19.04.2013 Views

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

38<br />

que já havia sido analisado, estudado com carinho, segurança<br />

e proficiência, passou a apresentar-se como "novidades"<br />

no pensamento filosófico, com todo o primarismo,<br />

com toda a deficiência típica que iria caracterizar, desde<br />

então, o pensamento ocidental, salvo raras excepções, com<br />

grave prejuízo das grandes conquistas do pensamento<br />

humano.<br />

Como consequência da desordem no pensamento que<br />

sobreveio então, após a grande síntese de São Tomás e<br />

as monumentais contribuições de Duns Scot e Suarez, tivemos<br />

o abstraccionismo-racionalista, o abstraccionismo-<br />

-empirista, e o abstraccionismo-idealista a disputarem entre<br />

si as partes de uma Filosofia que já conhecera uma<br />

integração, digna de melhor estudo e genuinamente dialéctica.<br />

Por mais importantes que sejam as lutas travadas na<br />

filosofia escolástica, entre tomistas (epígonos de São Tomás)<br />

e escotistas (epígonos de Duns Scot), etc, essas divergências<br />

em nada afectam o edifício da escolástica, que<br />

é de uma solidez extraordinária. E ademais, somos de<br />

opinião, e em futuros trabalhos nossos o provaremos, que<br />

há uma perfeita identidade dialéctica de vistas entre essas<br />

posições doutrinárias, o que, neste momento, nos é<br />

impossível fazer.<br />

O excesso do racionalismo cartesiano, ao gerar o<br />

abstraccionismo idealista, gerou a crítica de Hume e a<br />

crítica de Kant, cujo valor é inegável, apesar de certas<br />

fraquezas que se encontram nesses autores e, também, no<br />

último, sem desmerecer-lhe o vulto, mas que são decorrentes<br />

de um desconhecimento <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> anteriores.<br />

A filosofia moderna revela um conhecimento que pára em<br />

Aristóteles. Toda filosofia medieval e a escolástica merecem<br />

um sorriso de superioridade (o que não deixa de<br />

ser ridiculamente trágico, quando se estuda a Filosofia<br />

como se deve estudá-la) pelos modernos, cujo conheci-<br />

O PROBLEMA SOCIAL 39<br />

mento se funda, na mor parte das vezes, na obra de Wolff,<br />

ou de alguns manuais de segunda categoria, como se fundava<br />

Kant, o que se pode verificar pelos textos que usava<br />

cm suas aulas (o de Meiern, por exemplo).<br />

Mas Kant, no entanto, ao criticar os excessos do idealismo,<br />

<strong>dos</strong> quais não pôde evitar a si mesmo de neles<br />

cair, tem um papel de inegável valor, pois permitiria a<br />

realização hegeliana, digna de melhores estu<strong>dos</strong> e análises.<br />

Mas o idealismo abstraccionista prosseguiu através<br />

<strong>dos</strong> hegelianos de direita, enquanto os de esquerda seguiram<br />

o rumo do empirológico, como Marx, que nestes se<br />

fundou, para, depois, deles se diferenciar.<br />

Os excessos idealistas, que perduraram em fins do<br />

século XVIII e princípios do século XIX, provocaram a<br />

reacção positivista e a materialista que, fundadas nas<br />

grandes conquistas da Ciência, criaram ante os olhos <strong>dos</strong><br />

estudiosos uma extrema valorização da Ciência, já que se<br />

considerava como filosofia apenas aquelas formas excessivamente<br />

abstraccionistas que se conheciam então.<br />

Como não se pode separar da realidade <strong>social</strong> todas<br />

as coordenadas históricas que a formam, a análise filosófica<br />

que ora fazemos, embora sirva de meio para uma<br />

melhor compreensão do marxismo, sob certos ângulos,<br />

seria insuficiente se não se considerassem os outros factores,<br />

que influíram na sua gestação, como são os factores<br />

económicos, técnicos e os históricos-sociais em suma.<br />

O que já estudamos, em páginas anteriores, nos dá<br />

amplo elemento para compreender que o romantismo, nos<br />

temas sociais, tinha seus fundamentos numa visão idealista<br />

demasiadamente estreita. Se os anseios de liberdade,<br />

que tanto vulto tiveram no decorrer do Renascimento,<br />

nos mostram os factores emergentes, é imprescindível<br />

que se observem os factores predisponentes histórico-so-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!