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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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114<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

quando solto de suas cadeias, o cão quando "livre" de sua<br />

corrente.<br />

Divide-se, assim, a liberdade em liberdade física, à<br />

qual pertence a liberdade psicológica, e a liberdade moral,<br />

que consiste num desvinculamento de qualquer necessidade<br />

moral, como a necessidade da lei. A liberdade<br />

física afirma a imunidade, a isenção de qualquer necessidade<br />

de ordem física ou psíquica. E subdivide-se, na<br />

Ética, em liberdade de coacção e liberdade de necessidade<br />

intrínseca.<br />

Ora, o poder fazer e poder não fazer são contradictórios,<br />

enquanto toma<strong>dos</strong> em potência, não em acto.<br />

Quando, antes de fazer ou de deixar de fazer, escolhemos<br />

fazer ou não, nosso acto de fazer ou não fazer é livre.<br />

Se fazemos, é necessária a acção realizada; se não fazemos,<br />

a não acção decorre necessariamente da ausência<br />

do acto do agente.<br />

A liberdade de coação é a liberdade de execução,<br />

também chamada de espontaneidade, e é a imune de violência.<br />

É violenta a acção quando imposta pelo império*<br />

de um poder extrínseco à coisa que a sofre e que resiste<br />

a ela.<br />

Na vontade, como vimos, há a cognição intelectual<br />

de um fim. O ser inteligente visualiza um fim intelectualmente;<br />

ou seja, através das operações intelectuais.<br />

Esse fim é apetecido, é desejado racionalmente. A vontade<br />

é, pois, o ímpeto que procede dessa apetência racional<br />

com a cognição intelectual do fim. Há, portanto,<br />

uma escolha entre fazer e não fazer, entre alcançar o fim.<br />

ou não. No acto intelectual de escolha são avalia<strong>dos</strong>,<br />

não só os valores, mas as razões para fazer ou não fazer,<br />

bem como são avalia<strong>dos</strong> os bens que podem decorrer<br />

de uma acção ou da não realização da mesma. Vê-se,<br />

facilmente, que, pela natureza da vontade, esta é essen-<br />

O PROBLEMA SOCIAL 115<br />

cialmente livre da violência, porque se a execução é impedida<br />

por esta, pode ela livremente escolher entre fazer<br />

ou não fazer, embora seja impedida de pôr em execução<br />

o que delibera. Livre arbítrio, em suma, consiste na capacidade<br />

de escolher entre muitas possibilidades, mas a<br />

escolha é intelectual. Se toda acção livre é voluntária,<br />

nem todo voluntário é livre. Suarez estabelece como razão<br />

do voluntário apenas aquele acto no qual a potência<br />

se determina ao seu acto, querendo-o por si mesma. E<br />

há liberdade, quando pode agir ou não agir. Assim, a<br />

vontade pode ser aumentada ou diminuída pela acção da<br />

concupiscência, das paixões, do temperamento, etc; em<br />

suma, do que pode viciar a pureza do acto humano.<br />

Há liberdade quando o homem opera com pleno domínio<br />

da própria operação. Implica o acto de vontade<br />

livre uma origem intelectual, através de um acto de razão,<br />

de escolha. E será livre a operação se ela se exerce<br />

sob o império da vontade formalmente livre.<br />

Há os que desejam tornar o homem, ou pelo menos<br />

considerá-lo como determinado sempre, como a ventoinha<br />

ou a agulha magnética, apesar da disparidade. Mas<br />

é mister lembrar-lhes que jamais os que defenderam o<br />

livre arbítrio afirmaram a indeterminação. Onde há entes<br />

contingentes, há determinação, necessariamente. Mas<br />

há, entre os seres contingentes os inteligentes, que podem<br />

perceber possíveis futuros contraditórios, e escolher<br />

este ou aquele, mas este ou aquele escolhido será determinadamente<br />

executado. O acto livre não significa isenção<br />

de determinação, mas apenas isenção desta única determinação.<br />

Também liberdade não quer dizer espontaneidade<br />

absoluta, a causalidade, ausência de motivos,<br />

de razões. Apenas quer dizer possibilidade de realizar<br />

ou não, de escolher a acção esta e não aquela. Ora, se<br />

a inteligência humana é capaz de escolher entre possíveis,<br />

seria negar essa evidência a negação de poder reali-

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