Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
de aíirmar-se pelo Logos, fundando-se no Pathos. Em<br />
suma, o Logos não é a exclusão do Pathos, mas a concreção<br />
deste que lhe dá os fundamentos reais, enquanto<br />
aquele capta os fundamentos (conexões) ideais.<br />
É impossível o retorno e, ademais, seria uma capitulação,<br />
uma demissão da humanidade. A perfectibilidade<br />
da intelectualidade é evidente e representa um lanço<br />
mais elevado no roteiro da evolução cósmica. Ademais,<br />
esta não implica a anulação da outra, mas um estágio<br />
mais elevado, porque permite a captação da realidade<br />
(como nexo das coisas reais), e da idealidade (como nexo<br />
das coisas ideais), e permite a concreção da idealidade<br />
da realidade e a realidade da idealidade, que consistiriam,<br />
pois, no nexo ideal das coisas reais, e no nexo real das<br />
coisas ideais.<br />
A vitória humana só pode caber, agora, à filosofia<br />
concreta, e só ela pode oferecer ao homem um caminho<br />
de superação. São inúteis e fadadas ao erro e ao malogro<br />
todas as tentativas contrárias.<br />
Como há em todas as épocas humanas a presença de<br />
valorizações, tanto de um pólo como de outro, podemos<br />
em nossa época, visualizar, cuida<strong>dos</strong>amente, o que há de<br />
acentuações de um lado e outro, para que encontremos<br />
soluções que nos sejam realmente benéficas.<br />
Sem dúvida, nossa época, devido à grande sementeira<br />
de ideias falsas e prejudiciais, que avassalaram a filosofia<br />
moderna, que perdeu o seu contacto genuinamente<br />
apolíneo, transformando-se apenas num vicioso especular<br />
em torno <strong>dos</strong> dois pólos extremos, podemos desde logo<br />
notar a presença persistente de inúmeras atitudes falsas<br />
e contrárias ao interesse humano e, pervertidoras, acarretando<br />
graves consequências.<br />
Vejamos, primeiramente, alguns exemplos: É muito<br />
rnais fácil pensar incoerentemente que coerentemente.<br />
O PROBLEMA SOCIAL 223<br />
Para a primeira maneira de pensar basta apenas expressar<br />
simpatèticamente o que é sentido. A coerência é<br />
apresentada como algo duvi<strong>dos</strong>o, suspeito, inconveniente.<br />
Manter-se dentro de uma visão concreta de onticidade, de<br />
ontologicidade e de logicidade é mais difícil, que manter-<br />
-se num pensamento vário, contraditório, incongruente.<br />
Inegavelmente, é impossível retornarmos à animalidade,<br />
mas também é difícil alcançarmos a plenitude do<br />
acto humano. Como estamos no meio do caminho, vivemos<br />
a intranquilidade que os dois extremos actualizam<br />
dentro de nós, e nos é fácil compreender as razões de<br />
nossa inquietação, de nossa angústia, de nosso balancear<br />
e também do desespero, que se apossa de mentes mais<br />
fracas e em geral deficitárias.<br />
O homem moderno está, sem dúvida, desafiado. E<br />
esse desafio provocará uma resposta, que será a aceitação<br />
do combate ou a fuga precipitada. Contudo, a fuga<br />
só poderá dar-se por uma demissão da humanidade. Não<br />
há mais recursos dentro de nós para volvermos às cavernas,<br />
às selvas, ao primitivismo. Necessitaríamos destruir<br />
tudo quanto a Técnica, a Ciência e a Filosofia positiva<br />
construíram. Talvez em muitos ímpetos de desagregação<br />
que hoje se manifestam, e até no poder humano de<br />
desintegrar as coisas, esteja um testemunho simbólico de<br />
seu desejo de rompimento de uma unidade, que não apetece.<br />
Mas, há, por sua vez, um desejo de integração, de<br />
superação das meras agregações, um desejo de realizar<br />
uma unidade, que transcenda aos elementos componentes,<br />
um ímpeto para alcançar uma nova tensão superadora,<br />
uma unidade de simplicidade nova.<br />
Mas esse desafio não é só feito ao homem como colectividade,<br />
mas a cada um de nós como indivíduo. E<br />
teremos, quer queiramos ou não, de tomar uma posição.<br />
Será impossível permanecer na indiferença, porque onde<br />
entra a vontade não há indiferenças.