Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
Mas, nesse <strong>social</strong>ismo eotécnico, os fundamentos do<br />
<strong>social</strong>ismo são invariantes.<br />
A inversão vai dar-se nos marxistas. Estes surgem<br />
em plena paleotécnica, são os <strong>social</strong>istas da grande concentração<br />
capitalista.<br />
O capitalismo toma o rumo das grandes unidades<br />
da centralização constante. O marxismo viu nisso o clímax<br />
do progresso e uma lição da organização <strong>social</strong> futura.<br />
A sociedade tem de ser centralizada, monopólio<br />
de poder, monopólio de producção, monopólio, em suma,<br />
económico, político, e ideológico.<br />
Os factores predisponentes foram aqui importantes.<br />
Mas, assim como os factores histórico-sociais, para se<br />
constituírem, precisam <strong>dos</strong> emergentes, em sua conjunção<br />
e reciprocidade, em cooperação com os ecológicos, o histórico-<strong>social</strong><br />
influiu sobre Marx, de tal modo, que não poderia<br />
ele ter outra visão. Era tudo evidente a seus olhos,<br />
tão cheios do século XIX, sobretudo se se considerar<br />
que a sua insuficiente cultura filosófica não lhe permitia<br />
ver além <strong>dos</strong> factos, nem ter uma visão global justa, por<br />
faltar-lhe uma sólida análise dialéctica.<br />
Por isso, tendeu sempre a acentuar o valor do factor<br />
económico, realmente preponderante e decisivo na época<br />
como é ainda hoje. Realmente, nesse período, a predisponência<br />
económica era decisiva, mas isso correspondia<br />
ao histórico-<strong>social</strong> e ao espírito da época, de domínio utilitário,<br />
sem fé, que acreditava apenas na Ciência e que<br />
precisava resolver os <strong>problema</strong>s económicos, únicos, onde<br />
ainda julgavam ser possível uma salvação para os homens.<br />
Naturalmente que, desde esse momento, a emergência,<br />
numa adequação com a predisponência, dava a concluir,<br />
precipitadamente, que o factor económico fosse<br />
sempre o decisivo. (É verdade que Marx e Engels, em<br />
O PROBLEMA SOCIAL 63<br />
seus últimos anos de vida rejeitaram esse absolutismo.<br />
Mas os epígonos continuam afirmando-o dogmàticamente.<br />
O factor económico é por eles, assim, retirado, abstractamente,<br />
da concreção em que se dá. Em alguns marxistas,<br />
naturalmente os de menor porte, esse factor é único.<br />
Os outros nem são factores...).<br />
Ora, o ser humano, sendo corpo, é sempre biológico<br />
e, consequentemente, fisiológico. Um biologista poderia<br />
querer reduzir, e alguns o fazem, toda a superestrutura<br />
humana à Biologia, como procede o biologismo; um fisiologista<br />
poderia reduzir à Fisiologia, como o fazem os<br />
adeptos do fisiologismo.<br />
Mas o homem é também psiquismo, e um psicólogo<br />
poderia reduzi-lo à Psicologia, e eis o psicologismo. E<br />
como o homem existe na natureza, e é natureza, um físico-<br />
-químico poderia querer explicar totalmente o homem pela<br />
Físico-química, e teríamos o materialismo vulgar. Como<br />
o homem é histórico-<strong>social</strong>, vive em sociedade, e dela<br />
depende para surgir e perdurar, sofrendo dela suas influências,<br />
não faltam as reducções do historicismo, as do<br />
economismo, etc.<br />
Ora, desde os escolásticos, corpo e alma são inseparáveis,<br />
no homem. E também o são a natureza e a sociedade.<br />
O homem é um todo dentro de uma concreção. O<br />
que se chama factores biológicos não têm uma precisão<br />
absoluta, porque, no homem, o bionômico e o anímico<br />
estão fundi<strong>dos</strong>. O que nos aparece, ora aqui, ora ali, é a<br />
predominância deste ou daquele, não se pode, porém negar<br />
a interactuação do biológico e do psíquico, cujas ressonâncias<br />
são mútuas. Podemos não perceber isto ou aquilo,<br />
mas o nosso psiquismo percebe. A psicologia de profundidade<br />
nos mostra que o que pertence ao inconsciente<br />
e ao subconsciente, segundo suas classificações mais<br />
usuais, que são apenas graus de intensidade da vida psíquica,<br />
é muito mais rico do que pensaria a consciência