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Mário Ferreira dos Santos - O problema social - iPhi

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222<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

de aíirmar-se pelo Logos, fundando-se no Pathos. Em<br />

suma, o Logos não é a exclusão do Pathos, mas a concreção<br />

deste que lhe dá os fundamentos reais, enquanto<br />

aquele capta os fundamentos (conexões) ideais.<br />

É impossível o retorno e, ademais, seria uma capitulação,<br />

uma demissão da humanidade. A perfectibilidade<br />

da intelectualidade é evidente e representa um lanço<br />

mais elevado no roteiro da evolução cósmica. Ademais,<br />

esta não implica a anulação da outra, mas um estágio<br />

mais elevado, porque permite a captação da realidade<br />

(como nexo das coisas reais), e da idealidade (como nexo<br />

das coisas ideais), e permite a concreção da idealidade<br />

da realidade e a realidade da idealidade, que consistiriam,<br />

pois, no nexo ideal das coisas reais, e no nexo real das<br />

coisas ideais.<br />

A vitória humana só pode caber, agora, à filosofia<br />

concreta, e só ela pode oferecer ao homem um caminho<br />

de superação. São inúteis e fadadas ao erro e ao malogro<br />

todas as tentativas contrárias.<br />

Como há em todas as épocas humanas a presença de<br />

valorizações, tanto de um pólo como de outro, podemos<br />

em nossa época, visualizar, cuida<strong>dos</strong>amente, o que há de<br />

acentuações de um lado e outro, para que encontremos<br />

soluções que nos sejam realmente benéficas.<br />

Sem dúvida, nossa época, devido à grande sementeira<br />

de ideias falsas e prejudiciais, que avassalaram a filosofia<br />

moderna, que perdeu o seu contacto genuinamente<br />

apolíneo, transformando-se apenas num vicioso especular<br />

em torno <strong>dos</strong> dois pólos extremos, podemos desde logo<br />

notar a presença persistente de inúmeras atitudes falsas<br />

e contrárias ao interesse humano e, pervertidoras, acarretando<br />

graves consequências.<br />

Vejamos, primeiramente, alguns exemplos: É muito<br />

rnais fácil pensar incoerentemente que coerentemente.<br />

O PROBLEMA SOCIAL 223<br />

Para a primeira maneira de pensar basta apenas expressar<br />

simpatèticamente o que é sentido. A coerência é<br />

apresentada como algo duvi<strong>dos</strong>o, suspeito, inconveniente.<br />

Manter-se dentro de uma visão concreta de onticidade, de<br />

ontologicidade e de logicidade é mais difícil, que manter-<br />

-se num pensamento vário, contraditório, incongruente.<br />

Inegavelmente, é impossível retornarmos à animalidade,<br />

mas também é difícil alcançarmos a plenitude do<br />

acto humano. Como estamos no meio do caminho, vivemos<br />

a intranquilidade que os dois extremos actualizam<br />

dentro de nós, e nos é fácil compreender as razões de<br />

nossa inquietação, de nossa angústia, de nosso balancear<br />

e também do desespero, que se apossa de mentes mais<br />

fracas e em geral deficitárias.<br />

O homem moderno está, sem dúvida, desafiado. E<br />

esse desafio provocará uma resposta, que será a aceitação<br />

do combate ou a fuga precipitada. Contudo, a fuga<br />

só poderá dar-se por uma demissão da humanidade. Não<br />

há mais recursos dentro de nós para volvermos às cavernas,<br />

às selvas, ao primitivismo. Necessitaríamos destruir<br />

tudo quanto a Técnica, a Ciência e a Filosofia positiva<br />

construíram. Talvez em muitos ímpetos de desagregação<br />

que hoje se manifestam, e até no poder humano de<br />

desintegrar as coisas, esteja um testemunho simbólico de<br />

seu desejo de rompimento de uma unidade, que não apetece.<br />

Mas, há, por sua vez, um desejo de integração, de<br />

superação das meras agregações, um desejo de realizar<br />

uma unidade, que transcenda aos elementos componentes,<br />

um ímpeto para alcançar uma nova tensão superadora,<br />

uma unidade de simplicidade nova.<br />

Mas esse desafio não é só feito ao homem como colectividade,<br />

mas a cada um de nós como indivíduo. E<br />

teremos, quer queiramos ou não, de tomar uma posição.<br />

Será impossível permanecer na indiferença, porque onde<br />

entra a vontade não há indiferenças.

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