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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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40 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

ciais, que tiveram, por sua vez, o papel de precipitarem<br />

o romântico e sua forma viciosa, o romanticismo, que, leva<strong>dos</strong><br />

para o campo <strong>social</strong>, geraram aqueles ímpetos rubros<br />

de que a barricada é um verdadeiro símbolo. O <strong>social</strong>ismo<br />

apresentava, assim, um matiz romântico, que<br />

oferecia uma côr irreal ante o espírito positivista da ciência,<br />

o que Marx compreendeu, e foi de uma importância<br />

capital para o destino do <strong>social</strong>ismo.<br />

O <strong>social</strong>ismo não podia ser um movimento em torno<br />

de frases, que, se correspondiam a conteú<strong>dos</strong> psicológicos<br />

reais, pela falta de um método mais sólido, de uma análise<br />

fria, levava a tomadas de posição românticas, fora<br />

da realidade, a esforços inúteis das massas revoltas, a<br />

derrotas facilmente evitáveis, etc. Estructurar a luta<br />

pela emancipação do trabalhador, que se julgava com di :<br />

reito de estructurar uma nova sociedade, deveria tomar<br />

um matiz consentâneo e congruente com a sua época, em<br />

que a Ciência ditava suas normas de acção, e oferecia tan<br />

tos frutos que a tornavam poderosa.<br />

Ademais, a História contava que as classes se sucediam,<br />

e os estu<strong>dos</strong> de hoje nos podem mostrar melhor<br />

ainda, numa sucessão que vinha das classes sacerdotais,<br />

às aristocráticas e, finalmente, às <strong>dos</strong> mercadores, industriais,<br />

fornecedores ou genericamente burguesas, na linguagem<br />

ocidental. O malogro, que se verificava em suas<br />

tentativas de resolver o <strong>problema</strong> humano e o sacrifício<br />

da última e quarta classe, a <strong>dos</strong> servidores, a <strong>dos</strong> trabalhadores<br />

(os sudras da cultura hindu), davam agora o papel<br />

salvador ao proletariado. E o messianismo judaico<br />

de Marx, messianismo que impregna por sua vez toda a<br />

nossa era, e até antes dela, encontrava, no proletariado,<br />

a "última esperança" de uma salvação terrena.<br />

O marxismo não é, portanto, como teoria e prática,<br />

como doutrina e como movimento, uma criação apenas<br />

do espírito de Marx, mas, realmente, uma estructuração<br />

O PROBLEMA SOCIAL 41<br />

que este fêz, fundado em factos, e num conjunto de<br />

coordenadas, que facilitaram a formação da sua realidade.<br />

O movimento <strong>social</strong>ista, dando-se numa época como<br />

a nossa, tinha fatalmente que incorporar as conquistas<br />

do conhecimento humano. Se comete erros de base, funda-se,<br />

no entanto, em certos alicerces sóli<strong>dos</strong>.<br />

O <strong>social</strong>ismo, como possibilidade e realização, é um<br />

precipitado inevitável de nossa época. No entanto, os<br />

males que conhece, advém não de sua necessidade e inevitabilidade<br />

históricas, mas da junção de certos postula<strong>dos</strong><br />

que o tornaram frágil, sob vários aspectos, pois está<br />

corroído <strong>dos</strong> mesmos males, das mesmas formas viciosas<br />

que outros movimentos, e que os levaram a malogros, que<br />

enchem de decepções e de amargura as páginas da Histó<br />

ria.<br />

Os ideais <strong>social</strong>istas encontram, nos exemplos do cristianismo<br />

primitivo e em muitas comunidades religiosas<br />

ortodoxas ou heterodoxas, heréticas ou não, exemplos de<br />

realizações sociais, sob base comunitária, que não eram<br />

desconhecidas <strong>dos</strong> povos ocidentais.<br />

Poder-se-ia fazer um apanhado de frases genuinamente<br />

revolucionárias, ataques enérgicos ao capital, à<br />

propriedade, ao dinheiro, ao Estado, encontradiços na<br />

obra <strong>dos</strong> primeiros padres da Igreja.<br />

A fase civilizada de nossa cultura ocidental, com a<br />

amplificação da indústria, do comércio e das finanças, o<br />

deperecimento moral da nobreza, corroída pelo luxo, a<br />

ascensão das chamadas classes burguesas, a formação <strong>dos</strong><br />

Esta<strong>dos</strong> nacionais, a formação do proletariado, já separado<br />

de suas corporações, em que os mestres se haviam<br />

tornado capitalistas, favorecendo, assim, a formação <strong>dos</strong><br />

sindicatos operários, que surgiram como resposta aos sin-

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