Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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128 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
tem sido sempre inútil e nem em países, onde possui êle<br />
todo o poder, como na Rússia, foi impossível evitar o<br />
câmbio negro, que surge em determinadas condições.<br />
Mas o que é de se notar é o dardanismo, que consiste,<br />
sobretudo, no impedimento da maior producção, e<br />
até na destruição <strong>dos</strong> bens já produzi<strong>dos</strong>, quando não são<br />
criadas outras soluções, tais como: dominar os meios de<br />
transporte, de modo a impedir que a producção de determinada<br />
zona possa alcançar o mercado, e forçar uma<br />
baixa inconveniente; adquirir <strong>dos</strong> productores apenas<br />
aquelas quantidades que permitem a manutenção <strong>dos</strong><br />
preços altos, manejando, para isso, os meios de crédito,<br />
evitando que pequenos productores ou pequenos comerciantes<br />
possam adquirir tais bens e oferecê-los no mercado;<br />
chegam até à destruição de certa quantidade para<br />
garantir a raridade e os preços.<br />
Tais processos são muito comuns entre nós, e recebem<br />
toda cumplicidade do Estado, apesar da negativa<br />
formal e demagógica de muitos políticos e que, na maioria,<br />
estão liga<strong>dos</strong> a tais interesses, aos quais servem na<br />
realidade, embora os ataquem em palavras. Na verdade,<br />
na história da humanidade, to<strong>dos</strong> os mais famosos "amigos<br />
do povo" foram, e estiveram sempre liga<strong>dos</strong> aos grandes<br />
exploradores.<br />
A luta contra o dardanismo e contra o açambarcamento<br />
no Brasil não poderá ser feito através do Estado,<br />
mas através das cooperativas de consumo, que filiadas<br />
em federações poderosas, poderão entregar no mercado e<br />
financiar a producção e regular os preços sob bases justas.<br />
Sabemos, contudo, que essa conquista terá que exigir<br />
uma grande luta, porque o Estado brasileiro tudo fará<br />
para impedir o maior desenvolvimento das cooperativas.<br />
E se este se tem dado é apesar do governo, apesar da<br />
O PROBLEMA SOCIAL 129<br />
tremenda dificuldade que este oferece sob a falsa declaração<br />
de que assim procede para "protegê-las e evitar que<br />
se tornem antros de exploração" (!!!).<br />
ACCIONARATO OBREIRO<br />
76) Uma das maiores preocupações <strong>dos</strong> economistas,<br />
desejosos de examinar os meios de melhoria para<br />
as classes trabalhadoras, consistiu no estado de diversas<br />
formas de cooperação, como as cooperativas, e outras<br />
que constituem as formas, que chamamos de cooperacionais,<br />
e entre elas, o accionarato <strong>dos</strong> trabalhadores, que<br />
foi preconizado por este grande libertário Robert Owen,<br />
que Gide e Rist consideram como o verdadeiro pai do<br />
<strong>social</strong>ismo. Consistia essa forma, no início, na associação<br />
<strong>dos</strong> trabalhadores para a realização de uma empresa<br />
comum. Tais fórmulas foram estudadas por outros <strong>social</strong>istas,<br />
como Fourier, Louis Blanc, Cabet, Buchez,<br />
Thompson, Leroux. Mas, quem as pôs em prática foi<br />
Owen, que é o símbolo do <strong>social</strong>ismo prático.<br />
Muitas experiências mutualistas foram feitas no século<br />
passado, que tiveram grande ressonância. O "associacionismo"<br />
era uma experiência nova de cooperação<br />
obreira, e manifestava-se através de grupos de compra,<br />
grupos de producção, de consumo, organização de sociedades<br />
beneficentes, etc.<br />
Algumas organizações desse tipo tiveram participação<br />
na gestão de muitas empresas, participando, também,<br />
<strong>dos</strong> benefícios. Modernamente, observam-se tais associações<br />
na formação do capital das empresas, em que os<br />
trabalhadores são titulares de um determinado número<br />
de acções, participando, não só <strong>dos</strong> benefícios, como também<br />
<strong>dos</strong> riscos. Consideram muitos que tais práticas<br />
têm a finalidade de inocular nos trabalhadores uma men-