br />

entanto, sua colocação é absolutamente falsa e deformante<br />

da realidade. E já vamos mostrar por quê. Não há<br />

producção sem Capital, Trabalho e Natureza. Considerar<br />

qualquer desses factores isoladamente <strong>dos</strong> outros, podemo-lo<br />

fazer através do espírito, como o faz a Economia,<br />

não, porém, na realidade. Considerar, porém, qualquer<br />

<strong>dos</strong> três factores como autónomo, é reduzir a Economia a<br />

uma ciência abstracta. Se os detentores desses factores<br />

são representa<strong>dos</strong> por indivíduos diferentes, como se dá,<br />

pode acontecer que, como realmente acontece, disponham<br />

eles de poder suficiente para exercer sobre os outros um<br />

papel dominante, aproveitando a melhor parte do producto<br />

em seu benefício. Nesse caso, assistimos à realização<br />

de uma forma viciosa, o que aliás nos mostra a História.<br />

Assim o feudalismo é a forma viciosa do predomínio<br />

<strong>dos</strong> detentores da Natureza. O capitalismo, a forma viciosa<br />

do predomínio <strong>dos</strong> detentores do Capital. O <strong>social</strong>ismo<br />

seria a forma viciosa do predomínio <strong>dos</strong> detentores<br />

do Trabalho.<br />

O PROBLEMA SOCIAL<br />

147<br />

Se as duas primeiras formas já se deram na História<br />

e às vezes coexistem numa luta desesperada, uma por<br />

exercer o domínio completo sobre as outras, também se<br />

verifica a luta em nome da terceira posição. Esses ismos<br />

são revelações de formas viciosas, por não se ter constituído,<br />

na sociedade, aquela harmonia perfeita desejada,<br />

que transparece em grau técnico inferior na forma de producção<br />

artesanal.<br />

Não esqueçamos que to<strong>dos</strong> os detentores desses três<br />

factores da producção igualizam-se num ponto: são to<strong>dos</strong><br />

consumidores, e o são por terem necessidades que precisam<br />

ser aplacadas sob pena de perecimento. No entanto,<br />

se to<strong>dos</strong> os indivíduos são consumidores, nem to<strong>dos</strong><br />

são productores.<br />

A COOPERAÇÃO DOS FACTORES<br />

Nas suas relações, os homens praticam relações sociais<br />

positivas e outras opositivas, ou também chamadas<br />

negativas. São positivas aquelas em que ambas as partes<br />

têm vantagens iguais, como as relações de cooperação,<br />

e opositivas aquelas em que tomam posições antagónicas,<br />

inversas, e uma parte se beneficia com o prejuízo da outra.<br />

Em todas as eras, os homens sempre desejaram manter<br />

relações sociais positivas, como o mostram os ideais<br />

religiosos, mas nem sempre o fizeram, condiciona<strong>dos</strong> como<br />

estavam por factores que geraram interesses diversos,<br />

muitas vezes antagónicos.<br />

As relações sociais positivas fundam-se na cooperação,<br />

no apoio mutuo, que tem fundamento biológico e <strong>social</strong>,<br />

alimentado pela própria divisão do trabalho, condicionada<br />

pelas contingências existenciais. As relações sociais<br />

opositivas manifestam-se pela competição, que levada<br />

ao terreno económico, se trouxe benefícios em certas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!