Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
quando solto de suas cadeias, o cão quando "livre" de sua<br />
corrente.<br />
Divide-se, assim, a liberdade em liberdade física, à<br />
qual pertence a liberdade psicológica, e a liberdade moral,<br />
que consiste num desvinculamento de qualquer necessidade<br />
moral, como a necessidade da lei. A liberdade<br />
física afirma a imunidade, a isenção de qualquer necessidade<br />
de ordem física ou psíquica. E subdivide-se, na<br />
Ética, em liberdade de coacção e liberdade de necessidade<br />
intrínseca.<br />
Ora, o poder fazer e poder não fazer são contradictórios,<br />
enquanto toma<strong>dos</strong> em potência, não em acto.<br />
Quando, antes de fazer ou de deixar de fazer, escolhemos<br />
fazer ou não, nosso acto de fazer ou não fazer é livre.<br />
Se fazemos, é necessária a acção realizada; se não fazemos,<br />
a não acção decorre necessariamente da ausência<br />
do acto do agente.<br />
A liberdade de coação é a liberdade de execução,<br />
também chamada de espontaneidade, e é a imune de violência.<br />
É violenta a acção quando imposta pelo império*<br />
de um poder extrínseco à coisa que a sofre e que resiste<br />
a ela.<br />
Na vontade, como vimos, há a cognição intelectual<br />
de um fim. O ser inteligente visualiza um fim intelectualmente;<br />
ou seja, através das operações intelectuais.<br />
Esse fim é apetecido, é desejado racionalmente. A vontade<br />
é, pois, o ímpeto que procede dessa apetência racional<br />
com a cognição intelectual do fim. Há, portanto,<br />
uma escolha entre fazer e não fazer, entre alcançar o fim.<br />
ou não. No acto intelectual de escolha são avalia<strong>dos</strong>,<br />
não só os valores, mas as razões para fazer ou não fazer,<br />
bem como são avalia<strong>dos</strong> os bens que podem decorrer<br />
de uma acção ou da não realização da mesma. Vê-se,<br />
facilmente, que, pela natureza da vontade, esta é essen-<br />
O PROBLEMA SOCIAL 115<br />
cialmente livre da violência, porque se a execução é impedida<br />
por esta, pode ela livremente escolher entre fazer<br />
ou não fazer, embora seja impedida de pôr em execução<br />
o que delibera. Livre arbítrio, em suma, consiste na capacidade<br />
de escolher entre muitas possibilidades, mas a<br />
escolha é intelectual. Se toda acção livre é voluntária,<br />
nem todo voluntário é livre. Suarez estabelece como razão<br />
do voluntário apenas aquele acto no qual a potência<br />
se determina ao seu acto, querendo-o por si mesma. E<br />
há liberdade, quando pode agir ou não agir. Assim, a<br />
vontade pode ser aumentada ou diminuída pela acção da<br />
concupiscência, das paixões, do temperamento, etc; em<br />
suma, do que pode viciar a pureza do acto humano.<br />
Há liberdade quando o homem opera com pleno domínio<br />
da própria operação. Implica o acto de vontade<br />
livre uma origem intelectual, através de um acto de razão,<br />
de escolha. E será livre a operação se ela se exerce<br />
sob o império da vontade formalmente livre.<br />
Há os que desejam tornar o homem, ou pelo menos<br />
considerá-lo como determinado sempre, como a ventoinha<br />
ou a agulha magnética, apesar da disparidade. Mas<br />
é mister lembrar-lhes que jamais os que defenderam o<br />
livre arbítrio afirmaram a indeterminação. Onde há entes<br />
contingentes, há determinação, necessariamente. Mas<br />
há, entre os seres contingentes os inteligentes, que podem<br />
perceber possíveis futuros contraditórios, e escolher<br />
este ou aquele, mas este ou aquele escolhido será determinadamente<br />
executado. O acto livre não significa isenção<br />
de determinação, mas apenas isenção desta única determinação.<br />
Também liberdade não quer dizer espontaneidade<br />
absoluta, a causalidade, ausência de motivos,<br />
de razões. Apenas quer dizer possibilidade de realizar<br />
ou não, de escolher a acção esta e não aquela. Ora, se<br />
a inteligência humana é capaz de escolher entre possíveis,<br />
seria negar essa evidência a negação de poder reali-