Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
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que já havia sido analisado, estudado com carinho, segurança<br />
e proficiência, passou a apresentar-se como "novidades"<br />
no pensamento filosófico, com todo o primarismo,<br />
com toda a deficiência típica que iria caracterizar, desde<br />
então, o pensamento ocidental, salvo raras excepções, com<br />
grave prejuízo das grandes conquistas do pensamento<br />
humano.<br />
Como consequência da desordem no pensamento que<br />
sobreveio então, após a grande síntese de São Tomás e<br />
as monumentais contribuições de Duns Scot e Suarez, tivemos<br />
o abstraccionismo-racionalista, o abstraccionismo-<br />
-empirista, e o abstraccionismo-idealista a disputarem entre<br />
si as partes de uma Filosofia que já conhecera uma<br />
integração, digna de melhor estudo e genuinamente dialéctica.<br />
Por mais importantes que sejam as lutas travadas na<br />
filosofia escolástica, entre tomistas (epígonos de São Tomás)<br />
e escotistas (epígonos de Duns Scot), etc, essas divergências<br />
em nada afectam o edifício da escolástica, que<br />
é de uma solidez extraordinária. E ademais, somos de<br />
opinião, e em futuros trabalhos nossos o provaremos, que<br />
há uma perfeita identidade dialéctica de vistas entre essas<br />
posições doutrinárias, o que, neste momento, nos é<br />
impossível fazer.<br />
O excesso do racionalismo cartesiano, ao gerar o<br />
abstraccionismo idealista, gerou a crítica de Hume e a<br />
crítica de Kant, cujo valor é inegável, apesar de certas<br />
fraquezas que se encontram nesses autores e, também, no<br />
último, sem desmerecer-lhe o vulto, mas que são decorrentes<br />
de um desconhecimento <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> anteriores.<br />
A filosofia moderna revela um conhecimento que pára em<br />
Aristóteles. Toda filosofia medieval e a escolástica merecem<br />
um sorriso de superioridade (o que não deixa de<br />
ser ridiculamente trágico, quando se estuda a Filosofia<br />
como se deve estudá-la) pelos modernos, cujo conheci-<br />
O PROBLEMA SOCIAL 39<br />
mento se funda, na mor parte das vezes, na obra de Wolff,<br />
ou de alguns manuais de segunda categoria, como se fundava<br />
Kant, o que se pode verificar pelos textos que usava<br />
cm suas aulas (o de Meiern, por exemplo).<br />
Mas Kant, no entanto, ao criticar os excessos do idealismo,<br />
<strong>dos</strong> quais não pôde evitar a si mesmo de neles<br />
cair, tem um papel de inegável valor, pois permitiria a<br />
realização hegeliana, digna de melhores estu<strong>dos</strong> e análises.<br />
Mas o idealismo abstraccionista prosseguiu através<br />
<strong>dos</strong> hegelianos de direita, enquanto os de esquerda seguiram<br />
o rumo do empirológico, como Marx, que nestes se<br />
fundou, para, depois, deles se diferenciar.<br />
Os excessos idealistas, que perduraram em fins do<br />
século XVIII e princípios do século XIX, provocaram a<br />
reacção positivista e a materialista que, fundadas nas<br />
grandes conquistas da Ciência, criaram ante os olhos <strong>dos</strong><br />
estudiosos uma extrema valorização da Ciência, já que se<br />
considerava como filosofia apenas aquelas formas excessivamente<br />
abstraccionistas que se conheciam então.<br />
Como não se pode separar da realidade <strong>social</strong> todas<br />
as coordenadas históricas que a formam, a análise filosófica<br />
que ora fazemos, embora sirva de meio para uma<br />
melhor compreensão do marxismo, sob certos ângulos,<br />
seria insuficiente se não se considerassem os outros factores,<br />
que influíram na sua gestação, como são os factores<br />
económicos, técnicos e os históricos-sociais em suma.<br />
O que já estudamos, em páginas anteriores, nos dá<br />
amplo elemento para compreender que o romantismo, nos<br />
temas sociais, tinha seus fundamentos numa visão idealista<br />
demasiadamente estreita. Se os anseios de liberdade,<br />
que tanto vulto tiveram no decorrer do Renascimento,<br />
nos mostram os factores emergentes, é imprescindível<br />
que se observem os factores predisponentes histórico-so-