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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

os conceptualistas), e que tinha um modo de ser ante rem,<br />

no Ser (como o afirmariam os realistas), pois era uma<br />

possibilidade que se efectuou. Dessa forma, o pensamento<br />

tomista é dialéctico. As formas estão antes da coisa<br />

no Ser, pois do contrário viriam do nada (tese realista),<br />

dão-se nas coisas, em esquemas concretos (tese <strong>dos</strong> conceptualistas),<br />

e são conhecidas, por nós, post rem, depois<br />

da experiência (tese <strong>dos</strong> nominalistas). Dessa forma, o<br />

realismo de São Tomás é mais dialéctico que o nominalismo<br />

marxista, que é abstracto.<br />

O que conhecemos das coisas, as quidditates, são<br />

condicionadas pelo cognoscente. Conhecemos o cognoscível,<br />

e ampliamos o conhecimento à proporção que ampliamos<br />

os nossos esquemas de conhecimento. Que são<br />

os aparelhos da ciência, microscópios, etc, senão uma<br />

ampliação <strong>dos</strong> nossos esquemas, ou que reduzem aos<br />

nossos esquemas o que se dá além da capacidade cognoscitiva<br />

do cognoscente?<br />

Portanto, uma visão meramente objectiva do conhecimento<br />

é uma visão abstracta.<br />

Os marxistas, quando transformam o aparelho cognoscitivo<br />

do homem numa mera máquina fotográfica,<br />

caem na mesma posição nominalista ou na maneira brutal<br />

de ver <strong>dos</strong> materialistas vulgares, com quem Marx se<br />

preocupava tanto em não ser confundido.<br />

E assim como Kant, querendo combater o idealismo,<br />

não pôde impedir de nele cair, Marx não pôde impedir<br />

de cair no materialismo vulgar, e ao semear dragões colheu<br />

pulgas, que se escarrapacharam, sugando, tanto<br />

quanto possível, o sangue do nominalismo até inflar ao<br />

extremo.<br />

E tudo isso era uma decorrência natural da sua posição<br />

subjectivamente objectiva, da sua paixão (subjecti-<br />

O PROBLEMA SOCIAL 75<br />

va) ao objectivo, que o levou a não poder conter os exageros,<br />

e a precipitar no exagero os seus epígonos mais<br />

"marxistas" que êle.<br />

Analisemos dialècticamente em outros campos.<br />

As actualizações e virtualizações que o marxismo<br />

procedeu permitiram as modalidades abstraccionistas de<br />

que está cheia essa doutrina, e que encontra, na prática,<br />

um desmentido constante.<br />

Por que os marxistas, na prática, tiveram de ser diferentes<br />

do que foram na teoria?<br />

A simples evidenciação dessa diferença é suficiente<br />

para, desde logo, mostrar que havia alguma coisa que<br />

não estava perfeitamente entrosada, perfeitamente adequada.<br />

Em vez de procurar o ponto frágil, os marxistas<br />

preferiram cair num bizantinismo de interpretações subtis<br />

das frases de Marx, procurando, sempre, justificar os<br />

erros, que eram apenas erros porque partiam de posições<br />

previamente falsas.<br />

Basta que se observem as obras <strong>dos</strong> autores marxistas<br />

que estão sempre apontando os erros cometi<strong>dos</strong>, como<br />

monotonamente o fazem Engels, Lenine e outros, com<br />

excepção <strong>dos</strong> actuais dominadores, porque estes nunca<br />

erram, pois descobriram uma solução ideal para as atitudes:<br />

"as condições históricas exigiam tal atitude...", o<br />

que aliás é bem verdade.<br />

A posição filosófica do marxismo, sua maneira de ver<br />

a História, leva-o a actualizar apenas os aspectos extensistas<br />

e a virtualizar o intensista, a actualizar as possibilidades<br />

reais ou não, que se coadunam com a sua maneira<br />

de ver os factos, e a virtualizar tudo o mais, razão por<br />

que os acontecimentos, que não seguem a regra marxista,<br />

desmentem-no constantemente. A redução do mundo a<br />

uma cosmovisão simplista, leva os marxistas a verem só

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