Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
É perfeita, quando há plena cognição e consenso do<br />
fim; imperfeita, quando a cognição ou o consenso é deficiente.<br />
É positiva quando procede do acto; negativa quando<br />
realiza a suspensão do acto; é actual, quando pende formalmente<br />
do acto; é virtual, quando pendendo do acto,<br />
:influirá posteriormente. É explícita, quando o conhecido<br />
é tomado distintamente, e implícita, quando tomado<br />
«em algo geral querido.<br />
A acção humana, como toda acção, em si é indiferente,<br />
é honesta, pois no sentido clássico deste termo a<br />
honestidade está na indiferença. Contudo, quando usa<br />
■determina<strong>dos</strong> meios maus, embora para obtenção de efeitos<br />
bons, a acção deixa de ser honesta, porque os meios<br />
já não são indiferentes. Se usa meios maus para fins<br />
maus é ela vituperável. De uma acção, podem surgir<br />
efeitos bons ou maus, mas a acção, de per si, é honesta.<br />
Haverá desonestidade, quando há intenção de usá-la para<br />
obtenção de efeitos que deveriam ser despreza<strong>dos</strong>.<br />
Vimos que o acto voluntário elícito é aquele que procede<br />
imediatamente da vontade, e que nela é observada.<br />
Consideremos agora que há, quanto às possibilidades,<br />
a presença da contradição, o que não há em acto.<br />
Assim poderei daqui há pouco estar sentado ou em pé,<br />
mas quando estou sentado, não posso estar ao mesmo<br />
tempo em pé. Em acto, é impossível a contradição, o<br />
que não o é em potência. Ora, a liberdade humana con-<br />
.siste no poder fazer e no poder não fazer. Mas, quando<br />
faz isto, não pode ao mesmo tempo não fazer. A liberdade<br />
indica a antecedência de uma possibilidade contraditória,<br />
da qual o homem tem consciência e sem a qual<br />
não há liberdade. Quando se argumentou contra a liber-<br />
«dade, como o fizeram Schopenhauer, Spinoza, Leibnitz<br />
*e os deterministas, de que a agulha magnética poderia<br />
O PROBLEMA SOCIAL 113<br />
julgar que é livre em dirigir-se para o norte, ou a ventoinha<br />
em seguir a corrente do vento, tais argumentos<br />
pecavam pela falta de paridade, porque a ventoinha ou<br />
a agulha magnética não têm consciência de si, nem, consequentemente,<br />
<strong>dos</strong> possíveis contraditórios. Mas o homem<br />
tem-na. A diferença é, pois, muito grande, embora<br />
essa diferença não tenha sido suspeitada sequer por tão<br />
conspícuos filósofos.<br />
É preciso que se estabeleça claramente o que é liberdade<br />
física, que consiste na indiferença activa do agente,<br />
pela qual, da<strong>dos</strong> to<strong>dos</strong> os requisitos para agir, pode agir<br />
ou não agir. Se não pode recusar-se a agir, sua acção<br />
será necessária. Se faltar algum requisito, teremos a<br />
impotência. Deve haver a indiferença, pois do contrário<br />
a vontade estará determinada, e deve ser activa, porque<br />
uma indiferença passiva é apenas para receber muitas<br />
determinações.<br />
Eis uma das matérias onde se dão maiores controvérsias.<br />
Há os que negam ao homem a liberdade, e negam-na<br />
sempre os cesariocratas, e alguns empresários<br />
utilitários, estes mais por ignorância ou pelo desejo de<br />
conquistar uma posição de irresponsabilidade sobre o<br />
que fazem.<br />
Não podemos aqui tratar desta matéria em toda a<br />
sua extensão, pois já o fizemos em outros livros nossos,<br />
mas podemos, contudo, estabelecer alguns estu<strong>dos</strong>, que<br />
nos facilite a melhor compreensão da matéria.<br />
A palavra liberdade, do latim libertas, corresponde<br />
genericamente ao termo grego ethimon, e significa, nesse<br />
sentido, imunidade, isenção, solução de um vínculo,<br />
isenção da necessidade (de nec cedo, do não cedível, do<br />
que não pode deixar de ser). Nesse sentido, pode-se falar<br />
na liberdade <strong>dos</strong> pássaros voarem, das plantas crescerem,<br />
etc. É a liberdade de exercício, que tem o preso