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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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62<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

Mas, nesse <strong>social</strong>ismo eotécnico, os fundamentos do<br />

<strong>social</strong>ismo são invariantes.<br />

A inversão vai dar-se nos marxistas. Estes surgem<br />

em plena paleotécnica, são os <strong>social</strong>istas da grande concentração<br />

capitalista.<br />

O capitalismo toma o rumo das grandes unidades<br />

da centralização constante. O marxismo viu nisso o clímax<br />

do progresso e uma lição da organização <strong>social</strong> futura.<br />

A sociedade tem de ser centralizada, monopólio<br />

de poder, monopólio de producção, monopólio, em suma,<br />

económico, político, e ideológico.<br />

Os factores predisponentes foram aqui importantes.<br />

Mas, assim como os factores histórico-sociais, para se<br />

constituírem, precisam <strong>dos</strong> emergentes, em sua conjunção<br />

e reciprocidade, em cooperação com os ecológicos, o histórico-<strong>social</strong><br />

influiu sobre Marx, de tal modo, que não poderia<br />

ele ter outra visão. Era tudo evidente a seus olhos,<br />

tão cheios do século XIX, sobretudo se se considerar<br />

que a sua insuficiente cultura filosófica não lhe permitia<br />

ver além <strong>dos</strong> factos, nem ter uma visão global justa, por<br />

faltar-lhe uma sólida análise dialéctica.<br />

Por isso, tendeu sempre a acentuar o valor do factor<br />

económico, realmente preponderante e decisivo na época<br />

como é ainda hoje. Realmente, nesse período, a predisponência<br />

económica era decisiva, mas isso correspondia<br />

ao histórico-<strong>social</strong> e ao espírito da época, de domínio utilitário,<br />

sem fé, que acreditava apenas na Ciência e que<br />

precisava resolver os <strong>problema</strong>s económicos, únicos, onde<br />

ainda julgavam ser possível uma salvação para os homens.<br />

Naturalmente que, desde esse momento, a emergência,<br />

numa adequação com a predisponência, dava a concluir,<br />

precipitadamente, que o factor económico fosse<br />

sempre o decisivo. (É verdade que Marx e Engels, em<br />

O PROBLEMA SOCIAL 63<br />

seus últimos anos de vida rejeitaram esse absolutismo.<br />

Mas os epígonos continuam afirmando-o dogmàticamente.<br />

O factor económico é por eles, assim, retirado, abstractamente,<br />

da concreção em que se dá. Em alguns marxistas,<br />

naturalmente os de menor porte, esse factor é único.<br />

Os outros nem são factores...).<br />

Ora, o ser humano, sendo corpo, é sempre biológico<br />

e, consequentemente, fisiológico. Um biologista poderia<br />

querer reduzir, e alguns o fazem, toda a superestrutura<br />

humana à Biologia, como procede o biologismo; um fisiologista<br />

poderia reduzir à Fisiologia, como o fazem os<br />

adeptos do fisiologismo.<br />

Mas o homem é também psiquismo, e um psicólogo<br />

poderia reduzi-lo à Psicologia, e eis o psicologismo. E<br />

como o homem existe na natureza, e é natureza, um físico-<br />

-químico poderia querer explicar totalmente o homem pela<br />

Físico-química, e teríamos o materialismo vulgar. Como<br />

o homem é histórico-<strong>social</strong>, vive em sociedade, e dela<br />

depende para surgir e perdurar, sofrendo dela suas influências,<br />

não faltam as reducções do historicismo, as do<br />

economismo, etc.<br />

Ora, desde os escolásticos, corpo e alma são inseparáveis,<br />

no homem. E também o são a natureza e a sociedade.<br />

O homem é um todo dentro de uma concreção. O<br />

que se chama factores biológicos não têm uma precisão<br />

absoluta, porque, no homem, o bionômico e o anímico<br />

estão fundi<strong>dos</strong>. O que nos aparece, ora aqui, ora ali, é a<br />

predominância deste ou daquele, não se pode, porém negar<br />

a interactuação do biológico e do psíquico, cujas ressonâncias<br />

são mútuas. Podemos não perceber isto ou aquilo,<br />

mas o nosso psiquismo percebe. A psicologia de profundidade<br />

nos mostra que o que pertence ao inconsciente<br />

e ao subconsciente, segundo suas classificações mais<br />

usuais, que são apenas graus de intensidade da vida psíquica,<br />

é muito mais rico do que pensaria a consciência

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