Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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36 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
ram raízes em certas sociedades secretas que se espalharam<br />
pelo ocidente, e foram influir, de maneira evidente,<br />
nas corporações da Idade Média, em certos movimentos<br />
religiosos, e até na acção da Reforma. Por outro lado,<br />
a invasão árabe no Egito, e a penetração de elementos<br />
pitagóricos no sul da Europa, e sua influência nas sociedades<br />
secretas desse período, são de uma importância<br />
tal, que sentimos não nos ser possível analisar neste livro,<br />
mas que tiveram um papel preponderante na formação<br />
<strong>dos</strong> principais esquemas teóricos do <strong>social</strong>ismo, que<br />
surgiu, balbuciante a princípio, em movimentos esparsos,<br />
como o de Gandes e outros, e actuou sobre as utopias do<br />
Renascimento, auxiliou o movimento da reforma, influiu<br />
na formação da maçonaria, sob seus aspectos ocidentais,<br />
cooperou na formação de muitas sociedades secretas, e estructurou<br />
as bases para a formação mais sólida do <strong>social</strong>ismo,<br />
o que só poderia ser possível, como o foi, pelo<br />
menos nos termos como se apresentou, em fins do século<br />
XVIII, e em princípios e no decorrer do século XIX até<br />
os nossos dias.<br />
Ao período de refluxo da escolástica, sobreveio o de<br />
fluxo, durante a Reforma, graças a acção <strong>dos</strong> portugueses<br />
e espanhóis, cujo papel, na Europa, foi extraordinário,<br />
podendo dizer-se que o século XVI, e o próprio século<br />
XVII são de tal forma influí<strong>dos</strong> por eles, que se pode<br />
chamar a essa época, sobretudo, de genuinamente espanhola.<br />
Mas, esse fluxo da escolástica teve um sucedâneo no<br />
refluxo escolasticista, que provocou a reacção da filosofia<br />
moderna, que se pode considerar, em grande parte, como<br />
surgindo de Descartes.<br />
Este, pelo seu valor e papel na história da filosofia,<br />
apesar de discípulo <strong>dos</strong> jesuítas de la Flèxe, certamente<br />
não conhecera o texto <strong>dos</strong> escolásticos e talvez conhecesse<br />
São Tomás de segunda mão, o que não é de duvidar,<br />
O PROBLEMA SOCIAL 37<br />
ante as afirmativas que faz em suas obras. Descartes<br />
precipita, com o seu método e também com as suas apreciações<br />
filosóficas, um racionalismo abstracto, que é inversão<br />
do racionalismo-empirista de São Tomás, que segue<br />
a linha aristotélica. Matemático, vivendo com intensidade<br />
as abstracções de segundo grau, próprias dessa<br />
disciplina, construiu o racionalismo moderno abstracto,<br />
cujos estragos foram grandes para a Filosofia, e provocou,<br />
como consequência de suas análises, de um lado o<br />
abstraccionismo materialista e de outro o abstraccionismo<br />
idealista.<br />
A obra de Wolff, que pretendia fazer uma síntese da<br />
escolástica, para dela partir para novas investigações,<br />
teve grande influência sobre Leibnitz e o idealismo alemão,<br />
representado por Schelling, Fichte e Hegel.<br />
Este último, cuja análise fizemos em "Lógica e Dialéctica",<br />
afasta-se do pensamento idealista abstracto, e<br />
tenta, e realiza, um idealismo concreto, que preferimos<br />
chamar de real-idealismo, apesar das más interpretações<br />
que sofreu, através do hegelianismo, tanto de direita como<br />
de esquerda, que foram duas maneiras abstractas de<br />
desdobrar o seu pensamento concreto.<br />
Os excessos do idealismo, para o qual tanto contribuiu<br />
Descartes, cujos máximos representantes são Leibnitz,<br />
Wolff, Schelling e Fichte, decorriam do afastamento<br />
da genuína escolástica, que Wolff não conhecera em sua<br />
pureza, e que confundira lamentavelmente até. Basta<br />
que se veja, na obra de Wolff, as confusões que faz quanto<br />
ao pensamento de Suarez, São Tomás e Duns Scot,<br />
ntribuindo-lhes o que é peculiar a um ou outro, e fazendo<br />
uma síntese que em grande parte falsifica a obra desses<br />
r.cnuínos representantes do pensamento escolástico.<br />
E dessa maneira, os "colombos retarda<strong>dos</strong>" da filosofia<br />
surgiram, como ainda surgem em nossos dias. E o