Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
gue imediatamente, como o estimula a manifestar maior<br />
audácia em suas reivindicações.<br />
50) O processo corruptivo também é alimentado pela<br />
penetração sub-reptícia <strong>dos</strong> elementos de outros estamentos,<br />
que buscam ascender aos cargos e postos do estamento<br />
dominante, usando to<strong>dos</strong> os recursos que a astúcia<br />
humana ensina, para, com eles, abrirem as brechas,<br />
pelas quais possa penetrar o maior número, e também<br />
tornar mais fácil a concepção de direitos, que são naturalmente<br />
reivindica<strong>dos</strong> pelo estamento que anela o kratos<br />
político.<br />
Nesses momentos, surgem os compromissos políticos,<br />
que têm sempre um papel corruptivo crescente, oferecendo<br />
melhores condições para aumento daquele.<br />
51) A cosmovisão, com as suas decorrências possíveis,<br />
que apresentam distinções marcantes da concepção<br />
primeira e fundamental, sofre modificações sempre proporcionais<br />
a essas variações nos compromissos políticos<br />
e económicos, estes últimos com seus reflexos naqueles e<br />
nos jurídicos. A cosmovisão mantém-se pura formalmente,<br />
não materialmente. Assim, se formalmente se mantêm<br />
os postula<strong>dos</strong> primeiros, na prática os novos postula<strong>dos</strong><br />
são estabeleci<strong>dos</strong>. Posteriormente, são justifica<strong>dos</strong>,<br />
integrando-se na nova maneira de considerar o mundo<br />
(cosmovisão subordinadav, mas ao mesmo tempo modificativa<br />
da anterior). Não é inédito na História, e ao<br />
contrário, é constante, os concílios, as conciliações entre<br />
a nova maneira de ver o mundo e a anterior, incorporando-se<br />
a nova maneira na antiga, que a princípio resiste,<br />
cedendo, afinal, e justificando até, ante os fundamentos<br />
da cosmovisão teocrática, as reivindicações exigidas pelo<br />
estamento em ascensão. Não é, pois, de admirar que em<br />
nenhum ciclo cultural, nenhuma cosmovisão se mantenha<br />
pura e imutável através <strong>dos</strong> tempos. Há, sempre, conciliações,<br />
e estas são ratificadas por acor<strong>dos</strong> solenes, se-<br />
O PROBLEMA SOCIAL 93<br />
gundo as normas de sanccionar de cada cosmovisão cultural.<br />
Tais modificações são verificáveis em to<strong>dos</strong> os ciclos<br />
culturais, e têm elas suas razões no próprio dinamismo<br />
das interactuações entre os diversos tipos de estamento.<br />
52) A decadência do estamento se processa: a) pela<br />
perda constante do poder político, em consequência da<br />
perda do poder económico; b) pela mudança constante na<br />
cosmovisão, cujas corrupções accidentais alteram aos poucos<br />
as ideias fundamentais, com aderências suspeitas e<br />
muitas vezes sacrílegas; c) pela introducção constante de<br />
elementos caracterológicos de outros estamentos, que passam<br />
a ocupar posições de relevo, e que o perturbam, com<br />
modificações accidentais, muitas vezes temerárias, outras<br />
até sacrílegas; d) pela acção constante da oposição <strong>dos</strong><br />
estamentos adversos, que não encontram a resistência<br />
necessária e corrompem, sob vários aspectos, a tensão<br />
formada, que, enfraquecida, abre ensanchas a inovações<br />
perigosas, deletérias e corruptivas; e) pela estagnação, pela<br />
ausência de figuras capazes de manter a unidade, pela<br />
falta de maior dedicação aos misteres correspondentes,<br />
pela passividade, pela intolerância mal fundada, pela falta<br />
de uma exposição clara <strong>dos</strong> legítimos fundamentos, que<br />
não facilitam o respeito que lhe deve corresponder.<br />
53) A decadência do ciclo cultural, processa-se:<br />
a) pelo/ esgotamento das possibilidades e pela actualização<br />
de algumas, que transferem para o epimeteico<br />
outras não mais historicamente actualizáveis;<br />
b) pela estagnação que se verifica na capacidade<br />
criadora, pela ausência de exemplares capazes de abrir<br />
novas possibilidades;<br />
c) pela oposição e pelo antagonismo <strong>dos</strong> elementos<br />
adversos, que não encontram a resistência capaz de impedir<br />
a sua acção corruptiva;