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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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72 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

citamente, nos estu<strong>dos</strong> sobre o conhecimento, que São<br />

Tomás, Duns Scot e Suarez haviam feito, como o mostramos<br />

em nosso "Teoria do Conhecimento".<br />

Citamos ainda São Tomás no mesmo tópico: "Portanto,<br />

o natural para nosso entendimento é conhecer as<br />

coisas que não têm ser senão na matéria, já que a nossa<br />

alma, pela qual conhecemos, é forma de uma matéria.<br />

Mas a alma tem duas faculdades cognoscitivas. Uma,<br />

que é acto de algum órgão corpóreo, pelo que sua actividade<br />

natural é conhecer as coisas segundo o modo de<br />

ser que têm na matéria individual, e por isto os senti<strong>dos</strong><br />

unicamente conhecem o singular. A outra é o entendimento,<br />

que não é acto de nenhum órgão corpóreo, e por<br />

isso o conatural (natural com) do entendimento é conhecer<br />

as naturezas que têm ser em uma matéria individual,<br />

mas abstraídas dela pela acção do entendimento. Por<br />

essa acção, com o entendimento, podemos conhecer as<br />

coisas em seu ser universal, ao qual não podem alcançar<br />

os nossos senti<strong>dos</strong>."<br />

Esta segunda acção do conhecimento, o marxista a<br />

considera como os nominalistas a consideravam. O universal<br />

é apenas o que têm de comum os entes. Mas esquecem-se<br />

que os esquemas concretos estão também nas<br />

coisas, sem uma presença material. Esta maçã é maçã<br />

e não outra coisa.<br />

E por quê? Porque nela há um relacionamento físico-químico-biológico<br />

que a torna maçã e não outra coisa.<br />

Mas esse relacionamento é um relacionamento que não<br />

é qualquer outro. É este. E não sendo este, a maçã não<br />

é maçã, seria outra coisa. Portanto, é o esquema concreto<br />

que dá a tensão maçã, com sua forma maçã, algo que<br />

se repele, nesta e naquela e naquel'outra maçã, e só nas<br />

maçãs. Mas não está nesta maçã materialmente, pois, do<br />

contrário, como teria ubiqíiidade para estar naquela?<br />

/<br />

O PROBLEMA SOCIAL, 73<br />

Logo o arithmos, o número pitagórico no bom sentido, o<br />

arithmos plethos de que falava Pitágoras, que dá a forma<br />

maçã, algo que não é matéria, é uma fórmula que não é<br />

apenas uma abstracção do homem (excesso da tese subjectivista,<br />

que não pôde evitar Marx), mas é algo que se<br />

dá aqui, ali e acolá, simultaneamente. É uma forma, um<br />

ei<strong>dos</strong>, no sentido platónico, um arithmos, no pitagórico,'<br />

que não é matéria, do contrário não teria ubiquidade,<br />

não poderia estar simultaneamente em tantos lugares.<br />

Não é o mero flatus voeis <strong>dos</strong> nominalistas, apenas<br />

uma palavra, mas um esquema concreto, que cresce com<br />

(concretum vem de concrecior, crescer com, também em<br />

sentido aumentativo), a matéria que compõe esta ou aquela<br />

maçã. Mas essa forma não se actualiza nesta e naquela<br />

maçã, sem a presença <strong>dos</strong> factores predisponentes,<br />

que a facilitam, pois uma maçã não surgiria na Lua, como<br />

a Lua é hoje.<br />

Logo, essa forma maçã (esse ei<strong>dos</strong>, esse arithmos,<br />

essa forma, o nome pouco importa) é um esquema concreto,<br />

real, portanto, não com as características da matéria,<br />

mas ubíqua, que é uma possibilidade dentro do ser<br />

(um possibilium da escolástica," que se torna um effectibilium<br />

neste planeta), e em certas condições, se actualiza<br />

em maçã.<br />

Podemos não saber qual é o esquema concreto da<br />

maçã; pode a ciência ainda não saber como êle é; mas<br />

sabe que êle é, que êle se dá aqui, ali, acolá. Captamos<br />

dele, segundo nossas possibilidades, segundo a possibilidade<br />

do cognoscénte, o que êle é, uma quidditas, o seu<br />

quid, o seu o que, que as coisas na sua intrinsecidade repetem<br />

(imitam).<br />

É uma universalidade para nós, adquirida post rem,<br />

depois da experiência (como o querem os nominalistas),<br />

mas que está in re, na coisa, na maçã, (como o afirmam

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