Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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124 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
mos filosoficamente, economicamente, que esta tese é<br />
improcedente.<br />
Considerando-se, assim, o capital nem sempre é injusto.<br />
Se a injustiça não se dá sempre, não é ela da essência<br />
do capitalismo, mas apenas accidental. A distinção<br />
de remuneração entre os trabalhadores e os prestadores<br />
de capital não é injusta, quando proporcionadas<br />
ao papel que ambos tenham na producção.<br />
A supremacia do capital na direcção é justificada em<br />
parte pelo volume de responsabilidade. Contudo, esta<br />
pode e deve ser dividida com os trabalhadores.<br />
Desde o momento que o salário seja suficiente, não<br />
só para atender as necessidades primárias, mas também<br />
as de agradabilidade, não é êle um salário de fome.<br />
Contudo, é preciso notar-se que um salário só pode realmente<br />
elevar-se na proporção da productividade que oferece<br />
o trabalhador.<br />
Nos países de alto capitalismo, a productividade é<br />
de índice elevado; consequentemente, eleva<strong>dos</strong> são os salários.<br />
Não há nenhum regime económico, de espécie<br />
alguma, nem qualquer cesariocrata, por mais genial, que<br />
seja capaz de construí-lo, que permita que o trabalhador<br />
ganhe mais do que o que produz, e seu salário será sempre<br />
proporcionado ao seu grau de productividade.<br />
Os estu<strong>dos</strong> modernos de Economia demonstram que<br />
o índice de lucro do capitalismo é constantemente menor<br />
do que já foi anteriormente, o que contraria, frontalmente,<br />
a tese marxista. A remuneração do capital nos Esta<strong>dos</strong><br />
Uni<strong>dos</strong>, por ex., não atinge a 10% ao ano.<br />
Contudo, o capitalismo ofereceu inúmeros defeitos,<br />
praticou gravíssimos abusos, que permitiram justificar<br />
uma série de atitudes e de doutrinas contra êle.<br />
O PROBLEMA SOCIAL 125<br />
Não é o capitalismo essencialmente justo, mas é<br />
accidentalmente injusto. E estas injustiças surgiram da<br />
desenfreada cupidez do lucro, da ilimitada exploração do<br />
trabalhador na fase paleotécnica, da concentração de capitais<br />
que, nesse período, se processou, da ditadura económica<br />
que exerceu o poder financeiro, <strong>dos</strong> poderes<br />
ocultos dominadores <strong>dos</strong> meios administrativos, da exploração<br />
exagerada do nacionalismo, da criação de monopólios<br />
injustos, e que elevaram os preços desenfreadamente,<br />
ao mesmo tempo que aniquilaram inúmeras<br />
unidades económicas, que tentavam opor-se; da desmedida<br />
especulação, sobretudo nas bolsas, da prática de<br />
fraudes sem fim, <strong>dos</strong> abusos pratica<strong>dos</strong> contra os trabalhadores,<br />
sobretudo no que se trata da sua segurança e<br />
da sua higiene.<br />
Inevitavelmente, terá o capitalismo de sofrer, pelo<br />
menos, profundas reformas, como reforma de ordem moral,<br />
em que se estabeleçam outra vez o respeito aos princípios<br />
de justiça e de caridade, ou seja de amor ao bem<br />
do próximo: reformas económicas na distribuição <strong>dos</strong><br />
bens, reformas institucionais e políticas, que permitam<br />
que os elementos hieráticos e aristocráticos como os servidores,<br />
to<strong>dos</strong> enfim, possam participar do governo e<br />
também da responsabilidade <strong>social</strong>.<br />
É impossível querer evitar a existência de empresários<br />
utilitários na sociedade humana, porque são eles imprescindíveis<br />
para a boa ordem económica. Nem é possível<br />
pensar que sejam eles baixamente remunera<strong>dos</strong>,<br />
quando lhes são exigidas condições especiais e superiores<br />
às comuns. Contudo, não é justificável que sejam os beneficiários<br />
da maior parte ou, pelo menos, de uma parte<br />
considerável <strong>dos</strong> proventos, muito além do que seria proporcionado<br />
à sua função.