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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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1G<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

•desvios graves e perigosos, de se impressionarem pelo liderismo,<br />

de exaltarem indevidamente a figura de "chefes<br />

salvadores", de permitirem que os "traidores se instalem<br />

no meio da massa", para afastá-la do seu verdadeiro caminho<br />

de renovação e de transformação <strong>social</strong>.<br />

Portanto, a degenerescência que se observa, não só<br />

contamina a cúpula <strong>dos</strong> parti<strong>dos</strong> eleitoralistas do proletariado,<br />

como também a própria base. É isto o que lemos<br />

constantemente na literatura de polémica <strong>dos</strong> <strong>social</strong>istas,<br />

é essa queixa secular que paira nas páginas <strong>dos</strong><br />

autores sinceros e leais, é essa explicação, cheia de angústias<br />

e de acusações violentas, que sempre fazem os que<br />

ainda não usam o sistema eleitoral contra os que o usam<br />

e dele abusam.<br />

Portanto, ante a repetição sociológica <strong>dos</strong> factos, devem-se<br />

procurar as verdadeiras causas objectivas que levam<br />

a tais desvios, sem deixar de lado as razões de carácter<br />

subjectivo, que, isoladas, nada explicam, e servem<br />

apenas para lançar uma nuvem de fumaça aos olhos do<br />

proletariado.<br />

A corrupção, que se verifica teimosamente nos parti<strong>dos</strong><br />

populares que usam da luta partidária e eleitoralista,<br />

tem causas mais reais e mais objectivas do que julgam<br />

muitos, e é fácil explicá-las. E assim a explicam os libertários:<br />

A luta política, dentro <strong>dos</strong> quadros legais do capitalismo,<br />

é uma luta essencialmente burguesa e não proletária.<br />

Com a base económica e financeira, dominada pela<br />

burguesia, e por seus testas de ferro, a acção <strong>dos</strong> representantes<br />

operários cinge-se às cadeias férreas das leis<br />

burguesas. Não é possível romper essa barreira e, na armadilha<br />

<strong>dos</strong> parlamentos, caem os mais puros e ingénuos<br />

lutadores das grandes reivindicações proletárias.<br />

A luta política é uma luta burguesa e não proletária.<br />

O PROBLEMA SOCIAL 17<br />

O carácter de contemporização, que é inerente ao<br />

movimento político, força o aprazamento, cria impecilhos<br />

a toda incitação à actividade, provoca a inércia, convence<br />

da impossibilidade de vencer o emanharado das leis burguesas,<br />

feitas inteligentemente para criar obstáculos à<br />

acção mais rápida, pois a burguesia sabe conscientemente,<br />

e por instinto, que toda acção lenta lhe é sempre mais<br />

eficaz que a acção rápida, por desenvolver um profundo<br />

desejo de passividade, de inércia pelo retardamento, que<br />

tem profundas influências psicológicas.<br />

Os adiamentos das resoluções, o adiamento contínuo,<br />

a demora das informações oficiais, tudo isso é "ducha de<br />

água fria" na incitação e no calor que vibra e aquece os<br />

elementos lutadores, e a pouco e pouco, a burguesia sabe<br />

que o ambiente parlamentar, a lentidão de suas resoluções,<br />

o clima parasitário que se forma, o afastamento <strong>dos</strong><br />

representantes do povo da producção e do contacto com<br />

os companheiros, criam uma degenerescência na acção<br />

que se desgasta, que se amortece e, em pouco tempo, se<br />

vê o espectáculo constante do movimento <strong>social</strong>ista: os representantes<br />

<strong>social</strong>istas acham-se num choque crescente<br />

com as massas.<br />

Enquanto estas lhes pedem acção, eles respondem<br />

que não podem ir tão depressa como elas desejam. E é<br />

natural., posteriormente, que busquem justificar a inércia<br />

que aos poucos deles se vai apossando. E ao explicá-la<br />

ante as massas, transmitem a essas o espírito de inércia<br />

e, nestas, despertam a própria inércia, esse desejo de passividade,<br />

essa marcha e impulso para o nada, que há em<br />

potência em to<strong>dos</strong> os homens e do qual não estão alheias<br />

as próprias massas.<br />

Sabe a burguesia que as reformas têm de se processar<br />

na sociedade. Ela sabe perfeitamente que a ordem,<br />

por ela instituída, é pouco justa, e que não corresponde

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