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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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98 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

e da liberdade humanas contra os que desejam transformar<br />

o homem apenas em coisa, em instrumento, em peça<br />

da máquina <strong>social</strong>. Esse liberalismo não é o manchesterismo,<br />

e confundi-lo é erro crasso, e favorecer as ideias<br />

cesariocratas. A afirmativa de quase to<strong>dos</strong> os liberais de<br />

que o individualismo é o elemento essencial da actividade<br />

económica é também um modo falso de atribuir à concepção<br />

liberal um princípio, que pertence a uma espécie<br />

viciosa de liberalismo. O liberalismo, em suma, prega a<br />

liberdade da acção individual e colectiva na realização de<br />

actos económicos, mas, em sua essência, exige fundamentos<br />

éticos honestos e o primado da justiça <strong>social</strong>.<br />

O liberalismo, que defende a desigualdade humana, e<br />

justifica e proclama a validez única do individualismo<br />

económico, é uma forma viciosa do liberalismo. Por essa<br />

razão, os liberais, que defendem realmente a liberdade<br />

humana sem esses vícios, preferem chamar-se libertários,<br />

para evitar a confusão com aquele sentido, que talvez já<br />

tenha irremediavelmente penetrado naquele conceito.<br />

Os libertários, inclusive os democratas libertários, negam<br />

como princípio a liberdade de fazer o que bem se entende.<br />

A liberdade, como plenitude do acto humano, implica<br />

a ética, do contrário é a lei das selvas. A liberdade<br />

sem ética é a falsa liberdade, porque ofende a liberdade<br />

alheia. Ademais, colocar-se como fim primacial o lucrum,<br />

é pôr em segunda plana a dignidade humana, e ao visualizar-se<br />

apenas aquele, esquecem-se das necessidades humanas<br />

reais, e desprezam-se os direitos <strong>dos</strong> mais fracos e<br />

<strong>dos</strong> subordina<strong>dos</strong>.<br />

58) De parte da Igreja Católica há, infelizmente, uma<br />

confusão quanto à conceituação do que seja <strong>social</strong>ismo,<br />

que é confundido com o <strong>social</strong>ismo estatólatra, esquecendo<br />

que pode haver um <strong>social</strong>ismo libertário. Tomar <strong>social</strong>ismo,<br />

comunismo, colectivismo, marxismo como sinónimos<br />

é um erro grave. Contudo, nem to<strong>dos</strong> autores ca-<br />

O PROBLEMA SOCIAL 99<br />

tólicos cometem esse erro. Muitos sabem que é difícil<br />

definir o <strong>social</strong>ismo, devido à grande heterogeneidade de<br />

escolas, de sistemas. Mas é comum a todas as escolas o<br />

desejo de melhorar as condições de to<strong>dos</strong> os homens e de<br />

afastar to<strong>dos</strong> os óbices que impedem esse melhoramento<br />

e tudo quanto facilite a exploração do homem pelo<br />

homem. E também deveria incluir-se a exploração do<br />

homem, não só pelo homem, mas por qualquer entidade<br />

criada por este, porque não poderia haver genuinamente<br />

<strong>social</strong>ismo onde um organismo, como o Estado todo-poderoso,<br />

exerce um poder omnímodo e absoluto sobre to<strong>dos</strong>,<br />

na verdade em benefício de alguns, os privilegia<strong>dos</strong><br />

usufruidores do poder, ou até do mesmo Estado, como<br />

uma entidade rica, fundada sobre a expropriação e a miséria<br />

de quase to<strong>dos</strong>.<br />

Atribuir-se ao <strong>social</strong>ismo que a felicidade humana apenas<br />

pode ser obtida nesta vida, afastar-se-ia a concepção<br />

de Tolstoi; que a luta de classes é fundamental do <strong>social</strong>ismo,<br />

seria afastar o <strong>social</strong>ismo libertário dessa concepção;<br />

que a desaparição da propriedade privada é fundamental,<br />

seria negar que é <strong>social</strong>ista a concepção dominista, que<br />

admite a propriedade em termos justos. Afirmar-se que<br />

to<strong>dos</strong> os <strong>social</strong>istas são ateus, é um erro; que são anti-<br />

-religiosos, é outro; afirmar que consiste na hipertrofiação<br />

do Estado, seria afastar os libertários que pugnam<br />

contra o quantum despoticum; afirmar que são defensores<br />

do amor livre e inimigos da família, é um excessivo<br />

disparate.<br />

Já examinamos a essência do <strong>social</strong>ismo em "Análise<br />

de Temas Sociais" e não é mister reproduzir o que ali<br />

afirmamos.<br />

59) Quanto aos erros fundamentais de certas escolas<br />

<strong>social</strong>istas, já alinhamos os principais, e já refutamos<br />

devidamente as suas doutrinas, aliás refutadas, sobretudo,<br />

pela prática, pela própria acção de seus defensores. Ale-

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