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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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46<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

tes, porque provocações de toda espécie fazem-nas os<br />

marxistas nos países capitalistas e não encontram eco,<br />

senão quando há motivos reais suficientes. É admirável<br />

que, sendo os marxistas tão realistas, queiram ocultar<br />

esta verdade, desejando explicar as "desordens" <strong>dos</strong> trabalhadores<br />

revolta<strong>dos</strong>, como meros productos de provocações<br />

estranhas, e não como uma explosão das próprias<br />

massas. Podemos admitir que elas se tenham dado. Mas<br />

se o trabalhador está num regime, que perfeitamente o<br />

ampara, como poderia aceitar tais provocações? Sabe ou<br />

deveria saber o marxista que os factores ideais não ressoam<br />

sem que lhes correspondam factores reais, que favoreçam<br />

tal ressonância.<br />

Os factores ideais, quando não encontram fundamento<br />

nos reais, soam como utopias ou meras palavras que<br />

provocam apenas riso e não explosões, que exigiram tanques<br />

do "exército do povo" para sufocar.<br />

É fácil ver-se assim que a dialéctica marxista os leva<br />

a erros palmares como sempre os levou. O que os mantém<br />

ainda, e não será por muito tempo, são as reminiscências<br />

da velha prédica <strong>social</strong>ista, que predispõem a<br />

muitos trabalhadores a verem, na Rússia, uma realização<br />

do povo trabalhador. Mas, cada dia que passa, a descrença<br />

aumenta aos olhos <strong>dos</strong> mais cultos e conhecedores<br />

<strong>dos</strong> factos que lá se desenrolam. Se há, no entanto, alguns<br />

literatos pedantes, ambiciosos de mando, que são<br />

marxistas, ou alguns egressos da burguesia, que adotam<br />

tal doutrina, se deve tal facto mais ao ressentimento e<br />

à sofisticação do que à sinceridade, embora se possa<br />

admitir, e nós o fazemos, que há entre eles muitos elementos<br />

sinceros e puros, que mereceriam estar em outro<br />

lugar.<br />

Desta forma, a dialéctica marxista actua para corromper<br />

a própria doutrina.<br />

O PROBLEMA SOCIAL 47<br />

O que o marxismo gesta é o que já estava implícito<br />

no marxismo. A sua dialéctica, por abstraccionista e,<br />

portanto, pouco dialéctica, levou a um erro de consequências<br />

terríveis, pois eles não podem continuar aplicando a<br />

brutalidade organizada opressiva, nem podem afrouxá-la.<br />

Uma ou outra os levará à derrota final, imprescriptivelmente,<br />

inevitavelmente.<br />

2) O segundo aspecto contraditório do marxismo<br />

está em sua posição filosófica.<br />

Como vimos em nosso livro citado, tanto Marx, Engels,<br />

Lenine e Stálin, como os outros marxistas, têm uma<br />

visão deformada e primária da Filosofia. Colocam-se na<br />

mesma posição frágil <strong>dos</strong> positivistas e de toda a reacção<br />

anti-metafísica de século XIX.<br />

Para to<strong>dos</strong> eles, tanto de uma côr como de outra, Metafísica<br />

é sinónimo de idealismo, e a Metafísica é apenas<br />

aquela de que Wolff falava, que Kant combateu, etc. O<br />

idealismo alemão cooperou muito para essa visão, e o que<br />

pensavam ser escolástica, era apenas escolasticismo.<br />

Dessa maneira, o século XIX, que foi eminentemente<br />

anti-metafísico, influiu fortemente em todo o movimento<br />

<strong>social</strong>ista, que é predominante e quase totalmente materialista,<br />

julgando que a Metafísica fosse apenas um campo<br />

de meras distinções conceptuais, de jogo de palavras,<br />

ou da construcção de ficções, sem qualquer fundamento<br />

na realidade.<br />

A ignorância palmar que predominou quanto à obra<br />

metafísica de um São Tomás ou de um Duns Scot, levou-<br />

-os a um abandono total das obras do período medieval e<br />

de Renascimento, com prejuízos imensamente grandes<br />

para a filosofia moderna e contemporânea, onde os "colombos<br />

retarda<strong>dos</strong>" proliferam, defendendo ideias melhor<br />

expostas há muitos séculos, e outras já refutadas com antecedência<br />

de séculos.

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