Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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86<br />
MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
parte. Já é tempo, em face do que sabemos, de procurar<br />
outros roteiros, se queremos afirmar-nos como seres<br />
inteligentes e capazes e não apenas como seres caducos e<br />
claudicantes.<br />
29) É psicologicamente verdadeiro que cada vez que<br />
derrotamos dentro de nós um ímpeto natural nos angustiamos.<br />
Nossa pseudo-vitória traz o gosto amargo de<br />
uma melancolia e o sorriso vitorioso não consegue esconder,<br />
em sua máscara, o laivo de amargura que há dentro<br />
de nós. Essa amargura é apenas o símbolo de uma submissão<br />
provisória, de algo que é ainda vivo e que anseia<br />
reviver, e que, ao abrirem-se as comportas, ressurge com<br />
mais intensidade. Tais consequências nos explicam muitos<br />
retornos bárbaros que nos agitam e nos impelem a<br />
actos anti-sociais e anti-éticos, que podem ser evita<strong>dos</strong> se<br />
pensarmos apenas, e esse é o nosso dever, em elevar o homem<br />
através de vitórias e não através de derrotas. A<br />
vitória sobre nós mesmos só será verdadeira quando não<br />
assassinarmos em nós o que é também a nossa realidade.<br />
A redenção humana deverá ser feita pelo ressurgimento<br />
do que é em nós a força, mas tendendo para uma finalidade<br />
que não ofenda a conveniência individual e colectiva.<br />
O ideal novo de superação humana só pode ser aquele<br />
que afirme o homem em sua plenitude, e que construa<br />
a sua realidade práxica com o que nele é real e verdadeiro.<br />
Enquanto não realizarmos isso, não saímos da brutalidade.<br />
NO CAMPO CARACTEROLÓGICO<br />
30) As conquistas da moderna Caracterologia nos<br />
permitem classificar com segurança bastante notável os<br />
tipos humanos, segundo seu temperamento, ou melhor,<br />
segundo a emergência que revelam. Dentro dessa emergência,<br />
no tocante ao <strong>social</strong>, revelam possuir uma propen<br />
são acentuada, uma tendência marcante, uma inclinação<br />
O PROBLEMA SOCIAL 87<br />
indiscutível, para os quatro tipos histórico-caracterológicos,<br />
que distinguimos, cujo fundamento está em to<strong>dos</strong> os<br />
ciclos culturais, ou seja: o tipo hierático, o tipo aristocrático,<br />
o tipo empresarial e o tipo do servidor, cujas<br />
combinações tivemos ocasião de estudar nos livros que<br />
antecederam a este. Juntamos ali suficientes provas, e<br />
examinamos sob diversos aspectos as intercorrelações que<br />
se formam entre esses quatro estamentos caracterológicos<br />
em cada indivíduo, bem como <strong>dos</strong> tipos já forma<strong>dos</strong><br />
entre si. Não vemos mais necessidade de reproduzir o<br />
que foi suficientemente exposto e demonstrado. Por outro<br />
lado, verificou-se, também, que a velha classificação<br />
caracterológica, fundada nos chama<strong>dos</strong> tipos astrológicos,<br />
sem querermos emprestar-lhe o significado ou as razões<br />
que lhes dão os astrólogos, é a que melhor corresponde<br />
à realidade, e na falta de outra melhor, volveu a ser empregada<br />
e usada na Caracterologia moderna, tendo-a nós<br />
aproveitado apenas neste sentido, ou seja, como a que melhor<br />
traduz a tipologia humana, sem que afirmemos qualquer<br />
influência astral, mas apenas que, realmente, há<br />
marcianos, há jupiterianos, há saturnianos, há apolíneos,<br />
há lunares, há terrestres, há venusinos, etc, em suma, que<br />
há homens que revelam a predominância <strong>dos</strong> caracteres<br />
atribuí<strong>dos</strong> a esses tipos, e que constituem uma heterogénea<br />
combinação de diversos outros, pela acentuação de<br />
aspectos que pertencem, preferentemente, a estes ou<br />
àqueles.<br />
31) Segundo a estratificação caracterológica, revelam<br />
os homens uma propensão, tendência e inclinação para<br />
determinada apreciação valorativa, que os leva a actualizar<br />
certos valores possíveis e a virtualizar outros, dando<br />
maior importância a determina<strong>dos</strong> factos, e menor a outros,<br />
o que nos explica, dentro da heterogeneidade humana,<br />
a heterogeneidade das atitudes muitas vezes aparentemente<br />
contraditórias, noutras inverossímeis, simplesmen-