Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
66<br />
MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
Ora, o <strong>social</strong>ismo eotécnico, de forma alguma consideraria<br />
a oficina burguesa como exemplo de uma oficina<br />
<strong>social</strong>ista, nem admitiria que a forma de producção burguesa<br />
fosse <strong>social</strong>ista, pois a técnica levava o trabalhador<br />
a uma brutalização tal que seria hediondo aceitá-la.<br />
Opunha-se ao capitalismo. Marx não; considerava-o<br />
um passo à frente, um progresso. O capitalismo criava<br />
maravilhas.<br />
O próprio Marx intitula o seu livro máximo de "Capital",<br />
porque é sobre o capitalismo, forma viciosa do<br />
domínio do capital, que êle quer falar.<br />
Viu nas grandes chaminés, que empestavam as cidades,<br />
naquelas florestas de canos espetando o céu, um<br />
progresso. As imundas cidades de carvão e fuligem eram<br />
um progresso ante as limpas cidades da eotécnica, conhecidas<br />
nos países nórdicos. Para êle o capitalismo era o<br />
gestor do <strong>social</strong>ismo. Ainda o diferente gestava o diferente,<br />
o tigre gestava pombas...<br />
Colocado nesse ângulo, o marxismo estructura-se como<br />
uma filosofia do proletariado da paleotécnica.<br />
Marx nunca pensou devidamente nas grandes revoluções<br />
técnicas; não pensou que elas poderiam ter um outro<br />
papel, importantíssimo, na formação de novos ângulos<br />
e perspectivas. Enquanto o "utopista" Proudhon previa<br />
o fascismo, Marx não; enquanto Kroptkine, em cuja<br />
obra "Campos, fábricas e oficinas" colocava os aspectos<br />
da Técnica, que serviriam de base a Patrick Geddes e a<br />
Mumford posteriormente, e, actualmente, ao movimento<br />
de humanização do trabalho, Marx não previa essa transformação.<br />
Marx era paleotécnica apenas, e só.<br />
Nem uma visão clara das possibilidades revolucionárias<br />
da Técnica, nem sequer do papel que ela exercera<br />
na transformação das sociedades do passado.<br />
ANÁLISE DECADIALÉCTICA<br />
Com a colocação <strong>dos</strong> diversos aspectos mais importantes<br />
do marxismo, por nós já salienta<strong>dos</strong> nas páginas<br />
que antecedem, é fácil agora fazer uma análise decadialéctica,<br />
segundo os dez planos, bem como da maneira<br />
abstracta de visualizar os temas, não só sociais como filosóficos,<br />
económicos, etc.<br />
Analisado o marxismo no campo do sujeito e do objecto,<br />
deve ser examinado como doutrina e como prática,<br />
como obra de Marx, e de seus seguidores.<br />
Se actualizamos o subjectivo, a pessoa de Marx se<br />
torna importante para a explicação da sua doutrina. Esta<br />
está marcada pelas peculiaridades do seu espírito. A<br />
marca pessoal é demasiadamente evidente: messianismo<br />
judaico, ressentimento individual, perseguições e desprezo<br />
<strong>dos</strong> dominadores de então. Marx, antes de ser marxista,<br />
opunha-se, politicamente, àqueles a quem houvera<br />
solicitado um cargo, que não obtivera por ser judeu, apesar<br />
de casado com uma mulher da pequena nobreza alemã.<br />
Os estu<strong>dos</strong> filosóficos de Marx, e a influência que<br />
sobre êle teve Engels, que era um industrial e economista,<br />
explicam-nos muito dessa notável simbiose, que terminou<br />
por Engels fazer mais Filosofia que Economia, e Marx<br />
mais Economia que Filosofia.<br />
Filosoficamente, influenciado pelo hegelianismo de<br />
esquerda, que actualizara da obra de Hegel o aspecto<br />
objectivo, assistindo à luta que era travada entre os dois