Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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122 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
3dma de Cristo. Contudo, visualizando de modo inten-<br />
,sivo o lucro, não se preocuparam os capitalistas com<br />
um salário justo, mas tendiam, tanto quanto lhes era possível<br />
a reduzi-lo ou a não aumentá-lo na proporção <strong>dos</strong><br />
benefícios que obtinham, levando trabalhadores a uma<br />
situação de miséria tal, que teria, naturalmente, de provocar<br />
uma reacção, primeiramente por parte de espíritos<br />
hieráticos e aristocráticos, que terminaram por estabelecer<br />
os fundamentos das chamadas ideologias revolucionárias<br />
destes dois últimos séculos, e, posteriormente, pelos<br />
próprios trabalhadores.<br />
Outro elemento fundamental do capitalismo é pertencer<br />
a direcção suprema aos que representam o capital,<br />
;sem a participação <strong>dos</strong> trabalhadores na gestão, o que<br />
provocou, por sua vez, os seguintes males:<br />
a) desconhecimento por parte do trabalhador das<br />
dificuldades financeiras, económicas, técnicas e administrativas<br />
de uma empresa;<br />
b) afastamento da prática da gestão <strong>dos</strong> trabalhadores,<br />
os quais, posteriormente, quando exacerba<strong>dos</strong> pelos<br />
cesariocratas, não sendo capazes de gerir a empresa<br />
económica, por falta de experiência, terão de ceder os<br />
postos de direcção àqueles, permanecendo a sua situação<br />
a mesma ou pior do que antes;<br />
c) impediram, com essa prática, os capitalistas uma<br />
maior cooperação entre o trabalho e o capital, os frutos<br />
mais benéficos, senão menos amargos <strong>dos</strong> que actualmente<br />
são colhi<strong>dos</strong>.<br />
Se observarmos as providências modernas, verificadas<br />
nos países do alto capitalismo, notamos as seguintes<br />
.modificações:<br />
a) proletário é aquele cuja única renda é o seu salário.<br />
A desproletarização só pode processar-se desde o<br />
O PROBLEMA SOCIAL 123<br />
momento que o trabalhador possui rendas outras ponderáveis,<br />
que apenas o seu salário. Estas rendas, nesses<br />
países, surgem pela participação na propriedade, por<br />
meio de acções, consequentemente nos dividen<strong>dos</strong>, nos<br />
lucros das empresas.<br />
b) A propriedade familiar é disseminada, de modo<br />
a que to<strong>dos</strong> possam tê-la. Por outro lado, a participação,<br />
por meio de acções, favorece a disseminação da propriedade<br />
empresarial, da participação no património das<br />
empresas.<br />
c) O salário deixa de ser um salário de fome, apenas<br />
suficiente para obtenção <strong>dos</strong> bens de primeira necessidade,<br />
para ser apto a fornecer bens agradáveis e até<br />
suntuários.<br />
d) A constante penetração <strong>dos</strong> trabalhadores na<br />
gestão da empresa aumenta-lhes o sentido da responsabilidade<br />
colectiva e permite que as questões, que surgem,<br />
provocadas pela oposição de interesses entre a empresa<br />
« o trabalhador, sejam mais facilmente solucionáveis, e<br />
de modo mais justo.<br />
Esta é a razão fundamental por que, nos países de<br />
alto capitalismo, não há movimentos comunistas cora<br />
alguma expressão.<br />
C) Em face do exame que acima fizemos, as acusações<br />
de injustiça, que se opõem ao capitalismo, merecem<br />
reparo.<br />
Há possibilidades, e suficientes exemplos de máxima<br />
eloquência, de uma cooperação justa entre o capital e o<br />
trabalho.<br />
Já demonstramos que não há nenhum fundamento<br />
na doutrina marxista de que o capital seja sempre producto<br />
de uma espoliação do trabalhador. Demonstra-