19.04.2013 Views

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

94 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

d) pela incapacidade <strong>dos</strong> elementos, que estão à testa<br />

das ideias fundamentais da cosmovisão, de defenderem<br />

com energia esses fundamentos, e serem débeis para<br />

enfrentar as forças corruptivas, que actuam interna e externamente.<br />

A decadência de uma tensão cultural depende, assim,<br />

de três elementos: das disposições prévias corruptivas<br />

internas, das externas e do grau de coerência interna, capaz<br />

de fazer frente aos factores corruptivos.<br />

Se a decadência <strong>dos</strong> ciclos culturais tem sido inevitável<br />

é porque a conjunção <strong>dos</strong> factores corruptivos e os<br />

de decadência encontraram condições favoráveis à sua ae<br />

tualização.<br />

Oportunamente, verificaremos que é possível alcançar<br />

a uma tensão cultural de plenitude, embora seja, por ora,<br />

pouco provável para a Humanidade. Em suma, é possível<br />

ao homem a conquista de uma sociedade humana de<br />

*. plenitude, mas o grau de probabilidade é ainda pequeno,<br />

dado o desconhecimento da história e o viciamento da<br />

cultura, que depende, em grande parte, da confusão das<br />

ideias reinantes em todas as camadas da sociedade, o que<br />

impede encontrar uma solução adequada. Contudo, afirmamos,<br />

num acto de esperança, a capacidade humana de<br />

encontrar soluções capazes aos seus máximos <strong>problema</strong>s,<br />

mas só após um acurado estudo <strong>dos</strong> factores históricos,<br />

já liberta<strong>dos</strong> de tudo quanto vicia uma visão nítida da<br />

realidade <strong>social</strong> e do homem em função da sua temporalidade.<br />

Deste modo, ao lado de um processo degenerativo e<br />

de decadência de um estamento <strong>social</strong>, há o progressivo<br />

de ascenção de outro estamento, imediatamente posterior.<br />

Assim como há uma fase, analogicamente tomada, infantil,<br />

juvenil, de maturidade e de velhice, há, nos ciclos culturais<br />

também essas fases em cada período de domínio<br />

O PROBLEMA SOCIAL 95<br />

<strong>dos</strong> estamentos. Esta a razão por que to<strong>dos</strong> sentem, como<br />

o sentia Nietzsche, que há "um mundo que nasce e um<br />

mundo que morre", ao lado de uma ascensão, um declínio,<br />

ao lado de um desenvolvimento, algo que se retrai, decresce,<br />

míngua e estagna-se. Aqueles, que actualizam apenas<br />

o aspecto ascensional, sentem a sociedade em progresso,<br />

em elevação, em superação, são em geral os adeptos<br />

do estamento em ascensão, enquanto aqueles, que actualizam<br />

o que desfalece, míngua e se estagna, sentem o "mundo"<br />

como em decadência. O hierático, no período de do<br />

mínio económico e político do empresário utilitário, sente<br />

o mundo como em decadência, anuncia o juízo final,<br />

lembra com saudade os tempos antigos em que vigoravam<br />

princípios morais distintos, e em que os homens ainda<br />

respeitavam valores que hoje são despreza<strong>dos</strong>. Também<br />

o aristocrata, no período cesariocrata, queixa-se da<br />

corrupção moral e da decadência <strong>dos</strong> costumes, da perda<br />

<strong>dos</strong> valores nobres, que descem e que têm raros cultores.<br />

Também os romanos e os gregos, ao verem a ascensão<br />

do Cristianismo, sentiam que morria um mundo de<br />

nobreza superior e que advinha uma era de decadência e<br />

de aniquilamento. Não era de admirar que alguns remanescentes<br />

da cultura greco-romana realizassem os antigos<br />

rituais, não com alegria nos corações, mas com lágrimas<br />

no rosto, deplorando a decadência que dominava o "mundo"<br />

de então, quando a decadência era do "seu" mundo.<br />

Não viam, nem poderiam ver, o que surgia de novo, a nova<br />

crença que vingava, a nova cosmovisão que dominaria,<br />

o novo ciclo que se iniciava.<br />

DAS UTOPIAS<br />

54) Mostramos que há sempre no ser humano um<br />

desejo de ser outro do que é, de ter uma vida outra que<br />

a que tem, de desejar situação distinta das em que vive.<br />

Há, assim, um ímpeto utópico, o desejo de alcançar uma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!