Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
de essa gestão directa, do que a indirecta realizada pelo<br />
Estado. Se nos dedicarmos a uma apreciação justa <strong>dos</strong><br />
dois tipos de gestão, desde logo notaremos que elas apresentam<br />
uma gradatividade heterogénea, ora é quase total<br />
a gestão directa e mínima a estatal, ora esta última aumenta<br />
em percentagem. Mas, o que é realmente evidente<br />
é que a gestão directa, através de to<strong>dos</strong> os tempos da<br />
vida humana, suplantou, numa proporção imensa, a gestão<br />
indirecta, do Estado. Contudo, mais espanta<strong>dos</strong> ficaríamos<br />
se meditássemos melhor sobre esses factos,<br />
concepção que domina muitos sectores é de que o Estado<br />
o maior contribuinte em benefícios sociais, ou ainda<br />
mais: que é êle o melhor agente para tais realizações.<br />
Que nos regimes totalitários essa propaganda dirigida<br />
em favor da gestão indirecta domine, seja dominante,<br />
compreende-se, porque os que desejam manter a posse e<br />
o usufruto do poder político têm naturalmente que infundir<br />
nas multidões a convicção que só o Estado é o organismo<br />
habilitado a realizar, com isenção <strong>dos</strong> interesses<br />
que viciam as verdadeiras intenções, obras realmente benéficas<br />
à colectividade. No entanto, demonstra-nos a<br />
História que as obras mais salutares, que melhor papel<br />
desempenharam para atingir as suas finalidades beneficentes,<br />
foram precisamente aquelas realizadas pela gestão<br />
directa. Há, da parte de muitos interessa<strong>dos</strong> na política,<br />
que hoje é sem dúvida a arte de alcançar o poder<br />
e dele dispor, o intuito de cobrir com o silêncio as grandes<br />
realizações de gestões directa, e exaltar, com excesso<br />
de epítetos, as dispendiosíssimas e pouco productivas<br />
realizações estatais. Poucos terão presente aos olhos e<br />
ao espírito a grandiosidade em intensidade e extensidade<br />
das obras, que são productos da gestão directa. Além<br />
das realizações de exploração económica sobre to<strong>dos</strong> os<br />
aspectos de origem privada, poderíamos apenas citar as<br />
obras de carácter <strong>social</strong> e benéfica à colectividade, realizadas<br />
pela gestão directa, como as sociedades para o pro-<br />
O PROBLEMA SOCIAL 13»<br />
gresso ou o fomento de algum bem de carácter superior,<br />
os centros culturais, as organizações de proteção aos interesses<br />
colectivos de toda espécie, escolas, bibliotecas,<br />
asilos, hospitais sociedades científicas, centros recreativos,<br />
agrupamentos de ajuda mútua, cooperativas de carácter<br />
<strong>social</strong> e cultural, institutos para estu<strong>dos</strong> económicos,<br />
sociais, filosóficos, artísticos, centros de amparo à mulher,<br />
organizações de auxílio aos doentes, aos necessita<strong>dos</strong>, órfãos,<br />
anciãos, mutila<strong>dos</strong>, academias de ensino gratuito, sociedades<br />
de difusão de ideias constructivas, sociedades beneficentes<br />
de toda espécie, sociedades de proteção à infância,<br />
organizações de viagens e excursões, centros e sociedades<br />
esportivas, sociedades internacionais, que se vinculam<br />
em organização em todo mundo, grupos de aperfeiçoamento<br />
das mais variadas disciplinas; em suma, uma<br />
infinidade de instituições livremente organizadas, de gestão<br />
directa com o precípuo fim de beneficiar a colectividade.<br />
Não vamos considerar as construções de casas, fábricas,<br />
etc, enfim, tudo que o homem realiza pela gestão<br />
directa.<br />
Estas organizações são muito mais numerosas e muito<br />
mais eficientes que as estatais, o que revela de maneira<br />
insofismável que o ser humano é capaz, pela gestão directa,<br />
de atender a tudo quanto se refere às necessidades<br />
colectivas. Bastaria fomentar e promover uma tomada<br />
de consciência destas realizações, para que to<strong>dos</strong> compreendessem<br />
que, com um pequeno esforço de cada um, seríamos<br />
capazes de promover e realizar tudo sem excepção<br />
que é mister para o bem colectivo, através apenas das<br />
organizações de gestão directa. Até a manutenção da ordem,<br />
a prevenção da delinquência, e inclusive a defesa da<br />
população contra possíveis ataques de potências estranhas<br />
seria factível por meios de gestão directa, como já<br />
verificamos em países como a Suíça, a Suécia e a Finlândia,<br />
em que o exército é o próprio povo organizado mili-