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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

vigilante, antes <strong>dos</strong> exames procedi<strong>dos</strong>. Portanto, sabemos<br />

que há muito de inconsciente e de subconsciente num<br />

simples acto que praticamos; julgado apenas movido poç<br />

isto ou por aquilo.<br />

Assim, como os factores não têm uma nítida separação,<br />

não há senão distinções que fazemos com fundamento<br />

in re, como diria um escolástico, isto é, com fundamento<br />

na coisa, mas apenas distinções, que não são separações<br />

reais-físicas sob to<strong>dos</strong> os aspectos, pois a sociedade,<br />

que parece estranha, fora de nós, vive em nós, com muito<br />

maior influência e eficacidade do que se poderia pensar.<br />

O factor económico, por exemplo, não pode ser nitidamente<br />

separado, real-fisicamente, mas apenas apontado,<br />

e distinguido em sua concreção com os outros.<br />

E explicar tudo quanto se dá na sociedade apenas pela<br />

acção decisiva desse factor, seria dar uma explicação<br />

pouco dialéctica, por abstracta. Ora, em cada acto humano,<br />

há sempre o económico ou a sua presença, como<br />

há o biológico, o psicológico e o <strong>social</strong>. A cooperação<br />

das intensidades e extensidades desses factores explicam<br />

os factos históricos, pois do contrário não poderíamos<br />

compreender como um povo, em certas circunstâncias,<br />

actua deste modo, e outro, em circunstâncias semelhantes,<br />

actua diferentemente. Há povos que aceitam desafios,<br />

e povos que não o aceitam. Há povos que reagem,<br />

e outros que não reagem aos ataques estranhos. Há povos<br />

que se deixam vencer pela natureza, e outros que<br />

vencem a natureza. E entre os indivíduos as diferenças<br />

são ainda maiores. Os estu<strong>dos</strong> de Spengler e de Toynbee<br />

sobre a história, que analisamos em nossa "Filosofia<br />

e História da Cultura", nos colocam ante factos, que só<br />

uma visão dialéctica e cooperacional <strong>dos</strong> factores de<br />

emergência e de predisponência, como propomos, pode<br />

explicar.<br />

O PROBLEMA SOCIAL<br />

O estudo mais pormenorizado desses factores, que<br />

ora fazemos apenas em suas linhas gerais, está esparso<br />

em nossas obras, onde os estudamos sob vários aspectos<br />

desde "Lógica e Dialéctica".<br />

Marx viu, nessa época, o que outros, antes dele, já<br />

haviam visto: o homem estava empolgado pelo económico.<br />

Os <strong>problema</strong>s económicos avultavam. Como naturalmente,<br />

a filosofia anterior, dominada pelos abstraccionistas<br />

idealistas, pelo abstraccionismo materialista vulgar,<br />

pelo abstraccionismo racionalista, que eram formas<br />

viciosas, provenientes da concreção escolástica, e como o<br />

económico não era mais salientado pelos filósofos de<br />

então, que até o desprezavam, Marx, espírito rebelde e<br />

em constante oposição, acentuou, tanto quanto podia, como<br />

êle mesmo o confessa, com o intuito de salientar vivamente<br />

o que os outros desconsideravam.<br />

Marx, embora não fosse descobridor do factor económico,<br />

teve um papel inegavelmente positivo e de grande<br />

valor, ao ressaltá-lo, até com exagero, em contraposição ao<br />

abstraccionismo na filosofia que o havia desprezado.<br />

Marx foi um exemplo de sua mesma teoria. Seus<br />

exageros foram por êle vivi<strong>dos</strong> de tal modo que ao visualizar<br />

uma situação histórica, fundado em documentos de<br />

parcial valor, construiu uma cosmovisão totalmente paleotécnica,<br />

e julgou que as soluções sociais seriam, por sua<br />

vez, paleotécnicas. O proletariado seria apenas o herdeiro<br />

do capitalismo. Eram as formas de producção do capitalismo<br />

que geravam o <strong>social</strong>ismo. E de tal modo, que<br />

as relações de producção se tornavam díspares daquelas,<br />

o que dava um conteúdo novo, enquanto permaneciam<br />

formas velhas. A revolução seria inevitável, porque o capitalismo<br />

era obrigado a <strong>social</strong>izar a producção. Marx<br />

olhava apenas o aspecto da ordem das coisas e não queria<br />

ver mais nada.<br />

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