Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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102 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
62) Mostramos a improcedência da tese da concentração<br />
do capital, pois o número de bens remunera<strong>dos</strong><br />
aumentou consideravelmente, assim como decresceu consideravelmente<br />
o número <strong>dos</strong> miseráveis, enquanto a classe<br />
média aumentou evidentemente nos países onde os estatólatras<br />
e os cesariocratas não dominaram ou não impregnaram<br />
a administração pública e a política de seus<br />
erros clamorosos e do vinis violento de suas ideias.<br />
63) O marxismo, na Rússia, não conseguiu abolir o<br />
Estado nem sequer diminuir o seu poder. Não conseguiu<br />
evitar a polícia nem o exército. Não conseguiu impedir<br />
a proliferação da burocracia. O aumento de productividade<br />
obtido pela nação não correspondeu proporcionadamente<br />
ao aumento da população, nem atingiu os<br />
níveis obti<strong>dos</strong> por outros países chama<strong>dos</strong> capitalistas.<br />
Não conseguiu comunizar a propriedade, porque concedê-<br />
-la ao Estado não é nem nunca foi realizar a <strong>social</strong>ização,<br />
nem muito menos a comunização.<br />
Não pôde aniquilar o amor à pátria, ao qual teve de<br />
apelar na última guerra (chamada até de guerra patriótica),<br />
para estimular o povo à luta ao nazismo, que de início<br />
foi recebido como libertador, e que, por seus erros,<br />
provocou a recção posterior do povo russo. Não conseguiu<br />
criar a mentalidade internacionalista, pois acabou por<br />
apelar ao nacionalismo mais primário para atrair simpatias<br />
para o seu lado.<br />
Não evitou a desigualdade <strong>dos</strong> salários, pois é o país<br />
onde há as mais extremadas diferenças. Não proscreveu<br />
as insígnias honoríficas, tão combatidas antes da revolução,<br />
criando novas e ressurgindo outras antigas.<br />
Não construiu a liberdade, mas a maior opressão registrada<br />
na História. Não impediu a traição, pois o partido<br />
que ali governa ostenta a glória de ter sido o partido,<br />
em toda a História, que mais traidores consignou.<br />
O PROBLEMA SOCIAL 103<br />
pois os que advêm ao poder acusam os anteriores de traidores,<br />
e os substituí<strong>dos</strong> no poder são sempre acusa<strong>dos</strong> desse<br />
crime! Apenas Lenine até agora não sofreu a suspeita<br />
de traição, nem os actuais dirigentes, que, certamente, serão<br />
acusa<strong>dos</strong> de traição por seus sucessores.<br />
O marxismo se contradiz filosófica, dialéctica, histórica,<br />
económica e politicamente. Não é de admirar que<br />
hoje os defensores de tal doutrina não a preguem mais,<br />
mas apenas defendam a Rússia, como um país em luta<br />
contra o bloco ocidental, e não manejem mais uma ideia<br />
contra outra ideia, mas um bloco contra outro. A luta,<br />
assim, decaiu do campo das ideias para o campo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong><br />
em luta. A evolução seguiu um rumo inverso ao<br />
previsto.<br />
O LABORISMO<br />
64) O laborismo, ou o trabalhismo, como o temos<br />
entre nós, não passa de uma manifestação em favor da<br />
cesariocracia e nada mais. Tornar funcionários públicos<br />
a to<strong>dos</strong> é realizar a mais monstruosa burocratização da<br />
humanidade, é aumentar as dificuldades humanas e não<br />
resolvê-las. Dar ao Estado o papel de gestor económico e<br />
realizar a gestão indirecta total, que é a menos apta, e<br />
nunca, em nenhum momento da História, superou a gestão<br />
directa, como demonstraremos mais adiante.<br />
Ademais a sociedade não é apenas composta de operários,<br />
mas de seres humanos. Por outro lado, as injustiças<br />
não terminam pela hipertrofiação do Estado; ao contrário,<br />
o patrão único e todo-poderoso será a mais infame<br />
exploração do homem pelo homem, em benefício de alguns<br />
astuciosos políticos, que dominarão os altos-postos<br />
não por sua capacidade cultural e pela sua eficiência, mas