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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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58<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

ce. Pode, com espírito de turista, embriagar-se até com<br />

belezas que o novo regime tenha realizado. Seria ingénuo<br />

acreditar que em quarenta e tantos anos nada se tivesse<br />

feito na Rússia.<br />

O turista não vai às favelas, à miséria <strong>dos</strong> bairros. E<br />

muito menos na Rússia, onde há lugares proibi<strong>dos</strong> em to<strong>dos</strong><br />

os cantos.<br />

Mas to<strong>dos</strong> esses argumentos seriam fracos e desinteressantes,<br />

em face do que o marxismo inevitavelmente<br />

é ab ovo: autoritarismo, absolutismo.<br />

Pode ter a Rússia tudo o que quiser, mas não tem<br />

<strong>social</strong>ismo, nem marcha para o <strong>social</strong>ismo. O <strong>social</strong>ismo<br />

só seria implantado à custa do regime bolchevista, por<br />

meio de uma grande revolução popular, que extirpasse do<br />

país os dirigentes.<br />

O marxismo não é uma doutrina <strong>social</strong>ista consequente.<br />

O <strong>social</strong>ismo implica liberdade, e a liberdade é<br />

uma perfeição que só se torna praticamente real com a<br />

própria prática. A opressão não é escola de liberdade;<br />

esta só pode surgir por oposição àquela.<br />

O ciclo dialéctico da alteridade leva-nos, marxisticamente,<br />

a considerar:<br />

Tese: o <strong>social</strong>ismo romântico, sincero, cheio de brio, e<br />

já genuinamente solidificado por ideais e práticas mais<br />

seguras;<br />

Antítese: o <strong>social</strong>ismo autoritário, prussiano, de Marx,<br />

cuja prática está atestando o que é;<br />

Síntese: será um <strong>social</strong>ismo democrático cooperacipnal,<br />

que realiza, como já o fazem, embora em parte, os<br />

800 milhões de cooperacionistas do mundo.<br />

Estes constroem o que até cr f ão era considerado impossível,<br />

sem a intervenção do Estado, e pela exclusiva<br />

O PROBLEMA SOCIAL 59<br />

acção <strong>dos</strong> próprios trabalhadores, como verificamos em<br />

países como Suécia, Noruega, Islândia, Holanda, Dinamarca,<br />

Suíça, Inglaterra, Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, Canadá e até<br />

entre nós.<br />

Tais afirmativas, naturalmente, levam desde logo a<br />

muitas objecções por parte <strong>dos</strong> marxistas. Com seu tecnicismo<br />

verbal, desejariam demonstrar que tal é impossível.<br />

Mas trinta anos atrás também era impossível. E<br />

nessa época os cooperacionistas eram apenas uns 50 milhões.<br />

Afirmavam os marxistas que a cooperação organizada<br />

pelos trabalhadores e pelas classes populares não<br />

poderia construir, por exemplo, a exploração do petróleo,<br />

estradas de ferro, navegação, grandes indústrias, etc. As<br />

duas dezenas de companhias de petróleo, formadas sobre<br />

bases cooperativas, e de propriedade de trabalhadores,<br />

existentes nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, com sua frota de petroleiros,<br />

etc, as estradas de ferro construídas na Bélgica<br />

e na Suécia, as grandes companhias de navegação sueca<br />

e islandesas, etc, demonstram à saciedade que os marxistas<br />

são teimosamente maus profetas.<br />

São os marxistas os maiores inimigos do cooperacionismo.<br />

Para os líderes, é preciso que as massas populares<br />

não creiam em si mesmas, não confiem em sua força<br />

de organização, não realizem obras que melhorem suas<br />

condições económicas, não aprendam a administrar por<br />

si a si mesmas. Elas precisam confiar na omnisciência<br />

<strong>dos</strong> líderes, <strong>dos</strong> grandes ilumina<strong>dos</strong> da auto-suficiência,<br />

<strong>dos</strong> ideólogos sistemáticos de ciência infusa, que se julgam<br />

senhores do conhecimento e falam em tom dogmático,<br />

como se conhecessem to<strong>dos</strong> os mistérios da natureza<br />

e da vida humana.<br />

* * *<br />

Impõe-se, contudo, sermos justos com os marxistas.<br />

Teoricamente erraram e a prática os desmentiu. Mas,<br />

na verdade, as condições históricas não permitiam nem

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