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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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44<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

do de ser virtual da macieira, mas esta não é apenas um<br />

desdobramento daquela, mas exige a incorporação de<br />

inúmeros elementos do mundo exterior, que com ela<br />

cooperam, para que surja a emergência "macieira", que<br />

se actualizará. Deste modo, a semente de maçã contém<br />

em si os factores emergentes, mas exige, necessita e precisa<br />

da cooperação <strong>dos</strong> factores predisponentes, cuja<br />

coordenação permitirá a formação da macieira, que, como<br />

forma, é um composto, não só da semente ou do que continha<br />

a semente de maçã, mas da recíproca actividade<br />

<strong>dos</strong> factores predisponentes que, ao permitir a actualização<br />

de uma fornia corporis (o arbusto, por exemplo), já<br />

facilita a penetração de radículas, etc, o que permitirá<br />

a incorporação de outros elementos do mundo exterior,<br />

e assim sucessivamente, até formar a macieira. Portanto,<br />

a passagem da potência para o acto, que é fundamental<br />

da filosofia aristotélica e da escolástica, se dá dialècticamente,<br />

e em campos muito amplos, e não apenas num<br />

só, como pensaria o marxista ao admitir que, de uma<br />

forma, se desdobra o seu contrário, sem considerar (por<br />

abstrair, portanto) a cooperação de outros factores.<br />

Só um pensamento abstracto, e que seria dialéctico<br />

apenas no nome, poderia levar o marxista a pensar que,<br />

da ditadura do proletariado (outra ficção e utopia, que<br />

a realidade desmentiu, pois o que vimos foi a ditadura de<br />

um grupo, sobre um partido, que a exerceu sobre o Estado<br />

e sobre a população) seria capaz de gestar a liberdade,<br />

que é imprescindível para que surja <strong>social</strong>ismo,<br />

como não o pode deixar de reconhecer, como imprescindível,<br />

quem realmente se considere <strong>social</strong>ista.<br />

Consequentemente, o excesso de ditadura marxista<br />

não gestou nem o deperecimento do Estado, pois processou<br />

o inverso numa acentuação monopolizadora totalitária<br />

de poder, nem o menor resquício de liberdade, que o<br />

perdeu totalmente, a qual nem os próprios dirigentes so-<br />

O PROBLEMA SOCIAL 45<br />

viéticos, que vivem, para usar uma velha e batidíssima figura<br />

de retórica, com a espada de Dámocles a ameaçar-<br />

-lhes a cabeça.<br />

A dialéctica marxista, com a sua visão parcial da<br />

alteridade (o devir), contribuiu, assim, para que, vitoriosos,<br />

realizassem eles uma brutalidade crescente, levando-<br />

-os aos excessos das depurações, à formação da polícia<br />

mais brutal da História, e, enfim, a um total esmagamento<br />

de todas as liberdades.<br />

Consequentemente, o marxismo, em sua aplicação<br />

prática, desmentiu categoricamente tudo quanto numa<br />

construcção abstraccionista e utópica havia construído.<br />

É na prática o inverso do que foi na teoria. Dessa forma,<br />

a sua dialéctica revelou que o marxismo geraria o<br />

seu contrário, o anti-marxismo, não como um desenvolvimento<br />

da própria doutrina, mas como um movimento de<br />

oposição, à semelhança <strong>dos</strong> que acima estudamos. Ninguém<br />

pode negar, e os próprios marxistas intimamente<br />

concordam, que não é possível dar a menor liberdade aos<br />

povos submeti<strong>dos</strong> à ditadura vermelha, pois estes logo<br />

manifestariam o seu anti-marxismo, como vimos nos movimentos<br />

ocorri<strong>dos</strong> na Alemanha Oriental, que não podem,<br />

em absoluto, ser atribuí<strong>dos</strong> à acção de estrangeiros,<br />

como se quis fazer. E a razão é simples. Não é possível<br />

que os factores predisponentes gestem por si mesmos<br />

algo, sem que se dê a cooperação <strong>dos</strong> factores emergentes.<br />

Pode-se ensinar uma língua a um animal, e êle<br />

não a aprenderá, pois nem o papagaio a aprende, embora<br />

repita palavras e frases humanas.<br />

No entanto, a um homem é isso possível. Não basta<br />

predispor, é preciso que a emergência corresponda à possível<br />

reciprocidade <strong>dos</strong> factores.<br />

Não poderiam os trabalhadores alemães e soviéticos<br />

aceitar uma provocação, se não houvesse factores emergen-

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