Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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118 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
Alegam alguns que ter consciência da liberdade não<br />
prova a liberdade. Também concordamos com essas palavras.<br />
Mas o que se afirma é que não está apenas na<br />
consciência, mas no raciocínio evidente que se faz entre<br />
as possibilidades e a escolha de uma entre muitas outras.<br />
Objectam com os exemplos do sonho, <strong>dos</strong> hipnotiza<strong>dos</strong>,<br />
que julgam agir com plena liberdade. Na verdade,<br />
porém, em tais experiências, não há a persuasão<br />
racional da sua liberdade, e a consciência de sua espontaneidade<br />
é completamente distinta daquele que realiza<br />
uma acção em estado de vigília, e normal, como nos<br />
demonstram os que se dedicaram ao estudo do hipnotismo<br />
e <strong>dos</strong> sonhos hipnóticos. Nestes, não há escolha,<br />
sopesamento de razões, comparações, avaliações normais.<br />
Quanto aos hipnotiza<strong>dos</strong>, afirmam alguns que não realizam<br />
os actos ordena<strong>dos</strong>, quando estes se opõem às suas<br />
concepções morais. Os exemplos de homens que não podem<br />
em estado normal vencer seus ímpetos não é suficiente,<br />
porque há aqueles que os podem vencer. O que<br />
se revela aí é uma fraqueza da vontade.<br />
Há cognição, quando há a notícia intelectual de uma<br />
semelhança com o conhecido. Ora, o ser que conhece<br />
é um ser vital, e o conhecimento é intencional, porque<br />
a semelhança não é natural ao conhecido, mas apenas da<br />
sua espécie ou forma. A cognição sensitiva realiza-se<br />
pelos senti<strong>dos</strong>, enquanto a intelectiva pelo intelecto.<br />
O acto humano não se realiza senão pela cognição intelectiva,<br />
a qual pode ser viciada pela ignorância, pela<br />
nesciência, pela concupiscência, pelas paixões, emoções;<br />
em suma, por to<strong>dos</strong> os factores que já estudamos, como<br />
a violência física, que é uma moção de origem extrínseca,<br />
que obstaculiza, que resiste à realização do acto humano.<br />
Consequentemente, o acto humano, para alcançar a<br />
sua plenitude, exige um conjunto de condições, como já<br />
O PROBLEMA SOCIAL 119<br />
estudamos. E como poderia o homem ser senhor de si<br />
mesmo sem que alcance a pureza do acto humano? Que<br />
outra orientação deve ter a pedagogia, a educação e a<br />
instrucção senão construir homens capazes de realizar<br />
com plenitude o acto humano? Como poderá a humanidade<br />
alcançar o mais alto sem tornar real essa possibilidade?<br />
Se queremos não ser mais os joguetes da História,<br />
mas senhores da História e do nosso destino, estamos<br />
desafia<strong>dos</strong>, definitivamente, a abandonar a animalidade<br />
e as aderências animais, que ainda actuam em nós e decidirmo-nos<br />
a tornarmo-nos, definitivamente, sôbre-humanos.<br />
Nossa liberdade está desafiada, e temos, agora, patente,<br />
ante nossos olhos, uma afirmação da nossa liberdade.<br />
Nessa escolha diremos, finalmente, o que realmente<br />
somos!<br />
ANÁLISE FILOSÓFICA DO CAPITALISMO<br />
74) O termo capital vem de a capite, do número<br />
<strong>dos</strong> animais possuí<strong>dos</strong> por algum proprietário. Na Economia,<br />
significa o bem económico capaz de realizar posterior<br />
producção, ou servir de instrumento para a producção.<br />
Na linguagem comum, significa o lucro, e para<br />
os <strong>social</strong>istas nada mais é do que o ganho injusto adquirido<br />
à custa <strong>dos</strong> trabalhadores. Capitalismo é o regime<br />
económico, fundado na propriedade privada e no crédito,<br />
que tende para o lucro e no qual se distinguem as<br />
funções <strong>dos</strong> prestadores de trabalho, que são remunera<strong>dos</strong><br />
por um salário, e o <strong>dos</strong> prestadores de capital, que<br />
são remunera<strong>dos</strong> por dividen<strong>dos</strong>, pertencendo a estes<br />
últimos a direcção suprema e a administração.<br />
Não é fácil definir de modo satisfatório o que seja<br />
o capitalismo já que é um sistema dinâmico e não está-