Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
sim a acção <strong>dos</strong> políticos! O espetáculo <strong>dos</strong> parlamentos,<br />
a falta de dignidade <strong>dos</strong> chama<strong>dos</strong> indevidamente<br />
"representantes do povo", sua subserviência a interesses<br />
inconfessáveis, sua acção mentirosa, seu prometer desmedido,<br />
sua traição constante aos princípios, tudo isso, em<br />
suma, é que desmoraliza a política. São os políticos que<br />
fazem obra fascista, porque a política só serve para desmoralizar<br />
a si mesma, pela simples razão que leva dentro<br />
de si o próprio veneno que a mata, porque encerra<br />
em sua essência o vírus do domínio, da vitória fácil, da<br />
mentira, da intriga.<br />
Com o desenvolvimento da técnica, da ciência da<br />
administração, com a possibilidade que há de se congregar<br />
numa sociedade humana as forças de producção e de<br />
consumo para uma obra homogénea (queremos referir-<br />
-nos, é lógico, a uma sociedade cooperacional), a política<br />
é algo de anacrónico, de impróprio, de emperrante, de<br />
obstaculizador. Em suma, estaria bem num museu de<br />
curiosidades.<br />
Numa sociedade capitalista, a política só pode favorecer<br />
ao fascismo, ao cesarismo, porque não é o meio<br />
apropriado para as transformações de índole <strong>social</strong>, as<br />
quais devem ser feitas pela acção congregada das próprias<br />
organizações populares, por livre iniciativa.<br />
Querer chamar de política essa acção, é falsear o seu<br />
sentido verdadeiro e prático. Política é uma arte intermediária,<br />
de méto<strong>dos</strong> intermediários e indirectos, com a<br />
finalidade de obter o poder e de conservá-lo. Querer dar-<br />
-Ihe um conceito puro e científico, é apenas separá-la da<br />
realidade prática, da praxis.<br />
A luta contra a política é uma luta de moralização<br />
<strong>social</strong>. A transformação <strong>social</strong> é obra de to<strong>dos</strong>, a to<strong>dos</strong><br />
compete, e to<strong>dos</strong> precisam empregar os maiores esforços<br />
para conseguir realizá-la. A política tende para o menor<br />
O PROBLEMA SOCIAL 13<br />
número, para um grupo de privilegia<strong>dos</strong>. E o mesmo fenómeno<br />
que se dá com a organização burocrática, em que<br />
o burocrata cada vez mais se burocratiza, o político cada<br />
vez mais se politiquiza.<br />
Enquanto o <strong>social</strong>ismo usar a arma da política estará<br />
fazendo o papel das classes dominantes, estará servindo-as,<br />
dizem os libertários. Se os <strong>social</strong>istas querem <strong>social</strong>ismo,<br />
é necessário, desde já, começar a fazê-lo, <strong>social</strong>izando<br />
seus actos e sua acção. No terreno político, que<br />
é sempre o de um número reduzido, e de alhea<strong>dos</strong> da<br />
producção, não se faz obra <strong>social</strong>ista. Faz-se apenas obra<br />
política.<br />
A crise do <strong>social</strong>ismo moderno é producto da sua<br />
acção política, proclamam os anarquistas. Há <strong>social</strong>istas<br />
em todo o mundo, aos milhões; mas, <strong>social</strong>ismo, onde<br />
está?<br />
Há o poder do Estado hipertrofiado, há a nacionalização<br />
das empresas, há a centralização burocrática, a comissariocracia,<br />
a tecnocracia, o dirigismo, mas, <strong>social</strong>ismo<br />
onde está? Há operários assalaria<strong>dos</strong>, há productores<br />
oprimi<strong>dos</strong>, há sacrifícios sem conta; mas, <strong>social</strong>ismo<br />
onde está?<br />
Em suma, <strong>social</strong>ismo político é política sem <strong>social</strong>ismo,<br />
e nada mais.<br />
Por isso os libertários consideram que um <strong>dos</strong> erros<br />
mais desastrosos, que têm perturbado a acção <strong>dos</strong> <strong>social</strong>istas<br />
do mundo inteiro, é o aproveitamento <strong>dos</strong> meios<br />
eleitorais e políticos em sua acção. Muitas são as razões<br />
que oferecem os partidários <strong>dos</strong> meios eleitoralistas na<br />
luta emancipadora <strong>dos</strong> oprimi<strong>dos</strong>. Podemos sintetizá-los<br />
aqui:<br />
a) oferece uma tribuna de propaganda para os<br />
ideais <strong>social</strong>istas;<br />
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