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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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132 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

baca<strong>dos</strong>, admiram qualquer pechibesque estrangeiro, que<br />

se valoriza apenas pela sua origem. O mimetismo, a imitação<br />

desenfreada <strong>dos</strong> mo<strong>dos</strong> alienígenas, é também uma<br />

maneira de manifestar-se o colonialismo passivo, que<br />

tende a pôr a dúvida sobre toda e qualquer tentativa de<br />

autonomização intelectual, negando, preconceitualmente,<br />

toda e qualquer tentativa de criação própria.<br />

Nessa definição, inclui-se, ademais, o imperialismo<br />

colonial, que é uma das manifestações do imperialismo<br />

económico. É inegável que a prática colonialista, apesar<br />

<strong>dos</strong> grandes males que dela decorreram, trouxe, contudo,<br />

alguns benefícios, pois permitiu que muitos países atrasa<strong>dos</strong><br />

obtivessem a técnica dominante em países mais desenvolvi<strong>dos</strong>,<br />

e alcançassem, afinal, posições superiores<br />

aos <strong>dos</strong> seus subordinantes, como aconteceu com os Esta<strong>dos</strong><br />

Uni<strong>dos</strong>, que, durante muito tempo, estiveram sob<br />

o jugo colonial.<br />

Foi também em "nome dessa cultura" e no intuito<br />

de "levar o progresso aos países atrasa<strong>dos</strong>", que os empresários<br />

utilitários europeus exerceram um domínio<br />

inescrupuloso sobre diversos povos do mundo, encontrando<br />

naqueles países ótimo campo para a aplicação de<br />

capitais, para a obtenção de matérias primas e para<br />

obtenção de lucros fabulosos, dada a mão de obra mais<br />

barata e a subordinação fácil que puderam exercer sobre<br />

tais povos indefesos. Assim como o açambarcamento<br />

não é um acto económico, mas um acto não-ético, que<br />

traz proveitos económicos, também o colonialismo odioso,<br />

esse que exerceu uma desenfreada exploração <strong>dos</strong><br />

povos mais atrasa<strong>dos</strong>, também não é uma façanha da<br />

Economia, apesar <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong> económicos que traz.<br />

É uma operação extraeconômica, mas com influências no<br />

campo económico indubitáveis, mas sua motivação foi<br />

mais de ordem ética e psicológica do que propriamente<br />

económica.<br />

O PROBLEMA SOCIAL 133<br />

Também naquele enunciado inclui-se o satelitismo,<br />

que é uma subordinação inequívoca de carácter colonialista<br />

económico, como também de subordinação política<br />

e até militar, como a que assistimos nos chama<strong>dos</strong> países<br />

<strong>social</strong>istas subordina<strong>dos</strong> à URSS, muito embora seus<br />

partidários queiram afirmar o contrário. Ali também se<br />

verificam todas as condições do colonialismo, em graus<br />

maiores ou menores, que se manifestam sobre supostos<br />

pactos, acor<strong>dos</strong> comerciais, trata<strong>dos</strong> de comércio, que subordinam<br />

a um lado e outro.<br />

Por isso, quando muitos afirmam que estamos vivendo<br />

uma era que indica o fim do colonialismo, devemos<br />

dizer que se dá, sim, o fim de certo colonialismo,<br />

não de todo. Segundo Marx, quando alcançasse o capitalismo<br />

seu apogeu, iniciar-se-ia o fim do colonialismo.<br />

Tal se deu apenas e se dá no referente a certa espécie,<br />

e não a to<strong>dos</strong>, pois, como vimos, o colonialismo apresenta<br />

uma gama heterogénea extraordinária.<br />

Há, inegavelmente, uma luta no mundo contra certa<br />

espécie, mas é mister que haja contra toda espécie de colonialismo.<br />

Os povos desejam ter, no cenário da História,<br />

um papel pelo menos igual e livre ao <strong>dos</strong> outros povos<br />

superiores, mas há, também, os ideais de subordinação<br />

e domínio, que se revestem hoje com novas máscaras,<br />

como as ideológicas, pactos de assistência mútua,<br />

etc. A cooperação só é genuinamente verdadeira quando<br />

as partes cooperantes são livres e a realizam livremente,<br />

com igualdade de direitos e obrigações. Ora, tal<br />

não se dá frequentemente, mas raramente. Os países<br />

<strong>social</strong>istas, como a Iugoslávia e a Albânia, nos quais as<br />

tropas russas não realizaram ocupação, não se submeteram<br />

piamente aos desejos de Moscou, como sucedeu com<br />

aqueles povos, que estão domina<strong>dos</strong> pelas tropas do<br />

exército vermelho, onde as rebeliões contra o poder colonizador<br />

indica os sinais do desespero.

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