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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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32 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

Pentadialècticamente, o marxismo pode ser colocado<br />

sob os seguintes planos:<br />

Como unidade, temos a doutrina marxista, que por<br />

suas estreitas relações com os movimentos de reivindicação<br />

popular, constitui um facto <strong>social</strong> de determinado<br />

período histórico, o qual nos revela a sua acção, a sua<br />

prática, a sua praxis.<br />

Como totalidade, teoricamente, está incluída no pensamento<br />

<strong>social</strong>ista do século XIX, e como facto actual<br />

pertence à totalidade do período romântico, ante o qual<br />

o marxismo se opõe, filiando-se, deste modo, à reacção<br />

anti-romântica, cujos exageros, naquele período, motivaram,<br />

no <strong>social</strong>ismo, uma dicotomização bem nítida, entre<br />

<strong>social</strong>ismo romântico, condoreiro, profundamente afectivo<br />

e irracional, e as correntes <strong>social</strong>istas intelectualistas, racionalistas-empiristas,<br />

pragmáticas, positivistas, etc, entre<br />

as quais encontramos o marxismo, que, no entanto, se<br />

distingue das outras por peculiaridades que já tivemos<br />

oportunidade de estudar e analisar. Os movimentos libertários,<br />

como os da escola anarquista, quer individualistas,<br />

comunistas, anarquistas, etc, to<strong>dos</strong>, em suas linhas<br />

gerais, foram poderosamente influí<strong>dos</strong> pelo arracionalismo<br />

e pelo patetismo romântico, sem que tal apreciação<br />

deixe de reconhecer o lado positivo e racional que há<br />

nessas doutrinas, cujo estudo analítico não faremos neste<br />

livro.<br />

Como série, teoricamente considerado, o marxismo<br />

se inclui no pensamento <strong>social</strong> desse período, que se conjuga<br />

ao sistema do pensamento ético-<strong>social</strong> do ocidente,<br />

sem negar suas origens mais remotas; como prática e<br />

facto <strong>social</strong>, está imerso na chamada "era industrial",<br />

cuja técnica, formas e relações de producçao têm uma<br />

grande influência não só na gestação dessa doutrina, como<br />

na sua cosmovisão histórica.<br />

O PROBLEMA SOCIAL 33<br />

Como sistema, conforme vimos, teoricamente, inclui-<br />

-se no pensamento ético-filosófico ocidental, e como acção<br />

e prática está imerso em nossa cultura, cujos esquemas<br />

são importantes para compreendê-lo e senti-lo, pois a<br />

vontade de potência, o legítimo mehrwollen do fáustico,<br />

(o querer-mais "nietzscheano"), influiu decisivamente no<br />

papel messiânico emprestado ao proletariado. A vontade<br />

de dominar exteriormente, extrovertidamente do fáustico,<br />

é de vector extensivo, e exteriorizante, ao inverso da<br />

vontade de potência hindu, que se manifesta por uma<br />

forma específica da vontade de dominar introvertida, de<br />

vector intensista e interiorizante.<br />

É uma actividade que se extraverte, enquanto a hindu<br />

é uma actividade que se introverte, pois a simples e primária<br />

apreciação de que o hindu é meramente um nihilista<br />

passivo é uma das muitas maneiras caricaturais de<br />

(intender o "homo religiosus" hindu, cuja actividade se<br />

manifesta por uma marcha continuada e estrénua pelos<br />

caminhos interiores, em busca <strong>dos</strong> mesmos princípios que<br />

o homem fáustico quer descobrir, desvendar através do<br />

domínio das coisas.<br />

Como universo, o marxismo pertence, teoricamente,<br />

;i nossa cultura, como veremos, e como prática à nossa<br />

ora, pois muitos <strong>dos</strong> seus postula<strong>dos</strong> ultrapassam o campo<br />

<strong>dos</strong> esquemas da nossa cultura, e são encontra<strong>dos</strong> no<br />

movimento <strong>social</strong> cristão, mas com analogias e correspondências<br />

noutras culturas e eras.<br />

Feita esta colocação pentadialéctica, a análise correspondente<br />

se impõe. Mas não podemos deixar de considerar<br />

ainda fresca a memória do leitor sobre o que tratamos<br />

nos capítulos anteriores, sobretudo no referente à<br />

Técnica, à História e à Economia, que foi farto de acontecimentos,<br />

que muito nos auxiliam a compreender â<br />

gestação da unidade doutrinária do marxismo.

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