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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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50<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

Não podemos discutir as bases do materialismo aqui.<br />

Nós o fazemos em outros trabalhos. Mas o que se pode<br />

dizer, e o queremos fazer com justiça, é que Marx não<br />

tomou propriamente uma posição genuinamente materialista,<br />

mas apenas uma posição empirista no referente ao<br />

conhecimento e na gestação da inteligência humana. Esta<br />

é um producto do mundo exterior, isto é, afirma a anterioridade<br />

do ser sobre o conhecer, e nisto o marxismo,<br />

que não o sabe, nada mais afirma que um <strong>dos</strong> pontos que<br />

é património de toda a escolástica.<br />

Para a escolástica, o homem é criatura, e, portanto,<br />

foi criado. E como todo ser criado, é posterior ao que<br />

o cria, ao Ser que o antecede. Ademais, quanto ao conhe<br />

cimento, deveriam os marxistas saber que Aristóteles e<br />

São Tomás aceitavam que "nihil est in intellectu quod non<br />

prius fuerit in sensu" ou seja, "nada há no intelecto que<br />

primeiramente não tenha estado nos senti<strong>dos</strong>", o que é<br />

uma afirmação empirista.<br />

Por escolher uma visão materialista, o marxismo juntou<br />

o seu destino ao destino do materialismo, a mais fraca<br />

posição que se conhece na Filosofia.<br />

Mas, o mais importante é o que gesta aqui um ponto<br />

ético capital. O marxismo, por desvalorizar totalmente<br />

o homem, por reduzir a espécie ao género, (a racionalidade<br />

ã animalidade, e esta, fatalmente, pelo mesmo reductivismo<br />

ao físico-químico), reduz o homem a uma coisa,<br />

e não a uma pessoa. Daí o desrespeito total à pessoa<br />

humana, que o leva a outros desrespeitos. O marxismo<br />

termina por negar valor a tudo quanto o homem elevou<br />

até então. E no seu afã destructivo, julga que, para ser<br />

<strong>social</strong>ista, precisa destruir até as mais caras conquistas<br />

da racionalidade e da afectividade humanas sobre a animlidade.<br />

Dessa forma, combateu a família, combateu a<br />

Moral, combateu a Religião, combateu a Filosofia e, na<br />

O PROBLEMA SOCIAL 51<br />

verdade, não encontrou em que dar coerência ao seu movimento.<br />

Em vez da força dada pela coerência, acabou<br />

por obter uma coerência conquistada pela força. E a falta<br />

de um princípio ético mais profundo ao marxismo, se<br />

pode vivamente interessar aos egressos, aos mórbi<strong>dos</strong>,<br />

aos doentes, aos ressenti<strong>dos</strong>, a to<strong>dos</strong> os que não podem<br />

submeter-se a uma auto-disciplina, nem conhecer certas<br />

victórias por si, não lhe deu a força que julga ter. Na<br />

verdade, o que dá força ao marxismo, fora da Rússia, são<br />

ainda os ideais <strong>social</strong>istas (no fundo genuinamente cristãos),<br />

enquanto nos países domina<strong>dos</strong> pelo seu poder, essa<br />

coesão é obtida pela força policial, como os factos o<br />

comprovam cabalmente.<br />

Vê-se, assim, embora em linhas gerais, que a própria<br />

filosofia marxista contribui para levá-lo à corrupção mais<br />

extrema, a qual não pode ser negada, em face da própria<br />

história do partido bolchevista, que, fundado nas afirmações<br />

de seus sequazes, é o movimento que apresentou<br />

maior número de traidores que qualquer outro na História,<br />

e os bolchevistas mataram mais companheiros do<br />

que inimigos ideológicos.<br />

Submetendo-se ao destino do materialismo, o marxismo<br />

condenou o seu futuro.<br />

E as constantes mudanças de posição, como nos mostra<br />

a história do movimento bolchevista na Rússia, que<br />

depois de combater a família, e propor uma camaradagem<br />

entre os sexos, termina por construir uma tríada para<br />

o povo, como é a actual "Pátria, Família e Estado",<br />

este último substituindo Deus, repetindo ridiculamente o<br />

"Deus, Pátria e Família", provocaram os risos <strong>dos</strong> adversários.<br />

As restrições contra o divórcio e a defesa <strong>dos</strong> bons<br />

costumes atingem hoje, na Rússia, uma ferocidade inaudita.<br />

As contravenções ao código de moral soviética che-

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