Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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88 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
te por não ter havido uma justa avaliação <strong>dos</strong> aspectos<br />
caracterológicos, que são suficientes para nos explicar o<br />
porquê das mesmas.<br />
32) Esses estu<strong>dos</strong> caracterológicos permitem-nos, assim,<br />
dar o elemento concrecionai que faltava ao exame<br />
<strong>dos</strong> estamentos sociais e económicos, pois encontramos,<br />
também aí, a influência que êle exerce em sua estratificação<br />
quanto às tendências humanas, e também muito do<br />
porquê das suas atitudes.<br />
33) A visão mais concreta da sociedade nos obriga<br />
a ver o estamento, não só em seus fundamentos sociológicos,<br />
mas também caracterológicos, éticos, económicos,<br />
jurídicos e históricos. Permitem-nos, também, compreender<br />
as razões que levam a determinadas respostas, com<br />
tal ou qual intensidade, aos desafios, não só ecológicos como<br />
histórico-sociais, a predominância de certas tendências<br />
que levam alguns povos a seguirem determinado rumo<br />
e não outro, etc. Os trabalhos caracterológicos aplica<strong>dos</strong><br />
à História, que empreendemos em nossa obra, são<br />
ainda um bosquejo do que poderá ser feito por outros, que<br />
se dediquem mais a fundo ao que iniciamos, e mesmo nós,<br />
se nos sobrarem forças e tempo, pretendemos ainda desenvolver<br />
tais estu<strong>dos</strong>, que apenas esboçamos em linhas<br />
gerais.<br />
A TENSÃO CULTURAL<br />
34) Demonstramos que a formação de uma tensão<br />
cultural dá-se quando surge uma vis regitiva communis,<br />
uma força que rege a comunidade, ou seja, quando surge<br />
um termo médio complementar, que complementa um povo,<br />
em torno de uma cosmovisão, e marca, assim, o caminho<br />
que poderá seguir.<br />
35) A tensão cultural revela em sua existência um<br />
verdadeiro ciclo, desde seu surgimento, perduração, até o<br />
O PROBLEMA SOCIAL 89<br />
momento de seu desfalecimento, decadência, e morte final,<br />
o que é hoje matéria já indiscutível nos estu<strong>dos</strong> históricos.<br />
36) Verificamos que o desenvolvimento do ciclo cultural<br />
obedece a determinadas constantes, que nos revelam<br />
as fases por que passa, o que já estudamos exaustivamente.<br />
37) Demonstramos de modo suficiente que os perío<strong>dos</strong><br />
e fases <strong>dos</strong> ciclos culturais revelam a predominância<br />
<strong>dos</strong> estamentos caracterológicos, sociais, económicos, éticos<br />
e jurídicos, e <strong>dos</strong> compromissos que formam entre si,<br />
o que foi sobejamente examinado.<br />
38) Os estu<strong>dos</strong> históricos nos apontam indefectivelmente<br />
que as causas de ascensão e de declínio das tensões<br />
culturais são as mesmas, e que a sua imprescriptibilidade<br />
é apenas aparente, já que, sendo factos contingentes<br />
podem perfeitamente ser frustráveis, desde que o homem<br />
tenha o saber e o poder suficientes para dirigir os<br />
próprios destinos, o que é uma possibilidade bem fundada,<br />
apesar da maneira oposta de considerá-la.<br />
39) Foi suficientemente demonstrado que o fatalismo<br />
histórico não tem um fundamento necessário de modo<br />
absoluto, mas apenas hipotético, e que sempre é possível<br />
ao ser humano vencer o próprio destino, marcando<br />
novas direcções à sua vida, e indicando novos roteiros ao<br />
proceder histórico,<br />
40) Tais demonstrações são suficientes para dar ao<br />
homem a sua consciência histórica e a certeza de que poderá,<br />
finalmente, libertar-se da necessidade, e estabelecer<br />
novos caminhos para si. Consequentemente, as planificações<br />
sobre o seu futuro podem ter fundamento, e o ho-><br />
mem é capaz de tornar-se senhor da História.