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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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144 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

<strong>social</strong>, como estas sobre aquelas. Quando o homem propõe<br />

ideias sem base real está sujeito a criar o que geralmente<br />

chamamos de utopia. E utopias têm sido todas as<br />

doutrinas pregadas, não fundadas na realidade.<br />

Essa a razão por que a história é também a história<br />

das derrotas das grandes ideias.<br />

Dois aspectos são ainda importantes: o da direção e o<br />

da derivação. Na verdade, dirigir é pôr à frente <strong>dos</strong> homens<br />

um ideal. Só os ideais devem dirigir, porque os<br />

que não sáo dirigi<strong>dos</strong> por ideais perdem-se nos meios e<br />

neles perecem por ausência de um fim. Derivar é pôr ou<br />

tirar obstáculos a tudo quanto impede ou facilita a obtenção<br />

do ideal. Os homens podem e devem derivar, mas<br />

quando actuam como dirigentes, levam os povos fatalmente<br />

às grandes derrocadas.<br />

São tais factos importantes, que geram as formas viciosas<br />

de todas as ideias partidárias. Quando surge uma<br />

ideia, os partidários da mesma, ao reunirem-se, logo se<br />

polarizam em duas tendências: a da direita e a da esquerda.<br />

Fatalmente, para equilibrá-las, surgem logo os centristas,<br />

quase sempre fiéis da balança, e aproveitadores<br />

das situações. Como, por sua vez, a esquerda se polariza<br />

numa extrema esquerda e numa esquerda centrista, isto<br />

é, tendente para o centro; forma-se, na esquerda, um centro<br />

para equilibrá-la. O mesmo sucede com a direita, que<br />

polariza uma extrema direita e uma direita centrista, com<br />

um centro novo. Esse facto não é observável apenas no<br />

terreno das ideias, mas até nas organizações comerciais<br />

e industriais, em que os sócios, muitas vezes, são os pontos<br />

de convergência dessas polarizações.<br />

Quando uma ideia (partido político, em geral) chega<br />

a este ponto, é comum estructurar em torno de um<br />

homem uma auréola de infalibilidade, divinizando-o até.<br />

Surge, então, o chefe, o qual, desde logo, é cercado por<br />

O PROBLEMA SOCIAL 145<br />

uma camarilha que o envolve, sempre composta <strong>dos</strong> elementos<br />

que procuram ter ligações ou servir de ligação entre<br />

os pólos, os quais são sempre usufrutuários do prestígio<br />

que gozam junto ao chefe, negociando sua influência<br />

ou, em colaboração com os outros, impedindo que conheça<br />

a realidade, que lhe é exibida deformada, segundo<br />

as conveniências. Desde tal momento, todas as ideias<br />

encarnadas em um homem, tendem a cumprir seu ciclo<br />

vicioso, e ter um final trágico e espetacular. Sobrevêm a<br />

fase da doutrina, em que é essa apresentada como certa<br />

e eficaz, depois como a mais certa e a mais eficaz e, finalmente,<br />

como a única certa e a única eficaz. E para coroar<br />

a marcha, quer ser absoluta, e persegue todas as outras<br />

como hereges. Corroída pelas lutas internas, se vê<br />

obrigada às grandes depurações, com a excomunhão, e<br />

até o sacrifício de seus membros, inclusive inocentes, a<br />

fim de salvar a coerência que, normalmente, não possui.<br />

Estabelece uma disciplina rígida, imposta, e passa a tiranizar<br />

as consciências até <strong>dos</strong> elementos hierarquicamente<br />

mais eleva<strong>dos</strong>. Consegue, assim, a hipocrisia total ao<br />

lado do terror total.<br />

E qual o fim de todas essas formas viciosas? A catástrofe<br />

final à custa da vida e do sofrimento de milhões.<br />

Vimos, em nossos dias (e ainda em nossos dias veremos<br />

outros), o que foi o epílogo sangrento e catastrófico do<br />

nazismo e do fascismo.<br />

CAPITAL, TRABALHO E NATUREZA<br />

A observação <strong>dos</strong> factos que se desenrolam exige uma<br />

visão objectiva, realista.<br />

O mundo actual parece dividido ante um dilema, que,<br />

como os outros apresenta<strong>dos</strong> na história, é falso e mal colocado:<br />

"ou capitalismo ou comunismo".

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