Donwload do material completo - Wanny Arantes Bongiovanni Di ...
Donwload do material completo - Wanny Arantes Bongiovanni Di ...
Donwload do material completo - Wanny Arantes Bongiovanni Di ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ANO 5 - NÚMERO 5 - 2006<br />
REVISTA<br />
CIENTÍFICA<br />
FACULDADE BRASÍLIA DE SÃO PAULO<br />
5<br />
ISSN 1677-4612
REVISTA CIENTÍFICA<br />
FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />
ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006
REVISTA CIENTÍFICA FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />
ISSN – 1677-4612<br />
Sumário<br />
• Editorial ..................................................................................5<br />
Selma Ligeiro Rein - Presidente das FAMEC, FAAC e FMI<br />
• Entrevista Especial com o Presidente da Confederação<br />
Brasileira de Beisebol e Softbol em ibiúna ........................6<br />
• ENCONTROS: Educação e Novas Tecnologias –<br />
reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> Grupo montessori<br />
a propósito da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos<br />
Cursos de Graduação ...........................................................7<br />
• Comunicação gera efeitos probalísticos e incertos<br />
Carlos Rossini – FMI .............................................................10<br />
• A natureza na cidade: representações contemporâneas<br />
no merca<strong>do</strong> imobiliário<br />
Carlos Eduar<strong>do</strong> P. Ferreira – FAMEC .....................................14<br />
• Liderança servi<strong>do</strong>ra: Teoria, Conceito ou mais um<br />
modismo?<br />
João Pinheiro de Barros Neto – FAAC/FAMEC .....................19<br />
• reciclagem de alumínio – impactos econômicos e sociais<br />
Márcia Regina Konrad – aluna FAMEC .................................23<br />
• Administração de micro e pequenas empresas: confronto<br />
entre as peculiaridades apresentadas pela literatura<br />
e observadas na prática ao longo da implantação de<br />
programas de melhorias<br />
Rosley Anholon, Jefferson de Souza Pinto – FABRASP .......27<br />
• Aplicação de computação paralela para um<br />
sistema robótico<br />
Ricar<strong>do</strong> Shitsuka – FAMEC, Cao Jikan, Dorlivete M. Shitsuka,<br />
Rabhith I. C. M. Shitsuka, Caleb D. W. M. Shitsuka .............34<br />
• Sistema de atendimento à saúde<br />
Claudinei Rodrigues <strong>do</strong> Carmo, Elias Alves <strong>do</strong>s Santos,<br />
Marcelo Branco, Marisa Irene Emídio, Valdecir Pereira Coelho<br />
– alunos da FAMEC e orientação da prof. Josyane Lannes<br />
Florenzano de Souza ............................................................38<br />
• Sistemas de Gerenciamento de Estacionamento<br />
com reconhecimento Óptico de Placas de Veículo<br />
João Daniel Forstman, Luiz Fernan<strong>do</strong> Mangiopane,<br />
Marcos Antonio da Silva, Paulo César de Oliveira Veras<br />
– alunos da FAMEC ..............................................................42<br />
• Adaptação curricular e educação a distância: os alunos<br />
estão prepara<strong>do</strong>s?<br />
Adriana Paula Borges – FAMEC / FAAC ...............................47<br />
ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006<br />
• o estudante empreende<strong>do</strong>r<br />
Maria de Fátima Abud Olivieri – FAMEC ...............................52<br />
• interação Família e Escola – uma Experiência inova<strong>do</strong>ra<br />
Katsue Hamada e Zenun – FAMEC, Mitsuko Yamnazaki<br />
Marques ................................................................................57<br />
• o professor que sou e quero ser – reflexões a<br />
partir <strong>do</strong>s principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante<br />
o curso de didática<br />
Celina Bragança – aluna FAMEC ..........................................64<br />
• A aprendizagem da leitura e da escrita<br />
Nilza Izaac Macê<strong>do</strong> – FAMEC ...............................................70<br />
• Análise das conclusões <strong>do</strong> livro ´A origem das espécies´<br />
de Charles Darwin<br />
Ricar<strong>do</strong> Roberto Plaza Teixeira – FAAC ................................75<br />
• o audiovisual no Programa de Alfabetização de Jovens<br />
e Adultos da FAmEC com a ALFASoL<br />
Claudemir Edson Viana, Joel Graviolli (aluno e Gestor<br />
<strong>do</strong> Programa ALFASOL da FAMEC) .....................................79<br />
• Jogo chinês TANGrAm na aprendizagem de matemática<br />
no Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da<br />
FAmEC com a ALFASoL<br />
Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça – aluna FAMEC ........................83<br />
• Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos<br />
de Ciências Contábeis: Padrões Nacionais frente aos<br />
desafios impostos pela globalização<br />
Celina de Lima Pizolato – FABRASP, <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong><br />
<strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong> Giorgi ...........................................................86<br />
• A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens na cidade de<br />
São Paulo<br />
Renato Hsie – FABRASP ......................................................93<br />
• o Funk desce o morro, invade o asfalto e convida<br />
o outro para dançar<br />
Ângela Meneguello – FABRASP, Patricia Rodelli Amoroso ...103<br />
• A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total na educação:<br />
uma análise crítica<br />
Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga – FABRASP ...............106
REVISTA CIENTÍFICA FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />
ISSN – 1677-4612<br />
REVISTA CIENTÍFICA DA FAMEC – Resulta da organização e produção<br />
acadêmica das Instituições <strong>do</strong> Ensino Superior:<br />
FAmEC – FACuLDADE DE EDuCAÇÃo E CuLTurA moNTESSori<br />
FAAC – FACuLDADE ASSoCiADA DE CoTiA<br />
Fmi – FACuLDADE moNTESSori DE iBiÚNA<br />
FABrASP – FACuLDADE BrASÍLiA DE SÃo PAuLo<br />
Presidente FAmEC, FAAC e Fmi<br />
Selma Ligeiro Rein<br />
Presidente FABrASP<br />
Profa. Yako Kuba Sakamoto<br />
Vice-Presidente FAmEC, FAAC e Fmi<br />
Michelle Ligeiro Rein<br />
<strong>Di</strong>retores Acadêmicos<br />
FAMEC – Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />
FAAC – Prof. Adailton Costa Rodrigues<br />
FMI – James Prestes<br />
FABRASP – Profa. Dra. Hilda Maria C. Barroso Braga<br />
<strong>Di</strong>retor de Planejamento e marketing FAmEC, FAAC e Fmi<br />
Adalberto Borges de Oliveira Júnior<br />
Conselho Editorial<br />
Profa. Doutoranda Adriana Paula Borges<br />
Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />
Prof. Ms. Manoel Edson de Oliveira<br />
Profa. Ms. Márcia Moreira de Carvalho<br />
Prof. Ms. Marino Alves de Faria Filho<br />
Prof. Ms. Cláudio José de Andrade<br />
Prof. Ms. Marcos Senna<br />
Prof. Dr. Willian Aurélio Nogueira<br />
Prof. Dr. Valdir Luiz Lopes<br />
Prof. Ms. Ricar<strong>do</strong> Zani<br />
Consultores<br />
Profa. Dra. Hilda Maria C. Barroso Braga<br />
Profa. Doutoranda Márcia Giuzi Mareuse<br />
Profa. Doutoranda Ubiracy Cintra<br />
Prof. Dr. Valdevino Rodrigues <strong>do</strong>s Santos<br />
Coordenação Editorial<br />
Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />
Projeto Gráfico e <strong>Di</strong>agramação interna<br />
Andréa Bacellar<br />
revisão<br />
Prof. Dr. Valdir Luiz Lopes<br />
Tiragem<br />
Em PDF disponível nos sites da Instituições organiza<strong>do</strong>ras, e em CD-ROM.<br />
ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006
REVISTA CIENTÍFICA FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />
ISSN – 1677-4612<br />
E<strong>Di</strong>ToriAL<br />
Este é o quinto ano consecutivo que esta revista cientifica<br />
concretiza-se, viabilizan<strong>do</strong> a produção e divulgação <strong>do</strong>s trabalhos<br />
de <strong>do</strong>centes e discentes das Faculdades que organizam esta<br />
publicação: FAMEC, FAAC, FMI e FABRASP (Faculdade de<br />
Educação e Cultura Montessori, Faculdade Associada de Cotia,<br />
Faculdade Montessori de Ibiúna e Faculdade Brasília de São<br />
Paulo), e de autores convida<strong>do</strong>s.<br />
A revista continua prezan<strong>do</strong> por uma de suas principais<br />
características: participação de alunos como autores ou coautores,<br />
sen<strong>do</strong> na maioria das vezes como um <strong>do</strong>s produtos de<br />
um trabalho maior, parte de projetos e atividades decorrentes<br />
<strong>do</strong>s cursos de graduação. Por isso, é uma grande satisfação ter<br />
neste número da Revista um crescimento significativo no número<br />
e na qualidade <strong>do</strong>s trabalhos apresenta<strong>do</strong>s pelos alunos, sen<strong>do</strong><br />
que os aprova<strong>do</strong>s para participarem nesta edição foram seis.<br />
Também é preocupação da equipe organiza<strong>do</strong>ra desta<br />
Revista Científica que ela seja facilmente acessada pelo público<br />
em geral. Isto já aconteceu com os números 04 (2005) e 03<br />
(2004) que, desde maio de 2006 foram disponibilizadas em PDF<br />
no site da Faculdade Montessori (www.montessorinet.com.br/<br />
bibliotecadigital), com acesso livre para qualquer pessoa, e não<br />
só os integrantes da comunidade acadêmicas das Instituições<br />
de Ensino envolvidas. Isto porque uma das razões para tanto<br />
trabalho até chegar neste resulta<strong>do</strong>, a Revista Científica no. 5, é<br />
a de promover a divulgação <strong>do</strong> conhecimento.<br />
Então, a partir deste número, a revista será editada apenas<br />
em suporte digital, CD-ROM e nos sites das Instituições<br />
promotoras. Mas, certamente, as transformações neste veículo<br />
de divulgação científica virão nos próximos números, se levarmos<br />
em consideração esta opção pela hipermídia.<br />
Algumas características <strong>do</strong> estilo Editorial deste revista<br />
vêm se manten<strong>do</strong>. Um exemplo é a já tradicional abertura <strong>do</strong>s<br />
trabalhos com um convida<strong>do</strong> especial sen<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> porque<br />
tem uma atuação em uma Instituição que se torna modelo para<br />
a sociedade brasileira. Neste ano, é entrevista<strong>do</strong> o Presidente da<br />
Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol em Ibiúna, o Sr.<br />
Jorge Otsuka, que nos conta um pouco sobre como a empresa<br />
Yakult apóia esta iniciativa.<br />
Ainda guardan<strong>do</strong> uma prática existente nesta Revista<br />
Científica é a seção Encontros, cujo objetivo é resgatar o conteú<strong>do</strong><br />
e a reflexão resultantes de um encontro entre professores<br />
<strong>do</strong> Grupo Montessori, como foi o que ocorreu com a Plenária<br />
sobre Educação e Novas Tecnologias durante o planejamento<br />
pedagógico de fevereiro de 2006 e, que aqui, transforma-se num<br />
texto organiza<strong>do</strong> pelo <strong>Di</strong>retor Acadêmico da FAMEC, Claudemir<br />
Edson Viana.<br />
Apesar da Revista não ter um tema central, permitin<strong>do</strong><br />
a diversidade verificada nos temas trata<strong>do</strong>s na revista<br />
neste número 5, a organização em blocos temáticos surgiu<br />
naturalmente conforme tínhamos os resulta<strong>do</strong>s de aprovação<br />
ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006<br />
<strong>do</strong>s artigos inscritos. Assim, os próximos cinco artigos são das<br />
áreas de Administração de Empresas e de Comunicação Social:<br />
Comunicação gera efeitos probalísticos e incerto, A natureza<br />
na cidade de São Paulo: representações contemporâneas,<br />
Liderança servi<strong>do</strong>ra: Teoria, Conceito ou mais um modismo?,<br />
reciclagem de alumínio – impactos econômicos e sociais,<br />
Administração de micro e pequenas empresas: confronto<br />
entre as peculiaridades apresentadas pela literatura e<br />
observadas na prática ao longo da implantação de programas<br />
de melhorias.<br />
Um segun<strong>do</strong> bloco surgiu com o tema Tecnologias da<br />
Informação graças aos trabalhos aprova<strong>do</strong>s provenientes de<br />
experiências promovidas pelo curso de Sistemas de Informação<br />
da FAMEC, com artigos que tratam de sistemas aplica<strong>do</strong>s<br />
a situações <strong>do</strong> cotidiano, até a reflexão sobre os alunos na<br />
modalidade a distância: Aplicação de algoritmo de Computação<br />
paralela para simulação de um sistema robótico; Sistemas<br />
de atendimento à saúde; Sistemas de Gerenciamento de<br />
Estacionamento com reconhecimento Òptico de Placas de<br />
Veículo; Adaptação curricular e educação a distância: os<br />
alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />
No terceiro bloco de artigos, a educação é o eixo temático<br />
comum nos trabalhos aprova<strong>do</strong>s e que, por isso, formam esta<br />
seção da Revista. Mais especificamente, tratam de analisar<br />
programas políticos e sistemas da Alfabetização, e também<br />
de práticas pedagógicas e o perfil <strong>do</strong> aluno empreende<strong>do</strong>r: o<br />
estudante empreende<strong>do</strong>r; Programa de interação Família<br />
e Escola – Política Pública inova<strong>do</strong>ra; o professor que sou<br />
e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s principais elementos<br />
aborda<strong>do</strong>s durante o curso de didática; A aprendizagem<br />
da leitura e da escrita; Análise das conclusões <strong>do</strong> livro ´A<br />
origem das espécies´ de Charles Darwin; o audiovisual no<br />
Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da FAmEC<br />
com a ALFASoL; Jogo chinês TANGrAm na aprendizagem<br />
de matemática no Programa de Alfabetização de Jovens e<br />
Adultos da FAmEC com a ALFASoL<br />
E, por fim, um quarto bloco de artigos surgiu a partir da<br />
temática e da abordagem apresentadas por eles. Reflexões<br />
sobre a Educação Superior e a qualidade nos cursos de<br />
graduação são temas de alguns artigos, e também a cultura na<br />
sociedade metropolitana e suas implicações na vida de to<strong>do</strong>s:<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de<br />
Ciências Contábeis: Padrões Nacionais frente aos desafios<br />
impostos pela globalização; A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s<br />
jovens na cidade de São Paulo; o Funk desce o morro, invade<br />
o asfalto e convida o outro para dançar; A influencia <strong>do</strong><br />
ideário da qualidade total na educação: uma análise crítica.<br />
Boa leitura<br />
Selma Ligeiro rein<br />
5
Entrevista Especial com o Presidente da Confederação<br />
Brasileira de Beisebol e Softbol em Ibiúna.<br />
Como em todas as edições desta Revista Científica, na seção de Entrevista Especial procura-se trazer a público as ações<br />
de uma Instituição cujas intervenções na sociedade brasileira promovam o desenvolvimento cultural, educativo ou social.<br />
Neste número, como convidada especial, temos a Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol, situada em Ibiúna,<br />
São Paulo, cujo presidente, Sr. Jorge Otsuka é o entrevista<strong>do</strong>:<br />
1) Sr. otsuka, faça um breve relato da história da<br />
Confederação / CT Yakult:<br />
A CBBS (Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol), foi<br />
fundada em 3 de fevereiro de 1990, com o intuito de dar unidade<br />
ao beisebol brasileiro. Porém outros objetivos também faziam<br />
parte da estratégia, como: fazer com que o esporte se torne<br />
conheci<strong>do</strong> no Brasil (divulgan<strong>do</strong> e massifican<strong>do</strong>), elevar o nível<br />
técnico <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res e conseguir uma vaga nas Olimpíadas.<br />
Para tanto, intensificou-se a preparação <strong>do</strong>s atletas, e desde<br />
então a entidade vem trazen<strong>do</strong> técnicos japoneses e cubanos<br />
para ministrarem clínicas para técnicos e joga<strong>do</strong>res brasileiros.<br />
Já o CT Yakult foi funda<strong>do</strong> em 1997 e foi fruto da parceria entre<br />
a CBBS e a multinacional japonesa Yakult. É o mais <strong>completo</strong> e<br />
moderno complexo de beisebol <strong>do</strong> Brasil, com 3 campos oficiais,<br />
salas de musculação e treinamentos específicos (arremesso e<br />
rebatidas), refeitório e apartamentos. Recebe as mais importantes<br />
competições <strong>do</strong> calendário nacional <strong>do</strong> beisebol e softbol e<br />
mantém uma academia de beisebol com mais de 40 atletas.<br />
Simboliza o desenvolvimento que o beisebol e softbol brasileiros<br />
tiveram nos últimos anos.<br />
2) Qual a importância da CBBS para a comunidade de<br />
ibiúna?<br />
Através da figura <strong>do</strong> CT Yakult, a CBBS tem si<strong>do</strong> uma grande<br />
parceira para a comunidade de Ibiúna, oferecen<strong>do</strong> uma estrutura<br />
esportiva de altíssimo padrão à comunidade (através <strong>do</strong> projeto<br />
Beisebol Solidário, no qual crianças de escolas públicas aprendem<br />
a jogar beisebol e recebem toda assistência) e também um “up”<br />
ao cenário turístico da cidade, atrain<strong>do</strong> pessoas de todas as<br />
partes <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que vão à Ibiúna para conhecer<br />
o CT e acabam desfrutan<strong>do</strong> da infra-estrutura da cidade, como<br />
hotéis, comércio, transporte e outros.<br />
Yakult em Ibiúna<br />
3) Qual a perspectiva <strong>do</strong> esporte para os próximos anos?<br />
O beisebol buscará dar continuidade ao seu trabalho de<br />
massificação, buscan<strong>do</strong> novos atletas em Esta<strong>do</strong>s diferentes,<br />
apoian<strong>do</strong> projetos sociais e trabalhan<strong>do</strong> para conseguir espaço<br />
na mídia. Também manterá o intercâmbio, no qual sempre tem<br />
busca<strong>do</strong> atletas e técnicos estrangeiros para ministrar clínicas no<br />
Brasil. E continuará honran<strong>do</strong> o país nas inúmeras competições<br />
internacionais nas quais já participa há anos, buscan<strong>do</strong> a tão<br />
sonhada medalha nos Jogos Panamericanos de 2007, no Rio de<br />
Janeiro.<br />
4) Como está estruturada a CBBS?<br />
Jorge Otsuka - Presidente<br />
Olívio Sawasato - Vice-presidente e <strong>Di</strong>retor de Softbol<br />
Carlos Tetuo Sugimoto - <strong>Di</strong>retor de Beisebol<br />
Alexandre Nita - Secretário-executivo<br />
Eric Akita - Assessor de Imprensa<br />
Sr. Jorge Otsuka<br />
E inúmeros diretores-técnicos espalha<strong>do</strong>s pelos Esta<strong>do</strong>s de<br />
São Paulo, Paraná, Mato Grosso <strong>do</strong> Sul e Pará.<br />
5) Como as pessoas interessadas podem praticar o<br />
esporte?<br />
Hoje o beisebol brasileiro possui inúmeros lugares para prática<br />
nos mais diversos Esta<strong>do</strong>s no país, concentran<strong>do</strong> mais na região<br />
Sudeste. Caso alguém esteja interessa<strong>do</strong> em praticar o esporte,<br />
pedimos que entre em contato conosco, da Confederação,<br />
através <strong>do</strong> e-mail secretaria@cbbs.com.br, e também busque<br />
informações em nosso site www.cbbs.com.br.<br />
6
Encontros no Montessori: Educação e novas tecnologias –<br />
Reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> Grupo Montessori a propósito<br />
da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos Cursos de Graduação.<br />
No ano de 2006, o Grupo Montessori (FAMEC – Faculdade<br />
de Educação e Cultura Montessori, FAAC – Faculdade Associada<br />
de Cotia, FMI – Faculdade Montessori de Ibiúna) deu um passo<br />
decisivo e significativo em direção ao uso das tecnologias digitais<br />
nos processos de Ensino e Aprendizagem nos seus cursos<br />
de Graduação. A a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> Portal Virtual Universitário como<br />
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) se deu sob diretrizes<br />
político-pedagógicas que visam promover a inclusão <strong>do</strong>s alunos<br />
na cibercultura como parte <strong>do</strong> processo de formação cultural e<br />
profissional, e, assim, garantir aos alunos maiores oportunidades<br />
de trabalho e de vida; também procuram promover entre os<br />
<strong>do</strong>centes um processo de otimização <strong>do</strong> seu trabalho e a<br />
exploração <strong>do</strong>s recursos disponibiliza<strong>do</strong>s por esta tecnologia<br />
para a ampliar a qualidade em suas aulas.<br />
Tomada a decisão, seria necessário um perío<strong>do</strong> inicial de<br />
experimentação, reflexão, crítica e avaliação sobre os pontos<br />
positivos e as dificuldades encontra<strong>do</strong>s no uso <strong>do</strong> Portal Virtual<br />
no processo de ensino e de aprendizagem promovi<strong>do</strong>s pelos<br />
cursos de graduação. É importante destacar que o modelo de<br />
uso <strong>do</strong> Portal a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo Grupo Montessori foi o mais amplo<br />
e complexo, pois que todas as disciplinas de to<strong>do</strong>s os cursos<br />
passaram a ter no Portal o seu espaço virtual a ser ‘alimenta<strong>do</strong>’<br />
pelos <strong>do</strong>centes responsáveis das disciplinas e pelos seus alunos.<br />
Isto porque se entende que a incorporação da tecnologia digital<br />
no ensino presencial de nível superior deva ocorrer de mo<strong>do</strong> a<br />
atingir a to<strong>do</strong>s, disciplinas, <strong>do</strong>centes e alunos, para promover<br />
a educação para e pela mídia, neste caso a multimídia digital, e<br />
não restringi-las a determina<strong>do</strong>s cursos, disciplinas, profissionais<br />
ou alunos.<br />
Sem dúvida que o caminho seria mais trabalhoso para to<strong>do</strong>s.<br />
Entretanto, o desafio foi encara<strong>do</strong> também pelos <strong>do</strong>centes<br />
que, como parte das Atividades de Capacitação Continuada<br />
e de Planejamento, promoveram encontros presenciais para<br />
esclarecer dúvidas e iniciar o debate sobre a utilização <strong>do</strong> Portal<br />
Virtual como apoio às aulas presenciais.<br />
A seguir, reproduzimos um trecho <strong>do</strong> debate entre <strong>do</strong>centes<br />
<strong>do</strong> Grupo Montessori sobre o tema, numa das reuniões de<br />
trabalho de Planejamento de 2006. Depois, quan<strong>do</strong> o debate<br />
transformou-se no texto síntese abaixo reproduzi<strong>do</strong>, o mesmo foi<br />
utiliza<strong>do</strong> para promover um FÓRUM no Portal entre <strong>do</strong>centes da<br />
FAMEC. Algumas contribuições de <strong>do</strong>centes deixadas no referi<strong>do</strong><br />
fórum foram reproduzidas na segunda parte deste trabalho.<br />
Este é um exemplo da construção coletiva de <strong>do</strong>centes,<br />
discentes, funcionários, enfim, de toda comunidade acadêmica,<br />
de um saber muito especial, pois que se trata de saber<br />
tecnológico a serviço da valorização humana! Para isso, é preciso<br />
sabermos nos apropriar e utilizar positivamente os serviços e<br />
recursos disponibiliza<strong>do</strong>s pela tecnologia digital, a exemplo <strong>do</strong><br />
Portal Virtual como apoio às práticas pedagógicas presenciais<br />
de <strong>do</strong>centes e no processo de aprendizagem entre alunos <strong>do</strong><br />
Ensino Superior.<br />
organiza<strong>do</strong>r: Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />
Debate Presencial - Texto síntese <strong>do</strong> debate ocorri<strong>do</strong> na<br />
Plenária<br />
No ano de 2006, as Instituições <strong>do</strong> Grupo Montessori (FAMEC/<br />
FAAC/FMI) implementam o uso de um Portal Virtual como novo<br />
espaço de mediação <strong>do</strong> ensino e da aprendizagem. Em razão<br />
disto, a presente plenária objetiva promover o debate e a reflexão<br />
entre os <strong>do</strong>centes sobre aspectos que envolvem a utilização<br />
desta tecnologia na educação. Após a introdução com a exibição<br />
<strong>do</strong>s sete primeiros minutos <strong>do</strong> filme 2001 – Uma Odisséia no<br />
Espaço para estimular o debate, as principais reflexões são<br />
apresentadas a seguir:<br />
1- O termo Portal privilegia o caráter tecnológico, porém o<br />
conceito mais apropria<strong>do</strong> é o de AMBIENTE DE APRENDIZAGEM<br />
por enfatizar o processo educativo viabilizada por esta<br />
tecnologia, e o fato de a aplicação <strong>do</strong> recurso estar a serviço <strong>do</strong>s<br />
processos de aprendizagem. Portanto, trata-se de um processo<br />
de convivência, e não de concorrência, da tecnologia com<br />
méto<strong>do</strong>s tradicionais de ensino-aprendizagem. Neste senti<strong>do</strong>, o<br />
desafio está em adequar a prática pedagógica à inserção desta<br />
tecnologia como complemento às ações de sala de aula e,<br />
2- Como o <strong>do</strong>cente deve lidar com a situação, onde o aluno<br />
demonstra <strong>do</strong>minar mais esta tecnologia que ele(a)? Certamente<br />
que não seria dissimular tal diferença de conhecimentos em<br />
relação ao <strong>do</strong> aluno pois isto favoreceria o descrédito deste para<br />
com o <strong>do</strong>cente e sua prática. A melhor atitude <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente seria<br />
o de ‘aprender’ com o aluno, permitin<strong>do</strong> assim a mão-dupla que<br />
caracteriza a relação professor-aluno, de mo<strong>do</strong> a aprender com<br />
o aluno sobre aquilo que o <strong>do</strong>cente desconhece. Esta atitude<br />
<strong>do</strong> <strong>do</strong>cente reforçará o comprometimento <strong>do</strong> aluna<strong>do</strong> com o<br />
processo, bem como o crescimento de ambos na utilização <strong>do</strong><br />
recurso tecnológico;<br />
3- Não se deve temer a tecnologia digital como ambiente de<br />
aprendizagem e sim ter uma atitude de incorporação da mesma<br />
sem perder a perspectiva crítica. Também é preciso perceber<br />
que a utilização desta tecnologia não substitui o papel <strong>do</strong><br />
professor como media<strong>do</strong>r <strong>do</strong> processo de aprendizagem. Muito<br />
pelo contrário, vem requerer <strong>do</strong> professor maior importância no<br />
processo de aprendizagem na medida em que são favoreci<strong>do</strong>s<br />
diferentes meto<strong>do</strong>logias de ensino e diferentes materiais<br />
didáticos, ou seja, além <strong>do</strong>s tradicionais suportes da informação<br />
como livros, apostilas, lousa etc, também fazer utilização de<br />
suporte digital. Isto significa também a utilização de linguagens<br />
contemporâneas no processo de ensino-aprendizagem, e esta<br />
consciência favorece a apropriação da tecnologia em prol<br />
<strong>do</strong> processo humano presente na relação professor-aluno; a<br />
utilização adequada desta tecnologia permitirá o enriquecimento<br />
e a otimização <strong>do</strong>s trabalhos de trocas entre os atores envolvi<strong>do</strong>s.<br />
Com isso, o aspecto humano prevalecerá sobre a tecnologia;<br />
4- Embora a tecnologia digital <strong>do</strong>s ambientes de aprendizagem<br />
favoreça a relação individual professor-aluno, é preciso explorar o<br />
trabalho coletivo <strong>do</strong>s alunos. Isso é possível graças a tecnologia<br />
que viabiliza recursos como o fórum, chats, dentre outras práticas<br />
via Internet. O processo de interação entre indivíduos possibilita<br />
o contato com pontos de vistas diferentes, conhecer e refletir<br />
sobre diversos questionamentos, refletir sobre seu próprio pensar,<br />
7
ampliar com autonomia sua tomada de consciência para buscar<br />
novos rumos, estan<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong>s a comunicação, a colaboração<br />
e a cooperação. Especificamente falan<strong>do</strong> da interação social<br />
em rede de computa<strong>do</strong>res essa interação pode ser diferenciada<br />
quanto à temporalidade e quanto ao direcionamento e número de<br />
interlocutores.<br />
Um fator importante a ser destaca<strong>do</strong> relaciona-se à<br />
percepção no processo interação-colaboração-cooperação. A<br />
percepção é a aquisição de conhecimento por meio <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />
sobre acontecimentos e ações mesmo sem se comunicar<br />
diretamente com elas, como é possível em ambientes virtuais<br />
de aprendizagem. A percepção torna-se um fator fundamental<br />
na comunicação, coordenação e cooperação de um grupo de<br />
trabalho, porém em ambientes virtuais isso pode se tornar um<br />
obstáculo 1 .<br />
Os ambientes virtuais de trabalho e de aprendizagem<br />
colaborativos, através da interconexão de máquinas fornecidas<br />
pelas redes de computa<strong>do</strong>res e pela Internet, visam facilitar as<br />
atividades em grupo. Portanto, estes ambientes devem prover<br />
elementos de percepção de forma a permitir a coordenação em<br />
tarefas cooperativas, principalmente onde a comunicação direta<br />
não ocorre, evitan<strong>do</strong>-se assim que a percepção se torne um<br />
obstáculo. Além disso, devem prover elementos de percepção<br />
para que indivíduos possam interpretar eventos, prever possíveis<br />
necessidades e transmitir informações de maneira organizada.<br />
Perceber as atividades <strong>do</strong>s outros indivíduos é essencial para o<br />
fluxo e naturalidade <strong>do</strong> trabalho e para diminuir as sensações de<br />
impessoalidade e distância, comuns nos ambientes virtuais.<br />
A percepção dentro de um ambiente envolve vários aspectos<br />
cognitivos relativos à habilidade humana. Enquanto a interação<br />
entre pessoas e ambiente dentro de uma situação face-a-face<br />
parece natural, visto que senti<strong>do</strong>s como visão e audição estão<br />
disponíveis em sua plenitude, a situação fica menos clara quan<strong>do</strong><br />
há a tentativa de fornecer suporte à percepção em ambientes<br />
virtuais (Assis, 2000). Estes ambientes tendem a esconder<br />
diversas informações, que estão disponíveis num encontro facea-face.<br />
Ten<strong>do</strong> como base essas informações é possível afirmar<br />
que o ideal é que existam momentos presenciais antes da<br />
colaboração em ambientes virtuais de aprendizagem para que a<br />
percepção possa se manifestar através das mensagens trocadas<br />
em meios eletrônicos.<br />
5- A interação humana com a tecnologia digital se dá de<br />
diferentes formas a depender das pessoas, <strong>do</strong> convívio e <strong>do</strong>mínio<br />
que possuem, e, principalmente, da diferença entre as gerações,<br />
pois que é notável a facilidade que os mais jovens têm em utilizar<br />
os recursos desta tecnologia, e isto é percebi<strong>do</strong> também nos<br />
processos cognitivos. Embora esta diferença seja ‘natural’,<br />
impõe-se aos mais velhos um processo de aprendizagem que<br />
se refletirá em suas práticas profissionais. No caso <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente,<br />
tal prática implica em adequações nas práticas pedagógicas<br />
em favor <strong>do</strong>s valores a serem trabalha<strong>do</strong>s por aquele entre seus<br />
alunos, como indica Edigar Morin 2 ;<br />
6- Questionamentos são parte <strong>do</strong> processo de incorporação<br />
da tecnologia digital sobre o processo de ensino-aprendizagem.<br />
O <strong>do</strong>cente se pergunta sobre como será a ‘aula virtual’, imagina<br />
uma limitação de suas práticas pedagógicas, atribui previamente<br />
os adjetivos de tênua, fria, distante à relação professor-aluno<br />
quan<strong>do</strong> ela se dá por meio da tecnologia digital e à distância.<br />
E pior, já imagina uma certa confusão a administrar em sala de<br />
aula quan<strong>do</strong> se pergunta sobre os alunos que não têm acesso à<br />
Internet e um computa<strong>do</strong>r: o que fazer? Como fazer ?, atribuin<strong>do</strong><br />
a este contexto o motivo por não embrenhar-se neste universo.<br />
São atitudes, até certo limite, humanamente aceitáveis, pois que<br />
temer o novo faz parte da adrenalina de enfrentá-lo; entretanto,<br />
Encontros no Montessori: Educação e novas tecnologias – Reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong><br />
Grupo Montessori a propósito da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos Cursos de Graduação.<br />
sabemos <strong>do</strong>s que têm me<strong>do</strong> da adrenalina, ou não se sentem<br />
capazes.<br />
7- Das participações <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes presentes, pode-se<br />
apresentar algumas sugestões, tais como:<br />
“o que tem no virtual, tem que ter na aula presencial”;<br />
“respeitar as diversidades de disciplinas e conteú<strong>do</strong>s”;<br />
“o professor não perde espaço, é mais um meio de<br />
aprendizagem”;<br />
“a essência está nas trocas...”;<br />
“disponibilização da produção cognitiva <strong>do</strong> grupo,<br />
reestruturação de resignificações sobre a realidade...”.<br />
E alguém pergunta, afinal: “e os livros? Como ficam os<br />
originais?...”.<br />
8- Precisamos formar o professor não só para usar as<br />
novas tecnologias como instrumental técnico, mas também<br />
como recursos pedagógicos, ou seja, precisamos capacitar o<br />
educa<strong>do</strong>r para que ele se torne media<strong>do</strong>r e utilize as ferramentas<br />
<strong>do</strong> Ambiente Virtual de Aprendizagem para oferecer acesso ao<br />
conteú<strong>do</strong> sistematiza<strong>do</strong>, ajudan<strong>do</strong> o educan<strong>do</strong> através dessas<br />
novas ferramentas a desenvolver o seu cognitivo.<br />
9- Durante a nossa experiência de <strong>do</strong>centes que utilizam a<br />
tecnologia digital, podemos desenvolver méto<strong>do</strong>s de ensinoaprendizagem<br />
que orientam os educa<strong>do</strong>res nas suas práticas<br />
pedagógicas. Sen<strong>do</strong> assim, também seremos produtores e<br />
cria<strong>do</strong>res de conhecimentos a respeito.<br />
Fórum no Portal Virtual: “Educação e Novas Tecnologias”<br />
– Contribuições de alguns <strong>do</strong>centes<br />
Adélio Brito<br />
A proposta de um Portal <strong>Di</strong>gital para nos auxiliar no processo<br />
de ensino é excelente, não só para nós <strong>do</strong>centes, mas também<br />
para o aluno. Se analisarmos o merca<strong>do</strong> de trabalho, veremos<br />
que ele caminha para uma virtualização numa velocidade cada<br />
vez mais acelerada. Além disso, podemos observar uma evolução<br />
da participação desse ambiente como ferramenta de trabalho.<br />
Muitas empresas já fazem reuniões, conferências e treinamentos<br />
utilizan<strong>do</strong> o ambiente virtual, sen<strong>do</strong> que antigamente, servia<br />
apenas como local de armazenamento de da<strong>do</strong>s, que nem<br />
sempre era utiliza<strong>do</strong> da melhor maneira.<br />
O que temos hoje em mãos, falan<strong>do</strong> especificamente da nossa<br />
Instituição, é uma oportunidade fantástica de habituarmos os<br />
alunos às novas tecnologias, não apenas à nossa, mas também<br />
como um estímulo a que procure novidades no segmento. E,<br />
também, uma maneira de torná-los mais atualiza<strong>do</strong>s e mais<br />
competitivos.<br />
Não podemos nos esquecer que é também uma oportunidade<br />
para nós <strong>do</strong>centes explorarmos novas maneiras de transmitirmos<br />
nosso conhecimento a um universo que, devi<strong>do</strong> à constante<br />
evolução, exige que o acompanhemos.<br />
Edson mota<br />
Esse tipo de uso de ferramenta é ótima oportunidade para<br />
to<strong>do</strong>s, porém temos um questionamento. Será que to<strong>do</strong>s estão<br />
prepara<strong>do</strong>s? Como manter o mesmo nível de atividade no portal se<br />
temos outros atrativos? O Portal pode ser uma ótima ferramenta,<br />
mas ela não pode ser considerada ensino a distância.<br />
8
marino Alves Filho<br />
Tu<strong>do</strong> o que é novo traz consigo alguns porquês. Aos poucos,<br />
e mudan<strong>do</strong> primeiro em nós, com certeza veremos o mun<strong>do</strong> de<br />
outra forma.<br />
ricar<strong>do</strong> Shitsuka<br />
Na prática diária da <strong>do</strong>cência e no dia-a-dia, muitas pessoas<br />
com as quais temos contato nos perguntam: O que é um Portal?<br />
Qual a diferença entre um “site” e um Portal? Qual a relação <strong>do</strong> Portal<br />
com a educação? Sempre é um prazer discutir essas questões<br />
para ajudar a formar ou construir o conhecimento coletivo.<br />
Desde a década de 90, as redes de computa<strong>do</strong>res passaram<br />
por evoluções e se constituíram em ambientes de informática<br />
que crescem em quantidade e uso por diversos motivos, entre<br />
os quais, a possibilidade de enxergar conteú<strong>do</strong>s de outros<br />
computa<strong>do</strong>res que estejam liga<strong>do</strong>s na rede, a possibilidade de<br />
comunicar entre os computa<strong>do</strong>res da rede e a possibilidade de<br />
realizar tarefas em conjunto ou em rede.<br />
As empresas foram os locais cujas “redes” prosperaram<br />
mais, embora em ambientes <strong>do</strong>mésticos também muita gente<br />
tenha suas “redes de computa<strong>do</strong>res”, quan<strong>do</strong> o poder aquisitivo<br />
e a necessidade o permitem. Há pessoas que possuem pontos<br />
de rede na sala, na cozinha, nos quartos e até nas garagens e<br />
nos lavatórios.<br />
As redes dentro das empresas evoluíram para as “intranets”,<br />
que eram uma versão interna às empresas, semelhante à grande<br />
rede das redes que é a Internet.<br />
Quan<strong>do</strong> se fala em “website”, “site” ou simplesmente<br />
página da internet, estamos nos referin<strong>do</strong> às telas que surgem<br />
no computa<strong>do</strong>r conecta<strong>do</strong> na Internet e mais precisamente,<br />
num serviço dessa mãe de todas as redes, que é o serviço web<br />
(serviço de interface gráfica da internet).<br />
Bem, as páginas podem ser estáticas ou dinâmicas. Quanto<br />
a página é estática há pouca interatividade, entre o usuário e o<br />
conteú<strong>do</strong> da página. Porém, quan<strong>do</strong> se pensa em aumentar a<br />
interatividade e este é também um <strong>do</strong>s fundamentos <strong>do</strong> Ensino a<br />
<strong>Di</strong>stância (EAD), pensa-se principalmente em páginas dinâmicas<br />
que podem trocar conteú<strong>do</strong> e permitir que se acessem outros<br />
serviços, bancos de da<strong>do</strong>s e áreas internas da empresa como é<br />
o caso da intranet. Neste último caso, quan<strong>do</strong> podemos acessar<br />
áreas internas das empresas, temos o PORTAL.<br />
Num Portal, temos que entrar com o “login” e a senha e<br />
podemos acessar bancos de da<strong>do</strong>s, sistemas internos. Este é<br />
o caso <strong>do</strong> Portal da nossa gloriosa FAMEC: podemos acessar o<br />
sistema no qual estamos postan<strong>do</strong> esta mensagem.<br />
Os portais, como é o caso <strong>do</strong> nosso, podem ampliar<br />
ou multiplicar a possibilidade de transmitir e interagir entre<br />
as pessoas. Desta forma, pessoas que possuem idéias e<br />
conhecimentos, podem trocar idéias e informações com outras<br />
pessoas, e desta forma, o conjunto to<strong>do</strong> <strong>do</strong>s usuários pode ter<br />
acesso ao pensamento <strong>do</strong>s outros, outras visões <strong>do</strong>s colegas,<br />
e isso em economia, administração, história da arte, história da<br />
educação, administração da produção, etc.<br />
Penso que se vivêssemos na Grécia Antiga, estaríamos juntos<br />
<strong>do</strong>s filósofos gregos como o grande Aristóteles, Anaxágoras<br />
e outros. Teríamos que estar <strong>do</strong> la<strong>do</strong> ateniense ou espartano.<br />
Se estivéssemos <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> la<strong>do</strong>, teríamos que seguir as leis<br />
Clistenianas, Draconianas etc.. Cada educa<strong>do</strong>r tem que viver a<br />
sua época. Já se estivéssemos na Idade Média, provavelmente<br />
estaríamos num mosteiro com os escribas. Num grande salto,<br />
pela história da educação, chegamos aos dias atuais, cuja<br />
Encontros no Montessori: Educação e novas tecnologias – Reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong><br />
Grupo Montessori a propósito da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos Cursos de Graduação.<br />
tecnologia é irreversível. Quem não vive o seu tempo, acaba<br />
fican<strong>do</strong> à margem da sociedade. Não que não exista espaço,<br />
ainda há quem trabalhe com artesanato, recuperação de peças<br />
antigas, museus etc. Porém, “o filé”, como reza a gíria popular, é a<br />
direção para onde converge a sociedade, e este é a da integração<br />
entre as tecnologias de Comunicação e de Informação (TICs).<br />
Nosso Portal é um claro exemplo dessa integração. Não basta<br />
ter os recursos tecnológicos sem a criatividade, o conteú<strong>do</strong>, o<br />
saber e a atuação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes. Muitas pessoas têm me<strong>do</strong>, pois<br />
há o aspecto da exposição. Porém há vantagens ilimitadas. Você<br />
pode saber o que pensam os colegas, como por exemplo, qual o<br />
pensamento didático-acadêmico <strong>do</strong> professor Ricar<strong>do</strong> Shitsuka,<br />
que envia a vocês um forte abraço montessoriano, e viva o Portal,<br />
que liberta o conhecimento.<br />
Conclusões<br />
Como pode-se observar nos trechos acima, após um certo<br />
temos associa<strong>do</strong> a uma <strong>do</strong>se de entusiasmo quanto à novidade<br />
<strong>do</strong> Portal na FAMEC e na FAAC, no segun<strong>do</strong> semestre de<br />
2006 foram desenvolvidas atividades acadêmicas envolven<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>centes e discentes que deram continuidade ao debate, à<br />
reflexão, e à construção da experiência no uso de Tecnologias<br />
da Informação nos cursos de Graduação. Um exemplo foi o tema<br />
da Semana Cultural de 2006 promovida nas três IES <strong>do</strong> Grupo<br />
Montessori (FAMEC, FAAC, FMI): Educação e Novas Tecnologias,<br />
em calendários diferentes, mas promoven<strong>do</strong> palestras, oficinas<br />
com especialistas convida<strong>do</strong>s, entre alunos e professores <strong>do</strong>s<br />
cursos, evento cultural e artístico. Outro exemplo é a utilização de<br />
20% da formação acadêmica <strong>do</strong>s nossos alunos na modalidade<br />
‘a distância’, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> Portal, num determina<strong>do</strong> grupo de<br />
disciplinas <strong>do</strong>s cursos reconheci<strong>do</strong>s, e que, certamente, servirá<br />
de experiência para o Grupo Montessori avançar nos usos da<br />
Tecnologia Educacional para promover a educação de qualidade<br />
a distância.<br />
NoTAS<br />
1- GEROSA, M.A., FUKS, H. & LUCENA, C.J.P. (2001) Elementos de<br />
percepção como forma de facilitar a colaboração em cursos via Internet,<br />
XII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação - SBIE 2001, 21 a 23<br />
de Novembro de 2001, Vitória-ES, pp. 194-202<br />
2- MORIN,Edgar. Os sete saberes necessários à educação <strong>do</strong> futuro.<br />
São Paulo: Cortez, 2002.<br />
9
ESumo<br />
Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />
O ato de comunicar invariavelmente traz em si intencionalidade<br />
e gera comportamento. Seus efeitos são probabilísticos e incertos.<br />
Ao tomar essa perspectiva como referência, os comunica<strong>do</strong>res<br />
– pessoas ou organizações – tendem a obter maior grau de<br />
certeza <strong>do</strong>s objetivos eleitos em cada projeto, ao contrário de<br />
quan<strong>do</strong> praticam uma comunicação casual, em que os riscos<br />
aumentam substancialmente em face das variáveis incontroláveis<br />
<strong>do</strong> processo.<br />
A comunicação, quanto mais fundamentada em procedimentos<br />
científicos (pesquisas, ensaios, simulações, testes), mais<br />
probabilidade tem de produzir os resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s.<br />
Na realidade, ao considerar-se a comunicação humana<br />
como foco de atividade acadêmica, prática e de interatividade,<br />
a inserção <strong>do</strong> princípio da incerteza pode contribuir como<br />
catalisa<strong>do</strong>r de um ato bem-sucedível.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Comunicação, probabilístico, organizações, pesquisa.<br />
ABSTrACT<br />
The act to communicate always brings in itself scienter<br />
and generates behavior. Its effect is probabilist and uncertain.<br />
When taking this perspective as reference, the communicators<br />
- people or organizations - tend to get greater degree of certainty<br />
of the elect objectives in each project, in contrast to when they<br />
practice an accidental communication, where the risks increase<br />
substantially in face to the uncontrollable variable of the process.<br />
The communication, the more based on scientific procedures<br />
(research, assays, simulation, tests), the more probability has<br />
to produce the results expected. Actually, when considering<br />
human communication as focus of academic. Activity, practice<br />
and of interactivity, the insertion of the uncertainty principle may<br />
contribute as catalytic of a well <strong>do</strong>ne act<br />
KEYworDS:<br />
Carlos Rossini 1<br />
Probabilidade é a perspectiva de que<br />
algo [que desejamos] venha a ocorrer.<br />
<strong>Di</strong>cionário Houaiss<br />
Communication, probabilist, organizations, research.<br />
10
Comunicação é um fenômeno probabilístico. Os efeitos <strong>do</strong>s<br />
seus recursos e procedimentos são incertos. Esta perspectiva<br />
indica a natureza mercurial desse termo e esclarece a imensa<br />
variedade de seu uso conceitual. A necessidade de criar um<br />
referencial substantivo com finalidades práticas, provavelmente<br />
terá provoca<strong>do</strong> a formulação de uma teoria descritivo-científica<br />
publicada em 1949 [C. Shannon e W. Weaver], de largo uso no<br />
campo da tecnologia de transmissão e recepção de informações,<br />
mas insuficiente para dar conta da complexidade das razões,<br />
emoções e relações humanas.<br />
A partir <strong>do</strong> conceito etimológico de comunicação [‘o que<br />
torna algo, pensamento ou ação comum’], há um aglomera<strong>do</strong><br />
de outros, de acor<strong>do</strong> com a perspectiva de como é olhada<br />
– biológico, pedagógico, histórico, sociológico, antropológico,<br />
psicológico, filosófico [Melo, 1978].<br />
Exatamente por existir essa possibilidade multifocal, se<br />
requer um recorte, a definição de um olhar específico, com a<br />
clara determinação de objetivo, seja ele de natureza funcional ou<br />
especulatória, porque, em comunicação, parece sempre haver o<br />
risco <strong>do</strong> para<strong>do</strong>xo ou <strong>do</strong> desafio como o proposto pela esfinge no<br />
caminho <strong>do</strong> deserto, em que o comunica<strong>do</strong>r se vê diante de um<br />
enigma que torna oco um <strong>do</strong>s seus significa<strong>do</strong>s: a capacidade<br />
de interpretar sinais.<br />
Este ensaio busca indicar possibilidades por meio da<br />
manutenção da coerência com a natureza significativa <strong>do</strong><br />
termo: o que se pensa, se sente e se faz gera um campo de<br />
probabilidades, ou seja, uma fonte sempre tenciona algo em<br />
relação a um receptor e essa intencionalidade não ocorre no<br />
vácuo e sim encontra pela frente outros, coisas e circunstâncias.<br />
Nesse contexto, é natural notar a possibilidade tanto de harmonia<br />
[concordância] quanto de conflitos [dissonâncias] ante o princípio<br />
aí atuante da incerteza.<br />
Raramente, se é que existe, a comunicação é isenta<br />
de intencionalidade. Quan<strong>do</strong> a pessoa tem sede procura<br />
biologicamente contato com a água. Quan<strong>do</strong> teme, procura<br />
inicialmente afastar-se <strong>do</strong> objeto temi<strong>do</strong>. Num caso, se aproxima<br />
e se relaciona intimamente com a água integran<strong>do</strong>-a em seu<br />
organismo; no outro, vai em direção oposta, para longe <strong>do</strong> perigo<br />
imaginário ou real.<br />
Quan<strong>do</strong> se admite que a comunicação flui num ambiente<br />
de incertezas, a percepção de sua probabilidade como meio de<br />
influência abre perspectivas extremamente positivas, em face das<br />
imensas capacidades humanas de criar novos relacionamentos,<br />
fato indispensável para adaptação, sobrevivência e suporte de<br />
crescimento individual ou coletivo.<br />
<strong>Di</strong>ante de um mun<strong>do</strong> lendário e mitológico, porta<strong>do</strong>r de<br />
incertezas objetivas e metafísicas, coube aos filósofos, por meio<br />
<strong>do</strong> uso da razão, criarem respostas e desenvolverem a sabe<strong>do</strong>ria<br />
sintética da observação direta transformada pela capacidade<br />
representacional da realidade tangível ou invisível como o éter.<br />
De qualquer mo<strong>do</strong>, os fenômenos estavam ali e precisavam ser<br />
conheci<strong>do</strong>s [humanamente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s]. Tal perspectiva gerou um<br />
acúmulo cultural transmiti<strong>do</strong> [comunica<strong>do</strong>] por meio da oralidade<br />
sapiente. Um movimento paralelo, de não menor magnitude, se<br />
fez representar pela poesia e pelo teatro gregos, apontan<strong>do</strong> e<br />
revelan<strong>do</strong> aspectos fenomênicos da existência humana tanto<br />
<strong>do</strong>s atos exteriores quanto das idéias e <strong>do</strong>s seus respectivos<br />
confrontos, como entre as visões idealistas e <strong>material</strong>istas,<br />
epicuristas e estóicas. Houve de fato uma relação [comunicação]<br />
como um fermento que removeu os homens de uma situação de<br />
espanto para outra em que a razão encontrou seu império.<br />
O pano de fun<strong>do</strong> desse cenário pode ser descrito como<br />
ensaios, caminhares e saltos probabilísticos em direção<br />
Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />
da suprema verdade em relação à qual to<strong>do</strong>s ainda nos<br />
encontramos em posição relativa, mas com ganhos de sabe<strong>do</strong>ria<br />
inquestionáveis. Se não houvesse a transmissão [ainda que às<br />
vezes precária] dessa cultura sapiente a história teria deixa<strong>do</strong> um<br />
vazio incompreensível, como um elo parti<strong>do</strong>.<br />
Aqui se propõe como foco da comunicação as possibilidades<br />
de ela se transformar um instrumento para o avanço civilizante por<br />
meio da superação de limites abusivos e fixa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> espectro<br />
da ignorância contra a qual se puseram os filósofos e visionários<br />
transcendentais.<br />
Fonte de<br />
informação<br />
Teoria técnica da comunicação<br />
Transmissor Canal Receptor Destino<br />
Fonte de<br />
ruí<strong>do</strong><br />
Modelo técnico (ou matemático) da comunicação desenvolvi<strong>do</strong> por Claude<br />
Shannon e Warren Weaver, publica<strong>do</strong> em 1949, in Teoria Matemática<br />
da Comunicação: um marco científico importante, mas que exige<br />
malabarismos interpretativos quan<strong>do</strong> se trata da comunicação humana,<br />
cujas características incluem pensamento, emoção e sensações.<br />
Indaga-se: qual é a probabilidade de a comunicação [as<br />
relações humanas inteligentes] servir como alavanca para mover<br />
as dificuldades [incertezas relativas] que impedem um consistente<br />
crescimento da civilização, uma vez que a demografia se acumula<br />
ao re<strong>do</strong>r da superfície da terra e, simultaneamente, um poder<br />
dissolvente mantém uma estrutura obsoleta mantene<strong>do</strong>ra de<br />
uma película como um lega<strong>do</strong> da barbárie social.<br />
Arma-se uma estratégia e a estratégia pode se transformar<br />
em arma, ao refletir os interesses e as posições <strong>do</strong>s seus<br />
planeja<strong>do</strong>res e usuários. É assombroso hoje como os indivíduos<br />
estão sujeitos aos imperativos <strong>do</strong>s grandes sistemas da tecnologia<br />
da informação. Um cliente de banco, nos tempos atuais, numa<br />
metáfora kafkiana, pode se sentir uma barata sob as solas de<br />
um gigantesco sistema impessoal e numérico. Este e outros<br />
sistemas se alimentam das partes de um processo que lembra<br />
a lei de Darwin, mas que não passa de uma visão hipnótica e<br />
impressionante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que transforma tu<strong>do</strong> em coisa.<br />
Uma comunicação estratégica, como a comunicação em<br />
geral, produz comportamento [mental e físico], e sua aplicação,<br />
conforme se constata, remonta quase literalmente ao significa<strong>do</strong><br />
etimológico da palavra: plano para enganar, confundir ou iludir<br />
o inimigo. A comunicação estratégica, ainda que possa servir<br />
de modelo para ações voltadas para o bem da coletividade,<br />
é freqüentemente utilizada como no senti<strong>do</strong> militar: vencer o<br />
inimigo. Observe-se que esse pre<strong>do</strong>mínio é historicamente<br />
mantene<strong>do</strong>r <strong>do</strong> status quo desde suas raízes mais primitivas, ou<br />
seja, a conquista e a manutenção de poder manipulatório de uns<br />
sobre os outros. Nesse caso, a comunicação, como mensagem<br />
e tonalidade, se presta funcionalmente como instrumento de<br />
<strong>do</strong>minação, seja sutil e ideológica, seja como meio para manter<br />
preservada pelo maior tempo possível uma posição privilegiada.<br />
Essa força <strong>do</strong>minante é tão silenciosa quanto impie<strong>do</strong>sa, na<br />
medida em que impede as pessoas de enxergarem sem viseiras<br />
ideológicas passadas cumulativamente de uns para outros. Na<br />
verdade, impede que se encontre um novo rumo, uma nova<br />
visão, indispensável para que, como os girassóis, as pessoas<br />
possam inflectir em direção à luz solar.<br />
11
Mas despojada de usos parciais e intencionalmente restritos,<br />
a comunicação mantém-se como força universal provável. Neste<br />
particular, cabe indagar: pode um país dar certo consideran<strong>do</strong> sua<br />
nacionalidade, ou seja, o conjunto de sua população, sem que<br />
haja hiperbólicas discrepâncias sociais, econômicas e culturais?<br />
Outra: como forma e conteú<strong>do</strong> corretos poderiam contribuir para<br />
remover as enfermidades sociais tão notórias na ecologia geral?<br />
Mais uma ainda: por que temos de ser tão diferentes quan<strong>do</strong><br />
essencialmente somos tão semelhantes?<br />
A ausência de escrúpulo, <strong>do</strong> que se poderia qualificar de<br />
elite mundana, não se desqualificaria pela própria grandeza<br />
de uma era que se introduz inexorável, como houve outras<br />
nos conduzin<strong>do</strong> para um portal que nos fez delir a montanha<br />
em cujo topo se encontra aquilo que muitos denominam pósmodernidade?<br />
Se a terceira onda [sociedade informatizada] já<br />
se encontra estabelecida e toma seu rumo, espera-se que haja<br />
uma intensificação da liberdade e uma ascensão para a onda<br />
intuitiva ou transpessoal, uma espécie da hora da verdade de<br />
quem é depositário, de alguma forma, da lenda, <strong>do</strong> mito, da<br />
razão e os esta<strong>do</strong>s antropologicamente correspondentes:<br />
coleta, caça, agricultura, industrialismo, aumento exponencial da<br />
densidade demográfica, efeitos ecológicos como degelo, furo da<br />
camada de ozônio, poluição generalizada e busca sôfrega para<br />
novas formas de energia e assim por diante. Cada era produz<br />
uma comunicação que lhe corresponde. Cada povo produz a<br />
comunicação da qual se faz merece<strong>do</strong>r.<br />
Podiam-se formular tantas perguntas quanto podemos<br />
projetar nossos olhares para muitas direções, em razão de que<br />
estamos chafurda<strong>do</strong>s no princípio da incerteza, o que eqüivale<br />
a dizer que não conseguimos enxergar na medida necessária<br />
para aonde estamos in<strong>do</strong>. A transmissão de nossa cultura é<br />
intermitente e, não raro, regride ou se mantém estagnada. E<br />
aí vão mais duas perguntas: a quem interessa esse esta<strong>do</strong> de<br />
coisas, se os cidadãos já não podem mais sair às ruas sem pedir<br />
salvo-conduto às divindades?Se existe um aparato, também<br />
conheci<strong>do</strong> pelo nome de indústria cultural, que tende a perpetuar<br />
nossa velocidade em câmara lenta, que explicações dariam os<br />
sábios sobre essa contradição com a global rede de comunicação<br />
tecnologicamente avançada?<br />
Assim, parece que temos que pensar rapidamente, agir<br />
rapidamente e viver precipitadamente sem entender ou saber em<br />
nome <strong>do</strong> quê.<br />
A comunicação<br />
As circunstâncias<br />
As coisas<br />
Os outros<br />
O eu<br />
Como fenômeno [veja o diagrama circular acima], a<br />
comunicação abrange uma teia de relações – o eu, o outro, as<br />
coisas, as circunstâncias. Dá a liga entre essas existências ou<br />
aparências. Sua configuração permite ver que há realmente muitas<br />
probabilidades que, no entanto, se sujeitam a regras ou intenções<br />
Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />
ocultas. Sujeito e objeto são estranhos entre si, assim como as<br />
pessoas são estranhas entre si, embora possam viver no mesmo<br />
edifício, no mesmo andar, durante anos ou mesmo décadas e<br />
nunca se enxergarem. Toda comunicação parece, efetivamente,<br />
sujeita a efeitos hipnóticos, assim como a cosmiatria modifica<br />
a aparência natural das pessoas agin<strong>do</strong> como sobreposição da<br />
imagem ou simulacro, num jogo de essência e aparência em que<br />
pre<strong>do</strong>mina a aparência ou as relações superficiais.<br />
Há ainda uma transposição a ser empreendida, da teoria à<br />
prática porque, enquanto a primeira busca levar à compreensão<br />
ou à elucidação <strong>do</strong> que está ou aparece diante de nós, a segunda<br />
requer sua aplicabilidade, objetivan<strong>do</strong> produzir efeitos sobre a<br />
realidade conserva<strong>do</strong>ra em sua renitência.<br />
Atualmente se coloca e recoloca em primeiro plano a questão<br />
da inclusividade de largas camadas da população na teia da<br />
internet como um direito compreensível, mas como explicar que<br />
essas mesmas camadas fiquem excluídas <strong>do</strong> uso das palavras<br />
ou mesmo de uma educação emancipa<strong>do</strong>ra? A experiência<br />
diária, sobretu<strong>do</strong> nas escolas e especialmente nas faculdades,<br />
tem demonstra<strong>do</strong> o abismo existente entre os estudantes e o<br />
principal instrumento de representação da realidade: a sintaxe<br />
das palavras. Os trabalhos acadêmicos, não raro, põem a<br />
descoberto a imensa dificuldade <strong>do</strong> universitário de empregar<br />
essas ferramentas das idéias e da criatividade. O rolo compressor<br />
formativo passa por sobre questões fundamentais como a de criar<br />
condições para que os alunos aprendam efetivamente a pensar.<br />
Como isso pode acontecer se o repertório disponível a eles é<br />
extremamente restrito? E também cabe indagar: por que razão<br />
os jovens não se sentem atraí<strong>do</strong>s pelo amor às palavras? Não<br />
seria a gramática formal, como se apresenta, um objeto estranho<br />
e distante da realidade cotidiana? Como se explica, aqui e ali, o<br />
baixo interesse pela leitura, leitura de mo<strong>do</strong> geral?<br />
Então, cabe ainda perguntar, seguin<strong>do</strong> a reflexão que se<br />
apresenta neste ensaio: qual a probabilidade de os estudantes<br />
amadurecerem e conquistarem um vocabulário amplia<strong>do</strong>, varia<strong>do</strong> e<br />
autônomo, a ponto de se reconhecerem com aptidão responsável?<br />
O pauperismo verbal é um fator relevante quan<strong>do</strong> se considera<br />
que pode contribuir para ampliar as incertezas porque se torna<br />
difícil fazer leituras apropriadas e substantivas da realidade. A<br />
exclusão da linguagem se apresenta como algo mais premente<br />
que a outra, porque sem a primeira a segunda se torna, ou pode<br />
ser tornar, uma atividade mecânica, como um ornato que encobre<br />
o que certamente poderia interessar pelos próprios atrativos.<br />
A história é geralmente pontificada ou demarcada por perío<strong>do</strong>s<br />
de transição em que algo que vinha sen<strong>do</strong> gesta<strong>do</strong> enfim vem à<br />
luz e confere um novo rumo à civilização. Antes disso, é possível<br />
imaginar, o andamento <strong>do</strong>s fatos desenboca numa estagnação,<br />
como as águas que se espalham diante de um dique e vão<br />
perden<strong>do</strong> velocidade, mas subin<strong>do</strong> de nível gradativamente.<br />
O início <strong>do</strong> terceiro milênio parece estar sen<strong>do</strong> redesenha<strong>do</strong>,<br />
porque o planeta deixou de ser e ainda não é, como alguém que<br />
está atravessan<strong>do</strong> um vale com destino a uma montanha, mas<br />
caminha lentamente num terreno pesa<strong>do</strong> e alagadiço.<br />
Se a pós-modernidade for a rede eletrônica planetária, a<br />
hiperinformação, a impessoalidade nas faces <strong>do</strong>s poderes em<br />
transformação ou mesmo o tempo da contemplação cósmica<br />
porque a terra dá os primeiros sinais de exaustão, to<strong>do</strong>s<br />
fatos suprapessoais, então estaríamos sen<strong>do</strong> conduzi<strong>do</strong>s<br />
imperceptivelmente de volta às cavernas? O que caracteriza a<br />
nossa civilização? Quais são seus traços mais marcantes ou<br />
evidentes? Que tendências to<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> ponto de vista holístico,<br />
estamos seguin<strong>do</strong> sem ter a consciência requerida para podermos<br />
ou não mudar o rumo <strong>do</strong> barco da história humana?<br />
12
Em suma, a comunicação como probabilidade diante das<br />
incertezas, se apresenta na condição de síntese de um dilema.<br />
Se o homem se elegeu livre para tomar conta da terra [e com<br />
isto criou os desafios <strong>do</strong> presente], quem pode tomar conta <strong>do</strong><br />
homem, além dele mesmo, e impedir seus desatinos? Porque<br />
tu<strong>do</strong> que houve e há [guerras, esgotamento <strong>do</strong>s recursos naturais,<br />
poluição, misérias, <strong>do</strong>enças] se criou graças a um crônico e<br />
aviltante desequilíbrio no interior <strong>do</strong> vasto e díspar aglomera<strong>do</strong><br />
humano e, obviamente, nem to<strong>do</strong>s desejam ser co-signatários<br />
de absur<strong>do</strong>s e insanidades autoritários.<br />
Ainda que instituições públicas e privadas e poderosos de<br />
to<strong>do</strong>s os calibres espalha<strong>do</strong>s pela superfície da Terra possam<br />
equivocar-se em seus pensamentos, decisões e atitudes, nem<br />
por isso estarão livres das conseqüências de seus atos.<br />
Sugere-se, neste ensaio, a possibilidade de se reatarem as<br />
pontas soltas que separaram homem da natureza, homem de<br />
homem e este de si mesmo. Ou, como diriam provavelmente<br />
os fenomenólogos, enxergar com olhos unifica<strong>do</strong>res o que se<br />
apresenta na paisagem como formas separadas fisicamente<br />
– eu, outro, coisa, circunstância. Ainda que conservem seu<br />
princípio configurante individual, essas categorias fazem parte <strong>do</strong><br />
espetáculo, são peças escritas para o mesmo teatro, com um fio<br />
condutor comum entre si. No jogo universal, to<strong>do</strong>s pertencemos<br />
à única família quântica, ainda que nos percebamos diferentes<br />
disso, daí que a comunicação se oferece em sua neutralidade<br />
usual imensas oportunidades de subirmos outros degraus<br />
na escala evolutiva, desde o ponto inicial [se houve] de nossa<br />
gênese. Talvez tenhamos que reeducar nossos senti<strong>do</strong>s para<br />
vermos o que ainda não conseguimos imaginar.<br />
Ver as nossas relações como probabilidades infinitas num<br />
cenário de incertezas nos possibilita enxergar tu<strong>do</strong> como<br />
novidade, alivia<strong>do</strong>s de um passa<strong>do</strong> que não cometemos, de<br />
preconceitos que não desejamos ter, enfim, livres como anelamos<br />
ser. Ou, como escreveu Fernan<strong>do</strong> Pessoa, no poema O Guarda<strong>do</strong>r<br />
de Rebanhos: “O meu olhar é níti<strong>do</strong> como o girassol. Tenho o<br />
costume de andar pelas estradas, olhan<strong>do</strong> para a direita e para a<br />
esquerda, e de vez em quan<strong>do</strong> olhan<strong>do</strong> para trás. E o que vejo a<br />
cada momento é aquilo que nunca antes eu tinha visto, e eu sei<br />
dar por isso muito bem. Sei ter o pasmo essencial que tem uma<br />
criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras. Sinto-me<br />
nasci<strong>do</strong> a cada momento para a eterna novidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.”<br />
DE<strong>Di</strong>CATÓriA<br />
Este ensaio é dedica<strong>do</strong> aos alunos <strong>do</strong> 1º e <strong>do</strong> 2º semestres <strong>do</strong><br />
curso de Comunicação Empresarial (Administração de Empresas)<br />
da Faculdade Montessori de Ibiúna, 2006.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
CHUNG, Tom. Qualidade Começa em Mim – Manual<br />
Neurolingüístico de Liderança e Comunicação. São Paulo, Editora<br />
Maltese, 1994.<br />
DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda S. F.B (organiza<strong>do</strong>ra).<br />
Vida e Morte – Ensaios Fenomenológicos. São Paulo, Editora<br />
Companhia Ilimitada, 1988.<br />
GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 21ª<br />
edição. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2002.<br />
HOUAISS, Antônio. <strong>Di</strong>cionário Houaiss da Língua Portuguesa.<br />
1ª edição. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2001.<br />
KAPLAN, Burton. Comunicação Estratégica – A Arte de<br />
Transmitir Idéias. Rio de Janeiro, LTC – Livros Técnicos e<br />
Científicos Editora, 1993.<br />
LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos Teóricos da<br />
Comunicação Humana. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1982.<br />
MELO, José Marques de. Comunicação Social – Teoria e<br />
Pesquisa. 6ª edição, Petrópolis, Rio de Janeiro, Editora Vozes,<br />
1978.<br />
PESSOA, Fernan<strong>do</strong>. O Eu Profun<strong>do</strong> e os Outros Eus. 22ª<br />
edição. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira, 1980.<br />
WATZLAWICK, Paul. Beavin, Janet Helmick. Jackson, Don.<br />
D. Pragmática da Comunicação Humana. São Paulo, Editora<br />
Cultrix, 1991<br />
NoTAS<br />
Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />
1- Carlos Rossini é jornalista e sociólogo, autor <strong>do</strong> livro “A coragem de<br />
comunicar”, Editora Madras, e de outros, professor de comunicação<br />
empresarial na Faculdade Montessori de Ibiúna, consultor de<br />
comunicação empresarial e de relacionamento, autor <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> CRP<br />
– Crian<strong>do</strong> Relacionamentos Positivos e de dezenas de artigos publica<strong>do</strong>s<br />
em jornais e revistas sobre comunicação e relacionamento humano.<br />
13
ESumo<br />
O propósito deste artigo é registrar a cambiante representação<br />
da natureza no merca<strong>do</strong> imobiliário da cidade de São Paulo.<br />
O processo de sua metropolização implica em um processo<br />
de desumanização que atingiu seu ápice nos anos 1970. A partir<br />
desta data, tomada como ponto de inflexão em sua história,<br />
assinala-se a emergência de uma onda verde expressa nos<br />
anúncios <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário que, valen<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> imaginário<br />
contemporâneo, constrói paisagens idílicas.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
A natureza na cidade: representações<br />
contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />
Filme publicitário, natureza, paisagem urbana.<br />
ABSTrACT<br />
The aim of this article is to register the changeable<br />
representation of nature in the real estate market in the city of<br />
São Paulo.<br />
The process of its metropolization implies a process of<br />
dehumanization which reached its height in the 1970s. From<br />
this date on, considered the inflexion point in its history, the<br />
emergence of a green wave becomes evident and it expresses<br />
itself in the advertisements of the real estate market, which, using<br />
the contemporary imaginary, constructs idyllic landscapes.<br />
KEYworDS:<br />
Publicity films, nature, urban landscape.<br />
Carlos Eduar<strong>do</strong> P. Ferreira 1<br />
14
“A vontade de ver a cidade precedeu os meios de satisfazêla.<br />
As pinturas medievais ou renascentistas representavam a<br />
cidade vista em perspectiva por um olho que no entanto jamais<br />
existira até então. Elas inventaram ao mesmo tempo a visão <strong>do</strong><br />
alto da cidade e o panorama que ela possibilitava. Essa ficção<br />
já transformava o especta<strong>do</strong>r medieval em olho celeste. Fazia<br />
deuses. Será que hoje as coisas se passam de outro mo<strong>do</strong>, agora<br />
que processos técnicos organizaram um poder ‘onividente’?”.<br />
Michel de Certeau em A Invenção <strong>do</strong> Cotidiano: 1. Artes de<br />
Fazer, p.170.<br />
introdução<br />
Ambrosio Lorenzetti – La Cité (1346)<br />
Processos históricos, sociais e culturais influenciam o<br />
mo<strong>do</strong> pelo qual formulamos idéias e imagens além de explicitar<br />
maneiras pelas quais nos relacionamos com vários setores<br />
da vida cotidiana. No que diz respeito à antropologia visual, a<br />
contemporaneidade elege o retorno à natureza como um de<br />
seus axiomas, ten<strong>do</strong> a questão ecológica primazia no discurso<br />
atual de suas representações simbólicas. Salienta-se, nos meios<br />
de comunicação, o perfil desse enfoque especialmente na<br />
publicidade e no turismo.<br />
Deslinda-se a hermenêutica forma<strong>do</strong>ra desse discurso de<br />
exaltação da natureza a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da relação antitética<br />
A natureza na cidade: representações<br />
contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />
entre a cidade e a natureza – propagada pelo imaginário<br />
contemporâneo e presente nas representações <strong>do</strong> turismo<br />
ecológico e <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário denomina<strong>do</strong> de alto padrão,<br />
– onde os anúncios publicitários enxergam a possibilidade de<br />
aí fundar as bases de seu marketing. Para tanto, analisa-se o<br />
dispositivo regula<strong>do</strong>r (Aumont, 1993: 192) entre o especta<strong>do</strong>r e<br />
suas imagens em determina<strong>do</strong> contexto simbólico.<br />
Tema<br />
A imposição de um veloz ritmo de vida, decorrente da<br />
transformação <strong>do</strong> tempo em merca<strong>do</strong>ria, apresenta-se como<br />
um <strong>do</strong>s fatores de maior relevância no atribula<strong>do</strong> dia-a-dia da<br />
vida urbana. O habitante das grandes cidades está sempre em<br />
movimento, em constante deslocamento pela urbe, cada vez<br />
dispon<strong>do</strong> menos <strong>do</strong> tempo-merca<strong>do</strong>ria ao circular por uma<br />
paisagem pós-industrial que muitas vezes lhe é hostil, onde o<br />
automóvel tem precedência em relação ao pedestre na paisagem<br />
urbana.<br />
A essa paisagem urbana de aparência hostil contrapõe-se<br />
uma outra categoria de paisagem – de pretenso caráter idílico –,<br />
<strong>material</strong>izada na representação que o imaginário contemporâneo<br />
procura disseminar por meio de imagens de certo caráter<br />
edênico, consolidan<strong>do</strong> a assertiva de Pierre Francastel de que “a<br />
linguagem figurativa tem um papel incalculável na manifestação<br />
das mentalidades coletivas” (1973: 29), ajudan<strong>do</strong> o homem a fixar<br />
imagens em seu espírito.<br />
Analisan<strong>do</strong> a relação <strong>do</strong> homem e o meio ambiente,<br />
mormente na Inglaterra, entre os séculos XVI e XIX, Keith Thomas<br />
aponta a intensa separação entre cidade e campo, “mais nítida<br />
que qualquer coisa que possamos encontrar na Idade Média, o<br />
que encorajou esse anseio sentimental pelos prazeres rurais e a<br />
idealização <strong>do</strong>s atrativos espirituais e estéticos <strong>do</strong> campo” (1988:<br />
297), visto que, durante a Renascença, a cidade fora sinônimo<br />
de civilização em oposição à rusticidade <strong>do</strong> campo, fazen<strong>do</strong> jus<br />
ao prolóquio de que tirar o homem da floresta confinan<strong>do</strong>-o na<br />
cidade equivalia a civilizá-lo (1988: 290).<br />
A tensão resultante <strong>do</strong> confronto entre o crescente progresso<br />
da urbanização e o anseio rural ao qual um número crescente<br />
de pessoas estava sujeito “indicavam claramente que não eram<br />
poucos os que entendiam que, embora o mun<strong>do</strong> da natureza<br />
devesse ser <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>, não devia ser completamente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />
e suprimi<strong>do</strong>. Esse antigo ideário pastoral sobreviveu moderno<br />
mun<strong>do</strong> industrial adentro. Pode ser visto nas imagens <strong>do</strong><br />
campo tão utilizadas para anunciar bens de consumo” (1988:<br />
301; grifo meu).<br />
A iminência de um desequilíbrio nas forças da natureza, o<br />
progressivo esgotamento das reservas naturais e a completa<br />
transformação <strong>do</strong> cenário terrestre têm propicia<strong>do</strong> representações<br />
que conferem o estatuto de edênicos e privilegia<strong>do</strong>s aos locais<br />
onde exista o mais leve resquício na paisagem de qualquer<br />
elemento verde. A iconografia resultante da supervalorização<br />
desse verde é muito característica de nosso tempo, visto que<br />
os instrumentos mentais com os quais o homem organiza a<br />
sua experiência visual são variáveis, sen<strong>do</strong> boa parte deles<br />
condiciona<strong>do</strong>s pela cultura e determina<strong>do</strong>s pela sociedade, que<br />
exerce sua influência sobre a experiência individual (Baxandall,<br />
1991: 48).<br />
Como destaca Peter Burke, “No futuro, é provável que o<br />
movimento ecológico tenha cada vez mais influência sobre<br />
a forma como a história é escrita” (1992: 20). No esforço e na<br />
tentativa de interpretar um pouco dessa história escrita por<br />
intermédio das imagens da natureza nos anúncios publicitários<br />
é que interprendemos este breve ensaio.<br />
15
Durante a década de 1970, Ferraz já apontara para o clima de<br />
intranqüilidade entre os países industrializa<strong>do</strong>s ao reconhecerem<br />
“o quanto o desenvolvimento econômico lhes tem custa<strong>do</strong> em<br />
termos de predação ambiental... O conceito de crescimento<br />
econômico, erigi<strong>do</strong> pela Economia, está se alteran<strong>do</strong> para fazer<br />
incluir no processo de produção o preço <strong>do</strong> insumo básico mais<br />
importante: o meio ambiente, até agora não computa<strong>do</strong> para<br />
efeito de custos” (1976:15).<br />
Essa preocupação com o meio ambiente, aditada ao famoso<br />
dístico “São Paulo precisa parar”, parece configurar momento de<br />
inflexão na história da cidade, sen<strong>do</strong> plausível flagrar a emergência<br />
dessa inquietação no merca<strong>do</strong> imobiliário por meio de seus<br />
anúncios publicitários. À “cidade desumana”, contrapõe-se uma<br />
tentativa de humanizar a cidade, tão bem expressa no logotipo<br />
da rosa e da pá de pedreiro que caracterizava a administração<br />
Faria Lima (1965/69), o que denota uma proposta de construção<br />
da natureza no alvorecer <strong>do</strong> ideário preservacionista <strong>do</strong> meio<br />
ambiente e na busca de uma melhor qualidade de vida.<br />
Bresciani, ao analisar a recorrência da palavra “melhoramentos”<br />
na historiografia da cidade de São Paulo – especialmente no<br />
perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre 1850 e 1950 –, situa seu emprego<br />
no decorrer <strong>do</strong> século XX em três diferentes fases. Nomeadas,<br />
respectivamente, como a fase <strong>do</strong> saneamento, a fase da<br />
metodização <strong>do</strong> “desenvolvimento desordena<strong>do</strong>” e a fase atual,<br />
entendida como de remodelação a partir de 1925, observa que<br />
“menos freqüente na cena principal, a palavra ‘melhoramentos’<br />
permanece no vocabulário <strong>do</strong>s urbanistas. Perde seu lugar nos<br />
planos e projetos de reforma e expansão da cidade, mas mantémse<br />
no relato das realizações <strong>do</strong> poder público” (2001: 363).<br />
Aos melhoramentos que o poder público procura instaurar, tais<br />
como os calçadões, a criação de áreas verdes, o embelezamento<br />
da cidade, a despoluição <strong>do</strong> ar e <strong>do</strong>s rios, a iniciativa privada<br />
professa o elogio aos espaços confina<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s con<strong>do</strong>mínios<br />
fecha<strong>do</strong>s, sempre favoreci<strong>do</strong>s por projetos paisagísticos em<br />
perfeita integração com a natureza.<br />
A Natureza ressacralizada?<br />
A representação da natureza como sen<strong>do</strong> uma obra de<br />
arte é o espelho de uma visão de mun<strong>do</strong>, uma idéia delineada<br />
a partir <strong>do</strong> Renascimento, quan<strong>do</strong> se opera uma progressiva<br />
dessacralização da natureza, objetivan<strong>do</strong> o esvaziamento de seu<br />
caráter divino.<br />
A rigor, como apontou Max Weber, o germe da secularização<br />
já se encontrava nas fontes mais antigas da religião de Israel (em<br />
associação com o pensamento helenístico), de maneira que o<br />
desencantamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> – a luta ancestral da magia contra a<br />
religião (Pierucci, 2000: 122) – já começara no Velho Testamento<br />
(Berger, 1971: 141).<br />
Assiste-se na atualidade a uma “revalorização” dessa<br />
mesma natureza por meio de imagens disseminadas nos meios<br />
de comunicação, agora não mais devi<strong>do</strong> ao seu caráter divino,<br />
mas pelo seu uso merca<strong>do</strong>lógico e sinonímia de qualidade de<br />
vida, além da efetiva possibilidade de sua extinção, posto que é<br />
sistemática e progressivamente destruída pela industrialização.<br />
A dessacralização, para Mircea Eliade, caracteriza o homem<br />
não-religioso das sociedades modernas – um ciclo recente<br />
na história <strong>do</strong> espírito humano –, experimentan<strong>do</strong> o homem<br />
desse tempo, “uma dificuldade cada vez maior em reencontrar<br />
as dimensões existenciais <strong>do</strong> homem religioso das sociedades<br />
arcaicas” (1992: 19).<br />
Aduz ainda Eliade, que esse homem profano conserva<br />
ainda os vestígios <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong> homem religioso, não<br />
obstante seja alto o grau de dessacralização atingi<strong>do</strong>, visto que<br />
“algumas imagens tradicionais, alguns traços da conduta <strong>do</strong><br />
homem arcaico persistem ainda no esta<strong>do</strong> de ‘sobrevivências’<br />
mesmo nas sociedades mais industrializadas” (1992: 49).<br />
A dessacralização, produto das conquistas científicas <strong>do</strong>s<br />
últimos séculos, perpassa todas as atividades sociais, operan<strong>do</strong>se<br />
também na moradia. Teve lugar tanto no Ocidente como no<br />
Oriente, ainda que relativamente restrita a uma elite cultural, para<br />
as quais, no caso <strong>do</strong> Extremo Oriente, a contemplação estética<br />
da Natureza conserva ainda um prestígio religioso (1992: 127).<br />
Eliade analisa o caso <strong>do</strong>s jardins com lagos, que se tornaram<br />
moda entre os letra<strong>do</strong>s chineses <strong>do</strong> século XVII, onde, no<br />
meio deles, eram edificadas pequenas montanhas e roche<strong>do</strong>s<br />
com árvores anãs, flores, além de, freqüentemente, modelos<br />
miniaturiza<strong>do</strong>s de casas, pagodes, pontes e figuras humanas,<br />
tratan<strong>do</strong>-se pois, “de um mun<strong>do</strong> à parte, um mun<strong>do</strong> em miniatura,<br />
que as pessoas instalavam em suas casas, em seus lares, para<br />
participar das forças místicas ali concentradas, de restabelecer,<br />
pela meditação, a harmonia com o Mun<strong>do</strong>” (1992: 127).<br />
O complexo de água, árvores, montanhas e grutas<br />
correspondia ao desenvolvimento de uma idéia religiosa antiga:<br />
a <strong>do</strong> Paraíso, local perfeito, retira<strong>do</strong>, fonte de beatitude e lugar de<br />
imortalidade, sen<strong>do</strong> certo que os taoístas “retomaram o esquema<br />
cosmológico arcaico – monte e lago – e elaboraram um complexo<br />
mais rico (montanha, lago, gruta, árvores), reduzi<strong>do</strong> a uma escala<br />
menor: um universo paradisíaco em miniatura, carrega<strong>do</strong> de<br />
forças místicas, pois retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> profano, e junto <strong>do</strong> qual<br />
os taoístas se recolhiam e meditavam” (1992: 128).<br />
Para Eliade, os jardins em miniatura exemplificam a maneira<br />
como é engendrada a dessacralização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: por meio dela,<br />
podemos imaginar “o que uma emoção estética dessa ordem<br />
pode tornar-se numa sociedade moderna para compreendermos<br />
como a experiência da santidade cósmica pode rarefazer-se e<br />
transformar-se até se tornar uma emoção unicamente humana:<br />
por exemplo, a da arte pela arte” (1992: 129).<br />
Parece muito próximo esse caráter de contemplação estética<br />
proposto nas imagens <strong>do</strong>s empreendimentos imobiliários –<br />
jardins, praças, fontes, gazebos, cascatas – vistos como obras<br />
de arte integradas à natureza, para a fruição de alguns poucos<br />
eleitos. Essa ordem de emoção estética tangencia de forma<br />
subliminar os anúncios publicitários.<br />
A modernidade dessacralizou o mun<strong>do</strong> em que viviam<br />
seus antepassa<strong>do</strong>s, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> comportamento antagônico,<br />
caracteriza<strong>do</strong> pela exortação ao esvaziamento de qualquer<br />
religiosidade. No entanto, ela é sabe<strong>do</strong>ra, ainda que de forma<br />
inconsciente, que esse comportamento freqüentemente passa<br />
por um processo de reatualização.<br />
A Construção da Paisagem<br />
A natureza na cidade: representações<br />
contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />
A paisagem é aqui considerada como constructo <strong>do</strong><br />
pensamento contemporâneo, pois se configura como cultura<br />
antes de ser natureza, segun<strong>do</strong> o argumento desenvolvi<strong>do</strong> em<br />
“Paisagem e Memória”, sen<strong>do</strong> analisada enquanto representação<br />
da imaginação “projetada sobre mata, água, rocha” (Shama,<br />
1996: 70).<br />
A comprovada ausência de verde cria territórios no imaginário<br />
hodierno, inspiran<strong>do</strong> a criação de ilhas de excelência – os<br />
con<strong>do</strong>mínios de casas e edifícios – que estabelecem um paradigma<br />
de representação por meio de um “pensamento plástico”, como<br />
enfatiza Pierre Francastel (1973: 3). Uma forma de pensamento é<br />
estabelecida, na qual é subjacente a idéia de que o compra<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
imóvel passará a viver em um paraíso perdi<strong>do</strong>.<br />
16
Na ilustração abaixo, podemos observar a proeminência<br />
desse sonho de uma natureza idealizada: agreste, intacta e<br />
para<strong>do</strong>xalmente <strong>do</strong>mesticada. O empreendimento é circunda<strong>do</strong><br />
por extensas áreas verdes existentes apenas no imaginário de<br />
quem vende e de quem compra. No mais das vezes, no lugar<br />
das áreas verdes encontram-se outros prédios no horizonte...<br />
recurso publicitário usa<strong>do</strong> para apagar o perfil urbano, crian<strong>do</strong> a<br />
inserção de bosques imagina<strong>do</strong>s.<br />
Folder<br />
Trata-se naturalmente de um mun<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong> adita<strong>do</strong> de todas<br />
as conquistas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno: completa e diversificada<br />
infra-estrutura, a quietude e a paz <strong>do</strong> campo, ressaltan<strong>do</strong>-se o<br />
fato de a cidade aparecer freqüentemente como pano de fun<strong>do</strong>,<br />
a exemplo das representações arcádicas na pintura. Como<br />
destaca Schama, “... se a visão que uma criança tem da natureza<br />
já pode comportar lembranças, mitos e significa<strong>do</strong>s complexos,<br />
muito mais elaborada é a moldura através da qual nossos olhos<br />
adultos contemplam a paisagem. Pois, conquanto estejamos<br />
habitua<strong>do</strong>s a situar a natureza e a percepção humana em <strong>do</strong>is<br />
campos distintos, na verdade elas são inseparáveis. Antes de<br />
poder ser um repouso para os senti<strong>do</strong>s, a paisagem é obra da<br />
mente” (1996: 17).<br />
Esse repouso, que o habitante das grandes cidades busca<br />
encontrar, por meio de imagens que auscultam um equilíbrio<br />
distante e desvaira<strong>do</strong>, revela-se fugaz. A paisagem é, antes, o<br />
produto de um imaginário construí<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> uma sacralidade<br />
ancestral perdida, desejoso de estabelecer-se segun<strong>do</strong> a<br />
hierofania <strong>do</strong> Centro <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, pois, “Viver perto de um ‘Centro<br />
<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>’ equivale, em suma, a viver o mais próximo possível<br />
<strong>do</strong>s deuses” (Eliade, 1992: 81).<br />
O centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, na grande metrópole, equivale a situar-se<br />
nas zonas nobres; preferencialmente junto aos grandes parques<br />
(Ibirapuera, Villa-Lobos, Aclimação), próximo aos serviços<br />
comerciais (shoppings) e rápi<strong>do</strong> acesso ao Metrô.<br />
Como salienta Eliade, “to<strong>do</strong> território ocupa<strong>do</strong> com o<br />
propósito de habitá-lo ou de utilizá-lo como ‘espaço vital’ é<br />
previamente transforma<strong>do</strong> de ‘caos’ em ‘cosmos’; isto quer dizer<br />
que, por meio <strong>do</strong> ritual, uma forma lhe é dada, o que o faz tornarse<br />
real” (1969: 23).<br />
A transformação <strong>do</strong> caos em cosmos encontra ressonância<br />
no percurso que leva o habitante urbano a retornar a cada dia,<br />
seguramente, ao seu centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> – uma trajetória que o<br />
conduz <strong>do</strong> inferno da cidade ao paraíso da moradia.<br />
Nas ilustrações seguintes, podemos examinar o<br />
caráter edênico e de centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> manifesto nessas<br />
representações.<br />
A natureza na cidade: representações<br />
contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />
Esta<strong>do</strong>, junho 2005<br />
A construção de uma nova espacialidade.<br />
A visão <strong>do</strong> alto da cidade e o panorama que ela possibilita:<br />
o olho celeste ao qual Michel de Certeau se refere<br />
O prosaico con<strong>do</strong>mínio não dissimula<br />
os outros prédios das imediações.<br />
Esta<strong>do</strong>, junho 2005<br />
Folder<br />
O espaço reserva<strong>do</strong> à área central – ágora <strong>do</strong>s<br />
novos tempos – e sua vegetação protética<br />
Esta<strong>do</strong><br />
A versão contemporânea das cidades-jardim e <strong>do</strong>s<br />
Grandes Boulevards, agora em versão campestre. Uma ilha de<br />
tranqüilidade cercada de campos de golf por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s<br />
17
O privilégio de ter o Parque Ibirapuera<br />
como “extensão natural <strong>do</strong> seu jardim”<br />
Exemplo de uma cosmologia na qual<br />
a hierofania <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> parece delinear-se<br />
Considerações finais<br />
Folder<br />
Esta<strong>do</strong>, junho 2005<br />
Procurou-se por meio deste trabalho, flagrar a representação<br />
da natureza no merca<strong>do</strong> imobiliário da cidade, procuran<strong>do</strong>se<br />
equacionar a maneira como ela é reposta, recuperada e<br />
resignificada por meio de um certo caráter sagra<strong>do</strong> que adquirem<br />
essas imagens de natureza, passan<strong>do</strong> pela estética <strong>do</strong> belo e <strong>do</strong><br />
sublime. Ainda que tenha havi<strong>do</strong> uma diminuição dessa dimensão<br />
<strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, este parece manifestar-se em novas morfologias.<br />
Delinea<strong>do</strong> o discurso de louvação da natureza no imaginário<br />
e na representação contemporânea, ainda se deveria investigar<br />
mais especificamente o que é sobranceiro nessa iconografia. Na<br />
construção das imagens <strong>do</strong>s anúncios publicitários, particularizada<br />
no segmento <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s imóveis de alto padrão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
imobiliário paulistano, verifica-se o discurso de preservação da<br />
natureza inerente a esse merca<strong>do</strong>, onde a natureza é vista como<br />
um “bem” e a merca<strong>do</strong>ria é tanto mais valorizada quanto maior<br />
for a sua proximidade das praças e parques, questionan<strong>do</strong>-se<br />
a relação existente entre os compra<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s imóveis de altopadrão<br />
– uma classe privilegiada –, e a construção de uma nova<br />
espacialidade na representação <strong>do</strong>s lugares e na apropriação<br />
dessa nova dimensão <strong>do</strong> espaço por meio de uma veneração da<br />
fronteira verde.<br />
Como salienta Harrison, “se a história ocidental odeia as<br />
florestas” – as folhagens obstruíam a vista para o céu, segun<strong>do</strong><br />
a intuição de Vico – “é porque, ao menos desde os gregos e os<br />
romanos, nós fomos uma civilização de a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>res <strong>do</strong> céu, filhos<br />
de um pai celeste. Lá, onde a divindade foi identificada ao céu ou<br />
à geometria eterna das estrelas, à infinitude cosmológica ou aos<br />
céus, as florestas tornaram-se profanas, pois elas escondem a<br />
visão de Deus” (1992: 24).<br />
Na contemporaneidade, postula-se a reposição dessas<br />
florestas. Ainda que inicialmente a sua profanação tenha nos<br />
ofereci<strong>do</strong> a visão de Deus, ela não pode prosseguir em sua sanha<br />
destrutiva, consubstanciada numa imprudente afronta à natureza<br />
que terminará por reverberar em toda a vida planetária.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
AUMONT, Jacques. A Imagem. Campinas: Papirus, 1993.<br />
BAXANDALL, Michael. O Olhar Renascente: pintura e<br />
experiência social na Itália da Renascença. Rio de Janeiro: Paz<br />
e Terra, 1991.<br />
BERGER, Peter L. (1967) El <strong>do</strong>sel sagra<strong>do</strong>: Elementos para<br />
una sociología de la religión. Buenos Aires: Amorrortu editores,<br />
1971.<br />
BRESCIANI, Maria Stella. “Melhoramentos entre intervenções e<br />
projetos estéticos: São Paulo (1850-1950)”. In: BRESCIANI, Maria<br />
Stella (org.). Palavras da Cidade. Porto Alegre: UFRGS, 2001.<br />
BURKE, Peter. “A Nova História, Seu Passa<strong>do</strong> e Seu Futuro”.<br />
In: Peter Burke (org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas.<br />
São Paulo: Unesp, 1992.<br />
CERTEAU, Michel de. A Invenção <strong>do</strong> Cotidiano. São Paulo:<br />
Vozes, 2000.<br />
ELIADE, Mircea. (1957). O sagra<strong>do</strong> e o profano. São Paulo:<br />
Martins Fontes, 1992.<br />
______________. (1947). Le mythe de l’éternel retour. Paris :<br />
Gallimard, 1969.<br />
FERRAZ, José Carlos de Figueire<strong>do</strong>. São Paulo e seu futuro:<br />
antes que seja tarde demais. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro<br />
de Administração Municipal, 1976.<br />
FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa. São Paulo:<br />
Perspectiva, 1973.<br />
HARRISON, Robert. Forêts: essai sur l’imaginaire occidental.<br />
Paris: Flammarion, 1992.<br />
PIERUCCI, Antônio Flávio. “Secularização Segun<strong>do</strong> Max<br />
Weber”. In: SOUZA, Jessé (org.). A atualidade de Max Weber.<br />
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.<br />
SHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia<br />
das Letras, 1996.<br />
THOMAS, Keith. (1983) O homem e o mun<strong>do</strong> natural:<br />
mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-<br />
1800). São Paulo: Companhia das Letras, 1988.<br />
NoTAS<br />
A natureza na cidade: representações<br />
contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />
1- Docente <strong>do</strong> curso de Propaganda e Publicidade da FAMEC. Mestre<br />
em Multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp (2004).<br />
Trabalho apresenta<strong>do</strong> no X Encontro da SOCINE – Ouro Preto, MG – 18<br />
a 21 de outubro de 2006.<br />
18
ESumo<br />
<strong>Di</strong>ante <strong>do</strong> atual interesse no meio acadêmico e gerencial<br />
sobre a Liderança Servi<strong>do</strong>ra, o presente artigo visa apresentar<br />
os conceitos principais de liderança e esclarecer <strong>do</strong> que se trata<br />
esse tema emergente.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />
Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />
Liderança servi<strong>do</strong>ra, gestão, organizações, ética e valores,<br />
responsabilidade social.<br />
ABSTrACT<br />
Due to present interest about Servant-Leadership in academic<br />
and management spheres, the aim of this article is to present the<br />
mains concepts of leadership and clear up what is about this<br />
emerging theme.<br />
KEYworDS:<br />
Dr. João Pinheiro de Barros Neto 1<br />
Servant leadership, management, organizations, ethics and<br />
values, social responsibility.<br />
19
introdução<br />
Começa a surgir no Brasil um novo conceito de liderança que<br />
aos poucos vem despertan<strong>do</strong> não só o interesse <strong>do</strong> managment<br />
nacional, mas também <strong>do</strong>s Administra<strong>do</strong>res e teóricos da<br />
administração. Este interesse foi aumenta<strong>do</strong> com os livros de<br />
James C. Hunter (2004a; 2004b), “O Monge e o Executivo” e<br />
“The World’s Most Powerful Leadership Principle”, que estão<br />
divulgan<strong>do</strong> o que se convencionou chamar de Liderança<br />
Servi<strong>do</strong>ra.<br />
Em edição recente, uma reportagem de capa da revista Você<br />
S/A (LACERDA, 2005) trouxe o assunto agora também ao grande<br />
público e estudantes, que de forma geral já têm começa<strong>do</strong> a<br />
procurar maiores informações para se iniciarem no tema. Assim,<br />
neste artigo, procuraremos oferecer uma visão geral sobre esse<br />
novo tema de forma a atualizar os interessa<strong>do</strong>s, bem como<br />
sugerir alguma bibliografia, uma vez que títulos sobre o assunto<br />
no Brasil ainda são escassos.<br />
Liderança<br />
De maneira simples e bastante geral, podemos dizer que<br />
liderar é conseguir que a pessoa ou pessoas certas façam as<br />
coisas certas na hora certa da maneira certa, condição essencial<br />
para administrar com sucesso (BARROS NETO, 2002).<br />
Dessa forma, liderança tem a ver com conduzir as pessoas<br />
rumo aos objetivos e assim, entendemos liderança sob diversas<br />
dimensões e dentro de várias perspectivas: como qualidades<br />
pessoais, como uma função ligada à autoridade recebida da<br />
organização formal, como um conjunto de atitudes em uma<br />
situação específica, como um comportamento contingencial,<br />
dentre outras.<br />
Naturalmente que a liderança só pode existir em um contexto<br />
grupal, ou seja, é condição para se verificar liderança que exista<br />
um indivíduo interagin<strong>do</strong> com um grupo, ou no mínimo com outro<br />
indivíduo e, por conseguinte, alguém só é reconheci<strong>do</strong> como<br />
líder a partir <strong>do</strong> momento em que outro ou outros o percebam<br />
como capaz de satisfazer alguma necessidade ou pelo menos<br />
como possui<strong>do</strong>r de qualidades que potencialmente possam ser<br />
utilizadas para atender expectativas <strong>do</strong>s lidera<strong>do</strong>s.<br />
É importante ressaltar que liderança e poder são <strong>do</strong>is<br />
conceitos muito próximos, porém diferentes, pois, uma vez que<br />
o líder está sempre interagin<strong>do</strong> com outras pessoas, moldan<strong>do</strong>lhes<br />
ou alteran<strong>do</strong>-lhes o comportamento, exercen<strong>do</strong> influência,<br />
ele tem poder, entendi<strong>do</strong> como a capacidade ou potencial de<br />
influenciar a maneira de outro agir. Esse poder, entretanto, pode<br />
ou não ser concretiza<strong>do</strong>, uma vez que é prerrogativa <strong>do</strong> líder<br />
exercê-lo em sua plenitude (BARROS NETO, 2002).<br />
Quan<strong>do</strong> uma organização <strong>do</strong>ta alguém de poder, ela o<br />
está investin<strong>do</strong> de autoridade, que é o poder legítimo uma vez<br />
que foi socialmente reconheci<strong>do</strong> e aceito. É bom ressaltar no<br />
entanto, que muitas vezes a pessoa, em virtude de seu papel na<br />
organização, tem autoridade e poder, mas não tem a liderança<br />
de fato, que pode estar sen<strong>do</strong> exercida por um líder informal. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> líder tem poder, mesmo que esse poder não seja<br />
reconheci<strong>do</strong> e aceito formalmente.<br />
Por esse caráter, até certo ponto incontrolável da liderança, é<br />
que ela é tão estudada e discutida pelos teóricos da Administração.<br />
As empresas podem <strong>do</strong>tar alguns de seus emprega<strong>do</strong>s de<br />
autoridade e, portanto, de poder, mas nem sempre os líderes são<br />
aqueles que ela gostaria que fossem. As organizações escolhem<br />
e designam gerentes, chefes, supervisores investin<strong>do</strong>-os de<br />
cargos que representam autoridade, mas a liderança deve ser<br />
conquistada por cada um desses emprega<strong>do</strong>s seleciona<strong>do</strong>s e<br />
Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />
Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />
muitos deles não conseguem isso, mostran<strong>do</strong> que a liderança<br />
é independente da vontade da organização e de seu poder<br />
legalmente reconheci<strong>do</strong>.<br />
Há várias teorias que tentam explicar a liderança. Por exemplo,<br />
a teoria de traços de personalidade parte <strong>do</strong> pressuposto que<br />
algumas pessoas possuem uma combinação especial de<br />
qualidades e características pessoais, que as distinguem das<br />
outras, tais como: inteligência, decisão, percepção, empatia,<br />
raciocínio rápi<strong>do</strong>, presença de espírito, perseverança, aparência<br />
física, flexibilidade, agressividade e outras que as levariam<br />
naturalmente à liderança de seu grupo. O problema é que até hoje<br />
nenhuma teoria conseguiu explicar completamente o fenômeno<br />
da Liderança em sua plenitude, por isso, de tempos em tempos,<br />
surgem autores com novas perspectivas sobre o assunto, como<br />
é o caso da Liderança Servi<strong>do</strong>ra no momento.<br />
Liderança Servi<strong>do</strong>ra<br />
O termo Liderança Servi<strong>do</strong>ra (Servant-Ladership) foi usa<strong>do</strong><br />
pela primeira vez em 1970, em um hoje clássico ensaio de Robert<br />
K. Greenleaf cujo título é “The Servant as Leader” (GREENLEAF,<br />
1998, P. 3). Transcrevemos abaixo como o próprio Greenleaf<br />
definiu a Liderança Servi<strong>do</strong>ra no menciona<strong>do</strong> artigo.<br />
The servant-leader is servant-first. It begins with the natural<br />
feeling that one wants to serve. Then conscious choice brings<br />
one to aspire to lead. The best test is: <strong>do</strong> those served grow as<br />
persons; <strong>do</strong> they, while being served, become healthier, wiser,<br />
freer, more autonomous, more likely themselves to become<br />
servants? Robert K. Greenleaf, The Servant as Leader, 1970<br />
(apud GREENLEAF, 1998, p. 1).<br />
Segun<strong>do</strong> a Liderança Servi<strong>do</strong>ra, liderar significa servir.<br />
Isto pode parecer estranho em um primeiro momento, pois<br />
associamos sempre a liderança com o poder de mandar e de se<br />
fazer obedecer, mas como vimos no tópico anterior, a liderança<br />
tem muitas dimensões e o poder é apenas um deles.<br />
A definição <strong>do</strong> cria<strong>do</strong> <strong>do</strong> conceito de Liderança Servi<strong>do</strong>ra<br />
deixa bem claro que o Líder Servo tem a preocupação primeira de<br />
servir, no senti<strong>do</strong> de ajudar as pessoas a se tornarem melhores,<br />
a alcançarem plenamente seu potencial. O resulta<strong>do</strong> são novos<br />
líderes servos.<br />
Na Liderança Servi<strong>do</strong>ra o foco não está no líder como<br />
estamos acostuma<strong>do</strong>s a ver, ou seja, não existe culto a<br />
personalidade, grandes feitos, heróis quase míticos, salva<strong>do</strong>res<br />
da pátria, mas gente comum, com um forte desejo de servir aos<br />
seus semelhantes para que to<strong>do</strong>s cresçam juntos e, com isso,<br />
conseguir um mun<strong>do</strong> melhor.<br />
A Liderança Servi<strong>do</strong>ra é uma questão de escolha, de escolher<br />
servir à humanidade. Pode até parecer meio espiritual e não<br />
deixa de ser mesmo, pois essa é uma Liderança que transcende<br />
o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios, que se fundamenta no que há de melhor<br />
nas pessoas. Ao contrário da liderança como o senso comum a<br />
concebe, cheia de privilégios <strong>do</strong> status, <strong>do</strong> cargo ou da função<br />
e de recompensas materiais, a Liderança Servi<strong>do</strong>ra prima pelo<br />
sacrifício, pela humildade, pelo reconhecimento de que o líder<br />
só é importante na medida em que contribui para o crescimento<br />
<strong>do</strong>s lidera<strong>do</strong>s, se assim podemos chamar os que seguem um<br />
Líder Servi<strong>do</strong>r.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, uma das principais características <strong>do</strong> Líder<br />
Servo é a capacidade de persuadir, de procurar sempre convencer<br />
e nunca coagir ou constranger ninguém. A verdadeira Liderança<br />
Servi<strong>do</strong>ra está baseada na capacidade de influenciar pessoas a<br />
20
agir por meio da persuasão. Quan<strong>do</strong> mandamos, determinamos<br />
ou obrigamos alguém a fazer alguma coisa, não estamos<br />
lideran<strong>do</strong>, embora até consigamos resulta<strong>do</strong>s. Nessa situação<br />
estamos apenas ignoran<strong>do</strong> completamente a alma e o espírito<br />
das pessoas, ou seja a paixão e, dessa forma, deliberadamente<br />
excluímos o melhor de cada um.<br />
Há uma grande vantagem em usar a persuasão ao invés de<br />
qualquer outro meio para se conseguir alguma coisa. Essa idéia<br />
é antiga e vem desde os tempos da civilização helênica, afinal,<br />
era assim que Sócrates 2 (c.470-399 a.C.) costumava agir com<br />
seus interlocutores e discípulos, conforme podemos observar no<br />
texto abaixo de Xenofonte 3 .<br />
De mim, penso que os que praticam a sabe<strong>do</strong>ria e se julgam<br />
capazes de dar conselhos úteis a seus concidadãos de mo<strong>do</strong><br />
algum são violentos, posto saberem que a violência instiga o<br />
ódio e acarreta perigo, enquanto a persuasão elimina os riscos<br />
e não prejudica a perfeição. Com efeito, o homem a quem<br />
coagimos nos odeia como se o tivéssemos prejudica<strong>do</strong>. Aquele<br />
a quem persuadimos nos preza como se lhe tivéssemos feito<br />
um benefício. Não <strong>do</strong>s que praticam a sabe<strong>do</strong>ria, pois; é própria<br />
a violência, porém, <strong>do</strong>s que têm força mas não têm razão.<br />
Além <strong>do</strong> que, na violência hão mister numerosos auxiliares.<br />
Para persuadir não se precisa de ninguém: sozinho pode-se<br />
convencer. Além disso, jamais tais homens mancharam a mão<br />
de sangue. Quem preferiria matar seu semelhante a deixá-lo<br />
viver e lhe ser útil pela persuasão? (XENOFONTE, <strong>Di</strong>tos e feitos<br />
memoráveis de Sócrates, apud PESSANHA, 1999, p. 86-87).<br />
<strong>Di</strong>ante <strong>do</strong> exposto até agora, poderíamos dizer que o<br />
conceito de líderes e lidera<strong>do</strong>s perde senti<strong>do</strong> diante da Liderança<br />
Servi<strong>do</strong>ra. Teríamos talvez “ensinantes” e “aprendentes”, termos<br />
mais adequa<strong>do</strong>s para expressar uma relação de crescimento<br />
mútuo e não de subordinação, como nos vem à mente quan<strong>do</strong><br />
falamos de líderes e lidera<strong>do</strong>s. Ensinante e Aprendente são<br />
termos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> espanhol e fazem senti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o “lócus”<br />
são os novos espaços <strong>do</strong> conhecimento.<br />
Ensinante refere-se aquele que ensina continuamente, por<br />
força de sua expertise, não depende de títulos, diplomas ou<br />
formação específica (lembremo-nos de Jesus Cristo, o maior<br />
<strong>do</strong>s líderes e que continua a nos ensinar até hoje) e aprendente<br />
é aquele que está disposto a aprender de coração aberto,<br />
portanto, conceitos, a nosso ver, muito mais sintoniza<strong>do</strong>s com<br />
os princípios e fundamentos da Liderança Servi<strong>do</strong>ra.<br />
É difícil dizer se a Liderança Servi<strong>do</strong>ra constitui uma nova<br />
teoria de liderança, até porque, apesar de já contar mais de 35<br />
anos desde que Greenleaf cunhou o termo, só agora começa a<br />
atingir o grande público e ganhar a atenção de pesquisa<strong>do</strong>res.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, Rooke e Torbert (2004, p. 47) definiram, antes de<br />
teorias, filosofias ou estilos de liderança, um conceito de “lógica<br />
de ação” que consiste na maneira como o líder “interpreta o<br />
entorno e reage quan<strong>do</strong> seu poder ou segurança são ameaça<strong>do</strong>s”.<br />
Os autores identificaram sete lógicas de ação, conforme tabela<br />
1 seguinte.<br />
Tabela 1: Sete maneiras de Liderar<br />
Lógica de Ação Características<br />
Oportunista<br />
<strong>Di</strong>plomata<br />
Especialista<br />
Realiza<strong>do</strong>ra<br />
Individualista<br />
Estrategista<br />
Alquimista<br />
Fonte: adapta<strong>do</strong> de Rooke e Torbert, 2004, p. 47.<br />
Segun<strong>do</strong> os autores, conhecer o próprio estilo de liderança<br />
é o primeiro passo para desenvolver e praticar uma lógica mais<br />
eficaz. Na amostra de líderes que estudaram, descobriram que<br />
5% são oportunistas, 12% diplomatas, 38% especialistas , 30<br />
% realiza<strong>do</strong>res, 10% individualistas, 4% estrategistas e apenas<br />
1% alquimistas. Nesse modelo, a lógica mais completa é a <strong>do</strong><br />
alquimista, a que to<strong>do</strong>s devem buscar alcançar.<br />
Embora não caiba no escopo deste artigo, não podemos<br />
deixar de imaginar como a lógica <strong>do</strong> Líder Servo se encaixa<br />
no modelo de Rooke e Torbert. Talvez, dentre os alquimistas<br />
representem 1% ou 0,01% da amostra total. É uma questão que<br />
deixamos em aberto para aqueles leitores que se interessarem<br />
em pesquisar mais profundamente sobre Liderança Servi<strong>do</strong>ra,<br />
agora que têm uma visão geral <strong>do</strong> tema.<br />
Conclusão<br />
Busca sempre um jeito<br />
de vencer. Auto-orienta<strong>do</strong>,<br />
manipula<strong>do</strong>r, faz valer<br />
a vontade pela força.<br />
Evita o conflito aberto.<br />
Quer pertencer a algo,<br />
obedece a normas <strong>do</strong> grupo,<br />
raramente sacode o barco.<br />
Comanda pela lógica e pela<br />
tarimba. Busca eficiência<br />
racional.<br />
Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />
Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />
Cumpre metas estratégicas.<br />
É eficaz em cumprir metas<br />
por meio de equipes. Equilibra<br />
deveres gerenciais e demandas<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />
Entrelaça lógicas de ação<br />
pessoais e organizacionais<br />
conflitantes. Cria estruturas<br />
singulares para preencher<br />
lacunas entre estratégia<br />
e desempenho.<br />
Gera transformações<br />
organizacionais e pessoais.<br />
Exerce o poder <strong>do</strong><br />
questionamento mútuo, da<br />
vigilância e da vulnerabilidade<br />
a curto e longo prazos.<br />
Gera transformação social.<br />
Integra transformação, <strong>material</strong>,<br />
espiritual e social.<br />
Pontos Fortes<br />
Bom em emergências<br />
e oportunidades de<br />
vendas.<br />
Bom como<br />
argamassa social<br />
no trabalho. Ajuda a<br />
aglutinar as pessoas.<br />
Bom na contribuição<br />
individual.<br />
Adequa<strong>do</strong> a papéis<br />
gerenciais. Volta<strong>do</strong><br />
à ação e a metas.<br />
Eficaz em papéis<br />
empreende<strong>do</strong>res<br />
e de consultoria.<br />
Eficaz como líder<br />
de transformações.<br />
Bom para<br />
transformações de<br />
alcance social.<br />
Embora o interesse pela Liderança Servi<strong>do</strong>ra tenha<br />
recrudesci<strong>do</strong> com as obras recentes de alguns autores, o tema já<br />
existe há mais de 35 anos, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> inicialmente<br />
por Robert. K. Greenleaf, um alto executivo da área de treinamento<br />
da multinacional norte-americana AT&T.<br />
Consideran<strong>do</strong> as grandes transformações por que passam a<br />
humanidade e a consciência geral de que liderar é um fenômeno<br />
extremamente importante, que transcende o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
negócios e pode mesmo influir no futuro da espécie humana e<br />
<strong>do</strong> planeta, é de se supor que só tenda a crescer o interesse e<br />
as pesquisas sobre a Liderança Servi<strong>do</strong>ra. Esperamos que este<br />
artigo contribuía para isto.<br />
21
EFErêNCiAS:<br />
GREENLEAF, Robert K. The power of servant leadership. San<br />
Francisco/USA: Berret-Koehler Publishers, Inc, 1998.<br />
HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história<br />
sobre a essência da liderança. São Paulo: Sextante, 2004.<br />
HUNTER, James C. The world’s most powerful leadership<br />
principle: how to become a servant leader. Waterbrk, 2004.<br />
LACERDA, Daniela. O líder espiritualiza<strong>do</strong>: ele é ético, acredita<br />
que sua missão é servir aos outros e ganha cada vez mais força<br />
nas organizações. Você S/A, ed. 82, p. 22-30, 28 abr. 2005.<br />
PESSANHA, José Américo Mota (org.). Sócrates: vida e obra.<br />
Os pensa<strong>do</strong>res. São Paulo: Nova Cultural, 1999.<br />
ROOKE, David; TORBERT, William R. 7 transformações da<br />
liderança. Harvard Business Review, Chile, Harvard Business<br />
School, Impact Media, abr. 2005. p. 44-54.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
COSTA, José Eduar<strong>do</strong>. A cruzada da IBM: gigante da<br />
tecnologia quer que seus 350.000 funcionários sigam princípios,<br />
não regras. Você S/A, ed. 82, p. 36-9, 28 abr. 2005.<br />
GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL. São<br />
Paulo: Nova Cultural, 1998.<br />
GREENLEAF, Robert K. Servant leadership: a journey into the<br />
nature of legitimate power and greatness. Paulist Press, 2002.<br />
GUSMÃO, Marcos. Aprenda a servir: para sua liderança ficar<br />
realmente a serviço <strong>do</strong> seu time comece fazen<strong>do</strong> duas perguntas:<br />
a quem eu sirvo e com que objetivo? Você S/A, ed. 82, p. 32-5,<br />
28 abr. 2005.<br />
HUNTER, James C. The servant: a simple story about the true<br />
essence of leadership. Paulist Press, 2002.<br />
NOVA ENCICLOPEDIA ILUSTRADA FOLHA. São Paulo:<br />
Empresa Folha da Manhã, 1996. 2v.<br />
NoTAS<br />
Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />
Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />
1- João Pinheiro de Barros Neto, foi coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Curso de<br />
Administração da FAAC/FAMEC (até 06/2006), é Doutor em Sociologia<br />
e Mestre em Administração pela PUC/SP, especialista em Administração<br />
da Produção e Operações Industriais pela FGV/SP e Bacharel em<br />
Administração com habilitação em Comércio Exterior pela FASP. É<br />
também professor em cursos de Graduação e pós-graduação em<br />
Administração. Tem diversos artigos e livros publica<strong>do</strong>s, dentre os quais<br />
destacam-se “Teorias da Administração” pela Qualitymark Editora,<br />
“Administração Pública no Brasil”, pela Annablume e, com outros autores,<br />
“Regulação Pública da Economia no Brasil” pela Edicamp e “Liderança:<br />
Uma Questão de Competência, pela Saraiva”. Desde 1986 trabalha na<br />
Administração Pública Federal, onde já exerceu diversas funções de<br />
liderança e desenvolvimento/implementação de projetos. Foi membro da<br />
Banca Examina<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Prêmio Nacional da Qualidade - PNQ ciclo 2002<br />
e 2004, <strong>do</strong> Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão - PPQG nos Ciclos<br />
2002, 2003 e 2005 e <strong>do</strong> Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF nos<br />
ciclos 2005 e 2006.<br />
2- Filósofo grego, não deixou obra escrita. Seus ensinamentos chegaram<br />
até nós principalmente pelos escritos de Platão e textos de Xenofonte.<br />
Ele praticava a filosofia pelo méto<strong>do</strong> que chamou de dialético, fazen<strong>do</strong><br />
perguntas e submeten<strong>do</strong> as respostas a uma análise acurada e a contraargumentações.<br />
Ele afirmava que não possuía as respostas a essas<br />
questões e que apenas reconhecia sua própria ignorância, porém, tal<br />
reconhecimento, segun<strong>do</strong> ele, era justamente o pré-requisito para a<br />
verdadeira sabe<strong>do</strong>ria (NOVA ENCICLOPEDIA ILUSTRADA FOLHA,<br />
1996).<br />
3- Escritor grego, nasceu por volta de 430 a.C e conheceu Sócrates,<br />
tornan<strong>do</strong>-se seu admira<strong>do</strong>r. Sua “Apologia” é inspirada em Sócrates.<br />
Também foi general das tropas de mercenários de Ciro e, por ter servi<strong>do</strong><br />
ao rei espartano Agesilau, teve seus bens confisca<strong>do</strong>s e foi exila<strong>do</strong> (NOVA<br />
ENCICLOPEDIA ILUSTRADA FOLHA, 1996).<br />
22
ESumo<br />
Este artigo objetiva induzir a uma discussão sobre a reciclagem<br />
de alumínio e seus impactos econômicos e sociais.<br />
O que é reciclagem e mais especificamente o que é o<br />
alumínio recicla<strong>do</strong>? Como é a atuação <strong>do</strong> Brasil nos merca<strong>do</strong>s<br />
internacionais?<br />
A reciclagem de alumínio é capaz de gerar uma economia de<br />
até noventa e cinco porcento na utilização de energia, mas por<br />
quais motivações as organizações por quais motivos as empresa<br />
passaram a preocupar-se com suas atividades produtivas e seus<br />
efeitos na sociedade e no meio ambiente?<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Reciclagem de alumínio –<br />
Impactos econômicos e sociais.<br />
Reciclagem, Alumínio, Alumínio Recicla<strong>do</strong>, Economia.<br />
ABSTrACT<br />
This article’s main objective is to discuss about to the recycle<br />
aluminum and the economics and social impacts.<br />
What’s recycled and most specifically what’s recycled<br />
aluminum? How the atuation of Brazil in the international<br />
markets?<br />
The recycling of aluminum can be produce a economy till the<br />
ninety-five per cent to the use of energy, but what the motivations<br />
the organizations passed to care with theirs productive activities<br />
and effects in the society and the environment?<br />
KEYworDS:<br />
Marcia Regina Konrad 1<br />
Recyclied, Aluminum, Recycled Aluminum, Economy.<br />
23
introdução<br />
A reciclagem <strong>do</strong> alumínio evita despesas nas fases de<br />
transformação de extração e redução <strong>do</strong> minério a metal, que<br />
além de requerer alto consumo energético exige uma logística<br />
extremamente onerosa, já que há a exigência de grande escala<br />
no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />
O Brasil é responsável pela exportação de aproximadamente<br />
quarenta porcento de sua produção total de aço, o que é um<br />
número bastante considerável, já que esse número gira em torno<br />
de cento e trinta e <strong>do</strong>is milhões de dólares previstos para 2006.<br />
A reciclagem <strong>do</strong> alumínio é capaz de gerar uma economia<br />
de até noventa e cinco porcento na utilização de energia e as<br />
empresas passaram a preocupar-se com a atividade produtiva e<br />
suas conseqüências na sociedade e no meio ambiente. O bom<br />
uso das matérias-primas e o cuida<strong>do</strong> com os detritos gera<strong>do</strong>s pela<br />
produção, entre outros itens, passaram a ser cuida<strong>do</strong>samente<br />
observa<strong>do</strong>s para que haja a diminuição de desperdícios, redução<br />
de custos e, ao mesmo tempo, a manutenção da sustentabilidade<br />
<strong>do</strong> negócio, como no caso da reciclagem das latas de alumínio.<br />
Ao longo desta discussão proposta sobre o tema da reciclagem<br />
<strong>do</strong> alumínio, será conceitualiza<strong>do</strong> o termo reciclagem, desde sua<br />
origem até sua incorporação a linguagem usual e sua importância,<br />
não só econômica, como também ecológica e social.<br />
A reciclagem de metais introduz ao leitor a visão deste grupo<br />
e sua utilização, enquanto o tema será aprofunda<strong>do</strong> no decorrer<br />
da discussão sobre o alumínio, sua reciclagem, o merca<strong>do</strong> de<br />
alumínio recicla<strong>do</strong> e seus impactos através de projetos sociais.<br />
reciclagem<br />
Reciclagem é o termo amplamente utiliza<strong>do</strong> para designar<br />
um conjunto de técnicas que objetivam aproveitar e reutilizar, da<br />
melhor e maior quantidade de maneiras possíveis, os detritos,<br />
fazen<strong>do</strong> com que estes retornem ao ciclo de produção <strong>do</strong> qual<br />
saíram.<br />
A reciclagem é resulta<strong>do</strong> de uma série de atividades, as<br />
quais, materiais que seriam simplesmente ti<strong>do</strong>s como lixo, ou por<br />
estarem em espera para serem envia<strong>do</strong>s ao lixo, são coleta<strong>do</strong>s ou<br />
“recoleta<strong>do</strong>s”, reavalia<strong>do</strong>s, separa<strong>do</strong>s e processa<strong>do</strong>s para que<br />
sejam utiliza<strong>do</strong>s como matéria-prima na manufatura de novos<br />
produtos. A reciclagem é tida como uma das etapas essenciais<br />
na política de gestão <strong>do</strong>s resíduos sóli<strong>do</strong>s, afora as técnicas de<br />
redução na fonte e reutilização (TEIXEIRA & ZANIN, 1999).<br />
As indústrias de reciclagem são também denominadas<br />
secundárias, por processarem matéria-prima de recuperação. Na<br />
maior parte <strong>do</strong>s processos, o produto recicla<strong>do</strong> é completamente<br />
diferente <strong>do</strong> produto inicial, mas existem casos em que a<br />
reciclagem não modifica as características químico-físicas de<br />
determina<strong>do</strong> <strong>material</strong>, o que possibilita seu uso exatamente para<br />
exercer a mesma função de sua produção primária.<br />
A importância da reciclagem<br />
A sociedade urbana atual produz diariamente, em média,<br />
cinco quilogramas de lixo, o que torna assusta<strong>do</strong>ra a especulação<br />
da quantidade da produção mundial. Somente no Brasil há a<br />
produção de duzentas e quarenta mil toneladas de lixo por dia.<br />
Uma das principais causas para o acúmulo de lixo no ambiente<br />
é o incontrolável crescimento populacional verifica<strong>do</strong> nos últimos<br />
séculos (DREW, 1998). Com o aumento <strong>do</strong> poder aquisitivo da<br />
população e dependen<strong>do</strong> de seu perfil de consumo, tanto maior<br />
é o aumento da quantidade de lixo produzi<strong>do</strong> diariamente.<br />
Reciclagem de alumínio –<br />
Impactos econômicos e sociais.<br />
Apesar <strong>do</strong> lixo ter sua fabricação a partir de recursos naturais,<br />
grande parcela deste não é passível de degradação natural pela<br />
natureza em um tempo relativamente curto, devi<strong>do</strong> ao alto grau<br />
de transformações e processamentos a que as matérias primas<br />
foram submetidas e à grande quantidade gerada (FIGUEIREDO,<br />
1995; PEREIRA-NETO, 1999).<br />
O que torna o índice de reciclagem no Brasil tão baixo é além<br />
da falta de informação e incentivo, o custo deste processo, já<br />
que reciclar contabiliza um custo quinze vezes mais caro <strong>do</strong> que<br />
simplesmente jogar o lixo em aterros.<br />
Através da reciclagem há a economia de energia e matériasprimas,<br />
bem como a geração de menos quantidade de poluentes<br />
<strong>do</strong> ar, da água e <strong>do</strong> solo. Com a aquisição <strong>do</strong> hábito da seletividade<br />
<strong>do</strong> lixo, há conseqüente melhora da limpeza pública, diminuição<br />
<strong>do</strong> acúmulo de lixo a ser despeja<strong>do</strong> nos aterros sanitários, maior<br />
geração de renda através da comercialização <strong>do</strong>s recicláveis, já<br />
que o desperdício é diminuí<strong>do</strong> e conseqüentemente há maior<br />
geração de empregos e responsabilidade com o lixo gera<strong>do</strong><br />
(CALDERONI, 2003; CHERMONT, 1996; PEREIRA-NETO, 1999;<br />
VILHENA, 1999).<br />
reciclagem de metais<br />
No merca<strong>do</strong> de reciclagem os tipos de <strong>material</strong> que tem<br />
maior remuneração por sua coleta são os metais, que por terem<br />
alta durabilidade e resistência mecânica e apresentarem alta<br />
conformação, são bastante utiliza<strong>do</strong>s no fabrico de equipamentos,<br />
embalagens em geral e equipamentos.<br />
Os metais são classifica<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> suas características<br />
físico-químicas, o que os faz pertencentes a <strong>do</strong>is grandes<br />
grupos, os ferrosos, compostos basicamente de ferro e aço,<br />
e os não-ferrosos. Na reciclagem, essa classificação também<br />
é empregada pela grande pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s metais à<br />
base de ferro e aço.<br />
Entre os metais não-ferrosos, destacam-se o alumínio, o<br />
cobre e suas ligas, como latão e o bronze, o chumbo, o níquel<br />
e o zinco. Tanto o zinco quanto o níquel, soma<strong>do</strong>s ao cromo e<br />
ao estanho, são amplamente utiliza<strong>do</strong>s na forma de ligas com<br />
outros metais, ou como revestimento deposita<strong>do</strong> sobre metais,<br />
como, por exemplo, o aço.<br />
A reciclagem evita despesas das fases de transformação de<br />
extração e redução <strong>do</strong> minério a metal, que além de requerer alto<br />
consumo energético exige uma logística extremamente onerosa,<br />
já que há a exigência de grande escala no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />
Nem toda empresa que lida com a produção <strong>do</strong> aço dispõe<br />
<strong>do</strong> processo de redução, e justamente essas empresas são<br />
responsáveis por aproximadamente vinte porcento da produção<br />
nacional de aço. A sucata representa cerca de quarenta porcento<br />
<strong>do</strong> total de aço consumi<strong>do</strong> no País, valor bem próximo aos<br />
valores de consumo de outros países, como os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
onde o valor atinge cinqüenta porcento <strong>do</strong> total da produção.<br />
o Alumínio<br />
O alumínio não é encontra<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong> natural na natureza.<br />
Sua extração é conseguida de um minério chama<strong>do</strong> bauxita, que<br />
possui em si a alumina, e é através da eletrólise desta alumina<br />
que há a obtenção <strong>do</strong> alumínio. Para cada tonelada de alumínio<br />
são necessárias em média quatro toneladas de bauxita, o que<br />
após o processo de beneficiamento será suficiente para a<br />
produção de aproximadamente sessenta mil latas de alumínio<br />
com capacidade para trezentos e cinqüenta mililitros. Durante<br />
o processamento da bauxita é requerida a utilização de cerca<br />
24
de dezesseis mil quilowatts, o que equivale à mesma potência<br />
energética de mil e setecentos quilos de petróleo, para obter-se<br />
apenas uma tonelada de alumínio.<br />
A reciclagem <strong>do</strong> alumínio é capaz de gerar uma economia de<br />
até noventa e cinco porcento na utilização de energia, porém,<br />
desconsideran<strong>do</strong>-se a energia já consumida durante os processos<br />
de coletagem e separação <strong>do</strong> <strong>material</strong> a ser recicla<strong>do</strong>.<br />
Por ser um <strong>material</strong> leve quanto a seu peso, o alumínio<br />
apresenta inúmeras vantagens em sua utilização para<br />
embalagens de diversos tipos, o que também, de forma indireta,<br />
acaba por reduzir o gasto energético e financeiro com relação a<br />
seu transporte.<br />
Ainda há discussões consideráveis quanto à avaliação <strong>do</strong><br />
ciclo total de beneficiamento <strong>do</strong> alumínio em to<strong>do</strong>s os produtos<br />
em que ele é utiliza<strong>do</strong> e da também difícil avaliação <strong>do</strong> impacto<br />
ambiental oriun<strong>do</strong>s de sua utilização, já que as alterações nos<br />
processos são variáveis a serem consideradas.<br />
Um exemplo da dificuldade de mensuração e comparação<br />
quanto à questão das variáveis envolvidas no processo de<br />
produção de uma latinha de bebidas de trezentos e cinqüenta<br />
mililitros, é muito bem tipifica<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> comparamos os da<strong>do</strong>s<br />
de sua produção em diferentes países europeus, que beneficiam o<br />
alumínio de maneiras diferentes para obtenção <strong>do</strong> mesmo produto<br />
final. Consideran<strong>do</strong>-se que uma lata de bebidas será produzida<br />
na Inglaterra, com a utilização de alumínio que foi fundi<strong>do</strong> na<br />
Noruega, utilizan<strong>do</strong> energia gerada por fonte hidrelétrica, e que<br />
este alumínio possui laminação alemã, ao final <strong>do</strong> processo<br />
serão libera<strong>do</strong>s para a atmosfera cento e dez gramas de dióxi<strong>do</strong><br />
de carbono (CO2), o que é equivalente a seis toneladas e meia<br />
de CO2 por tonelada de alumínio beneficia<strong>do</strong>. Consideran<strong>do</strong>-se<br />
que a mesma lata foi produzida na Alemanha, com a utilização<br />
de carvão como sua fonte energética primária, a liberação de<br />
CO2 para a atmosfera é mais de duzentos e cinqüenta porcento<br />
maior, pois salta <strong>do</strong>s cento e dez gramas, da produção britânica,<br />
para duzentos e oitenta gramas na produção germânica, valor<br />
este que pode ser mais eleva<strong>do</strong>, se por acaso, o carvão utiliza<strong>do</strong><br />
for originário da Tchecoslováquia, que produz um carvão de mais<br />
baixa qualidade.<br />
o merca<strong>do</strong> de alumínio recicla<strong>do</strong><br />
As empresas passaram a preocupar-se com a atividade<br />
produtiva e suas conseqüências na sociedade e no meio<br />
ambiente. O bom uso das matérias-primas e o cuida<strong>do</strong> com os<br />
detritos gera<strong>do</strong>s pela produção, entre outros itens, passaram<br />
a ser cuida<strong>do</strong>samente observa<strong>do</strong>s para que haja a diminuição<br />
de desperdícios, redução de custos e, ao mesmo tempo, a<br />
manutenção da sustentabilidade <strong>do</strong> negócio, como no caso da<br />
reciclagem das latas de alumínio.<br />
Com um trabalho de conscientização que teve início em 1991,<br />
o Brasil detém atualmente a marca de noventa e seis porcento<br />
de reciclagem de suas latinhas de alumínio, o que lhe qualifica<br />
como o campeão mundial de reciclagem deste <strong>material</strong>, índice<br />
obti<strong>do</strong> apenas por haver um permanente trabalho de educação<br />
e conscientização, já que o ranking de reciclagem desse<br />
<strong>material</strong> inclui apenas países em que a prática da reciclagem<br />
não é obrigatória. Em um país que carece de bons exemplos, as<br />
empresas precisam fazer mais <strong>do</strong> que apenas pagar corretamente<br />
os impostos.<br />
Em São Paulo há mais de <strong>do</strong>is mil processa<strong>do</strong>res de sucatas<br />
ferrosas e não-ferrosas e movimenta por ano oitocentos e<br />
cinqüenta milhões de reais. Atualmente, um cata<strong>do</strong>r de latinhas<br />
de alumínio recebe na cidade até três reais e cinqüenta centavos<br />
Reciclagem de alumínio –<br />
Impactos econômicos e sociais.<br />
por cada quilo de sucata, o que corresponde a sessenta e sete<br />
latinhas, vinte porcento a mais que há um ano.<br />
Em 2005, de acor<strong>do</strong> com a Associação Brasileira <strong>do</strong> Alumínio,<br />
a Abal, e a Associação Brasileira <strong>do</strong>s Fabricantes de Latas de<br />
Alta Reciclabilidade, a Abralatas, foram recicladas no país cento<br />
e vinte uma mil e trezentas toneladas de latas de alumínio, o<br />
que equivale a nove bilhões de latas, e estas mesmas entidades<br />
calculam que o merca<strong>do</strong> de latas usadas no país movimenta<br />
cerca de quatrocentos e cinqüenta milhões de reais por ano.<br />
A partir da metade <strong>do</strong> ano de 2005, os preços da sucata de<br />
alumínio oscilaram de quatro reais o quilo para até cinco reais e<br />
noventa centavos. Na Lon<strong>do</strong>n Metal Exchange, LME, a tonelada<br />
<strong>do</strong> alumínio é negociada atualmente a <strong>do</strong>is mil e quatrocentos<br />
dólares, mas já alcançou níveis próximos <strong>do</strong>s três mil dólares.<br />
Na Inglaterra, cerca de quatrocentas mil toneladas <strong>do</strong> metal<br />
são recicladas por ano, sen<strong>do</strong> que a maior parte é composta<br />
por latinhas usadas como embalagens para bebidas. No Brasil<br />
o milheiro da lata de alumínio é vendi<strong>do</strong> entre setenta dólares e<br />
setenta e cinco dólares e o merca<strong>do</strong> mundial aponta a existência,<br />
ainda, de um desequilíbrio entre oferta e demanda. No caso <strong>do</strong><br />
alumínio, este desequilíbrio tem o volume estima<strong>do</strong> em cem mil<br />
toneladas até 2008, o que faz com que os lotes da sucata estejam<br />
entre os mais disputa<strong>do</strong>s nos leilões.<br />
A partir desta tendência há fundições antecipan<strong>do</strong> a compra<br />
de alumínio e de outras commodities não-ferrosas já que em<br />
conseqüência da tendência de maior subida <strong>do</strong>s preços. A<br />
ameaça de novos reajustes e de escassez <strong>do</strong>s resíduos aceleram<br />
a busca pela matéria-prima.<br />
O setor de reciclagem de latas de alumínio no Brasil levou a<br />
geração de um pólo industrial específico, situa<strong>do</strong> na cidade de<br />
Pindamonhangaba, no esta<strong>do</strong> de São Paulo. O pólo conta com<br />
três fundições de alumínio voltadas para reciclagem de latas.<br />
Orientadas por O.N.G.s e pela própria indústria, as<br />
cooperativas agregam valor à sucata, prensan<strong>do</strong> o <strong>material</strong>, que<br />
é revendi<strong>do</strong> às indústrias sem intermediários. Outros setores<br />
também viram a potencialidade da reciclagem <strong>do</strong> alumínio e<br />
cresceram. Estimula<strong>do</strong>s pela perspectiva de aliar a proteção<br />
ambiental à redução de taxas de con<strong>do</strong>mínio, ou oferta de<br />
benefícios aos funcionários, con<strong>do</strong>mínios e clubes coletaram,<br />
em 2002, dezesseis porcento das latas encaminhadas à<br />
indústria, contra dez porcento em 2000. Além deles, ganharam<br />
espaço supermerca<strong>do</strong>s, escolas e eventos. Já por outro la<strong>do</strong>,<br />
os tradicionais depósitos de sucata, que recolheram dezenove<br />
porcento das latinhas em 2000, reduziram sua participação para<br />
treze porcento em 2002. Apesar dessa redução os sucateiros<br />
ainda ocupam o terceiro lugar como meio de coleta de alumínio<br />
a ser encaminha<strong>do</strong> para reciclagem.<br />
Projetos sociais gera<strong>do</strong>s a partir da reciclagem de<br />
alumínio<br />
A sociedade brasileira precisa tomar consciência da importância<br />
social da reciclagem, pois esta é uma atividade que gera valor,<br />
trabalho e renda para pessoas sem qualificação profissional que<br />
obtém hoje em dia o sustento recolhen<strong>do</strong> embalagens vazias e<br />
as venden<strong>do</strong> para ferros-velhos, cooperativas e recicla<strong>do</strong>res.<br />
Segun<strong>do</strong> MESTRINER (2004, on-line), estu<strong>do</strong>s recentes<br />
indicam que o número de cata<strong>do</strong>res espalha<strong>do</strong>s pelo Brasil está<br />
quase alcançan<strong>do</strong> a casa <strong>do</strong> milhão de pessoas e esta atividade,<br />
impulsionada pelo trabalho de centenas de cooperativas,<br />
O.N.G.S. e entidades que procuram instrumentalizar e ajudar<br />
o seu desenvolvimento, vem ganhan<strong>do</strong> contornos bastante<br />
expressivos <strong>do</strong>s pontos de vista social, econômico e ambiental.<br />
25
Por outro la<strong>do</strong>, a indústria recicla<strong>do</strong>ra já está instalada e<br />
operante no país, e novas tecnologias surgem continuamente,<br />
mostran<strong>do</strong> que este é um segmento em franca ascensão.<br />
A reciclagem não é caracterizada apenas pela<br />
reindustrialização <strong>do</strong> alumínio já utiliza<strong>do</strong>, há um outro braço<br />
deste merca<strong>do</strong> que consome as latinhas antes mesmo de que<br />
sejam recicladas industrialmente. Muitos artesãos descobriram<br />
que podiam transformar as latinhas usadas em peças para<br />
decoração, moda e diversos outros fins.<br />
Em Riacho Fun<strong>do</strong>, uma cidade satélite a vinte quilometros de<br />
Brasília, um grupo de quarenta e sete mulheres criou a Associação<br />
Cia. <strong>do</strong> Lacre, uma cooperativa de artesãs que cria e vende<br />
produtos que utilizam lacres de latinhas de cerveja e refrigerante<br />
como matéria-prima. Com apoio <strong>do</strong> Sebrae, Serviço Brasileiro<br />
de Apoio à Pequena e Média Empresa, <strong>do</strong> <strong>Di</strong>strito Federal, as<br />
artesãs chegaram a exportar cento e sessenta bolsas para a<br />
Itália em 2005. Para a confecção de cada bolsa, que é vendida<br />
em média por quarenta reais, são utiliza<strong>do</strong>s aproximadamente<br />
quatrocentos e cinqüenta lacres. Um tapete utiliza em média dez<br />
mil lacres. A cooperativa adquire cerca de vinte quilos de lacres<br />
por mês, que é compra<strong>do</strong> da própria comunidade por cinco<br />
reais o quilo, o que corresponde a aproximadamente três mil e<br />
quatrocentas unidades.<br />
Artesãos individuais também transformam lacres de latinhas<br />
em objetos como miniaturas, cintos, gorros e outras infinidades de<br />
produtos. Especialistas no setor classificam o uso em trabalhos<br />
artesanais como um fim nobre para os lacres e latinhas.<br />
Conclusão<br />
A potencialidade da reciclagem <strong>do</strong> alumínio vem aquecen<strong>do</strong><br />
o merca<strong>do</strong> global e benefician<strong>do</strong> muito nosso merca<strong>do</strong><br />
interno, não só através de índices financeiros como também<br />
com elevação <strong>do</strong>s índices de inclusão social de pessoas sem<br />
qualificação profissional, que obtém hoje em dia o sustento<br />
recolhen<strong>do</strong> embalagens vazias e as venden<strong>do</strong> para ferrosvelhos,<br />
cooperativas e recicla<strong>do</strong>res, bem como transforman<strong>do</strong> o<br />
reciclável em peças decorativas.<br />
Através da reciclagem há a economia de energia e matériasprimas,<br />
bem como a geração de menos quantidade de poluentes<br />
<strong>do</strong> ar, da água e <strong>do</strong> solo, e há maior geração de renda através<br />
da comercialização <strong>do</strong> alumínio reciclável, já que o desperdício é<br />
diminuí<strong>do</strong> e conseqüentemente há maior geração de empregos,<br />
o que aquece a economia.<br />
No merca<strong>do</strong> de reciclagem os tipos de <strong>material</strong> que tem<br />
maior remuneração por sua coleta são os metais, que por terem<br />
alta durabilidade e resistência mecânica e apresentarem alta<br />
conformação, são bastante utiliza<strong>do</strong>s no fabrico de equipamentos,<br />
embalagens em geral e equipamentos, e dentre eles o alumínio<br />
tem papel de destaque, já que seu índice de reaproveitamento é<br />
de cem porcento.<br />
A sociedade brasileira precisa tomar consciência da<br />
importância social da reciclagem, pois esta é uma atividade<br />
que gera valor, trabalho e renda para pessoas sem qualificação<br />
profissional formal, pois é a partir destas atividades que são<br />
geradas suas rendas, através da coleta de embalagens vazias e<br />
suas vendas para ferros-velhos, cooperativas e recicla<strong>do</strong>res.<br />
A reciclagem não é caracterizada apenas pela reindustrialização<br />
<strong>do</strong> alumínio já utiliza<strong>do</strong>, há um outro braço deste merca<strong>do</strong> que<br />
consome as latinhas antes mesmo de que sejam recicladas<br />
industrialmente, onde artesãos descobriram que podiam<br />
transformar as latinhas usadas em peças para decoração, moda<br />
e diversos outros fins.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
BRANCO, S.M. & ROCHA, A.A. Elementos de Ciências <strong>do</strong><br />
Ambiente. São Paulo: CETESB/ASCETESB, 1987.<br />
CALDERONI, S. Os bilhões perdi<strong>do</strong>s no lixo. São Paulo:<br />
Humanitas/FFLCH/USP, 2003.<br />
CHERMONT, L.S. & MOTA, R.S. Aspectos econômicos da<br />
Gestão Integrada de resíduos sóli<strong>do</strong>s. Rio de Janeiro: IPA, 1996.<br />
DREW, D. Processos Interativos homem-ambiente. 4.ed. Rio<br />
de Janeiro: Bertrand Brasil,1998.<br />
GOV, Leonar<strong>do</strong>. Brasil já recicla 95% das latas de bebidas.<br />
2005. <strong>Di</strong>sponível em: . Acesso em 25 de março de<br />
2006.<br />
IPT/CEMPRE. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento<br />
Integra<strong>do</strong>. 2.ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000.<br />
MELLO, M.R. Limpeza urbana: administração e<br />
aproveitamento <strong>do</strong>s resíduos urbanos. Blumenau: Fundação<br />
Casa Dr. Blumenau, 1981.<br />
MESTRINER, Fábio. A importância social da reciclagem da<br />
embalagem. 2004. <strong>Di</strong>sponível em: . Acesso em<br />
12 de maio de 2006.<br />
NAKAMURA. Patrícia. Demanda de metais faz disparar preço<br />
da sucata. 2006. <strong>Di</strong>sponível em: . Acesso em 25 de<br />
março de 2006.<br />
_____________. Sucata de alumínio e cobre vira “ouro”.<br />
2006. <strong>Di</strong>sponível em: . Acesso em 25 de março de 2006.<br />
PEREIRA-NETO, J.T. Quanto vale o nosso lixo. Projeto Verde<br />
Vale. Viçosa: Ação e Promoção, 1999.<br />
TEIXEIRA, B.A.N. & ZANIN, M. Reciclagem e reutilização<br />
de embalagens. In: PROSAB – PROGRAMA DE PESQUISA EM<br />
SANEAMENTO BÁSICO. Técnicas de Minimização, Reciclagem<br />
e Reutilização de Resíduos Sóli<strong>do</strong>s Urbanos. Rio de Janeiro:<br />
ABES, 1999.<br />
VILHENA, A. Guia da Coleta Seletiva de Lixo. São Paulo:<br />
CEMPRE, 1999.<br />
NoTAS<br />
Reciclagem de alumínio –<br />
Impactos econômicos e sociais.<br />
1- Bacharelanda em Administração de Empresas pela Faculdade de<br />
Educação e Cultura Montessori (FAMEC).<br />
26
Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre<br />
as peculiaridades apresentadas pela literatura e observadas na<br />
prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />
rESumo<br />
Este artigo tem por objetivo confrontar as principais<br />
características administrativas mencionadas pela literatura com<br />
as observadas na prática ao longo da implantação de programas<br />
de melhorias em 9 empresas de micro e pequeno porte <strong>do</strong><br />
Núcleo de Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí (São Paulo).<br />
Ao longo de um ano, os autores deste artigo observaram<br />
deficiências administrativas como a falta de planejamento<br />
estratégico, a confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e<br />
jurídica da empresa, a relação de parentesco na atribuição de<br />
cargos e tarefas, entre outras, além de pontos fortes como a<br />
flexibilidade, a comunicação efetiva, o contato mais próximo<br />
com o cliente, etc. Por meio da implantação de programas<br />
de melhorias, as deficiências foram reduzidas e os pontos<br />
fortes foram aperfeiçoa<strong>do</strong>s. O presente trabalho apresenta as<br />
características marcantes à maioria das empresas no início desta<br />
implantação e contribui para a literatura <strong>do</strong> gênero.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Administração, Qualidade, Micro e Pequenas Empresas.<br />
ABSTrACT<br />
The aim of this article is to compare the main administrative<br />
characteristics mentioned by literature with the observed<br />
ones in practical throughout the implantation of programs of<br />
improvements in 9 micro and small companies of the Núcleo de<br />
Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí (São Paulo) Throughout<br />
one year, the authors of this article had observed administrative<br />
deficiencies as the lack of strategical planning, the confusion<br />
among the natural person of the legal entrepreneur and of the<br />
company, the blood relation in the attribution of positions and<br />
tasks, among others, beyond strong points as flexibility, the<br />
effective communication, the near contact with the customer,<br />
etc. By means of the implantation of programs of improvements,<br />
the deficiencies had been reduced and the strong points had<br />
been improved. The present work presents the remarkable<br />
characteristics to the majority of the companies at the beginning<br />
of this implantation and contributes with this kind of literature.<br />
KEYworDS:<br />
Rosley Anholon, DSc. 1<br />
Jefferson de Souza Pinto, MSc. 2<br />
Administration, Quality, Micro and Small Companies.<br />
27
1. introdução<br />
A importância das micro e pequenas empresas para o país já é<br />
conhecida há muito tempo, conforme comprova da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Serviço<br />
Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
de São Paulo (SEBRAE-SP, 2005). Segun<strong>do</strong> esta instituição, as<br />
micro e pequenas empresas brasileiras são responsáveis pelo<br />
emprego de 67% da população economicamente ativa <strong>do</strong> país no<br />
ambiente urbano e contribuem com 20% <strong>do</strong> volume de riquezas<br />
gera<strong>do</strong> pela nação. Tais da<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>s às atividades<br />
empreende<strong>do</strong>ras demonstram uma grande perspectiva para o<br />
país. Segun<strong>do</strong> uma pesquisa realizada anualmente pela Babson<br />
College <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e pela Lon<strong>do</strong>n Business School<br />
da Inglaterra, o Brasil se caracteriza como um <strong>do</strong>s países mais<br />
empreende<strong>do</strong>res <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (GEM, 2004).<br />
Apesar da ótima correlação existente entre a importância<br />
das micro e pequenas empresas para o país e as altas taxas<br />
de empree<strong>do</strong>rismo, o Brasil ainda hoje apresenta um índice alto<br />
de mortalidade para empreendimentos com até quatro anos<br />
de existência, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s a países desenvolvi<strong>do</strong>s da<br />
América <strong>do</strong> Norte e da Europa. Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> SEBRAE<br />
(2004) a taxa de mortalidade para este tipo de empresa e para o<br />
perío<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> chega a 59,9%.<br />
A explicação para tal ocorrência reside no fato da maioria <strong>do</strong>s<br />
empreende<strong>do</strong>res brasileiros não possuírem conhecimentos ou<br />
estarem desprepara<strong>do</strong>s para enfrentarem um merca<strong>do</strong> altamente<br />
competitivo. A pesquisa realizada pela Babson College e pela<br />
Lon<strong>do</strong>n Business School mostrou que no Brasil a maioria das<br />
empresas é criada por necessidade e não por oportunidade<br />
(GEM, 2004). As pessoas empreendem quan<strong>do</strong> perdem um<br />
emprego ou quan<strong>do</strong> necessitam aumentar suas fontes de renda,<br />
não possuin<strong>do</strong>, portanto, preparo suficiente para tal desafio.<br />
Tal situação faz com que a maioria das empresas de micro<br />
e pequeno porte apresentem características administrativas<br />
peculiares e que influenciam diretamente o desempenho e<br />
sucesso em longo prazo. O estu<strong>do</strong> destas peculiaridades se<br />
caracteriza com a principal temática deste artigo.<br />
2. Classificação das Empresas e méto<strong>do</strong><br />
Conforme menciona<strong>do</strong> anteriormente, o objetivo deste<br />
artigo é confrontar as peculiaridades administrativas das<br />
empresas de micro e pequeno porte mencionadas pela<br />
literatura com as observadas na prática pela implantação de<br />
programas de melhorias em 9 empresas incubadas no Núcleo de<br />
Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí. A referência a<strong>do</strong>tada<br />
para a classificação das empresas foi a utilizada pelo Serviço<br />
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE,<br />
2005a) definida pelo decreto nº 5.028/2004 e apresentada a<br />
seguir:<br />
1. microempresa: aquelas com receita bruta anual igual ou<br />
inferior a R$ 433.755,14;<br />
2. Empresa de Pequeno Porte: aquelas com receita<br />
bruta anual superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$<br />
2.133.222,00.<br />
Cabe ressaltar que quan<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> o critério relaciona<strong>do</strong> à<br />
força de trabalho, a maioria das empresas incubadas mencionadas<br />
neste artigo são classificadas como empresas de micro porte,<br />
pelo fato de possuírem menos de dezenove funcionários no setor<br />
industrial ou menos de nove funcionários no setor de comércios<br />
e serviços.<br />
Com relação ao méto<strong>do</strong>, a pesquisa pode ser classificada como<br />
revisão bibliográfica e estu<strong>do</strong> de caso. Revisão bibliográfica pelo<br />
Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />
pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />
fato de terem si<strong>do</strong> levantadas às peculiaridades administrativas<br />
das empresas de micro e pequeno porte junto à literatura e<br />
estu<strong>do</strong> de caso pelo fato <strong>do</strong>s autores terem confronta<strong>do</strong> as<br />
informações levantadas com a realidade vivenciada por cada<br />
empresa incubada.<br />
Cabe ressaltar, por fim, que os programas de melhorias<br />
implanta<strong>do</strong>s nestas empresas focaram a avaliação de<br />
desempenho, o planejamento estratégico, a organização <strong>do</strong><br />
ambiente de trabalho e o controle da qualidade.<br />
3. Descrição das empresas onde foram implanta<strong>do</strong>s os<br />
programas de melhorias<br />
Como forma de ilustrar melhor a realidade vivenciada por<br />
cada empresas, apresenta-se a seguir uma breve descrição de<br />
cada uma delas:<br />
a) Empresa 1: Apresenta apenas uma proprietária com perfil<br />
modera<strong>do</strong> para mudanças e novas técnicas de gestão, atuan<strong>do</strong><br />
na produção e comercialização de travesseiros aromáticos. Sua<br />
força de trabalho é composta por quatro colabora<strong>do</strong>res e os<br />
resulta<strong>do</strong>s conquista<strong>do</strong>s com a implantação <strong>do</strong>s programas de<br />
melhorias foram bons. Destaca-se que no início das atividades a<br />
empresa possuía um estágio de gestão muito preliminar;<br />
b) Empresa 2: Atuan<strong>do</strong> no setor de roupas esportivas,<br />
esta empresa pertence a <strong>do</strong>is sócios com perfil arroja<strong>do</strong><br />
para mudanças e sua força de trabalho é constituída por seis<br />
colabora<strong>do</strong>res. No início das atividades a empresa apresentava<br />
um estágio de gestão preliminar e a falta de visão de melhoria<br />
contínua comprometeu a conquista de melhores resulta<strong>do</strong>s.<br />
c) Empresa 3: Apresenta apenas um proprietário com perfil<br />
arroja<strong>do</strong> para mudanças e novas técnicas de gestão, atuan<strong>do</strong><br />
na produção e comercialização de bolsas para instrumentos<br />
musicais e de mergulho. A força de trabalho é constituída por oito<br />
trabalha<strong>do</strong>res, apesar da mesma ter varia<strong>do</strong> muito ao longo das<br />
atividades de melhorias. Inicialmente, a empresa apresentava um<br />
estágio de gestão razoável.<br />
d) Empresa 4: Sen<strong>do</strong> de propriedade de <strong>do</strong>is sócios, esta<br />
empresa atua no setor de automação industrial fabrican<strong>do</strong> painéis<br />
para o controle de máquinas. A força de trabalho é constituída<br />
por 5 colabora<strong>do</strong>res e aproveitou muito bem os programas de<br />
melhorias.<br />
e) Empresa 5: Esta empresa atua no setor de serviços em<br />
usinagem, sen<strong>do</strong> composta por <strong>do</strong>is sócios. Apesar de um deles<br />
possuir um perfil arroja<strong>do</strong>, o perfil conserva<strong>do</strong>r <strong>do</strong> outro sócio<br />
impossibilitou a obtenção de melhores resulta<strong>do</strong>s. Inicialmente a<br />
empresa possuía um estágio de gestão razoável.<br />
f) Empresa 6: Atua na fabricação e comercialização de<br />
ferraduras para eqüinos, sen<strong>do</strong> de propriedade de <strong>do</strong>is irmãos<br />
com perfis modera<strong>do</strong>s, mas fortemente influencia<strong>do</strong>s pelas<br />
decisões paternas, este sim com perfil conserva<strong>do</strong>r. Na ocasião<br />
sua força de trabalho era composta por 4 colabora<strong>do</strong>res, mas<br />
a mesma variou muito ao longo da implantação. A empresa<br />
apresentava um estágio de gestão preliminar no início das<br />
atividades.<br />
g) Empresa 7: A empresa atua na produção e comercialização<br />
de medi<strong>do</strong>res de grandezas elétricas, sen<strong>do</strong> de propriedade<br />
de <strong>do</strong>is empresários, ambos com perfil arroja<strong>do</strong>. Sua força<br />
de trabalho é composta de por 6 colabora<strong>do</strong>res e no início da<br />
implantação das atividades apresentava um bom estágio de<br />
gestão.<br />
h) Empresa 8: Esta empresa produz e comercializa microterminais<br />
de vendas e controle de estoque para comércios<br />
28
em geral. Apesar de ser de propriedade de três sócios, todas<br />
as atividades e decisões são tomadas pela filha de um deles,<br />
que atua como diretora administrativa. A força de trabalho é<br />
composta por 6 colabora<strong>do</strong>res e no início das atividades a<br />
empresa apresentava um bom estágio de gestão.<br />
i) Empresa 9: Sen<strong>do</strong> de propriedade de <strong>do</strong>is sócios, esta<br />
empresa atua no projeto e comercialização de grandes peneiras<br />
vibratórias de altíssimo valor agrega<strong>do</strong>. A força de trabalho<br />
sempre foi pequena e variou muito, já que a empresa possuía<br />
sérios problemas financeiros. O estágio de gestão no início das<br />
atividades pode ser classifica<strong>do</strong> como razoável.<br />
3. Características das mPEs segun<strong>do</strong> a literatura<br />
Como forma de facilitar a análise das peculiaridades<br />
administrativas das empresas de micro e pequeno porte<br />
mencionadas pela literatura, os autores deste artigo optaram<br />
pela divisão das informações em <strong>do</strong>is tópicos intitula<strong>do</strong>s pontos<br />
fracos e pontos fortes das MPEs (Micro e Pequenas Empresas).<br />
3.1 Pontos fracos das mPEs<br />
a) influência das relações de parentesco nas atribuições<br />
de cargos e tarefas<br />
Um <strong>do</strong>s grandes problemas na empresa de micro e pequeno<br />
porte é influência das relações de parentesco nas atribuições<br />
de cargos e tarefas. É muito comum na maioria das MPEs que<br />
este fator se faça marcante em promoções ao invés <strong>do</strong> fator<br />
capacidade. Muitas vezes, uma pessoa acaba construin<strong>do</strong><br />
uma carreira numa empresa pela relação de parentesco que<br />
possui com o proprietário sem que possua merecimento para<br />
isso. Conseqüentemente, isto irá gerar descontentamento e<br />
desmotivação de alguns funcionários, pois por melhor que<br />
realizem suas tarefas, não terão chance de ascensão (SAVIANI,<br />
1995 e JACINTHO, 2004).<br />
Barros & Modenesi (1973) e Saviani (1995) ressaltam que esta<br />
sucessão por privilégios, vaidades ou pressões familiares leva<br />
a criação de uma liderança falida e incapacitada de administrar<br />
um negócio. A empresa não terá as pessoas certas para cada<br />
função, não haverá uma participação global de to<strong>do</strong>s aqueles<br />
que a constituem e reinará o clima “foi sempre assim, para que<br />
mudar”.<br />
b) Falta de planejamento estratégico, visão e missão<br />
O planejamento estratégico se faz necessário em qualquer<br />
tipo de negócio, independentemente de seu porte ou ramo<br />
de atuação. Este planejamento envolve a definição da visão,<br />
da missão, <strong>do</strong>s objetivos empresariais, previsão de vendas,<br />
tendências, pesquisas e distribuição de recursos. Segun<strong>do</strong> Fritz<br />
(1993) apud Crósta (2000), a maioria <strong>do</strong>s fracassos atuais se<br />
origina de uma má compreensão <strong>do</strong> que a empresa realmente<br />
é, ou seja, para que a empresa existe, qual seu merca<strong>do</strong>, qual<br />
seu produto ou serviço, etc. McAdam (1999) ressalta ainda<br />
que é extremamente difícil convencer pequenos empresários a<br />
traçarem objetivos em longo prazo numa realidade empresarial<br />
que eles acreditam mudar constantemente. As idéias de Murphy<br />
(1999) corroboram as afirmações anteriores.<br />
Ainda em relação ao planejamento estratégico, Certo &<br />
Peter (1995) afirmam que, para uma empresa ser competitiva,<br />
faz-se necessário o acompanhamento <strong>do</strong>s ambientes interno<br />
(relaciona<strong>do</strong>s aos departamentos da empresa como marketing,<br />
produção, administração, etc.), organizacional (agentes externos<br />
diretamente relaciona<strong>do</strong>s à empresa tais como concorrência,<br />
fornece<strong>do</strong>res, clientes, entre outros) e externo (agentes de<br />
Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />
pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />
âmbito global tais como fatores políticos, econômicos, etc.).<br />
Para as grandes empresas estes três ambientes se fazem muito<br />
presentes, mas para as MPEs deve-se focar principalmente os<br />
<strong>do</strong>is primeiros.<br />
c) Confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e a<br />
pessoa jurídica da empresa<br />
Quan<strong>do</strong> se analisa com maior riqueza de detalhes o setor<br />
financeiro das MPEs, observa-se freqüentemente que existe uma<br />
confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e a pessoa jurídica<br />
da empresa. É extremamente comum o <strong>do</strong>no ter primeiro a<br />
preocupação de quanto irá lhe sobrar no final <strong>do</strong> mês, ao invés de<br />
pensar em investimentos, capital de giro, etc. Conseqüentemente,<br />
não há como se ter um real fluxo de caixa, uma vez que em suas<br />
“emergências”, o micro ou pequeno empresário recorrerá ao<br />
capital da empresa. Esta falta de planejamento e organização<br />
financeira prejudica a implantação de um programa de qualidade<br />
(MURPHY, 1999 e GUIA PEGN, 2002).<br />
d) reduzida capacidade administrativa<br />
Muitas vezes, a reduzida capacidade administrativa <strong>do</strong>s<br />
dirigentes das empresas de micro e pequeno porte apresentase<br />
como fator limitante ao equilíbrio e ao crescimento. Essa<br />
reduzida capacidade, associada ao excesso de centralização das<br />
decisões, pode levar ao aparecimento de vícios e distorções de<br />
ordem. O micro e pequeno empresário precisa ter a consciência<br />
de que não está suficientemente treina<strong>do</strong> para a execução de<br />
certas atividades administrativas, recorren<strong>do</strong> para isso a cursos<br />
de atualização ou a programas de auxílio (BARROS & MODESI,<br />
1973, JACINTHO, 2004).<br />
e) Falta de conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em que está<br />
inserida<br />
Por intermédio das principais bibliografias (RATTNER, 1985;<br />
OLIVEIRA, 1994; SAVIANI, 1995; MURPHY, 1999, Guia PEGN,<br />
2002; SOIFER, 2002; PEGN, 2003), observa-se que a maioria das<br />
MPEs desconhece quais são seu concorrentes e quais os reais<br />
desejos de seus consumi<strong>do</strong>res. Isso ocorre porque pesquisas de<br />
merca<strong>do</strong>, grau de satisfação <strong>do</strong>s clientes, análise de não clientes<br />
e análise de reclamações são raramente realizadas. O que<br />
existe, na maioria das vezes, para as reclamações é a simples<br />
reposição <strong>do</strong> produto ou serviço, sen<strong>do</strong> a reclamação arquivada<br />
posteriormente. Para sugestões, dificilmente há dispositivos<br />
nas MPEs que permitam funcionários ou clientes expressarem<br />
opiniões.<br />
f) relação com os fornece<strong>do</strong>res<br />
Com relação ao fornecimento de matéria-prima, encontram-se<br />
duas situações. A primeira ocorre quan<strong>do</strong> a MPE recebe <strong>material</strong><br />
de um grande fornece<strong>do</strong>r. Geralmente, neste caso, o poder de<br />
barganha é muito pequeno e a MPE não consegue negociar por<br />
melhores preços; em contrapartida, a qualidade é garantida, pois<br />
freqüentemente os grandes fornece<strong>do</strong>res possuem programas<br />
de qualidades bem estabeleci<strong>do</strong>s. A segunda situação ocorre<br />
quan<strong>do</strong> o fornecimento se dá por uma outra MPE. Conseguemse<br />
baixos preços, mas não necessariamente bons negócios, uma<br />
vez que a qualidade <strong>do</strong> produto não está totalmente assegurada<br />
(RATTNER, 1985).<br />
O setor de compras também acaba sen<strong>do</strong> muito influencia<strong>do</strong><br />
pelo tipo de mentalidade <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>res. Freqüentemente,<br />
como não possuem uma boa visão da qualidade como<br />
forma de melhoria e competitividade, acabam aprovan<strong>do</strong><br />
orçamentos unicamente basea<strong>do</strong>s nos custos, esquecen<strong>do</strong>-se<br />
de que, mais para frente, uma matéria-prima de má qualidade<br />
poderá ocasionar problemas ou a insatisfação <strong>do</strong> cliente<br />
(PEGN, 2003).<br />
29
g) Setor produtivo<br />
Quan<strong>do</strong> se foca um pouco mais o setor produtivo das MPEs<br />
industriais, observa-se um parque de equipamentos defasa<strong>do</strong> ou<br />
mal organiza<strong>do</strong>. É comum a ausência de Planejamento e Controle<br />
da Produção (PCP), de Just in Time, de normas da qualidade, etc.<br />
Esta ausência da qualidade como fator diferencial acaba sen<strong>do</strong><br />
decorrente da falta de treinamento e reciclagem. Saviani (1995) e<br />
Murphy (1999) alegam que as MPEs consideram os programas de<br />
treinamento e reciclagem como custos e não como investimentos<br />
e, por isso, os reduzem numa época de recessão econômica.<br />
Além disso, os micro e pequenos empresários associam estes<br />
programas como sen<strong>do</strong> volta<strong>do</strong>s para somente para grandes<br />
empresas.<br />
Um outro ponto observa<strong>do</strong> no setor produtivo é a extrema<br />
dependência da MPE em relação a profissionais especializa<strong>do</strong>s<br />
em uma única função. No momento em que esses funcionários<br />
estão ausentes ou são desliga<strong>do</strong>s da empresa, observa-se<br />
uma dificuldade em manter o nível de produção até que outros<br />
profissionais sejam qualifica<strong>do</strong>s ou contrata<strong>do</strong>s. Não há um<br />
programa que permita a to<strong>do</strong>s os funcionários o conhecimento<br />
de to<strong>do</strong> o ciclo produtivo bem como treinamentos para se buscar<br />
a multi-funcionalidade (SAVIANI, 1995; WIKLUND & WIKLUND,<br />
1999; JACINTHO, 2004).<br />
h) Pedi<strong>do</strong>s acima da capacidade produtiva<br />
Tornou-se prática comum em muitas MPEs aceitarem<br />
pedi<strong>do</strong>s iguais ou maiores a suas máximas capacidades e não<br />
conseguirem atendê-los, em decorrência de quebra de máquinas,<br />
ausência de funcionários ou outros problemas que diminuem a<br />
produtividade. Como conseqüência, entregas são feitas com<br />
atrasos e a insatisfação <strong>do</strong> cliente é manifestada (OLIVEIRA,<br />
1994). Segun<strong>do</strong> Oliveira (2001), a norma NBR ISO 9001 (2000)<br />
ressalta a importância deste fator no item análise crítica <strong>do</strong>s<br />
requisitos relaciona<strong>do</strong>s ao produto. A empresa deve garantir que<br />
as necessidades <strong>do</strong> cliente sejam devidamente compreendidas<br />
e analisadas quanto à sua capacidade de realização, antes de se<br />
fechar um contrato. Quan<strong>do</strong> qualquer um <strong>do</strong>s requisitos de um<br />
pedi<strong>do</strong> de fornecimento for altera<strong>do</strong>, a empresa deve assegurar<br />
que estas alterações estejam <strong>do</strong>cumentadas e aprovadas pelo<br />
cliente. A não realização desta análise acaba sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />
grandes fatores de fracasso tanto de grandes empresas como<br />
de MPEs.<br />
i) Falta de uma política de recursos humanos<br />
O ser humano é a maior riqueza de uma organização. A vida<br />
de um profissional é intensamente vivida na empresa, onde o<br />
bem estar, o ambiente, as satisfações pessoais e profissionais<br />
devem ser atendidas dentro <strong>do</strong> possível (LANGBERT, 2000). É<br />
neste contexto que os micro e pequenos empresários devem<br />
perceber a importância <strong>do</strong>s Recursos Humanos na conquista de<br />
um clima ideal de trabalho junto a seus colabora<strong>do</strong>res.<br />
Observa-se que micro e pequenos empresários ainda<br />
confundem Departamento Pessoal com política de Recursos<br />
Humanos. Enquanto o primeiro está volta<strong>do</strong> apenas para um<br />
controle da vida <strong>do</strong> operário, como registro de faltas, horas<br />
extras trabalhadas, etc. o segun<strong>do</strong> pretende realizar um plano de<br />
carreiras, uma descrição de cargos, a satisfação <strong>do</strong> funcionário<br />
e o incremento de seu nível intelectual (SAVIANI, 1995). É<br />
interessante destacar, entretanto, que muitos micro e pequenos<br />
empresários não conseguem visualizar seus funcionários como<br />
colabora<strong>do</strong>res no crescimento e desenvolvimento de suas<br />
empresas e por isto não desenvolvem as atividades anteriormente<br />
mencionadas (MURPHY, 1999).<br />
Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />
pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />
j) Não utilização de recursos computacionais<br />
Mesmo em plena era da informática, ainda existem muitas<br />
MPEs que realizam suas contabilidades ou balanços de estoques<br />
sem o auxílio de micro-computa<strong>do</strong>res. Muitas vezes, existe uma<br />
aversão à informática por parte <strong>do</strong> micro e pequeno empresário,<br />
em especial por aqueles mais antigos. Eles acreditam que os<br />
méto<strong>do</strong>s tradicionais são mais simples, esquecen<strong>do</strong>-se de que<br />
estes possuem maior probabilidade de perda de informações<br />
e maior desperdício de tempo. O uso de um simples microcomputa<strong>do</strong>r<br />
com softwares de caráter geral permite organizar<br />
inúmeras informações e acessá-las facilmente no momento em<br />
que for necessário (Guia PEGN, 2002).<br />
k) En<strong>do</strong>marketing zero<br />
O en<strong>do</strong>marketing pode ser entendi<strong>do</strong> como o marketing interno<br />
que a instituição faz de si mesmo para seus colabora<strong>do</strong>res. Esse<br />
en<strong>do</strong>marketing deve ser pratica<strong>do</strong> a cada momento, a cada fato<br />
novo que coloque a empresa em patamares superiores junto aos<br />
seus concorrentes e ao seu público consumi<strong>do</strong>r. Geralmente, em<br />
MPEs essa política de propaganda inexiste, fazen<strong>do</strong> com que os<br />
funcionários desconheçam os sucessos da empresa.<br />
É muito comum que as conquistas ou bons negócios realiza<strong>do</strong>s<br />
pelas MPEs sejam somente divulga<strong>do</strong>s nos departamentos<br />
comerciais, como é o caso de vendas. Os méritos alcança<strong>do</strong>s<br />
devem ser difundi<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os colabora<strong>do</strong>res, pois cada célula<br />
da organização foi participante disto e deve ser comunicada<br />
(SAVIANI, 1995).<br />
l) Falta de uma visão de melhoria contínua<br />
Muitos micro e pequenos empresários ainda não possuem<br />
uma visão de melhoria contínua, uma vez que implantada uma<br />
melhoria ou alcança<strong>do</strong> um patamar superior, eles negligenciam<br />
a constante manutenção ou melhoria desta situação. Esquecem<br />
que administrar é rever a empresa a cada momento e sempre<br />
buscar uma situação melhor que a vigente, como indicada<br />
pela meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Kaizen. (OLIVEIRA, 1994; SAVIANI, 1995;<br />
SOIFER, 2002, JACINTHO, 2004).<br />
3.2 Pontos fortes das mPEs<br />
a) maior flexibilidade em relação às grandes empresas<br />
Se por um la<strong>do</strong> existem alguns pontos a serem melhora<strong>do</strong>s,<br />
principalmente na estrutura administrativa das MPEs, por outro<br />
existem características que as permitem obter maior flexibilidade<br />
em relação às grande empresa. Estas características, se<br />
reconhecidas e bem administradas pelos micro e pequenos<br />
empresários podem levá-las ao sucesso empresarial.<br />
Uma característica de extrema importância a ser ressaltada<br />
é a flexibilidade frente às grandes organizações. Segun<strong>do</strong><br />
Crosta (2000), por serem menores as MPEs permitem a seus<br />
proprietários uma visão mais privilegiada de seu “dia-a-dia” em<br />
função <strong>do</strong> contato mais próximo com cada funcionário e, como<br />
conseqüência, atingi-se uma maior flexibilidade. McAdam (1999)<br />
e Wiklund & Wiklund (1999) e Yusof & Aspinwall (2000) destacam<br />
essa flexibilidade como vantagem na implantação de programas<br />
de melhorias e na conquista de merca<strong>do</strong>s inviáveis às grandes<br />
empresas.<br />
b) Caráter mais empreende<strong>do</strong>r<br />
Se por um la<strong>do</strong> a implantação de um novo negócio ou de<br />
novas idéias em uma empresa já consolidada envolve um<br />
risco, por outro ela é a responsável, na maioria das vezes, pelo<br />
surgimento de melhorias e inovações. Esta é uma característica<br />
marcante de muitas MPEs, que se submetem proporcionalmente<br />
a um risco maior <strong>do</strong> grandes empresas. Os micro e pequenos<br />
30
empresários possuem mais coragem para arriscar e isto, quan<strong>do</strong><br />
acompanha<strong>do</strong> por planejamentos e estu<strong>do</strong>s, pode ser visto com<br />
ponto positivo na busca pela qualidade (SEBRAE, 2005b).<br />
c) Comunicação mais efetiva entre subordina<strong>do</strong> e superior<br />
Este talvez seja um <strong>do</strong>s pontos mais favoráveis das MPEs na<br />
implantação de programas de melhorias. Neste tipo de empresa,<br />
a relação superior-subordina<strong>do</strong> é mais direta e produtiva, fazen<strong>do</strong><br />
com que programas de treinamentos e de reciclagem tenham<br />
maior eficiência. Na relação inversa, ou seja, subordina<strong>do</strong>superior,<br />
os problemas <strong>do</strong> “dia-a-dia” da empresa são relata<strong>do</strong>s<br />
mais facilmente e, como conseqüência, resolvi<strong>do</strong>s com maior<br />
rapidez. Para Yusof & Aspinwall (2000) a comunicação mais<br />
efetiva é decorrente da estrutura hierárquica simples e possibilita<br />
a criação de um fluxo de informação mais eficiente.<br />
Também deve ser destacada a imagem <strong>do</strong> proprietário perante<br />
os seus funcionários. Ao contrário <strong>do</strong> que acontece em uma grande<br />
empresa, onde geralmente os funcionários mal conhecem o <strong>do</strong>no<br />
ou presidente devi<strong>do</strong> a uma estrutura altamente hierarquizada, na<br />
MPE ele se faz presente to<strong>do</strong>s os dias ten<strong>do</strong> sua imagem também<br />
associada a de um administra<strong>do</strong>r. Como os funcionários o vêem<br />
de uma maneira mais próxima, diminuin<strong>do</strong> assim a distância<br />
criada pela hierarquia, os contatos e conversas tornam-se mais<br />
freqüentes (SAVIANI, 1995; WIKLUND & WIKLUND, 1999; YUSOF<br />
& ASPINWALL, 2000, MARTINS, 2000).<br />
d) Contato mais próximo com o cliente<br />
Segun<strong>do</strong> Goldschmidt & Chung (2001) e Kee-Hung<br />
(2002), além da maior flexibilidade e simplicidade da estrutura<br />
hierárquica, as pequenas empresas se fazem mais próximas<br />
<strong>do</strong>s clientes <strong>do</strong> que as grandes organizações. Essa proximidade<br />
se faz presente principalmente na capacidade que a empresa<br />
de pequeno porte possui em estar junto aos clientes e ouvir<br />
suas reais necessidades. Como conseqüência, os produtos ou<br />
serviços por ela comercializa<strong>do</strong>s apresentarão um maior grau de<br />
satisfação.<br />
As características aqui apresentadas talvez não representem a<br />
totalidade das MPEs. Mediante a quantidade e heterogeneidade é<br />
possível encontrar aquelas que já se apresentam bem estruturadas<br />
e começam a colher ou colhem os frutos <strong>do</strong> sucesso há muito<br />
tempo. No entanto, como mostra<strong>do</strong> na introdução deste artigo, a<br />
taxa de mortalidade para MPEs ainda é grande e muitas ainda se<br />
vêem nas situações descritas anteriormente.<br />
4. o confronto entre a literatura e a prática<br />
Uma vez apresentadas as principais características<br />
relacionadas à administração das micro e pequenas empresas<br />
segun<strong>do</strong> a literatura, o presente item confrontará as informações<br />
levantadas com as peculiaridades observadas ao longo da<br />
implantação <strong>do</strong>s programas de melhorias. Ressalta-se deste já<br />
que as características e os benefícios conquista<strong>do</strong>s por cada<br />
empresa por meio da implantação destes programas serão<br />
trata<strong>do</strong>s em outros artigos.<br />
4.1 o confronto entre a literatura e a prática para os<br />
pontos fracos<br />
a) influência das relações de parentesco nas atribuições<br />
de cargos e tarefas: esta deficiência foi observada principalmente<br />
nas empresas que apresentavam inicialmente um estágio de gestão<br />
preliminar. Na empresa 1, por exemplo, tornou-se claro ao longo<br />
da implantação que alguns membros da família não possuíam<br />
qualificação para desenvolver as atividades requeridas por suas<br />
funções, prejudican<strong>do</strong> assim o desempenho da mesma.<br />
Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />
pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />
b) Falta de planejamento estratégico, visão e missão:<br />
esta característica se fez marcante em todas as empresas, pois<br />
mesmo aquelas que apresentavam inicialmente um estágio de<br />
gestão razoável ou bom (empresas 3, 5, 7 e 9) não possuíam<br />
objetivos em longo prazo. Em geral, os objetivos eram traça<strong>do</strong>s<br />
para curtos prazos e não ultrapassavam um horizonte de 6<br />
meses.<br />
c) Confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e a pessoa<br />
jurídica da empresa: tal característica foi observada algumas<br />
vezes nas empresas menos estruturadas, onde os empresários<br />
não mantinham um fluxo de caixa correto e estabeleciam seus<br />
limites de retiradas de maneira informal e desestruturada.<br />
d) reduzida capacidade administrativa: Desde o início da<br />
implantação <strong>do</strong>s programas de melhorias esta característica se<br />
fez marcante, já que se observou que empresários com nível<br />
superior (empresas 3, 4, 5, 7, 8 e 9) apresentavam maior interesse<br />
nas atividades desenvolvidas <strong>do</strong> que aqueles com formação<br />
básica ou média.<br />
e) Falta de conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em que está inserida:<br />
de uma maneira geral as empresas possuíam um conhecimento<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em que estavam inseridas. Entretanto, cabe<br />
ressaltar que apenas as empresas 3, 7, 8 e 9 apresentavam um<br />
bom conhecimento sobre os merca<strong>do</strong>s em que poderiam atuar<br />
e expandir seus negócios. As demais empresas apresentavam<br />
uma visão muito regionalista, impossibilitan<strong>do</strong> o aproveitamento<br />
de oportunidades.<br />
f) relação com os fornece<strong>do</strong>res: esta característica foi<br />
observada apenas nas empresas menos estruturadas, que<br />
apresentavam inicialmente um estágio de gestão preliminar.<br />
g) Setor produtivo: com relação aos treinamentos, apenas<br />
as empresas menos estruturadas os consideravam como custos<br />
e não como investimento. Focan<strong>do</strong>-se a dependência em<br />
relação a funcionários especializa<strong>do</strong>s, ela se fez marcante em<br />
praticamente todas as empresas, destacan<strong>do</strong>-se principalmente<br />
as empresas 3, 4 e 9 que tiveram dificuldades em manter os<br />
padrões de produtividade com a saída de alguns colabora<strong>do</strong>res.<br />
h) Pedi<strong>do</strong>s acima da capacidade produtiva: apesar desta<br />
característica ter si<strong>do</strong> mencionada pela literatura, ela não foi<br />
observada em nenhuma das nove empresas incubadas.<br />
i) Falta de uma política de recursos humanos: com<br />
exceção das empresas 7 e 8 que possuíam uma visão um pouco<br />
mais apurada de fatores relaciona<strong>do</strong>s à gestão de recursos<br />
humanos, os demais empresários inicialmente não viam seus<br />
funcionários como colabora<strong>do</strong>res para o crescimento da<br />
empresa. Esta característica ficou evidenciada principalmente<br />
pela não divulgação de metas e objetivos estratégicos a serem<br />
alcança<strong>do</strong>s pela empresa.<br />
j) Não utilização de recursos computacionais: todas<br />
as empresas nas quais os programas de melhorias foram<br />
implanta<strong>do</strong>s possuíam e utilizavam recursos computacionais.<br />
Destaca-se, entretanto, que estes recursos eram utiliza<strong>do</strong>s<br />
principalmente no contato com o cliente e na divulgação da<br />
empresa. Apenas as empresas 3, 4, 7 e 8 os utilizavam também<br />
na elaboração da relatórios, acompanhamento de indica<strong>do</strong>res de<br />
desempenho, etc.<br />
k) En<strong>do</strong>marketing zero: esta característica vai ao encontro<br />
da falta de uma política de recursos humanos. Como a maioria<br />
<strong>do</strong>s empresários não conseguia visualizar seus funcionários<br />
como colabora<strong>do</strong>res para o crescimento da empresa, acabavam<br />
não divulgan<strong>do</strong> os benefícios conquista<strong>do</strong>s. Tal situação foi<br />
sen<strong>do</strong> reduzida ao longo da implantação <strong>do</strong>s programas de<br />
melhorias.<br />
31
l) Falta de uma visão de melhoria contínua: apesar da<br />
literatura mencionar a falta de melhoria contínua como uma das<br />
principais características administrativas das micro e pequenas<br />
empresas, não foi possível observá-la no início da implantação<br />
como feito para as demais características. Entretanto, após a<br />
implantação das melhorias, somente a empresa 1 estagnou e<br />
não passou a buscar uma evolução em seu desempenho.<br />
4.2 o confronto entre a literatura e a prática para os<br />
pontos fortes<br />
a) maior flexibilidade em relação às grandes empresas:<br />
ao longo da implantação <strong>do</strong>s programas de melhorias foram<br />
observadas situações em todas as empresas aonde a flexibilidade<br />
possibilitou o ganho de pedi<strong>do</strong>s em relação a empresas de maior<br />
porte. Como exemplo, cita-se a empresa 5 que por várias vezes<br />
mu<strong>do</strong>u um pouco sua maneira de trabalhar e prestou serviços a<br />
grandes empresas da região.<br />
b) Caráter mais empreende<strong>do</strong>r: apesar da literatura destacar<br />
esta característica como uma grande vantagem das empresas<br />
de micro e pequeno porte em relação a grandes organizações,<br />
observou-se uma situação inversa nas empresas analisadas.<br />
Em geral, as empresas arriscavam muito pouco e só tomavam<br />
uma decisão quanto possuíam plena confiança de que não<br />
possuiriam prejuízos, mesmo que estivesse perden<strong>do</strong> grandes<br />
oportunidades. Como exemplo destaca-se a empresa 5 e 8, que<br />
demoraram a contratar novos funcionários, mesmo com uma<br />
demanda acima <strong>do</strong> que podiam atender.<br />
c) Comunicação mais efetiva entre subordina<strong>do</strong> e superior:<br />
esta característica foi observada em todas as empresas e ficou<br />
evidente que a comunicação mais próxima entre subordina<strong>do</strong> e<br />
superior auxilia em muito a conquista de benefícios em programas<br />
de melhorias.<br />
d) Contato mais próximo com o cliente: o contato mais<br />
próximo com o cliente vai ao encontro das características<br />
associadas a maior flexibilidade por parte das micro e pequenas<br />
empresas. Em geral todas as empresas ouviam seus clientes e<br />
produziam aquilo que eles realmente desejavam.<br />
5. Conclusões<br />
Ao longo de um ano, os autores deste artigo implantaram<br />
programas de melhorias em nove empresas incubadas no<br />
Núcleo de Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí e observaram<br />
peculiaridades em relação à administração das empresas de micro<br />
e pequeno porte. Tais peculiaridades foram confrontadas com as<br />
mencionadas na literatura e observou-se que apenas duas delas<br />
não foram notadas na prática (pedi<strong>do</strong>s acima da capacidade<br />
produtiva e falta de uma visão de melhoria contínua). Salientase<br />
ainda que apenas a característica relacionada ao caráter<br />
empreende<strong>do</strong>r apresentou uma correlação inversa à mencionada<br />
na literatura, já que as empresas analisadas preferiam minimizar<br />
os prejuízos mesmo que para isto estivesse perden<strong>do</strong> grandes<br />
oportunidades de negócios e os indica<strong>do</strong>res de desempenho<br />
apontassem viabilidade para tal.<br />
Destaca-se por fim que os programas de melhorias<br />
implanta<strong>do</strong> nas nove empresas procuraram trabalhar sobre as<br />
características apresentadas neste artigo, reduzin<strong>do</strong> os pontos<br />
fracos e aperfeiçoan<strong>do</strong> aquilo que as empresas já possuíam de<br />
bom. Ao final da implantação todas as empresas evoluíram em<br />
relação ao estágio de gestão inicial que possuíam. Os resulta<strong>do</strong>s<br />
deste programa serão apresenta<strong>do</strong>s em outros artigos. Para<br />
maiores detalhes entre em contato com os autores deste artigo.<br />
Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />
pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
BARROS, Frederico J. O. R; MODENESI, Rui Lyrio. Pequenas<br />
e Médias Indústrias: análise <strong>do</strong>s problemas, incentivos e sua<br />
contribuição ao desenvolvimento. 1 ed. Rio de Janeiro: IPEA,<br />
1973. 192 pgs.<br />
CROSTA, Vera Maria Duch. Gerenciamento e qualidade em<br />
empresas de pequeno porte: um estu<strong>do</strong> de caso no segmento de<br />
farmácia de manipulação. 2000. 96 pgs. <strong>Di</strong>ssertação (Mestra<strong>do</strong><br />
em Gestão da Qualidade) - Instituto de Matemática, Estatística<br />
e Computação Científica, Universidade Estadual de Campinas,<br />
Campinas.<br />
FRITZ, R. A Sustentação da Visão, <strong>do</strong>s Objetivos e da<br />
Atuação Empreende<strong>do</strong>ra. 1 ed. São Paulo: Makron Books. 1993<br />
apud CROSTA, Vera Maria Duch. Gerenciamento e qualidade em<br />
empresas de pequeno porte: um estu<strong>do</strong> de caso no segmento de<br />
farmácia de manipulação. 2000. 96 pgs. <strong>Di</strong>ssertação (Mestra<strong>do</strong><br />
em Gestão da Qualidade) – Instituto de Matemática, Estatística<br />
e Computação Científica, Universidade Estadual de Campinas,<br />
Campinas.<br />
GEM. Global Entrepreneurship Monitor. 2004 Executive<br />
Report. Babson College and Lon<strong>do</strong>n Business School, 2004.<br />
<strong>Di</strong>sponível em: . Acesso em:<br />
15 de maio de 2005.<br />
GUIA PEGN. Como montar seu próprio negócio. Pequenas<br />
Empresas Grandes Negócios. Editora Globo. São Paulo, 2002.<br />
152 pgs.<br />
JACINTHO, Paulo Ricar<strong>do</strong> Becker. Consultoria Empresarial:<br />
procedimentos para a aplicação em micro e pequenas empresas.<br />
2004. 139 pgs. <strong>Di</strong>ssertação (Mestra<strong>do</strong> em Engenharia de<br />
Produção). Programa de Pós-Graduação em Engenharia<br />
de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina,<br />
Florianópolis.<br />
LANGBERT, Mitchell. Human resource management<br />
and Deming’s continuous improvement concept. Journal of<br />
Quality Management, vol. 5, 2000. pgs 85-101. <strong>Di</strong>sponível em:<br />
<br />
Acesso em: 10 de maio de 2005.<br />
MARTINS, Simone. Qualidade em pequenas empresas. Gestão<br />
de Qualidade - Curso de Gestão de Processos Industriais, 2000.<br />
11 pgs. Faculdade de Engenharia de Alimentos. Universidade<br />
Estadual de Campinas, Campinas.<br />
McADAM, Rodney. Quality Models in SMEs context.<br />
International Journal of Quality & Reliability Management, Volume<br />
17, nº 3, 2000, pgs 305-323. <strong>Di</strong>sponível em: Acesso em: 02 de abril<br />
de 2005.<br />
MURPHY, Michael. Top-ten small business mistakes. Metal<br />
Finishing, vol. 99, número 7, 2001. Editorial. <strong>Di</strong>sponível em:<br />
<br />
Acesso em: 10 de junho de 2005<br />
OLIVEIRA, Marco Antonio Lima. Qualidade: o desafio para a<br />
pequena e média empresa. 1. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark<br />
Editora; Fortaleza, CE: SEBRAE, 1994. 64 pgs.<br />
OLIVEIRA, Marco Antonio Lima. Documentação para a ISO<br />
9001:2000. 1. ed. Bahia: e-Qualitas, 2001. 60 pgs.<br />
PEGN. Site da Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios.<br />
Empresas - Gestão. <strong>Di</strong>sponível em: . Acesso dia 15 de janeiro de 2005.<br />
32
RATTNER, H. In: Pequena Empresa: o comportamento<br />
empresarial na acumulação e luta pela sobrevivência. 1 ed. São<br />
Paulo: Brasiliense, 1985. 189 pgs.<br />
SAVIANI, José Roberto. Repensan<strong>do</strong> as Pequenas e Médias<br />
Empresas: como adequar os processos de administração aos<br />
novos conceitos de qualidade. 1. ed. São Paulo: Makron Books,<br />
1995. 97 pgs.<br />
SEBRAE. Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena<br />
Empresa. Fatores Condicionantes e Taxa de Mortalidade das<br />
Empresas - 2004. <strong>Di</strong>sponível . Acesso em: 23 de maio de<br />
2005.<br />
SEBRAE (a). Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena<br />
Empresa. Legislação Básica da Micro e Pequena Empresa. 2005.<br />
<strong>Di</strong>sponível em . Acesso em: 05 de julho de 2005.<br />
SEBRAE (c). Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena<br />
Empresa. Estu<strong>do</strong>s Especiais: características <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>r<br />
brasileiro. <strong>Di</strong>sponível em: . Acesso em: 05 de julho<br />
de 2005<br />
SEBRAE - SP. Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena<br />
Empresa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo. Conhecen<strong>do</strong> a Pequena<br />
Empresa, 2005. <strong>Di</strong>sponível em . Acesso em: 02 de<br />
fevereiro de 2005.<br />
SOIFER, Jack. A grande pequena empresa. 1. ed. Rio de<br />
Janeiro: Qualitymark Editora, 2002. 144 pgs.<br />
WIKLUND, Hakan; WIKLUND, Pia Sandivik. A collaboration<br />
concept for TQM Implementation in Small and Medium Sized<br />
Enterprises. International Journal of Applied Quality Management,<br />
vol. 2 , 1999, pgs 101-115. <strong>Di</strong>sponível em: . Acesso em: 14<br />
de abril de 2003.<br />
YUSOF, Shari Mohd; ASPINWALL, Elaine. A conceptual<br />
framework for TQM implementation for SMEs. TQM Magazine,<br />
vol. 12, nº 1, 2000, pgs 31-36. <strong>Di</strong>sponível em: .<br />
Acesso em: 19 de maio de 2005.<br />
Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />
pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />
NoTAS<br />
1- Rosley Anholon, DSc.<br />
Professor <strong>do</strong> Departamento de Administração<br />
Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas<br />
Departamento de Administração e Contabilidade<br />
e-mail: rosley.anholon@gmail.com<br />
2- Jefferson de Souza Pinto, MSc.<br />
Professor da Faculdade Brasília de São Paulo<br />
Professor <strong>do</strong> Departamento de Administração<br />
Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas<br />
Departamento de Administração e Contabilidade<br />
e-mail: jeffsouzap@uol.com.br<br />
33
ESumo<br />
Neste estu<strong>do</strong> apresenta-se um estu<strong>do</strong> de controle de braço<br />
robótico, em tempo real, por meio de computação paralela<br />
utilizan<strong>do</strong>-se um conjunto de coman<strong>do</strong>s em pipeline.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Aplicação de computação paralela<br />
para um sistema robótico.<br />
Algoritmo, arquitetura de computa<strong>do</strong>res, processamento<br />
paralelo, computação, sistemas de informação, pipeline.<br />
ABSTrACT<br />
This paper presents a study on control of robotics arm, at<br />
real time, by means of paralell computing using a set of pipeline<br />
instructions.<br />
KEYworDS:<br />
Ms. Ricar<strong>do</strong> Shtisuka 1<br />
Dr. Cao Ji Kan 2<br />
Dorlivete M. Shitsuka 3<br />
Rabbith I.C.M. Shitsuka 4<br />
Caleb D.W.M. Shitsuka 5<br />
Algorithms, computer architecture, paralell processing,<br />
computing, information system, pipeline.<br />
34
introdução<br />
A arquitetura de computa<strong>do</strong>res estuda a estrutura e<br />
organização <strong>do</strong> hardware, e se refere ao funcionamento interno<br />
<strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r, como ele está organiza<strong>do</strong> e arranja<strong>do</strong>. É a parte,<br />
interna não vista pelo usuário de computa<strong>do</strong>res [WIKEPEDIA,<br />
2006]. Dentro <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da arquitetura computacional incluí-se o<br />
estu<strong>do</strong> da computação paralela ou processamento paralelo.<br />
Na computação paralela, um computa<strong>do</strong>r executa mais<br />
de uma operação sincronizadamente ou então existem vários<br />
computa<strong>do</strong>res fazem as tarefas em conjunto.<br />
A finalidade desse processamento paralelo é fazer com que<br />
um software funcione mais rapidamente pelo fato de utilizar-se<br />
de vários processa<strong>do</strong>res simultaneamente.<br />
Uma das aplicações típicas para o aumento de velocidade<br />
de processamento cria<strong>do</strong> pelo processamento paralelo pode ser<br />
a aplicação na robótica: os movimentos de um robô demandam<br />
muitos cálculos de conversão de sistemas cartesianos para<br />
sistemas de coordenadas polares inerentes ao processo de<br />
funcionamento <strong>do</strong> mesmo, e por outro la<strong>do</strong>, deseja-se que o<br />
movimento de um braço robótico seja o mais rápi<strong>do</strong> possível.<br />
Supercomputa<strong>do</strong>res são máquinas que realizam cálculos<br />
a velocidades fantásticas, muito elevadas. Este é o caso <strong>do</strong><br />
supercomputa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> LSI (Laboratório de Sistemas Integráveis)<br />
da POLI-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).<br />
Este foi cria<strong>do</strong> em parceria com a empresa Itautec e com a FINEP<br />
(Financia<strong>do</strong>ra de Estu<strong>do</strong>s e Projetos). O laboratório desenvolveu<br />
o InfoCluster, um supercomputa<strong>do</strong>r capaz de processar até 16<br />
bilhões de da<strong>do</strong>s por segun<strong>do</strong> (UNIVERSIA, 2006).<br />
O processo de paralelismo, isto é, fazer-se com que vários<br />
processa<strong>do</strong>res trabalhem simultaneamente, é realiza<strong>do</strong> por<br />
meio de um algoritmo de paralelismo e este, se corretamente<br />
realiza<strong>do</strong>, pode trazer a vantagem da rapidez em relação ao<br />
processamento seqüencial <strong>do</strong> conjunto de cálculos necessários<br />
para a conversão <strong>do</strong> sistema de coordenadas para se realizar o<br />
movimento <strong>do</strong> conjunto robótico.<br />
Um <strong>do</strong>s objetivos precípuos num sistema de tempo real é que<br />
este deve corresponder ao <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> problema (mun<strong>do</strong> real)<br />
e na escala de tempo deste mun<strong>do</strong> real. Com este objetivo em<br />
mente, pode-se utilizar uma das várias técnicas de paralelismo<br />
em problemas seqüenciais autônomos com a finalidade de se<br />
atingir um alto desempenho no sistema.<br />
Neste artigo, apresenta-se uma aplicação de processamento<br />
paralelo em tempo real e uma implementação de algoritmo<br />
utilizan<strong>do</strong> a técnica de pipeline de paralelismo (STADLER, 1995).<br />
Computação paralela<br />
A arquitetura computacional consiste no uso de<br />
microprocessa<strong>do</strong>res independentes interliga<strong>do</strong>s por meio de<br />
uma memória comum entre os mesmos. A Figura 1 apresenta o<br />
esquema de paralelismo.<br />
Processa<strong>do</strong>r A<br />
Processa<strong>do</strong>r B<br />
Processa<strong>do</strong>r C<br />
Cache<br />
Cache<br />
Cache<br />
Figura 1 – Arquitetura para multiprocessa<strong>do</strong>res com<br />
memória compartilhada. (SHITSUKA, 2005)<br />
Memória<br />
compartilhada<br />
<strong>Di</strong>spositivos<br />
de E/S<br />
Aplicação de computação paralela<br />
para um sistema robótico.<br />
O software Single Program Multiple Data (SPMD) é um<br />
modelo de paralelização de trabalho assíncrono. Ele significa:<br />
“rodan<strong>do</strong> o mesmo programa com da<strong>do</strong>s diferentes”. Trata-se<br />
de um programa <strong>completo</strong> que, ao processar da<strong>do</strong>s separa<strong>do</strong>s<br />
pode gerar desvios diferentes, produzin<strong>do</strong>, desta forma, um<br />
paralelismo assíncrono.<br />
Os vários processa<strong>do</strong>res, <strong>do</strong> sistema com paralelismo,<br />
executam o mesmo programa, porém realizan<strong>do</strong> coisas diferentes<br />
em cada passo. Desse mo<strong>do</strong>, executan<strong>do</strong> instruções diferentes<br />
de um mesmo software.<br />
Controle de braços robóticos por meio de computação<br />
paralela.<br />
Nos sistemas de controle de manipula<strong>do</strong>res existem vários<br />
requisitos relaciona<strong>do</strong>s à performance ou desempenho, sen<strong>do</strong> o<br />
principal o tempo de resposta <strong>do</strong> sistema.<br />
O movimento de um manipula<strong>do</strong>r, geralmente é calcula<strong>do</strong><br />
antecipadamente por meio d algoritmo que determina a trajetória<br />
<strong>do</strong> braço mecânico. Desta forma o caminho a ser percorri<strong>do</strong> pelo<br />
braço mecânico obedecerá determinada orientação espacial.<br />
Uma posição atual é fornecida ao sistema por meio de<br />
sensores, os quais informam a referência necessária aos<br />
movimentos seguintes a serem realiza<strong>do</strong>s pelos atua<strong>do</strong>res deste<br />
dispositivo robótico. A Figura 2 apresenta o ciclo realiza<strong>do</strong> pelo<br />
sistema robótico menciona<strong>do</strong>.<br />
Informação<br />
espacial<br />
O ciclo de sistema robótico começa na coleta de da<strong>do</strong>s pelos<br />
sensores. Estes enviam sinais digitais para o sistema de controle<br />
digital onde é executa<strong>do</strong> o algoritmo de paralelismo. Este ciclo<br />
se completa com a resposta <strong>do</strong>s atua<strong>do</strong>res sobre o ambiente<br />
externo. O ciclo deve ser executa<strong>do</strong> em menos de 10ms de<br />
tempo, para que o sistema robótico apresente um desempenho<br />
aceitável.<br />
A resposta <strong>do</strong>s atua<strong>do</strong>res deve ser a mais rápida possível e,<br />
por este motivo, o sistema de controle deve realizar os cálculos<br />
de mo<strong>do</strong> o mais imediato possível.<br />
Existem diversos algoritmos de paralelismo os quais podem<br />
ser integra<strong>do</strong>s a fim de obter alto desempenho no sistema de<br />
controle. A seguir descreve-se um algoritmo que utiliza a técnica<br />
pipeline.<br />
Sistemas robóticos<br />
Ambiente externo<br />
Sensores Atua<strong>do</strong>res<br />
Posicionamento Sistema de<br />
controle digital<br />
Manipulação<br />
Figura 2 – Ciclo de sistema robótico (SHITSUKA, 2005).<br />
Movimento <strong>do</strong><br />
manipula<strong>do</strong>r<br />
Atualmente, os sistemas robóticos são dividi<strong>do</strong>s em 3<br />
(três) componentes principais: sensores, sistema de controle e<br />
atua<strong>do</strong>res.<br />
Sensores são componentes que coletam da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> braço<br />
mecânico em relação ao ambiente externo.<br />
35
O sistema de controle utiliza processa<strong>do</strong>res associa<strong>do</strong>s<br />
a algoritmos de paralelismo, e usa da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pelos<br />
sensores, para calcular os movimentos <strong>do</strong>s atua<strong>do</strong>res. Estes<br />
últimos recebem a informação <strong>do</strong> sistema de controle e executam<br />
os movimentos com o objetivo de realizar alguma atividade que<br />
se deseja que os braços robóticos realizem.<br />
Na Figura 3 pode-se observar um manipula<strong>do</strong>r com 2 (duas)<br />
articulações<br />
Figura 3 – Manipula<strong>do</strong>r com duas articulações<br />
O caminho que o manipula<strong>do</strong>r ou braço mecânico<br />
automatiza<strong>do</strong> tem que percorrer no espaço é especifica<strong>do</strong> por<br />
meio de coordenadas cartesianas. Por outro la<strong>do</strong>, os atua<strong>do</strong>res,<br />
geralmente, funcionam por meio da velocidade angular ou <strong>do</strong><br />
deslocamento. Desta diferença de sistema de trabalho, surge a<br />
necessidade da conversão <strong>do</strong> sistema de coordenadas.<br />
O cálculo de conversão deve ser realiza<strong>do</strong> no menor tempo<br />
possível para que não ocorra atraso nos movimentos.<br />
As equações de conversão de sistema são as seguintes:<br />
COS 2 =<br />
Esta equação pode ser reescrita, fican<strong>do</strong>:<br />
2 = arccos<br />
X + Y – I1 2 – I2 2<br />
2I1I2<br />
X + Y – I1 2 – I2 2<br />
2I1I2<br />
X I2 . sin 2<br />
1 = arctang –<br />
Y I1 + I2 . cos 2<br />
(equação original,<br />
que será des<strong>do</strong>brada)<br />
(primeira equação)<br />
(segunda equação)<br />
I1 e I2 são os comprimentos de cada braço e as coordenadas<br />
cartesianas X e Y são transformadas nos ãngulos 1 e 2<br />
respectivamente.<br />
A Figura 4 ilustra um esquema <strong>do</strong>s eixos e ângulos<br />
respectivos.<br />
Y<br />
I1<br />
Algoritmo computacional de pipeline<br />
A execução de uma tarefa pode ser dividida em vários<br />
estágios ou unidades, cada um <strong>do</strong>s mesmos sen<strong>do</strong> executa<strong>do</strong><br />
de forma independente.<br />
Consideran<strong>do</strong> uma tarefa com 5 estágios e que cada unidade<br />
gaste n ns de tempo, então uma determinada tarefa consumirá<br />
5n ns de tempo para ser realizada por um processa<strong>do</strong>r.<br />
Caso, se utilizem 5 processa<strong>do</strong>res, e estes forem manti<strong>do</strong>s<br />
ocupa<strong>do</strong>s, então é possível se completar a tarefa a cada n ns.<br />
O algoritmo computacional de pipeline realiza a divisão<br />
de uma tarefa em fases. As fases podem ser executadas<br />
simultaneamente e em paralelo. Cada uma delas utilizan<strong>do</strong><br />
da<strong>do</strong>s distintos das outras. Desse mo<strong>do</strong>, uma tarefa pode ser<br />
dividida em fases, por exemplo 5 fases, de mo<strong>do</strong> a executar<br />
cinco processos paralelamente.<br />
Uma das vantagens <strong>do</strong> algoritmo de paralelismo, como já se<br />
mencionou anteriormente, esta na execução paralela das fases<br />
da tarefa. Esta diminui o tempo <strong>do</strong>s cálculos de conversão de<br />
sistemas de coordenadas: os cálculos das equações <strong>do</strong> item<br />
anterior, SiSTEmAS roBÓTiCoS, representam duas fases de<br />
pipeline, ou processamento paralelo.<br />
Os cálculos da segunda equação dependem <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s cálculos da primeira equação. Este fato caracteriza a<br />
dependência de da<strong>do</strong>s de uma em relação à outra, fato que é<br />
comum nas seqüências de coman<strong>do</strong>s das fases <strong>do</strong> pipeline.<br />
memórias<br />
Ângulo 1<br />
Ângulo 2<br />
Aplicação de computação paralela<br />
para um sistema robótico.<br />
Figura 4 – Sistema de coordenadas cartezianas X e Y, e polares com<br />
1 e 2.<br />
Nos computa<strong>do</strong>res que possuem uma arquitetura com<br />
hierarquia de memória como ocorre nos sistemas com<br />
multiprocessa<strong>do</strong>res trabalhan<strong>do</strong> com de memória compartilhada<br />
e memória local, ou então, em sistemas de aglomera<strong>do</strong>s de<br />
multiprocessa<strong>do</strong>res em conjunto com memória compartilhadas<br />
e memória local em cada aglomera<strong>do</strong>, e uma memória<br />
compartilhada global, a exploração da localidade da memória<br />
é um fato importante para se obter um bom desempenho no<br />
quesito de velocidade de processamento.<br />
Linguagem de programação para sistemas de<br />
processamento paralelo<br />
Nos computa<strong>do</strong>res que possuem uma arquitetura com<br />
hierarquia de memória, como ocorre nos sistemas com<br />
multiprocessa<strong>do</strong>res com memória local compartilhada, ou em<br />
sistemas de aglomera<strong>do</strong>s de multiprocessa<strong>do</strong>res com memória<br />
compartilhada local em cada aglomera<strong>do</strong> e uma memória<br />
compartilhada global, a exploração da localidade da memória<br />
I2<br />
X<br />
36
é um fato importante para se obter um bom desempenho de<br />
velocidade de processamento.<br />
A linguagem de programação Cpar foi originada a partir da<br />
linguagem C sen<strong>do</strong> que foram acrescentadas extensões para<br />
expressar o paralelismo. Ela foi criada como o objetivo de<br />
oferecer construções simples para a exploração <strong>do</strong> paralelismo<br />
em múltiplos níveis. Também permite que se otimize o uso da<br />
memória local comum aos processa<strong>do</strong>res. Nela, os blocos<br />
conten<strong>do</strong> elementos que devem ser executa<strong>do</strong>s seqüencialmente,<br />
podem ser executa<strong>do</strong>s simultaneamente. Cada elemento de um<br />
bloco pode gerar sub-blocos, e dessa forma, cria-se sub-níveis<br />
de paralelismo.<br />
O modelo de programação a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> na linguagem Cpar oferece<br />
a paralelização da função Main( ) em múltiplos níveis por meio<br />
<strong>do</strong>s blocos paralelos.<br />
resulta<strong>do</strong>s<br />
Afim de se obter os pontos de referência <strong>do</strong> caminho ou<br />
trajetória a ser simulada pelo braço robótico, criou-se um software<br />
para realizar a especificação <strong>do</strong>s pontos cartesianos.<br />
Realizou-se a execução seqüencial <strong>do</strong> cálculo de controle de<br />
execução <strong>do</strong> algoritmo de pipeline.<br />
A Tabela 1 seguinte apresenta os resulta<strong>do</strong>s de tempo obti<strong>do</strong>s<br />
nos cálculos.<br />
ordem<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
7<br />
8<br />
9<br />
10<br />
Tabela 1 – Comparação de tempos de execução:<br />
paralelo e seqüencial.<br />
Númro de<br />
pontos<br />
20000<br />
40000<br />
60000<br />
80000<br />
100000<br />
120000<br />
140000<br />
160000<br />
180000<br />
200000<br />
Tempo<br />
seqüencial<br />
113861<br />
221674<br />
336987<br />
443850<br />
555770<br />
665387<br />
778947<br />
887720<br />
1018933<br />
1107124<br />
Tempo<br />
paralelo<br />
84630<br />
160985<br />
237420<br />
312130<br />
389224<br />
465888<br />
544273<br />
617889<br />
693710<br />
770606<br />
A comparação de tempos mostrou-se favorável para a<br />
computação paralela e o tempo obti<strong>do</strong> nesta não foi a metade <strong>do</strong><br />
tempo em relação à computação seqüencial devi<strong>do</strong> ao overhead<br />
de sincronização entre as fases <strong>do</strong> pipeline. Este overhead foi<br />
significativo, pois a granularidade presente em cada fase é<br />
pequena.<br />
O algoritmo pode ser melhora<strong>do</strong> aplican<strong>do</strong>-se ao mesmo,<br />
outras técnicas de programação paralela simultaneamente,<br />
como é o caso <strong>do</strong> uso de laços paralelos na fase 1.<br />
Observou-se que o pipeline não diminui o tempo de resposta<br />
de cada da<strong>do</strong> que entra no sistema de controle, entretanto, o<br />
algoritmo possibilita uma maior entrada de da<strong>do</strong>s.<br />
Conclusões<br />
Realizou-se um estu<strong>do</strong> de aplicação de computação paralela<br />
em sistema robótico.<br />
A linguagem Cpar foi utilizada com sucesso na implementação<br />
de algoritmo pipeline para controle de braço robótico.<br />
A comparação de tempos mostrou-se favorável para a<br />
computação paralela.<br />
Há a possibilidade de se melhorar o algoritmo de paralelismo,<br />
o que pode ser realiza<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s futuros.<br />
O algoritmo pipeline não diminui o tempo de resposta de cada<br />
da<strong>do</strong> que entra no sistema de controle, entretanto, o algoritmo<br />
possibilita uma maior entrada de da<strong>do</strong>s.<br />
Também, concluiu-se que o algoritmo não diminui o tempo<br />
de resposta de cada da<strong>do</strong> que entra no sistema de controle,<br />
entretanto, o algoritmo possibilita uma maior entrada de da<strong>do</strong>s.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
FRIEDMAN, A. <strong>Di</strong>cionário de informática. São Paulo: Makron<br />
1995.<br />
JAJA, J. An introduction to parallel algorithms. USA: University<br />
of Marylland, 1992.<br />
KYU, K.; LEWIS, T.G.; ELREWINI, H. Introduction to parallel<br />
computing. New York: Prentice-Hall, 1992.<br />
NOMYAMA, D.H. ; ZORZO, S.D.; AKAMATU, D.M. Computação<br />
concorrente: conceitos e linguagens de programação. São<br />
Carlos, 1998.<br />
SHITSUKA, Ricar<strong>do</strong>, et al. Sistemas de informação: um<br />
enfoque computacional. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2005.<br />
STADLER, W. Analytical robotics mas mechatronics, USA,<br />
1995.<br />
UNIVERSIA. Website <strong>Di</strong>sponível em: http://www.universia.com.<br />
br/html/materia/materia_jib.html Consulta<strong>do</strong> em 19 jun 2006.<br />
WIKIPEDIA. Website <strong>Di</strong>sponível em: http://pt.wikipedia.org/<br />
wiki/Arquitetura_de_computa<strong>do</strong>res Consulta<strong>do</strong> em 19 jun. 2006.<br />
NoTAS<br />
1- Professor Ms. da Faculdade Montessori, Mestre em Engenharia,<br />
Especialista em Sistemas de Informação;<br />
2- Doutor em Engenharia da Computação pela EPUSP, Mestre em<br />
Computação pelo IME-USP;<br />
3- Professora Especialista “Lato senu” em Sists. de Informação pela<br />
Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Especialista “Lato sensu” em<br />
Informática em Educação pela UFLA.<br />
4- Analista de Sistemas.<br />
5- Analista de Sistemas.<br />
Aplicação de computação paralela<br />
para um sistema robótico.<br />
37
ESumo<br />
Sistema de atendimento à saúde.<br />
Este artigo tem como objetivo apresentar o projeto para<br />
desenvolvimento de um Sistema de Atendimento à Saúde<br />
(SAS).<br />
A idéia de criar este sistema surgiu devi<strong>do</strong> às dificuldades<br />
diárias de to<strong>do</strong>s aqueles que trabalham na área da saúde, tais<br />
como registrar as informações sobre a saúde <strong>do</strong>s pacientes<br />
(histórico).<br />
O Serviço de Atendimento à Saúde (SAS) tem como<br />
proposta melhorar a deficiência encontrada na organização <strong>do</strong><br />
armazenamento das informações de saúde, com a promessa de<br />
não só substituir o prontuário em papel, mas também elevar a<br />
qualidade da assistência à saúde através de novos recursos e<br />
aplicações que visam agilizar os processos de atendimento.<br />
Para o alcance <strong>do</strong>s objetivos foi utiliza<strong>do</strong> a modelagem<br />
orientada a objetos com UML (Unified Modeling Language) e<br />
<strong>do</strong>cumentada na ferramenta Microsoft Visio 2005.<br />
O sistema desenvolvi<strong>do</strong> pode ser utiliza<strong>do</strong> em “hardware” de<br />
pequeno porte, trabalhan<strong>do</strong> em rede e com acesso a internet.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
<strong>Di</strong>ficuldades, Atendimento, Sistema Eletrônico.<br />
ABSTrACT<br />
Autores:<br />
Claudinei Rodrigues <strong>do</strong> Carmo 1<br />
Elias Alves <strong>do</strong>s Santos 2<br />
Marcelo Branco 3<br />
Marisa Irene Emidio 4<br />
Valdecir Pereira Coelho 5<br />
orientação:<br />
Profª Msc Josyane Lannes Florenzano de Souza 6<br />
This article has as objective presents the project for<br />
development of a system of service the health. The idea of<br />
creating this system appeared, due the daily difficulties of all<br />
those that work in the area of the health, such as registering the<br />
information about the patients’ health (historical).<br />
The Service System the health (SAS), he/she has as<br />
proposal to improve the deficiency found in the organization of<br />
the storage of the information of health, as the promise of not<br />
only to substitute the handbook in paper, but also to elevate the<br />
quality of the attendance to the health through new resources<br />
and applications that seek to activate the service processes. For<br />
the reach of the objectives the modelling was used guided to<br />
objects with UML (Unified modeling language) and <strong>do</strong>cumented<br />
in the tool Microsoft Visio 2005. The developed system can be<br />
used in hardware of small load, working in net and with access<br />
the internet.<br />
KEYworDS:<br />
<strong>Di</strong>fficulties, Attendance, Electronic System.<br />
38
1. introdução<br />
Os profissionais da área da saúde perdem muito tempo<br />
no preenchimento e no registro das informações de saúde e<br />
de <strong>do</strong>ença <strong>do</strong>s pacientes. Procuran<strong>do</strong> maneiras de agilizar o<br />
processo de preenchimento dessas informações no seu cotidiano,<br />
foi desenvolvi<strong>do</strong> pelo grupo de alunos <strong>do</strong> 4º ano de Sistemas de<br />
Informação o Sistema de Atendimento à Saúde (SAS) devi<strong>do</strong> às<br />
dificuldades de preenchimento <strong>do</strong> Prontuário Médico de papel<br />
que muitas vezes são ilegíveis.<br />
Com o uso <strong>do</strong> sistema informatiza<strong>do</strong>, caso o preenchimento<br />
de uma informação seja feita incorretamente, é mais fácil de<br />
corrigir, já com o prontuário de papel a correção gera uma rasura<br />
e a perda <strong>do</strong> prontuário.<br />
O sistema em papel apresenta diversas limitações, tanto<br />
práticas como lógicas, sen<strong>do</strong> ineficiente para o armazenamento<br />
e organização de grande número de da<strong>do</strong>s de tipos diferentes,<br />
apresentan<strong>do</strong> diversas desvantagens em relação ao prontuário<br />
eletrônico.<br />
As informações contidas no prontuário eletrônico podem<br />
estar armazenadas somente num único lugar. Enquanto que o<br />
prontuário de papel pode haver perdas freqüente da informação,<br />
multiplicidade de pastas, dificuldade de pesquisa coletiva, falta<br />
de padronização, dificuldade de acesso.<br />
2. Problema de Pesquisa e objetivo<br />
Através de pesquisa em algumas clínicas de pequeno porte,<br />
em regiões da cidade de São Paulo, foram detectadas que muitas<br />
delas têm dificuldades em registrar e armazenar as informações<br />
<strong>do</strong>s pacientes utilizan<strong>do</strong> fichas cadastrais em papel, sen<strong>do</strong><br />
esses <strong>do</strong>cumentos guarda<strong>do</strong>s em grandes armários ou arquivos<br />
causan<strong>do</strong> transtornos diversos no momento de consultar uma<br />
determinada informação. Ten<strong>do</strong> como objetivo de sanar estes<br />
problemas encontra<strong>do</strong>s, foi sugeri<strong>do</strong> a criação de um Sistema de<br />
Informação Gerencial (SIG), visan<strong>do</strong> agilizar e facilitar o processo<br />
de gerenciamento destas unidades.<br />
3. revisão Bibliográfica<br />
3.1 Sistemas de informação<br />
O Sistema de Informação, segun<strong>do</strong> Stair, (2002 [1]), é um<br />
conjunto de componentes inter-relaciona<strong>do</strong>s que coletam,<br />
manipulam e disseminam da<strong>do</strong>s e informação, proporcionan<strong>do</strong><br />
um mecanismo de ‘feedback” para atender a um objetivo.<br />
To<strong>do</strong>s interagem diariamente com sistemas de informação,<br />
tanto particularmente como profissionalmente. Um sistema<br />
de informação melhora as comunicações e, como resulta<strong>do</strong>,<br />
melhora o atendimento ao consumi<strong>do</strong>r.<br />
Os Sistemas de Informação poderão contribuir<br />
significativamente para a solução de muitos problemas<br />
empresariais. Assim, o esforço das empresas deve-se concentrar<br />
nos níveis superiores <strong>do</strong>s Sistemas de Informação Empresarias,<br />
ou seja, Sistemas de Informação Estratégico e de Gestão.<br />
Um Sistema de Informação Gerencial (SIG) é o processo<br />
de transformação de da<strong>do</strong>s em informações. E, quan<strong>do</strong> esse<br />
processo está volta<strong>do</strong> para geração de informações. Elas são<br />
necessárias e utilizadas no processo decisório da empresa.<br />
3.2 orientação a objeto<br />
A Orientação a Objeto (OO), segun<strong>do</strong> Pressman, (2003<br />
[5]), são objetos que podem ser categoriza<strong>do</strong>s, descritos,<br />
Sistema de atendimento à saúde.<br />
combina<strong>do</strong>s, modifica<strong>do</strong>s, e cria<strong>do</strong>s. Portanto, não é surpresa<br />
que uma Orientação Objeto deve ser exibida com o propósito<br />
para criação de “software” para computa<strong>do</strong>r, uma abstração que<br />
modela o mun<strong>do</strong> em um méto<strong>do</strong> que nos ajuda como entender<br />
melhor e navegar nele. Uma Orientação a Objetos aproxima o<br />
desenvolve<strong>do</strong>r de “software” foi primeiro proposto no fim de<br />
1960. Como isto leva quase 20 anos para a tecnologia de objetos<br />
virem a ser consideravelmente usada. Durante mea<strong>do</strong>s de 1990<br />
a Orientação Objetos e a engenharia de “software” tornam-se<br />
um paradigma de escolha por muitas construções de produtos<br />
de “softwares” e um crescimento nos sistemas de informação e<br />
engenheiros profissionais. Com o passar <strong>do</strong> tempo, tecnologias de<br />
objetos estão substituin<strong>do</strong> formas clássicas de desenvolvimento<br />
de “software”. Uma questão importante é “Por quê?”.<br />
A resposta (como muitas respostas sobre engenharia de<br />
“software”) não é simples. Algumas pessoas podem afirmar<br />
que profissionais de “software” simplesmente foram atraí<strong>do</strong>s<br />
por uma “nova abordagem”, mas essa é uma visão simplista.<br />
Tecnologias de objetos levam a um grande número de benefícios<br />
que proporciona vantagens tanto a nível técnico como de<br />
gerenciamento. Tecnologias de objetos levam ao reuso, e, o<br />
reuso (de correntes de programas) leva a um desenvolvimento<br />
de “software” mais rápi<strong>do</strong> e a programas com maior qualidade.<br />
“Softwares” Orienta<strong>do</strong>s a Objetos são mais fáceis de manter,<br />
pois sua estrutura é naturalmente independente.<br />
3.3 umL<br />
A Unifield Modeling Language (UML), segun<strong>do</strong> Booch, (2000<br />
[3]), é uma linguagem-padrão para a elaboração de estrutura de<br />
projetos de “software”. A UML poderá ser empregada para a<br />
visualização, a especificações, a construção e a <strong>do</strong>cumentação<br />
de artefatos que façam uso de sistemas complexos de<br />
“software”. Também é adequada para a modelagem de sistemas,<br />
cuja abrangência poderá incluir sistemas de informação<br />
corporativos a serem distribuí<strong>do</strong>s a aplicações baseadas em<br />
Web e até sistemas complexos embuti<strong>do</strong>s de tempo real. É<br />
uma linguagem muito expressiva, abrangen<strong>do</strong> todas as visões<br />
necessárias ao desenvolvimento e implantação desses sistemas.<br />
Apesar de sua expressividade, não é difícil compreender e usar<br />
a UML. Portanto, é somente uma parte de um méto<strong>do</strong> para<br />
desenvolvimento de software. É independente <strong>do</strong> processo,<br />
apesar de ser perfeitamente utilizada em processo orienta<strong>do</strong> a<br />
casos de usos, centra<strong>do</strong> na arquitetura, iterativo e incremental.<br />
Destina principalmente a sistemas complexos de software.<br />
Tem si<strong>do</strong> empregada de maneira efetiva em <strong>do</strong>mínios como os<br />
seguintes:<br />
• Sistemas de Informações corporativos<br />
• Serviços bancários e financeiros<br />
• Telecomunicações<br />
• Transportes<br />
• Defesa/espaço aéreo<br />
• Vendas de varejo<br />
• Eletrônica médica<br />
• Científicos<br />
• Serviços distribuí<strong>do</strong>s basea<strong>do</strong>s na Web<br />
A UML não está restrita à modelagem de software. Na<br />
verdade, é suficientemente expressiva para modelar sistemas<br />
que não sejam de “software”, como fluxo de trabalho no sistema<br />
legal, a estrutura e o comportamento de sistemas de saúde e o<br />
projeto de “hardware”.<br />
39
4. Estu<strong>do</strong> de Caso: Sistema de Atendimento a Saúde<br />
O projeto <strong>do</strong> Sistema de Atendimento à Saúde (SAS) surgiu<br />
devi<strong>do</strong> às necessidades <strong>do</strong>s profissionais da área da saúde em<br />
realizar o preenchimento das informações <strong>do</strong> paciente de forma<br />
ágil e fácil. A idéia <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> grupo de alunos <strong>do</strong> 4º ano<br />
de Sistemas de Informação consiste em um sistema que visa<br />
melhorar o atendimento na área da saúde, e totalmente basea<strong>do</strong><br />
na gestão <strong>do</strong>s processos de funcionamento de entidades como:<br />
hospitais, postos de saúde e clínicas.<br />
A regra de negócios está nos procedimentos, nos quais, a<br />
entidade aplica em seu dia-a-dia, ou seja, seus processos de<br />
atendimento e cadastro.<br />
Cada vez mais as pessoas necessitam em buscar e ter to<strong>do</strong><br />
o conforto que o mun<strong>do</strong> da tecnologia pode oferecer no que diz<br />
respeito à utilização <strong>do</strong>s recursos disponíveis na Web.<br />
O uso da informática como forma de organizar e armazenar<br />
a informação contida no prontuário em papel enfatiza que<br />
o Sistema de Atendimento a Saúde (SAS) também poderá<br />
implementar outros recursos de acor<strong>do</strong> a necessidade. O<br />
registro computa<strong>do</strong>riza<strong>do</strong> de paciente é um registro eletrônico de<br />
paciente que reside em um sistema especificamente projeta<strong>do</strong><br />
para dar apoio aos usuários através da disponibilidade de da<strong>do</strong>s<br />
<strong>completo</strong>s e correto, lembretes e alertas aos médicos, sistemas<br />
de apoio à decisão, links para bases de conhecimento médico,<br />
e outros auxílios.<br />
Para a construção <strong>do</strong> projeto Sistema de Atendimento a Saúde<br />
(SAS) serão utilizadas algumas ferramentas tais como Microsoft<br />
Visual Studio .Net, que tratará na manipulação de linguagens e<br />
aplicações Win<strong>do</strong>ws e Web totalmente baseada em ferramentas<br />
como o Net Framework 2.0 e Microsoft Office Visio 2003.<br />
4.1 requisitos funcionais<br />
Requisitos Funcionais, segun<strong>do</strong> Rezende (2002 [2]), podem<br />
ser defini<strong>do</strong>s como funções ou atividades que o “software” ou<br />
sistema faz (quan<strong>do</strong> pronto) ou fará (quan<strong>do</strong> em desenvolvimento).<br />
Devem ser elabora<strong>do</strong>s no ínicio de um projeto de sistema ou<br />
“software”.<br />
Os requisitos funcionais são fundamentais para elaborar<br />
um sistema ou “software” que atenda e satisfaça plenamente a<br />
equipe desenvolve<strong>do</strong>ra e os clientes ou usuários. Quan<strong>do</strong> bem<br />
defini<strong>do</strong>s e formalmente relata<strong>do</strong>s evitam a alta manutenção de<br />
sistemas ou “software”.<br />
4.2 requisitos Funcionais <strong>do</strong> SAS<br />
Na tabela abaixo o grupo de alunos <strong>do</strong> 4º ano de Sistemas<br />
de Informação descreve os requisitos funcionais para o projeto<br />
Sistema de Atendimento à Saúde (SAS):<br />
Número<br />
1<br />
2<br />
Ator<br />
Funcionário<br />
Médico<br />
Descrição <strong>do</strong>s atores<br />
Descrição<br />
Representa a pessoa que irá acessar<br />
o sistema para efetivar os seguintes<br />
serviços disponibiliza<strong>do</strong>s:<br />
• Efetuar cadastro<br />
• Enviar Prontuário<br />
• Consultar Cadastro<br />
Corresponde à pessoa que irá acessar<br />
o sistema para consultar e registrar o<br />
histórico <strong>do</strong> paciente:<br />
• Registrar Consulta<br />
• Emitir Relatório<br />
• Emitir Receita<br />
4.3 requisitos não funcionais<br />
Requisitos não funcionais, segun<strong>do</strong> Rezende, (2002 [2]), são<br />
restrições sobre os serviços ou as funções ofereci<strong>do</strong>s pelo sistema.<br />
Entre eles destacam-se restrições de tempo, restrições sobre<br />
o processo de desenvolvimento, padrões, como a capacidade<br />
<strong>do</strong>s dispositivos de E/S (entrada /saída) e as representações de<br />
da<strong>do</strong>s utilizadas nas interfaces de sistema.<br />
Os requisitos não funcionais surgem conforme a necessidade<br />
<strong>do</strong>s usuários, em razão de restrições de orçamento, de políticas<br />
organizacionais, pela necessidade de interoperabilidade com os<br />
outros sistemas de “software” ou “hardware” ou devi<strong>do</strong> a fatores<br />
externos, como por exemplo, regulamentos de segurança e<br />
legislação sobre privacidade.<br />
4.4 requisitos não funcionais <strong>do</strong> SAS<br />
Para atender este requisito o projeto Sistemas de Atendimento<br />
à Saúde oferece:<br />
• Interface gráfica, utilizan<strong>do</strong> recursos de janela, botões e<br />
mouse para a seleção de coman<strong>do</strong>s;<br />
• Interface amigável e fácil de usar;<br />
4.5 modelagem <strong>do</strong> SAS<br />
Sistema de atendimento à saúde.<br />
Antes de se consultar, o paciente precisa fazer um cadastro.<br />
O paciente se dirige à recepção para que o funcionário faça seu<br />
cadastro no SAS. Quan<strong>do</strong> o paciente chega ao hospital para<br />
sua consulta, o funcionário efetua o cadastro <strong>do</strong> paciente e<br />
encaminha para o médico através <strong>do</strong> SAS.<br />
Um diagrama de caso de uso representa uma coleção que<br />
representa a ação <strong>do</strong> ator, permite a representação da relação<br />
existente entre eles e, com isso, especifica ou caracteriza a<br />
funcionalidade e o comportamento de um sistema.<br />
Sua notação está representada na figura 01-<strong>Di</strong>agrama de<br />
Caso de Uso <strong>do</strong> SAS e descreve o que o sistema fará através de<br />
atores e casos de uso.<br />
Na figura 01, o ator funcionário executa as ações, que são<br />
os casos de uso, efetua cadastro, envia prontuário e consultar<br />
cadastro, e, o ator médico registra a consulta, emite relatório e<br />
receita.<br />
Ator<br />
Funcionário<br />
Caso<br />
de uso<br />
Efetuar<br />
cadastro<br />
Enviar<br />
prontuário<br />
Consultar<br />
cadastro<br />
Figura 01 – <strong>Di</strong>agrama de Caso de Uso SAS<br />
Médico<br />
Registrar<br />
consulta<br />
Emitir<br />
relatório<br />
Emitir<br />
receita<br />
O <strong>Di</strong>agrama de Caso de Uso, segun<strong>do</strong> Booch, (2000 [4]), é<br />
uma modelagem de aspectos dinâmicos de sistemas. Têm um<br />
papel central para a modelagem <strong>do</strong> comportamento de um<br />
sistema, de um subsistema ou de uma classe. São importantes<br />
40
para visualizar, especificar e <strong>do</strong>cumentar o comportamento<br />
de um elemento. Esses diagramas fazem com que sistemas,<br />
subsistemas e classes fiquem acessíveis e compreensíveis,<br />
por apresentarem a visão externa sobre como esses elementos<br />
podem ser utiliza<strong>do</strong>s no contexto. Também são importantes para<br />
testar sistemas executáveis por meio de engenharia de produção<br />
e para compreendê-los por meio de engenharia reversa.<br />
Existem outros diagramas da UML que poderão ser utiliza<strong>do</strong>s,<br />
porém neste artigo não foram menciona<strong>do</strong>s. Que são: <strong>Di</strong>agrama<br />
de Componentes, <strong>Di</strong>agrama de Classes, <strong>Di</strong>agrama de Atividades,<br />
<strong>Di</strong>agrama de Seqüência e <strong>Di</strong>agrama de Implantação.<br />
5. Conclusão<br />
O uso da tecnologia é um fator importante, que traz conforto,<br />
comodidade, rapidez e auxilio na execução de qualquer tarefa<br />
<strong>do</strong>s processos das empresas e também na vida das pessoas,<br />
sem duvida tráz benefícios em nosso cotidiano.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
[1] STAIR, Ralph M. REYNOLDS, George W. Princípios de<br />
Sistemas de Informação. São Paulo: Editora Thomson Learning,<br />
2002.<br />
[2] REZENDE, Denis Alcides. Engenharia de Software e<br />
Sistemas de Informação. São Paulo: Editora Brasport, 2002.<br />
[3] TONSIG, Sérgio Luiz. Engenharia de Software - Análise de<br />
Sistemas. São Paulo: Editora Futura, 2000.<br />
[4] BOOCH, Denis Alcides . RUMBAUGH, James. JACOBSON,<br />
Ivar. UML Guia <strong>do</strong> usuário. São Paulo: Editora Campus, 2000.<br />
[5] PRESSMAN, Roger. Software Engineering – a Practitioner’s<br />
Approach. Columbus, OH: Editora McGraw-Hill, 2003.<br />
NoTAS<br />
1- Claudinei Rodrigues <strong>do</strong> Carmo. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre<br />
de Sistemas de Informação. E-mail: Claudinei.carmo@itelefonica.com.br<br />
2- Elias Alves <strong>do</strong>s Santos. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de<br />
Sistemas de Informação. E-mail: alvez@ig.com.br<br />
3- Marcelo Branco. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de Sistemas de<br />
Informação. E-mail: branks@spypost.net<br />
4- Marisa Irene Emidio. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de Sistemas<br />
de Informação. E-mail: marisa.25@terra.com.br<br />
5- Valdecir Pereira Coelho. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de<br />
Sistemas de Informação. E-mail: val_coelho@ig.com.br<br />
6- Profª Msc Josyane Lannes Florenzano de Souza. Mestre em Ciência<br />
da Computação PUC/RS. E-mail: josyane@terra.com.br<br />
Sistema de atendimento à saúde.<br />
41
ESumo<br />
Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />
Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />
Este artigo partiu da vontade de utilizar tecnologia surgida<br />
em anos recentes no merca<strong>do</strong> tecnológico volta<strong>do</strong> à informática,<br />
o que representou uma inovação da tecnologia, que são os<br />
sistemas OCR (Optical Character Recognition – Reconhecimento<br />
óptico de caracteres), volta<strong>do</strong>s ao reconhecimento de veículo/<br />
placa de veículo a partir de foto <strong>do</strong> mesmo.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
UML, Estacionamento, OCR.<br />
ABSTrACT<br />
This article had come from the will of using a technology<br />
recently arose in the technical market of information technology<br />
that represented an innovation in this field: the OCR technology<br />
(Optical Character Recognition), related to the recognition of a<br />
vehicle or a vehicle plate through a photography.<br />
KEYworDS:<br />
UML, Parking, OCR.<br />
Autores:<br />
João Daniel Forstman 1<br />
Luiz Fernan<strong>do</strong> Mangiopane 2<br />
Marcos Antonio da Silva 3<br />
Paulo César de Oliveira Veras 4<br />
orientação:<br />
Profª Ms. Josyane Lanne Florenzano de Souza 5<br />
42
1. introdução<br />
O reconhecimento automático de placas de veículos tem-se<br />
torna<strong>do</strong> uma aplicação de interesse mundial, face o avanço na<br />
capacidade computacional <strong>do</strong>s microcomputa<strong>do</strong>res e sistemas<br />
embarca<strong>do</strong>s, nas suas potencialidades de emprego e no<br />
enfrentamento <strong>do</strong>s desafios ainda em aberto para a pesquisa.<br />
No Brasil, o reconhecimento automático de placas está restrito<br />
a alguns poucos grupos de pesquisa, geralmente liga<strong>do</strong>s às<br />
maiores universidades <strong>do</strong> país, e a um número ainda menor<br />
de empresas que, em geral, tentam transformar a pesquisa<br />
acadêmica em produto ou representam ou fazem uso de pacotes<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> país.<br />
Sen<strong>do</strong> assim, nos dedicamos a esse assunto e nos<br />
propusemos a desenvolver um sistema que contenha a tecnologia<br />
OCR (Optical Character Recognition – Reconhecimento Óptico<br />
de Caracteres). Assim, o sistema tem como objetivo oferecer<br />
uma maior rapidez, integridade e segurança na captação <strong>do</strong>s<br />
da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s veículos que adentrarem no estacionamento.<br />
2. Problema de pesquisa e objetivo<br />
Os sistemas OCR, volta<strong>do</strong>s ao reconhecimento de veículo<br />
e/ou placa de veículo a partir de foto <strong>do</strong> mesmo, ainda é uma<br />
tecnologia nova no merca<strong>do</strong> brasileiro. Desta forma, cremos<br />
que existem potenciais clientes para o produto e esses<br />
possuem níveis diferencia<strong>do</strong>s de informatização, que vão desde<br />
estacionamentos que utilizam “softwares” convencionais para<br />
estacionamentos liga<strong>do</strong>s em rede até clientes que não possuem<br />
nenhum tipo de processo informatiza<strong>do</strong>. Decidiu-se estudar essa<br />
nova tecnologia (OCR) para, não apenas agregar conhecimento a<br />
respeito deste tipo de “software”, como conhecimento adquiri<strong>do</strong>,<br />
mas também desenvolvê-lo com tecnologia OCR, que registraria,<br />
sem intervenção humana, o momento da entrada e saída de um<br />
determina<strong>do</strong> veículo através da captura de sua placa. Cremos<br />
que tal tecnologia aumenta o controle e a agilidade, bem como<br />
inibe possíveis fraudes por parte de funcionários contrata<strong>do</strong>s,<br />
ao lidar com o fluxo de entrada e saída de veículos em<br />
estacionamentos.<br />
Da necessidade de uma meto<strong>do</strong>logia para modelagem, dentre<br />
outras, foi a<strong>do</strong>tada a UML (Unified Modeling Linguage 6 ) que, pela<br />
variedade de diagramas e pela facilidade de uso, acredita-se seja<br />
a que mais produz ganho ao projeto, em senti<strong>do</strong> analítico e em<br />
senti<strong>do</strong> de desenvolvimento.<br />
Concluí<strong>do</strong>s os diagramas e a análises <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
projeto, escolheu-se a plataforma de desenvolvimento C# para<br />
a programação <strong>do</strong> “software”, pelo fato de, além de ser uma<br />
linguagem orientada a objeto, trata-se de uma técnica que, por<br />
ser uma maneira tão instintiva de se entender o mun<strong>do</strong> onde<br />
vivemos, seus conceitos facilitam ao entendimento <strong>do</strong> minimun<strong>do</strong><br />
de um sistema de informática, contribuin<strong>do</strong> também para a<br />
simplificação <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> desenvolve<strong>do</strong>r, e, também, uma<br />
melhor qualidade no desenvolvimento de seus sistemas em um<br />
menor espaço de tempo. Também, como a própria Linguagem<br />
orientada a objeto, é uma ferramenta nova, mas, que tem ti<strong>do</strong><br />
grande aceitação e utilização no merca<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> a facilidade de<br />
uso e o potencial que esta proporciona.<br />
3. revisão bibliográfica<br />
3.1 redes neurais artificiais<br />
Segun<strong>do</strong> Kovács [1], “redes neurais artificiais é frequentemente<br />
como uma subespecialidade da Inteligência Artifical, outras vezes<br />
como uma classe de modelos matemáticos para problemas de<br />
Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />
Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />
classificação e reconhecimento de padrões, outras ainda como<br />
uma parte da teoria coneccionista <strong>do</strong>s processos mentais e<br />
finalmente como uma categoria de modelos em ciência da<br />
congnição...redes neurais artificiais constituem genuinamente<br />
uma teoria para o estu<strong>do</strong> de fenômenos complexos”.<br />
Redes neurais artificiais [2] é um conceito que visa imitar o<br />
cérebro humano na maneira de processar informações. O cérebro<br />
é ti<strong>do</strong> como um processa<strong>do</strong>r altamente complexo e que realiza<br />
processamentos de maneira paralela. Para isso, ele se utiliza<br />
<strong>do</strong>s neurônios, de forma que eles realizem o processamento<br />
necessário. Isso é feito numa velocidade extremamente alta e<br />
não existe qualquer computa<strong>do</strong>r no mun<strong>do</strong> capaz de realizar o<br />
que o cérebro humano faz.<br />
Nas redes neurais artificiais, a idéia é realizar a análise<br />
e processamento de informações de forma similar aos de<br />
neurônios <strong>do</strong> cérebro. Como o cérebro humano é capaz de<br />
aprender e tomar decisões baseadas na aprendizagem, as redes<br />
neurais artificiais devem fazer o mesmo. Assim, uma rede neural<br />
pode ser interpretada como um esquema de processamento<br />
capaz de armazenar conhecimento basea<strong>do</strong> em aprendizagem e<br />
disponibilizar este conhecimento para a aplicação em questão.<br />
3.2 oCr<br />
Segun<strong>do</strong> a enciclopédia livre Wikipedia [3], “OCR é um acrónimo<br />
para o inglês Optical Character Recognition, uma tecnologia para<br />
reconhecer caracteres a partir de um ficheiro de imagem, ou mapa<br />
de bits. Através <strong>do</strong> OCR é possível digitalizar uma folha de texto<br />
impresso e obter um arquivo de texto editável”.<br />
A OCR utiliza de redes neurais, conforme visto anteriormente,<br />
na verificação de padrões gráficos para escaneamento, extração<br />
e conversão em caracteres editáveis.<br />
4. meto<strong>do</strong>logia<br />
Para o projeto, foi realizada uma pesquisa de campo na qual<br />
foram identificadas as características <strong>do</strong>s estacionamentos que<br />
são chama<strong>do</strong>s neste artigo de ‘A’ e ‘B’, ambos da região sul da<br />
cidade de São Paulo.<br />
Uma vez conheci<strong>do</strong> os estacionamentos, identificam-se a<br />
carência de um sistema que agregasse um maior gerenciamento<br />
<strong>do</strong>s processos. A partir deste ponto, foi estudada a melhor forma<br />
de desenvolver uma solução que atendesse essas necessidades.<br />
Escolhemos o desenvolvimento de um sistema que monitorasse<br />
a ação <strong>do</strong>s funcionários, utilizan<strong>do</strong> o OCR como base, para inibir<br />
possíveis fraudes no perío<strong>do</strong> de tempo de um veículo estaciona<strong>do</strong><br />
e também para controlar a contabilização <strong>do</strong> fluxo de caixa.<br />
O sistema terá os seguintes procedimentos:<br />
1. Quan<strong>do</strong> o veículo adentrar ao estacionamento, sua placa<br />
será capturada através de câmera, sen<strong>do</strong> essa manipulada<br />
pelo sistema e retornan<strong>do</strong> a placa em texto e a data e horário<br />
automaticamente. O funcionário será responsável pela entrada<br />
<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s restantes (da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> cliente, por exemplo);<br />
2. O sistema captura novamente a placa <strong>do</strong> veículo quan<strong>do</strong><br />
este deixar o estacionamento, calculan<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de sua<br />
estadia.<br />
Para melhor compreensão desse procedimento, veja a figura<br />
em anexo.<br />
Utilizan<strong>do</strong>-se da ferramenta Rational Rose 2002, será possível<br />
desenvolver os gráficos da UML, abstrain<strong>do</strong> os fluxos <strong>do</strong> sistema.<br />
Além disso, o diagrama de Caso de Uso (fig. 02) demonstra as<br />
funcionalidades <strong>do</strong> sistema, bem como o nível de acesso, onde:<br />
43
- O atendente herda to<strong>do</strong>s os atributos <strong>do</strong> funcionário,<br />
assim, tem permissão de se logar (login/logof) no sistema, alterar<br />
cliente, incluir cliente, gerar movimentação de acor<strong>do</strong> com a<br />
disponibilidade de vaga o que causará a impressão <strong>do</strong> recibo ao<br />
cliente e receber o pagamento;<br />
- O gerente, além de herdar os atributos <strong>do</strong> funcionário, tem<br />
como especializações, permissão de incluir, alterar e excluir<br />
marca, modelo cliente funcionário, imprimir relatórios gerenciais<br />
e deletar movimentações (entrada/saída de veículos).<br />
O <strong>Di</strong>agrama de Classes (fig.03) demonstra a interação entre<br />
os objetos, esclarecen<strong>do</strong> que destas surgiram tabelas dentro da<br />
base de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sistema. O relacionamento entre as classes<br />
demonstra sua normalização.<br />
Para desenvolvimento da interface gráfica foi utilizada a<br />
ferramenta Microsoft Visual Studio 2003, utilizan<strong>do</strong> linguagem<br />
C#. Com a captura automática da placa <strong>do</strong> veículo o sistema<br />
exibirá a foto da placa e verificará se existe cadastra<strong>do</strong> um cliente<br />
tipo “mensalista”, caso contrário, o sistema preencherá os da<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> cliente como “cliente avulso” automaticamente. A figura 04<br />
demonstra a tela principal <strong>do</strong> sistema.<br />
6. Anexos e figuras<br />
Entrada <strong>do</strong> veículo<br />
Veículo entra no<br />
estacionamento<br />
A foto é<br />
capturada<br />
A imagem<br />
é convertida<br />
em texto<br />
O funcionário<br />
entra com<br />
os da<strong>do</strong>s<br />
Fig. 01 – Fluxo <strong>do</strong> sistema<br />
Saída <strong>do</strong> veículo<br />
O sistema<br />
captura<br />
a placa<br />
A imagem<br />
é convertida<br />
em texto<br />
O sistema<br />
calcula<br />
o perío<strong>do</strong><br />
5. Conclusões<br />
Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />
Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />
Cremos que, com esta proposta, oferecemos alguma<br />
contribuição à comunidade científica no que se refere ao<br />
processamento de imagem e reconhecimento de caracteres,<br />
bem como com as possibilidades de controle e gerenciamento,<br />
e inovação na forma como se trabalha no ramo de merca<strong>do</strong><br />
menciona<strong>do</strong> nesse artigo.<br />
Com os esforços emprega<strong>do</strong>s até o momento, desenvolveuse<br />
a interface gráfica fig.(4), Banco de da<strong>do</strong>s, processo de entrada<br />
e saída, captura de imagem. Espera-se nos próximos 06 meses,<br />
desenvolver a parte <strong>do</strong> código onde será tratada a imagem.<br />
Isto será realiza<strong>do</strong> por meio da interpretação e comparações<br />
de algoritmos já existentes. Por fim, os esforços serão bem<br />
emprega<strong>do</strong>s diante da expansão profissional e pessoal que to<strong>do</strong><br />
o processo trará.<br />
Embora o sistema de estacionamento apresenta<strong>do</strong> tende<br />
ao sucesso ao trazer diferenciais em relação à grande maioria<br />
<strong>do</strong>s “softwares” de merca<strong>do</strong>, o bom funcionamento <strong>do</strong> sistema<br />
depende das condições da placa <strong>do</strong> veículo; de boa iluminação<br />
no local para captura da imagem da placa; resolução da câmera;<br />
qualidade da placa de captura de vídeo com resolução mínima<br />
de 640x480.<br />
Fig. 02 – <strong>Di</strong>agrama de Caso de Uso <strong>do</strong> sistema de estacionamento. 7<br />
44
Fig. 03 – <strong>Di</strong>agrama de Classe <strong>do</strong> sistema de estacionamento. 8<br />
Fig. 04 – Interface Gráfica <strong>do</strong> sistema de estacionamento.<br />
Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />
Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />
45
BiBLioGrAFiA:<br />
[1] KOVÁCS, Z. L. Redes Neurais Artificiais Fundamentos e<br />
Aplicações. Edição Acadêmica São Paulo: 1996.<br />
[2] ALECRIM, Emerson. Redes Neurais Artificiais, INFO<br />
WESTER, São Paulo 09/05/2004, 15/03/2006. <strong>Di</strong>sponível:<br />
www.infowester.com/redesneurais.php.<br />
[3] Wikipedia, A enciclopédia livre, 29/03/2006. <strong>Di</strong>sponível:<br />
wikipedia.org [captura<strong>do</strong> em 29/03/2006].<br />
[4] Silva, Alexandre Manoel Pereira Alves da/Rocha.<br />
Thayssa Águila da. MODELAGEM DE UMA FERAMENTA CASE,<br />
Universidade Federal de Pernambuco Belém 1998. <strong>Di</strong>sponível:<br />
www.cin.ufpe.br/~tar/trabalhos/graduacao.htm [captura<strong>do</strong> em<br />
15/03/2006].<br />
SILVA, Adriano Rivoli da, Sistema de Reconhecimento<br />
Automático de Placas de Veículos, Centro Federal de Educação<br />
Tecnologia <strong>do</strong> Paraná, Paraná, 2005.<br />
RODRIGUES, Roberto J. Reconhecimento de dígitos cursivos<br />
– um méto<strong>do</strong> de segmentação por histogramas, NCE- Núcleo<br />
de Computação Eletrônica/UFRJ, Rio de Janeiro, <strong>Di</strong>sponível:<br />
www.labic.nce.ufrj.br/<strong>do</strong>wnloads/laptec_2000.pdf [captura<strong>do</strong><br />
em 15/03/2006].<br />
NoTAS<br />
Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />
Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />
1- João Daniel Forstman, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação e<br />
Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />
2- Luiz Fernan<strong>do</strong> Mangiopane, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação e<br />
Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />
3- Marcos Antonio da Silva, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação e<br />
Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />
4- Paulo César de Oliveira Veras, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação<br />
e Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />
5- Mestre em ciência da computação – PUC/RS<br />
6- A UML é uma meto<strong>do</strong>logia que visa parametrizar, através de gráficos<br />
a estrutura final de um software.<br />
7- Para a criação desse diagrama de Caso de Uso foi utilizada a ferramenta<br />
Rational Rose 2002 que não dá suporte a acentuação.<br />
8- Para a criação desse diagrama de Classe foi utilizada a ferramenta<br />
Rational Rose 2002 que não dá suporte a acentuação.<br />
46
ESumo<br />
A educação on-line tem obti<strong>do</strong> destaque entre as Instituições<br />
de Educação Superior e sua interferência pode ser notada por<br />
todas as dimensões e níveis de ensino. Existe uma série de fatores<br />
que devem ser leva<strong>do</strong>s em consideração na hora de decidir pela<br />
mudança no paradigma educacional. Este artigo tem como<br />
objetivo principal divulgar os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa realizada<br />
entre os alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação quan<strong>do</strong> ao<br />
conhecimento e aceitação da Educação a <strong>Di</strong>stância na grade<br />
curricular <strong>do</strong> curso. Além da divulgação existe a necessidade<br />
em identificar a real possibilidade de implantação de uma “nova”<br />
forma de ensino com foco no aprendiz. No final é proposto um<br />
plano de ação para tornar possível a modificação da grade<br />
curricular envolven<strong>do</strong> os alunos e professores nas discussões<br />
pertinentes ao papel de cada um, na tentativa de propiciar um<br />
ensino semi-presencial apoia<strong>do</strong> pela Internet.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Adaptação curricular e educação a distância:<br />
os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />
Educação a distância, Educação Superior no Brasil, Sistemas<br />
de Informação, currículos, Internet.<br />
ABSTrACT<br />
The education on-line has gotten prominence enters the<br />
Institutions of Superior Education and its interference can be<br />
noticed by all the dimensions and levels of education. A series of<br />
factors exists that must be taken in consideration r to decide for<br />
change in the educational paradigm. This article has as objective<br />
main to divulge the results of the carried through research it<br />
enters the pupils of the course of Systems of Information when<br />
to the knowledge and acceptance of long-distance Education in<br />
the curricular grating of the course. Beyond the spreading the<br />
necessity in identifying the real possibility of implantation of<br />
“new” a form of education with focus in the apprentice exists.<br />
In the end an action plan is considered to become possible the<br />
curricular grid modification involved the pupils and professors in<br />
the pertinent quarrels the paper of each one, in the attempt to<br />
propitiate an half-actual education supported by the Internet.<br />
KEYworDS:<br />
Adriana Paula Borges 1<br />
<strong>Di</strong>stance education, Superior education in Brazil, Systems of<br />
Information, resumes, Internet.<br />
47
1. introdução<br />
A educação à distância – EAD – tem si<strong>do</strong> desenvolvida em<br />
várias linhas e abordagens, desde aquelas inseridas em um<br />
formato mais institucional, basea<strong>do</strong> em soluções sistêmicas,<br />
prontas e fechadas, até outras de filosofia aberta e comunitária<br />
[MATTA, 03]. Entre os modelos de EAD destaca-se a educação<br />
baseada na web que faz uso da Internet como meio de divulgação<br />
de informação, também chamada de educação on-line.<br />
A educação on-line está em seus primórdios e sua interferência<br />
será notada cada vez mais em todas as dimensões e níveis de<br />
ensino. Com o avanço da telemática, a rapidez de comunicação<br />
por redes e a facilidade de ver-nos e interagir à distância, a<br />
educação on-line ocupará um espaço central na pedagogia nos<br />
próximos anos [MORAN,03]. Na atualidade existem ainda fatores<br />
limita<strong>do</strong>res que impedem a rápida evolução da educação online<br />
como: pessoal pouco qualifica<strong>do</strong> para trabalhar com essa<br />
meto<strong>do</strong>logia de ensino, equipamentos e acesso à Internet com<br />
preço eleva<strong>do</strong>, falta de preparo adequa<strong>do</strong> de materiais didáticos,<br />
resistência a mudanças tanto por parte <strong>do</strong>s alunos quanto <strong>do</strong>s<br />
professores.<br />
Para acompanhar essa evolução este artigo tem como<br />
objetivo principal investigar o nível de conhecimento e aceitação<br />
<strong>do</strong>s alunos perante a possibilidade de inclusão da educação<br />
online na grade curricular <strong>do</strong> curso de Bacharel em Sistemas<br />
de Informação. Adequar a realidade existente na Instituição<br />
Particular de Ensino Superior - Faculdade Montessori - às novas<br />
possibilidades oferecidas pelo MEC (Ministério da Educação e<br />
Cultura) através da Portaria 2253 de 18 de outubro de 2001, que<br />
autoriza instituições de nível superior a oferecerem cursos de<br />
graduação semi-presenciais, onde parte <strong>do</strong> total da carga horária<br />
de cada disciplina pode ser ofereci<strong>do</strong> através da Internet “Art. 1 o .<br />
As instituições de ensino superior <strong>do</strong> sistema federal de ensino<br />
poderão introduzir, na organização pedagógica e curricular de<br />
seus cursos superiores reconheci<strong>do</strong>s, a oferta de disciplinas que,<br />
em seu to<strong>do</strong> ou em parte, utilizem méto<strong>do</strong> não presencial, com<br />
base no art. 81 da Lei nº 9.394, de 1.996, e no disposto nesta<br />
portaria.” [Link 2].<br />
Pretende-se, ao final, propor ações para tornar possível a<br />
modificação da grade curricular envolven<strong>do</strong> principalmente os<br />
alunos, foco de pesquisa deste trabalho.<br />
O terceiro objetivo, através <strong>do</strong> embasamento teórico e da<br />
pesquisa in loco, é amparar da<strong>do</strong>s para expor e discutir o cenário<br />
real que hoje compõe a Instituição de Nível Superior, no que se<br />
refere às reais possibilidades de adaptação curricular tornan<strong>do</strong> o<br />
ensino, hoje presencial, semi-presencial apoia<strong>do</strong> pela Educação<br />
à distância através da Internet e seus benefícios na visão <strong>do</strong>s<br />
alunos.<br />
Com o resulta<strong>do</strong> desta pesquisa, espera-se contribuir para<br />
um processo de mudança de paradigma no ensino-aprendizagem<br />
presencial, oferecen<strong>do</strong> ao corpo <strong>do</strong>cente e discente novas formas<br />
de abordagem didático-pedagógicas advindas, entre outros, da<br />
utilização de recursos telemáticos, ten<strong>do</strong> em vista a importância<br />
dessa relação (ensino-aprendizagem) e da melhor organização<br />
<strong>do</strong> conhecimento na era da informação.<br />
2. A pesquisa<br />
Esta pesquisa foi realizada junto aos alunos <strong>do</strong> curso de<br />
Sistemas de Informação da Faculdade Montessori. Trata-se de<br />
uma pesquisa investigativa, exploratória, de opinião, formulada<br />
em questionário com perguntas fechadas, de múltipla escolha,<br />
conten<strong>do</strong> questões onde poderiam ser assinaladas mais de<br />
uma opção.<br />
Adaptação curricular e educação a distância:<br />
os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />
No total foram respondi<strong>do</strong>s sessenta e <strong>do</strong>is (62) questionários<br />
por alunos. Abaixo estão os gráficos com as questões e<br />
porcentagem de respostas.<br />
Figura 1 – Quantidade de alunos que possuem acesso à internet.<br />
É possível verificar na Figura 1 que grande parte <strong>do</strong>s alunos que<br />
responderam a pesquisa, 46%, possui acesso a computa<strong>do</strong>res e<br />
Internet. A princípio, isso não seria um fator de impedimento para<br />
a adaptação curricular nem para o oferecimento de disciplinas<br />
optativas, como sugere este trabalho. Os alunos teriam acesso<br />
ao conteú<strong>do</strong> de cada disciplina em casa, no trabalho ou na<br />
própria faculdade, que disponibiliza laboratórios com acesso a<br />
Internet aos alunos.<br />
Figura 2 – Freqüência de acesso à internet. resposta <strong>do</strong>s alunos.<br />
Os alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação acessam a<br />
Internet to<strong>do</strong>s os dias, como foi possível verificar na pesquisa.<br />
Já era de se esperar, porém esta questão foi formulada devi<strong>do</strong><br />
ao perfil <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso, na tentativa de verificar se o<br />
interesse por tecnologia os faz acessar mais a Internet <strong>do</strong> que os<br />
demais alunos. De acor<strong>do</strong> com a Figura 2, é possível perceber<br />
que, mesmo entre os alunos <strong>do</strong> primeiro ano, não há grandes<br />
dificuldades em buscar informações utilizan<strong>do</strong> páginas web.<br />
Figura 3 – Gráfico que ilustra a finalidade <strong>do</strong> acesso a internet.<br />
48
O uso da Internet pelos alunos é bem varia<strong>do</strong>, como é possível<br />
verificar na Figura 3. Vai desde da leitura de notícias <strong>do</strong> dia até<br />
solicitação de suporte técnico conforme resposta <strong>do</strong>s próprios<br />
alunos. Na atualidade é comum que as empresas ofereçam<br />
suporte técnico ou mesmo Serviço de Atendimento ao Cliente<br />
via Internet, via sala de bate papo, onde um atendente on-line tira<br />
as dúvidas, dá sugestões, resolve problemas de configuração,<br />
entre outros.<br />
Figura 4 – utilização de programas de troca<br />
de mensagens instantâneas.<br />
Mais da metade <strong>do</strong>s alunos que responderam ao questionário<br />
afirmam utilizar programas de troca de mensagens instantâneas<br />
síncronos como MSN Messenger ou ICQ. (Figura 4). Esse é um<br />
fator importante, pois fica claro que não seria um problema a<br />
a<strong>do</strong>ção desse tipo de software como ferramenta de apoio na<br />
solução das dúvidas com os professores/tutores, ou para formar<br />
uma comunidade colaborativa de aprendizagem. Além de ser<br />
uma forma eficiente e econômica (ambos os programas são<br />
gratuitos) na troca de mensagens entre grupos.<br />
Figura 5 – Acompanhamento de curso via web.<br />
A prova de que a Educação à distância nos moldes que<br />
conhecemos hoje, via Internet, fazen<strong>do</strong> uso de tecnologia de som<br />
e imagem para disseminar informação, ainda é pouco utilizada<br />
pelos alunos: mais da metade <strong>do</strong>s alunos que responderam à<br />
pesquisa nunca fizeram nenhum curso a distância (Figura 5).<br />
Figura 6 – Como foi sua experiência em curso via web?<br />
Adaptação curricular e educação a distância:<br />
os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />
Um da<strong>do</strong> positivo identifica<strong>do</strong> na pesquisa: entre os poucos<br />
alunos que já fizeram um curso EaD, mais da metade (60%)<br />
aprovaram a experiência, consideran<strong>do</strong>-a boa, conforme<br />
demonstra a Figura 6.<br />
Figura 7 – Gráfico que ilustra as expectativas de real<br />
aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alunos em cursos EaD.<br />
Mesmo não ten<strong>do</strong> muita experiência em curso EaD, apenas <strong>do</strong>is<br />
por cento <strong>do</strong>s alunos que responderam a pesquisa (Figura 7) não<br />
acham possível aprender em cursos dessa modalidade. A grande<br />
maioria, quarenta e quatro por cento, acredita que o aprendiza<strong>do</strong><br />
depende <strong>do</strong> aluno e da forma como o conteú<strong>do</strong> é apresenta<strong>do</strong>.<br />
Alguns acreditam que a aprendizagem depende exclusivamente<br />
<strong>do</strong> aluno, vinte e <strong>do</strong>is por cento, número significativo; e outros<br />
vinte e três por cento, acham que depende da integração entre<br />
aluno, professor/tutor e atividades a serem realizadas. A resposta<br />
a essa questão foi surpreendente analisan<strong>do</strong>-se que, na maioria<br />
das vezes, os alunos de instituições particulares (de acor<strong>do</strong> com<br />
vivência própria) se colocam em uma posição de defesa, como<br />
meros receptores de informação, como se deles não dependesse<br />
nenhum esforço para o aprendiza<strong>do</strong>. Aqui é possível identificar<br />
uma mudança de postura, os alunos se vêem na condição de<br />
auto-motivação ao aprendiza<strong>do</strong>, o que é muito bom se forem<br />
analisa<strong>do</strong>s os perfis de cada aluno, de cada turma.<br />
Figura 8 – Gráfico que ilustra a aceitação <strong>do</strong> corpo discente com<br />
relação à possibilidade de cursar graduação semi-presencial.<br />
Alguns alunos já conhecem o projeto de mudança curricular<br />
tornan<strong>do</strong> algumas aulas semi-presenciais, mas não em número<br />
significativo a ponto de influenciar nessa questão. Os alunos se<br />
mostram favoráveis a matricular-se em um curso semi-presencial.<br />
Sen<strong>do</strong> alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação, que<br />
acompanham o desenvolvimento da tecnologia e a velocidade<br />
com que as informações mudam, nada mais natural <strong>do</strong> que a<br />
aceitação da educação à distância com to<strong>do</strong>s os benefícios que<br />
ela traz aos estudantes. O que foi possível perceber, de acor<strong>do</strong><br />
49
com as questões respondidas pelos alunos, é que eles ainda<br />
não estão prepara<strong>do</strong>s para cursos de graduação totalmente<br />
on-line. Ainda sentem a necessidade da figura de um professor, o<br />
que, segun<strong>do</strong> eles, transmite mais segurança. E mesmo assim,<br />
setenta e três por cento deles fariam um curso de graduação<br />
onde parte das disciplinas fosse oferecida a distância, como é<br />
possível verificar na Figura 8.<br />
Figura 9 – Gráfico que ilustra as características<br />
que, na opinião <strong>do</strong>s alunos, pode ser um diferencial<br />
positivo em um curso semi-presencial.<br />
Novamente, tratan<strong>do</strong>-se de alunos de cursos diretamente<br />
liga<strong>do</strong>s à tecnologia, a necessidade de aulas mais dinâmicas e<br />
produtivas, de ocupar melhor o tempo em sala de aula, de mudar<br />
“a cara” da escola, é o que tornaria um curso semi-presencial<br />
diferente, como é possível verificar no gráfico da Figura 9.<br />
A possibilidade de oferecer um tempo maior para execução<br />
de tarefas, implementação de programas também seria um<br />
diferencial considerável. Houve quase um empate entre permitir<br />
a personalização da grade curricular e ter disciplinas optativas.<br />
A personalização da grade curricular significa poder escolher<br />
quais disciplinas o aluno quer cursar, sem distinção entre as<br />
obrigatórias e as optativas.<br />
Figura 10 – Necessidades que tornariam, na opinião<br />
<strong>do</strong>s alunos, um curso EaD significativo.<br />
Quanto às ferramentas necessárias em uma instituição de<br />
ensino para que o aprendiza<strong>do</strong> seja realmente significativo, trinta<br />
e sete por cento acha que os ambientes virtuais de aprendizagem<br />
têm grande importância, juntamente com o conteú<strong>do</strong> bem<br />
prepara<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> vinte e oito por cento, como se pode verificar<br />
na Figura 10.<br />
Adaptação curricular e educação a distância:<br />
os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />
Figura 11 – Gráfico ilustra as necessidades de<br />
um estudante para acompanhar um curso EaD.<br />
Novamente é possível identificar uma mudança de postura<br />
<strong>do</strong>s alunos. De acor<strong>do</strong> com o gráfico da Figura 11, quarenta e<br />
três por cento acredita que a vontade real de aprender é o pon<strong>do</strong><br />
necessário para que consiga acompanhar um curso EaD. Outros<br />
trinta e cinco por cento acredita que dedicação e disciplina sejam<br />
importantes.<br />
Figura 12 – As expectativas em um curso EaD.<br />
Com relação às expectativas em um curso EaD houve quase um<br />
empate entre a possibilidade de pesquisar assuntos <strong>do</strong> interesse<br />
relaciona<strong>do</strong>s à profissão e conseguir acompanhar as mudanças<br />
na era <strong>do</strong> conhecimento, de acor<strong>do</strong> com gráfico da Figura 12.<br />
Figura 13 – Gráfico que ilustra os pontos motiva<strong>do</strong>res,<br />
segun<strong>do</strong> os alunos, que os levaria a fazer um curso EaD.<br />
É possível verificar, de acor<strong>do</strong> com o gráfico da Figura 13,<br />
que existe grande curiosidade por parte <strong>do</strong>s alunos com relação<br />
a cursos EaD, trinta e cinco por cento deles se sente motiva<strong>do</strong><br />
pela possibilidade de aprender de uma forma diferente; vinte e<br />
quatro por cento se motivaria pela possibilidade de testar, na<br />
prática, se as impressões e expectativas seriam correspondidas.<br />
50
3. Considerações finais e ações necessárias<br />
Os alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação se<br />
mostraram dispostos a participar da mudança no oferecimento<br />
das disciplinas. Eles são conscientes de que, para cursar as<br />
disciplinas oferecidas parcialmente à distância, são necessários<br />
planejamento - tanto por parte <strong>do</strong>s professores com relação aos<br />
conteú<strong>do</strong>s, como pelos alunos que devem reservar parte <strong>do</strong><br />
tempo para se dedicar às atividades e ao acompanhamento <strong>do</strong><br />
curso; envolvimento <strong>do</strong>s professores e <strong>do</strong>s alunos, participação<br />
no que é possível para tornar o curso dinâmico e mais produtivo;<br />
comprometimento e muita vontade de aprender.<br />
Um fato surpreendente foi a mudança de postura <strong>do</strong>s alunos<br />
perante a responsabilidade de aprendiza<strong>do</strong>. A grande maioria<br />
acredita que o aprendiza<strong>do</strong> depende <strong>do</strong> aluno e da forma como o<br />
conteú<strong>do</strong> é apresenta<strong>do</strong>. Alguns acreditam que a aprendizagem<br />
depende exclusivamente <strong>do</strong> aluno, outros acham que depende<br />
da integração entre aluno, professor/tutor e atividades a serem<br />
realizadas.<br />
Basean<strong>do</strong>-se no resulta<strong>do</strong> positivo <strong>do</strong>s questionários, é<br />
possível estabelecer ações para tornar real essa proposta. A<br />
primeira ação que deve ser tomada divide-se em duas partes, de<br />
igual importância:<br />
• A definição de qual ambiente de EAD deve ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>;<br />
• A escolha das disciplinas farão uso da EAD como ferramenta<br />
para disseminação de conhecimento.<br />
O envolvimento <strong>do</strong>s professores e <strong>do</strong>s alunos é fundamental,<br />
pois são as pessoas que usarão diretamente o ambiente, seja<br />
para aprender ou para ensinar. Sobre o ambiente destacam-se<br />
alguns pontos importantes como a utilização de um ambiente<br />
construtivista de aprendizagem suporta<strong>do</strong> por computa<strong>do</strong>r. Esse<br />
ambiente deve ser estrutura<strong>do</strong> para intermediar a formação<br />
continuada e planeja<strong>do</strong>,a partir <strong>do</strong> reconhecimento das<br />
necessidades <strong>do</strong> aprendiz – o que pode implicar na elaboração<br />
de um modelo para cada classe de alunos. Há de ressaltar a<br />
necessidade de treinamento também <strong>do</strong>s alunos que, embora<br />
sejam da área computacional, apresentam também as mesmas<br />
dificuldades perante o novo.<br />
Sobre o curso, é possível destacar etapas de nivelamento em<br />
disciplinas fundamentais, como português e matemática, poden<strong>do</strong><br />
ser oferecida também a disciplina de fundamentos de informática<br />
com ênfase na Internet, como apoio aos alunos com pouca<br />
“intimidade” com esse modelo de aprendizagem [REIS, 03]<br />
Para a elaboração <strong>do</strong> <strong>material</strong> didático devem estar previstos<br />
encontros para capacitação <strong>do</strong>cente. É importante que cada<br />
professor tenha consciência de que o <strong>material</strong> disponibiliza<strong>do</strong> na<br />
Internet deve levar em consideração que o aluno está distante, que<br />
as formas de tirar as dúvidas é diferente, que não há exposição<br />
<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> e sim à leitura <strong>do</strong> mesmo (neste projeto, que não<br />
conta com recursos áudio visuais) e que, por essa razão, deve<br />
ter textos claros, com links bem organiza<strong>do</strong>s, pois o aluno não<br />
deve “se perder” na quantidade de <strong>material</strong>. Nesta fase, torna-se<br />
importante a utilização de mapas conceituais.<br />
Segun<strong>do</strong> Gava (2003),<br />
“o processo de ensino-aprendizagem é desenvolvi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />
várias etapas, dentre as quais podemos citar o contato <strong>do</strong><br />
estudante com o conhecimento existente sobre o objeto<br />
de seu estu<strong>do</strong> (que em geral é denomina<strong>do</strong> de conteú<strong>do</strong>),<br />
o estu<strong>do</strong> e a análise desse conteú<strong>do</strong> e a externalização <strong>do</strong><br />
conhecimento <strong>do</strong> estudante sobre o assunto em questão” e<br />
ainda “Consideramos que em algumas situações como, por<br />
exemplo, para a confecção de uma síntese, o uso de mapas<br />
conceituais possui algumas vantagens em relação ao uso <strong>do</strong><br />
texto clássico. A confecção de um texto geralmente exige<br />
maior esforço cognitivo pois requer, além <strong>do</strong> conhecimento<br />
propriamente dito, uma organização seqüencial, a a<strong>do</strong>ção de<br />
um estilo (escrever sempre na segunda pessoa), a observância<br />
de regras gramaticais, a preocupação com forma”.<br />
A previsão de capacitação <strong>do</strong>cente é de um semestre, a fim<br />
de que as questões acima descritas, e ainda outras não inclusas<br />
aqui, possam ser discutidas. Essa capacitação deverá ocorrer<br />
em horário especial, aos finais de semana, para que to<strong>do</strong>s os<br />
professores possam participar desse processo de mudanças.<br />
Com essa iniciativa, pretende-se minimizar os problemas na<br />
adaptação curricular, atenden<strong>do</strong> às exigências <strong>do</strong> MEC sobre<br />
EaD e capacitan<strong>do</strong> e incentivan<strong>do</strong> o corpo <strong>do</strong>cente a fazer uso<br />
<strong>do</strong> ambiente de EaD, atentan<strong>do</strong> para as questões importantes: o<br />
aluno e seu aprendiza<strong>do</strong> significativo.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
AZEVEDO, Wilson. Retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> site: http://www.aquifolium.<br />
com.br/educacional/artigos/panoread.html - artigo “PANORAMA<br />
ATUAL DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL”, último<br />
acesso em 19/07/2004.<br />
BELISARIO, Aluízio. “O <strong>material</strong> didático na educação à<br />
distância e a construção de propostas interativas”. In: SILVA,<br />
Marco. Educação Online. São Paulo, Edições Loyola, 2003.<br />
Págs. 135-146.<br />
GAVA, Tânia Barbosa Salles; Menezes, Crediné Silva de;<br />
Cury, Davidson; “Aplicações de mapas conceituais na educação<br />
como ferramenta metacognitiva”, Departamento de Informática<br />
da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito Santo, ES. publica<strong>do</strong> no site<br />
da Associação Brasileira de Educação a <strong>Di</strong>stância http://www.<br />
abed.org.br).<br />
[LINK 1] Retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> site http://www.iuvb.edu.br/br/<br />
atualidades/artigos/sueli_e_maria/educacao_distancia00.htm,<br />
último acesso em 22/07/2003.<br />
[LINK 2] http:://www.mec.gov.br – Site <strong>do</strong> Ministério da<br />
Educação e Cultura <strong>do</strong> Governo Brasileiro. Último acesso em<br />
20/05/2004.<br />
SOUZA, Thelma Rosane P., “A Avaliação como Prática<br />
Pedagógica”, CEAD Universidade de Brasília e ABEAS Associação<br />
Brasileira de Educação Agrícola Superior, publica<strong>do</strong> no site da<br />
Associação Brasileira de Educação a <strong>Di</strong>stância http://www.abed.<br />
org.br). Último acesso em 22/07/2003.<br />
MATTA, Alfre<strong>do</strong>. “Projetos Pedagógicos de Autoria de hipermídias<br />
e suas aplicações em EAD”. In: ALVES, Lynn; NOVA, Cristiane.<br />
Educação a distância – Uma nova concepção de aprendiza<strong>do</strong> e<br />
interatividade. São Paulo, Editora Futura, 2003. Págs. 87-123<br />
MORAN, José Manuel. “Contribuições para uma pedagogia<br />
da educação online”. In: SILVA, Marco. Educação Online. São<br />
Paulo, Edições Loyola, 2003. Págs.39-50.<br />
REIS, Ernesto Mace<strong>do</strong>; de Paula, Felipe Cordeiro; “ACAD -<br />
Ambiente Construtivista de Aprendizagem a <strong>Di</strong>stância na Internet:<br />
Planejamento e Arquitetura Inicial”, Universidade Federal <strong>do</strong><br />
Rio de Janeiro, publica<strong>do</strong> no site da Associação Brasileira de<br />
Educação a <strong>Di</strong>stância (http://www.abed.org.br)<br />
NoTAS<br />
Adaptação curricular e educação a distância:<br />
os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />
1- Adriana Paula Borges é professora e coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> curso de<br />
Sistemas de Informação da FAMEC e FAAC; Bacharel em Ciência da<br />
Computação pela Universidade Ibirapuera, Especialista em Informática<br />
em Educação pela Universidade Federal de Lavras, Especialista em<br />
Gestão da Educação a <strong>Di</strong>stância pela Universidade Federal de Juiz de<br />
Fora, Mestre em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP e<br />
<strong>do</strong>utoranda em Educação pela Faculdade de Educação da USP.<br />
51
ESumo<br />
O objetivo deste artigo é estudar os caminhos que permitem<br />
ao estudante empreende<strong>do</strong>r, uma visão abrangente das teorias<br />
e das práticas utilizadas no merca<strong>do</strong> de trabalho. As mudanças<br />
nos conceitos e a preocupação <strong>do</strong>s teóricos em adequar a<br />
teoria a prática, tem origem entre outros fatores, na evolução<br />
das Tecnologias de Informação (TI) , principalmente na forma de<br />
atuar das organizações, que necessitam se ajustar à realidade<br />
emergente, sob pena de perder sua competitividade no merca<strong>do</strong><br />
e como conseqüência os respectivos clientes.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Empreende<strong>do</strong>r, resulta<strong>do</strong>s, visão e conhecimento.<br />
O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />
ABSTrACT<br />
The objective of this article is to study the ways that allow the<br />
enterprising student has an including vision of the theories and<br />
the practical in the work market. The changes in the concepts<br />
and the concern of the theoreticians in adjusting the theory<br />
and the practical has its origin besides the evolution of the<br />
Technologies of Information and others factors, the way of act<br />
of the organizations that need to adjust to the emergent reality<br />
or otherwise can lose its competitiveness in the market and as<br />
consequence the respective customers.<br />
KEYworDS:<br />
PhD. Maria de Fátima Abud Olivieri 1<br />
Enterprinsing, results, vision and knowledge.<br />
52
introdução<br />
É inegável que o ensino <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo se tornou<br />
um <strong>do</strong>s mecanismos atuais e complementares de interação<br />
universidade-empresa, independente da área de conhecimento,<br />
por ser uma atividade imprescindível para a formação diferenciada<br />
<strong>do</strong>s estudantes, futuros profissionais no merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />
Fillion, narra em um artigo escrito para a Revista de<br />
Administração da USP – Universidade de São Paulo (1999), que<br />
a história <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo iniciou com <strong>do</strong>is pioneiros:<br />
Cantillon (1775) e Say (1803), que não estavam interessa<strong>do</strong>s<br />
somente em economia, mas também em empresas, criação de<br />
novos empreendimentos, desenvolvimento e gerenciamento de<br />
negócios.<br />
Richard Cantillon vivia de rendas e buscava investimentos.<br />
Tinha a capacidade de analisar uma operação identifican<strong>do</strong> nela<br />
aqueles elementos que já eram lucrativos e os que poderiam vir<br />
a ser ainda mais. Ele foi basicamente um banqueiro, que hoje<br />
poderia ser descrito um capitalista de risco.<br />
Jean Baptista Say, como o segun<strong>do</strong> autor a<br />
demonstrar interesse pelo empreende<strong>do</strong>rismo, considerava<br />
o desenvolvimento econômico como resulta<strong>do</strong> da criação de<br />
novos empreendimentos e ansiava pela expansão da revolução<br />
industrial inglesa até a França.<br />
Para ambos os autores, empreende<strong>do</strong>res eram<br />
pessoas que corriam riscos, basicamente porque investiam<br />
o seu próprio dinheiro.<br />
Conceitos<br />
Max Weber (1930) foi um <strong>do</strong>s primeiros autores a demonstrar<br />
interesse pelo comportamento <strong>do</strong>s empreende<strong>do</strong>res. Ele<br />
identificou o sistema de valores como um elemento fundamental<br />
para a explicação <strong>do</strong> comportamento empreende<strong>do</strong>r.<br />
Schumpeter (1934) associa o empreende<strong>do</strong>rismo à inovação;<br />
desenvolvimento econômico e ao aproveitamento de oportunidades<br />
em negócios.<br />
McClelland (1971) concentrava-se em gerentes de grandes<br />
organizações e identificava a necessidade de poder. Ele mostrou<br />
que o ser humano é um produto social.<br />
E daí por diante, vários autores foram surgin<strong>do</strong> e tecen<strong>do</strong><br />
contribuições científicas para o avanço <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo,<br />
sen<strong>do</strong> que até hoje, são consideradas relevantes as características<br />
de correr riscos, ser inova<strong>do</strong>r, a busca de novas oportunidades<br />
e a preocupação com o comportamento, pois este influencia as<br />
pessoas que estão próximas de nós.<br />
Os diferentes conceitos foram aprimora<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong><br />
tempo, como se pode observar a seguir:<br />
Segun<strong>do</strong> Fillion (1991) “Um empreende<strong>do</strong>r é uma pessoa que<br />
imagina, desenvolve e realiza visões”.<br />
Dolabela (1999:28) utiliza a definição de Fillion e acrescenta<br />
que para ser um verdadeiro empreende<strong>do</strong>r, é necessário<br />
possuir uma série de características que contribuam para que a<br />
empreitada alcance o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>.<br />
Segun<strong>do</strong> o dicionário Aurélio (1995) estudante é a pessoa que<br />
estuda, aluno . E aluno, é a pessoa que recebe instrução e/ou<br />
educação de algum mestre ou mestres em estabelecimento de<br />
ensino ou particularmente. Portanto, pode-se dizer que estudante<br />
empreende<strong>do</strong>r, é a pessoa que procura conhecimentos,<br />
assimila-os e realiza visões a respeito <strong>do</strong>s mesmos, poden<strong>do</strong><br />
torná-las realidade.<br />
O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />
É, sem dúvida, o processo criativo em ação. Por ser comum<br />
a todas as pessoas, o que difere de uma a outra, é justamente a<br />
maneira de como ele é trabalha<strong>do</strong>. Para que esse processo seja<br />
desenvolvi<strong>do</strong>, sugere-se exercícios permanentes de pesquisas,<br />
atualização <strong>do</strong>s conhecimentos e troca de informações.<br />
Inácio (2004:44) diz que o empreende<strong>do</strong>r, para aprofundarse<br />
em sua idéia emergente, procura pessoas com quem possa<br />
obter informações para aprimorá-la, testá-la e verificar se é um<br />
bom negócio. Procura também ler sobre o assunto, participa de<br />
feiras e eventos. Ao obter tais informações, vai alteran<strong>do</strong> a sua<br />
idéia inicial, agregan<strong>do</strong> novas características, mudan<strong>do</strong> alguma<br />
coisa, descobrin<strong>do</strong> ou inventan<strong>do</strong> novos processos de produção,<br />
distribuição ou vendas. É um processo contínuo de conquistas<br />
de novas relações.<br />
Portigliatti (2005) diz que o grande capital a ser investi<strong>do</strong><br />
não é o dinheiro, mas sim conhecimento, informações,<br />
relacionamentos e um produto ou serviço vendável no merca<strong>do</strong><br />
internacional. Assinala ainda que, toman<strong>do</strong> como base o espírito<br />
empreende<strong>do</strong>r de Thomas Edison que, em meio a obstáculos<br />
a serem transpostos e pessoas incrédulas que queriam impor<br />
limites às suas ações, declarou que não existem limites. Os únicos<br />
limites existentes são aqueles que nós próprios colocamos ou<br />
permitimos que os outros coloquem. Por isso, em 1902, ele<br />
acreditava que a eletricidade poderia iluminar o mun<strong>do</strong>.Para os<br />
outros era uma loucura, para ele uma realidade.<br />
Desenvolver um produto e mantê-lo no merca<strong>do</strong> é tarefa para<br />
empreende<strong>do</strong>r. Mas não basta se limitar ao merca<strong>do</strong> nacional, é<br />
preciso avançar o sinal, ter visão globalizada de futuro, chegan<strong>do</strong><br />
a internacionalização da empresa. A exemplo disso, Dollabela<br />
cita o caso da empresa de goiabada, em seu livro O segre<strong>do</strong> de<br />
Luiza, em que a empreende<strong>do</strong>ra, viajou para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
e foi procurar internacionalizar a sua empresa.<br />
O início <strong>do</strong>s contatos com o merca<strong>do</strong> externo, pode ser<br />
feito através de um Seminário Internacional, onde, além <strong>do</strong><br />
interessa<strong>do</strong> ter a oportunidade de participar de palestras sobre<br />
diversos temas atuais, poderá visitar empresas multinacionais,<br />
com a oportunidade de realização de “net-working”.<br />
Internacionalizar a carreira , inician<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
é justifica<strong>do</strong> por algumas razões: o maior merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, extensa população com poder de compra e apura<strong>do</strong>s<br />
hábitos de consumo, oportunidades para empresas de to<strong>do</strong>s<br />
os segmentos, presença de empresas de todas as partes <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>, potencialização da imagem para as empresas que já<br />
estão no merca<strong>do</strong> e cartão de visita para entrada em qualquer<br />
nível de comércio internacional.<br />
Perfil <strong>do</strong> Empreende<strong>do</strong>r<br />
Consideran<strong>do</strong> o conhecimento já divulga<strong>do</strong> atualmente<br />
através de pesquisas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, sobre o perfil <strong>do</strong><br />
empreende<strong>do</strong>r, Dolabela (1999:28) , diz que:<br />
“O empreende<strong>do</strong>r é um ser social produto <strong>do</strong> meio em que<br />
vive (época e lugar). Se uma pessoa vive em um ambiente<br />
em que ser um empreende<strong>do</strong>r é visto como algo positivo,<br />
então terá motivação para criar o seu próprio negócio”. Em<br />
outro trecho, o autor afirma que: “é um fenômeno regional,<br />
ou seja, existem cidades, regiões, países mais – ou menos<br />
– empreende<strong>do</strong>res <strong>do</strong> que outros. O perfil <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>r<br />
(fatores <strong>do</strong> comportamento e atitudes que contribuem para o<br />
sucesso), pode variar de um lugar para outro”.<br />
Embora o aluno empreende<strong>do</strong>r seja um ser social, produto<br />
<strong>do</strong> meio em que vive, ele está sujeito às inferências internas e<br />
53
externas que vão influenciar o seu comportamento e atitudes,<br />
poden<strong>do</strong> variar de um lugar para outro, sen<strong>do</strong> de forma positiva<br />
ou negativa, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu equilíbrio em relação ao meio<br />
em que se encontra.<br />
Mas aí vem a pergunta: Para que servem tais conceitos? Eles<br />
são o norte ou o ponto de partida <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res para os<br />
estu<strong>do</strong>s que conduzem o estudante empreende<strong>do</strong>r ao sucesso.<br />
O ensino <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo nos diversos campos <strong>do</strong><br />
conhecimento pode ser uma fonte de criação de empresas,<br />
desde que haja uma orientação empreende<strong>do</strong>ra na formação<br />
acadêmica, redirecionan<strong>do</strong> a força de trabalho para a autogestão,<br />
com criatividade, liderança e visão <strong>do</strong> futuro para<br />
inovar e ocupar o seu espaço no merca<strong>do</strong>. O empreende<strong>do</strong>r é<br />
“alguém que tem a visão para enxergar e discernir oportunidades<br />
disponíveis para to<strong>do</strong>s, mas invisíveis para a maioria, e que tem<br />
atitude e habilidade para aplicar o conhecimento transforman<strong>do</strong>,<br />
com ousadia, a visão em realidade” (Portigliatti 2006).<br />
Características <strong>do</strong> Empreende<strong>do</strong>r<br />
Algumas características são fundamentais para quem<br />
pretende se aventurar no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios, as quais devem<br />
ser apresentadas ao estudante, durante o perío<strong>do</strong> em que<br />
estiver em curso, visan<strong>do</strong> a preparação e desenvolvimento dele<br />
para o merca<strong>do</strong> de trabalho. São elas: aproveitar oportunidades,<br />
saber organizar, ser líder, ter talento, conhecer o ramo em que<br />
vai atuar, assumir riscos calcula<strong>do</strong>s, tomar decisões e manter o<br />
otimismo.<br />
Aproveitar oportunidades significa estar atento e ser capaz<br />
de perceber, no momento certo, as oportunidades de negócio<br />
que são oferecidas pelo merca<strong>do</strong>.<br />
Saber organizar é ter noção de organização e capacidade<br />
de conduzir os talentos humanos, utilizar materiais e recursos<br />
financeiros, de forma lógica e racional. A boa organização<br />
economiza tempo.<br />
Ser líder é saber orientar a realização de tarefas, definir<br />
objetivos, criar condições de relacionamento equilibra<strong>do</strong> entre a<br />
equipe de trabalho como um to<strong>do</strong>. É incentivar as pessoas no<br />
rumo <strong>do</strong> planejamento e metas definidas.<br />
Ter talento é perceber diante das atividades rotineiras, o que<br />
pode ser feito para transformar as simples idéias em negócios<br />
efetivos.<br />
Quanto mais o empreende<strong>do</strong>r <strong>do</strong>minar o ramo em que<br />
pretende atuar, maiores serão as oportunidades de êxito.<br />
Arriscar significa ter coragem para enfrentar desafios. Os<br />
riscos fazem parte de qualquer atividade porém, é necessário<br />
aprender administrá-los. Neste caso, os riscos, são aqueles<br />
calcula<strong>do</strong>s, possíveis de acontecer diante de determinadas<br />
situações planejadas, para a movimentação de um negócio.<br />
Tomar decisões, é tarefa para empreende<strong>do</strong>r. Para isso, ele<br />
necessita estar bem informa<strong>do</strong>, analisar a situação com critérios,<br />
avaliar as alternativas existentes, para escolher a solução<br />
adequada, no momento exato.<br />
Manter o otimismo é condição primordial para o empreende<strong>do</strong>r<br />
conduzir os seus negócios, com o público interno e externo à<br />
organização.<br />
Essas características podem ser desenvolvidas no estudante<br />
empreende<strong>do</strong>r, através de indicação de bibliografias adequadas,<br />
aulas práticas e motivação constante em sala de aula.<br />
O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />
Da idéia à realidade<br />
O empreende<strong>do</strong>r tem um “modelo”, uma pessoa que o<br />
influencia. Entre outros predica<strong>do</strong>s, tem iniciativa, autonomia,<br />
auto-confiança, otimismo e necessidade de realização.<br />
Para ele o fracasso é considera<strong>do</strong> como um resulta<strong>do</strong> qualquer.<br />
Apreende com os próprios erros. É um sonha<strong>do</strong>r realista. É líder,<br />
cultiva a imaginação e aprende a definir visões. Traduz seus<br />
pensamentos em ações, define o que deve aprender para realizar<br />
sua visão e fixa metas. Assim, o sonho estabelece um paralelo<br />
com a criatividade, passan<strong>do</strong> pelo processo de transformação<br />
– no qual pode encontrar o choque com a realidade – nascen<strong>do</strong><br />
a realidade em si, chamada de empreende<strong>do</strong>rismo.<br />
Para os estudantes empreende<strong>do</strong>res, pode-se estabelecer<br />
nesse ponto os chama<strong>do</strong>s<br />
5 E’s: empreende<strong>do</strong>r, empresário, executivo, emprega<strong>do</strong> e<br />
estagiário (Portigliatti:2006). Sen<strong>do</strong> este último, a condição inicial<br />
para se tornar o primeiro da lista .<br />
Entretanto, visão sem ação, não passa de um sonho. A ação<br />
sem visão é uma utopia e visão com ação , é empreen<strong>do</strong>rismo<br />
que transforma uma vida, uma empresa, uma cidade, um esta<strong>do</strong><br />
ou nação.<br />
Atualmente, pode-se dizer que to<strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>r, inclusive<br />
o estudante, possui três características que bem equilibradas,<br />
conduzem ao sucesso <strong>do</strong>s empreendimentos: conhecimento,<br />
habilidade e atitude.<br />
A importância desse assunto para o estudante, merece<br />
especial atenção, pois as empresas procuram pessoas que se<br />
destacam não só pelo conhecimento tecnológico e cultural,<br />
mas como líderes, visionários e com idéias inova<strong>do</strong>ras, que<br />
sejam capazes de criar diferenciais para concorrer com o<br />
merca<strong>do</strong>, culminan<strong>do</strong> com o crescimento <strong>do</strong> capital social da<br />
organização.<br />
Timmons, (apud DOLABELLA, Fernan<strong>do</strong>, 2004:94), enumera<br />
os 7 segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sucesso como sen<strong>do</strong>:<br />
• Não há segre<strong>do</strong>s. Somente o trabalho duro dará<br />
resulta<strong>do</strong>s;<br />
• Tão logo surge um segre<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s o conhecem<br />
imediatamente;<br />
• Nada mais importante <strong>do</strong> que um fluxo de caixa positivo;<br />
• Se você ensina uma pessoa a trabalhar para outras, você a<br />
alimenta por um ano; mas se você a estimula a ser empreende<strong>do</strong>r,<br />
você a alimenta, e a outra, durante toda a vida;<br />
• Não deixe o caixa ficar negativo;<br />
• O empreende<strong>do</strong>rismo, antes de ser técnico ou financeiro,<br />
é fundamentalmente um processo humano.<br />
• A felicidade é um fluxo de caixa positivo.<br />
É comum a to<strong>do</strong>s os iniciantes a busca pelo sucesso.<br />
Mas como se pode perceber não existe uma fórmula mágica,<br />
como uma receita de bolo ou algo similar, que o resulta<strong>do</strong> é<br />
espera<strong>do</strong>, como uma simples operação matemática de adição.<br />
Depende muito mais <strong>do</strong> estímulo que o estudante tem pelo seu<br />
objetivo e da maneira de como ele encara o desafio, ou seja,<br />
<strong>do</strong> conhecimento, da habilidade e da atitude de cada um de<br />
nós. Existem pessoas que ficam aguardan<strong>do</strong> a vida melhorar, o<br />
sucesso chegar, para posteriormente se entusiasmarem. Mas na<br />
verdade, o entusiasmo é que traz o sucesso.<br />
Cabe citar que o site da Universia (www.universia.com.br<br />
- acessa<strong>do</strong> em 14/06/2006) divulgou uma pesquisa feita pela<br />
Companhia de Talentos, empresa de recrutamento e seleção,<br />
54
com 14.721 estudantes a qual apontou a lista das 10 empresas<br />
mais desejadas pelos estudantes brasileiros <strong>do</strong> Ensino Superior<br />
para se trabalhar, a seguir discriminada:<br />
A referida pesquisa teve por objetivo descobrir as expectativas<br />
<strong>do</strong>s estudantes com relação ao merca<strong>do</strong> de trabalho e mostrar<br />
às empresas esses resulta<strong>do</strong>s, para que possam ter novos<br />
parâmetros na hora de escolher seus profissionais. A pergunta aos<br />
universitários foi: Qual é a empresa <strong>do</strong>s seus sonhos? A escolha<br />
era justificada por 16 motivos pré-seleciona<strong>do</strong>s: credibilidade<br />
no merca<strong>do</strong>, bons salários e bons benefícios, qualidade de vida<br />
entre os funcionários e possibilidade de trabalhar fora <strong>do</strong> país,<br />
entre outros.<br />
As empresas mais desejadas foram: Petrobrás; Natura;<br />
Unilever; Nestlé; CRVD; IBM; City Group; Santander Banespa;<br />
Microsoft e Grupo Itaú.<br />
O Santander Banespa foi a oitava empresa mais citada pelos<br />
universitários, e por isso, recebeu em 12 de junho de 2006, o<br />
prêmio Empresas <strong>do</strong>s Sonhos <strong>do</strong>s Universitários Para iniciarem a<br />
Carreira 2006. Para o vice-presidente de Recursos Humanos <strong>do</strong><br />
Santander Banespa, Ulrico Barini, o prêmio é conseqüência de<br />
uma gestão de recursos humanos inova<strong>do</strong>ra, que faz da empresa<br />
referência na capacitação de jovens profissionais. Em 2005, o<br />
banco admitiu 2.900 estagiários e efetivou 1.224,manten<strong>do</strong> seu<br />
índice médio de efetivação de 50%. De janeiro a abril deste ano,<br />
683 estagiários foram efetiva<strong>do</strong>s.<br />
Complementan<strong>do</strong> as informações, em dezembro de 2005, a<br />
Companhia de Talentos já havia divulga<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s parciais<br />
da pesquisa apontan<strong>do</strong> as preferências <strong>do</strong>s universitários entre<br />
22 e 26 anos de idade, em relação às empresas <strong>do</strong>s sonhos para<br />
o início da carreira. À época, entre os 6.796 pesquisa<strong>do</strong>s, liderava<br />
a lista de preferência a Petrobrás, com 14,8% das escolhas,<br />
seguida pela Microsoft (13,4%), Natura (12,52%), Unilever<br />
(11,01%) e IBM (9,16%). O indica<strong>do</strong>r foi o ponto de partida para a<br />
criação <strong>do</strong> prêmio contemplan<strong>do</strong> as empresas apontadas pelos<br />
estudantes como as melhores opções <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />
Consideran<strong>do</strong> que o universo corporativo passa por um<br />
perío<strong>do</strong> de transição, especialistas em Psicologia <strong>do</strong> Trabalho<br />
apontam que o instituto <strong>do</strong> emprego formal, estável, com<br />
registro em carteira, está em extinção. Logo, além de desejar<br />
emprego em uma grande instituição, é preciso desenvolver o<br />
senso empreende<strong>do</strong>r. (fonte: www.universia.com.br - acesso em<br />
14/06/2006).<br />
Trios importantes para o Estudante Empreende<strong>do</strong>r<br />
Após o conhecimento da história e conceitos elabora<strong>do</strong>s<br />
por teóricos sobre empreende<strong>do</strong>rismo, cabe ressaltar os trios<br />
importantes para o estudante empreende<strong>do</strong>r, que revelam o<br />
diferencial <strong>do</strong> profissional com a postura consigo mesmo e com<br />
o meio onde ele está inseri<strong>do</strong>. Não se pode deixar de mencionar<br />
que nesse aprendiza<strong>do</strong>, o diferencial é condição de destaque,<br />
entre a maioria que apresenta um padrão de comportamento.<br />
Inicialmente deve-se considerar os três verbos mais<br />
importantes: aprender, servir e cooperar. Essas palavras quan<strong>do</strong><br />
inseridas no vocabulário diário, funcionam como o segre<strong>do</strong> de<br />
um cofre, para liberar o que existe de melhor dentro de nós.<br />
A seguir são indicadas três atitudes que merecem atenção:<br />
analisar, reprovar e reclamar. Isso significa que to<strong>do</strong>s precisam<br />
se posicionar em qualquer situação, evitan<strong>do</strong> o chama<strong>do</strong> “em<br />
cima <strong>do</strong> muro”.<br />
Na seqüência, são apresentadas três normas de conduta:<br />
auxiliar com intenção <strong>do</strong> bem, silenciar em alguns momentos<br />
e pronunciar frases de bondade e estímulo. É claro que essas<br />
normas, só terão um resulta<strong>do</strong> positivo, após serem colocadas<br />
em prática, pelo estudante empreende<strong>do</strong>r. Porém, deve-se levar<br />
em consideração, que à medida que o ser humano se propõe a<br />
a<strong>do</strong>tar mudanças de comportamento, ele já iniciou o processo.<br />
A princípio, a palavra “mudar” carrega consigo um estigma<br />
de resistência, sen<strong>do</strong> inicialmente ridicularizada em qualquer<br />
situação. Depois passa a ser recusada, sen<strong>do</strong> finalmente seguida<br />
pela maioria.<br />
Várias são as formas de mudanças que estão sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tadas<br />
pelas empresas, quer sejam para acompanhar o merca<strong>do</strong>,<br />
competir ou simplesmente atualizar e melhor dirigir os negócios.<br />
Portanto, a melhoria só terá o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>, se houver uma<br />
atitude recíproca entre pessoas, grupos ou organizações. E para<br />
finalizar, são apresentadas três regras para o progresso: corrigir<br />
em nós o que desagrada nos outros, auxiliar-nos mutuamente e<br />
amarmos uns aos outros.<br />
O empreende<strong>do</strong>r que conhece suas características e se<br />
preocupa com o bem estar <strong>do</strong>s seus correligionários, sabe que<br />
está em constante evolução e aprendiza<strong>do</strong>, que a necessidade<br />
de correção <strong>do</strong> que não está bom em si mesmo é um dever<br />
quase que sistemático, o conhecimento de que ninguém faz<br />
nada sozinho já está implícito em suas atitudes e tu<strong>do</strong> o que fizer,<br />
faça com amor, pois este é o diferencial no resulta<strong>do</strong> das ações<br />
de cada um de nós.<br />
Considerações Finais<br />
Quan<strong>do</strong> o assunto é o estudante, para a autora deste artigo,<br />
significa que se está diante de um quadro com projeção para o<br />
futuro e que requer uma atenção muito especial. O estudante<br />
empreende<strong>do</strong>r é alguém que busca conhecimentos e, com<br />
ousadia, cria e inova desde os primeiros anos <strong>do</strong> curso superior.<br />
Há que se lembrar, entretanto, que para que isso aconteça<br />
é necessário um grande interesse e envolvimento <strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>centes, para dar credibilidade e continuidade a esse espírito<br />
empreende<strong>do</strong>r, através de aulas dinâmicas, motiva<strong>do</strong>ras, sain<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> modelo tradicional, levan<strong>do</strong> o estudante a aprender a pensar,<br />
a trabalhar em equipe, descobrir mais sobre a capacidade de<br />
cada um, ensinar a negociar, além de tantas outras práticas para<br />
promover a criatividade, a identificação de oportunidades e as<br />
relações interpessoais.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />
AWAD, Elias. Samuel Klein e Casas Bahia, uma trajetória de<br />
sucesso. Osasco – SP: Novo Século Editora, 2003. 1ª edição – 4ª<br />
reimpressão. 263 páginas.<br />
BERNARDES, Cyro; MARCONDES, Reinal<strong>do</strong> Cavalheiro.<br />
Crian<strong>do</strong> Empresas para o sucesso. 3ª edição revisada e ampliada<br />
– São Paulo: Saraiva,2004 – 179 páginas.<br />
CHIAVENATO, Idalberto. Empreende<strong>do</strong>rismo: dan<strong>do</strong> asas ao<br />
espírito empreende<strong>do</strong>r. São Paulo: Saraiva, 2004 – 278 páginas.<br />
DOLABELLA, Fernan<strong>do</strong>. O Segre<strong>do</strong> de Luiza. São Paulo:<br />
Cultura Editores Associa<strong>do</strong>s, 2004. 15ª impressão – 312<br />
páginas.<br />
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreende<strong>do</strong>rismo<br />
Corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003 – 1890 páginas.<br />
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo <strong>Di</strong>cionário da<br />
Língua Portuguesa. Nova Fronteira, 14ª reimpressão.<br />
INÀCIO, Sandra Regina da Luz. O Perfil <strong>do</strong> Empreende<strong>do</strong>r.<br />
São Paulo: Lógica, 2004 – 110 páginas.<br />
55
HASHIMOTO, Marcos. Espírito Emprende<strong>do</strong>r nas<br />
Organizações: aumentan<strong>do</strong> a competitividade através <strong>do</strong> intraempreende<strong>do</strong>rismo.<br />
São Paulo: Saraiva, 2006 – 277 páginas.<br />
PORTIGLIATTI, Anthony. Entrepreneurship. (Apresenta<strong>do</strong> no<br />
Seminário Internacionalizan<strong>do</strong> Sua Carreira/Negócio, São Paulo,<br />
2006).<br />
PORTIGLIATTI, Anthony. Não Importa o Tamanho de sua<br />
empresa, você pode Internacionaliza-la. Revista Empresa Familiar<br />
– Edição Bimestral – Julho/Agosto 2005 – Ano I nº 3.<br />
Sites:<br />
www.universia.com.br - Melhores Opções para a Carreira.<br />
Acesso em 15/06/2006.<br />
http://www.sebraesp.com.br - Acesso em 14/06/2006.<br />
http://groups.msn.marcoshashimoto. Forman<strong>do</strong><br />
Empreende<strong>do</strong>res. Acesso em 13/03/2006.<br />
NoTAS<br />
1- Maria de Fátima Abud Olivieri, PhD., Mestre em Educação, Arte e<br />
História da Cultura, Relações Públicas, professora universitária em cursos<br />
de pós-graduação e de graduação da Faculdade Montessori.<br />
O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />
56
Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra 1 .<br />
rESumo<br />
A literatura sobre as práticas familiares que influenciam<br />
positivamente no desempenho escolar enfatiza a importância<br />
da interação família e escola para diminuir as zonas de<br />
conflito vivenciadas pelos seus protagonistas. São conflitos<br />
resultantes das linguagens diferenciadas usadas pelos pais e<br />
professores, pertencentes a instituições ou ambientes culturais<br />
diversos. <strong>Di</strong>stintas nas tarefas e formas de ensinar, mas ambas<br />
socializa<strong>do</strong>ras, responsáveis pela preparação das crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes para o exercício pleno da cidadania.<br />
Com o agravamento da situação familiar a partir das últimas<br />
décadas <strong>do</strong> séc. XX, a ausência <strong>do</strong>s pais <strong>do</strong>s lares, deixan<strong>do</strong><br />
filhos menores aos cuida<strong>do</strong>s de outros, forçam a procura por<br />
instituições públicas de ensino, sobrecarregan<strong>do</strong>-as. As escolas<br />
buscam formas de linguagem que aproxime as famílias, tornan<strong>do</strong>as<br />
receptivas, possibilitan<strong>do</strong> o conhecimento e participação <strong>do</strong>s<br />
pais no trabalho escolar. Desenvolver essa meto<strong>do</strong>logia é a<br />
proposta <strong>do</strong> Programa de Interação Família e Escola.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Família, Interação, Escola, Participação.<br />
ABSTrACT<br />
The Literature on family practices that influences positively<br />
on school performance emphasizes the importance of interaction<br />
between family and school to minimized the conflicts lived by<br />
its protagonists. These conflicts are the result of the different<br />
languages used by parents and teachers, belonging to different<br />
institutions or cultural environments. Unique in its tasks and<br />
teaching ways, even thought both are guide to socialization,<br />
responsible for the preparation of the children and a<strong>do</strong>lescents<br />
for the full exercise of citizenship.<br />
With the deterioration of the family situation since the last<br />
decades of 20th century, the absence of the parents at home,<br />
leaving young children under the care of others, force the search<br />
for public education institutions, overloading them. The schools<br />
look for a language that approaches the families, making them<br />
more receptive, allowing for knowledge and participation of the<br />
parents in school work. The proposal of the Program of Family<br />
and School Interaction is to develop this metho<strong>do</strong>logy.<br />
KEYworDS:<br />
Family, Interaction, School, Participation.<br />
Profª Ms. Katsue Hamada e Zenun 2<br />
Profª Mitsuko Yamazaki Marques 3<br />
57
Os da<strong>do</strong>s estatísticos registra<strong>do</strong>s pelo INEP – Instituto Nacional<br />
de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas de 2005, indicam que o Município de<br />
Taboão da Serra disponibilizou vagas para colocar 100% das<br />
crianças de 7 a 14 anos no Ensino Fundamental. Entretanto, os<br />
da<strong>do</strong>s sobre a repetência indicam que o índice de reprovação <strong>do</strong>s<br />
alunos ao longo <strong>do</strong> Ensino Fundamental I, sobretu<strong>do</strong> na 4ª série,<br />
ainda é inquietante, chegan<strong>do</strong> a atingir 20,8% numa das escolas. 4<br />
Esses da<strong>do</strong>s revelam que o município tem um longo caminho<br />
a trilhar para diminuir a repetência e alcançar o patamar de<br />
excelência no que diz respeito à qualidade de ensino. Não se trata<br />
aqui de buscar soluções meramente estatísticas que caracterizam<br />
os programas de atendimento à população, mas que implantem<br />
alternativas meto<strong>do</strong>lógicas que promovam a real aprendizagem.<br />
Da repetência e seu diagnóstico<br />
A repetência está sempre associada ao “fracasso escolar”<br />
e, por mais que se tenha avança<strong>do</strong> nas pesquisas, essa idéia<br />
parece longe <strong>do</strong> desaparecimento.<br />
1. O fracasso é diagnostica<strong>do</strong> como negatividade, por déficits<br />
de inteligência, afeto, cultura, nutrição ou condição financeira.<br />
2. As crianças são fracassadas, mas como “vítimas” de<br />
uma desordem capitalista, na qual a escola estaria cumprin<strong>do</strong><br />
sua função na reprodução da desigualdade social, excluin<strong>do</strong> e<br />
discriminan<strong>do</strong> essas crianças.<br />
3. É habitual a procura <strong>do</strong>s culpa<strong>do</strong>s pelo fracasso escolar:<br />
família ou sua ausência; carências culturais, alimentares;<br />
sociedade capitalista ou Esta<strong>do</strong>.<br />
A repetência traz consigo um estigma que marca e rotula as<br />
crianças como “repetentes” ou “multirepetentes” que, à primeira<br />
análise:<br />
1. Têm um quociente intelectual normal, ou muito próximo da<br />
normalidade, ou ainda, superior.<br />
2. Seu ambiente sóciofamiliar é normal.<br />
3. Não apresentam deficiências sensoriais nem afecções<br />
neurológicas significativas.<br />
Entretanto, seu rendimento escolar é reiteradamente<br />
insatisfatório. Segun<strong>do</strong> diagnóstico <strong>do</strong>s professores “apresentam<br />
grandes dificuldades de aprendizagem”, o que indica um perfil<br />
bastante genérico.<br />
Alunos que reprovam vários anos na mesma série são mais<br />
comuns <strong>do</strong> que se pode imaginar. Essas crianças, ao longo<br />
dessas experiências, sentem que a escola não foi feita para eles<br />
e tendem a se evadir. Segun<strong>do</strong> Freire (1999, p.35) 5 , “os alunos<br />
não se evadem da escola, a escola é que os expulsa”. Quem<br />
realmente falhou, o aluno ou a escola? Esses alunos reprova<strong>do</strong>s<br />
retornarão no ano seguinte? Uma criança curiosa que está<br />
descobrin<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e suas possibilidades não avançou nada<br />
em um, <strong>do</strong>is ou três anos? Não aprenderam nada? E, nada<br />
faremos por elas?<br />
Vários autores chamam a atenção para o fato de que o<br />
maior percentual de fracasso na produção escolar, de crianças<br />
encaminhadas a consultórios e clínicas, encontra-se no que<br />
comumente se denomina de “problema de aprendizagem<br />
reativo”, produzi<strong>do</strong> e causa<strong>do</strong> pelo próprio ambiente escolar<br />
(WEISS et. al, 1999, p.46) 6 .<br />
Das dificuldades de aprendizagem<br />
A literatura sobre as dificuldades de aprendizagem se<br />
caracteriza por um conjunto de argumentos, definições muitas<br />
Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />
vezes contraditórias ou ambíguas. Na classificação diagnóstica<br />
confunde-se com outras expressões como “crianças com<br />
necessidades educativas especiais”, “crianças com inadaptações<br />
sócioambientais”, dentre outras.<br />
Podemos assinalar como elementos de definição mais<br />
relevantes:<br />
1. A criança com transtornos de aprendizagem que tem uma<br />
linha desigual em seu desenvolvimento.<br />
2. Os problemas de aprendizagem não são causa<strong>do</strong>s por<br />
pobreza ambiental.<br />
3. Os problemas não são devi<strong>do</strong>s a atraso mental ou<br />
transtornos emocionais.<br />
Em síntese, só é procedente falar em dificuldades de<br />
aprendizagem quan<strong>do</strong> fazemos referência a alunos que<br />
incluem problemas mais localiza<strong>do</strong>s nos campos da conduta<br />
e da aprendizagem, <strong>do</strong>s seguintes tipos: a) Atividade motora:<br />
hiperatividade ou hipoatividade, dificuldade de coordenação;<br />
b) Atenção: baixo nível de concentração, dispersão; c) Área<br />
matemática: problemas em seriações, inversão de números,<br />
reitera<strong>do</strong>s erros de cálculo; d) Área verbal: problemas na<br />
codificação/ decodificação simbólica, irregularidades na<br />
lectoescrita, disgrafías; e) Emoções: desajustes emocionais<br />
leves, baixa auto-estima; f) Memória: dificuldades de fixação;<br />
g) Percepção: reprodução inadequada de formas geométricas,<br />
confusão entre figura e fun<strong>do</strong>, inversão de letras; b)Sociabilidade:<br />
inibição participativa, pouca habilidade social, agressividade.<br />
Partin<strong>do</strong> da realidade plenamente constatada de que to<strong>do</strong>s<br />
os alunos são diferentes, tanto em suas capacidades, quanto<br />
em suas motivações, interesses, ritmos evolutivos, estilos de<br />
aprendizagem, situações ambientais e, entenden<strong>do</strong> que todas<br />
as dificuldades de aprendizagem são em si mesmas contextuais<br />
e relativas, é necessário colocar o acento no próprio processo de<br />
interação ensino e aprendizagem.<br />
É, sem dúvida, um processo complexo em que estão<br />
incluídas inúmeras variáveis: aluno, professor, concepção e<br />
organização curricular, meto<strong>do</strong>logias, estratégias, recursos.<br />
Além disso, a aprendizagem <strong>do</strong> aluno não depende somente<br />
dele, e sim <strong>do</strong> grau em que a ajuda <strong>do</strong> professor esteja ajustada<br />
ao nível de necessidade que o aluno apresenta em cada tarefa<br />
de aprendizagem. Pressupõe-se que, quan<strong>do</strong> esse ajuste é<br />
adequa<strong>do</strong>, os avanços serão significativos. Requer a superação<br />
da concepção tradicional <strong>do</strong>s problemas escolares apoia<strong>do</strong>s<br />
em enfoques clínicos centra<strong>do</strong>s nos déficits <strong>do</strong>s alunos e em<br />
tratamentos psico-terapêuticos anexos aos processos escolares.<br />
A busca de alternativas caminha pela proposta de compreensão<br />
desses problemas, a individualização <strong>do</strong> ensino para essas<br />
crianças e opção pela inclusão ao invés da exclusão. Trata-se<br />
de criar novos contextos que atendam as individualidades <strong>do</strong>s<br />
alunos, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> que cada um sabe, de suas potencialidades<br />
e não de suas dificuldades. “<strong>Di</strong>ficuldades de aprendizagem” são<br />
de ensino e de aprendizagem. Ambas estão juntas, é difícil dizer<br />
qual das duas tem mais peso.<br />
De acor<strong>do</strong> com Blin (2005) 7 sem subestimar o efeito de<br />
fatores externos à escola, variadas pesquisas sobre a eficácia<br />
<strong>do</strong> ensino têm demonstra<strong>do</strong> a influência <strong>do</strong>s professores e da<br />
maneira como conduzem a ação pedagógica, não somente sobre<br />
a forma como se dá a aprendizagem <strong>do</strong>s alunos, mas também<br />
sobre o mo<strong>do</strong> com que se comportam em aula. O conhecimento<br />
<strong>do</strong>s processos associa<strong>do</strong>s ao ato de aprender e uma prática<br />
didática capaz de facilitá-los pode minimizar grande parte <strong>do</strong>s<br />
problemas e <strong>do</strong>s rótulos coloca<strong>do</strong>s nos alunos com “dificuldades<br />
de aprendizagem”.<br />
58
O preparo e o bom senso <strong>do</strong> professor é o elemento chave<br />
para que essas questões possam ser mais bem abordadas. A<br />
questão varia de acor<strong>do</strong> com cada etapa da escolarização<br />
e, principalmente, de acor<strong>do</strong> com os traços pessoais de cada<br />
aluno. De um mo<strong>do</strong> geral, há momentos mais estressantes na<br />
vida de qualquer criança, como por exemplo, as mudanças, as<br />
novidades, as exigências de adaptação a uma nova escola ou,<br />
simplesmente, a adaptação à a<strong>do</strong>lescência. São essas fases de<br />
provação afetiva e emocional que vêm à tona as características<br />
da personalidade de cada criança ou a<strong>do</strong>lescente, a fragilidade e<br />
dificuldade superação.<br />
Os professores menos avisa<strong>do</strong>s podem considerar que todas<br />
as crianças sintam e reajam da mesma maneira aos estímulos e<br />
às situações ou acreditar que submeten<strong>do</strong> indistintamente to<strong>do</strong>s<br />
os alunos às mais diversas situações, quaisquer dificuldades<br />
adaptativas (sensibilidades, afetividades, traços de retraimento e<br />
introversão etc), se corrigiriam diante desses desafios ou diante<br />
da possibilidade de exposição ao ridículo. Na realidade, podem<br />
agravar o sentimento de inferioridade, a ponto de a criança ou<br />
a<strong>do</strong>lescente não mais querer freqüentar aquela classe ou se<br />
recusar a ir para a escola.<br />
O “aluno problema” pode ser reflexo de algum transtorno<br />
emocional, muitas vezes origina<strong>do</strong> de relações familiares<br />
conturbadas, de situações trágicas ou transtornos <strong>do</strong><br />
desenvolvimento. Se o fato se tornar um estigma, será um<br />
far<strong>do</strong> a mais, mais um dilema emocional agravante. Para esses<br />
casos, o conhecimento e a sensibilidade <strong>do</strong>s professores<br />
podem se constituir em um bálsamo para corações e mentes<br />
momentaneamente conturba<strong>do</strong>s.<br />
Da didática como fator de prevenção<br />
Segun<strong>do</strong> Perrenoud (2001) 8 mesmo em uma classe cujo<br />
professor é o centro (geográfico) <strong>do</strong> saber, dificilmente ele se<br />
dirige constantemente a to<strong>do</strong>s os alunos e que cada um deles<br />
recebe a mesma orientação, as mesmas tarefas, os mesmos<br />
recursos. Indica as situações abaixo para essa afirmação:<br />
1. O professor interage seletivamente com os alunos e,<br />
por isso, alguns têm, mais que outros, a experiência de serem<br />
ouvi<strong>do</strong>s ou questiona<strong>do</strong>s, felicita<strong>do</strong>s ou repreendi<strong>do</strong>s. Não há<br />
como padronizar a comunicação verbal.<br />
2. Mesmo nas desses professores com postura mais<br />
tradicional, muitas vezes o trabalho é realiza<strong>do</strong> em grupos, e<br />
o professor circula como um recurso para atender os alunos.<br />
Entretanto, a diversidade <strong>do</strong>s ritmos de trabalho pode levar<br />
ao enriquecimento ou ao empobrecimento das tarefas. Assim,<br />
sempre haverá aqueles que terminam primeiro e dispõem de<br />
tempo para brincar, enquanto outros demoram e é preciso<br />
esperá-los.<br />
Coloca ainda o autor, que se levarmos em conta o currículo<br />
real como uma série de experiências, ficará evidente que este<br />
currículo é heterogêneo, pois são percursos distintos, apesar de<br />
freqüentarem a mesma sala, com o mesmo professor durante<br />
anos. A individualização de itinerários educativos é possível para<br />
os professores, pois ao invés de uma individualização deixada<br />
ao acaso, é possível realizá-los deliberadamente, isto é, planejar<br />
um leque de possibilidades de acor<strong>do</strong> com as necessidades<br />
diversas <strong>do</strong>s sujeitos.<br />
Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />
Da escola como ambiente intermediário entre a família e<br />
a sociedade – os pressupostos para o desenvolvimento <strong>do</strong><br />
Programa de interação Família e Escola<br />
A escola oferece um ambiente propício para as manifestações<br />
emocionais da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. É onde cada criança ou<br />
a<strong>do</strong>lescente é comparada com seus pares, com seu grupo etário<br />
e social. Nesse ambiente o professor é o profissional com maiores<br />
possibilidades de detectar e mediar os problemas cruciais da<br />
vida e <strong>do</strong> desenvolvimento desses educan<strong>do</strong>s.<br />
Dentro da sala de aula há situações significativas nas quais os<br />
professores podem atuar tanto beneficamente quanto conscientes<br />
ou inconscientemente, agravan<strong>do</strong> condições emocionais <strong>do</strong>s<br />
alunos. São situações emocionais próprias de sua constituição<br />
(ou personalidade) ou manifestações de suas vivências sociais<br />
e familiares (ansiedade de separação na infância, transtornos<br />
obsessivo – compulsivos, autismo infantil, deficiência mental,<br />
déficit de atenção, morte na família, separações conjugais,<br />
<strong>do</strong>enças graves etc). Um ambiente escolar acolhe<strong>do</strong>r onde os<br />
educa<strong>do</strong>res a<strong>do</strong>tem uma postura ética em relação ao aluno<br />
possibilitará o desenvolvimento de suas potencialidade e criará<br />
uma rede de proteção contra as vulnerabilidades a que estão<br />
sujeitos to<strong>do</strong>s seres em desenvolvimento.<br />
Os pressupostos da Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da<br />
Educação/1996 e as metas <strong>do</strong> Plano Nacional de Educação<br />
definem que a criança deve ser chamada a freqüentar o Ensino<br />
Fundamental a partir <strong>do</strong>s seis anos dentro de uma perspectiva<br />
de educação de qualidade, portanto, uma educação socialmente<br />
relevante. Entretanto, uma educação de qualidade caracterizase<br />
por um conjunto de fatores intra - escolares e sociais que<br />
dizem respeito às condições de vida <strong>do</strong>s alunos e de suas<br />
famílias, ao seu contexto social, cultural e econômico e, à própria<br />
escola – professores, diretores, projeto pedagógico, recursos,<br />
instalações, estrutura organizacional, ambiente escolar e relações<br />
intersubjetivas no cotidiano escolar. É certo que esses múltiplos<br />
fatores estão inter–relaciona<strong>do</strong>s e nenhum deles responde<br />
isoladamente por qualquer mudança e, por isso, os programas<br />
a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para incidir sobre os problemas identifica<strong>do</strong>s devem<br />
estar articula<strong>do</strong>s.<br />
Presume-se que os fatores referentes à escola situam-se<br />
dentro das possibilidades de intervenção <strong>do</strong>s gestores de políticas<br />
públicas na esfera da educação. Os fatores extras – escolares<br />
dependem de macropolíticas que interfiram nas condições das<br />
famílias e <strong>do</strong>s programas oficiais de combate à exclusão social.<br />
De qualquer maneira, não basta legalmente propiciar o acesso<br />
aos seis anos e excluí-las da permanência na escola.<br />
A simples aceitação dessa realidade nos acomodará<br />
diante <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s escolares que indicam altos índices de<br />
insucessos diagnostica<strong>do</strong>s como repetência, cujas causas<br />
deveriam ser pesquisadas com maior rigor científico. Considerará<br />
que a competência <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes atingiu o máximo de suas<br />
possibilidades diante <strong>do</strong> aluna<strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r de todas as múltiplas<br />
necessidades criadas ou impostas por fatores extra–escolares.<br />
É aceitar comodamente uma situação como irreversível e assim<br />
<strong>do</strong>rmir sem remorsos o sono <strong>do</strong>s justos.<br />
A revolução no ensino terá resulta<strong>do</strong>s consistentes quan<strong>do</strong><br />
se fixar a intenção de reverter a situação de baixa qualidade<br />
da aprendizagem na educação como meta e bandeira de uma<br />
proposta política-pedagógica. Exigirá, por um la<strong>do</strong>, identificar os<br />
condicionantes <strong>do</strong> problema, e por outro la<strong>do</strong>, refletir sobre a<br />
construção de estratégias de mudança desse quadro.<br />
Essa tomada de posição deve reconhecer que a<br />
responsabilidade de educar as crianças a partir <strong>do</strong>s seis anos<br />
significa conhecer as vulnerabilidades que afetam a infância<br />
59
<strong>do</strong>s seis aos <strong>do</strong>ze anos e o poder público deve estar apto a<br />
implementar to<strong>do</strong>s os mecanismos de proteção, ten<strong>do</strong> como<br />
referências as diferentes etapas <strong>do</strong> desenvolvimento humano - o<br />
aprendiza<strong>do</strong> escolar, as relações interpessoais e a construção de<br />
uma imagem de si; vistos como desafios a serem enfrenta<strong>do</strong>s<br />
pela criança, com o suporte da família e da escola.<br />
Envolver a família na educação escolar pode significar a sua<br />
participação nos trabalhos realiza<strong>do</strong>s pela escola para criar uma<br />
atmosfera que fortaleça o desenvolvimento e a aprendizagem<br />
das crianças nesses <strong>do</strong>is ambientes socializa<strong>do</strong>res – a escola e a<br />
família (Reali e Tancredi, 2001) 9 . Segun<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s de pesquisas<br />
sobre o interesse <strong>do</strong>s pais pelo processo de escolarização <strong>do</strong>s<br />
filhos indica<strong>do</strong>s pelas autoras, constata-se que de maneira geral<br />
aspiram para seus filhos uma escola de qualidade, comprometida<br />
com o ensino de conteú<strong>do</strong>s e habilidades. Entendem (e<br />
esperam) que tais aprendizagens propiciarão uma melhora nas<br />
condições de vida. Consideram a escola como principal local<br />
de aprendizagem de seus filhos e a maioria se preocupa com<br />
o acompanhamento das atividades escolares e em conhecer<br />
pessoalmente o(a) professor(a) <strong>do</strong>s filhos.<br />
Um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em 2001 pelas autoras em uma escola<br />
municipal de educação infantil que pretendia estreitar os laços<br />
com as famílias <strong>do</strong>s alunos, indica o grande interesse <strong>do</strong>s pais<br />
pela escola e pelo aprendiza<strong>do</strong> de seus filhos. Entretanto, os<br />
professores demonstraram concepções preconceituosas com<br />
generalização de características negativas presentes em uma<br />
parcela da comunidade escolar. De forma geral, subestimam a<br />
motivação <strong>do</strong>s pais nas questões escolares e a sua capacidade de<br />
compreender o que se ensina nas escolas. Esse estu<strong>do</strong> forneceu<br />
para as pesquisa<strong>do</strong>ras fortes elementos para a necessidade de<br />
investigar mais profundamente as bases das concepções que<br />
os professores têm sobre os alunos e seus familiares e buscar<br />
formas de modificar essas crenças por meio de programas de<br />
formação continuada centra<strong>do</strong>s na escola.<br />
As diversas situações estudadas pelas professoras (Reali e<br />
Tancredi, 2001) nos projetos de extensão da Universidade Federal<br />
de São Carlos (SP), reforçam a necessidade de se investir numa<br />
melhor compreensão <strong>do</strong>s processos envolvi<strong>do</strong>s nas relações<br />
famílias – escola. Ten<strong>do</strong> o professor como elemento–chave nessas<br />
relações, pode-se conceber o estabelecimento de interações<br />
buscan<strong>do</strong> estratégias adequadas para que os pais ajudem seus<br />
filhos nas tarefas escolares (ou tarefa casa), sem desrespeitar suas<br />
características culturais e disponibilidades, entre outros aspectos.<br />
Não há caminhos para o estabelecimento de regras gerais para a<br />
implementação de mo<strong>do</strong>s de comunicação únicos entre a escola e<br />
as famílias, nem de se propor um modelo único de interação entre<br />
essas instituições ou um padrão para definir o papel da família em<br />
relação às questões escolares. O que importa é a percepção <strong>do</strong><br />
professor quanto à importância de se conhecer a família de seus<br />
alunos e de propiciar a sua aproximação com a escola.<br />
Na literatura que subsidiou este trabalho, existe unanimidade<br />
em reconhecer o fato de que a família precisa ser tratada com<br />
prioridade na política educacional enquanto co-responsável na<br />
educação <strong>do</strong>s filhos, condição essa essencial para o sucesso<br />
escolar. Não basta conhecer as crenças e as interações individuais<br />
<strong>do</strong>s professores. É fundamental identificá-las e compreendê-las<br />
no contexto <strong>do</strong> grupo de educa<strong>do</strong>res para o fortalecimento de<br />
uma parceria produtiva e para uma aprendizagem de sucesso. O<br />
estreitamento de relações entre família e escola é um caminho de<br />
mão dupla que exige a construção de objetivos comuns, origina<strong>do</strong><br />
e fomenta<strong>do</strong> pela escola ten<strong>do</strong> como finalidade a oferta de um<br />
ensino de qualidade. A contrapartida desta ação é a reflexão<br />
sobre os méto<strong>do</strong>s de ensino a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>centes. Estariam<br />
adequa<strong>do</strong>s ao universo de populações majoritariamente de baixa<br />
Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />
renda e de baixo nível cultural, além da ocorrência de situações<br />
de vulnerabilidade que refletem sobre as características físicas,<br />
biológicas e neurológicas das crianças?<br />
Da necessidade à viabilidade - uma construção coletiva<br />
No Município de Taboão da Serra, o Decreto Municipal nº.<br />
033, assina<strong>do</strong> em 28 de maio de 2005 10 , expressou-se essa<br />
determinação. O envolvimento <strong>do</strong>s pais e das mães, antes<br />
limita<strong>do</strong> e informal, ampliou-se para a rede pública municipal de<br />
ensino com a implantação <strong>do</strong> Programa que se intitulou “Interação<br />
Família e Escola”, tornan<strong>do</strong>-se os principais protagonistas da<br />
ação educativa e <strong>do</strong> sucesso escolar da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente,<br />
ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s professores.<br />
Assim proposto, todas as unidades de Ensino Fundamental<br />
(20 Escolas Municipais de Ensino Fundamental – EMEF’s),<br />
tornaram-se sede de projetos com participação inicial de 410<br />
<strong>do</strong>centes <strong>do</strong>s anos iniciais <strong>do</strong> Ensino Fundamental de Nove Anos<br />
(de série inicial a 4ª. Série), representan<strong>do</strong> aproximadamente<br />
60% <strong>do</strong>s professores de Ensino Fundamental I 11 em exercício.<br />
A coordenação <strong>do</strong> Programa coube à equipe gestora (diretores,<br />
assistentes e coordena<strong>do</strong>res pedagógicos). A elaboração <strong>do</strong>s<br />
projetos pedagógicos das unidades escolares se fez dentro <strong>do</strong>s<br />
respectivos Planos de Gestão (2005 a 2009), respeitan<strong>do</strong>-se a<br />
especificidade local.<br />
Além disso, estabeleceu-se que os relatórios serão redigi<strong>do</strong>s<br />
pelos “professores – visita<strong>do</strong>res”. Esses relatórios subsidiarão<br />
os estu<strong>do</strong>s, pesquisas e reflexões em HTC -Horário de Trabalho<br />
Coletivo na busca conjunta de alternativas às dificuldades e<br />
desafios que cada escola enfrentará, procuran<strong>do</strong>-se definir os<br />
encaminhamentos mais adequa<strong>do</strong>s: aos órgãos municipais<br />
(secretarias de Saúde, Ação Social e Cidadania, Habitação),<br />
à equipe multidisciplinar 12 para avaliação diagnóstica, à<br />
coordenação da secretaria de educação etc.<br />
Dos eixos nortea<strong>do</strong>res das ações <strong>do</strong> Programa de<br />
interação entre a Família e a Escola<br />
Face ao exposto e, consideran<strong>do</strong> a importância de se<br />
desenvolver uma meto<strong>do</strong>logia de aproximação entre escolas e<br />
famílias a fim de garantir às crianças e a<strong>do</strong>lescentes o direito<br />
a uma educação de qualidade e a salvo de toda forma de<br />
negligência e de discriminação; e os professores como elementos<br />
chave <strong>do</strong> processo ensino-aprendizagem e, portanto, das ações<br />
escolares, incluin<strong>do</strong> as de interação escola-família; elegemos os<br />
seguintes eixos nortea<strong>do</strong>res:<br />
1. Uma meto<strong>do</strong>logia que seja de pesquisa e de intervenção<br />
no processo de ensino e de aprendizagem para garantia <strong>do</strong><br />
sucesso escolar <strong>do</strong> aluno. Constituir-se numa alternativa de<br />
formação continuada de professores para os problemas de<br />
aprendizagem encontradas no cotidiano da escola.<br />
2. Serão os professores-visita<strong>do</strong>res que irão buscar<br />
conhecimentos, informações e subsídios no seio da família<br />
<strong>do</strong> aluno que servirá de apoio para garantir o sucesso escolar<br />
da criança ou <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. O envolvimento <strong>do</strong>s pais e das<br />
mães formalizar-se-á na proposta de parceria família – escola,<br />
como meta <strong>do</strong> desenvolvimento de uma política educacional<br />
centrada na família. A cada ano letivo, a escola promoverá<br />
parcerias que elevarão o envolvimento e participação da família<br />
na promoção <strong>do</strong> crescimento social, emocional e acadêmico<br />
das crianças e <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes. Os objetivos da parceria<br />
serão amplos, abrangen<strong>do</strong> desde a assistência às necessidades<br />
especiais <strong>do</strong>s estudantes e <strong>do</strong>s próprios pais e mães em<br />
desvantagem social, até a obrigação de estes promoverem<br />
60
o desenvolvimento acadêmico de seus filhos, apoian<strong>do</strong> o<br />
dever de casa, e ainda a obrigação de participarem da gestão<br />
escolar, acenan<strong>do</strong> com possibilidades de excelência e eqüidade<br />
educacionais. Efeitos perversos podem ser os decorrentes de<br />
visão romântica <strong>do</strong> envolvimento <strong>do</strong>s pais que esconde diversas<br />
concepções de educação, família e escola, bem como, conflitos<br />
potenciais nas relações entre pais/mães e professores, e<br />
mesmo entre grupos de pais/mães, associa<strong>do</strong>s à diversidade de<br />
classe, etnia, organização familiar e valores. Evitar tais efeitos é<br />
responsabilidade que deve ser atribuída aos estu<strong>do</strong>s reflexivos e<br />
à pesquisa, que certamente serão desencadea<strong>do</strong>s ao longo da<br />
execução <strong>do</strong> Programa.<br />
3. O terceiro eixo nortea<strong>do</strong>r é entrelaça<strong>do</strong> com os <strong>do</strong>is<br />
primeiros que nos leva ao conhecimento <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res da<br />
vulnerabilidade da criança a partir <strong>do</strong>s seis anos. Permite<br />
traçar a trajetória <strong>do</strong> seu desenvolvimento escolar ao longo<br />
de sua infância e criar uma ampla rede de proteção social<br />
principalmente nos casos encaminha<strong>do</strong>s pelos educa<strong>do</strong>res como<br />
crianças porta<strong>do</strong>ras de grandes dificuldades de aprendizagem.<br />
As causas desses problemas quase sempre se apresentam<br />
associa<strong>do</strong>s a comprometimentos de outra natureza – problemas<br />
de ordem emocional e comportamental que ultrapassam o<br />
âmbito escolar, poden<strong>do</strong> afetar a vida da criança na família e nas<br />
relações interpessoais. Por exemplo, as crianças ex–prematuras,<br />
na fase escolar podem apresentar dificuldades na fala, gagueira<br />
e me<strong>do</strong>. Podem ter comportamentos desobedientes, agita<strong>do</strong>s,<br />
impacientes, irrequietos, briguentos, tristonhos, destrutivos,<br />
difícil relacionamento com outras crianças. Podem ser crianças<br />
vulneráveis para o enfrentamento das demandas e desafios de<br />
tarefas evolutivas da própria fase escolar e via de regra, tem<br />
menor sensibilidade à instrução e requer maior mediação social<br />
de desenvolvimento e aprendizagem (Maturano et all, 2004) 13<br />
4. Para crianças assim diagnosticadas há que se traçar<br />
uma rede de proteção pedagógica mediante a utilização de<br />
meto<strong>do</strong>logias adequadas de intervenção no processo de ensino<br />
para que o fracasso escolar associa<strong>do</strong> a outras circunstâncias<br />
adversas não aumente o nível de vulnerabilidade.<br />
5. Um sistema educacional que busca qualidade social deve<br />
prover, além das alternativas meto<strong>do</strong>lógicas de ensino, todas as<br />
possibilidades de prevenção e de intervenção para impedir<br />
que fatores adversos interfiram na aprendizagem. Por<br />
exemplo, saúde bucal com prevenção para bom desenvolvimento<br />
da dentição, garante níveis compatíveis de acuidade auditiva e<br />
visual, nutrição saudável, entre outros.<br />
6. rejeição <strong>do</strong> estereótipo de “crianças que não aprendem”<br />
que tradicionalmente atua no sistema escolar de maneira geral<br />
como uma profecia auto–realiza<strong>do</strong>ra em que, tratada como<br />
fracassada de antemão pelos pais e mestres, a criança fracassa,<br />
e ao fracassar, comprova o estereótipo e o reforça. Conhecer<br />
os impactos da dificuldade de aprendizagem no comportamento<br />
infantil é um desafio permanente <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, discutir o padrão de<br />
queixas <strong>do</strong>s professores e <strong>do</strong>s pais e promover o enfrentamento<br />
dessas crianças para vencer as diversas situações pedagógicas,<br />
e ao final garantir o sucesso escolar torna-se a maior grandeza <strong>do</strong><br />
Programa de Interação entre a Família e a Escola, uma proposta<br />
renova<strong>do</strong>ra de lançar um olhar afetivo a todas as crianças e, em<br />
seu benefício, construir na educação municipal de Taboão da<br />
Serra, uma proposta de ensino de qualidade social.<br />
Dos mecanismos de acompanhamento e de avaliação<br />
A avaliação é fundamental para a transparência <strong>do</strong> Programa<br />
e seus objetivos, tornan<strong>do</strong> reconhecíveis as limitações, os<br />
aspectos positivos, bem como tornar possibilitar a orientação<br />
Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />
de novas iniciativas e melhoria qualitativa <strong>do</strong> próprio Programa.<br />
Acima de tu<strong>do</strong> é instrumento que garante o diálogo permanente<br />
com os professores em formação, proporcionan<strong>do</strong> a participação<br />
autêntica em sua própria educação (Demo, 1999) 14<br />
Os resulta<strong>do</strong>s para definição <strong>do</strong>s Padrões de Excelência <strong>do</strong><br />
Programa de Interação Família e Escola enquanto instrumento<br />
de formação continuada <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res deverá resultar da<br />
constatação <strong>do</strong>s seguintes elementos:<br />
1. Ampliação da visão <strong>do</strong> espaço de aprendizagem, partin<strong>do</strong><br />
da idéia que professores e alunos podem vivenciar experiências<br />
educativas que vão além <strong>do</strong>s limites da sala de aula.<br />
2. A<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> conceito de ensinar e aprender como direito<br />
humano, a partir de uma visão da escola integrada na vida da<br />
comunidade.<br />
3. A promoção <strong>do</strong> engajamento <strong>do</strong>s professores para<br />
atuarem com temáticas relacionadas à ética, direitos humanos,<br />
convivência democrática e inclusão social, tanto no âmbito<br />
escolar quanto no entorno da escola.<br />
4. Serão indica<strong>do</strong>res quantificáveis: a apropriação <strong>do</strong><br />
potencial advin<strong>do</strong> da família para melhoria <strong>do</strong> processo de ensino<br />
e de aprendizagem; a integração <strong>do</strong>s professores e respectiva<br />
escola com a riqueza cultural <strong>do</strong> entorno; a apropriação de<br />
novos conhecimentos a partir <strong>do</strong> envolvimento com diversos<br />
dispositivos culturais e formas de expressão da comunidade; o<br />
uso intenso e significativo <strong>do</strong>s inúmeros recursos e equipamentos<br />
culturais existentes na localidade (bairro), na cidade de Taboão<br />
da Serra e região ampliada (São Paulo)<br />
A meto<strong>do</strong>logia de avaliação proposta tem na percepção <strong>do</strong><br />
papel <strong>do</strong> professor envolvi<strong>do</strong> no Programa de Interação Família<br />
e Escola, importância para o seu próprio desenvolvimento<br />
profissional – como sujeito ativo que constrói novos conhecimentos<br />
acerca <strong>do</strong> seu ensinar. Essa reflexão (Schön, 1992) 15 sobre a<br />
prática no decorrer <strong>do</strong> processo formativo é enfatizada na imensa<br />
literatura que trata da formação continuada <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res para<br />
a construção <strong>do</strong> que se tem chama<strong>do</strong> “conhecimento prático <strong>do</strong><br />
professor” (Nóvoa, 1992) 16 .<br />
A prática reflexiva envolve o reconhecimento da importância<br />
<strong>do</strong>s professores como sujeitos na formulação de propostas,<br />
no exame permanente de seus valores e suposições e que<br />
reconheçam a importância de seu papel de liderança na<br />
elaboração <strong>do</strong> currículo e na mudança da escola para definição<br />
de propostas socialmente relevantes.<br />
Uma proposta de formação continuada assim formulada<br />
parte <strong>do</strong> pressuposto de se oferecer condições para que os<br />
participantes partilhem experiências vividas na especificidade de<br />
cada escola e conversem entre si tornan<strong>do</strong> esse espaço, o centro<br />
de discussões que cria condições favoráveis para o repensar<br />
da prática e possibilita avaliar seu desempenho profissional, ao<br />
mesmo tempo em que promove o engajamento no processo de<br />
melhoria da educação. Portanto, a avaliação como constitutivo<br />
da formação, torna-se fundante no processo de viabilização <strong>do</strong><br />
Programa tanto no que se refere ao acompanhamento e registro<br />
quanto à sistematização. A discussão com os educa<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> Programa ressaltou necessidade de estabelecer alguns<br />
indica<strong>do</strong>res, tais como:<br />
1. Caracterização <strong>do</strong>s professores participantes (sua<br />
formação, idade, tempo de magistério)<br />
2. Desenvolvimento de formas de acompanhamento <strong>do</strong>s<br />
grupos (cada escola = um grupo) através <strong>do</strong>s segmentos<br />
de coordenação (um em cada escola) visan<strong>do</strong> detectar<br />
transformações nas concepções e na prática pedagógica <strong>do</strong>s<br />
componentes <strong>do</strong> grupo sob sua coordenação.<br />
61
3. Entrevistas com professores de cada grupo-escola para<br />
identificar transformações nas concepções e nas práticas<br />
pedagógicas (relatos descreven<strong>do</strong> suas práticas, reconhecimento<br />
de transformações e <strong>do</strong>s fatores que influenciaram as<br />
transformações).<br />
4. No grupo de coordena<strong>do</strong>res, identificar os mecanismos<br />
utiliza<strong>do</strong>s para estabelecimento de canais de comunicação entre<br />
os professores e formas de encaminhamento das ações <strong>do</strong><br />
Programa de Interação Família e Escola.<br />
Das perspectivas<br />
A análise de resulta<strong>do</strong>s preliminares (2005) anuncia<br />
perspectivas alenta<strong>do</strong>ras, tais como:<br />
1. Em relação à escola:<br />
• Maior aproximação das famílias, sobretu<strong>do</strong> em relação ao<br />
professor;<br />
• Acompanhamento pelos pais das atividades da escola, por<br />
exemplo, as tarefas;<br />
• <strong>Di</strong>scussão em HTC para replanejamento;<br />
• Maior compreensão das dificuldades apresentadas pelos<br />
alunos;<br />
• Estabelecimento de uma certa cumplicidade entre o<br />
professor e o aluno;<br />
• Maior participação de professores no Programa;<br />
2. Em relação à formação:<br />
• Realização de um Encontro de educa<strong>do</strong>res participantes <strong>do</strong><br />
Programa, nos dias 7 e 8 de julho de 2005;<br />
• Oferta de vagas no curso de extensão em educação<br />
comunitária na Universidade de São Paulo (USP)-Leste em<br />
parceria com o Projeto Aprendiz.<br />
• Produção de um vídeo com depoimentos de pais,<br />
professores e alunos.<br />
Em dezembro de 2005, o Programa Interação Família Escola<br />
recebeu destaque especial como finalista no Prêmio Objetivos<br />
de Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio (ODM) 17<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e Saúde Coletiva.<br />
Revista Ciência & Saúde Coletiva . II (1-2), 1997.<br />
CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. A família enquanto<br />
objeto de política educacional: crítica ao modelo americano de<br />
envolvimento <strong>do</strong>s pais na escola. Paraíba: Universidade Federal<br />
da Paraíba (www.educacaoonline.pro.br)<br />
DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. Campinas: Autores<br />
Associa<strong>do</strong>s, 1999.<br />
FOLLARI, R.A. Algumas considerações práticas sobre a<br />
interdisciplinaridade. in BRANCHETTI L. e JANTSCH. A. A<br />
interdisciplinaridade para além da filosofia <strong>do</strong> sujeito. Petrópolis:<br />
Vozes, 1995<br />
GRÜN, M. Questionan<strong>do</strong> os pressupostos epistemológicos da<br />
educação ambiental: a caminho de uma nova ética. Porto Alegre,<br />
1955 (dissertação de mestra<strong>do</strong>. UFRGS)<br />
MEDINA, Carlos Alberto de. Família e Mudança. Rio de<br />
Janeiro: Vozes, 1974 (www.tvebrasil.com.br)<br />
MATURANO, Edna Maria; LINHARES, Maria Beatriz Martins<br />
e LOUREIRO, Sonia Regina (Coordena<strong>do</strong>res). Vulnerabilidade<br />
e Proteção – Indica<strong>do</strong>res na Trajetória de Desenvolvimento <strong>do</strong><br />
Escolar. São Paulo: FAPESP – Casa <strong>do</strong> Psicólogo, 2004.<br />
MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. A proteção da criança<br />
no cenário internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.<br />
REALI, Aline M. de Medeiros Rodrigues e TANCREDI, Regina<br />
M. Simões Puccinelli.<br />
SAVIANI, D. Educação: <strong>do</strong> senso comum à consciência<br />
filosófica. São Paulo: Cortez, Legislação<br />
BRASIL. Constituição Federativa <strong>do</strong> Brasil, 1988.<br />
BRASIL. Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, 1990.<br />
BRASIL. Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.<br />
BRASIL. Plano Nacional de Educação, 2001.<br />
BLIN, Jean-François. Classes difíceis: ferramentas para<br />
prevenir e administrar os problemas escolares. Porto Alegre:<br />
Artmed, 2005.<br />
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo, SP:<br />
Cortez, 3ª ed,1999.<br />
PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças:<br />
fragmentos de uma sociologia <strong>do</strong> fracasso. Porto Alegre: Artmed<br />
Editora, 2001.<br />
WEISS, Alba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia R. A<br />
Informática e os Problemas Escolares de Aprendizagem. Rio de<br />
Janeiro: Ed. DP&A, 1999.<br />
NoTAS<br />
1- Texto preliminar foi inicialmente elabora<strong>do</strong> no decorrer de 2005, para<br />
subsidiar o Projeto Pedagógico <strong>do</strong> Programa de Interação Família e<br />
Escola, na gestão César Callegari, Secretário Municipal de Educação no<br />
município de Taboão da Serra (SP) a partir de 2005. <strong>Di</strong>stribuí<strong>do</strong> à Rede<br />
Pública Municipal para discussão, em dezembro de 2005.<br />
2- Foi <strong>Di</strong>retora de Formação na Secretaria Municipal de Educação de<br />
Taboão da Serra e responsável pela Formação Continuada e, nessa<br />
qualidade, participou <strong>do</strong> Programa de Interação Família e Escola até<br />
maio de 2005. Professora de <strong>Di</strong>dática e Prática de Ensino para a Educação<br />
Infantil na FAMEC.<br />
3- Texto elabora<strong>do</strong> inicialmente pela profª Mitsuko Yamasaki Marques,<br />
Assistente de Secretário (gestão Cesar Callegari, 2005/6) da Secretaria<br />
Municipal de Educação de Taboão da Serra (SP), junto à Equipe de<br />
Formação.<br />
4- Da<strong>do</strong>s referentes a 2004. Secretaria Municipal de Educação – SEMUEC.<br />
Documento preliminar subsídios para elaboração <strong>do</strong><br />
Plano <strong>Di</strong>retor - março 2005.<br />
Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />
5- FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo, SP: Cortez, 3ª<br />
ed,1999.<br />
6- WEISS, Alba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia R. A Informática e<br />
os Problemas Escolares de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Ed. DP&A,<br />
1999.<br />
7- BLIN, Jean-François. Classes difíceis: ferramentas para prevenir e<br />
administrar os problemas escolares. Porto Alegre: Artmed, 2005.<br />
8- Perrenoud, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos<br />
de uma sociologia <strong>do</strong> fracasso. Porto Alegre: Artmed, 2001.<br />
9- REALI, Aline M. de Medeiros e TANCREDI, Regina M. Simões Puccinelli.<br />
Desenvolven<strong>do</strong> uma meto<strong>do</strong>logia de aproximação entre a escola e a<br />
família <strong>do</strong>s alunos com parceria da Universidade . São Carlos: Anais <strong>do</strong><br />
IV SEMPE – Seminário de Meto<strong>do</strong>logia para Projetos de Extensão, pp<br />
29-31, agosto de 2001. (http://www.ufscar.br)<br />
62
10- Gestão de César Callegari, Secretário Municipal de Taboão da Serra,<br />
2005/6.<br />
11- Com a implantação <strong>do</strong> Ensino Fundamental de 9 anos, esse segmento<br />
se refere aos professores <strong>do</strong> 1°ano (antiga pré-escola ao 5° ano (antiga<br />
4ª série).<br />
12- Grupo constitui<strong>do</strong> de um médico pediatra, duas assistentes sociais,<br />
psicóloga, fonoaudióloga e pedagogas.<br />
13- MATURANO, Edna Maria; LINHARES, Maria Beatriz Martins e<br />
LOUREIRO, Sonia Regina (Coordena<strong>do</strong>res). Vulnerabilidade e Proteção<br />
– Indica<strong>do</strong>res na Trajetória de Desenvolvimento <strong>do</strong> Escolar. São Paulo:<br />
FAPESP – Casa <strong>do</strong> Psicólogo, 2004.<br />
14- DEMO, Pedro . Avaliação Qualitativa . Campinas: Autores Associa<strong>do</strong>s,<br />
1999.<br />
15- SCHÖN, Donald A. Educan<strong>do</strong> o profissional reflexivo: um novo design<br />
para o ensino e a aprendizagem . Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.<br />
16- NÓVOA, Antonio . Os professores e sua formação . Lisboa: Dom<br />
Quixote, 1995.<br />
17- Uma iniciativa <strong>do</strong> governo federal, <strong>do</strong> Programa das Nações Unidas<br />
para o Desenvolvimento (PNUD) e <strong>do</strong> Movimento Nacional pela Cidadania<br />
e Solidariedade que premia projetos de inclusão social, alcance da<br />
cidadania e promoção <strong>do</strong>s direitos humanos.<br />
Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />
63
O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />
principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática 1 .<br />
rESumo<br />
O presente artigo faz comentários sintéticos sobre os<br />
conteú<strong>do</strong>s aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática I, ressaltan<strong>do</strong><br />
elementos fundamentais das tendências pedagógicas brasileiras,<br />
da identidade <strong>do</strong>cente e <strong>do</strong>s instrumentos didático pedagógicos,<br />
como planejamento e plano e o uso de tecnologias. Neste<br />
exercício, procura ainda contextualizar mais detalhadamente o<br />
crescimento <strong>do</strong> sistema apostila<strong>do</strong> de ensino, como exemplo da<br />
abordagem tecnicista.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Tendências pedagógicas brasileiras, identidade <strong>do</strong>cente,<br />
sistema apostila<strong>do</strong> de ensino, planejamento e plano.<br />
ABSTrACT<br />
This work presents synthetic commentaries the boarded<br />
contents of the course of <strong>Di</strong>dactic I, standing out basic elements<br />
of the Brazilian pedagogical trends, the identity of the teachers<br />
about and the pedagogical instruments, as the planning, the<br />
plan and the use of technologies. In this exercise, it still looks for<br />
more development of the location of the growth of the emended<br />
education system, as example of the technicist approaching.<br />
KEYworDS:<br />
Celina Bragança 2<br />
Brazilian pedagogical trends, teaching identity, emended<br />
system of education, planning and plan.<br />
64
Vou iniciar esta reflexão relembran<strong>do</strong> a infância. Afinal, pensar<br />
sobre identidade implica necessariamente um olhar generoso e<br />
atento sobre a nossa história, não?<br />
Quero retomar especificamente um conto simples, recorrente<br />
nas nossas vidas pela sua importância no imaginário coletivo<br />
ocidental: “O Patinho Feio”. O enre<strong>do</strong>, explícito em seus<br />
propósitos “educativos”, apresenta de forma poética a estória de<br />
um filhote de cisne que, por acidente, acaba por nascer entre os<br />
patos. A partir daí, transcorrem os sofrimentos e angústias para<br />
sentir-se acolhi<strong>do</strong>, o que só se viabiliza depois que a busca <strong>do</strong><br />
próprio personagem acaba por levá-lo a conhecer seus iguais – e<br />
a se Re-conhecer.<br />
re-conhecer, grifo. Conhecer de novo, revisitar o seu próprio<br />
pensar, romper com o condicionamento a partir de uma visão<br />
simplista e dicotômica – agostiniana- de que há apenas “O certo<br />
e O erra<strong>do</strong>”.<br />
Sem rodeios, acredito em uma identidade constituída a partir<br />
da revelação <strong>do</strong> seu certo e <strong>do</strong> seu erra<strong>do</strong> – claro, respeita<strong>do</strong>s<br />
os limites de uma vida em um ambiente coletivo. Afinal, o mun<strong>do</strong><br />
não tem apenas patos – há também os cisnes, os marrecos, os<br />
gansos... E a beleza se apresenta em cada um deles (e em tantos<br />
outros que não citamos...).<br />
Em um mun<strong>do</strong> que nos estimula a introjetar passivamente,<br />
no entanto, um padrão único de realização e felicidade – conta<br />
bancária polpuda, corpo atlético molda<strong>do</strong> por academias, roupas<br />
pré-determinadas, apetrechos tecnológicos descarta<strong>do</strong>s e<br />
substituí<strong>do</strong>s anual ou semestralmente – como arcar com o ônus<br />
de refletir sobre seus próprios caminhos, e encontrar referências<br />
autônomas de ser? Ou mais – para que fazê-lo?<br />
É aí, a meu ver, que podemos – e devemos falar em Educação.<br />
Em uma “Educação” assim, com letra maiúscula: processual,<br />
contínua e múltipla – focada em uma densa relação entre<br />
formação e trans - formação (além da formação, literalmente). E<br />
vale retomar nosso protagonista “empresta<strong>do</strong>” – o patinho (que<br />
se achava...) feio.<br />
Acredito que devamos destacar um elemento central na<br />
questão da identidade: a auto-estima. A busca <strong>do</strong> “patinho”<br />
é uma luta interna contra seu próprio olhar depreciativo: uma<br />
espécie de avesso <strong>do</strong> mito de Narciso, o personagem acredita<br />
ser “menos” <strong>do</strong> que os outros, portanto, não merece<strong>do</strong>r de<br />
conquistas em sua vida.<br />
A descoberta da identidade, e seu exercício pleno, é<br />
condição imprescindível para o efetivo exercício da educação<br />
crítica, transforma<strong>do</strong>ra. E assim o é porque, em sala de aula, é<br />
preciso atuar no resgate da autoestima em ambos os extremos<br />
da relação professor/aluno – protagonistas não de um conto,<br />
mas da própria existência.<br />
Segun<strong>do</strong> Morin 3 , é preciso retomar, pela via da educação, a<br />
visão ampla e integrada <strong>do</strong> saber: é o que ele destaca como<br />
desafio para o século XXI. E este desafio, ressaltemos, diz<br />
também respeito a desconstruir o paradigma descartiano que<br />
segmenta corpo e mente (e fundamenta uma prática pedagógica<br />
fragmentada, proposta e implementada a partir <strong>do</strong>s ideais de<br />
Comte – atualmente hipertrofiada).<br />
Paulo Freire traduziu de forma precisa o que também a nós<br />
angustia, como registrou Fávaro:<br />
“Paulo Freire (1975) referia-se à prática escolar como ‘prática<br />
epistemológica da educação para <strong>do</strong>mesticação’, uma prática<br />
que, segun<strong>do</strong> ele, se baseia na dicotomia entre ‘saber e trabalhar,<br />
pensar e fazer, informar e formar, reconhecer os conhecimentos<br />
existentes e criar novos conhecimentos’. Nesse tipo de prática<br />
O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />
principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />
que, sem me<strong>do</strong>, podemos dizer que ainda prevalece nas nossas<br />
escolas, ‘saber consiste em receber informações ou estocar os<br />
depósitos constituí<strong>do</strong>s pelos outros’. Trata-se de uma prática<br />
que consiste em anestesiar ou ‘(des)dialetizar’ o pensamento,<br />
o que leva a uma percepção, como diz ele, ‘focalizada’ da<br />
realidade, em vez de uma visão ‘totalizada” 4 .<br />
Perceber sua identidade significa, portanto, exercer os<br />
valores pessoais, a visão de mun<strong>do</strong> e a própria história na vida<br />
profissional cotidiana. No processo ensino/ aprendizagem,<br />
esta visão plena traduz-se em aplicar o próprio repertório de<br />
referências na construção <strong>do</strong>s elos facilita<strong>do</strong>res da convergência<br />
entre os conteú<strong>do</strong>s e a vivência <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />
Significa extrair e ofertar novos nexos que permitam a efetiva<br />
aproximação <strong>do</strong>s “conhecimentos universais” em um movimento<br />
que dá senti<strong>do</strong> ao saber, incrementa<strong>do</strong> e motivan<strong>do</strong> o aluno a<br />
uma postura ativa diante da sociedade e de sua vida.<br />
Trata-se, portanto, e em última instância, de apoiar a<br />
construção da identidade <strong>do</strong> aluno. É bem como aponta<br />
Denise Nery, em uma passagem de seu artigo “Afinal, o que é<br />
identidade?”:<br />
“Desta forma, a identidade que, a princípio aparece como algo<br />
da<strong>do</strong>, é produto de um permanente processo de identificação,<br />
a identidade está sempre em metamorfose, expressan<strong>do</strong> o<br />
movimento social.” 5<br />
Ou ainda, mais a frente:<br />
“Assim, chegamos, resumidamente a um conceito possível de<br />
identidade: consciência que o indivíduo tem de si mesmo como<br />
um ‘ser <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>’.” 6<br />
Nesta última fala, a autora argumenta na direção <strong>do</strong> que<br />
anteriormente registramos como auto-estima – a partir <strong>do</strong> que<br />
se estabelece a “feiúra” <strong>do</strong> personagem patinho da nossa<br />
estória – tanto quanto de inúmeros alunos, pressiona<strong>do</strong>s diante<br />
da falibilidade de um acolhimento familiar e social a que,<br />
supostamente, a democracia deveria lhe assegurar o direito e<br />
exercício.<br />
Na passagem anterior, ela aponta a possibilidade de<br />
reconstrução da identidade a partir de novas bases – o que,<br />
certamente, é parte fundamental das atribuições – ou mais,<br />
das responsabilidades – da Educação. Resgatan<strong>do</strong> Piaget e<br />
Vygotsky, mais uma vez através de Fávaro, é possível elucidar<br />
nosso chama<strong>do</strong>:<br />
“E aqui está uma questão importante para a educação e<br />
para a escola, (...), ao me referir à tomada de consciência<br />
e aos processos de internalização e externalização: esse<br />
conhecimento sistematiza<strong>do</strong> e formaliza<strong>do</strong>, interagin<strong>do</strong> com o<br />
conhecimento cotidiano pode (e isso é consenso tanto para<br />
Piaget quanto para Vygotsky) promover o desenvolvimento<br />
das funções mentais superiores, cuja principal característica<br />
é a formação da consciência (para Vygostky) ou a tomada<br />
da consciência que conduz ao pensamento reflexivo (para<br />
Piaget) e que, em última análise, se trata da conscientização<br />
<strong>do</strong> sujeito se seus próprios processos mentais.” 7<br />
Para efetivar esta dimensão, é imprescindível conhecer,<br />
compreender e praticar a escolha por uma abordagem, pedagógica<br />
complexa e, principalmente, coerente com a identidade (valores,<br />
65
princípios...) <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente. É certo que diferentes perspectivas da<br />
relação professor/aluno incidem sobre as opções pedagógicas<br />
– e acolhem a identidade de forma específica.<br />
Acatamos o ordenamento analítico proposto por Libâneo 8<br />
para resgatar, sinteticamente, as principais tendências didáticopedagógicas.<br />
Entre as propostas de base liberal, abordaremos a tradicional, a<br />
tecnicista e a escolanovista. Quanto às progressistas, ressaltamos<br />
a libertária/ liberta<strong>do</strong>ra e a crítica social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s.<br />
Trataremos sobre elas, entretanto, elucidan<strong>do</strong> especificamente o<br />
“protagonismo” no processo ensino aprendizagem.<br />
Na pedagogia tradicional, os conteú<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s em<br />
uma visão única, hierárquica, em que o professor tem o <strong>do</strong>mínio<br />
<strong>do</strong> conhecimento e da “situação” de aprendizagem. Ao aluno,<br />
resta atuar como coadjuvante passivo, acatan<strong>do</strong> e reproduzin<strong>do</strong><br />
a perspectiva de mun<strong>do</strong> que lhe é apresentada sem que seja<br />
faculta<strong>do</strong> o questionamento ou a reflexão.<br />
Contraditoriamente, o <strong>do</strong>cente ainda que reconhecidamente<br />
protagonista, também é tolhi<strong>do</strong>, enclausura<strong>do</strong> em um<br />
condicionamento comportamental que impede que seu papel<br />
preponderante seja legitima<strong>do</strong> pelos seus diferenciais no seu<br />
ofício de professor – numa espécie de poder concedi<strong>do</strong> a um<br />
<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r, que, ao exercê-lo, anula-se e vê-se <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>. Tratase<br />
aqui de um para<strong>do</strong>xo peculiar à nossa sociedade: as regras<br />
legalmente estabelecidas e esvaziadas de legitimidade dada sua<br />
desconexão com o real, o humano, o cotidiano 9 . <strong>Di</strong>ante deste<br />
cenário/ pacto, resta ao professor a disciplina, para assegurar sua<br />
prática desvirtuada, empobrecida e esvaziada de en<strong>do</strong>geinização<br />
<strong>do</strong>s saberes.<br />
Lastreada igualmente por recursos pedagógicos exógenos<br />
(conforme condições que atribuímos há pouco à disciplina e à<br />
hierarquia “legalmente” instituída pela pedagogia tradicional),<br />
situamos a abordagem tecnicista.<br />
Podemos entendê-la como uma espécie de extensão <strong>do</strong><br />
modelo tradicional, “atualizada” para atender às demandas<br />
de um novo contexto sócio-econômico <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ocidental,<br />
especialmente acentua<strong>do</strong> no século XX (persistin<strong>do</strong>, com<br />
acelerações e intensificações, até hoje 10 ).<br />
A incorporação da nova lógica produtiva traduz-se, com<br />
maior evidência, em uma prática pedagógica “enriquecida” pelos<br />
recursos técnicos e tecnológicos disponibiliza<strong>do</strong>s em função da<br />
intensa produção voltada à facilitação e aprimoramento <strong>do</strong>s<br />
mecanismos de apoio à produção. Na sala de aula, a “evolução”<br />
<strong>material</strong>izou-se em recursos como o livro didático e a apostila,<br />
retro projetor e data show, computa<strong>do</strong>res, vídeos e DVDs – entre<br />
outros.<br />
Sem prejuízo <strong>do</strong> valor que possa ser agrega<strong>do</strong> por tais<br />
ferramentas 11 , sem dúvida de grande potencial, ao processo<br />
de ensino e aprendizagem, é fundamental compreender que a<br />
pedagogia tecnicista desloca o protagonismo da sala de aula<br />
para eles. Assim, a relação conteú<strong>do</strong>/ tecnologia consoli<strong>do</strong>u<br />
uma nova estrutura de poder: é a “apostila” 12 quem dita as<br />
temáticas, volumes de conteú<strong>do</strong>, apresentação visual, enfim,<br />
to<strong>do</strong>s os elos da prática (supostamente) formativa. É ela a nova<br />
protagonista.<br />
Cabe aqui fazer um breve intervalo nos comentários sobre<br />
as tendências pedagógicas para apontar brevemente o impacto<br />
desta inflexão na realidade escolar.<br />
Ao estabelecer que os conteú<strong>do</strong>s possam ser defini<strong>do</strong>s por<br />
especialistas – os autores das apostilas - o próprio <strong>do</strong>cente é<br />
esvazia<strong>do</strong> de seu papel estrutural na pedagogia tradicional: o<br />
de detentor <strong>do</strong> conhecimento. Desta forma, consideran<strong>do</strong> que<br />
O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />
principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />
sua identidade já não tinha relevância porque ficava represada<br />
no modelo único, pré-estabeleci<strong>do</strong> de <strong>do</strong>cência, o vínculo entre<br />
a escola e o processo formativo exime o professor, que assume<br />
duplamente um papel de coadjuvante.<br />
Coadjuvante, sim, já que sen<strong>do</strong> o acesso ao conhecimento<br />
assegura<strong>do</strong> pela “apostila”, o professor pode ser substituí<strong>do</strong><br />
sem que isto cause impacto significativo – daí verificarmos,<br />
naturalmente, a depreciação de sua auto-estima de forma ainda<br />
mais aguda <strong>do</strong> que no modelo tradicional.<br />
Daí também a sua degeneração como trabalha<strong>do</strong>r, em que<br />
o valor da mão de obra dilui-se, reduz “ad eternum”. E essa<br />
desvalorização retroalimenta a ciranda: o professor autodepreciase<br />
(e é referenda<strong>do</strong> pelo funcionamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de escolas,<br />
cada vez mais regi<strong>do</strong> pela lógica <strong>do</strong> capital), acata atuar por<br />
baixíssimos salários e condições degradantes em sala de aula, e<br />
assim por diante.<br />
A escola passa então a priorizar a relação com o “cliente”, que<br />
não mais é o aluno, mas seus pais. Mais uma vez, a “apostila”<br />
atende às expectativas <strong>do</strong> público alvo: incorpora técnicas de<br />
marketing (como o requinte na apresentação visual), conteú<strong>do</strong><br />
seleciona<strong>do</strong> a partir das expectativas médias da sociedade<br />
(ícones representativos da formação cultural, tecnológicas, etc).<br />
Mais uma vez aqui percebemos a configuração social trabalhada<br />
por Debord (1997), constituin<strong>do</strong> o que poderíamos, parafrasean<strong>do</strong><br />
o autor, denominar “educação <strong>do</strong> espetáculo”.<br />
A combinação de tantos fatores configura um cenário de<br />
expansão intensa <strong>do</strong> padrão apostila<strong>do</strong> de ensino, que toma,<br />
talvez já não tão surpreendentemente, to<strong>do</strong>s os níveis de<br />
escolarização: <strong>do</strong> ensino infantil ao superior, passan<strong>do</strong> pelos<br />
longos anos <strong>do</strong> fundamental e pelo médio (resumi<strong>do</strong> a um<br />
preparatório para o vestibular – aliás, de forma tão “competente”<br />
que esta que podemos chamar de “medição <strong>do</strong> adestramento”,<br />
conforme vimos em Freire no início destes comentários, passa a<br />
ser até dispensável pela maior parte das faculdades privadas).<br />
Caberia retomar ainda a perspectiva de Althusser 13 , lembran<strong>do</strong><br />
a conexão entre a escola e a estrutura de poder da sociedade<br />
– mas isto levaria a estender demais uma reflexão que não é<br />
objeto primeiro destes comentários.<br />
Fica claro, e passamos então a ter como dada tal questão, é<br />
que o modelo tecnicista toma o sistema escolar expressivamente<br />
(em especial da década de setenta <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> em diante)<br />
e atinge ainda mais frontalmente a identidade <strong>do</strong> professor,<br />
além de reiterar uma posição de negação <strong>do</strong> protagonismo<br />
discente, bem como o reconhecimento e valorização de sua<br />
individualidade.<br />
Individualidade, aliás, que nos permite retomar a “visita”<br />
às diferentes tendências pedagógicas, levan<strong>do</strong>-nos à última<br />
abordagem liberal: a escola nova. Condizente com um movimento<br />
histórico <strong>do</strong> pensamento ocidental de enorme importância, esta<br />
tendência pedagógica mantém fortes vínculos com o trabalho <strong>do</strong>s<br />
teóricos da psicologia, inclusive Freud, na psicanálise. Com uma<br />
visão de mun<strong>do</strong> centrada no indivíduo, nas microinstâncias, esta<br />
é também uma perspectiva manifesta na biologia, na música, nas<br />
artes plásticas, impregnan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> de um olhar absolutamente<br />
fundamental para as referências contemporâneas.<br />
A prática proposta pela escola nova constrói-se em bases que<br />
reconhecem o conteú<strong>do</strong> pertinente como elemento endógeno<br />
ao aluno, que deve ser desperta<strong>do</strong> potencializan<strong>do</strong> o ritmo de<br />
desenvolvimento infantil/ juvenil.<br />
Trata-se assim, sem dúvida, de uma expansão teórica, em<br />
busca de novas linguagens em sala de aula (e fora dela), pauta<strong>do</strong><br />
pelo reconhecimento <strong>do</strong>s limites, e até mesmo prejuízos,<br />
66
provenientes da formação tradicional. Sua fragilidade reside num<br />
posicionamento que se concentra em rever o méto<strong>do</strong> – mérito<br />
de absoluta pertinência – e isolar o conteú<strong>do</strong> universal instituí<strong>do</strong>,<br />
como se este fosse dispensável no sistema de ensino.<br />
As experiências, que no Brasil ocorrem especialmente a partir<br />
da década de trinta <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, apesar de extremamente<br />
relevantes para conduzir a novas reflexões e conseqüentes<br />
práticas diferenciadas, não alcança o efetivo resulta<strong>do</strong> em<br />
reconduzir a visão tradicional. Enfim, pouco há de aderência com<br />
mudanças estruturais nos processos formativos e no desenho<br />
majoritário da escola no país.<br />
Daí o fato de Saviani nominá-las crítico-reprodutivistas: apesar<br />
de sua origem contestatória, as iniciativas são pouco efetivas e<br />
interromper o ciclo que apontamos anteriormente. É um espaço<br />
marginal que se constitui e, ao não inserir-se profundamente<br />
nas instâncias decisórias da Educação, também não interfere<br />
retroalimentação <strong>do</strong> sistema capitalista de produção.<br />
Entre outros fatores, é fundamental que se diga, as práticas<br />
escolanovistas serão bastante para as propostas inova<strong>do</strong>ras que<br />
virão na segunda metade <strong>do</strong> século XX – aquelas a que acatamos<br />
a qualificação como progressistas.<br />
Comentemos. O marco central da busca por novas respostas<br />
tem como ícone Paulo Freire - referência não apenas para o<br />
Brasil, mas para inúmeros países. Retoma-se, em suas propostas<br />
e de alguns outros de sua matriz, a preocupação com o méto<strong>do</strong><br />
– mas também com um olhar criterioso, específico sobre o<br />
recorte temático <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> a ser aborda<strong>do</strong>. A construção da<br />
ação freireano visa um país cuja realidade é inclusiva, as bases<br />
societárias não são concentradas, manipula<strong>do</strong>ras e massacrantes<br />
em relação à maioria da população.<br />
O eixo de trabalho prioriza<strong>do</strong>, diante disso, é a inclusão <strong>do</strong>s<br />
adultos analfabetos na sociedade, portanto as práticas estão<br />
centradas na construção de uma ação concreta para que, mais<br />
<strong>do</strong> que o letramento, a educação de jovens e adultos busque a<br />
consciência de mun<strong>do</strong>.<br />
Vale aqui retomar as palavras <strong>do</strong> mestre para visualizarmos<br />
de forma precisa o seu pensar sobre a Educação:<br />
“Para que a educação fosse neutra era preciso que não houvesse<br />
discordância nenhuma entre as pessoas com relação aos mo<strong>do</strong>s<br />
de vida individual e social, com relação ao estilo político a ser<br />
posto em prática, aos valores a serem encarna<strong>do</strong>s. Era preciso<br />
que não houvesse, por exemplo, nenhuma divergência em face<br />
da fome e da miséria no Brasil e no mun<strong>do</strong>; era necessário que<br />
toda a população nacional aceitasse mesmo que elas, miséria<br />
e fome, aqui e fora daqui, são uma fatalidade <strong>do</strong> fim de século.<br />
Era preciso também que houvesse unanimidade na forma de<br />
enfrentá-las e superá-las. Para que a educação não fosse uma<br />
forma política de intervenção no mun<strong>do</strong> era indispensável<br />
que o mun<strong>do</strong> em que ela se desse não fosse humano. Há<br />
uma incompatibilidade total entre o mun<strong>do</strong> humano da fala,<br />
da percepção, da inteligibilidade, da comunicação, da ação,<br />
da observação, da comparação, da verificação, da busca, da<br />
escolha, da decisão, da ruptura, da ética e da possibilidade de<br />
transgressão e a neutralidade não importa de quê.<br />
O que devo pretender não é a neutralidade da educação, mas<br />
o respeito, a toda prova, aos educan<strong>do</strong>s, aos educa<strong>do</strong>res e às<br />
educa<strong>do</strong>ras. ” 14<br />
Um pouco mais adiante, mas também em busca de uma ação<br />
síntese entre méto<strong>do</strong> e conteú<strong>do</strong> a serviço de uma educação<br />
transforma<strong>do</strong>ra, virá a pedagogia crítica social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s.<br />
Em ambos os casos, o <strong>do</strong>cente é revitaliza<strong>do</strong>, redimensiona<strong>do</strong><br />
no processo de ensino e aprendizagem. Seu lócus de atuação<br />
O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />
principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />
passa a refletir um compromisso com a mobilização e a reflexão<br />
<strong>do</strong> aluno. A educação é reconhecida como catalisa<strong>do</strong>r da<br />
transformação, da autopercepção como agente social, como<br />
bem demonstram os comentários de Fávero que revisitamos,<br />
e que evidencian<strong>do</strong> a convergência entre os pressupostos da<br />
psicologia e a prática desenhada pelas pedagogias progressistas<br />
aqui tratadas:<br />
“Por isso mesmo, a escola, como instituição social, tem,<br />
na teoria de Vygotsky, assim como na de Piaget e na de<br />
Wallon, um papel tão preponderante: ela pode intervir no<br />
desenvolvimento de seus alunos, na medida em que, com a<br />
mediação <strong>do</strong>s conceitos científicos, isto é, sistematiza<strong>do</strong>s,<br />
formaliza<strong>do</strong>s e hierarquiza<strong>do</strong>s a partir de um sistema de regras<br />
lógicas de coordenação e subordinação, pode promover a sua<br />
conscientização acerca <strong>do</strong>s próprios processos mentais.”<br />
E agora vejamos o que diz Libâneo sobre a pedagogia crítico<br />
social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s:<br />
“Embora se aceite que os conteú<strong>do</strong>s são realidades exteriores<br />
ao aluno, que devem ser assimila<strong>do</strong>s e não simplesmente<br />
reinventa<strong>do</strong>s, eles não são fecha<strong>do</strong>s e refratários às realidades<br />
sociais. Não basta que os conteú<strong>do</strong>s sejam apenas ensina<strong>do</strong>s,<br />
ainda que bem ensina<strong>do</strong>s; é preciso que se liguem, de forma<br />
indissociável, à sua significação humana e social.” 15<br />
Há uma grande sintonia entre as últimas três falas aqui<br />
apresentadas, todas voltadas para o posicionamento sócio<br />
político da educação, em busca de uma Educação apta a tornar<br />
a pessoa por ela constituída sujeito de si.<br />
Cabe ressaltar que a principal distinção entre as abordagens<br />
liberta<strong>do</strong>ra/ libertária trata da seleção <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s: enquanto<br />
Freire toma por insumo na sua alfabetização o cotidiano, os<br />
teóricos da pedagogia crítica social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s alertam<br />
que o contato e a incorporação <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s universais<br />
é imprescindível para a educação transforma<strong>do</strong>ra e plena,<br />
conforme aponta<strong>do</strong> na fala de Libâneo.<br />
Esta última tendência evidencia ainda a sociedade de classes,<br />
apontan<strong>do</strong> não apenas a relevância da escolarização lato sensu,<br />
mas especificamente o papel da escola pública, que, por<br />
seu caráter universal, poderia atingir e modificar - “ativar” – a<br />
maior parte da população. É também a escola pública a única<br />
possibilidade de interrupção da lógica que realimenta as bases<br />
produtivas capitalistas – como discuti<strong>do</strong> em tópicos anteriores<br />
deste <strong>do</strong>cumento.<br />
Os movimentos progressistas da pedagogia apontam,<br />
como pudemos comentar brevemente, para a fundamental<br />
reversão <strong>do</strong> empobrecimento <strong>do</strong> processo formativo da<br />
prática escolar cotidiana – tanto para o aluno quanto para o<br />
professor. E é exatamente aqui que retornamos à nossa estória,<br />
que ludicamente aborda a descoberta, pelo acolhimento e<br />
identificação, <strong>do</strong> Belo, <strong>do</strong> próprio Belo: seus valores e senti<strong>do</strong>s,<br />
que constituem a essência <strong>do</strong> viver e o efetivo protagonismo<br />
sobre suas decisões.<br />
E o que cabe a nós, <strong>do</strong>centes? Ou mais: como responder<br />
a provocação original deste texto: que professor sou e que<br />
professor quero ser?<br />
É absolutamente impossível, a não ser que aceitemos<br />
a fragmentação da condição humana, mediocrizante e<br />
estruturalmente limitada, conjecturar sobre o professor sem ter<br />
clareza da pessoa que quero ser – e que sou. Um patinho que<br />
se perceba feio está automaticamente desabilita<strong>do</strong> para ensinar<br />
67
o Belo – ou mais: despertar a consciência <strong>do</strong> Belo em cada um<br />
<strong>do</strong>s seus alunos.<br />
Para o exercício profissional, a didática apresenta instrumentos<br />
diversos, <strong>do</strong>s quais devemos nos apropriar conforme afinidade,<br />
respeitan<strong>do</strong> as especificidades e potencialidade de cada um. Os<br />
méto<strong>do</strong>s e técnicas devem ser como extensão de nós. Só assim<br />
de fato irão compor um esforço de qualificação da educação,<br />
a busca pela real transformação. É neste senti<strong>do</strong> que nos<br />
apropriamos da fala de Weffort (2000):<br />
“O ato de refletir é liberta<strong>do</strong>r porque instrumentaliza o educa<strong>do</strong>r<br />
no que ele tem de mais vital: o seu pensar.<br />
Educa<strong>do</strong>r algum é sujeito de sua prática se não tem apropriada<br />
a sua reflexão, o seu pensamento.<br />
Não existe ação reflexiva que não leve sempre a constatações,<br />
descobertas, reparos, aprofundamento. E, portanto, que não<br />
nos leve aprofundar algo em nós, nos outros, na realidade.<br />
Na concepção democrática de educação, onde o ato de refletir<br />
(apropriação <strong>do</strong> pensamento) é expressão original de cada<br />
sujeito, está implícito que não existe um modelo de reflexão.<br />
Cada educa<strong>do</strong>r tem sua marca, o seu mo<strong>do</strong> de registrar seu<br />
pensamento. ” 16<br />
Há caminhos importantes que ampliam nossas potencialidades<br />
– desde que tenhamos, antes, consciência delas. O planejamento,<br />
como exercício sistematiza<strong>do</strong> de busca por uma novo pensar e<br />
uma nova prática é uma rica ferramenta, desde que seja uma<br />
oportunidade de reconstruir saberes estratifica<strong>do</strong>s, a partir de<br />
nexos vivenciais de cada forman<strong>do</strong> e forma<strong>do</strong>r.<br />
Os produtos desse “pensar”, coletivo e expansivo, sobre o<br />
cotidiano da escola e da sala de aula: plano e projetos deverão<br />
ser, portanto, <strong>do</strong>cumento, registro da identidade <strong>do</strong>cente e, por<br />
extensão, da identidade escolar.<br />
As trocas e a aprendizagem contínua têm sintonia fina<br />
com as propostas inova<strong>do</strong>ras da prática <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, porque<br />
<strong>material</strong>izam a constante busca pelo crescimento pessoal, pela<br />
renovação que assegura e reitera o viver. Daí a relevância das<br />
diferentes formas de estágio – que subsidia a construção da autoimagem<br />
(por negação ou reprodução), portanto, da identidade,<br />
e permite dimensionar o desafio de assumir-se – integralmente<br />
- como professor. E, reafirmemos, esta escolha jamais poderá<br />
se proteger entre as quatro paredes de uma sala de aula – ela<br />
é parte constitutiva de nós e emana em cada escolha, em cada<br />
atitude.<br />
É exatamente por isso que retomamos aqui o que já era<br />
sabe<strong>do</strong>ria latente há milênios e, decerto não gratuitamente,<br />
perenizou-se e ainda nos intriga e impulsiona. Assimilemos, pois,<br />
as palavras de Aristóteles:<br />
“A única qualidade que realmente importa na vida de um<br />
homem é a coragem. Porque todas as outras nascerão dela.”<br />
Sigamos, então, acima de tu<strong>do</strong> e para além de apenas<br />
professores – CorAJoSoS: o que, enfim, sou e quero ser.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos ideológicos <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>. Lisboa, Editorial Presença, s/ data.<br />
ALVES, Vera Regina Oliveira. Tendências educacionais:<br />
concepção histórico - cultural e teoria histórico-crítica. In<br />
www.artenaescola/artigos.<br />
DEBORD, Guy. A Sociedade <strong>do</strong> espetáculo. Rio de Janeiro,<br />
RJ: Editora Contraponto, 1997.<br />
FÁVARO, Maria Helena. Psicologia e Conhecimento: subsídios<br />
da psicologia <strong>do</strong> desenvolvimento para a análise <strong>do</strong> ensinar e<br />
aprender. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2005.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes<br />
necessários à prática educativa. São Paulo, SP: Editora Paz e<br />
Terra, 1996.<br />
HARVEY, David. Condição Pós Moderna. São Paulo, SP:<br />
Edições Loyola, 1992.<br />
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública – A<br />
pedagogia Crítico-social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. São Paulo, SP: Edições<br />
Loyola, 1985.<br />
___________________ <strong>Di</strong>dática. São Paulo, SP: Cortez, 1994.<br />
– Coleção Magistério.<br />
___________________ Adeus professor, adeus professora?<br />
Novas exigências educacionais e a profissão <strong>do</strong>cente. São Paulo,<br />
SP: Cortez, 2006 – Coleção Questões da Nossa época.<br />
MENDES, Tadeu Atila. Articulações entre correntes filosóficas<br />
e tendências educacionais – destaque à tendência liberal<br />
tradicional. In Revista conhecimento Interativo, São José <strong>do</strong>s<br />
Pinhais, PR, volume 1, no. 1 p.98-107, jul-dez/2005<br />
MORIN, Edgar. A religação <strong>do</strong>s saberes: o desafio <strong>do</strong> século<br />
XXI. Rio de Janeiro, RJ: Editora Bertrand Brasil, 2002.<br />
NERY, Denise Rockenbach. Afinal, o que é identidade? (texto<br />
adapta<strong>do</strong> da tese de <strong>do</strong>utoramento “Resgate da Identidade:<br />
registran<strong>do</strong> um projeto e investigan<strong>do</strong> a relação identidade –<br />
espaço”) FFLCH, 1999 (mimeo).<br />
SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia: teorias da<br />
educação; curvatura da vara; onze teses sobre educação e<br />
política. São Paulo: Cortez Editora/ Editora Autores Associa<strong>do</strong>s,<br />
1986 (Coleção Polêmicas <strong>do</strong> nosso Tempo).<br />
VIEIRA, Alexandre Thomaz; ALMEIDA, Maria Elizabeth<br />
Biancocini de; ALONSO, Myrtes (orgs). Gestão Educacional e<br />
Tecnologia. São Paulo, SP: Editora Avercamp, 2003.<br />
WEFFORT, Madalena Freire. Observação, Registro e reflexão.<br />
São Paulo, SP: Editora Cortez, 2000.<br />
NoTAS<br />
1- O presente artigo foi feito, originalmente, como trabalho final da<br />
disciplina <strong>Di</strong>dática I, sob orientação da Professora Daniela Libâneo, no<br />
primeiro perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> curso de Pedagogia da Faculdade de Educação e<br />
Cultura Montessori.<br />
2- Celina Bragança é aluna regular <strong>do</strong> primeiro ano <strong>do</strong> curso de Pedagogia<br />
da Faculdade de Educação e Cultura Montessori.<br />
3- Referimo-nos aqui especificamente ao trabalho coordena<strong>do</strong> por Morin<br />
de jornadas temáticas, que originou a coletânea de artigos comenta<strong>do</strong>s<br />
pelo filósofo e sociólogo (referências constantes da Bibliografia<br />
deste <strong>do</strong>cumento). Cabe-nos ressaltar os trabalhos apresenta<strong>do</strong>s na<br />
terceira, quarta, quinta e oitava jornadas (respectivamente “A vida”, “A<br />
humanidade”, “Línguas, civilizações, literatura, artes e cinema” e “A<br />
religação <strong>do</strong>s saberes”) para fundamentação de nossos argumentos.<br />
4- FÁVARO, Maria Helena Psicologia e Conhecimento: subsídios da<br />
psicologia <strong>do</strong> desenvolvimento para a análise <strong>do</strong> ensinar e aprender.<br />
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2005 p. 302.<br />
5- NERY, Denise Rockenbach Afinal, o que é identidade? (texto adapta<strong>do</strong><br />
da tese de <strong>do</strong>utoramento “Resgate da Identidade: registran<strong>do</strong> um projeto e<br />
investigan<strong>do</strong> a relação identidade – espaço”) FFLCH, 1999 (mimeo) p. 6<br />
6- Idem. Ibidem. p.7.<br />
O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />
principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />
7- FÁVARO, Maria Helena Op. Cit p. 225. (grifo meu)<br />
8- LIBÂNEO, José Carlos <strong>Di</strong>dática. São Paulo, SP: Cortez, 1994. –<br />
Coleção Magistério.<br />
68
9- Vale lembrar aqui a obra A Sociedade <strong>do</strong> Espetáculo, de Guy Debord<br />
(referências na bibliografia deste <strong>do</strong>cumento), em que são desnudadas<br />
as entranhas da sociedade contemporânea, deixan<strong>do</strong>-se à mostra suas<br />
contradições e relações de <strong>do</strong>mínio.<br />
10- Vale lembrar aqui <strong>do</strong> livro Condição Pós-moderna, de David Harvey<br />
(referências na Bibliografia deste <strong>do</strong>cumento), que oferece um retrato<br />
multidimensional da construção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo, ressaltan<strong>do</strong><br />
inclusive aspectos fundamentais para a compreensão da prática<br />
educativa.<br />
11- O livro Gestão Educacional e Tecnologia (referências na Bibliografia<br />
deste <strong>do</strong>cumento) trata <strong>do</strong> tema, observan<strong>do</strong> elementos interessantes da<br />
incorporação da tecnologia na prática escolar.<br />
12- Utilizamos aqui a apostila como ícone de uma série de ferramentas<br />
anteriormente citadas, de tal forma que a citação daquela permiti-nos<br />
prescindir da referência literal a essas.<br />
13- Para trilhar esta perspectiva crítica, registramos, além da obra<br />
<strong>do</strong> próprio autor, as reflexões propostas em Alves, Mendes e Saviani<br />
– conforme referências constantes da bibliografia deste <strong>do</strong>cumento.<br />
14- FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à<br />
prática educativa. São Paulo, SP: Editora Paz e Terra, 1996 p. 125.<br />
15- LIBÂNEO, José Carlos (1986) Democratização da Escola Pública – A<br />
pedagogia Crítico-social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. São Paulo, SP: Edições Loyola,<br />
1985 p. 39.<br />
16- WEFFORT, Madalena Freire Observação, Registro e reflexão. São<br />
Paulo, Sp: Editora Cortez, 2000 p. 39<br />
O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />
principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />
69
ESumo<br />
A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />
Este artigo faz parte da dissertação de mestra<strong>do</strong> “A dimensão<br />
subjetiva <strong>do</strong> professor alfabetiza<strong>do</strong>r e sua práxis: uma análise<br />
psicopedagógica” 1 , que tem como interesse compreender como<br />
aqueles que são considera<strong>do</strong>s bons professores alfabetiza<strong>do</strong>res<br />
aprenderam a alfabetizar. Nesse contexto se faz necessário<br />
entender e conhecer as pesquisas realizadas sobre a leitura e a<br />
escrita, pois desde os desenhos feitos por nossos ancestrais nas<br />
cavernas, até a elaboração da escrita tal como a conhecemos<br />
hoje, foi um longo caminho percorri<strong>do</strong>. Entretanto, os objetivos<br />
continuam os mesmos: comunicar e registrar a representação da<br />
memória coletiva. A necessidade de se compreender o processo<br />
de alfabetização não é nova. Há muito se procura entender os<br />
mecanismos implica<strong>do</strong>s para a aquisição das capacidades de<br />
leitura e escrita, bem como as razões <strong>do</strong> sucesso de uns e <strong>do</strong><br />
insucesso de outros. Porém, para a compreensão <strong>do</strong> processo<br />
de aquisição da leitura e da escrita, é necessário compreender<br />
seus pressupostos presentes nas práticas educativas.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Alfabetização, aprendizagem, leitura e escrita.<br />
ABSTrACT<br />
The learning of reading and writing<br />
This article is part of the Master’s dissertation entitled “The<br />
subjective dimension of the reading and writing teacher and<br />
his practice: a psychopedagogical analysis”, which aims at<br />
understanding how the ones considered good reading and writing<br />
teachers learned how to teach it. In this context it is needed to<br />
understand and know what has already been researched on<br />
reading and writing, from the caves drawings up to the writing<br />
we know at the present moment, since it is been a long way<br />
past. However, the objectives are kept the same: communicate<br />
and register the collective memory representation. The need for<br />
understanding this process is not recent. For a long time there<br />
has been an effort towards understanding the mechanisms<br />
behind the reading and writing capacity acquisition and also<br />
the reasons for ones’ success and others’ failure. On the other<br />
hand, in order to understand this reading and writing acquisition<br />
process, it is needed to understand its presuppositions present<br />
on the educational practice.<br />
KEYworDS:<br />
Literacy, learning, reading and writing.<br />
Nilza Isaac Macê<strong>do</strong> 1<br />
70
Tu<strong>do</strong> começou nas paredes de uma caverna...<br />
Os homens que viviam na época anterior à escrita faziam<br />
desenhos nas paredes das cavernas imitan<strong>do</strong> o que estava a sua<br />
volta: animais, homens, ferramentas e utensílios. Quan<strong>do</strong> o homem<br />
começa a plantar, criar animais, fiar, construir cidades, a escrita<br />
passou a ser um instrumento necessário e importante como um<br />
meio de comunicação. Aos poucos as figuras se tornaram mais<br />
complexas e se transformaram em símbolos e em um sistema de<br />
representação das palavras e não mais em objetos ou conceitos.<br />
Esses registros passam por várias etapas desde sinais para poucas<br />
palavras, que podiam ser a representação de seres e objetos <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> em torno deles, até o momento em que se torna impossível<br />
inventar e decorar sinais para todas as palavras, à descoberta<br />
de que os mesmos sinais podiam ser usa<strong>do</strong>s para palavras que<br />
tinham significa<strong>do</strong>s pareci<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> o homem descobre que<br />
os sinais podiam representar o som da fala, passam a usar os<br />
mesmos sinais para palavras que tinham os mesmos sons, mas<br />
que queriam dizer coisas completamente diferentes. Esses sinais,<br />
não eram usa<strong>do</strong>s só para palavras inteiras, mas também para<br />
pedaços de palavras. Aos poucos alguns povos começaram a<br />
usar um único sinal para representar vários sons e é com os gregos<br />
que se começa a usar a indicação <strong>do</strong> som da vogal até chegar à<br />
escrita que temos hoje. No entanto, os seus objetivos continuam<br />
os mesmos, isto é, comunicar e registrar a representação da<br />
memória coletiva, conforme nos orienta Zatz (1991).<br />
Nas sociedades letradas, aprender a ler tem algo de iniciação<br />
em que a criança, aprenden<strong>do</strong> a ler, é admitida na memória da<br />
comunidade, familiarizan<strong>do</strong>-se com o passa<strong>do</strong> por meio de livros<br />
(MANGUEL, 1997).<br />
Segun<strong>do</strong> Ferreiro (1995:103), “A língua escrita é muito mais<br />
que um conjunto de formas gráficas. É um mo<strong>do</strong> de a língua<br />
existir, é um objeto social, é parte de nosso patrimônio cultura”.<br />
Para algumas culturas ainda prevalece a oralidade<br />
enquanto meio de transmissão cultural, porém as sociedades<br />
industrializadas privilegiam a linguagem escrita como meio de<br />
transmissão cultural. Para que a escrita tivesse o uso que tem<br />
hoje foram necessários vários séculos, pois a própria evolução<br />
da escrita não garantiu que to<strong>do</strong>s pudessem ter o acesso a<br />
ela. Segun<strong>do</strong> Manguel (1997), na Baixa Idade Média e começo<br />
da Renascença, aprender a ler e escrever, fora da Igreja, era<br />
privilégio da aristocracia e da alta burguesia. Mesmo assim,<br />
havia parte da alta burguesia que acreditava que ler e escrever<br />
eram tarefas menores, apropriadas somente para meninos e<br />
meninas de classes pobres. Nesse contexto, as amas ou mães<br />
que soubessem ler iniciavam o ensino <strong>do</strong> alfabeto. As crianças<br />
aprendiam a ler soletran<strong>do</strong>. Só depois <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> das<br />
primeiras letras, contratavam-se professores particulares para os<br />
meninos e a mãe era a responsável pela educação das meninas.<br />
Atualmente, ao nascer, a criança se depara com um conjunto<br />
de conhecimentos construí<strong>do</strong>s e estabeleci<strong>do</strong>s socialmente e<br />
inicia um processo de socialização que implica no aprendiza<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> contexto simbólico da sociedade na qual está inserida. A<br />
realidade constituída por nossas sociedades possibilitou a<br />
construção desse universo simbólico complexo onde o homem<br />
deve aprender a viver e, nesse contexto, a escola passa a ser<br />
responsável pela aprendizagem e transmissão cultural. É ela<br />
que tem o objetivo de desenvolver o aprendiza<strong>do</strong> da leitura e da<br />
escrita permitin<strong>do</strong> o acesso aos conhecimentos. Quan<strong>do</strong> vemos<br />
o caminho que a criança percorre no processo de alfabetização,<br />
percebemos que ele é muito semelhante ao processo de<br />
transformação pelo qual a escrita passou desde a sua invenção.<br />
“Os esboços das crianças da idade pré-escolar são jogos que<br />
os envolvem no descobrimento da sua própria capacidade para<br />
‘criar marcas’ sobre um papel”. (FERREYRA, 1998, p.58).<br />
A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />
A aprendizagem da leitura e da escrita é um verdadeiro ato<br />
de abstração, pois supõe modificações nos mo<strong>do</strong>s de pensar,<br />
de refletir e expressar-se e, conseqüentemente, mudanças nas<br />
estruturas cerebrais.<br />
É importante lembrar que a escrita é, juntamente com a<br />
roda e o fogo, um <strong>do</strong>s inventos <strong>do</strong> homem que mais fortemente<br />
transformaram sua mente e sua vida, possibilitan<strong>do</strong> assim<br />
novas estratégias cognitivas, novos mo<strong>do</strong>s de pensamento e<br />
comunicação, o que implica transformações nos processos<br />
psicológicos superiores.<br />
Conforme Azeve<strong>do</strong> (2003), para entender o processo de<br />
aprendizagem da leitura e da escrita e a sua utilização ideológica,<br />
é necessário refletir historicamente, pois somente a partir de<br />
mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX as pesquisas relacionadas à leitura e<br />
à escrita adquiriram conotação científica. Os estudiosos se<br />
ocuparam com as implicações sociais e psicológicas de seu<br />
uso relacionadas às atividades comerciais, legais, religiosas,<br />
políticas, literárias e científicas.<br />
Já é comum afirmar que a escrita é mais que o abecedário,<br />
mais <strong>do</strong> que a capacidade de decodificar palavras e frases.<br />
O importante é conhecer o que é esse “mais”, e para isso é<br />
necessário identificar a marca conceitual que a escrita imprimiu<br />
em nossas atividades culturais e cognitivas. (p.31).<br />
As pesquisas sobre a evolução <strong>do</strong> processo de alfabetização<br />
ocorrem mais precisamente na Europa, América <strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong><br />
Sul e acontecem em três perío<strong>do</strong>s.<br />
O primeiro perío<strong>do</strong> corresponde à primeira metade <strong>do</strong> século,<br />
quan<strong>do</strong> o ensino estava sen<strong>do</strong> alvo de discussão e buscava-se<br />
o melhor méto<strong>do</strong> para se ensinar a ler, uma vez que acreditavam<br />
que o fracasso escolar estava relaciona<strong>do</strong> ao uso de méto<strong>do</strong>s<br />
inadequa<strong>do</strong>s. A discussão estava entre os que defendiam o<br />
Méto<strong>do</strong> Analítico (global), que acreditavam que a melhor maneira<br />
de se ensinar a leitura e a escrita era oferecen<strong>do</strong> ao aluno a<br />
totalidade das palavras ou textos e, os defensores <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong><br />
Fonético-Sintético, que propunham que o aluno deveria aprender<br />
primeiro as letras ou sílabas e o som das mesmas para depois<br />
chegar à palavra ou frases.<br />
No Brasil houve uma difusão desses méto<strong>do</strong>s, que ficou<br />
conheci<strong>do</strong> como Méto<strong>do</strong> Misto, uma vez que for a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelas<br />
Cartilhas que se baseavam em análise e síntese estruturadas a<br />
partir de um silabário, que nas palavras de Frago (1993) seriam:<br />
Uma vez <strong>do</strong>minadas - e identificadas - as letras e sílabas, as leituras<br />
posteriores costumam reduzir-se à memorização de textos também da<strong>do</strong>s<br />
para sua repetição o mais exato possível e a escrita à mera tomada de<br />
notas ou à repetição – em provas ou exames – <strong>do</strong> memoriza<strong>do</strong>. (p.25).<br />
Essas modificações <strong>do</strong> ensino no Brasil, nas décadas de 20<br />
e 30 <strong>do</strong> século XX, fazem com que o aluno passe a ser o centro<br />
de interesse e o professor deixa de ser um mero transmissor<br />
de conhecimentos. Essas modificações contemplavam as<br />
necessidades da sociedade industrial; o <strong>do</strong>mínio da leitura e<br />
escrita e a formação profissional passaram a ser requisitos para<br />
a entrada <strong>do</strong> indivíduo no merca<strong>do</strong> de trabalho. À medida que<br />
a economia foi se diversifican<strong>do</strong>, a alfabetização e a instrução<br />
tornaram-se necessidades cada vez mais importantes, e a escola<br />
enquanto instituição social precisava atender essa demanda da<br />
sociedade. Na década de 40, a conceituação de alfabetiza<strong>do</strong><br />
era apenas ter as habilidades de codificar a leitura e a escrita.<br />
A partir de 1948, o conceito muda para a capacidade de ler e<br />
71
escrever um texto em alguma língua. Nos anos 50, a concepção<br />
se ampliou passan<strong>do</strong> para além de codificar e decodificar; o<br />
aluno precisa também compreender o que lê e o que escreve,<br />
propon<strong>do</strong> um novo conceito: “O alfabetiza<strong>do</strong> é uma pessoa<br />
capaz de ler e escrever, com compreensão, uma breve e simples<br />
exposição de fatos relativos à vida cotidiana 2 .” (Conceitualização<br />
das Conferências internacionais de Educação patrocinadas pela<br />
UNESCO, 1958) 3 .<br />
O segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> corresponde ao auge da discussão nos<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s nos anos 60, em torno de um debate mais amplo<br />
em torno da questão <strong>do</strong> fracasso escolar. Muitos investimentos<br />
foram feitos em pesquisas, para tentar compreender o que havia<br />
de erra<strong>do</strong> com as crianças que não aprendiam. Buscava-se no<br />
aluno a razão de seu próprio fracasso. Nesse perío<strong>do</strong> surgiram as<br />
teorias <strong>do</strong> déficit, que supunham que a aprendizagem dependia<br />
de pré-requisitos (cognitivos, psicológicos, perceptivos, motores,<br />
lingüísticos, etc) e que muitas crianças fracassavam por não<br />
dispor dessas habilidades prévias. Como o fracasso concentravase<br />
nas crianças mais pobres, a justificativa atribuída a ele era<br />
uma suposta incapacidade das próprias famílias de propiciarem<br />
estímulos adequa<strong>do</strong>s e muitos exercícios de estimulação foram<br />
cria<strong>do</strong>s para diminuí-lo.<br />
No Brasil, o uso <strong>do</strong> teste <strong>do</strong> ABC de Lourenço Filho passa a ser<br />
usa<strong>do</strong> com a difusão da idéia de que no início da escolarização,<br />
toda criança deveria passar pelos exercícios de “prontidão”.<br />
A idéia de alfabetização passa a abranger, além da leitura<br />
e interpretação, a preparação <strong>do</strong> homem para desempenhar<br />
seus papéis: social, cívico e econômico, e contribuir para o<br />
seu desenvolvimento e sua liberdade que na conceituação da<br />
UNESCO (1965) seria: “Longe de constituir fim em si mesma, a<br />
alfabetização deve ser concebida com o fim de preparar o homem<br />
para desempenhar um papel [...] que transcenda os limites de<br />
uma alfabetização reduzida ao ensino da leitura e da escrita”.<br />
O terceiro perío<strong>do</strong>, que começa em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 70 é<br />
marca<strong>do</strong> por mudanças de paradigma. O desenvolvimento da<br />
investigação nessa área muda radicalmente seu enfoque. Em<br />
lugar de procurar correlações que explicassem o déficit <strong>do</strong>s que<br />
não conseguiam aprender, começou-se a tentar compreender<br />
como aqueles que conseguem aprender, aprendem a ler e a<br />
escrever sem dificuldades e aqueles que não se alfabetizaram, o<br />
que eles pensam a respeito da escrita.<br />
Desta forma, para uma melhor compreensão <strong>do</strong> processo<br />
de aquisição da leitura e escrita é necessário compreender seus<br />
pressupostos, pois essas crenças estão presentes nas práticas<br />
educativas. Em seus estu<strong>do</strong>s Azeve<strong>do</strong> (2003) apresenta seis<br />
pressupostos aceitos e compartilha<strong>do</strong>s a respeito <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio da<br />
escrita.<br />
O primeiro é que escrever é transcrever a fala; o segun<strong>do</strong><br />
é a superioridade da escrita com relação à fala, a escrita é<br />
considerada como um instrumento de precisão e poder. O terceiro<br />
é a superioridade tecnológica <strong>do</strong> sistema de escrita alfabética. O<br />
quarto é que a escrita é o órgão <strong>do</strong> progresso social. A difusão<br />
da leitura e da escrita seria a responsável pela criação das<br />
instituições racionais e democráticas da sociedade, assim como o<br />
desenvolvimento industrial e o crescimento econômico; um atraso<br />
nos graus de alfabetização representa uma ameaça para qualquer<br />
sociedade progressista e democrática. O quinto pressuposto<br />
admite a escrita como instrumento <strong>do</strong> desenvolvimento cultural e<br />
científico. O sexto pressuposto é a escrita como um instrumento<br />
de desenvolvimento cognitivo. O conhecimento da escrita dá ao<br />
pensamento o grau de abstração que não existe no discurso oral<br />
e nas culturas orais. Esse pressuposto está liga<strong>do</strong> principalmente<br />
aos trabalhos de Vygotsky e Luria, quan<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tam a opinião de<br />
A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />
que os processos mentais superiores estão envolvi<strong>do</strong>s no uso<br />
de signos socialmente inventa<strong>do</strong>s tais como a linguagem, a<br />
escrita, os números e as figuras, que são diferentes nas várias<br />
culturas. Esses autores defendem que os recursos culturais se<br />
transformam em recursos psicológicos por meio da interiorização<br />
e, dessa forma, o <strong>do</strong>mínio da escrita influencia as operações e as<br />
atividades cognitivas.<br />
Se um <strong>do</strong>s objetivos maiores da alfabetização é ensinar a<br />
escrever, temos que considerar que a escrita se diferencia de<br />
outras formas de representação de mun<strong>do</strong>, não só porque induz<br />
à leitura, mas também por que essa leitura é motivada, isto é,<br />
quem escreve pede ao leitor que interprete o que está escrito.<br />
A leitura não se reduz à somatória <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s individuais<br />
das letras, palavras, mas obriga o leitor a enquadrar to<strong>do</strong>s os<br />
elementos no universo cultural, social, histórico em que o escritor<br />
se baseou para escrever.<br />
Essas crenças estão refletidas nas práticas <strong>do</strong>s que ensinam<br />
e também <strong>do</strong>s que aprendem e, sem ressaltar os componentes<br />
subjetivos inerentes ao processo da aprendizagem da leitura e<br />
da escrita, ficará difícil rever a prática presente nesse processo.<br />
O poder da escrita não reside nela mesma, mas no uso que as<br />
sociedades fazem dela. Numa sala de aula convivem crianças da<br />
mesma idade e a professora. Porém, essa diversidade social nem<br />
sempre é aproveitada pelo ensino, embora se possa perceber a<br />
riqueza desse intercâmbio entre pares para a aprendizagem.<br />
O que podemos ver é que a partir das pesquisas de como se<br />
aprende a ler e a escrever, desenvolvidas nas últimas décadas,<br />
compreende-se que a alfabetização é um processo de construção<br />
de hipóteses sobre o funcionamento e as regras de geração <strong>do</strong><br />
sistema alfabético de escrita, e que isso não é um conteú<strong>do</strong><br />
simples, pois demanda procedimentos de análise complexos por<br />
parte de quem aprende, que é um ser humano que pensa, e,<br />
portanto, se alfabetiza.<br />
Sabemos hoje que, no processo de alfabetização, todas as<br />
crianças, independente de sua classe social ou da proposta de<br />
ensino, formulam hipóteses, muito curiosas e muito lógicas sobre<br />
a escrita. Avançam a partir de idéias muito simples, pautadas no<br />
descobrimento da relação entre fala e escrita, para idéias geniais<br />
sobre como seria essa relação.<br />
A leitura é a realização <strong>do</strong> objeto da escrita. Quem escreve,<br />
escreve para ser li<strong>do</strong>. A leitura é, pois, uma decifração e uma<br />
decodificação. O leitor, em primeiro lugar, deverá decifrar a escrita,<br />
depois entender a linguagem encontrada; em seguida, decodificar<br />
todas as implicações que o texto tem e, finalmente, refletir sobre<br />
isso e formar o próprio conhecimento e opinião a respeito <strong>do</strong><br />
que leu. Essa decifração não funciona adequadamente, assim<br />
como sem a decodificação e demais componentes referentes<br />
à interpretação, se torna estéril e sem grande interesse. A<br />
leitura é uma atividade estritamente lingüística e a linguagem se<br />
constrói com a fusão de significa<strong>do</strong>s com significantes. Portanto,<br />
é falso pensar que se pode ler só pelo significa<strong>do</strong> ou só pelo<br />
significante, porque só um ou outro jamais constituem uma<br />
realidade lingüística.<br />
Concordamos com Goodman (1997) que escrever e ler são<br />
processos dinâmicos e construtivos. O escritor decide quanta<br />
informação fornecerá a fim de que os leitores possam, antes de<br />
qualquer coisa, inferir e recriar o que ele criou. Os leitores farão<br />
uso <strong>do</strong> seu conhecimento <strong>do</strong> texto, de seus próprios valores, de<br />
suas próprias experiências à medida que forem extrain<strong>do</strong> senti<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> texto. Os textos têm que ser reais e não compostos de uma<br />
determinada lista de vocabulário ou seqüência de fonemas. Os<br />
escritores devem ter uma idéia de seu público leitor, e os leitores<br />
têm que ter uma idéia de quem escreveu o texto. Portanto,<br />
72
os escritores têm algo a dizer e os leitores reais sabem como<br />
entender e reagir.<br />
Segun<strong>do</strong> a teoria piagetiana, o sujeito aprende através de<br />
suas próprias ações sobre os objetos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e constrói suas<br />
próprias categorias de pensamento, ao mesmo tempo em que<br />
organiza seu mun<strong>do</strong>. Basea<strong>do</strong> nessa teoria Ferreiro e Teberosky<br />
(1985), na década de 1970, investigaram quais idéias as crianças<br />
constroem quan<strong>do</strong> tentam compreender o que é escrita. A<br />
análise e a classificação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s dessa investigação foi<br />
denominada de Psicogênese da Língua escrita.<br />
A alfabetização segun<strong>do</strong> os pressupostos de Ferreiro e<br />
Teberosky (1985), constitui-se em um processo em que o sujeito<br />
enfrenta constantes contradições que o obrigam a reformular<br />
continuamente suas hipóteses. Ao se apropriar da escrita,<br />
dialeticamente a criança apropria-se de si mesma como usuárioprodutor<br />
da escrita.<br />
A leitura como prática social é sempre um meio, nunca um<br />
fim. Não existe uma idade para o aprendiza<strong>do</strong> da leitura. Há<br />
crianças que aprendem a ler muito ce<strong>do</strong>, em geral porque a leitura<br />
passa a ter tanta importância para elas que não conseguem ficar<br />
sem saber. Muitos leitores precoces não têm características<br />
peculiares, como inteligência acima da média, ou privilégios<br />
sociais, mas têm outro tipo de privilégio: considerar a leitura um<br />
valor e se acharem capazes de ler. No Brasil, há muito tempo<br />
se considera que a iniciação à leitura deva ocorrer apenas aos<br />
sete anos, por isso, quan<strong>do</strong> dependem da escola para aprender,<br />
nossas crianças começam a ler muito tarde.<br />
As crianças aprendem a ler participan<strong>do</strong> de atividades de uso<br />
da escrita junto com pessoas que <strong>do</strong>minam esse conhecimento.<br />
Aprendem a ler quan<strong>do</strong> acham que podem fazer isso. É difícil<br />
uma criança aprender a ler quan<strong>do</strong> se espera dela o fracasso, e<br />
também se ela não achar finalidade na leitura. To<strong>do</strong>s que lêem o<br />
fazem para atender uma necessidade pessoal: saber quais são<br />
as notícias <strong>do</strong> dia, as novidades da revista, a receita de um prato,<br />
como montar um equipamento, quais as regras de um jogo, para<br />
obter novos conhecimentos, aprender os encantos de um poema<br />
ou das emoções de um livro.<br />
A leitura para Cagliari (1995), é um processo no qual o leitor<br />
realiza um trabalho ativo de construção de significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> texto, a<br />
partir <strong>do</strong> que está buscan<strong>do</strong> nele, <strong>do</strong> conhecimento que já possui<br />
a respeito <strong>do</strong> assunto, <strong>do</strong> autor e <strong>do</strong> que sabe sobre a língua (as<br />
características <strong>do</strong> gênero, <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r, <strong>do</strong> sistema de escrita, etc).<br />
A estratégia de seleção permite que o leitor se atenha apenas<br />
aos índices úteis, desprezan<strong>do</strong> os menos importantes. Ao ler,<br />
fazemos isso o tempo to<strong>do</strong>: o nosso cérebro “sabe” que não<br />
precisa se deter na letra que vem após o “q”, pois certamente<br />
será o “u”, ou que nem sempre é o caso de se fixar nos artigos,<br />
pois o gênero está defini<strong>do</strong> pelo substantivo.<br />
A estratégia de antecipação torna possível prever o que ainda<br />
está por vir, com base em informações claras e em suposições. Se<br />
a linguagem for muito apurada e o conteú<strong>do</strong> não for muito novo<br />
e nem muito difícil, é possível eliminar letras em cada uma das<br />
palavras escritas em um texto, sem que a falta de informações<br />
prejudique a compreensão; é a antecipação de letras, sílabas e<br />
palavras e até significa<strong>do</strong>s.<br />
A estratégia de inferência permite captar o que não está dito<br />
no texto de forma clara. A inferência é aquilo que “lemos”, mas<br />
não está escrito, são “adivinhas” baseadas tanto em pistas dadas<br />
pelo próprio texto como em conhecimentos que o leitor possui.<br />
Algumas partes <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> de um texto podem ser inferidas<br />
em função <strong>do</strong> contexto: porta<strong>do</strong>res, circunstâncias de aparição<br />
ou propriedades, texto que vai contribuir para a interpretação.<br />
A estratégia de verificação ajuda o controle da eficácia<br />
das outras estratégias para confirmar ou não as especulações<br />
realizadas. Ao ler, utilizamos todas as estratégias ao mesmo<br />
tempo, sem saber disso; só o percebemos se formos analisarmos<br />
com cuida<strong>do</strong> nosso processo de leitura.<br />
Alguns conhecimentos prévios necessários à leitura são: saber<br />
como os textos se organizam e quais são as suas características,<br />
saber para que servem os títulos e admitir que não é preciso<br />
conhecer o significa<strong>do</strong> de todas as palavras para compreender<br />
uma mensagem escrita, além de ter intimidade com o conteú<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> texto.<br />
Dessa forma, podemos dizer então que, a leitura e a escrita<br />
são uma extensão da aprendizagem natural da linguagem<br />
integral, citada por Goodman (1997), pois são funcionais, reais e<br />
relevantes, <strong>do</strong> altamente concreto e contextualiza<strong>do</strong> para o mais<br />
abstrato, de contextos conheci<strong>do</strong>s para desconheci<strong>do</strong>s e se<br />
desenvolvem de um to<strong>do</strong> para as partes. Ainda, segun<strong>do</strong> o autor,<br />
um jogo de adivinhações psicolingüísticas, um processo no qual<br />
o pensamento e a linguagem estão involucra<strong>do</strong>s em contínuas<br />
transações, uma busca constate de significa<strong>do</strong>s.<br />
Embora a escola se proponha a formar leitores reflexivos e<br />
críticos, muitos chegam até a pós-graduação com problemas de<br />
leitura. Para Cagliari (1995), a escola cumprirá em grande parte o<br />
seu papel, se formar bons leitores, pois a leitura é a extensão da<br />
escola na vida das pessoas.<br />
O processo de aquisição da escrita é uma trajetória longa,<br />
com inúmeras questões a responder, esquemas a construir e<br />
reconstruir. Nesse constante assimilar e acomodar-se, o sujeito<br />
que aprende é requisita<strong>do</strong> a construir um caminho único e original,<br />
essencialmente marca<strong>do</strong> pela sua modalidade de aprendizagem,<br />
seu mo<strong>do</strong> de apropriação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, construídas desde as<br />
primeiras relações com os da<strong>do</strong>s da realidade. Dessa forma, não<br />
se pode resumir o processo de construção da escrita a estágios<br />
estanques, momentos ou etapas pré-estabelecidas. Não é<br />
possível “rotular” e avaliar o sujeito como pré-sílabico, silábico<br />
ou alfabético. Na verdade, compreender como se dá, de forma<br />
geral, o desenvolvimento no que se refere à aquisição da escrita<br />
nos fornece pistas para compreender como se dá o processo<br />
naquele sujeito em particular.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />
AZEVEDO, Cleomar. As emoções no processo de alfabetização<br />
e a atuação <strong>do</strong>cente. 1. ed. – São Paulo: Vetor, 2003.<br />
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo:<br />
Scipione, 1995.<br />
FERREIRO, Emília. Psicogênese da língua escrita. Emilia Ferreiro<br />
e Ana Teberosky. Tradução de <strong>Di</strong>ana Myriam Lchtenstein, Liana <strong>Di</strong><br />
Marco e Mário Corso. - Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.<br />
______. Reflexões sobre alfabetização. Tradução Horácio<br />
Gonzáles (et al). 24 ed. São Paulo: Cortez, 1995. (Coleção<br />
Questões da Nossa Época; v.14).<br />
FERREYRA, Erasmo Norberto. A linguagem oral na educação<br />
de adultos.Tradução de Jussara H. Rodrigues. Porto Alegre:<br />
Artes Médicas, 1998.<br />
FRAGO, Antonio Viñao. Alfabetização na sociedade e na<br />
história: vozes, palavras e textos. Tradução de Tomaz Tadeu da<br />
Silva, Álvaro Moreira Hypolito e Helena Beatriz M. de Souza.<br />
– Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.<br />
FREIRE, Paulo, 1921. A importância <strong>do</strong> ato de ler: em três<br />
artigos que se completam. 29. ed. – São Paulo: Cortez, 1994.<br />
73
GOODMAN, Kem. Introdução à linguagem integral. Porto<br />
Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />
LURIA, Alexandr Romanovich. Pensamento e linguagem:<br />
as últimas conferências de Luria. Tradução de <strong>Di</strong>ana Myriam<br />
Lichtenstein e Mario Corso; supervisão de tradução de Sérgio<br />
Sprittzer. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.<br />
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Tradução de<br />
Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.<br />
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.<br />
ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.<br />
VYGOTSKY, Lev Semenovich, 1896-1934. A formação social<br />
da mente. Organiza<strong>do</strong>res Michael Cole (et al). Tradução de José<br />
Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche.<br />
6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.<br />
______. Pensamento e linguagem. Tradução de Jefferson Luiz<br />
Camargo; revisão técnica José Cipolla Neto. - 2ª ed. - São Paulo:<br />
Martins Fontes, 1998.<br />
ZATZ, Lia. Aventura da escrita: história <strong>do</strong> desenho que virou<br />
letra. São Paulo: Moderna, 1991.<br />
NoTAS<br />
1- Professora <strong>do</strong> curso de pedagogia da FAMEC. MACÊDO, Nilza Isaac<br />
de. A dimensão subjetiva <strong>do</strong> professor alfabetiza<strong>do</strong>r e sua práxis: uma<br />
análise psicopedagógica. São Paulo: UNISA, 2005. <strong>Di</strong>ssertação de<br />
Mestra<strong>do</strong>.<br />
2- O termo alfabetiza<strong>do</strong> é utiliza<strong>do</strong> com o mesmo senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo em<br />
inglês “literacy”, designan<strong>do</strong> a condição de pessoas ou grupos que não<br />
apenas sabem ler e escrever, mas também, como propõe Magda Soares,<br />
utilizam a leitura e a escrita, incorporan<strong>do</strong>-as em seu viver, transforman<strong>do</strong><br />
por isso sua condição (Soares, 2001).<br />
3- Cita<strong>do</strong> por SOARES, 2001, p.71.<br />
A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />
74
ESumo<br />
Este artigo analisa o último capítulo “Recapitulações e<br />
conclusões” <strong>do</strong> livro “A origem das espécies” escrito por Charles<br />
Darwin em 1859. Após a apresentação da vida e da obra de Darwin,<br />
nós discutimos a natureza das idéias darwinianas e a estrutura e<br />
a argumentação deste livro, bem como o seu principal objetivo:<br />
convencer o leitor sobre a teoria da evolução. A importância<br />
deste livro na história da ciência pode ser medida pelo o impacto<br />
da revolução darwiniana fora <strong>do</strong>s limites da ciência e pelas<br />
principais reações a Teoria de Darwin. Este trabalho apresenta<br />
também alguns livros interessantes sobre a teoria da evolução<br />
que podem ser usa<strong>do</strong>s com propósitos educacionais.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />
“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />
História da ciência, evolução, educação científica, biologia.<br />
ABSTrACT<br />
This article analyses the last chapter “Recapitulation and<br />
conclusion” of the book “On the origin of species” written by<br />
Charles Darwin en 1859. After the presentation of the life and<br />
work of Darwin, we discuss the nature of the Darwinian ideas<br />
and the structure and the argumentation of this book and its<br />
main objective: to convince the reader about the theory of the<br />
evolution. The importance of this book on the history of science<br />
can be measured by the impact of the darwinian revolution<br />
outside of science and the main reactions to Darwin´s theory. This<br />
work presents also some interesting books about the theory of<br />
evolution that can be used with educational intentions.<br />
KEYworDS:<br />
Ricar<strong>do</strong> Roberto Plaza Teixeira 1<br />
History of science, evolution, science education, biology.<br />
75
1- introdução à obra “A origem das espécies”<br />
O livro “A origem das espécies” teve a sua primeira edição<br />
publicada no ano de 1859 pelo britânico Charles Darwin (1809-<br />
1882). Podemos dizer que na história da ciência, Darwin está<br />
para a biologia assim como Newton está para a física: ambos<br />
estabeleceram os fundamentos destes campos científicos e<br />
vislumbraram as suas possibilidades de crescimento influencian<strong>do</strong><br />
cientistas mesmo muito tempo após as suas mortes. Neste<br />
trabalho usaremos a tradução para o português feita por Eduar<strong>do</strong><br />
Fonseca e publicada pela Editora Hemus. A versão integral em<br />
inglês <strong>do</strong> livro “A origem das espécies” encontra-se a disposição<br />
de quem desejar consultá-la gratuitamente na internet no sítio:<br />
http://pages.britishlibrary.net/charles.darwin/texts/origin1859/<br />
origin06.html.<br />
Charles Wynn e Arthur Wiggins (2002) classificam a teoria<br />
da evolução como uma das cinco maiores idéias da ciência<br />
em to<strong>do</strong>s os tempos. Na mesma linha, David Brody e Arnold<br />
Brody (1999) incluem a evolução como uma das sete maiores<br />
descobertas científicas da história. Em português, nos últimos<br />
anos foram edita<strong>do</strong>s no Brasil muitos livros que pretendem atingir<br />
um público leigo interessa<strong>do</strong> pela teoria da evolução. Dentre eles<br />
podemos citar os excelentes livros escritos por Zimmer (1999,<br />
2004), Dennett (1998), Fortey (2000), Rose (2000), Bizzo (2002),<br />
Weiner (1995), Dawkins (1996, 2001, 2005) e Gould (1989, 1992,<br />
1999, 2001). Particularmente, estes <strong>do</strong>is últimos autores, Richard<br />
Dawkins e Stephen Jay Gould, têm contribuí<strong>do</strong> muito para a<br />
divulgação da teoria da evolução por meio de seus instigantes<br />
livros, que são extremamente aconselha<strong>do</strong>s para aqueles que<br />
pretendem conhecer melhor as sutilezas e as conseqüências<br />
desta teoria, e a atualidade das idéias de Darwin. Sobre a<br />
evolução da espécie humana, destacamos os livros escritos<br />
por Mithen (2002), Stanford (2004) e Foley (2003). De autoria <strong>do</strong><br />
próprio Darwin pode-se citar também “Viagem de um naturalista<br />
ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, “A expressão das emoções no homem<br />
e nos animais”, “A origem <strong>do</strong> homem e a seleção sexual” e<br />
“Autobiografia (1809-1882)”, to<strong>do</strong>s traduzi<strong>do</strong>s para o português.<br />
Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809 na cidade de<br />
Shrewabury e faleceu em 19 de abril de 1882 em Kent, ten<strong>do</strong><br />
si<strong>do</strong> enterra<strong>do</strong> na Abadia de Westminster, próximo de Charles<br />
Lyell e Isaac Newton. Seu mérito científico foi o estabelecimento<br />
de uma teoria da evolução com um mecanismo que a explicasse:<br />
a seleção natural. Darwin estu<strong>do</strong>u Medicina e Teologia na<br />
universidade, ten<strong>do</strong> inclusive pesquisa<strong>do</strong> sobre a similaridade<br />
de órgãos entre animais com diferentes graus de complexidade.<br />
Mas seu futuro profissional na área da “história natural” foi sela<strong>do</strong><br />
após concordar em viajar por cerca de cinco anos (1831-1836)<br />
no barco inglês HMS Beagle que tinha a missão de mapear o<br />
mun<strong>do</strong> para a Coroa Inglesa. Após ser convida<strong>do</strong> formalmente<br />
para a viagem pelo capitão <strong>do</strong> barco, Robert FitzRoy, Darwin<br />
concor<strong>do</strong>u com a viagem de forma empolgada, mostran<strong>do</strong> um<br />
espírito aberto a descobertas em geral.<br />
Darwin procurou estudar e observar a natureza naquilo que<br />
poderia unificar toda a diversidade biológica existente sobre<br />
a Terra: desta forma, como lembra Mayr (1998), ele seguiu a<br />
tradição de muitos pensa<strong>do</strong>res gregos importantes. Darwin<br />
era filho de um médico, Robert Darwin, e neto também de um<br />
médico, Erasmus Darwin, que aliás havia publica<strong>do</strong> uma extensa<br />
obra científica: estas influências na sua formação seguramente<br />
devem ter motiva<strong>do</strong> seus interesses científicos. Sua família tanto<br />
de origem paterna quanto de origem materna pertencia à elite<br />
intelectual e social da época.<br />
O livro “A origem das espécies” – cujo nome original era<br />
“A origem das espécies por meio da seleção natural, ou a<br />
preservação das raças favorecidas na luta pela vida” – é ao<br />
Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />
“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />
mesmo tempo um <strong>do</strong>cumento científico e um livro de divulgação<br />
científica, e seu potencial pedagógico é conseqüência desta sua<br />
dupla característica.<br />
2- Análise <strong>do</strong> capítulo “recapitulações e conclusões” de<br />
“A origem das espécies”<br />
Darwin, no último capítulo de “A origem das espécies”,<br />
intitula<strong>do</strong> “Recapitulações e conclusões”, finaliza o livro com<br />
a estratégia de ressaltar os argumentos favoráveis e destruir<br />
aqueles desfavoráveis às suas teses. Em muitos momentos ele<br />
faz o papel de promotor contra as suas próprias idéias, para,<br />
obviamente, melhor poder contra-argumentar: “Em primeiro lugar,<br />
nada me parece mais difícil <strong>do</strong> que acreditar no aperfeiçoamento<br />
<strong>do</strong>s órgãos e <strong>do</strong>s mais complica<strong>do</strong>s instintos, não por artifícios<br />
superiores, embora semelhantes à razão humana, mas por<br />
acumulação de inúmeras e pequenas variações, todas vantajosas<br />
ao seu possui<strong>do</strong>r humano”.<br />
Contu<strong>do</strong>, é ao leitor comum, com os conceitos e preconceitos<br />
da época, que Darwin deve convencer e ele procura realizar<br />
esta tarefa de forma bem articulada. Para isso ele se posiciona<br />
no papel <strong>do</strong> leitor e <strong>do</strong> seu “bom senso” – com o qual devese<br />
tomar cuida<strong>do</strong> em assuntos científicos, pois segun<strong>do</strong> um<br />
comentário irônico de Einstein: “bom senso é o conjunto<br />
de to<strong>do</strong>s os preconceitos que adquirimos durante nossos<br />
primeiros dezoito anos de vida”. Portanto, se Darwin evidencia<br />
os argumentos contrários às suas hipóteses, é para neutralizálos:<br />
“esta dificuldade, ainda que parecen<strong>do</strong> insuportável à nossa<br />
imaginação, não poderia ser considerada válida se se admitirem<br />
as seguintes proposições: todas as partes <strong>do</strong> organismo e to<strong>do</strong>s<br />
os instintos oferecem pelo menos diferenças individuais; a luta<br />
constante pela sobrevivência determina a conservação <strong>do</strong>s<br />
desvios de estrutura ou de instinto que podem ser vantajosos;<br />
e, finalmente, gradações no esta<strong>do</strong> de perfeição de cada órgão,<br />
todas boas por si mesmas, podem ter existi<strong>do</strong>”.<br />
Outros exemplos de tentativa de “atacar” a si mesmo permeiam<br />
to<strong>do</strong> o texto: “Há, deve reconhecer-se, casos particulares difíceis<br />
que parecem contrários a teoria da seleção natural”; “pode<br />
perguntar-se porque não enxergamos em re<strong>do</strong>r de nós todas<br />
essas formas intermediárias e porque os seres organiza<strong>do</strong>s não<br />
estão confundi<strong>do</strong>s num inexplicável acaso”; “Por que é que as<br />
nossas coleções de fósseis não nos fornecem a prova evidente<br />
da gradação e das mutações das formas viventes?”. Darwin<br />
responde a estas perguntas apresentan<strong>do</strong> as limitações científicas<br />
de então: “Não se explorou geologicamente mais que uma<br />
minúscula parte da Terra” e “não temos conhecimento suficiente<br />
da constituição <strong>do</strong> universo e <strong>do</strong> interior da Terra para raciocinar<br />
com precisão sobre a sua idade.” Fica evidente a esperança de<br />
que a ciência avance na demolição das explicações bíblicas: “A<br />
crença na imutabilidade das espécies era quase inevitável, tanto<br />
que se não atribuía a história da Terra senão uma duração muito<br />
curta”.<br />
As idéias de Thomas Malthus e o linguajar econômico<br />
aparecem claramente: “A luta pela sobrevivência é uma<br />
conseqüência inevitável da multiplicação geométrica de to<strong>do</strong>s os<br />
seres organiza<strong>do</strong>s”; “de mo<strong>do</strong> a poderem apoderar-se <strong>do</strong> maior<br />
número de lugares diferentes na economia da natureza”; “Como<br />
a seleção natural atua em meio a concorrência”; “ [as espécies]<br />
sejam vencidas e substituídas por produtos vin<strong>do</strong>s de outras<br />
regiões.” Existiram entretanto outras tentativas de interpretação<br />
política. Engels, por exemplo, argumentou: “Assim como Darwin<br />
descobriu a lei <strong>do</strong> desenvolvimento orgânico, Marx descobriu<br />
a lei <strong>do</strong> desenvolvimento da história <strong>do</strong> homem”. É conheci<strong>do</strong>,<br />
a propósito, o fato de que Marx desejou dedicar “O Capital” a<br />
Darwin.<br />
76
Darwin tem um bom faro científico para prever o<br />
desenvolvimento da genética - “Um vasto campo de estu<strong>do</strong>s<br />
e apenas trilha<strong>do</strong> será aberto sobre as causas e as leis da<br />
variabilidade” – e da geologia - “no decurso imenso de épocas<br />
remotas houve grandes emigrações nas diversas partes da Terra,<br />
devidas a numerosas alterações climatéricas e geológicas”. É<br />
um otimista frente ao desenvolvimento científico e, desta forma,<br />
incentiva a nova geração de pesquisa<strong>do</strong>res de sua época:<br />
“Entrevejo, num futuro remoto, caminhos abertos a pesquisas<br />
muito mais importantes ainda”. Sua visão sobre a seleção natural<br />
também em certo senti<strong>do</strong> adquire um ar finalista – aceitan<strong>do</strong><br />
implicitamente o conceito polêmico de progresso subjacente<br />
à noção de evolução – pelo menos na tentativa de convencer<br />
ao leitor: “Ora como a seleção natural atua apenas para o bem<br />
de cada indivíduo, todas as qualidades corporais e intelectuais<br />
devem tender a progredir para a perfeição”.<br />
Perceben<strong>do</strong> com nitidez os pontos de sua teoria que seriam<br />
postos a prova pelos críticos, Darwin resolve em sua linha de<br />
argumentação salientá-los para mostrar a sutileza de suas idéias<br />
e ao mesmo tempo a limitação das evidências experimentais na<br />
época. Este é o caso da questão das “gradações” existentes<br />
entre diferentes espécies. Darwin, apresenta o problema e<br />
contra-argumenta, salientan<strong>do</strong> casos específicos que têm<br />
uma explicação mais complexa: “porém, notamos na natureza<br />
gradações tão esquisitas, que devemos ser muito compreensivos<br />
antes de afirmar que um órgão, ou um instinto, ou mesmo toda<br />
a conformação não atingiria o seu esta<strong>do</strong> atual percorren<strong>do</strong> um<br />
grande número de fases intermediárias”.<br />
O princípio da refutabilidade – ou seja, de que qualquer<br />
hipótese para ser científica deve ser refutável experimentalmente<br />
– sempre parece permear o estilo de argumentação de Darwin,<br />
como fica evidente, por exemplo, quan<strong>do</strong> ele afirma que “quanto<br />
à distribuição geográfica, as dificuldades que encontra a teoria da<br />
descendência com modificações são muito sérias”.<br />
O diálogo se dá muitas vezes com os velhos naturalistas e<br />
com suas opiniões preconcebidas, mas a esperança está sempre<br />
dirigida à nova geração de naturalistas “que poderão estudar<br />
imparcialmente as duas facetas da questão”. Darwin utiliza-se<br />
das evidências experimentais colecionadas ao longo da sua vida,<br />
sempre cuida<strong>do</strong>samente, pois nas suas palavras “a analogia<br />
pode ser um guia engana<strong>do</strong>r”. Os exemplos da<strong>do</strong>s são sempre<br />
instigantes e repletos de detalhes: “A disposição semelhante<br />
nos ossos na mão humana, na asa <strong>do</strong> morcego, na barbatana <strong>do</strong><br />
golfinho e na perna <strong>do</strong> cavalo; o mesmo número de vértebras no<br />
pescoço da girafa e <strong>do</strong> elefante (...) explicam-se facilmente pela<br />
teoria da descendência com modificações lentas e ligeiras”.<br />
O próprio Darwin se pergunta em um trecho, simulan<strong>do</strong><br />
indignação: “Até onde, poderão perguntar-me, levais vós a<br />
vossa <strong>do</strong>utrina da modificação das espécies?” E ele após alguns<br />
argumentos chega à conclusão contrária obviamente a “velha<br />
crença na criação das espécies através <strong>do</strong> barro”, “devemos<br />
admitir também que to<strong>do</strong>s os seres organiza<strong>do</strong>s que vivem<br />
ou que viveram na Terra podem originar-se de uma só forma<br />
original”. To<strong>do</strong>s nós, seres vivos terrestres, descendemos de<br />
uma forma original só: eis aqui uma das mais fortes conclusões<br />
<strong>do</strong> darwinismo e de sua concepção de mun<strong>do</strong>! E também a fonte<br />
da reação às suas idéias por parte de muitos grupos religiosos.<br />
O modelo seu de cientista parece ser Newton - “Ninguém<br />
hoje, contu<strong>do</strong>, se recusa a admitir todas as conseqüências que<br />
ressaltam de um elemento desconheci<strong>do</strong>, a atração, embora<br />
Leibniz tivesse outrora censura<strong>do</strong> Newton de ter introduzi<strong>do</strong> na<br />
ciência ‘propriedades ocultas e milagres’” – com o qual Darwin<br />
se identifica na luta contra a Igreja - “a maior descoberta que o<br />
homem efetuou, a lei da atração universal, foi também atacada por<br />
Leibniz como subversiva da religião natural, e nestas condições<br />
da religião revelada”. Mas a mensagem é também de conciliação<br />
religiosa, como no final poético e diplomático de seu livro: “Não<br />
há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com<br />
os seus poderes diversos atribuí<strong>do</strong>s primitivamente pelo Cria<strong>do</strong>r<br />
a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora,<br />
enquanto o nosso planeta, obedecen<strong>do</strong> à lei fixa da gravitação,<br />
continua a girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e<br />
admiráveis formas, originadas de um começo tão simples, não<br />
cessou de se desenvolver e desenvolve-se ainda!”<br />
3- Conclusões<br />
Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />
“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />
Passaram-se cerca de 20 anos desde a viagem no navio HMS<br />
Beagle para que Darwin publicasse “A origem das espécies” com<br />
as suas principais conclusões. Tal cautela se deve ao impacto<br />
de suas conclusões sobre o edifício explicativo da natureza<br />
construí<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s séculos pela Igreja. Por outro la<strong>do</strong>, estas<br />
mesmas conclusões darwinistas também foram – e ainda o são<br />
– interpretadas de forma a servir de legitimação para o sistema<br />
econômico capitalista.<br />
A extensão da obra, a variedade de exemplos, o estilo<br />
da escrita e o vigor <strong>do</strong>s argumentos nos mostram como esta<br />
obra foi detalhada e pacientemente estruturada pelo autor. A<br />
preocupação com a defesa das suas idéias, sobretu<strong>do</strong> em relação<br />
aos criacionistas fica evidente nos títulos de alguns capítulos:<br />
“<strong>Di</strong>ficuldades surgidas contra a hipótese de descendência com<br />
modificações” e “Contestações diversas feitas à teoria da seleção<br />
natural”. Para Bernard Cohen (1985) a revolução Darwiniana foi<br />
provavelmente a revolução mais significativa que já ocorreu no<br />
campo das ciências. Realmente, usan<strong>do</strong> as idéias de Thomas<br />
Kuhn (1975) de revolução científica, to<strong>do</strong> um paradigma<br />
perfeitamente bem estabeleci<strong>do</strong> foi abala<strong>do</strong> pelas propostas de<br />
Charles Darwin.<br />
Darwin não foi o primeiro a ter idéias evolutivas sobre a vida<br />
na Terra: segun<strong>do</strong> Stephen Jay Gould (1989), a idéia de evolução<br />
remonta aos gregos antigos. Um <strong>do</strong>s livros deste autor faz uma<br />
referência direta a este fato: “Lance de da<strong>do</strong>s – A idéia de evolução<br />
de Platão a Darwin”. O impacto de “A Origem das espécies” se<br />
deve em primeiro lugar ao detalhamento experimental <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
científicos expostos por Darwin para fundamentar a sua teoria.<br />
Ao receber a medalha Copley – a mais alta comenda científica<br />
da época – em 1864, Darwin obteve um reconhecimento<br />
quase unânime <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> científico. Esta aceitação de sua<br />
teoria relaciona-se também ao clima fértil social, política e<br />
economicamente para tais idéias. Nas palavras de Bernard<br />
Cohen (1985) em seu livro “Revolution in science”: “Of course,<br />
there are additional factors that must be taken into account for a<br />
full understanding of the receptivity of Darwin’s mind to Malthus<br />
and the recognition of the significance of competition that led to<br />
population thinking, among them the principles of individualism<br />
and competition in Adam Smith’s economic thinking.”<br />
Para muitos autores, Darwin teria escrito em 1870 o livro<br />
“A descendência <strong>do</strong> homem” para realizar uma autocrítica<br />
em relação a algumas idéias de “A origem das espécies” que<br />
serviram de legitimação ideológica pelas classes <strong>do</strong>minantes<br />
e pela Inglaterra na sua expansão pelo mun<strong>do</strong>; Darwin estaria<br />
com esse livro inician<strong>do</strong> o combate ao “monstro” que nasceu em<br />
nome dele - o denomina<strong>do</strong> darwinismo social - e à idéia que a<br />
seleção natural seria um modelo para a organização social.<br />
Nélio Bizzo (1987), de outro ângulo, chega a diferentes<br />
conclusões: “Na ‘Origem [Descendência] <strong>do</strong> homem’, [Darwin]<br />
deixava muito clara suas posições racistas: ‘A seleção permite<br />
ao homem agir de mo<strong>do</strong> favorável, não somente na constituição<br />
77
física de seus filhos, mas em suas qualidades intelectuais e morais.<br />
Os <strong>do</strong>is sexos deveriam ser impedi<strong>do</strong>s de desposarem-se quan<strong>do</strong><br />
se encontrassem em esta<strong>do</strong> de inferioridade muito acentuada de<br />
corpo ou espírito (...) enquanto os inconscientes se casam e os<br />
prudentes evitam o casamento, os membros inferiores da sociedade<br />
tendem a suplantar (em número) os membros superiores. (...)<br />
Deveria haver concorrência aberta para to<strong>do</strong>s os homens e deverse-iam<br />
fazer desaparecer todas as leis e to<strong>do</strong>s os costumes que<br />
impedem os mais capazes de conseguir os seus objetivos e criar<br />
o maior número possível de crianças.’” Esta última é seguramente<br />
uma referência à questão política - o princípio de não intervenção<br />
estatal e a mão invisível <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> – colocada pelo liberalismo,<br />
sustentáculo ideológico <strong>do</strong> capitalismo inglês em expansão. Mas<br />
a contradição é evidente em sua argumentação; ao mesmo tempo<br />
que usa a expressão “deveria haver concorrência aberta (...)”<br />
Darwin antes afirma que “os <strong>do</strong>is sexos deveriam ser impedi<strong>do</strong>s<br />
de (...)”: afinal, o esta<strong>do</strong> deve ou não deve intervir? <strong>Di</strong>to de outra<br />
forma: a seleção natural, como “mão invisível” necessitaria ou<br />
não de uma ajuda da “mão visível” <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> – se o objetivo for<br />
propagar a civilização ocidental?<br />
Darwin até hoje causa em seus leitores as mais variadas<br />
reações e interpretações, da paixão ao ódio. Suas idéias sobre a<br />
evolução enfrentam e enfrentaram ao mesmo tempo concepções<br />
espontâneas – como as lamarckistas –, distorções políticas<br />
– como as <strong>do</strong>utrinas fascistas – e contraposições religiosas<br />
– como as criacionistas. Quanto à força <strong>do</strong> criacionismo, basta<br />
lembrar que, em pronunciamentos públicos, George W. Bush,<br />
o presidente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s – maior potência científica<br />
<strong>do</strong> planeta – questionou a veracidade da teoria da evolução,<br />
argumentan<strong>do</strong> que sobre a criação das espécies confiava mais<br />
nas sagradas escrituras.<br />
Na Educação Básica é necessário trabalhar desde ce<strong>do</strong> a<br />
evolução como uma das idéias forças na Educação Básica, para<br />
formarmos cidadãos realmente alfabetiza<strong>do</strong>s cientificamente;<br />
em nosso país. Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais<br />
explicitam esta necessidade. Em termos pedagógicos, os livros<br />
de Darwin, e particularmente “A origem das espécies”, são<br />
excelentes ferramentas didáticas para o ensino da teoria da<br />
evolução, já que podem esclarecer as idéias básicas <strong>do</strong> autor<br />
e ao mesmo tempo permitem discutir algumas concepções<br />
equivocadas acerca <strong>do</strong> tema.<br />
O fato de que até hoje as discussões sobre a evolução<br />
incendeiam muitas mentes e muitos corações, nos mostra<br />
a vitalidade e a força das idéias contidas em “A origem das<br />
espécies”. Uma piada famosa evidencia bem o impacto da<br />
teoria da evolução no pensamento de muitas pessoas. Consta<br />
que, uma senhora inglesa <strong>do</strong> século XIX, ao dar-se conta das<br />
conseqüências da teoria da evolução teria afirma<strong>do</strong> ao seu<br />
mari<strong>do</strong>: “Queri<strong>do</strong>, vamos torcer para que as coisas que o senhor<br />
Darwin diz não sejam verdadeiras. Mas, se forem, vamos esperar<br />
que não caia na boca <strong>do</strong> povo” (Zimmer, 2004). Desta forma, é<br />
um dever nosso enquanto educa<strong>do</strong>res fazer com que a evolução<br />
caia na boca <strong>do</strong> povo!<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
BIZZO, Nélio. O que é darwinismo. São Paulo: Editora<br />
Brasiliense, 1987.<br />
BIZZO, Nélio. Darwin – Do telha<strong>do</strong> das Américas à teoria da<br />
evolução. São Paulo: Odysseus, 2002.<br />
BRODY, David Eliot e BRODY, Arnold R. As sete maiores<br />
descobertas científicas da história. São Paulo: Companhia das<br />
Letras, 1999.<br />
COHEN, I. Bernard. Revolution in science. Cambridge: The<br />
Belknap Press of Harvard University Press, 1985.<br />
DAWKINS, Richard. O rio que saía <strong>do</strong> Éden. Rio de Janeiro:<br />
Rocco, 1996.<br />
DAWKINS, Richard. O relojoeiro cego – A teoria da evolução<br />
contra o desígnio divino. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.<br />
DAWKINS, Richard. O capelão <strong>do</strong> diabo. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 2005.<br />
DARWIN, Charles. A origem das espécies. São Paulo: Editora<br />
Hemus, s/d.<br />
DARWIN, Charles. Viagem de um naturalista ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>. São Paulo: Abril Cultural, s/d.<br />
DARWIN, Charles. A expressão das emoções no homem e<br />
nos animais. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.<br />
DARWIN, Charles. Autobiografia (1809-1892). Rio de Janeiro:<br />
Contraponto, 2000.<br />
DARWIN, Charles. A origem <strong>do</strong> homem e a seleção sexual.<br />
São Paulo: Itatiaia Editora, 2004.<br />
DENNETT, Daniel. A perigosa idéia de Darwin. Rio de Janeiro:<br />
Rocco, 1999.<br />
FOLEY, Robert. Os humanos antes da humanidade. São<br />
Paulo: Editora da Unesp, 2003.<br />
FORTEY, Richard. Vida: uma biografia não-autorizada. Rio de<br />
Janeiro: Editora Record, 2000.<br />
GOULD, Stephen Jay. O polegar <strong>do</strong> Panda. São Paulo:<br />
Martins Fontes, 1989.<br />
GOULD, Stephen Jay. Darwin e os grandes enigmas da vida.<br />
São Paulo: Martins Fontes, 1992.<br />
GOULD, Stephen Jay. A falsa medida <strong>do</strong> homem. São Paulo:<br />
Martins Fontes, 1999.<br />
GOULD, Stephen Jay. Lance de da<strong>do</strong>s – A idéia de evolução<br />
de Platão a Darwin. Rio de Janeiro: Record, 2001.<br />
KUHN, T. S. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo:<br />
Perspectiva, 1975.<br />
LYELL, Charles. Principles of geology. UK: Penguin, 1997<br />
MAYR, E.. O Desenvolvimento <strong>do</strong> Pensamento Biológico.<br />
Brasília: Ed. UNB, 1998.<br />
MITHEN, Steven. A pré-história da mente. São Paulo: Editora<br />
da Unesp, 2002.<br />
ROSE, Michael. O espectro de Darwin. Rio de Janeiro: Jorge<br />
Zahar Editor, 2000.<br />
STANFORD, Craig. Como nos tornamos humanos. Rio de<br />
Janeiro: Elsevier, 2004.<br />
WEINER, Jonathan. O bico <strong>do</strong> tentilhão. Rio de Janeiro:<br />
Rocco, 1995.<br />
WYNN, Charles M. E WIGGINS, Arthur W.. As cinco maiores<br />
idéias da ciência. São Paulo: Ediouro, 2002.<br />
ZIMMER, Carl. À Beira d´Água. Rio de Janeiro: Jorge Zahar<br />
Editor, 1999.<br />
ZIMMER, Carl. O livro de ouro da evolução. Rio de Janeiro:<br />
Ediouro, 2004.<br />
NoTAS<br />
Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />
“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />
1- Doutor pela Universidade de São Paulo e Professor da FAAC, <strong>do</strong><br />
CEFET-SP, da PUC-SP e <strong>do</strong> Instituto Singularidades. E-mail para contato:<br />
rrpteixeira@bol.com.br<br />
78
ESumo<br />
O audiovisual no programa de alfabetização<br />
de jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />
Apresentação de histórico e justificativas <strong>do</strong> uso de audiovisual<br />
como meio e como produto no processo de alfabetização de<br />
jovens e adultos <strong>do</strong> programa promovi<strong>do</strong> pela FAMEC, Faculdade<br />
de Educação e Cultura Montessori, São Paulo, em parceria com<br />
a ALFASOL, a propósito da produção <strong>do</strong> vídeo “Programa de<br />
Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC(2001-2006)”.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Alfabetização de Jovens e Adultos, audiovisual, FAMEC,<br />
ALFASOL.<br />
ABSTrACT<br />
Presentation of historical and justifications of the audiovisual<br />
use as an instrument and product in the learning process of young<br />
and adults of the program promoted by the FAMEC – Faculdade<br />
de Educação e Cultura Montessori), São Paulo, in partnership<br />
with the ALFASOL, with the objective of the video production<br />
“Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC<br />
(2001-2006)”.<br />
KEYworDS:<br />
Claudemir Edson Viana (FAMEC) 1<br />
Joel Gaviolli (FAMEC) 2<br />
Young and adults learning, audiovisual, FAMEC, ALFASOL.<br />
79
introdução<br />
O pequeno histórico sobre o Programa de Alfabetização de<br />
Jovens e Adultos <strong>do</strong> texto abaixo, cria<strong>do</strong> para ser a locução em<br />
off <strong>do</strong> vídeo produzi<strong>do</strong> pela FAMEC em 2006, intitula<strong>do</strong> “Projeto<br />
Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC (2002-2006)”,<br />
dá uma rápida idéia <strong>do</strong> sucesso alcança<strong>do</strong> pela Instituição<br />
na implantação e gestão <strong>do</strong> Programa, sobretu<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> ao<br />
empenho e seriedade com que <strong>do</strong>centes, alunos e funcionários<br />
se disponibilizaram para trabalharem na execução <strong>do</strong> programa<br />
em todas as cidades monitoradas pela FAMEC, desde 2001,<br />
quan<strong>do</strong> da parceria estabelecida com ALFASOL.<br />
Texto <strong>do</strong> Vídeo “Projeto Alfabetização Solidária da FAmEC<br />
(2001-2006)”<br />
A Famec, Faculdade de Educação e Cultura Montessori, em<br />
sua política de qualidade <strong>do</strong> ensino, desenvolve o Projeto de<br />
Alfabetização de Jovens e Adultos em parceria com o Programa<br />
de Alfabetização Solidária envolven<strong>do</strong> estagiários, professores e<br />
coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s cursos de Pedagogia e Artes, sobretu<strong>do</strong>.<br />
Os objetivos <strong>do</strong> Programa em relação à Instituição de Ensino<br />
Superior são: capacitar, alfabetizar, instrumentalizar e familiarizar<br />
os alfabetiza<strong>do</strong>res com o <strong>material</strong> didático “Viver e Aprender”,<br />
acompanhar a execução <strong>do</strong> projeto nos municípios verifican<strong>do</strong><br />
as condições mínimas de trabalho, além de proporcionar uma<br />
larga experiência no que se refere à redução de analfabetos<br />
interferin<strong>do</strong> assim, diretamente, na qualidade de vida daqueles<br />
que participam <strong>do</strong> programa. Segun<strong>do</strong> Márcia Moreira,<br />
coordena<strong>do</strong>ra pedagógica <strong>do</strong> programa na Famec:<br />
“O Programa de Alfabetização da Famec vem contemplar os<br />
objetivos que a Instituição coloca no seu projeto pedagógico<br />
e como filosofia também da Instituição, que são os projetos<br />
sociais, como o Programa de Alfabetização Solidária que faz<br />
parte de um destes projetos sociais”.<br />
A Famec participa <strong>do</strong> Programa de Alfabetização Solidária<br />
desde 2001 em parceria com diferentes municípios. Em<br />
2001 e 2002, na cidade de Maués AM, em 2003 na cidade de<br />
Caridade <strong>do</strong> Piauí PI. Em 2004 passamos a atender 3 municípios<br />
simultaneamente no Esta<strong>do</strong> de Pernambuco: Água Preta, São<br />
José da Coroa Grande e Venturosa.<br />
A professora capacita<strong>do</strong>ra Denise Rockenback Nery diz:<br />
“Eu já estava há <strong>do</strong>is anos aqui na Famec e sempre ouvia falar<br />
<strong>do</strong> Projeto Alfasol e ai uma vez, quan<strong>do</strong> o Joel foi apresentar o<br />
projeto para os alunos e passou uns vídeos, eu fiquei bastante<br />
animada e procurei pelo Joel e falei: olha se precisar de alguém<br />
para trabalhar, estou pronta, eu não tenho muita experiência em<br />
alfabetização, mas acabei de fazer um curso sobre o tema e se<br />
você quiser ajuda estou disposta. Foi aí que ele me convi<strong>do</strong>u<br />
para trabalhar . O mais interessante é que conseguimos formar<br />
uma equipe, juntamos professores e alunos e formamos um<br />
grupo que discutia junto, preparava o curso junto e depois cada<br />
um ia para um município vivenciar uma experiência diferente.<br />
Na volta trazíamos os resulta<strong>do</strong>s e discutíamos juntos, acho<br />
que isso é que foi mais gratificante <strong>do</strong> projeto”.<br />
Em 2005, expandimos nosso trabalho para mais 2 municípios<br />
no mesmo Esta<strong>do</strong>, Tamandaré e Ribeirão, devi<strong>do</strong> à necessidade<br />
de atendimento.<br />
Atendimento aos municípios:<br />
O audiovisual no programa de alfabetização de<br />
jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />
8 comunidades em Maués – AM; 8 comunidades em Caridade<br />
<strong>do</strong> Piauí – PI; 10 comunidades em água Preta – PE; 10 comunidades<br />
em São José da Coroa Grande – PE; 50 comunidades em Venturosa<br />
– PE; 20 comunidades em Tamandaré – PE; 15 comunidades em<br />
Ribeirão – PE.<br />
maués (Am) – Localiza<strong>do</strong> na região nordeste <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Amazonas, o município cresceu em torno da produção <strong>do</strong> guaraná,<br />
sua maior riqueza. A população, constituída por indígenas e não<br />
indígenas, já aprendera a conviver com as diferenças culturais.<br />
Interligadas por rios, as salas de aula só podem ser alcançadas<br />
por meio de canoas a motor. O programa no município atendeu<br />
203 alunos nas oito comunidades, a maioria na zona rural.<br />
Caridade <strong>do</strong> Piauí (Pi) – Situada no sertão <strong>do</strong> Piauí, recentese<br />
da grande seca que começa em abril, maio e se prolonga<br />
até outubro aproximadamente. No curto perío<strong>do</strong> de chuva planta<br />
algodão e no resto <strong>do</strong> ano vive de pequenas atividades como:<br />
plantio de melancia, olaria produzin<strong>do</strong> tijolos, e criação de cabras<br />
e vacas. As condições são muito precárias na zona rural, não há<br />
luz, a claridade fica por conta de velas e lampiões e o acesso só<br />
é possível com carros de tração integral, motocicleta ou lombo<br />
de animal.<br />
água Preta (PE) – Está situada na região da Mata Sul de<br />
Pernambuco, a economia gera em torno de engenhos e Usinas<br />
de cana de açúcar e álcool, apesar de ser a mais antiga entre<br />
os municípios vizinhos, Água Preta parece que parou no tempo,<br />
seus vizinhos se desenvolveram no comercio, na saúde e na<br />
cultura. O município de Água Preta detém o maior número de<br />
engenhos da região e 2 Usinas de açúcar e álcool. Os alunos<br />
atendi<strong>do</strong>s somam 250 em vinte comunidades, a maioria situada<br />
em engenhos na zona rural de difícil acesso.<br />
São José da Coroa Grande (PE) – Município a beira mar no<br />
litoral sul pernambucano fazen<strong>do</strong> divisa com Alagoas, seu povo<br />
vive da pesca da lagosta e da prefeitura local, a maioria das salas<br />
de aula funciona em casas alugadas de terceiros pela prefeitura.<br />
A população atendida foi de 253 alunos em 20 comunidades,<br />
todas na área urbana.<br />
Venturosa (PE) – localizada no sertão pernambucano, sua<br />
economia gira em torno da produção de leite e queijo, muito<br />
dependente da prefeitura a população em sua maioria é muito<br />
simples sem acesso a um comércio mais expressivo. Neste<br />
município atendemos 1150 alunos em 50 comunidades, todas<br />
na área urbana.<br />
Tamandaré (PE) – Cidade litorânea, vive <strong>do</strong> turismo, <strong>do</strong>s<br />
engenhos e da uma Usina de açúcar e álcool. Vizinha de São<br />
José da Coroa Grande, Tamandaré com apenas 8 anos de vida<br />
conseguiu um progresso expressivo principalmente por causa <strong>do</strong><br />
turismo. Metade das salas estão localizadas na zona rural, dentro<br />
de engenhos. Com uma ótima estrutura, conseguimos atender<br />
256 alunos em 25 comunidades.<br />
Situa<strong>do</strong> a 120 quilômetros <strong>do</strong> Recife, ribeirão - PE vive de<br />
engenhos, de uma Usina de açúcar e álcool bem como de seu<br />
comércio ativo. Cidade muito acidentada, com grandes morros,<br />
80
e cujo acesso às salas de aula depende de um bom transporte,<br />
pois não é fácil chegar até as salas. Atendemos 15 turmas<br />
e 375 alunos.<br />
“Por mais que você leia, estude sobre o Brasil, nada como<br />
você ir em loco conhecer o lugar, não com aquela perspectiva<br />
<strong>do</strong> turista por exemplo: o município que eu trabalhei São José<br />
da Coroa Grande, é um município turístico, muito bonitas as<br />
praias, etc. Mas o nosso olhar era diferente, a gente ia com olhar<br />
de conhecer aquele povo, aquela gente, os seus problemas,<br />
suas dificuldades e ver um povo muito bravo, muito corajoso<br />
enfrentan<strong>do</strong> todas as dificuldades que vão desde a estrutura<br />
agrária, a concentração de terras, com acampamento <strong>do</strong> MST<br />
no lugar, falta crônica de emprego, de atividades econômicas,<br />
mas ao mesmo tempo uma força de vontade muito grande,<br />
seja <strong>do</strong>s professores, <strong>do</strong>s alunos principalmente”.( Denise<br />
Rockenback Nery)<br />
“O grande desafio em capacitar os professores da Alfasol, é<br />
acabar com a estranheza que a escola causa a muitos logo nos<br />
primeiros dias de aula, o modelo que a maioria guarda na mente<br />
é o tradicional, caderno, lápis, giz, lousa e um professor, muitos<br />
desses alfabetiza<strong>do</strong>res ao participar de debates, estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
meio, dinâmicas de grupo e apresentação de vídeos ficam<br />
com a sensação de que estão sen<strong>do</strong> engana<strong>do</strong>s, cabe ao<br />
capacita<strong>do</strong>r mostrar que os recursos varia<strong>do</strong>s também fazem<br />
parte da aprendizagem, no entanto, procuramos alertar esses<br />
professores para a importância de combinar essa atividade ao<br />
registro que para os alunos é uma característica especifica da<br />
escola, ao escrever eles tem a sensação de aprendizagem de<br />
apropriação <strong>do</strong> conhecimento e reflexão, para mim é gratificante<br />
compartilhar com os profissionais da Famec esse pacto pela<br />
alfabetização no esta<strong>do</strong> em que nasci que é Pernambuco em<br />
torno de um único objetivo: levar o direito a educação e o<br />
desenvolvimento humano aquelas pessoas que se encontram<br />
privadas da capacidade de ler, escrever, calcular e interpretar o<br />
mun<strong>do</strong> com dignidade”. (Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça)<br />
“Normalmente as pessoas ligam o de Programa Alfabetização<br />
Solidária ao curso de Pedagogia, mas na realidade o próprio<br />
nome diz: Alfabetização Solidária! Ocorre que o curso de<br />
Pedagogia forma educa<strong>do</strong>res, como eu costumo dizer para<br />
os meus alunos: cientistas da educação, e talvez pela maioria<br />
que procura o curso de Pedagogia serem professores, vêm da<br />
rede pública, grande parte então tenha esta visão, o que não<br />
deixa de ser uma verdade, mas os outros cursos são muito<br />
bem vin<strong>do</strong>s, e esta é a nossa intenção a partir desse ano, que<br />
outras pessoas ingressem no programa tanto professor como<br />
alunos <strong>do</strong> curso de Artes, de Administração etc, que têm<br />
pessoas com afinidade, que tem vontade, porque é um projeto<br />
muito interessante e gratificante para quem participar”.(Márcia<br />
Moreira)<br />
“A parceria de apoio à alfabetização de jovens e adultos foi<br />
instituída em 2001 entre a Faculdade de Educação e Cultura<br />
Montessori e o Programa de Alfabetização Solidária. Ela<br />
prevê o atendimento educacional de jovens e adultos nos<br />
Esta<strong>do</strong>s e Municípios com o menor índice de desenvolvimento<br />
humano. A Famec entende que o sucesso desse programa<br />
está liga<strong>do</strong> ao comprometimento e a articulação entre todas<br />
as partes envolvidas, ou seja, Instituições, Professores e<br />
alunos estagiários, esse compromisso prevê parcerias entre<br />
a Famec, a Alfasol, Prefeituras e Sociedade Civil, focalizan<strong>do</strong><br />
uma população não escolarizada. Os municípios atendi<strong>do</strong>s por<br />
nós, têm apoio <strong>do</strong> MEC e <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Desenvolvimento da<br />
Educação que normaliza os recursos financeiros necessários.<br />
Com esses recursos, com a vontade e o comprometimento <strong>do</strong>s<br />
interessa<strong>do</strong>s, garantiremos a continuidade <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
alunos egressos <strong>do</strong> programa de alfabetização”.(Joel Gaviolli)<br />
A historia <strong>do</strong> trabalho de alfabetização da Famec começou em<br />
2001, e nestes cinco anos alcançamos a marca de 12 municípios<br />
atendi<strong>do</strong>s, 255 turmas trabalhadas, 308 alfabetiza<strong>do</strong>res<br />
O audiovisual no programa de alfabetização de<br />
jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />
capacita<strong>do</strong>s e 4459 alunos alfabetiza<strong>do</strong>s. Atualmente estamos<br />
atenden<strong>do</strong> 6 municípios em Pernambuco, 102 turmas e 2500<br />
alunos, 4 lojas <strong>do</strong> Carrefour em São Paulo com 4 turmas e 60<br />
alunos, 8 turmas na periferia de São Paulo com 154 alunos. É<br />
a Famec pratican<strong>do</strong> da responsabilidade social promoven<strong>do</strong><br />
alfabetização em diferentes lugares <strong>do</strong> Brasil, e contan<strong>do</strong> com<br />
a solidariedade <strong>do</strong>s alunos, professores e funcionários, participe<br />
você também!”.<br />
Alfabetizar com audiovisual, um caminho possível<br />
A FAMEC tem ti<strong>do</strong> o máximo de cuida<strong>do</strong> com o andamento <strong>do</strong><br />
Programa Alfabetização Solidária desde que assumiu a parceria<br />
com a ONG ALFASOL, e com o compromisso com as cidades<br />
indicadas para sua tutela na desafiante tarefa de promover a<br />
capacitação e acompanhamento de alfabetiza<strong>do</strong>res, mora<strong>do</strong>res<br />
da mesma cidade em que o alto índice de analfabetismo e o<br />
Ìndice de Desenvolvimento Social clamam por intervenções<br />
como a deste programa.<br />
Este cuida<strong>do</strong> se dava em to<strong>do</strong>s os aspectos de<br />
responsabilidade da FAMEC. E, no que diz respeito à Formação<br />
<strong>do</strong>s Alfabetiza<strong>do</strong>res, o Projeto Pedagógico elabora<strong>do</strong> pela equipe<br />
de <strong>do</strong>centes e discentes envolvi<strong>do</strong>s no Programa no decorrer<br />
desse perío<strong>do</strong>, foi acumulan<strong>do</strong> meto<strong>do</strong>logias de capacitação <strong>do</strong>s<br />
Alfabetiza<strong>do</strong>res (geralmente mora<strong>do</strong>res das cidades tuteladas<br />
com o Ensino Médio) balizadas pelos fundamentos teóricos e<br />
meto<strong>do</strong>lógicos de Paulo Freire, ou seja, orientadas para uma<br />
educação dialógica e comprometida com a realidade e a situação<br />
<strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, o que neste caso apresentava-se<br />
em duas dimensões: a <strong>do</strong> Alfabetiza<strong>do</strong>r e a <strong>do</strong> Alfabetizan<strong>do</strong>,<br />
sen<strong>do</strong> que ambos vistos como sujeitos no papel de aprendiz e<br />
educa<strong>do</strong>r.<br />
Esta perspectiva política-pedagógica foi sen<strong>do</strong> construída<br />
pela equipe de estagiários, alunos, <strong>do</strong>centes e coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
Programa na FAMEC, como já foi descrito pela professora Katsue<br />
Hamada e Zenun em seu artigo “Educação de Jovens e Adultos”,<br />
publica<strong>do</strong> na Revista Científica da FAMEC 3 , e que tratava <strong>do</strong><br />
perío<strong>do</strong> de 2002 quan<strong>do</strong> atuamos em parceria com Caridade<br />
<strong>do</strong> Piauí(PI), e iniciávamos a parceria com cidades <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />
Pernambuco. Estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Meio, produção de correspondências,<br />
utilização de <strong>material</strong> da mídia impressa (jornais, revistas, gibis,<br />
folhetos, cartazes etc), <strong>do</strong> desenho, da História de Vida, dentre<br />
outros, são exemplos de meto<strong>do</strong>logias utilizadas e ensinadas<br />
aos Alfabetiza<strong>do</strong>res durante as oficinas de capacitação e nas<br />
orientações diretas ou a distância,, num processo mais ou menos<br />
lento a depender das condições apresentadas para a realização<br />
<strong>do</strong> trabalho (tempo e pessoas envolvidas, disposição política e<br />
administrativa de to<strong>do</strong>s os parceiros envolvi<strong>do</strong>s etc).<br />
De qualquer forma, o tempo, a experiência e até a persistência<br />
<strong>do</strong> Programa na FAMEC foram acumulan<strong>do</strong> um saber que reflete<br />
também aquilo que a Instituição tem, confia e utiliza para a<br />
formação de professores <strong>do</strong> Ensino Básico em seus cursos de<br />
Pedagogia, Educação Artística, e que, de certa forma, existe em<br />
to<strong>do</strong>s os seus cursos de graduação. Trata-se da educação para<br />
e pela mídia, por constatar que ela faz parte e é constituinte <strong>do</strong><br />
complexo processo de representação social construída pelos<br />
sujeitos de uma comunidade. Mais claro: sabemos o quanto a<br />
mídia, sobretu<strong>do</strong> a audiovisual a que quase to<strong>do</strong>s os alunos <strong>do</strong><br />
Programa têm acesso, está presente no cotidiano de milhões<br />
de brasileiros, e o quanto ela acaba ten<strong>do</strong> importante papel<br />
no processo de construção <strong>do</strong> conhecimento realiza<strong>do</strong> pelos<br />
indivíduos, sobre seu contexto e sobre si. Muito das informações<br />
que chegam pela Tv e pelo Rádio, acabam sen<strong>do</strong> quase que as<br />
únicas fontes sobre algo que um sujeito tem a sua disposição<br />
81
para, juntamente com seu contexto social imediato (família,<br />
religião, clube etc), elaborar sua consciência de si e <strong>do</strong> Outro.<br />
Tal abordagem política pedagógica <strong>do</strong> Projeto Político<br />
Pedagógico da FAMEC, e que se reflete em seus projetos, é o de<br />
se apropriar das mídias e de suas linguagens como instrumento<br />
e objeto de ensino e reflexão entre seus alunos e <strong>do</strong>centes. E<br />
isto perpassou os cursos de Graduação da FAMEC em forma<br />
de disciplinas específicas e/ou de conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s ou a<br />
isso destina<strong>do</strong>s. Condizente com esta proposta, a Instituição<br />
disponibilizou a estrutura mínima necessária para a utilização e<br />
produção <strong>do</strong> audiovisual. Instalações na FAMEC como salas de<br />
aula com Tv e Vídeo, auditórios e salas multimídia, laboratórios<br />
de informática com acesso à Internet, e outros que atendem<br />
às necessidades de to<strong>do</strong>s os alunos são exemplos disto.<br />
Também oferece equipamento e profissional especializa<strong>do</strong>s<br />
para a edição de vídeos, o que permitiu que a mesma equipe da<br />
FAMEC, envolvida no desafio de capacitar alfabetiza<strong>do</strong>res para<br />
a alfabetização de outros, também pudesse fazer uso da mídia<br />
audiovisual, e passasse para outro patamar da relação entre<br />
comunicação e educação, ou seja, a de produtor no senti<strong>do</strong><br />
mais clássico <strong>do</strong> termo, e aqui <strong>material</strong>iza<strong>do</strong> pela produção<br />
de um vídeo de 20 minutos contan<strong>do</strong> a história <strong>do</strong> Programa<br />
de Alfabetização Solidária da FAMEC, e apresentan<strong>do</strong> alguns<br />
fundamentos <strong>do</strong> programa.<br />
Além de produto, no senti<strong>do</strong> de ser o resulta<strong>do</strong>, o final de<br />
um processo, é preciso perceber que, agora, a mesma equipe<br />
<strong>do</strong> Programa Alfabetização Solidária da FAMEC e toda a equipe<br />
da Instituição estão descobrin<strong>do</strong> a dimensão da utilização deste<br />
produto em processos, ou seja, na divulgação <strong>do</strong> programa na<br />
Instituição e fora dela, na organização e preparação da equipe<br />
e das propostas de capacitação <strong>do</strong>s Alfabetiza<strong>do</strong>res, e de<br />
acompanhamento/avaliação <strong>do</strong> processo de alfabetização nas<br />
cidades sob tutoria da FAMEC. Certamente que, sen<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong><br />
de um processo pedagógico e não de um simples interesse<br />
merca<strong>do</strong>lógico da Instituição, o vídeo “O Programa Alfabetização<br />
de Jovens e Adultos da FAMEC (2001-2006)” tem o poder de<br />
refletir e servir aos integrantes <strong>do</strong> Programa para promoção de<br />
processos de educação e comunicação.<br />
E isto inclui procedimentos <strong>do</strong>s capacita<strong>do</strong>res da FAMEC em<br />
visita às cidades tutoradas como a da observação antropológica,<br />
como descreveu acima a professora Denise Rockenback Nery.<br />
Outras meto<strong>do</strong>logias de Ensino utilizadas e ensinadas aos<br />
Alfabetiza<strong>do</strong>res, e que constituíram a prática <strong>do</strong>s executores <strong>do</strong><br />
Programa da FAMEC, estiveram sempre balizadas no senti<strong>do</strong> de<br />
explorar e fazer explorar o próprio meio social como fonte, objeto<br />
e meio de promoção da alfabetização. E também a utilização<br />
<strong>do</strong> audiovisual na capacitação <strong>do</strong>s Alfabetiza<strong>do</strong>res é objeto de<br />
nossas preocupações, e está claramente norteada por objetivos,<br />
como aponta acima Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça.<br />
O Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da<br />
FAMEC acabou por associar meios e meto<strong>do</strong>logias de ensino<br />
e de alfabetização ao <strong>material</strong> didático de apoio ofereci<strong>do</strong> pelo<br />
Programa da Alfabetização Solidária, como é o exemplo <strong>do</strong> vídeo<br />
e <strong>do</strong> audiovisual de forma geral, como fonte e linguagem, no<br />
processo de ensino e de aprendizagem.<br />
Em fim, neste senti<strong>do</strong>, trata-se <strong>do</strong> ensinar a ler e escrever,<br />
mas também por meio das imagens, em movimento ou não! De<br />
forma ampla, trata-se de influências diretas de uma perspectiva<br />
educomunicativa 4 , que aparece ainda de forma inconsistente no<br />
Programa de Alfabetização Solidária da FAMEC, e mesmo no<br />
Projeto Político Pedagógico da Instituição, mas que já contribue<br />
para a mudança de paradigmas na educação de jovens e<br />
adultos, analfabetos ou não!. Isto é também reflexo <strong>do</strong> perfil de<br />
vários integrantes da Instituição e <strong>do</strong> Programa de Alfabetização<br />
da FAMEC que possuem formação e experiências nesta nova<br />
área <strong>do</strong> conhecimento, a educomunicação, resultante da<br />
interdisciplinaridade, sobretu<strong>do</strong> entre comunicação e educação,<br />
sen<strong>do</strong> que alguns deles são integrantes <strong>do</strong> Programa de Pós-<br />
Graduação da Escola de Comunicações e Artes da USP, onde a<br />
área vem se constituin<strong>do</strong>.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à<br />
prática educativa. Paz e Terra, 1997.<br />
MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações –<br />
comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.<br />
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação <strong>do</strong> futuro.<br />
São Paulo: Cortez, 2002.<br />
SOARES, I. O. Sociedade da Informação ou da Comunicação.<br />
São Paulo: Cidade Nova, 1997.<br />
_____________. “Um novo campo de trabalho”, Jornal da<br />
USP-4 a 10/06/2001.<br />
VIANA, C. E. O processo educomunicacional: a mídia na<br />
escola. <strong>Di</strong>ssertação de Mestra<strong>do</strong>. ECA/USP, 2000.<br />
NoTAS<br />
O audiovisual no programa de alfabetização de<br />
jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />
1- Doutor em Ciências da Comunicação (ECA/USP). <strong>Di</strong>retor Acadêmico<br />
da FAMEC, integrante da equipe gestora <strong>do</strong> programa Alfabetização<br />
Solidária na FAMEC; pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> LAPIC (Laboratório de Pesquisas<br />
sobre Infância, Imaginário e Comunicação – ECA/USP); Especialização<br />
em Educomunicação (ECA/USP).<br />
2- Pedagogo forma<strong>do</strong> na FAMEC, pós-graduan<strong>do</strong> em Arte-Educação na<br />
FAMEC, e Gestor <strong>do</strong> programa Alfabetização Solidária da FAMEC.<br />
3- Artigo disponível no site www.montessorinet.com.br, em Biblioteca<br />
<strong>Di</strong>gital, clicar no ano de 2004, na íntegra em PDF.<br />
4- Para saber mais sobre educomunicação, consulte o site <strong>do</strong> Núcleo<br />
de Comunicação e Educação da ECA/USP (NCE) – www.eca.usp.br/<br />
nucleos/nce.<br />
82
ESumo<br />
Jogo chinês TANGRAM na aprendizagem<br />
de matemática no Programa Alfabetização<br />
de Jovens e Adultos da FAMEC com a ALFASOL 1 .<br />
O momento atual pede uma matemática viva, não uma ciência<br />
estática, pronta e acabada a ser memorizada. A Matemática<br />
deve preservar suas características de produto cultural e<br />
instrumentalizar os alunos para que os mesmos compreendam<br />
e mudem a realidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em que vivem. Sen<strong>do</strong> assim,<br />
optamos por trabalhar com os alunos (alfabetiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s<br />
municípios atendi<strong>do</strong>s pela FAMEC - Faculdade de Educação e<br />
Cultura Montessori) sobre o quebra-cabeça chinês, de origem<br />
milenar, que permite criar e montar mais de 1.500 figuras entre<br />
animais, plantas, pessoas, objetos, letras, números, figuras<br />
geométricas e outras, o TANGRAM, como uma meto<strong>do</strong>logia de<br />
ensino de matemática para jovens e adultos em alfabetização.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Aprendizagem, matemática, jogo chinês, alfabetização de<br />
jovens e adultos, FAMEC, ALFASOL.<br />
ABSTrACT<br />
At the present an alive mathematics is needed, not as a static<br />
science, ready and finished to be memorized. The Mathematics<br />
must preserve its characteristics of cultural product and to proved<br />
the students the understanding and the change of the reality of<br />
the world where they live. So, we opt to work with the students<br />
(teachers of the cities who teach to read an write attended by<br />
FAMEC – Faculdade de Educação e Cultura Montessori) on<br />
Chinese game, of millenarian origin, that allows to create and<br />
mount more than 1,500 figures animals, plants, people, objects,<br />
letters, numbers, geometric figures and soon, the TANGRAM, as<br />
a metho<strong>do</strong>logy of education of mathematics for young and adults<br />
learning.<br />
KEYworDS:<br />
Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça 2<br />
Learning, mathematics, Chinese game, young and adults<br />
learning, FAMEC, ALFASOL.<br />
83
Apresentação<br />
A Matemática auxilia na resolução de muitos problemas<br />
<strong>do</strong> cotidiano, tem inúmeras aplicações no mun<strong>do</strong> e configurase<br />
como um poderoso instrumento para a construção de<br />
conhecimentos em outras áreas, além de construir enormemente<br />
com o lógico dedutivo.<br />
Por esse papel tão importante que desempenha na formação<br />
das pessoas, o ensino de matemática não pode ser visto como<br />
simples transmissão de conceitos e procedimentos de cálculo.<br />
Torna-se fundamental mudar essa forma mecânica de ensino.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, a presente proposta foi elaborada acreditan<strong>do</strong><br />
que é fundamental que os alunos pensem e aprendam com suas<br />
próprias ações, resolven<strong>do</strong> problemas, levantan<strong>do</strong> hipóteses e<br />
confrontan<strong>do</strong>-as com o conhecimento socialmente construí<strong>do</strong>.<br />
O momento atual pede uma matemática viva, não uma ciência<br />
estática, pronta e acabada a ser memorizada. A Matemática<br />
deve preservar suas características de produto cultural e<br />
instrumentalizar os alunos para que os mesmos compreendam e<br />
mudem a realidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em que vivem.<br />
Sen<strong>do</strong> assim, optamos por trabalhar com os alunos de EJA<br />
com o quebra-cabeça chinês, de origem milenar, que permite<br />
criar e montar mais de 1.500 figuras entre animais, plantas,<br />
pessoas, objetos, letras, números, figuras geométricas e outras,<br />
o TANGRAM.<br />
Descrição da atividade<br />
Os trabalhos em Matemática devem iniciar-se com a<br />
proposição de problemas cuja solução envolva o conteú<strong>do</strong> a ser<br />
estuda<strong>do</strong>.<br />
Essas situações – problemas devem apresentar desafios<br />
“difíceis,” porém possíveis para os alunos de mo<strong>do</strong> que eles<br />
busquem novas informações ou reorganizem seus conhecimentos<br />
anteriores para chegar à resolução <strong>do</strong>s problemas propostos.<br />
Iniciar a exploração <strong>do</strong>s diferentes conteú<strong>do</strong>s por meio de<br />
situações – problema, e não da definição de conceitos ou da<br />
apresentação de técnicas, faz com que os alunos coloquem em<br />
jogo seus conhecimentos prévios sobre os conteú<strong>do</strong>s aborda<strong>do</strong>s,<br />
elaborem hipóteses e procedimentos pessoais. Essas hipóteses<br />
e procedimentos pessoais, convencionais ou não, devem ser<br />
socializa<strong>do</strong>s e discuti<strong>do</strong>s pelos alunos. Montan<strong>do</strong> o TANGRAM<br />
o aluno pode perceber que existem diversas maneiras de<br />
resolver um problema e, também, pode analisar qual ou quais<br />
procedimentos são os mais claros, simples, rápi<strong>do</strong>s etc.<br />
Posteriormente, esses procedimentos devem ser testa<strong>do</strong>s<br />
em outras situações – problema propostas pelo professor,<br />
envolven<strong>do</strong> outros contextos a depender <strong>do</strong>s objetivos<br />
planeja<strong>do</strong>s, para que possam ser valida<strong>do</strong>s pelo grupo. Essa<br />
validação <strong>do</strong>s procedimentos e hipóteses pelos alunos passa a<br />
constituir-se em um conjunto de saberes compartilha<strong>do</strong>s pelo<br />
grupo, ou “conclusões provisórias”. Registradas passam a<br />
compor um banco de pré-conceitos (noções) e procedimentos<br />
que podem ser constituí<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s pelos alunos durante a<br />
resolução de novos problemas.<br />
Ao avaliar que a maioria <strong>do</strong>s alunos está elaboran<strong>do</strong><br />
concepções bastante próximas aos conhecimentos considera<strong>do</strong>s<br />
socialmente váli<strong>do</strong>s, o professor deverá ‘institucionalizar” o saber<br />
construí<strong>do</strong> pelos alunos, comparan<strong>do</strong>-o ao saber convencional,<br />
ou seja, apresentan<strong>do</strong>-lhes as definições e os procedimentos<br />
convencionais.<br />
Jogo chinês TANGRAM na aprendizagem de matemática no<br />
Programa Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />
Feito isso, trabalha-se com o TANGRAM para a resolução<br />
de problemas mais complexos, reinician<strong>do</strong>-se o ciclo com a<br />
apresentação de novos desafios aos alunos.<br />
Em seus estu<strong>do</strong>s, Jean Piaget (1967) mostrou-nos como os<br />
indivíduos avançam de um estágio de conhecimento para outros<br />
mais amplos e complexos, vivencian<strong>do</strong> situações de conflito<br />
cognitivo ou obstáculos (situações-problema) na interação com<br />
objetivos de aprendizagem. Esses obstáculos levam o sujeito<br />
a reorganizar seus conhecimentos anteriores ou buscar novas<br />
informações para ultrapassá-los, motivan<strong>do</strong>-os a pesquisarem e<br />
trocarem idéias sobre esses problemas.<br />
Vygotsky também evidência em seus estu<strong>do</strong>s a necessidade<br />
de interação com os objetos de aprendizagem num ambiente<br />
social real, no qual os parceiros menos experientes podem<br />
contribuir. A contribuição entre os alunos é fundamental<br />
para o avanço individual e coletivo destes na construção <strong>do</strong><br />
conhecimento.<br />
Piaget também evidenciou a existência de maneiras<br />
características de entender um objeto de conhecimento – por<br />
exemplo, o número – geralmente comum aos indivíduos que<br />
se encontram num mesmo estágio de desenvolvimento. Essa<br />
“contribuição de Piaget reforça ainda mais a idéia de que<br />
devemos apresentar problemas aos alunos, sem ter ensina<strong>do</strong>”,<br />
antes, todas as etapas e ferramentas necessárias à sua solução.<br />
Nesse caso, os alunos não encontrarão os mesmos obstáculos<br />
na situação-problema apresentada, e nem a resolverão com os<br />
mesmos recursos, sen<strong>do</strong> esta heterogeneidade considerada<br />
um fator de enriquecimento da discussão e aprendizagem <strong>do</strong><br />
grupo.<br />
Em Matemática, o TANGRAM pode ser usa<strong>do</strong> como recurso,<br />
para trabalhar não apenas como formas geométricas, mas<br />
principalmente, habilidades como composição e decomposição<br />
de figuras, discriminação e memória visual, percepção de<br />
diferentes posições que uma figura pode assumir sem alterar<br />
sua forma, representação de figuras geométricas, construção de<br />
figuras e para conceber objetos e formas.<br />
Essas habilidades, quan<strong>do</strong> desenvolvidas simultaneamente,<br />
permitem ao aluno superar dificuldades de reconhecimento de<br />
formas geométricas e suas propriedades e auxiliam a relacionar<br />
propriedades e figuras, passan<strong>do</strong> a um estágio de pensamento<br />
mais analítico <strong>do</strong> que visual.<br />
Isso significa que, para que uma atividade seja considerada<br />
problema, os alunos não devem contar com todas as<br />
informações necessárias para sua resolução. Dessa forma,<br />
montan<strong>do</strong> o TANGRAM, os alunos são leva<strong>do</strong>s a reorganizar<br />
seus conhecimentos anteriores e/ou basear novas informações<br />
e procedimentos para resolver a situação problema.<br />
Vale salientar que o ensino, que nós da FAMEC acreditamos<br />
volta-se muito mais para o processo <strong>do</strong> que para o produto,<br />
dan<strong>do</strong> lugar a uma Matemática de experimentação e construção<br />
permanentes.Não há ênfase na quantidade de conceitos que os<br />
alunos mais reproduzem e, sim, na qualidade <strong>do</strong>s conhecimentos<br />
que produzem. Não há pressa, há respeito. A Matemática de<br />
processo supõe respeitar o tempo e a forma de pensar de cada<br />
aluno, fornecen<strong>do</strong> espaço e <strong>material</strong> para a criação e troca de<br />
idéias. É indispensável o confronto de idéias com outras pessoas<br />
e com situações de uso social , para progredir com segurança na<br />
aquisição de conhecimentos.<br />
84
A LENDA Do TANGrAm<br />
Conta a lenda que um jovem chinês despedia-se<br />
de seu mestre, pois iniciaria uma grande viagem<br />
pelo mun<strong>do</strong>. Nessa ocasião, o mestre entregou-lhe<br />
um espelho de forma quadrada e disse:<br />
- Com esse espelho você registrará tu<strong>do</strong> que ver<br />
durante a viagem, para mostrar-me na volta.<br />
O discípulo, surpreso, indagou:<br />
- Mas mestre, como um simples espelho<br />
poderei eu lhe mostrar tu<strong>do</strong> o que encontrar<br />
durante a viagem?<br />
No momento em que fazia esta pergunta, o<br />
espelho caiu-lhe das mãos, quebran<strong>do</strong>-se em<br />
sete peças.<br />
Então o mestre disse:<br />
- Agora você poderá, com essas sete peças,<br />
construir figuras para ilustrar o que viu durante<br />
a viagem.<br />
Lendas e histórias como essas sempre cercam objetos ou<br />
fatos de cuja origem<br />
temos pouco ou nenhum conhecimento, como é o caso <strong>do</strong><br />
TANGRAM. Se é ou não verdade, pouco importa: o que vale é a<br />
magia , própria <strong>do</strong>s mitos e lendas.<br />
oficina matemática – trabalhan<strong>do</strong> com o TANGrAm<br />
<strong>material</strong> necessário: 1 TANGRAM para cada participante,<br />
lápis de cor, folha de sulfite envelopes para guardar o jogo.<br />
Procedimentos:<br />
1- Fazer uma leitura <strong>do</strong> texto acima com os participantes e<br />
pedir que ilustrem a lenda no sulfite.<br />
2- Solicitar que observem as peças <strong>do</strong> TANGRAM e digam<br />
como foi que se quebraram, conforme a lenda: que figuras<br />
foram formadas, quantas de cada tipo, quais as semelhanças e<br />
diferenças entre elas etc.<br />
3- Para finalizar, pedir aos participantes que criem uma figura<br />
qualquer, usan<strong>do</strong> as sete peças. Quan<strong>do</strong> terminar, devem tornar<br />
a figura sobre a folha de sulfite, pintan<strong>do</strong> em seguida como<br />
desejarem e escrever um texto sobre ela.<br />
Observação: Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s terminarem seus textos, estes<br />
serão li<strong>do</strong>s para a classe e reescritos, se você desejar trabalhar<br />
questões de leitura e escrita.<br />
Uma exposição de to<strong>do</strong>s os desenhos e textos poderá ser<br />
organizada e, depois juntar os trabalhos em forma de livro que<br />
ficará a disposição da turma.<br />
Jogo chinês TANGRAM na aprendizagem de matemática no<br />
Programa Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
P. PIAGET, Jean. O raciocínio na criança, Rio de Janeiro:<br />
Recoral, 1967<br />
ZUNINO, Delia Lener de. A Matemática na escola: aqui e<br />
agora. Porto Alegre: Artmed, 1996.<br />
____________________. A Matemática das sete peças <strong>do</strong><br />
Tangram. São Paulo: CAEM/IME/USP,1994<br />
NoTAS<br />
1- Texto de Oficina apresentada na VII Semana Internacional de<br />
Alfabetização de Jovens e Adultos, promovi<strong>do</strong> pela ALFASOL em São<br />
Paulo, no dia 13/09/06, e apresentada pela sua autora.<br />
2- Pedagoga formada pela FAMEC, aluna <strong>do</strong> curso de pós-graduação<br />
de Arte-Educação da FAMEC. Professora Polivalente da 3a. série<br />
<strong>do</strong> Ensino Fundamental <strong>do</strong> Colégio Professor Carneiro Ribeiro, e<br />
professora capacita<strong>do</strong>ra de alfabetiza<strong>do</strong>res em cidades <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />
Pernambuco, participantes <strong>do</strong> Programa Alfabetização Solidária e sob<br />
acompanhamento da FAMEC.<br />
85
ESumo<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de<br />
Cursos de Ciências Contábeis: Padrões Nacionais<br />
Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />
As competências e as habilidades são conceitos utiliza<strong>do</strong>s<br />
tanto no campo profissional quanto no educacional e são<br />
aborda<strong>do</strong>s neste artigo sob diferentes prismas: o semântico,<br />
o didático pedagógico, o psicológico, o profissional e o legal,<br />
cada um <strong>do</strong>s quais contribuin<strong>do</strong> para a sua compreensão e<br />
aplicabilidade no processo da educação contábil vista sob o<br />
prisma da globalização <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho. São apresentadas<br />
as competências e habilidades a serem desenvolvidas na<br />
formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r, sugeridas pela Comissão de Educação<br />
da Federação Internacional de Conta<strong>do</strong>res – IFAC, assim como<br />
aquelas propostas pela Legislação Educacional Brasileira. Para<br />
concluir, são apresenta<strong>do</strong>s: o panorama social <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho <strong>do</strong> Conta<strong>do</strong>r no Brasil, e algumas indicações de quais<br />
são as competências e habilidades desejadas pelo merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho. As considerações finais indicam que há uma tendência<br />
de harmonia entre os parâmetros nacionais e os internacionais<br />
no que se refere à formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r no tocante às suas<br />
competências e habilidades.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Competências e habilidades, ciências contábeis,<br />
globalização, formação acadêmica.<br />
ABSTrACT<br />
The abilities and the skills are concepts used as in the<br />
professional as in the educational field and they are boarded<br />
in this article under different prisms: the semantic one, the<br />
pedagogical didactic, the psychological one, the professional and<br />
the legal one, each one of which contributing its understanding<br />
and applicability in the process of the countable education<br />
sight under the prism of the globalization of the professional<br />
market. The abilities and skills are presented to be developed<br />
in the formation of the accountant, suggested the Commission<br />
of Education of the International Federacy of Accountants -<br />
IFAC, as well as those proposals for the Brazilian Educational<br />
Legislation. To conclude, it is presented: the social panorama of<br />
the market of the Accountant in Brazil, and some indications of<br />
which are the abilities and skills desired by the market. The final<br />
considerations indicate that it has a trend of harmony considering<br />
the national and international parameters as for the formation of<br />
the accountant in regards to its abilities and skills<br />
KEYworDS:<br />
Ms. Célia de Lima Pizolato 1<br />
Ms. <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong> <strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong> Giorgi 2<br />
Abilities and abilities, countable sciences, globalization,<br />
academic formation.<br />
86
introdução<br />
O século XXI é palco de mudanças vertiginosas no<br />
conhecimento humano, na tecnologia, nas comunicações,<br />
na ampliação da visão de mun<strong>do</strong>, na internacionalização das<br />
empresas e, conseqüentemente, no merca<strong>do</strong> de trabalho, na<br />
tomada de consciência sobre a questão da preservação da<br />
natureza, na ética e valores morais relativos à gestão pública e<br />
privada, na solidariedade e na formação da cidadania.<br />
Este cenário requer um processo educacional diferencia<strong>do</strong>.<br />
Hoje, o ensino aprendizagem é idealiza<strong>do</strong>, planeja<strong>do</strong> e é<br />
indispensável que seja efetiva<strong>do</strong> através <strong>do</strong> desenvolvimento das<br />
competências e habilidades de to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s no processo:<br />
professores e alunos.<br />
O professor de nível superior da formação profissional tem<br />
a responsabilidade de formar pessoas com competências<br />
e habilidades para dar a sua contribuição neste ambiente,<br />
quer atuan<strong>do</strong> como <strong>do</strong>cente, quer como profissional, quer<br />
como pesquisa<strong>do</strong>r, dentro de padrões técnicos nacionais e<br />
internacionais. É claro que, sozinho, nenhum professor poderá<br />
ter tanto poder, mas, através <strong>do</strong> trabalho interdisciplinar os<br />
esforços de toda uma equipe de profissionais altamente<br />
competentes poderão ser soma<strong>do</strong>s para atingir esse objetivo.<br />
É necessário que o professor de Contabilidade esteja inseri<strong>do</strong><br />
num projeto pedagógico participativo, no qual seja possível<br />
reconstruir sua prática, seus saberes e sua competência.<br />
A Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da Educação Nacional de1996<br />
introduz, em seu texto as aberturas necessárias para que As<br />
Instituições de Ensino Superior tenham a liberdade de elaborar<br />
currículos flexíveis que atendam à necessidade <strong>do</strong> contexto em<br />
que a instituição se insere. A avaliação <strong>do</strong> aproveitamento de seus<br />
alunos será feita de mo<strong>do</strong> a otimizar a aplicação de recursos na<br />
educação, promoven<strong>do</strong> o aluno para níveis superiores, desde que<br />
comprovada a evolução de suas competências a habilidades.<br />
1. A Educação por Competências e Habilidades<br />
Competências e habilidades são duas palavras muito<br />
importantes no contexto educacional atual. A definição <strong>do</strong> seu<br />
significa<strong>do</strong> não é exatamente a mesma para to<strong>do</strong>s os estudiosos<br />
da educação e a missão desse artigo é exatamente reunir os<br />
diferentes conceitos dessas palavras, contribuin<strong>do</strong> assim para<br />
a viabilização de sua aplicabilidade nos currículos e nas bases<br />
tecnológicas <strong>do</strong> projeto pedagógico.<br />
1.1. Competências e Habilidades<br />
A análise <strong>do</strong>s conceitos de competências e habilidades darse-á,<br />
inicialmente, pelo seu caráter semântico, a apresentar a<br />
interpretação <strong>do</strong> <strong>Di</strong>cionário Larousse.<br />
“Competência: s.f. (<strong>do</strong> Latim. Competentia.) 1. Atribuição,<br />
jurídica ou legal, de desempenhar certos encargos ou apreciar<br />
ou julgar determina<strong>do</strong>s assuntos. 2.Capacidade decorrente de<br />
profun<strong>do</strong> conhecimento que alguém tem sobre um assunto;<br />
aptidão, habilidade”.<br />
Habilidade: s.f. ( <strong>do</strong> Latim. Habilitas , habilitatis. ) 1. Qualidade<br />
daquele que é hábil. 2.Capacidade, destreza, agilidade. 3.<br />
Qualidade de alguém que age com engenhosidade e inteligên<br />
cia.4.Engenhosidade.5.Astúcia,manhã. 6.Qualidade que torna o<br />
sujeito apto , capaz no plano legal.7.Qualidade de alguém que é<br />
capaz de realizar um ato com uma boa adaptação psicomotora ,<br />
adequada ao fim em questão”.<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />
Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />
Segun<strong>do</strong> Edwards (1995: 79-97), competência deve ser<br />
entendida como capa-cidade.Já para Ramirez (2000), as<br />
competências e habilidades assumem as seguintes características:<br />
a educação e o desenvolvimento de competências são<br />
processos que jamais podem ser considera<strong>do</strong>s plenamente ou<br />
definitivamente concluí<strong>do</strong>s, e são o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> entrelaçamento<br />
das habilidades, conhecimentos e atitudes.<br />
A noção de competência, no Brasil, apesar de já ser<br />
conhecida no âmbito das ciências humanas (notadamente no<br />
campo das ciências da cognição e da lingüística) desde os anos<br />
70, passa a ser incorporada nos discursos <strong>do</strong>s empresários, <strong>do</strong>s<br />
técnicos <strong>do</strong>s órgãos públicos que lidam com o trabalho e por<br />
alguns cientistas sociais, como se fosse uma decorrência natural<br />
e imanente ao processo de transformação na base <strong>material</strong> <strong>do</strong><br />
trabalho (MANFREDI. 1998, p. 10).<br />
Usada de forma generalizada, é empregada, indistintamente,<br />
nos campos educacionais e <strong>do</strong> trabalho como se fosse porta<strong>do</strong>ra<br />
de uma conotação universal. No discurso <strong>do</strong>s empresários há uma<br />
tendência a defini-la menos como “estoque de conhecimentos/<br />
habilidades”, mas, sobretu<strong>do</strong>, como capacidade de agir, intervir,<br />
decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis. O<br />
desempenho e a própria produtividade global passam a depender<br />
em muito dessa capacidade e da agilidade de julgamento e de<br />
resolução de problemas. (LEITE 1996, p. 162)<br />
Nesta mesma linha de argumentação, os <strong>do</strong>cumentos da<br />
SEFOR- Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional<br />
<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Trabalho referem-se à competência como<br />
sen<strong>do</strong> processual, exigin<strong>do</strong>, portanto, um processo de educação<br />
contínua, direciona<strong>do</strong> a desenvolver um conjunto de habilidades<br />
(classificadas de básicas, específicas e de gestão). Esta tipologia<br />
é assim definida:<br />
As habilidades básicas podem ser entendidas em uma ampla<br />
escala de atributos, que parte de habilidades mais essenciais,<br />
como ler, interpretar, calcular, até chegar ao desenvolvimento<br />
de funções cognitivas que propiciem o desenvolvimento de<br />
raciocínios mais elabora<strong>do</strong>s.<br />
As habilidades específicas estão estreitamente relacionadas<br />
ao trabalho e dizem respeito aos saberes, saber-fazer e saberser;<br />
são exigidas por postos, profissões ou trabalhos em uma ou<br />
mais áreas correlatas.<br />
As habilidades de gestão estão relacionadas às competências<br />
de autogestão, de empreendimento, de trabalha<strong>do</strong>s em equipes.<br />
Quanto às dimensões empíricas a serem consideradas quan<strong>do</strong><br />
se trata de estudar a competência profissional em contextos<br />
organizacionais específicos, Manfredi (1998, p. 21) destaca a<br />
possibilidade de se trabalhar com as seguintes dimensões:<br />
a) <strong>do</strong>mínio de conhecimentos e habilidades básicas;<br />
b) capacidades básicas para desenvolver qualquer atividade<br />
de trabalho (competências de base para o trabalho);<br />
c) competências e/ou habilidades e conhecimentos<br />
específicos relativos ao campo profissional;<br />
d) competências contextuais (aquelas que derivam de um<br />
conjunto de habilidades necessárias para vincular cada atividade<br />
particular ao conjunto da estrutura organizativa) que podem ser<br />
definidas como operacionais (no âmbito da ação) e estratégicas<br />
(nos planos decisórios e de intervenção).<br />
No caso específico <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> professor na formação<br />
profissional <strong>do</strong> aluno, a capacidade adquire uma abrangência<br />
que inclui: conhecimentos teóricos, pedagogia e experiência<br />
profissional, o que é demonstra<strong>do</strong> no Quadro 1, a seguir.<br />
87
Quadro 1: uma reflexão <strong>do</strong>s níveis de competência <strong>do</strong><br />
professor que, permitirá contribuir na formação profissional<br />
<strong>do</strong> aluno de ciências contábeis:<br />
Nível<br />
Global<br />
COMPETÊNCIA GLOBAL<br />
DO PROFESSOR<br />
áreas Principais<br />
Base de<br />
conhecimento<br />
explícito<br />
Planejamento<br />
e Preparação<br />
Ensino<br />
Interativo<br />
Modelo<br />
Profissional<br />
Abrangente<br />
Autodesenvolvimento<br />
Profissional<br />
Descrição<br />
1. Recursos Curriculares;<br />
2. Recursos Pedagógicos;<br />
3. Experiência Profissional;<br />
4. Conhecimentos claros a respeito<br />
de alunos, contexto e recursos;<br />
5. Média adequada de atividades<br />
e recursos para alunos;<br />
6. Assistência inteligente e eficiente<br />
ao aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno,<br />
à organização e à pesquisa;<br />
7. Avaliação e monitoramento<br />
efetivo <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> e progresso<br />
<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno;<br />
8. Adequa<strong>do</strong> relacionamento para<br />
influenciar alunos, seu comportamento,<br />
motivação e bem-estar;<br />
9. Avaliação e monitoramento<br />
efetivos <strong>do</strong> comportamento,<br />
motivação e bem-estar <strong>do</strong> aluno;<br />
10. Cumprir a tarefa de construir<br />
um modelo profissional<br />
abrangente, através da colaboração<br />
efetiva e vários outros;<br />
11. Desenvolvimento de conhecimento<br />
básico específico da matéria,<br />
pedagogia e profissional;<br />
12. Melhoria da capacidade<br />
profissional, através de estu<strong>do</strong>,<br />
reflexão e mudança.<br />
Dentre os aspectos de competência deve se destacar<br />
a maneira <strong>do</strong> professor motivar os alunos na prática <strong>do</strong><br />
conhecimento.<br />
O professor de Contabilidade tem que assumir que os<br />
currículos não são fins , mas colocam–se a serviço <strong>do</strong><br />
desenvolvimento de competências, sen<strong>do</strong> estas caracterizadas<br />
pela capacidade de, através de esquemas mentais ou funções<br />
operatórias, mobilizar, articular, em ação, valores, conhecimentos<br />
e habilidades. Significa, necessariamente, a<strong>do</strong>tar uma<br />
Pedagogia que propicie, essencialmente, o exercício contínuo<br />
e contextualiza<strong>do</strong> desses processos de mobilização, articulação<br />
e aplicação.<br />
A aprendizagem está diretamente relacionada com o interesse<br />
e a motivação <strong>do</strong> aluno em relação àquilo que está sen<strong>do</strong><br />
aprendi<strong>do</strong>, sentimento que pode ser fortemente influencia<strong>do</strong> pela<br />
forma como o professor conduz o processo de aprendizagem–<br />
ensino.<br />
A natureza <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s, as estratégias e<br />
recursos utiliza<strong>do</strong>s para discutir e repassar as informações e<br />
conhecimentos, e até mesmo o próprio professor podem funcionar<br />
como estimula<strong>do</strong>res da motivação ou desmotivação <strong>do</strong> aluno.<br />
Ao professor cabe apresentar estímulos que alimentem<br />
continuamente um esta<strong>do</strong> desejável de motivação e interesse<br />
para aprender, tais como:<br />
a) destacar a importância das informações transmitidas;<br />
b) falar pouco, somente o essencial para a compreensão<br />
<strong>do</strong> assunto; evitar abordar muitas idéias em um só bloco de<br />
exposição, mesmo que sejam complementares;<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />
Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />
c) dar uma rápida visão <strong>do</strong> to<strong>do</strong> que será aborda<strong>do</strong> , e a seguir<br />
detalhar o assunto, começan<strong>do</strong> pelos aspectos mais simples até<br />
chegar aos mais complexos;<br />
d) interagir com os alunos, para averiguar a compreensão<br />
sobre o exposto;<br />
e) concluir, reafirman<strong>do</strong> a essência da informação<br />
repassada;<br />
f) escolher o momento para apresentar um assunto;<br />
g) identificar, no cotidiano, a informação que está sen<strong>do</strong><br />
apresentada, evidencian<strong>do</strong> sua importância e oportunidade.<br />
Silva (2000), faz consideração sobre a competência <strong>do</strong>s<br />
professores de contabilidade <strong>do</strong> ensino superior. Na sua opinião,<br />
“...A seriedade e a dedicação <strong>do</strong> professor são competências<br />
que devem ser desenvolvidas na execução <strong>do</strong>s programas das<br />
disciplinas sob sua responsabilidade e são condições sine qua<br />
non para o funcionamento desta ferramenta de valor que é o<br />
currículo.”<br />
Salienta ainda que o professor deve romper com o sistema<br />
tradicional, no qual aluno finge que aprende, e o professor sem<br />
motivação didática finge que ensina. O professor/orienta<strong>do</strong>r<br />
deve ser provoca<strong>do</strong>r para descobertas e organiza<strong>do</strong>r de<br />
situações favoráveis ao aprender a aprender. Deve este buscar<br />
rapidamente cuidar da sua competência por meio de atualizações,<br />
mestra<strong>do</strong> e/ou <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, para desenvolver condições de<br />
assimilação das novas formas de gerenciamento dentro da<br />
crescente expansão da atuação profissional, o que implica,<br />
certamente, um desenvolvimento perfeito da comunicação, da<br />
capacidade intelectual e da orientação didático-pedagógica,<br />
como conseqüência de uma base de conhecimento mais ampla<br />
e consciente.<br />
Aos olhos de Gil (1997), dentre os específicos que atingem<br />
os professores universitários estão os seguintes conhecimentos:<br />
preparo especializa<strong>do</strong> na matéria, cultura geral e didáticopedagógica,<br />
estrutura e funcionamento <strong>do</strong> ensino superior,<br />
planejamento de ensino, psicologia da aprendizagem, méto<strong>do</strong> e<br />
técnicas de ensino e de avaliação.<br />
Sob o ponto de vista de Rios (2000), falar em competência<br />
significa falar em saber fazer bem, e o saber fazer bem tem uma<br />
dimensão técnica, a <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> saber fazer, isto é, <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<br />
<strong>do</strong>s conhecimentos de que o sujeito necessita para desempenhar<br />
o seu papel, aquilo que se requer dele socialmente, articula<strong>do</strong><br />
com o <strong>do</strong>mínio das técnicas, das estratégias que permitam que<br />
ele desempenhe satisfatoriamente sua atividade. Considera a<br />
presença da ética como dimensão da competência.<br />
Estas são apenas algumas das abordagens existentes sobre<br />
as competências e habilidades e suas aplicações na educação<br />
em geral e específica para o ensino superior de Ciências<br />
Contábeis, mas através delas já é possível enxergar a pertinência<br />
e adequação que estes conceitos têm no contexto educacional<br />
exigente de uma melhoria contínua da qualidade profissional de<br />
to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s no processo.<br />
1.2. implementação de Competências e Habilidades<br />
Para que a educação se desenvolva por meio de competências<br />
e habilidades, é necessária uma reconstrução de modelos<br />
pedagógicos tradicionais. Uma das propostas é a construção de<br />
currículos através de projetos: projetos de curso, projetos de aula<br />
para a construção de competências, e projeto interdisciplinar de<br />
intervenção na realidade.<br />
A interdisciplinaridade, para Ivani Fazenda(1993), é uma nova<br />
atitude frente à questão <strong>do</strong> conhecimento, de abertura para a<br />
88
compreensão de aspectos ocultos <strong>do</strong> ato de aprender. Exige,<br />
portanto, uma profunda imersão no trabalho cotidiano, na prática<br />
de cinco princípios: coerência, humildade, espera, desapego e<br />
respeito.<br />
Pela primeira vez os temas autonomia escolar e projeto<br />
pedagógico aparecem explicita<strong>do</strong>s nos textos das Leis da<br />
Educação no Brasil a partir da Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da<br />
Educação Nacional Brasileira, de 20 de dezembro de 1996,<br />
fundamentada no princípio da flexibilidade e da autonomia, que<br />
ratifica a incumbência das escolas de elaborar e executar suas<br />
propostas pedagógicas e <strong>do</strong>s professores de participarem da<br />
sua elaboração.<br />
A Câmara de Educação Superior <strong>do</strong> Conselho Nacional<br />
de Educação, órgão <strong>do</strong> Ministério de Educação e Cultura<br />
aprovou, em 16 de dezembro de 2004, a Resolução CNE Nº<br />
10/04, que estabelece as <strong>Di</strong>retrizes Curriculares Nacionais <strong>do</strong><br />
Curso de Graduação em Ciências Contábeis, que, em seu Art.<br />
4º, discrimina as competências e habilidades que deverão ser<br />
formadas durante o curso de Ciências Contábeis, a saber:<br />
I - utilizar adequadamente a terminologia e a linguagem das<br />
Ciências Contábeis e Atuariais;<br />
II - demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar da atividade<br />
contábil;<br />
III - elaborar pareceres e relatórios que contribuam para o<br />
desempenho eficiente e eficaz de seus usuários, quaisquer que<br />
sejam os modelos organizacionais;<br />
IV - aplicar adequadamente a legislação inerente às funções<br />
contábeis;<br />
V - desenvolver, com motivação e através de permanente<br />
articulação, a liderança entre equipes multidisciplinares para<br />
a captação de insumos necessários aos controles técnicos,<br />
à geração e disseminação de informações contábeis, com<br />
reconheci<strong>do</strong> nível de precisão;<br />
VI - exercer suas responsabilidades com o expressivo <strong>do</strong>mínio<br />
das funções contábeis, incluin<strong>do</strong> noções de atividades atuariais<br />
e de quantificações de informações financeiras, patrimoniais<br />
e governamentais, que viabilizem aos agentes econômicos<br />
e aos administra<strong>do</strong>res de qualquer segmento produtivo ou<br />
institucional o pleno cumprimento de seus encargos quanto ao<br />
gerenciamento, aos controles e à prestação de contas de sua<br />
gestão perante à sociedade, geran<strong>do</strong> também informações para<br />
a tomada de decisão, organização de atitudes e construção de<br />
valores orienta<strong>do</strong>s para a cidadania;<br />
VII - desenvolver, analisar e implantar sistemas de informação<br />
contábil e de controle gerencial, revelan<strong>do</strong> capacidade crítico<br />
analítica para avaliar as implicações organizacionais com a<br />
tecnologia da informação;<br />
VIII - exercer com ética e proficiência as atribuições e<br />
prerrogativas que lhe são prescritas através da legislação<br />
específica, revelan<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínios adequa<strong>do</strong>s aos diferentes<br />
modelos organizacionais.<br />
Em seu Art. 5º, insere os currículos que os cursos de graduação<br />
em Ciências Contábeis, bacharela<strong>do</strong>, dentro <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong>s<br />
padrões internacionais, deven<strong>do</strong> contemplar, em seus projetos<br />
pedagógicos e em sua organização curricular, conteú<strong>do</strong>s que<br />
revelem conhecimento <strong>do</strong> cenário econômico e financeiro, nacional<br />
e internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas<br />
e padrões internacionais de contabilidade, em conformidade com<br />
a formação exigida pela Organização Mundial <strong>do</strong> Comércio e pelas<br />
peculiaridades das organizações governamentais, observa<strong>do</strong> o<br />
perfil defini<strong>do</strong> para o forman<strong>do</strong>.<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />
Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />
O Art. 7º regulamenta aspectos da formação profissional<br />
<strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, por meio <strong>do</strong> Estágio Curricular Supervisiona<strong>do</strong><br />
entendi<strong>do</strong> como um componente curricular direciona<strong>do</strong> para<br />
a consolidação <strong>do</strong>s desempenhos profissionais deseja<strong>do</strong>s,<br />
inerentes ao perfil <strong>do</strong> forman<strong>do</strong>.<br />
As formações acadêmica e profissional deverão ser ampliadas<br />
por atividades complementares vistas como componentes<br />
curriculares que possibilitam o reconhecimento, por meio de<br />
avaliação de habilidades, conhecimentos e competências <strong>do</strong><br />
aluno, inclusive adquiridas fora <strong>do</strong> ambiente escolar, abrangen<strong>do</strong><br />
a prática de estu<strong>do</strong>s e atividades independentes, transversais,<br />
opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações<br />
com o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e com as ações de extensão junto à<br />
comunidade.<br />
2. Competências e Habilidades <strong>do</strong> Conta<strong>do</strong>r: a Visão da<br />
IFAC – International Federation of Public Accountants<br />
O presidente <strong>do</strong> Comitê de Educação da IFAC, Sr. Warren Allen,<br />
neozelandês, considera que: “o objetivo da educação contábil<br />
deve ser a produção de conta<strong>do</strong>res profissionais competentes,<br />
capazes de dar, ao longo de suas vidas, uma contribuição positiva<br />
à profissão e à sociedade na qual eles trabalham”.<br />
Em vista destes princípios, o Comitê de Educação da IFAC<br />
aprovou, em maio de 2001, a abertura de um fórum mundial<br />
de discussão, via internet, a respeito de quais seriam as<br />
competências e habilidades inerentes à formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r,<br />
com o intuito de receber contribuições de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e<br />
produzir um <strong>do</strong>cumento comum. O fórum de debate terminou em<br />
31 de outubro de 2001, ocasião em que foi elabora<strong>do</strong> relatório<br />
conclusivo, a saber:<br />
“O objetivo <strong>do</strong> ensino e pesquisa em contabilidade deve ser<br />
o de formar um conta<strong>do</strong>r profissional competente, capaz de<br />
dar contribuições positivas, durante to<strong>do</strong> o seu tempo de vida,<br />
à profissão e à sociedade na qual ele trabalha. A manutenção<br />
da competência profissional diante das crescentes mudanças<br />
encontradas torna imperativo que os conta<strong>do</strong>res desenvolvam e<br />
mantenham uma atitude de aprender a aprender”.<br />
Conclui ainda o relatório que a pesquisa e a educação de<br />
conta<strong>do</strong>res profissionais devem prover as bases <strong>do</strong> conhecimento,<br />
habilidades e valores profissionais que os capacitem a continuar<br />
a aprender e adaptar-se às mudanças durante to<strong>do</strong> o tempo de<br />
suas vidas profissionais.<br />
A competência é definida como sen<strong>do</strong> a habilidade de<br />
desempenhar um papel dentro de um padrão adequa<strong>do</strong> à<br />
realidade de seu ambiente de trabalho.<br />
O <strong>do</strong>mínio de habilidades e o conhecimento <strong>do</strong>s valores<br />
profissionais são desejáveis para o conta<strong>do</strong>r ser capaz de<br />
demonstrar competência, o que inclui conhecimento técnico,<br />
aptidões pessoais e comportamento ético. As habilidades podem<br />
ser agrupadas em seis categorias diferentes:<br />
• Atitudes (por exemplo: comportamento profissional/valores);<br />
• Aptidões comportamentais (por exemplo: liderança);<br />
• Ampla perspectiva de negócios (por exemplo: pensamento<br />
estratégico/ crítico);<br />
• Aptidões funcionais (por exemplo: análise de risco);<br />
• Conhecimento de conteú<strong>do</strong> (por exemplo: auditoria);<br />
• Aptidões cognitivas (por exemplo: conhecimento,<br />
compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação).<br />
O texto indica que a competência pode ser desenvolvida por<br />
meio de uma combinação de estu<strong>do</strong>s acadêmicos, treinamento<br />
89
e desenvolvimento no trabalho e da educação profissional. Pode<br />
ser que o enfoque acadêmico cobrirá a maior parte da teoria da<br />
contabilidade, a educação profissional se aterá mais na prática<br />
das habilidades necessárias aos conta<strong>do</strong>res profissionais, e<br />
o treinamento no ambiente de trabalho desenvolverá ambos:<br />
prática e atualização profissionais.<br />
Para desenvolver as competências e habilidades<br />
profissionais desejáveis à formação <strong>do</strong>s conta<strong>do</strong>res profissionais<br />
é aconselhável a combinação <strong>do</strong>s três componentes: estu<strong>do</strong>s<br />
acadêmicos, treinamento na empresa e educação profis-sional.<br />
O texto <strong>completo</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento final “The IFAC Draft<br />
<strong>Di</strong>scussion Paper” pode ser encontra<strong>do</strong> na World Wide Web:<br />
ifac.org.<br />
3. Panorama <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de Trabalho para o Egresso <strong>do</strong><br />
Curso de Ciências Contábeis<br />
O egresso <strong>do</strong> Curso de Ciências Contábeis encontrará diante<br />
de si um merca<strong>do</strong> de trabalho tão abrangente quanto diversifica<strong>do</strong>.<br />
As oportunidades de trabalho na empresa, como autônomo, no<br />
ensino, em órgãos públicos e no merca<strong>do</strong> editorial são tantas<br />
que dificilmente um currículo poderá atender à formação <strong>do</strong><br />
perfil <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r, a não ser por meio <strong>do</strong> desenvolvimento de<br />
competências e habilidades generalistas voltadas ao aprender<br />
a aprender e à resolução de problemas. Os méto<strong>do</strong>s de ensino<br />
volta<strong>do</strong>s à pesquisa são aqueles que conferem, gradativamente,<br />
a independência <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, e são indica<strong>do</strong>s para a resolver<br />
seus problemas na área de aquisição de conhecimentos.<br />
O quadro Visão Geral da Profissão Contábil, elabora<strong>do</strong> pelo Dr.<br />
José Carlos Marion(2005), ilustra o alto nível de abrangência das<br />
possibilidades de trabalho existentes no merca<strong>do</strong> à disposição<br />
<strong>do</strong> egresso <strong>do</strong>s cursos de ciências contábeis.<br />
Conta<strong>do</strong>r<br />
Quadro 2 : Visão Geral da Profissão Contábil<br />
Na Empresa<br />
Independente<br />
(Autônomo)<br />
No Ensino<br />
No Serviço<br />
Público<br />
No Merca<strong>do</strong><br />
Editorial<br />
Fonte: Marion, 2005, adapta<strong>do</strong>.<br />
Planeja<strong>do</strong>r Tributário<br />
Analista Financeiro<br />
Conta<strong>do</strong>r Geral<br />
Cargos Administrativos<br />
Auditor Interno<br />
Conta<strong>do</strong>r de Custo<br />
Conta<strong>do</strong>r Gerencial<br />
Atuário<br />
Controller<br />
Auditor Independente<br />
Consultor<br />
Empresário Contábil<br />
Perito Contábil<br />
Investiga<strong>do</strong>r de Fraude<br />
Professor<br />
Pesquisa<strong>do</strong>r<br />
Parecerista<br />
Conferencista<br />
Cargos Administrativos<br />
Conta<strong>do</strong>r Público<br />
Agente Fiscal de Renda<br />
<strong>Di</strong>versos Concursos Públicos<br />
Tribunal de Contas<br />
Oficial Conta<strong>do</strong>r<br />
Consultor Editorial Contábil<br />
Revisor Técnico<br />
Colabora<strong>do</strong>r<br />
Organiza<strong>do</strong>r de Obras sobre<br />
Contabilidade<br />
Escritor<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />
Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />
O quadro Visão Geral da Profissão Contábil, elabora<strong>do</strong> pelo Dr.<br />
José Carlos Marion(2005), ilustra o alto nível de abrangência das<br />
possibilidades de trabalho existentes no merca<strong>do</strong> à disposição<br />
<strong>do</strong> egresso <strong>do</strong>s cursos de ciências contábeis.<br />
Um leque tão amplo de opções oferecidas pelo merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho como o apresenta<strong>do</strong> no Quadro 2 representa um desafio<br />
aos educa<strong>do</strong>res. Será que, seguin<strong>do</strong> o caminho de ensinar<br />
conteú<strong>do</strong>s, estaremos preparan<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>res profissionais?<br />
Quanto tempo seria necessário para ensinar tanto conhecimento?<br />
Como deveria ser o currículo de um curso de ciências contábeis<br />
neste perfil de merca<strong>do</strong> de trabalho?<br />
Neste contexto, a solução está em criarmos condições<br />
para que nossos alunos de ciências contábeis desenvolvam<br />
as competências e habilidades necessárias para aprender a<br />
aprender, para solucionar problemas, para contribuir e agregar<br />
valor aonde quer que estejam.<br />
3.1. A Solução de Problemas: Aprender a resolver,<br />
resolver para Aprender<br />
A busca de um novo paradigma educacional, centra<strong>do</strong> na<br />
aprendizagem e não no ensino, inclui o professor como media<strong>do</strong>r<br />
entre o conhecimento acumula<strong>do</strong> e o interesse e a necessidade<br />
<strong>do</strong> aluno. Assim como o currículo, entendi<strong>do</strong> como o conjunto<br />
integra<strong>do</strong> e articula<strong>do</strong> de situações organizadas de mo<strong>do</strong> a<br />
promover aprendizagens significativas.<br />
Para desenvolver competências é preciso, antes de tu<strong>do</strong>,<br />
trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor<br />
tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar<br />
seus conhecimentos, habilidades e valores no senti<strong>do</strong> de<br />
encontrar soluções alternativas para a solução de problemas,<br />
preven<strong>do</strong> quais as conseqüências que advirão de cada uma das<br />
soluções apresentadas.<br />
3.2. A Pesquisa de robert Sack e Steve Albrecht<br />
A realização da 17ª Convenção Estadual de Contabilistas<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo, de 26 a 28 de 2001, incluiu em sua<br />
programação o Workshop intitula<strong>do</strong> Educação Contábil:<br />
problemas e oportunidades, sob a coordenação <strong>do</strong> Prof. Sérgio<br />
de Iudícibus, da FEA/USP. O workshop teve a participação<br />
especial de Robert J. Sack, professor emérito da Universidade<br />
de Virgínia/EUA, que, na ocasião, apresentou o relatório de uma<br />
pesquisa feita em colaboração com Steve Albrecht, a respeito da<br />
visão acadêmica <strong>do</strong> ensino de ciências contábeis, comparada à<br />
visão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />
Foram constata<strong>do</strong>s os fatos:<br />
1. O número e a qualidade de estudantes de cursos de<br />
formação contábil caiu.<br />
2. O modelo educacional está abala<strong>do</strong> e precisa ser<br />
restaura<strong>do</strong>.<br />
3. Profissionais em contabilidade optariam por outra área de<br />
especialização, se tivessem opção de começar tu<strong>do</strong> novamente<br />
agora.<br />
Os autores da pesquisa constataram que ainda ensinamos<br />
contabilidade como se informações fossem caras. A ilustrar esta<br />
afirmação, os pesquisa<strong>do</strong>res apresentaram o seguinte quadro de<br />
níveis de remunerações por atividades desenvolvida.<br />
90
Quadro 3: Níveis de remunerações<br />
por Atividades Desenvolvidas.<br />
$ 10-hora $ 30-hora $ 100-hora $ 300-hora $ 1.000-hora<br />
Registran<strong>do</strong><br />
eventos<br />
comerciais.<br />
Sumarizan<strong>do</strong><br />
eventos<br />
registra<strong>do</strong>s<br />
Converten<strong>do</strong><br />
da<strong>do</strong>s em<br />
informações<br />
Transforman<strong>do</strong><br />
informações em<br />
conhecimento<br />
Fonte: Albrecht e Sack, 2001.<br />
A importância das informações <strong>do</strong> Quadro 3 está mais<br />
em seu significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que em seus números, por se tratar de<br />
pesquisa realizada nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, em 2001. Consideradas<br />
as diferenças culturais, sociais, econômicas, entende-se que,<br />
também no Brasil as melhores remunerações são auferidas pelos<br />
profissionais com maior poder de decisão e que, para ocupar<br />
esta posição de destaque na empresa, o conta<strong>do</strong>r deverá ser<br />
capaz de analisar projetos e propor alternativas que agreguem<br />
valor à empresa, a si mesmo e à sociedade de uma forma geral,<br />
considerada sua inserção no meio ambiente. A visão crítica e a<br />
consciência ética deverão estar presentes em cada proposta de<br />
decisão.<br />
Será que os egressos <strong>do</strong>s cursos de ciências contábeis<br />
estarão prepara<strong>do</strong>s para galgar os melhores postos de gestão<br />
dentro das empresas? Ou estarão mais aptos a realizarem<br />
operações repetitivas relativas às operações comerciais? Ou,<br />
estarão no meio termo?<br />
Nesta pesquisa, Albrecht e Sack constataram que o mo<strong>do</strong><br />
de ver a educação contábil é diferente para professores e para<br />
profissionais liberais, conforme demonstra o Quadro 4:<br />
Professores<br />
Quadro 4: Tópicos Considera<strong>do</strong>s importantes pelos<br />
Fazen<strong>do</strong><br />
decisões que<br />
agregam valor<br />
Ensinan<strong>do</strong> muito aqui! Ensinan<strong>do</strong> pouco aqui!<br />
- Contabilidade Financeira<br />
- Finanças<br />
- Impostos<br />
- Contabilidade Gerencial<br />
- Auditoria<br />
- Tecnologia<br />
- Estatística<br />
- Marketing<br />
- Pensamento analítico<br />
- Comunicação por escrito<br />
- Tecnologia por computa<strong>do</strong>r<br />
- Relacionamentos<br />
- Aprendiza<strong>do</strong> contínuo<br />
- Mensuração<br />
- Língua estrangeira<br />
- Planilhas eletrônicas<br />
- Processamento de palavras<br />
- Win<strong>do</strong>ws Microsoft<br />
- www<br />
- Terminologia<br />
- Base de da<strong>do</strong>s<br />
- Comércio eletrônico<br />
Profissionais Liberais<br />
- Sistemas de Informação<br />
- Estratégia<br />
- <strong>Di</strong>reito<br />
- Global<br />
- Comércio Eletrônico<br />
- Ética<br />
- Méto<strong>do</strong>s de Pesquisa<br />
- Comunicação verbal<br />
- Trabalho em equipe<br />
- Liderança<br />
- Administração de projeto<br />
- Orientação de clientes/<br />
fregueses<br />
- Administração de mudança<br />
- Negociação<br />
- Pesquisa<br />
- Administração de projetos<br />
- Administração de tecnologia<br />
- Outros sistemas operacionais<br />
- Administração de operações<br />
- Segurança Observa-se, e planos no Quadro 4, que a preocupação <strong>do</strong>s professores<br />
de contigencias<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />
Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />
tem o seu foco volta<strong>do</strong> para o conteú<strong>do</strong> e o que o merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho espera que os profissionais tenham competências e<br />
habilidades necessárias à solução de problemas, ao trabalho em<br />
equipe e à liderança, entre outros.<br />
Considerações Finais<br />
As competências e habilidades, quan<strong>do</strong> vistas segun<strong>do</strong><br />
as mais diferentes abordagens deste artigo, tornam evidentes<br />
que o modelo de perfil profissional <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r espera<strong>do</strong> pelo<br />
merca<strong>do</strong> de trabalho: ter proficiência e capacidade para atuar<br />
profissionalmente em um contexto evolutivo.<br />
O conceito de competência emerge como elemento orienta<strong>do</strong>r<br />
em todas as profissões e envolve o conhecimento (o saber,<br />
as informações articuladas operatoriamente), as habilidades<br />
(psicomotoras, ou seja, o “saber fazer” elabora<strong>do</strong> cognitivamente<br />
e sócio-afetivamente), os valores, as atitudes (o “saber ser”, as<br />
predisposições para decisões e ações, construídas a partir de<br />
referenciais estéticos, políticos e éticos) constituí<strong>do</strong>s de forma<br />
articulada e mobiliza<strong>do</strong>s em realizações profissionais, com os<br />
padrões de qualidade requeri<strong>do</strong>s, normal ou distintivamente, das<br />
produções de uma área profissional.<br />
Os parâmetros para o estabelecimento das competências e<br />
habilidades <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r, indicadas pela IFAC, são harmônicos<br />
com os da legislação nacional. Ambos estabelecem que a<br />
formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r profissional deve ser desenvolvida a partir<br />
da combinação de estu<strong>do</strong>s acadêmicos, educação profissional<br />
e treinamento e desenvolvimento no trabalho, de mo<strong>do</strong> a prover<br />
as bases <strong>do</strong> conhecimento, as habilidades e valores profissionais<br />
que os capacitem a continuar a aprender e a adaptar-se a<br />
mudanças durante to<strong>do</strong> o tempo de suas vidas profissionais,<br />
de forma a agregar valor às empresas nas quais trabalham, à<br />
sociedade e a si próprios, por meio da criação de conhecimentos<br />
mais <strong>do</strong> que pela simples geração de informações.<br />
A realidade atual de nossos cursos de Ciências Contábeis<br />
ainda não reflete, em sua plenitude, os ideais de formação<br />
<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r profissional, dentro <strong>do</strong>s padrões nacionais e<br />
internacionais espera<strong>do</strong>s. Os currículos devem ser redireciona<strong>do</strong>s<br />
para que os ideais propostos se transformem em realidade,<br />
assim como os méto<strong>do</strong>s de ensino, que devem ser cada vez<br />
mais instigantes, desafia<strong>do</strong>res, de forma a tornar os alunos cada<br />
vez mais independentes na trajetória da permanente aquisição<br />
de competências e habilidades que os possibilitem a atuar num<br />
merca<strong>do</strong> de trabalho tão diversifica<strong>do</strong> e abrangente como o é o<br />
<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
ALBRECHT, Steve e SACK, Robert J. Formação Contábil:<br />
Mapean<strong>do</strong> o Curso por Meio de um Futuro Arrisca<strong>do</strong>. <strong>Di</strong>sponível<br />
na World Wide Web: , acesso em 30 de setembro<br />
de 2001.<br />
BRASIL, LDB – Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da Educação Nacional<br />
- n. 9394/76, Editora Saraiva, São Paulo, 1997.<br />
BRASIL, Resolução CNE Nº 10/04. <strong>Di</strong>sponível na World Wide<br />
Web: , acesso em 30/03/2006.<br />
DAVIS, Barbara Gross. Tools of Teaching, Jossey Publishers,<br />
San Francisco, California, USA, i993, First Edition.<br />
FAZENDA, Ivani C.A., Coordena<strong>do</strong>ra. Práticas Interdisciplinares<br />
na Escola. São Paulo: Cortez, 1993.<br />
FRANCO, Hilário. A Contabilidade na Era da Globalização.<br />
São Paulo: Atlas, 1999.<br />
91
GIL, Antonio Carlos. Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Ensino Superior. São<br />
Paulo: Atlas, 1997.<br />
GIORGI, <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong> <strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong>; PIZOLATO, Célia de<br />
Lima e MORETTIN, Ana Aparecida. Competências, Habilidades<br />
e o Ensino Superior de Contabilidade. Conselho Regional de<br />
Contabilidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro: Revista Pensar Contábil, Ago/<br />
Out 2001.<br />
GOLDBERG, Maria Amélia et al. Avaliação de Competências<br />
no Desempenho <strong>do</strong> Papel de Orienta<strong>do</strong>r Educacional. Cadernos<br />
de Pesquisas n. 11, Fundação. Carlos Chagas, São Paulo,<br />
dez/1974, pp. 21-60.<br />
IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Manual de<br />
Contabilidade Para Não Conta<strong>do</strong>res. São Paulo: Ed.Atlas 1992.<br />
KRAEMER , Maria E .P . Contabilidade Gerencial no Contexto<br />
Operacional da Atual Economia Globalizada. Revista brasileira de<br />
Contabilidade. Nº 14. pp.72-81.<br />
LAFFIN, Marcos. O Professor de Contabilidade no contexto<br />
de novas exigências. Revista Brasileira de Contabilidade, Ano<br />
XXX nº 127 , pp. 20-32.<br />
LEITE, Elenice M. Reestruturação produtiva, trabalho e<br />
qualificação no Brasil. In: Educação e trabalho no capitalismo<br />
contemporâneo, São Paulo: Atlas, 1996.<br />
MANFREDI, Silvia Maria. Trabalho, qualificação e competência<br />
profissional - das dimensões conceituais e políticas. Educ. Soc.<br />
[online]. set. 1998, vol.19, no.64 [cita<strong>do</strong> 18 Abril 2006], p.13-49.<br />
<strong>Di</strong>sponível na World Wide Web: .<br />
ISSN 0101-7330, acesso em 10/04/2006.<br />
MARION, José Carlos. Quadro Conta<strong>do</strong>r. <strong>Di</strong>sponível na World<br />
Wide Web: . Publica<strong>do</strong> em 31/01/2005, acesso em<br />
25/03/2006.<br />
RAMIREZ, Paulo. A Formação de Competências para o<br />
Profissional de Nível Técnico na Área de Gestão. <strong>Di</strong>ssertação<br />
apresentada no Centro Universitário Nove de Julho, São Paulo,<br />
2000, pp. 120-125.<br />
RIOS, Terezinha Azere<strong>do</strong>. Ética e Competência. São Paulo:<br />
Cortez Editora, 2000.<br />
SERRA NEGRA, Carlos A. Meto<strong>do</strong>logia para o Ensino Contábil:<br />
O Uso de Artigos Técnicos. Revista <strong>do</strong> CRC-RGS, R.G.<strong>do</strong> Sul . p.<br />
43-48. Maio ,1999.p.47.<br />
SCHWES, Nicolau. O reconhecimento de processo de<br />
comunicação e <strong>do</strong> processo de motivação no ensino de<br />
contabilidade. Revista Brasileira de Contabilidade <strong>do</strong> CRC-RGS<br />
– Porto Alegre –v.26-Nº .89 abril-junho/1997.<br />
SILVA, Tânia Moura da. Currículo Flexível: Evolução e<br />
Competência, Revista Brasileira de Contabilidade, Ano XXIX, no.<br />
121, Janeiro/Fevereiro de 2000, pp. 22-27.<br />
The IFAC Draft <strong>Di</strong>scussion Paper” pode ser encontra<strong>do</strong> na<br />
World Wide Web: ifac.org.<br />
Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />
Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />
NoTAS<br />
1- Celia de Lima Pizolato – Mestre em Controla<strong>do</strong>ria e<br />
Contabilidade Estratégica pela Unifecap; Profª da Faculdade Brasília<br />
de São Paulo e Fatec da Zona Leste e de São Berna<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campos<br />
e-mail: celiapizolato@ig.com.br<br />
2- <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong> <strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong> Giorgi - Mestre em Controla<strong>do</strong>ria e<br />
Contabilidade Estratégica pela Unifecap<br />
92
ESumo<br />
Este estu<strong>do</strong> parte da hipótese que, ao promover a inclusão<br />
digital, seria possível melhorar as condições de inclusão social<br />
por meio de inserção no merca<strong>do</strong> de trabalho, especificamente<br />
<strong>do</strong>s jovens da cidade de São Paulo. Desta forma, foi delinea<strong>do</strong><br />
este estu<strong>do</strong>, visan<strong>do</strong> caracterizar os jovens empobreci<strong>do</strong>s da<br />
cidade de São Paulo, participantes <strong>do</strong>s cursos de informática em<br />
três Escolas de Informática e Cidadania (EIC), promovida pelo<br />
Comitê para Democratização da Informática (CDI) de São Paulo,<br />
quanto ao conhecimento de informática; além de identificar as<br />
ações de inclusão digital nestas escolas e analisar se estas ações<br />
são indutoras de inclusão social.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
Exclusão/inclusão digital, exclusão/inclusão social.<br />
ABSTrACT<br />
This study starts from the hypothesis that, by promoting the<br />
digital inclusion, it would become possible to improve the social<br />
inclusion conditions, since it makes it easier to get a job, mainly<br />
for young people in São Paulo City. This research was <strong>do</strong>ne<br />
following this idea, in order to distinguish the poor young people<br />
from São Paulo city, that study in the information courses in three<br />
Information and Citizenship Schools (EIC), that are supported<br />
by the Information Democracy Committee (CDI) of São Paulo,<br />
based on information knowledge; besides that, we also intended<br />
to identify the digital inclusion actions in these schools, and to<br />
analyse if these actions influences the social inclusion.<br />
KEYworDS:<br />
<strong>Di</strong>gital exclusion/inclusion, social exclusion/inclusion.<br />
Renato Hsie 1<br />
93
introdução:<br />
Historicamente, os primeiros sinais de exclusão digital foram<br />
identifica<strong>do</strong>s após a Revolução Industrial no século XVIII, na<br />
Inglaterra, ten<strong>do</strong> ganha<strong>do</strong> reforço posterior no século XIX com a<br />
revolução nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na Inglaterra; essas revoluções<br />
geraram o uso intensivo de novas fontes de energia, exigin<strong>do</strong><br />
conhecimento de novas tecnologias pelos seus usuários.<br />
Porém, o perío<strong>do</strong> que caracteriza o início da era da exclusão<br />
digital (se é que podemos assim denominar) situa-se em<br />
mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, após as duas grandes guerras mundiais,<br />
com o advento <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r. Este instrumento era utiliza<strong>do</strong><br />
inicialmente para realizar cálculos balísticos, auxilian<strong>do</strong> na<br />
trajetória <strong>do</strong>s mísseis. Em 1951, houve uma evolução deste<br />
equipamento, permitin<strong>do</strong> o processamento de da<strong>do</strong>s numéricos<br />
e alfabéticos. Em 1953, a empresa IBM lançou os seus primeiros<br />
mainframes 2 . Em 1971, iniciou-se a era <strong>do</strong>s microprocessa<strong>do</strong>res<br />
que permitem multiplicar inúmeras vezes a capacidade de<br />
processamento de da<strong>do</strong>s. Em 1978, foi cria<strong>do</strong> o Apple II, um<br />
microcomputa<strong>do</strong>r “caseiro”, com monitor colori<strong>do</strong>, entrada para<br />
discos flexíveis e, concomitantemente, é apresenta<strong>do</strong> o primeiro<br />
programa de computa<strong>do</strong>r de planilhas e cálculos, o VisiCalc.<br />
No final <strong>do</strong>s anos 1970, a diminuição <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong><br />
computa<strong>do</strong>r permitiu o seu uso em várias atividades econômicas,<br />
culturais, educacionais, e posteriormente em <strong>do</strong>micílios. Além<br />
disso, houve o aumento progressivo da sua capacidade de<br />
processar informações.<br />
Em 1969, a ARPANET 3 , acrônimo de ARPA 4 Network,<br />
conseguiu interligar quatro centros universitários <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s: Stanford, Berkeley, UCLA e Utah, levan<strong>do</strong> ao surgimento<br />
da Internet. Estas experiências progrediram e, a partir <strong>do</strong>s anos<br />
90, gerou a explosão das conexões à Internet para to<strong>do</strong>s os<br />
computa<strong>do</strong>res, inclusive <strong>do</strong>miciliares.<br />
No Brasil, estas tecnologias chegaram no final <strong>do</strong>s anos<br />
1980, e imediatamente foram sen<strong>do</strong> apropriadas pelo merca<strong>do</strong>,<br />
pela política, pela educação e, lentamente, pelos <strong>do</strong>micílios.<br />
Conseqüentemente, houve a necessidade de capacitação <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res na aquisição de novas proficiências para operar<br />
as máquinas. Assim, o merca<strong>do</strong> de trabalho cada vez mais exige<br />
mão-de-obra qualificada para operar estas novas tecnologias,<br />
condenan<strong>do</strong> grande massa de trabalha<strong>do</strong>res analfabetos digitais<br />
ao desemprego e à exclusão social.<br />
A ONG CDI – Comitê para Democratização da Informática<br />
– surgiu nesse contexto, visan<strong>do</strong> atuar em favor <strong>do</strong>s jovens que<br />
não conseguem ingressar no seu primeiro emprego por falta de<br />
proficiência digital, que vivem em comunidades socialmente<br />
excluídas, fomentan<strong>do</strong> a democratização <strong>do</strong> conhecimento da<br />
informática nestas comunidades.<br />
inclusão/exclusão social <strong>do</strong>s jovens na cidade de São<br />
Paulo.<br />
Inúmeras são as definições e os estu<strong>do</strong>s sobre a temática<br />
inclusão e exclusão social. Dentre elas, face ao nosso objeto<br />
de estu<strong>do</strong>, optamos por analisar as formas de exclusão<br />
especialmente com relação a desinserção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho<br />
e a inserção de jovens, no seu primeiro emprego, na cidade de<br />
São Paulo. A questão da cidadania e seus direitos, incluin<strong>do</strong><br />
trabalho, lazer, cultura, arte e subjetividade pessoal, como formas<br />
de inclusão social, também são trata<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong>.<br />
Na cidade de São Paulo, a exclusão social <strong>do</strong>s jovens é<br />
caracterizada pela sua dificuldade de ingressar no merca<strong>do</strong><br />
de trabalho. Esta dificuldade, em parte, é dada pela falta de<br />
proficiência de alguma habilidade que os tornaria empregáveis.<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
Esta condição de empregabilidade poderia ser obtida a partir <strong>do</strong><br />
conhecimento de novas tecnologias de informação. Por outro<br />
la<strong>do</strong>, a cidade de São Paulo apresenta merca<strong>do</strong> de trabalho<br />
capitalista e globaliza<strong>do</strong>, que tem as suas próprias regras.<br />
Uma destas regras é a de desqualificação de pessoas;<br />
desqualificação esta que se acentua naqueles que não conseguem<br />
acompanhar a evolução <strong>do</strong> sistema. Para estes, restam apenas<br />
os serviços marginais, com baixos salários e geralmente<br />
insuficientes para a sobrevivência digna <strong>do</strong> indivíduo. O merca<strong>do</strong><br />
exclui para incluir de outra forma; esta condição é denominada<br />
por Sawaia (1999) como sen<strong>do</strong> inserção social perversa. Assim,<br />
a sociedade que exclui também inclui, e esta alternância de<br />
exclusão/inclusão constitui-se num processo longo e gradativo<br />
de exclusão segui<strong>do</strong> de inclusão em uma outra realidade, isto é,<br />
de caráter ilusório da inclusão, retiran<strong>do</strong> <strong>do</strong> indivíduo o seu direito<br />
de possuir o mínimo necessário para a sua sobrevivência digna.<br />
“To<strong>do</strong>s estamos inseri<strong>do</strong>s de algum mo<strong>do</strong>, nem sempre decente e<br />
digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sen<strong>do</strong><br />
a grande maioria da humanidade inserida através da insuficiência<br />
e das privações, que se des<strong>do</strong>bram para fora <strong>do</strong> econômico”<br />
(Sawaia, 1999: p. 8).<br />
Outros autores também realizaram estu<strong>do</strong>s sobre processos<br />
excludentes em sociedades contemporâneas, tais como, os<br />
franceses Paugam e Castel, que analisaram as conseqüências<br />
societárias das transformações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, cunhan<strong>do</strong><br />
os conceitos de desqualificação e desfiliação, respectivamente,<br />
especifican<strong>do</strong> processos que seriam trata<strong>do</strong>s genericamente<br />
como sen<strong>do</strong> de exclusão social.<br />
Robert Castel (1988: p. 526-530), ao analisar a questão<br />
social, aponta três situações que são caracterizadas na<br />
sociedade salarial 5 como: “desestabilização <strong>do</strong>s estáveis”,<br />
isto é, trabalha<strong>do</strong>res que possuíam estabilidades no merca<strong>do</strong><br />
de trabalho e que foram expulsos desse sistema produtivo;<br />
a “instalação na precariedade” que atinge principalmente os<br />
jovens, alternan<strong>do</strong> entre perío<strong>do</strong>s de atividade, desemprego e<br />
trabalhos temporários; e, redescoberta <strong>do</strong>s “sobrantes”, como<br />
sen<strong>do</strong>, aqueles que não têm lugar, ou que não são integra<strong>do</strong>s,<br />
nem integráveis na sociedade.<br />
A desfiliação é um termo cunha<strong>do</strong> por Castel apud Wanderley<br />
(1999: p. 21-22) como sen<strong>do</strong> uma ruptura de pertencimento,<br />
de vínculo societal. “Efetivamente, desfilia<strong>do</strong> é aquele cuja<br />
trajetória é feita de uma série de rupturas com relação a esta<strong>do</strong>s<br />
de equilíbrios anteriores, mais ou menos estáveis ou instáveis”.<br />
Nesta condição, estão incluídas as populações com insuficiência<br />
de recursos materiais, assim como aquelas fragilizadas pela<br />
instabilidade <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> relacional; ou seja, populações em vias<br />
de pauperização e também as que estão em vias de desfiliação<br />
com perda de vínculo societal, geran<strong>do</strong> a “ausência de inscrição<br />
<strong>do</strong> sujeito em estruturas que tem um senti<strong>do</strong>”.<br />
De um mo<strong>do</strong> geral, as empresas têm suas matrizes<br />
operacionais baseadas numa sociedade salarial, objetivan<strong>do</strong> a<br />
diminuição de custos e a maximização <strong>do</strong>s lucros. Assim, a corrida<br />
ao máximo da eficiência é movida pela competitividade, geran<strong>do</strong><br />
a desqualificação <strong>do</strong>s menos aptos e exigin<strong>do</strong> a atualização da<br />
formação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res de maneira constante. Assim, nesta<br />
disputa, vence o melhor qualifica<strong>do</strong>, restan<strong>do</strong> aos jovens e,<br />
principalmente, àqueles com dificuldades de acesso aos meios<br />
de qualificação, as vagas de estágios ou outros serviços não<br />
efetivos.<br />
A desqualificação e a desfiliação são processos excludentes<br />
que representam apenas a ponta <strong>do</strong> iceberg, sen<strong>do</strong> ocultada<br />
ainda toda uma série de outros meios de desinserção <strong>do</strong> indivíduo<br />
numa sociedade salarial. A porção submersa é representada pela<br />
grande erosão <strong>do</strong> coeficiente de empregabilidade daqueles que<br />
94
poderiam se inserir no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, ou mesmo, daqueles<br />
que já se encontram nele. Esta erosão é mediada pela diferença<br />
entre as mudanças sucessivas da tecnologia nas indústrias e a<br />
velocidade da desqualificação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
As mudanças tecnológicas requerem novos conhecimentos<br />
e habilidades para manter o trabalha<strong>do</strong>r atualiza<strong>do</strong>. Esta<br />
reciclagem deve ser constante. A estagnação <strong>do</strong> indivíduo<br />
quanto à renovação de suas qualidades profissionais, torna-o<br />
tecnologicamente obsoleto e, como conseqüência, é retira<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> de trabalho, inician<strong>do</strong> assim o processo de exclusão,<br />
com perda <strong>do</strong> status social e até da identidade. Esta exclusão,<br />
segun<strong>do</strong> Paugam (2003: p. 45-47), não se refere apenas ao<br />
esta<strong>do</strong> de uma pessoa que carece de bens materiais, mas<br />
corresponde também a um status social específico, inferior e<br />
desvaloriza<strong>do</strong>, marcan<strong>do</strong> profundamente a identidade daqueles<br />
que a vivenciam. O autor denomina esta perda <strong>do</strong> status social<br />
como sen<strong>do</strong> a desqualificação social, isto é, o estigma que<br />
se associa às populações que se encontram em situação de<br />
precariedade sócio-econômica, constituin<strong>do</strong> o que o autor<br />
denominou de novos pobres.<br />
A nova pobreza é, assim, explicada por Paugam, como sen<strong>do</strong> o<br />
fenômeno que remete a uma série de evoluções simultâneas, que<br />
se referem, em particular, à degradação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho,<br />
com a multiplicação <strong>do</strong>s empregos instáveis e o grande aumento<br />
<strong>do</strong> desemprego prolonga<strong>do</strong>, como também, ao enfraquecimento<br />
<strong>do</strong>s vínculos sociais (2003: p. 31). A pobreza é fruto <strong>do</strong> conflito<br />
entre a problemática da integração normativa e funcional de<br />
indivíduos, onde o emprego é parte essencial, e o produto da<br />
construção social. Ou então, é conseqüência da desqualificação<br />
social decorrente <strong>do</strong> processo relaciona<strong>do</strong> a fracassos, por<br />
um la<strong>do</strong>, e por outro, <strong>do</strong> sucesso da integração social; sen<strong>do</strong><br />
a desqualificação social o inverso da integração social. Nesta<br />
situação, o Esta<strong>do</strong> é convoca<strong>do</strong> para criar políticas de integração,<br />
visan<strong>do</strong> à regulação <strong>do</strong> vínculo social, como garantia de coesão<br />
social (Paugam apud Wanderley, 1999: p. 21).<br />
Um indivíduo que sofre com esses processos excludentes,<br />
relaciona<strong>do</strong>s ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, está também sujeito a<br />
mudanças sociais geradas pela redução de seus relacionamentos.<br />
Esta condição é percebida em grandes cidades onde o sistema<br />
capitalista e globalizada impera, como, por exemplo, em São<br />
Paulo.<br />
Numa cidade como São Paulo, os desemprega<strong>do</strong>s se<br />
encontram numa situação de escassez financeira, que diminui,<br />
inclusive, as suas possibilidades de gerar relacionamentos, que<br />
muitas vezes, dependem de atividades de lazer, restringin<strong>do</strong><br />
estes a laços entre pessoas de sua proximidade territorial. Além<br />
disso, neste contexto, são fatos, também, a precariedade de<br />
emprego e a desfiliação social.<br />
Em “Metamorfoses da questão social”, de Robert Castel, o<br />
elemento trabalho é entendi<strong>do</strong> num contexto além das relações<br />
técnicas de produção, implican<strong>do</strong> num feixe de relações sociais,<br />
culturais e identitárias de indivíduos e grupos. Nesta realidade,<br />
os desemprega<strong>do</strong>s sentem-se ameaça<strong>do</strong>s pela demora ou pela<br />
falta de perspectivas de inserção no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho. Este<br />
processo compromete as relações sociais, reduzin<strong>do</strong> a sua<br />
abrangência e restringin<strong>do</strong> o seu acesso inclusive a serviços<br />
de integração social, nas áreas de educação, lazer e outros.<br />
Além disso, os indivíduos que tentam se inserir pela primeira<br />
vez no merca<strong>do</strong> de trabalho, segun<strong>do</strong> Castel (1998: p. 526-<br />
529), sentem-se angustia<strong>do</strong>s pela demora em ter acesso a um<br />
emprego ou mesmo um estágio. Assim, pela falta de trabalhos<br />
formais, são obriga<strong>do</strong>s a se ocuparem com trabalhos temporários<br />
ou informais, muitas vezes em condições precárias, não ten<strong>do</strong><br />
direito a contrato ou garantias. Esta precarização <strong>do</strong> trabalho<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
é entendida como sen<strong>do</strong> “um processo central, comanda<strong>do</strong><br />
pelas novas exigências tecnológicas-econômicas da evolução<br />
<strong>do</strong> capitalismo moderno”, provocan<strong>do</strong> desestabilização <strong>do</strong>s<br />
estáveis e aumentan<strong>do</strong> o déficit de lugares ocupáveis na estrutura<br />
social, sen<strong>do</strong> estes “posições às quais estão associa<strong>do</strong>s uma<br />
utilidade social e um reconhecimento público”.<br />
Os estu<strong>do</strong>s de exclusão e inclusão social realiza<strong>do</strong>s no<br />
nosso meio, particularmente em São Paulo, corroboram<br />
as idéias apresentadas anteriormente. Segun<strong>do</strong> Dupas, os<br />
contornos toma<strong>do</strong>s pela economia global são fomenta<strong>do</strong>res da<br />
exclusão social. As sociedades emergentes não são capazes<br />
de gerar um modelo de merca<strong>do</strong> com mecanismos que levem<br />
a estabilidades de postos de trabalho, mesmo que flexíveis,<br />
compatíveis com uma renda mínima que seja suficiente para uma<br />
qualidade de vida essencial. Na análise deste autor, a exclusão<br />
social se dá em to<strong>do</strong>s os níveis sociais. Este processo pode ser<br />
identifica<strong>do</strong> não somente nos desemprega<strong>do</strong>s, mas também<br />
naqueles que não conseguem ascensão na sua categoria de<br />
emprego. Quanto aos jovens que tentam se inserir no merca<strong>do</strong><br />
de trabalho, a ausência de oportunidades gera um círculo<br />
vicioso onde a falta de recursos financeiros impede progressos<br />
e é traduzida, na prática, pela falta de chances de educar os<br />
seus filhos, de praticar atividades de lazer como cinema, teatro,<br />
shopping centers, visitar amigos e familiares, sen<strong>do</strong> estes,<br />
condena<strong>do</strong> à exclusão sem direitos; além <strong>do</strong> que a situação da<br />
desesperança por um emprego diminui a sua expectativa pela<br />
vida, dan<strong>do</strong> vigor à infelicidade.<br />
“...as sociedades deste final de século, embora fascinadas por<br />
vários benefícios e promessas oferecidas pela globalização, já<br />
elegeram seu grande inimigo: o me<strong>do</strong> da exclusão social, que<br />
atinge to<strong>do</strong>s os níveis. Os inequivocamente incluí<strong>do</strong>s, acumulam<br />
informações, riqueza e circulam pela aldeia global – têm me<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> potencial de violência <strong>do</strong> excluí<strong>do</strong>, além de um razoável<br />
sentimento de culpa cujo tamanho depende <strong>do</strong> seu grau de<br />
solidariedade social. Aqueles ainda incluí<strong>do</strong>s, assusta<strong>do</strong> com a<br />
diminuição <strong>do</strong>s empregos formais e a redução Esta<strong>do</strong>-protetor,<br />
temem escorregar para a exclusão. E por último, aqueles que<br />
são ou sentem-se excluí<strong>do</strong>s, no seu dia-a-dia de sobreviventes,<br />
tem razões de sobra para sentirem me<strong>do</strong>.” (Dupas, p. 1998:69)<br />
A seguir, Dupas descreve a relação entre o desenvolvimento<br />
tecnológico e a fragilidade da relação de emprego na sociedade<br />
industrial e a sua relação com o Esta<strong>do</strong>:<br />
“Questão que agrava a sensação de exclusão é a deterioração<br />
progressiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no seu tradicional papel de supri<strong>do</strong>r de<br />
serviços essenciais” (...) “Parte da sociedade está começan<strong>do</strong><br />
a acreditar que a globalização traz a exclusão. Esse mal-estar é<br />
devi<strong>do</strong> a inúmeros fatores, mas sem dúvida o mais importante<br />
entre eles é a mudança no paradigma <strong>do</strong> emprego” (...) “fica<br />
claro que hoje há uma crescente e progressiva informalização<br />
das relações de trabalho, decorrente tanto da automação e<br />
modalidades de trabalho à distância, como pelas tendências<br />
de terceirização, porque se respaldam em sólida lógica de<br />
merca<strong>do</strong>: menores preços e maior qualidade <strong>do</strong> produto final”.<br />
(Dupas, 1998: p. 70-75)<br />
As empresas inseridas no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r global tiram<br />
proveito da sua mão-de-obra, de tecnologias e de matériasprimas<br />
existentes da forma mais eficiente possível. As relações<br />
de trabalho são determinadas pelas “transnacionais, que além<br />
de fabricarem diferentes partes <strong>do</strong> produto em diferentes<br />
países, o fazem sob contratos de trabalho varia<strong>do</strong>s. Onde lhes<br />
é conveniente, utilizam mão-de-obra familiar e pagam por peça;<br />
95
outras vezes, contratam nos moldes convencionais de trabalho”<br />
(Dupas, 1999: p. 15). Estas empresas univocamente apresentam<br />
um único objetivo que é minimizar os custos de produção e<br />
maximizar os lucros, levan<strong>do</strong> ao surgimento da precariedade <strong>do</strong><br />
trabalho, uma vez que esta revolução, ocorrida no âmbito das<br />
tecnologias da informação, gerou a perda da importância na<br />
questão da localização espacial e geográfica, isto é, deixou de ser<br />
essencial a instalação <strong>do</strong> indivíduo nas proximidades de algum<br />
centro produtor, já que os seus produtos ou peças de produtos<br />
podem ser advindas de diversas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Desta forma,<br />
a sociedade que possuir maior contingência de trabalha<strong>do</strong>res<br />
desocupa<strong>do</strong>s, ociosos, particularmente jovens, ou seja, aquelas<br />
fatias da sociedade sensíveis à questão da exclusão social, ficam<br />
a mercê <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e assistem à quebra de seu vínculo social,<br />
por falta de condições de acessos.<br />
Assim, verificamos também, segun<strong>do</strong> Roger apud Dupas,<br />
que a exclusão pode se dar em vários aspectos na sua<br />
“multidimensionalidade incluin<strong>do</strong> uma idéia de falta de acesso<br />
não só a bens e serviços, mas também à segurança, à justiça<br />
e à cidadania”. Está intimamente ligada a desigualdades<br />
econômicas, política, cultural e étnica, entre outras. Esses<br />
aspectos de exclusão são aponta<strong>do</strong>s pelo autor em várias<br />
instâncias, sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s considera<strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s: exclusão <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> de trabalho, exclusão <strong>do</strong> trabalho regular, exclusão <strong>do</strong><br />
acesso a moradias decentes e a serviços comunitários, exclusão<br />
<strong>do</strong> acesso a bens e serviços que inclusive públicos, exclusão<br />
dentro <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho, exclusão da possibilidade de<br />
garantir a sobrevivência, exclusão em relação à segurança física,<br />
sobrevivência e proteção contra contingências, exclusão <strong>do</strong>s<br />
direitos humanos (Dupas, 1999: p. 20).<br />
Martins (2002: p. 11) é autor da noção de exclusão perversa.<br />
Para ele a “sociedade que exclui é a mesma que inclui e integra,<br />
que cria formas também desumanas de participação, na medida<br />
em que delas faz condição de privilégios e não de direitos”. E,<br />
ainda, não se trata apenas de diferenças econômicas, mas da<br />
não distribuição igualitária <strong>do</strong>s bens sociais, culturais e políticos<br />
que a sociedade produz.<br />
Assim, exclusão e inclusão sociais fazem parte de um mesmo<br />
processo. Martins retoma os conceitos de pobre, marginaliza<strong>do</strong>s<br />
e excluí<strong>do</strong>s:<br />
Provavelmente estamos mudan<strong>do</strong> o nome da mesma coisa<br />
porque a mesma coisa está nos mostran<strong>do</strong> coisas novas,<br />
que não conhecíamos e não éramos capazes de ver. De certo<br />
mo<strong>do</strong>, a palavra exclusão está desmistifican<strong>do</strong> a palavra pobre.<br />
Através deste pseu<strong>do</strong>conceito, não revela<strong>do</strong>r, que acoberta de<br />
algum mo<strong>do</strong> o que seria o pobre na fase anterior, nós estamos<br />
tentan<strong>do</strong> revelar a nossa desconfiança em relação à antigamente<br />
suposta abrangência explicativa das palavras pobre e pobreza...<br />
a palavra exclusão indica uma dificuldade, mais que uma certeza<br />
– revela uma incerteza no conhecimento que se pode Ter a<br />
respeito daquilo que constitui o objeto da nossa preocupação –<br />
a preocupação com os pobres, os marginaliza<strong>do</strong>s, os excluí<strong>do</strong>s,<br />
os que estão procuran<strong>do</strong> identidade e um lugar aceitável na<br />
sociedade. Portanto, a palavra exclusão nos fala, possivelmente,<br />
de um la<strong>do</strong>, da necessidade prática de uma compreensão nova<br />
daquilo que, não faz muito, to<strong>do</strong>s chamávamos de pobreza<br />
(Martins, 1997: p. 28).<br />
Esta exclusão é mais longa e o tempo que se leva <strong>do</strong><br />
momento da exclusão para o momento da inclusão está cada<br />
vez mais alonga<strong>do</strong>, está deixan<strong>do</strong> de ser um perío<strong>do</strong> transitório.<br />
A inclusão “se dá no plano econômico, pois a pessoa consegue<br />
ganhar alguma coisa para sobreviver, mas não se dá no plano<br />
social” (Martins, 1997: p. 33). Para Martins, o indivíduo ganha o<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
suficiente para a sua sobrevivência, porém não o bastante para<br />
sua sociabilidade.<br />
Ao construir o Mapa de Exclusão e Inclusão Social de São<br />
Paulo, Sposati aborda esses conceitos e sua interligação, ou<br />
seja, as condições de vida das pessoas em sociedade que se<br />
relacionam mutuamente em seus próprios territórios. A autora<br />
também conclui, em sua argumentação, que exclusão e inclusão<br />
fazem parte <strong>do</strong> mesmo processo e explica:<br />
O que se constatou é que a relação exclusão/inclusão social<br />
é indissolúvel ao contrário das meto<strong>do</strong>logias que realizam a<br />
medida da riqueza ou da pobreza como unidade autônomas<br />
com variáveis autoexplicativas. A exclusão e inclusão social<br />
são necessariamente interdependentes. Alguém é excluí<strong>do</strong><br />
de uma dada situação de inclusão. O desafio foi, portanto, o<br />
de resolver esta questão através da construção meto<strong>do</strong>lógica.<br />
(Sposati, Aldaíza. Cidade, Território, exclusão/inclusão Social.<br />
Congresso Internacional de Geoinformação – GEO Brasil/2000.<br />
São Paulo, Palácio das Convenções <strong>do</strong> Anhembi – 16/06/2000.<br />
In: www.dpi.inpe.br/geopro/exclusao/cidades.pdf).<br />
A dialética exclusão/inclusão é também analisada sob ponto<br />
de vista de território, basea<strong>do</strong> no “debate sobre as condições de<br />
vida <strong>do</strong> território como um <strong>do</strong>s instrumentos para concretizar a<br />
redistribuição social no enfrentamento das desigualdades sociais”<br />
(Koga, 2003: p. 19). Esta análise, da relação entre o sujeito e o<br />
território, está intimamente ligada com a dimensão da cidadania<br />
que busca “pelo rompimento <strong>do</strong> processo de naturalização das<br />
situações de exclusão social e de pobreza que se introjeta com<br />
facilidade no cotidiano da sociedade brasileira”.<br />
Para apresentar uma análise sobre as principais<br />
especificidades <strong>do</strong> município de São Paulo, através de alguns<br />
indica<strong>do</strong>res que retratem a configuração socioeconômica, as<br />
características da população, as mudanças verificadas no seu<br />
perfil da década de 90 e sua distribuição no espaço territorial,<br />
Pochmann analisa o que denominou de o aban<strong>do</strong>no e esperança<br />
na cidade de São Paulo. O processo de exclusão e a estratégia<br />
paulistana de inclusão social, onde<br />
a desigualdade de renda, de oportunidades de trabalho,<br />
de acesso à saúde, à justiça, à escola, à cultura, ao lazer, à<br />
segurança, à escolha e cidadania política constituem, cada<br />
uma delas, faces de uma única questão abrangente que,<br />
quan<strong>do</strong> estudada em conjunto e focada sobre os que estão<br />
despoja<strong>do</strong>s desses direitos, costuma chamar-se de exclusão<br />
social (Pochmann, 2003: p. 15).<br />
Pochmann investiga a cidade de São Paulo através de<br />
indica<strong>do</strong>res e mapas produzi<strong>do</strong>s, pela PMSP – Prefeitura <strong>do</strong><br />
Município de São Paulo e SDTS – Secretaria <strong>do</strong> Desenvolvimento,<br />
Trabalho e Solidariedade, “retratan<strong>do</strong> a cidade de forma<br />
abrangente, levan<strong>do</strong> em consideração temas que vão <strong>do</strong><br />
nível de renda das famílias até o número de homicídios entre<br />
jovens, e a descrição da reação paulistana a exclusão social”<br />
(Pochmann, 2003: p. 13). No seu estu<strong>do</strong>, Pochamann compara<br />
a velha exclusão, a situação das pessoas antes da década de<br />
1980, e, a nova exclusão nos últimos 24 anos. No quadro 3, o<br />
autor interpretou critérios de manifestação da nova e da velha<br />
exclusão social através de alguns indica<strong>do</strong>res de condições de<br />
vulnerabilidade apresentadas pela SDTS/PMSP, 2002.<br />
96
Condições de<br />
Vulnerabilidade<br />
Faixa Etária<br />
Raça e Procedência<br />
Estrutura Familiar<br />
Condição de<br />
Habitação<br />
Conhecimento<br />
Posição no Trabalho<br />
Renda<br />
Quadro 1: Critérios de manifestação<br />
da Nova e da Velha Exclusão Social.<br />
Velha Exclusão<br />
Presença de crianças<br />
Negro e/ou imigrante<br />
Muitos dependentes<br />
Ausência de moradia<br />
Analfabetismo na<br />
língua pátria<br />
Ocupa<strong>do</strong> com baixa<br />
produtividade<br />
Insuficiente<br />
monetização<br />
Fonte: SDTS/PMSP, 2002 apud (Pochmann, 2003: 21)<br />
Nova Exclusão<br />
Presença de velhos<br />
Branco e/ou não<br />
migrante<br />
Monoparentais<br />
Moradia precária<br />
Analfabeto digital<br />
Desemprego<br />
recorrente<br />
Desmonetiza<strong>do</strong><br />
Esse processo renova<strong>do</strong> de produção e reprodução de<br />
exclusão social está longe de substituir a velha, sobrepon<strong>do</strong>se<br />
a ela. A exclusão nova está transbordan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s lugares onde<br />
antes esteve configurada: mun<strong>do</strong> rural, Nordeste, e franjas <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> de trabalho urbano. Ou seja, analfabetismo na língua<br />
pátria, ocupação de baixa produtividade, negro e imigrante,<br />
famílias numerosas etc. Novas características surgem como<br />
fomenta<strong>do</strong>ras da exclusão social, como, o analfabetismo<br />
digital, desemprego recorrente, branco e não imigrante, famílias<br />
monoparentais, entre outros.<br />
Inseri<strong>do</strong>s neste contexto, os jovens da cidade de São Paulo<br />
buscam as suas formas de sobrevivência, tentan<strong>do</strong> se posicionar<br />
na sociedade. A exclusão social <strong>do</strong>s jovens paulistanos é<br />
caracterizada pela sua dificuldade de se ingressar no merca<strong>do</strong><br />
de trabalho. A falta de oportunidades aliada à formação escolar<br />
precária e restrições ao acesso a atividades sócio-culturais<br />
dificulta ainda mais a sua inserção na sociedade. O baixo nível<br />
de educação escolar pode ser representa<strong>do</strong> pelo índice de<br />
analfabetismo que segun<strong>do</strong> IBGE, Censos Demográficos <strong>do</strong><br />
perío<strong>do</strong> de 1999 e 2000, apresentou na região Sudeste <strong>do</strong> Brasil<br />
entre jovens de 15 a 24 anos, 34,1% em 1999 e 17,1% em 2000.<br />
Além disso, a baixa qualidade de educação pública é dada não<br />
apenas pela falta de infra-estrutura, como também, o baixo salário<br />
<strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res geran<strong>do</strong> desinteresse, levan<strong>do</strong> à formação de<br />
jovens com qualificação insuficiente. Não obstante, os jovens<br />
que estão inseri<strong>do</strong>s em algum tipo de trabalho, muitas vezes<br />
são descarta<strong>do</strong>s por falta de proficiência ou de conhecimentos<br />
atualiza<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a realidade <strong>do</strong> trabalho.<br />
Essas condições deterioradas, acompanhadas de um processo<br />
educativo descompassa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sujeitos jovens e a<strong>do</strong>lescentes,<br />
produzem como resulta<strong>do</strong>s o desinteresse, a resistência,<br />
dificuldades escolares acentuadas e, muitas vezes, práticas<br />
de violência, que caracterizam a rotina das unidades escolares<br />
(Sposito, 2003:16).<br />
Como conseqüência, os jovens, muitas vezes, nesta busca<br />
pela inserção no circuito econômico e no meio social, acabam se<br />
situan<strong>do</strong> de uma forma inadequada, precária.<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
Assim, diante de to<strong>do</strong>s estes fatores, os jovens na cidade de<br />
São Paulo, buscam meios de qualificação para que se tornem<br />
empregáveis. Construímos para este estu<strong>do</strong>, a hipótese de que<br />
o conhecimento de novas tecnologias de informação pode ser<br />
um <strong>do</strong>s meios para se alcançar a condição de empregabilidade,<br />
ajudan<strong>do</strong> o indivíduo a se inserir no merca<strong>do</strong> de trabalho,<br />
melhoran<strong>do</strong> a sua situação no contexto social. Assim, a inclusão<br />
digital é, a seguir, discutida, como uma das formas de se alcançar<br />
às novas tecnologias de informação.<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens na cidade de São<br />
Paulo.<br />
A exclusão digital diz respeito à falta de acesso a informação<br />
gerada e transmitida pelo computa<strong>do</strong>r e pelo desconhecimento<br />
mínimo <strong>do</strong> uso de computa<strong>do</strong>r como proficiência para o merca<strong>do</strong><br />
de trabalho.<br />
O acesso ao mun<strong>do</strong> digital pode ser alcança<strong>do</strong> em diversas<br />
instâncias: nas residências, no trabalho, nas viagens durante<br />
negócios, nas escolas, nos serviços públicos, entre outras.<br />
Segun<strong>do</strong> Neri 6 (2003), a inclusão digital é cada vez mais parceira<br />
da cidadania e da inclusão social, e ainda, está presente desde<br />
o voto nas urnas eletrônicas ao uso <strong>do</strong>s cartões bancários <strong>do</strong><br />
Bolsa-Escola, passan<strong>do</strong> pelo primeiro contato <strong>do</strong>s jovens como<br />
computa<strong>do</strong>r que poderá ser o passaporte para o acesso ao<br />
primeiro emprego.<br />
O combate à exclusão digital, também denominada por<br />
Neri de “brecha digital”, não se resume apenas em prover os<br />
desprovi<strong>do</strong>s da tecnologia digital. A cada ano que passa, surgem<br />
novas tecnologias, trazen<strong>do</strong> mais velocidade de processamento<br />
de informações e tornan<strong>do</strong> os equipamentos de gerações<br />
anteriores obsoletos. Esta brecha digital tende aumentar à<br />
medida que as tecnologias digitais vão sen<strong>do</strong> renovadas. A<br />
cada inovação/substituição, novas proficiências tornam-se<br />
necessárias como requisito de qualificação <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res<br />
destes novos equipamentos.<br />
Oportunizar aos excluí<strong>do</strong>s digitais novas proficiências significa<br />
incluí-los digitalmente. Essa inclusão digital objetiva diminuir a<br />
distância informacional entre os que <strong>do</strong>minam e aqueles que são<br />
leigos das tecnologias emergentes e promove vias de ganho aos<br />
excluí<strong>do</strong>s digitais e, também, os excluí<strong>do</strong>s sociais.<br />
Ainda de acor<strong>do</strong> com Neri, existem poucos diagnósticos e<br />
debates sobre o binômio inclusão-exclusão digital, devi<strong>do</strong> ao<br />
tardio reconhecimento da importância <strong>do</strong> tema no escopo das<br />
políticas públicas ou, quan<strong>do</strong> a discussão existe, está raramente<br />
ligada ao acesso pelo usuário “pobre”, seja ele trabalha<strong>do</strong>r,<br />
desemprega<strong>do</strong> ou estudante. O autor acredita que a inclusão<br />
digital funciona como cria<strong>do</strong>ra de oportunidades de geração de<br />
renda e de cidadania na nossa desigual sociedade, em plena era<br />
<strong>do</strong> conhecimento.<br />
Para Silveira 7 , os “novos excluí<strong>do</strong>s” são aqueles que não<br />
conseguem se comunicar na velocidade <strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s através<br />
da comunicação mediada por computa<strong>do</strong>r. Os incluí<strong>do</strong>s têm a<br />
possibilidade desta comunicação através uso da internet, na<br />
rede de computa<strong>do</strong>res mediada por prove<strong>do</strong>res de acesso e da<br />
linha telefônica. Assim, os novos excluí<strong>do</strong>s representam aqueles<br />
que não têm acesso a essas novas tecnologias.<br />
A era atual é regida pelo computa<strong>do</strong>r e o seu desenvolvimento<br />
desenfrea<strong>do</strong>, tornan<strong>do</strong> a comunicação, baseada no envio de<br />
mensagens eletrônicas, numa velocidade quase instantânea,<br />
facilitan<strong>do</strong> e amplian<strong>do</strong> os contatos, inclusive no contexto<br />
internacional. O conhecimento destas novas tecnologias,<br />
responsáveis pela evolução da computação, é aponta<strong>do</strong> pelo<br />
97
Silveira como facilita<strong>do</strong>ras de acesso ao trabalho, pois “para<br />
se obter um emprego, cada vez mais será preciso ter alguma<br />
destreza no uso <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r” (2001: p. 17). Conseqüentemente<br />
é fator de ampliação das chances <strong>do</strong> indivíduo ser incluí<strong>do</strong><br />
socialmente, “uma vez que as principais atividades econômicas,<br />
governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade<br />
vão migran<strong>do</strong> para a rede, sen<strong>do</strong> praticadas e divulgadas por<br />
meio da comunicação informacional” (Silveira, 2001: p. 18).<br />
O uso <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r está presente nos diversos setores de<br />
trabalho; tais como, escolas, repartições públicas, indústrias,<br />
presta<strong>do</strong>ras de serviços, enfim, em to<strong>do</strong>s os campos onde se<br />
almeja maior velocidade de produção. Dessa forma, através<br />
destas novas tecnologias, há a redução <strong>do</strong> tempo em que o<br />
objetivo daquela tarefa é alcança<strong>do</strong>.<br />
O <strong>do</strong>mínio destas destrezas é imprescindível na procura de<br />
empregos, principalmente para jovens que querem trabalhar,<br />
sen<strong>do</strong>, muitas vezes, um pré-requisito primordial.<br />
A sociedade da capital paulistana é cada vez mais provida<br />
de informação mediada pelo computa<strong>do</strong>r. Assim, aquele que<br />
não souber “manipular, reunir, desagregar, processar e analisar<br />
informações ficará distante da produção <strong>do</strong> conhecimento,<br />
estagna<strong>do</strong> ou ven<strong>do</strong> se agravar sua condição de miséria”<br />
(Silveira, 2001: p. 21).<br />
A manipulação de da<strong>do</strong>s é somente possível ao indivíduo que<br />
conhecer os tipos de sistemas operacionais que estão inseri<strong>do</strong>s<br />
no computa<strong>do</strong>r e seus coman<strong>do</strong>s, tornan<strong>do</strong> o computa<strong>do</strong>r um<br />
instrumento obediente ao seu comandante. Esses coman<strong>do</strong>s<br />
permitem ao usuário reunir, desagregar e processar os da<strong>do</strong>s,<br />
transforman<strong>do</strong>-os em informações.<br />
Por esta razão, a necessidade de assegurar o acesso às<br />
pessoas excluídas deste sistema de tecnologia e informação é<br />
primordial como “estratégia de inclusão social”. Para isto, Silveira<br />
propõe:<br />
... a formulação de políticas públicas de orientação, educação<br />
não-formal, proficiência tecnológica e de uso das novas<br />
tecnologias da informação para mudar a vida, ou seja, para<br />
fomentar instrumentos ágeis para organizar reivindicações,<br />
realizar referen<strong>do</strong>s e plebiscitos, lutar por prioridades<br />
orçamentárias, fiscalizar por prioridades orçamentárias,<br />
fiscalizar governos e expor preocupações e necessidades<br />
coletivas (Silveira, 2001: p. 22).<br />
A formulação dessas políticas públicas, citadas por Silveira, já<br />
está sen<strong>do</strong> realizada e com resulta<strong>do</strong>s, para os primeiros grupos<br />
de incluí<strong>do</strong>s digitais. Os telecentros, instala<strong>do</strong>s pela Prefeitura<br />
da Cidade de São Paulo, promovem aprendiza<strong>do</strong> aos excluí<strong>do</strong>s<br />
digitais através <strong>do</strong> uso de softwares livres.<br />
Os softwares livres são sistemas operacionais denomina<strong>do</strong>s<br />
Linux, que executam tarefas idênticas aos sofwares priva<strong>do</strong>s<br />
(Microsoft). Nos telecentros, são ensina<strong>do</strong>s os coman<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
Linux para execução das tarefas como editoração de textos,<br />
planilhas de cálculos, banco de da<strong>do</strong>s, páginas de apresentações<br />
e internet.<br />
O governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo vem fomentan<strong>do</strong> a<br />
inclusão digital através <strong>do</strong> projeto Acessa São Paulo, dispon<strong>do</strong><br />
computa<strong>do</strong>res em lugares estratégicos, por exemplo, no Poupa<br />
Tempo, permitin<strong>do</strong>, a digitação de currículos profissionais e o<br />
acesso a internet para a procura de empregos.<br />
Iniciativas como Fundações empresariais, organizações não<br />
governamentais e associações de bairro já estão receben<strong>do</strong><br />
computa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s para projetos de inclusão digital.<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
Todas essas iniciativas objetivam promover a proficiência aos<br />
excluí<strong>do</strong>s digitais e, juntamente com outras atividades sociais e<br />
culturais, possibilitam a melhora da qualidade de vida <strong>do</strong>s jovens,<br />
tornan<strong>do</strong>-os mais sociáveis, atribuin<strong>do</strong>-lhes conhecimentos<br />
básicos para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.<br />
Silveira (2001: p. 23) ainda aponta que inclusão digital é<br />
importante para redução da miséria, rompen<strong>do</strong> a “reprodução<br />
<strong>do</strong> ciclo da ignorância e <strong>do</strong> atraso tecnológico”.<br />
Uma das conseqüências da inclusão digital é favorecer<br />
grandes conglomera<strong>do</strong>s da nova economia “com mão-deobra<br />
capacitada”, com experiências no uso das redes e com<br />
“habilidade em informática”, crian<strong>do</strong> também enorme contingente<br />
de “consumi<strong>do</strong>res de produtos de informática, hardware, software<br />
e serviços de manutenção”. Ou seja, com a inclusão digital, mais<br />
pessoas podem acessar as novas tecnologias e seus serviços.<br />
Desta forma, Silveira defende uma justiça de cobrança destes<br />
conglomera<strong>do</strong>s da nova economia, de tal forma que haja um<br />
meio de troca justa em contrapartida ao “crescimento de seus<br />
lucros com a prática e manutenção da inclusão digital” (Silveira,<br />
2001: p. 23).<br />
Assim, conclui o autor, as pessoas apartadas da sociedade<br />
da informação estão perceben<strong>do</strong> a importância de sua inserção,<br />
buscan<strong>do</strong> as menores brechas para não perderem os bits da<br />
história. O computa<strong>do</strong>r conecta<strong>do</strong> à Internet já é para as famílias<br />
uma esperança de um futuro melhor para seus filhos. Ou seja, o<br />
conhecimento de novas tecnologias promove melhores chances<br />
para inserção no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.<br />
A inclusão digital já se encontra presente nas escolas públicas<br />
de várias cidades brasileiras, principalmente na cidade de São<br />
Paulo. Segun<strong>do</strong> o Censo Escolar de 2001, <strong>do</strong> INEP, da totalidade<br />
de alunos matricula<strong>do</strong>s no ensino fundamental regular, 25,4%<br />
estava matriculada em escolas com acesso a internet e, no<br />
ensino médio regular este número é de 45,6%. Um estu<strong>do</strong> feito<br />
pelo Mapa de Inclusão/Exclusão <strong>Di</strong>gital 8 em 2003 apontou que<br />
a correlação entre desempenho escolar e acesso a computa<strong>do</strong>r<br />
é positiva em todas as faixas etárias e é maior na faixa que<br />
compreende os alunos de 13 a 18 anos que freqüentam a oitava<br />
série. Como resulta<strong>do</strong>, houve melhor desempenho desses alunos<br />
nas provas de Português e de Matemática, onde os maiores<br />
impactos foram constata<strong>do</strong>s.<br />
A discrepância da escolaridade média entre os incluí<strong>do</strong>s<br />
e excluí<strong>do</strong>s digitais, segun<strong>do</strong> mostra o Mapa de Inclusão e<br />
Exclusão <strong>Di</strong>gital, é praticamente o <strong>do</strong>bro, onde os incluí<strong>do</strong>s<br />
digitais possuem 8,72 anos <strong>completo</strong>s de estu<strong>do</strong>. Além disso,<br />
o Mapa mostrou que a renda média <strong>do</strong> primeiro grupo é de R$<br />
1677,00 contra os R$ 569,00 <strong>do</strong> total da população.<br />
O Brasil possui segun<strong>do</strong> o Censo de 2000, fonte IBGE, apenas<br />
10,29% de mora<strong>do</strong>res com acesso ao computa<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> São<br />
Paulo o líder de to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s brasileiros na inclusão digital<br />
com 17,98% de seus mora<strong>do</strong>res.<br />
A controvérsia desta revolução tecnológica pode ser deduzida<br />
através da exclusão digital no mun<strong>do</strong> e, particularmente, no<br />
Brasil. O quadro 4, mostra a posição brasileira no ranking de<br />
número de hosts 9 no mun<strong>do</strong>.<br />
98
PAÍSES<br />
Quadro 2: ranking de número de hosts no mun<strong>do</strong>.<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
Japão<br />
Itália<br />
Canadá<br />
Alemanha<br />
Reino Uni<strong>do</strong><br />
Austrália<br />
Holanda<br />
Brasil<br />
Taiwan<br />
França<br />
Espanha<br />
Demais Países<br />
Total de Hosts em 30 países<br />
Fonte: Network Wizards, 2003.<br />
O quadro 3 mostra que o Brasil ocupa a nona classificação,<br />
com apenas 1,34%, seguida por Taiwan e França, com 1,30% e<br />
1,29%, respectivamente. Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ocupam a primeira<br />
posição com 72,03%, apresentan<strong>do</strong> o maior número de hosts<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
Nas Américas, o Brasil assume uma posição melhor no<br />
ranking. O quadro 5 mostra que o Brasil ocupa terceiro lugar,<br />
com 1,75%, no ranking antecedi<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, com<br />
94,35%, e Canadá, com 2,34%. Na América <strong>do</strong> Sul, o Brasil<br />
ocupa o primeiro no ranking com 73% e seguida pela Argentina<br />
com 16,23%.<br />
PAÍSES<br />
Quadro 3: ranking de número de hosts na América.<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
Canadá<br />
Brasil<br />
México<br />
Argentina<br />
Chile<br />
Uruguai<br />
Colômbia<br />
Rep. Dominicana<br />
Venezuela<br />
Peru<br />
Guatemala<br />
Outros<br />
Total de Hosts em 15 países<br />
Fonte: Network Wizards, 2003.<br />
HoSTS<br />
120571516<br />
9260117<br />
3864315<br />
2993982<br />
2891407<br />
2583753<br />
2564339<br />
2415286<br />
2237527<br />
2170233<br />
2157628<br />
1694601<br />
11980296<br />
167385000<br />
HoSTS<br />
120571516<br />
2993982<br />
2237527<br />
1107795<br />
495920<br />
135155<br />
78660<br />
55626<br />
45508<br />
24138<br />
17447<br />
9789<br />
15937<br />
127789000<br />
No Brasil, apesar da sua boa classificação 10 no nível mundial,<br />
nas Américas e na América <strong>do</strong> Sul, o número de pessoas que se<br />
conectam à Internet, ou simplesmente denomina<strong>do</strong>s de usuários<br />
de computa<strong>do</strong>res é muito pequeno. Segun<strong>do</strong> a Sociedade da<br />
Informação no Brasil – Livro Verde, o nível de alfabetização digital<br />
%<br />
72,03%<br />
5,53%<br />
2,31%<br />
1,79%<br />
1,73%<br />
1,54%<br />
1,53%<br />
1,44%<br />
1,34%<br />
1,30%<br />
1,29%<br />
1,01%<br />
7,16%<br />
100%<br />
%<br />
94,35%<br />
2,34%<br />
1,75%<br />
0,87%<br />
0,39%<br />
0,11%<br />
0,06%<br />
0,04%<br />
0,04%<br />
0,02%<br />
0,01%<br />
0,01%<br />
0,01%<br />
100,00%<br />
da população brasileira é muito baixo. As oportunidades de<br />
aquisição das noções básicas de informática indispensáveis para<br />
acesso à rede e seus serviços são insuficientes. O desenvolvimento<br />
histórico da Internet no Brasil foi marca<strong>do</strong>, desde a sua origem<br />
no final da década de 1980, por estreita aliança entre o setor<br />
acadêmico e as ONGs, destacan<strong>do</strong>-se a cooperação entre<br />
a RNP 11 e o Ibase 12 , que culminou com o esforço de abertura<br />
de serviços internet para quaisquer interessa<strong>do</strong>s, ocorrida em<br />
1995.<br />
No cenário de inclusão/exclusão digital até aqui descrito,<br />
existe uma questão instigante à nossa reflexão – “é possível<br />
pensar a inclusão social a partir da inclusão digital?”.<br />
Segun<strong>do</strong> a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, RNP 13 ,<br />
o objetivo da Inclusão <strong>Di</strong>gital é a Inclusão Social. O que se<br />
quer é erradicar, no campo da tecnologia de informação e de<br />
comunicação, algo análogo ao analfabetismo funcional, e não<br />
a qualificação de pessoas nos aspectos mais avança<strong>do</strong>s da<br />
tecnologia de informação e de comunicação.<br />
Entende-se, então, que a inclusão digital é uma das formas<br />
de indução à inclusão social para as classes subalternas, sen<strong>do</strong>,<br />
assim, um <strong>do</strong>s objetivos da Inclusão <strong>Di</strong>gital é a Inclusão Social.<br />
Desta forma, a essência da inclusão digital em primeira<br />
instância, caracteriza-se pela alfabetização digital na busca da<br />
inclusão social. A alfabetização digital<br />
é uma expressão que remete ao processo de capacitação<br />
da população para que essa ganhe proficiência na utilização<br />
<strong>do</strong>s recursos de tecnologia de informação e de comunicação<br />
disponíveis. Sua definição clara é fundamental, pois pode levar<br />
à dissipação de recursos que devem se concentrar na solução<br />
da questão da Inclusão <strong>Di</strong>gital, delimitar os contornos <strong>do</strong><br />
que é “utilizar com proficiência os recursos de tecnologia de<br />
informação e de comunicação disponíveis”, dada a ênfase em<br />
inclusão social que deve pautar o processo de Inclusão <strong>Di</strong>gital.<br />
(RNP, acesso 15/01/2003)<br />
A seguir, mostramos a importância de atividades sócioculturais<br />
e o impacto na vida de jovens paulistanos, principalmente<br />
na sua inserção ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.<br />
meto<strong>do</strong>logia<br />
Foi utiliza<strong>do</strong> como universo empírico desta pesquisa, a<br />
organização não governamental que mais empreende inclusão<br />
digital no Brasil, a CDI-SP, que promove Escolas de Informática<br />
e Cidadania.<br />
O seguinte caminho meto<strong>do</strong>lógico foi utiliza<strong>do</strong> nesta<br />
pesquisa:<br />
1- Pesquisa bibliográfica sobre a temática, inclusive na rede<br />
mundial de computa<strong>do</strong>res;<br />
2- Aproximação à temática da inclusão digital pela<br />
participação em encontros e eventos;<br />
3- Pesquisa <strong>do</strong>cumental da ONG CDI e das EICs pesquisadas.<br />
4- Pesquisa de campo.<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
A escolha <strong>do</strong> universo da pesquisa, as regiões sul, sudeste<br />
e centro-sul da Cidade de São Paulo que possuem 36 <strong>do</strong>s 96<br />
distritos da cidade, deve-se ao fato de que nesse espaço territorial<br />
há distritos com índices compostos de inclusão e exclusão social<br />
e de desenvolvimento humano (IEX DH) polariza<strong>do</strong>s.<br />
Para escolha da amostra utilizamos o Mapa da Exclusão/<br />
Inclusão Social da cidade de São Paulo 14 , 2002, elabora<strong>do</strong> pelo<br />
99
Núcleo de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa em Seguridade e Assistência<br />
Social – NEPSAS-PUCSP, Instituto de Pesquisas Espaciais<br />
– INPE – Programa de Pesquisas em Geoprocessamento e<br />
Instituto de Estu<strong>do</strong>s, Formação e Assesoria em Políticas Sociais<br />
– PÓLIS. O Mapa da Exclusão/Inclusão Social, segun<strong>do</strong> seus<br />
pesquisa<strong>do</strong>res, é “uma meto<strong>do</strong>logia de análise geo-espacial de<br />
da<strong>do</strong>s e produção de índices intra-urbanos sobre a exclusão/<br />
inclusão social e a discrepância territorial da qualidade de vida”.<br />
Ele permite conhecer “o lugar” <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s (sua posição geográfica<br />
no território) como elemento para a análise geo-quantitativa da<br />
dinâmica social e da qualidade ambiental. Constrói índices de<br />
discrepância (IDI) e índices compostos de exclusão/inclusão<br />
social (IEX). Foram escolhidas para composição da amostra da<br />
pesquisa, as Escolas de Informática e Cidadania, localizadas nos<br />
distritos com menor, médio e maior IEX DX 15 .<br />
Os distritos que compõe o universo da pesquisa são: Vila<br />
Mariana, Moema, Saúde, Campo Belo, Santo Amaro, Jabaquara,<br />
Campo Grande, Pari, Brás, Belém, Tatuapé, Mooca, Água Rasa,<br />
Carrão, Vila Formosa, Aricanduva, Ipiranga, Vila Prudente, São<br />
Lucas, Sapopemba, Cursino, Sacomã, Vila Andrade, Campo<br />
Limpo, Capão Re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, Jardim São Luis, Socorro, Cidade Dutra,<br />
Cidade Ademar, Pedreira, Grajaú, Parelheiros e Marsilac, ten<strong>do</strong><br />
si<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong>s para amostra os seguintes distritos: Campo<br />
Belo, Capão Re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> e Jabaquara.<br />
A pesquisa qualitativa foi realizada por meio de entrevistas<br />
estruturadas a partir de questões abertas e fechadas, previamente<br />
estabelecidas.<br />
Para sistematização e análise, os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s nas<br />
entrevistas foram trata<strong>do</strong>s, de mo<strong>do</strong> a compreendê-los<br />
criticamente.<br />
O público atendi<strong>do</strong> pelas Escolas de Informática e Cidadania<br />
é composto de jovens de ambos os sexos, escolaridade variada,<br />
com ou sem trabalho e situa<strong>do</strong>s entre 16 a 21 anos.<br />
Foram entrevista<strong>do</strong>s 30 alunos, de três EICs: Gotas de Flor<br />
com Amor, Fundação Gabi e Associação Beneficente Provisão,<br />
localiza<strong>do</strong>s em distritos cujos índices compostos de inclusão<br />
e exclusão social e de desenvolvimento humano (IEX DH) são<br />
–0,72, -0,36 e 0,59 respectivamente, e ICJ 0,22, 0,39 e 0,59<br />
respectivamente.<br />
Conclusão<br />
Alguns resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com relação às características<br />
<strong>do</strong>s 30 jovens entrevista<strong>do</strong>s refletem a realidade <strong>do</strong>s jovens<br />
da cidade de São Paulo. O pre<strong>do</strong>mínio de mulheres em busca<br />
da capacitação informacional mostra a ampliação <strong>do</strong> papel da<br />
mulher como prove<strong>do</strong>ra de renda da família, necessitan<strong>do</strong> de<br />
melhor qualificação a fim de alcançar melhores empregos, com<br />
melhores salários. As características individuais obti<strong>do</strong>s por esta<br />
pesquisa como a cor da pele, a idade mediana e a escolaridade<br />
<strong>do</strong>s jovens são comparáveis aos levanta<strong>do</strong>s pelo Mapa da<br />
Juventude, sen<strong>do</strong> representativo para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jovens da<br />
cidade de São Paulo.<br />
Entre os jovens, assim como foram detecta<strong>do</strong>s na pesquisa,<br />
particularmente aqueles que estão tentan<strong>do</strong> a inserção no merca<strong>do</strong><br />
de trabalho pela primeira vez, as suas oportunidades de trabalho,<br />
além de escassas, são também precárias, fazen<strong>do</strong> serviços pouco<br />
qualifica<strong>do</strong>s e inconstantes, alimentan<strong>do</strong> a gênese de trabalhos no<br />
setor de serviços por meio de prestação a terceiros. Castel (1998:<br />
p. 493) afirmava a respeito de “déficit de integração” que havia<br />
marca<strong>do</strong> o início da na sociedade industrial através <strong>do</strong> crescimento<br />
<strong>do</strong> consumo, <strong>do</strong> acesso à precariedade ou à moradia decente, da<br />
maior participação na cultura e no lazer, <strong>do</strong>s avanços na realização<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
de uma maior igualdade de oportunidades, a consolidação <strong>do</strong><br />
direito <strong>do</strong> trabalho, a extensão das proteções sociais, a supressão<br />
<strong>do</strong>s bolsões de pobreza, etc.<br />
Foi verifica<strong>do</strong> nesta pesquisa, quanto ao uso da informática,<br />
a maioria <strong>do</strong>s jovens ainda acredita que o conhecimento desta<br />
tecnologia pode abrir caminhos para a inserção no merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho, enquanto que alguns têm interesse em adquirir mais<br />
conhecimentos através <strong>do</strong> acesso à rede mundial de informação<br />
(Internet), e uma minoria nem sabe o que fazer ainda com esta<br />
aquisição. Com isto, pode-se concluir que a inclusão digital ainda<br />
é um tema da atualidade, poden<strong>do</strong> representar, para muitos, um<br />
determinante de sua condição no merca<strong>do</strong> de trabalho, com<br />
repercussão na sua situação social.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, <strong>do</strong>minar as técnicas de informática, para<br />
muitos jovens, pode representar um importante meio de lazer,<br />
às vezes, até o único meio, através <strong>do</strong> acesso à Internet. Os<br />
jovens empobreci<strong>do</strong>s tendem a se confinar cada vez mais a<br />
relacionamentos nas proximidades onde vivem, para evitar gastos<br />
e porque é nesse meio onde ele se identifica, onde, “os lugares<br />
de exclusão e pobreza revelam uma composição cada vez mais<br />
sólida, onde formam um verdadeiro mar de “déficit de cidadania”,<br />
em torno de algumas ilhas de inclusão e riqueza” (Koga, 2003:<br />
p. 79). Estreita-se assim o seu horizonte de conhecimento da<br />
cultura e das atividades de lazer. A Internet, nesse momento,<br />
seria um meio de acesso a estas atividades.<br />
Entretanto, a proposta das EICs foi de oferecer, além <strong>do</strong>s<br />
cursos de informática, atividades sócio-culturais que levassem<br />
ao conhecimento e prática da cidadania, contribuin<strong>do</strong> na<br />
formação <strong>do</strong> indivíduo (jovem), enquanto cidadão ativo, atuante,<br />
capacita<strong>do</strong>s para a organização, a participação e a intervenção<br />
social. Sob este aspecto, o resulta<strong>do</strong> obti<strong>do</strong> foi heterogêneo, pois<br />
apenas a EIC Gotas de Flor com Amor apresentou infra-estrutura<br />
apropriada para oferecer este tipo de atividades. Assim, mais<br />
uma vez, mesmo nas escolas que buscam acesso a meios de<br />
cultura aos jovens, objetivan<strong>do</strong> a ampliação da cidadania, não<br />
oferecem maiores oportunidades de conhecimento e de inserção<br />
no território de vivência destes jovens.<br />
Pelos resulta<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, analisan<strong>do</strong> as possibilidades<br />
de inclusão social de jovens empobreci<strong>do</strong>s, pela alfabetização<br />
digital promovida pelas EICs subsidiadas pelo CDI na cidade<br />
de São Paulo, podemos concluir que, a hipótese deste trabalho<br />
confirma-se parcialmente. A aquisição de novas tecnologias de<br />
informação e o acesso ao conhecimento, a inclusão digital, pode<br />
melhorar a situação <strong>do</strong>s jovens no merca<strong>do</strong> de trabalho, mas<br />
ela, exclusivamente, não é suficiente como indutora de inclusão<br />
social, necessitan<strong>do</strong> de ser composta com meios de promoção<br />
às atividades sócio-culturais, amplian<strong>do</strong> o conhecimento e o<br />
exercício da cidadania. Este conjunto, como um to<strong>do</strong>, faria com<br />
que os jovens se tornassem produtores de suas realizações,<br />
não somente no que se refere ao trabalho como emprego, mas<br />
também, como agentes cria<strong>do</strong>res e transforma<strong>do</strong>res no meio em<br />
que vivem. Promover a inclusão social através da inclusão digital<br />
significa capacitar os jovens com tecnologia de informação,<br />
melhoran<strong>do</strong> a sua inserção no merca<strong>do</strong> de trabalho; alia<strong>do</strong> a<br />
fatores coadjuvantes indispensáveis como a sua evolução nos<br />
relacionamentos com a sociedade, estimulan<strong>do</strong> o exercício da<br />
cidadania. Assim, “é possível crer que com a maciça inclusão<br />
das pessoas na sociedade da informação teremos uma explosão<br />
das possibilidades da cidadania. E quanto mais cidadãs forem<br />
as pessoas, mais conscientes serão das necessidades de<br />
reinvenção da dinâmica social excludente e desigual” (Silveira,<br />
2001: p. 18).<br />
Vale ressaltar que, a pesquisa aqui apresentada representa<br />
parte <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s jovens paulistanos que vivem em situação<br />
100
de alguma exclusão social, em busca de sua inserção, através<br />
de posicionamento no merca<strong>do</strong> de trabalho, poden<strong>do</strong> ser<br />
condiciona<strong>do</strong> pelo <strong>do</strong>mínio de tecnologias de informação. Este<br />
estu<strong>do</strong> apresenta aspectos relevantes às comunidades, ONGs e<br />
associações que intentam promover a inclusão social por meio<br />
da inclusão digital.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
ANDERE, Denise Costamillan. Juventude, capacitação<br />
profissional e inclusão social: uma experiência de extensão<br />
universitária In: Um breve olhar na história <strong>do</strong> trabalho infantojuvenil.<br />
/ A<strong>do</strong>lfo Ignácio Calderón, organiza<strong>do</strong>r; Célia M. de Ávila,<br />
prefácio. São Paulo: Olho d’Água, 2000.<br />
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. São<br />
Paulo: Brasiliense, 1985.<br />
CALDERÓN, A<strong>do</strong>lfo. Juventude, capacitação profissional e<br />
inclusão social: uma experiência de extensão universitária. A<strong>do</strong>lfo<br />
Ignácio Calderón, organiza<strong>do</strong>r; Célia M. de Ávila, prefácio. São<br />
Paulo: Olho d’Água, 2000.<br />
CARVALHO, Maria <strong>do</strong> Carmo Brant de. Juventude, capacitação<br />
profissional e inclusão social: uma experiência de extensão<br />
universitária. In: Juventude: Reflexões sobre o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho<br />
e a inclusão social. A<strong>do</strong>lfo Ignácio Calderón, organiza<strong>do</strong>r; Célia<br />
M. de Ávila, prefácio. São Paulo: Olho d’Água, 2000.<br />
________, Maria <strong>do</strong> Carmo Brant de. Trabalho precoce:<br />
qualidade de vida, lazer, educação e cultura. Revista Serviço<br />
Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n.55, nov, 1997.<br />
CASTEL, Robert. Desigualdade e a Questão Social. Orgs.<br />
Mariângela Belfiore-Wanderley, Lúcia Bogus, Maria Carmelita<br />
Yazbek. São Paulo: EDUC, 2000.<br />
________, Robert. As metamorfoses da questão social: uma<br />
crônica <strong>do</strong> salário; tradução de Iraci D. Poleti. Petrópolis, RJ:<br />
Vozes, 1998.<br />
________, Robert. Lês metarmophoses de la question sociale.<br />
Paris: Libs. Arthème Fayard, 1995.<br />
CASTELLS, Manuel. Fim de Milênio. Tradução klauss Brandini<br />
Gerhardt e Roneide Venancia Majer. São Paulo, Paz e Terra, 1999.<br />
DEMO, Pedro. Charme da Exclusão Social. Campinas, SP.<br />
Autores Associa<strong>do</strong>s, 1998. – (Coleção polêmicas <strong>do</strong> nosso<br />
tempo: 61).<br />
DUPAS, Gilberto. Economia Global e Exclusão Social:<br />
pobreza, emprego, esta<strong>do</strong> e o futuro <strong>do</strong> capitalismo. Editora Paz<br />
e Terra, São Paulo, 1999.<br />
________, O Novo Paradigma <strong>do</strong> Emprego. In São Paulo em<br />
Perspectiva. Vol. 12 no. 3. Revista Fundação SEAD, 1998<br />
ECA – Estatuto de Criança e A<strong>do</strong>lescente.<br />
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Introdução<br />
de Francisco C. Weffort. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1967, 150p.<br />
KOGA, <strong>Di</strong>rce. Medidas de Cidades: entre territórios de vida e<br />
territórios vivi<strong>do</strong>s. São Paulo: Cortez, 2003.<br />
LEMOS, André. Cibercidades, 2002. Obti<strong>do</strong> em março/2003<br />
no site: http://unpan1.um.org/intra<strong>do</strong>c/groups/public/<strong>do</strong>cuments/<br />
iciepa/unpan005410.pdf<br />
LOJKINE, Jean. A Revolução Informacional. Tradução de<br />
José Paulo Neto. 3 ed. São Paulo, Cortez, 2002.<br />
MAPA, de Inclusão e Exclusão <strong>Di</strong>gital. Fundação Getúlio<br />
Vargas, Centro de Políticas Sociais e CDI – Comitê para<br />
Democratização da Informática. Rio de Janeiro, 2003.<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
MAPA, da Juventude de São Paulo. Coordena<strong>do</strong>ria Especial<br />
da Juventude e Centro de Estu<strong>do</strong>s de Cultura Contemporânea<br />
(Cedec). Prefeitura <strong>do</strong> Município de São Paulo, 2003.<br />
MARTINS, José de Souza. Exclusão Social e a Nova<br />
Desigualdade. São Paulo. Editora Paulus, 1997 – (Coleção temas<br />
de atualidade).<br />
________. A Sociedade Vista <strong>do</strong> Abismo: novos estu<strong>do</strong>s sobre<br />
exclusão, pobreza e classes sociais. Petrópolis, Rio de Janeiro.<br />
Vozes, 2002.<br />
MELUCCI, Alberto. Conferência Movimentos Sociais<br />
e Sociedade Complexa. Caderno Movimentos Sociais na<br />
Contemporaneidade. Núcleo de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa sobre<br />
Movimentos Sociais. 1997.<br />
NERI, Marcelo Côrtes. Publica<strong>do</strong> em “Valor Econômico”, dia<br />
01/04/2003.<br />
OLIVEIRA, Chico. Entrevista de Sílvio Cachiabrava,<br />
dezembro de 1999. http://www.polis.org.br/publicacoes/artigos/<br />
entrevchico.html (acesso em 06 de setembro de 2004)<br />
PAUGAM, Serge. Desqualificação Social: ensaio sobre a nova<br />
pobreza. Trads. Camila Giorgetti, Tereza Lourenço: pref. E ver.<br />
Maura Pardini Bicu<strong>do</strong> Veras. EDUC/Cortez, São Paulo, 2003.<br />
________, Serge. As Artimanhas da Exclusão: análise<br />
psicossocial e ética da desigualdade social. In: O Enfraquecimento<br />
e a Ruptura <strong>do</strong>s Vínculos Sociais – uma dimensão essencial <strong>do</strong><br />
processo de desqualificação social. 3 ed. Petrópolis, Rio de<br />
Janeiro, Editora Vozes, 1999.<br />
________, Serge. L’exclusion l’etat de savoir. Paris, La<br />
découverle, 1996.<br />
POCHMANN, Márcio. Outra Cidade é Possível: alternativas<br />
de Inclusão Social em São Paulo. Márcio Pochmann (org.). São<br />
Paulo: Cortez, 2003.<br />
________. Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade: novos<br />
caminhos para a inclusão social. Editora Fundação Perseu<br />
Abramo. São Paulo, 2002.<br />
ROCHA, Sônia. Pobreza no Brasil: afinal, <strong>do</strong> que se trata? 1<br />
ed. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2003.<br />
SANTOS, Milton. O espaço <strong>do</strong> cidadão. São Paulo: Nobel,<br />
1987.<br />
SAWAIA, Bader. As Artimanhas da Exclusão: análise<br />
psicossocial e ética da desigualdade social. 3 ed. Petrópolis, Rio<br />
de Janeiro, Editora Vozes, 1999.<br />
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão <strong>Di</strong>gital: a miséria na<br />
era da informação. 1 ed. São Paulo. Editora Fundação Perseu<br />
Abramo. 2001.<br />
________. Sofware Livre e Inclusão <strong>Di</strong>gital. Organiza<strong>do</strong>res:<br />
Sérgio Amadeu da Silveira e João Cassino. São Paulo, Conrad<br />
Editora <strong>do</strong> Brasil, 2003.<br />
SPOSATI. Aldaíza. Mapa de Exclusão e Inclusão Social. 2000<br />
e da<strong>do</strong>s de 2002.<br />
VERAS, Maura Pardini Bicu<strong>do</strong>. As Artimanhas da Exclusão:<br />
análise psicossocial e ética da desigualdade social. In: Exclusão<br />
Social – um brasileiro de 500 anos (notas preliminares). Ed. Vozes,<br />
Petrópolis, Rio de Janeiro, 1999.<br />
WANDERLEY, Mariângela Belfiore. As Artimanhas da<br />
Exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. In:<br />
Refletin<strong>do</strong> sobre a noção de exclusão. 3 ed. Petrópolis, Rio de<br />
Janeiro, Editora Vozes, 1999.<br />
101
iNTErNET: Páginas pesquisadas.<br />
www.cdi.org.br<br />
www.cdisaopaulo.org.br<br />
http://www6.prefeitura.sp.gov.br/guia/guiadacidade/<br />
mapas/0001/upload_imagem/mapa_regiao_metropolitana.jpg<br />
http://www6.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/planejamento/<br />
mapas/0001/upload_fs/00_SUB_GRUPOS09_06-09-02-Model.jpg<br />
www.ibge.org.br<br />
www.prefeitura.sp.gov.br<br />
http://www.catolicanet.com.br/institutogabi/<br />
www.gotasdeflor.org.br<br />
www.abprovisao.com.br<br />
http://www.isc.org/ds/<br />
http://www.rnp.br/<br />
www.ibase.org.br/<br />
NoTAS<br />
1- Professor da FABRASP.<br />
2- Computa<strong>do</strong>r de grande porte, que pode ser acessa<strong>do</strong> através de<br />
um terminal remoto, isto é, por um conjunto composto de monitor e<br />
tecla<strong>do</strong>.<br />
3- Pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Lincoln Lab <strong>do</strong> Instituto de Tecnologia de<br />
Massachussets como Paul Baran, Larry Roberts, Ivan Sutherland e Bob<br />
Taylor, criaram ARPANET.<br />
4- Advanced Research Projects Agency, cria<strong>do</strong> pelo presidente<br />
<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s Dwight Eisenhower com intuito de pesquisar e<br />
desenvolver projetos militares que recuperem a vanguarda tecnológica<br />
norte-americana.<br />
5- Para Castel, sociedade salarial é, sobretu<strong>do</strong> uma sociedade na qual a<br />
maioria <strong>do</strong>s sujeitos sociais tem sua inserção social relacionada ao lugar<br />
que ocupam no salaria<strong>do</strong>, ou seja, não somente sua renda, mas, também,<br />
seu status, sua proteção, sua identidade...(2000: p. 243) Uma sociedade<br />
salarial é uma sociedade que continua fortemente hierarquizada. Não<br />
é uma sociedade de igualdade, permanecem injustiças, permanece<br />
mesmo a exploração. É, também, uma sociedade conflituosa na qual os<br />
diferentes grupos sociais são concorrentes, mas é uma sociedade na<br />
qual cada indivíduo desfruta de uma mínimo de garantia e de direitos<br />
(2000: p. 245).<br />
6- Neri, Marcelo Côrtes. Publica<strong>do</strong> em “Valor Econômico”, dia<br />
01/04/2003.<br />
7- Coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Governo Eletrônico da Prefeitura de São Paulo,<br />
responsável pelo Plano de Inclusão <strong>Di</strong>gital <strong>do</strong> Município.<br />
8- FGV e CDI.<br />
A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />
na cidade de São Paulo.<br />
9- Host na internet é um computa<strong>do</strong>r que tem acesso bidirecional <strong>completo</strong><br />
a outros computa<strong>do</strong>res. Um host tem um número específico que, soma<strong>do</strong><br />
ao número da rede, formam seu endereço IP. O host armazena, centraliza<br />
e distribui arquivos, serviços de correio eletrônico, redes de impressão<br />
etc. Sua capacidade vai de um micro a um supercomputa<strong>do</strong>r.<br />
10- Vale a pena ressaltar que o Brasil ocupa a nona classificação pelo<br />
número de hosts no mun<strong>do</strong> é excelente devi<strong>do</strong> a sua comparação com<br />
os países desenvolvi<strong>do</strong>s onde pre<strong>do</strong>mina os incluí<strong>do</strong>s digitais.<br />
11- Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. http://www.rnp.br/<br />
12- Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. www.ibase.org.br/<br />
13- http://www.rnp.br/noticias/2001/not-010510-gt.html acesso em<br />
09/06/2003<br />
14- SPOSATI, Aldaíza (coord.). Mapa da exclusão/inclusão social da<br />
cidade de São Paulo: dinâmica social nos anos 90. São Paulo, PUC-SP,<br />
Polis, Inpe, 2000b. (CD-Rom).<br />
15- Em anexo a tabela com índices de IEX de to<strong>do</strong>s os distritos da cidade<br />
de São Paulo fonte: Mapa da exclusão/inclusão social da cidade de São<br />
Paulo.<br />
102
ESumo<br />
O Funk desce o morro, invade o asfalto<br />
e convida o outro para dançar.<br />
o Funk desce o morro, invade o asfalto e convida<br />
o outro para dançar<br />
Os estigmas perpetuam na sociedade seja de forma positiva<br />
ou negativa, inclusa ou exclusa. Facetas que são ora aceitas, ora<br />
rejeitadas nas complexas relações sociais.<br />
Decifrar a sua dinâmica nessas relações elenca aceitarmos<br />
ainda no entendimento de Tomaz Tadeu Silva (2000), que<br />
o indivíduo tem de “passar para o outro la<strong>do</strong>”, “cruzar<br />
fronteiras”,”estar na fronteira”, ao menos conhecer, participar,<br />
vivenciar o que é ofereci<strong>do</strong> pelo Outro.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, o propósito deste texto é levantar elementos<br />
como o discurso da música Funk em sua justificativa, o qual<br />
confere valores e sentimentos de orgulho de sua produção com<br />
vista a ocupar um lugar na sociedade de maneira geral.<br />
Algumas das questões sobre a identidade, identificação,<br />
diferença e escolhas se entrecruzam no pensar das relações de<br />
estigmas numa coletividade e são compartilhadas na tentativa<br />
de buscar estabelecer um entendimento na sociedade.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
Estigmas, identidade, diferenças.<br />
ABSTrACT<br />
Angela Meneguello 1<br />
Patricia Rodelli Amoroso 2<br />
Funk movement comes <strong>do</strong>wn from the hills, invades<br />
the asphalt inviting people to dance<br />
The stigmas had been perpetuated in the society in a positive<br />
or negative way, included or excluded. Facets which can be<br />
acceptable or rejected in a complex social relationship.<br />
To make its dynamic decipherable, means to us to consider,<br />
in Tomaz Tadeu Silva (2000) words, that “The individual has to be<br />
in the other side”, “to cross frontiers”, “to be in the frontier”, at<br />
least, “to know, to participate, experiencing what is proposed by<br />
the other”.<br />
The present article examines the elements like the funk music<br />
discourse in its justification which gives worthiness also proud<br />
feelings of its production which is looking forward to take a place<br />
in the society, in the general way.<br />
Some of the questions about the identity, identification,<br />
difference and choices, cross over the understanding of<br />
relationships of the stigmas in a community and they are shared<br />
looking for a social understanding establishment.<br />
KEYworDS:<br />
Stigmata, identity, differences.<br />
103
O que seria da cor verde se não existisse a cor azul? O que<br />
seria <strong>do</strong> rock se não existissem os demais gêneros musicais?<br />
Certamente já ouviram essas frases um dia, um tanto que clichês,<br />
aparentemente banais, mas estão enraizadas no discurso social,<br />
ainda que nos permitam escolhas dan<strong>do</strong> ênfase às questões<br />
sobre as diferenças. Aparentemente nessas frases, podemos<br />
mencionar e estabelecer que não se passa de uma observação<br />
de certa forma positivada (“a cor que eu mais gosto”, “o som<br />
que eu curto”), ou seja, ocorrem identificações de escolha, além<br />
da simples enunciação da diferença das cores e <strong>do</strong>s gêneros<br />
musicais, podemos pensar como perpassar nas relações de<br />
Estigmas estabelecidas pela sociedade.<br />
Em outras palavras, mais <strong>do</strong> que já ter uma identidade, os<br />
indivíduos são confronta<strong>do</strong>s com a longa e árdua identificação<br />
de si próprios, jamais concluída e repleta de escolhas, como<br />
afirma Bauman:<br />
Isto não significa, claro, que a escolha é feita no vazio e que parte<br />
ou poderia partir <strong>do</strong> zero, de circunstâncias mais favoráveis.<br />
Toda opção é feita a partir <strong>do</strong> que nos é, oferecida e pouca<br />
pessoas, se é que algumas, podem gabar-se de ter começa<strong>do</strong><br />
sua auto-identificação <strong>do</strong> nada. Indivíduos assim excepcionais<br />
continuarão a ser poucos e isola<strong>do</strong>s até uns <strong>do</strong>s outros, uma<br />
vez que, embora sen<strong>do</strong> uma tarefa individual, a“identidade” é<br />
também um fenômeno social. Identidade é o que se reconhece<br />
socialmente como identidade: está fadada a continuar uma<br />
ficção da imaginação individual a não ser que se comunique a<br />
outros em termos socialmente legíveis, expressa em símbolos<br />
socialmente compreensíveis.” (BAUMAN, 2000: p.142).<br />
Tomaz Tadeu nos insere a refletir sobre a produção social da<br />
Identidade e da diferença como aquilo que é e aquilo que não é:<br />
A identidade é simplesmente aquilo que se é: “sou brasileiro”, “sou<br />
negro”, assim concebida parece ser uma positividade (“aquilo que<br />
sou”) uma característica independente, um “fato” autônomo. Nessa<br />
perspectiva, a identidade só tem como referência a si própria: ela<br />
é auto-contida e auto-suficiente. A diferença é concebida com<br />
uma entidade independente. Apenas, neste caso, em oposição<br />
à identidade, a diferença é aquilo que o outro é: “ela é italiana”,<br />
“ela é branca”. Da mesma forma que a identidade, a diferença<br />
é, nesta perspectiva, concebida como auto-referenciada, como<br />
algo que remete a si própria. A diferença, tal como a identidade,<br />
simplesmente existe.” (TADEU, 2000: p.74)<br />
O autor compreende que identidade e diferença são<br />
inseparáveis, uma vez que uma depende da outra e são<br />
produzidas socialmente, consideran<strong>do</strong> a diferença como produto<br />
deriva<strong>do</strong> da identidade, sen<strong>do</strong> a identidade referência, é o ponto<br />
original relativamente ao qual se define a diferença.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, ao resgatarmos o funk no atual contexto, como<br />
o samba em outra época, é sempre questionan<strong>do</strong> por suas letras,<br />
por sua relação com a comunidade, por sua suposta indigência<br />
musical. Assim sen<strong>do</strong>, o diferente, estigmatiza<strong>do</strong> por diversas<br />
classes sociais. O funk retrata em suas letras, ou seja, em sua<br />
identidade, o cotidiano das pessoas que vivem nas comunidades<br />
mais pobres, suas vivências e suas culturas e agora desce o<br />
morro e invade o asfalto, divertin<strong>do</strong> às noites das danceterias<br />
entre os jovens da classe média e alta, agregan<strong>do</strong> os indivíduos<br />
a pertencerem, ao menos, experimentarem por meio <strong>do</strong> ritmo a<br />
relação com o Outro, pretenden<strong>do</strong> buscar a identificação externa<br />
ou ainda nas palavras de Maria Rita Kehl <strong>do</strong> Ideal <strong>do</strong> Eu.<br />
Ressaltar a origem miserável, questões da raça, de cor, de<br />
um passa<strong>do</strong> histórico, certamente nos propõem essa relação<br />
O Funk desce o morro, invade o asfalto<br />
e convida o outro para dançar.<br />
de produção da diferença e identidade na letra de Amilcka e<br />
Chocolate – Som de Preto, onde de certa forma nos instiga para<br />
refletir e convida o Outro para dançar...<br />
É som de preto, de favela<strong>do</strong>, mais quan<strong>do</strong> toca ninguém fica<br />
para<strong>do</strong>, tá liga<strong>do</strong>! O nosso som não tem idade não vê raça e<br />
não vê cor, mais a sociedade pra gente não dá valor, só querem<br />
nos criticar pensan<strong>do</strong> que somos animais, se existia o la<strong>do</strong> ruim<br />
hoje não existe mais, porque funkeiro de hoje em dia caiu na<br />
real, essa história de porrada isso é coisa banal, agora pare e<br />
pense, se liga na responsabilidade, funk foi a tempestade e hoje<br />
vira abonança [...].<br />
O antropólogo Hermano Vianna ressalta uma nova visão de<br />
inserção, inclusão, se assim podemos dizer, <strong>do</strong> funk na sociedade:<br />
“O funk é o principal movimento da cultura popular carioca hoje.<br />
É um novo estilo musical que só poderia ter si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> aqui, e<br />
que muita gente de outros países já começa a copiar. Com seu<br />
funk, o Rio exporta novamente alegria para o planeta inteiro”.<br />
O funk anuncia o seu cotidiano sen<strong>do</strong> capaz de contar a sua<br />
vida por meio das narrativas de suas músicas, na tentativa de<br />
buscar a atenção e ainda o diálogo com o Outro”. O Outro é o Outro<br />
Gênero, o Outro é a cor diferente, o Outro é a outra sexualidade,<br />
o Outro é a outra raça, o Outro é a outra nacionalidade, o Outro é<br />
o corpo diferente”, diz Tomaz Tadeu (2000: p. 97).<br />
Assim podemos compartilhar com Stuart Hall:<br />
As identidades são construídas por meio da diferença e não fora<br />
dela. Isso implica o reconhecimento radicalmente perturba<strong>do</strong>r<br />
de que é apenas por meio da relação com o Outro, da relação<br />
com aquilo que não é, precisamente aquilo que falta, com<br />
aquilo que tem si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> de seu exterior constitutivo,<br />
que o significa<strong>do</strong> ´positivo´ de qualquer termo – e, assim, sua<br />
´identidade´- pode ser construí<strong>do</strong>”. (HALL, 2002: p. 111)<br />
Nos permite entender que vivemos numa sociedade plural,<br />
onde a cada momento na história várias gerações convivem,<br />
interagem, se expressam, se autoconstituem, se reproduzem e<br />
se inovam por meio das relações sociais e até mesmo por meio<br />
<strong>do</strong>s grupos que acabam pertencen<strong>do</strong>.<br />
São nessas relações sociais que Freud busca decifrar uma<br />
dinâmica social <strong>do</strong> que cada um tem e de que forma se junta aos<br />
grupos. Afirma que o indivíduo se transforma quan<strong>do</strong> inseri<strong>do</strong><br />
num grupo. Essa transformação pode ser entendida nas facetas<br />
que operam os estigmas, sejam de forma positiva ou negativa,<br />
excludente e excluída, pois sempre retomam a identificação <strong>do</strong><br />
amor e ódio nessas relações.<br />
Assim, podemos tomar vários exemplos de formação de<br />
grupos na sociedade: grupos de fãs <strong>do</strong> funk, fãs <strong>do</strong> rock, fãs <strong>do</strong><br />
samba, dentre outros, ainda que os gostos podem se misturar,<br />
uma vez que podemos compartilhar da idéia de escolha <strong>do</strong><br />
Bauman que não há identificação com o vazio, com o nada, algo<br />
é proporciona<strong>do</strong> e ou apresenta<strong>do</strong> nesses grupos, pois Freud<br />
nos aponta que os relacionamentos grupais sempre têm algo a<br />
oferecer, reúnem-se à parte das qualidades individuais presentes<br />
e assim relacionam-se às identificações. Essa identificação é<br />
chamada de identidade social em outras áreas, com o uso de<br />
outra terminologia, porém é a mesma idéia complementa Maria<br />
Rita Kelh. A autora faz a diferença <strong>do</strong> Eu Ideal como sen<strong>do</strong> uma<br />
identidade primeira <strong>do</strong> Eu e <strong>do</strong> Ideal <strong>do</strong> Eu como sen<strong>do</strong> uma<br />
identidade social, ideais culturais que estão externamente nessas<br />
relações sociais/grupais.<br />
104
A possibilidade que o indivíduo tem de “passar para o outro<br />
la<strong>do</strong>”, ainda nos termos de Tomaz Tadeu “cruzar fronteiras”, “estar<br />
na fronteira”, ao menos conhecer, participar, vivenciar o que é<br />
ofereci<strong>do</strong> pelo Outro, nos leva a analisar como esses elementos<br />
se produzem e até mesmo estabelecer essa diferenciação para<br />
pensar numa idéia de retratação para superar os Estigmas.<br />
Goffman nos aponta que em cada sociedade e em cada cultura<br />
os Estigmas operam de formas diferentes e não se relacionam com<br />
atributos separa<strong>do</strong>s, mas numa relação nessa sociedade.<br />
Assim podemos analisar a produção <strong>do</strong> funk na sociedade<br />
carioca, situada na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, conhecida como o<br />
“berço nacional” da música funk que permeia uma justificativa de<br />
um discurso de mérito, um discurso que tem a função de conferir<br />
valores e sentimentos de orgulho e digno de ocupar um lugar<br />
na sociedade de maneira geral. Agora, em outras sociedades,<br />
instituídas a outras culturas e outros valores, talvez pre<strong>do</strong>minem<br />
a rejeição em relação à música Funk, ainda que nada venha<br />
impossibilitar uma identificação <strong>do</strong>s seus indivíduos nessas<br />
relações sociais/grupais.<br />
Dadas essas identificações <strong>do</strong>s indivíduos aos grupos<br />
sociais, devemos observar numa sociedade essas relações<br />
que se entrecruzam e como pensar as relações de Estigmas na<br />
coletividade. Não podemos totalizar essa discussão e também<br />
não abrir parâmetros para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Devemos entrelaçar<br />
essas discussões para estabelecer um entendimento na<br />
sociedade. Não tomarmos como elementos negativos serem a<br />
totalização das discussões <strong>do</strong>s Estigmas, embora é como ele<br />
é mais visto e mais discuti<strong>do</strong>, acabamos toman<strong>do</strong> isso como<br />
estu<strong>do</strong> prevalecente, estabelecen<strong>do</strong> o Estigma como algo<br />
depreciativo, ressalta Goffman (1978).<br />
O funk ganha um espaço simbólico proferi<strong>do</strong> na sociedade e nos<br />
grupos, ainda que operan<strong>do</strong> numa articulação estereotipada, surgem<br />
para uma inclusão e identificação desse grupo na coletividade.<br />
Segun<strong>do</strong> Tomas Tadeu (2000), a Identidade está sempre<br />
ligada a uma forte separação entre “Nós” e “Eles”, os pronomes<br />
são evidentes indica<strong>do</strong>res de posições de sujeito fortemente<br />
marcadas por relações de poder, com carga positiva e outra<br />
negativa, utilizan<strong>do</strong>-os até como uma classificação hierárquica.<br />
É váli<strong>do</strong> comentar que a sociedade produz, constrói em<br />
seu discurso traços distintivos, como a palavra funkeiro (“Eles”)<br />
– tornan<strong>do</strong>-a como uma marca discursiva depreciativa para<br />
estabelecer os Estigmas.<br />
Outras marcas da presença <strong>do</strong> poder propostas por Tomaz<br />
Tadeu: incluir/excluir (“estes pertencem, aqueles não”); demarcar<br />
fronteiras (“nós” e “eles”), classificar (“bons” e “maus”; “puros”<br />
e “impuros”, “desenvolvi<strong>do</strong>s” e “primitivos”, “racionais” e<br />
“irracionais”), normalizar (“nós somos normais e eles anormais”).<br />
Identidade e diferença se traduzem em declarações sobre quem<br />
pertence e quem não pertence, quem está incluí<strong>do</strong> e quem está<br />
excluí<strong>do</strong>, conclui o autor. Numa das músicas <strong>do</strong> funk, podemos<br />
observar essas marcas ditadas por Tomaz Tadeu de inclusão e<br />
exclusão na letra Gordurosa – Mc <strong>Di</strong>dô:<br />
Alô gordinha! Agora eu quero ver você descer, hein! Essa é<br />
pras gordinhas que não gostam de academia, então, desce,<br />
derece, desce gordurosa, agora sobe, sobe, sobe gordurosa,<br />
o gordinha, o gordinha eu não vim te esculachar, eu sou MC<br />
<strong>Di</strong>dô só quero ver você dançar e então desce, derece, desce<br />
gordurosa, agora sobe, sobe gordurosa [...].<br />
Nessa canção é claramente demonstrada como se só as<br />
`magrinhas´ (“nós”) pudessem dançar o funk, excluin<strong>do</strong> as<br />
´gordinhas´ (“elas”), classifican<strong>do</strong> quem está dentro e quem<br />
está <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora na sociedade e ao mesmo tempo inclui a<br />
´gordinha´ (“o Outro é o corpo diferente”) para dançar e fazer<br />
parte <strong>do</strong> grupo, como um convite. Claramente sobressaltam<br />
essas relações de poder ditadas por Tomaz Tadeu.<br />
Para Goffman é preciso haver pontos de contatos nessas<br />
relações de fracasso e sucesso, perdas e ganhos. Ele aponta<br />
que podemos nos valer dessas distinções, se apropriar desses<br />
Estigmas e de se beneficiar em relação a isso, de certa forma,<br />
se aproveitan<strong>do</strong> e ocupan<strong>do</strong> um lugar na sociedade. Esse jogo<br />
entre os Estigmatiza<strong>do</strong>s e os não Estigmatiza<strong>do</strong>s se prevalece<br />
dessas diferenciações estabelecen<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong> de dupla via<br />
em relação ao outro.<br />
Para essa inquietação poderíamos pensar em apontarmos que<br />
o ser humano está livre de opções existenciais, o que cada um<br />
pode ser percebi<strong>do</strong>, inseri<strong>do</strong>, identifica<strong>do</strong>, simplesmente olhan<strong>do</strong><br />
ao re<strong>do</strong>r os demais membros da tribo, de grupos, pela simples<br />
razão da escolha ou ainda se prevalecen<strong>do</strong> e se benefician<strong>do</strong><br />
dessas diferenciações como bem ressalta Goffman, e, ou ainda,<br />
já ser identifica<strong>do</strong> como o ´diferente`, já estar estigmatiza<strong>do</strong> pela<br />
sua própria herança cultural que vem sen<strong>do</strong> construída ao longo<br />
da história da humanidade.<br />
Há, em suma, uma relação de amor e ódio entre o Eu e o<br />
outro. Um precisa <strong>do</strong> outro, atraem-se mutuamente e se repelem<br />
ao mesmo tempo, construin<strong>do</strong>-se como sujeitos aos quais se<br />
pode ´falar´ (Stuart Hall).<br />
Assim, são dadas as vozes (aos quais se pode `falar`) aos<br />
sujeitos, aos grupos inseri<strong>do</strong>s numa sociedade na tentativa de<br />
enfatizar as aprovações, pregações e reprovações daquilo que<br />
nos cercam.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança<br />
no mun<strong>do</strong> atual. Tradução Plínio Dentzien, Rio de Janeiro: Jorge<br />
Zahar, 2003.<br />
_____________. Em busca da política. Tradução de Marcus<br />
Penchel, Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2000.<br />
CD – FUNK BRASIL DJ Marlboro – 25 sucessos, som livre,<br />
2005.<br />
FREUD, Sigmund. Além <strong>do</strong> princípio de prazer, psicologia de<br />
grupo e outros trabalhos. In: Obras psicológicas completas de<br />
Sigmund Freud. Volume XVIII, Rio de Janeiro:Imago,1974.<br />
GOFFMAN, Erving. Estigma. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge<br />
Zahar, 1978.<br />
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.<br />
7.ed. Tradução Tomaz Tadeu da Silva; Guaracira Lopes Louro,<br />
Rio de Janeiro: DP&A, 2002.<br />
KEHL, M.R. As máquinas falantes. In:NOVAES, Adauto (org.)<br />
O homem-máquina. A ciência manipula o corpo. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 2003.<br />
SILVA, Tomaz Tadeu da. (org.). Identidade e <strong>Di</strong>ferença: A<br />
produção social da identidade e da diferença. Petrópolis, RJ;<br />
Vozes, 2000.<br />
NoTAS<br />
O Funk desce o morro, invade o asfalto<br />
e convida o outro para dançar.<br />
1- Mestranda <strong>do</strong> curso de Comunicação da Universidade Paulista – UNIP<br />
e Professora da Faculdade Brasília de São Paulo.<br />
2- Jornalista, professora acadêmica da Universidade Paulista – UNIP<br />
– São Paulo-SP - e-mail: patriciajornalista@hotmail.com<br />
105
ESumo<br />
O artigo apresenta como o ideário da qualidade total chega<br />
ao setor educacional brasileiro, discutin<strong>do</strong> sua repercussão<br />
nos processos educacionais e no papel da escola. Mostra de<br />
que maneira as experiências <strong>do</strong> setor produtivo são aplicadas<br />
à Educação e seus efeitos perversos para a sociedade que não<br />
compreende os motivos reais da atual situação da educação<br />
brasileira.<br />
PALAVrAS-CHAVE:<br />
A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />
na educação: uma análise crítica.<br />
Qualidade em educação, qualidade total, produtividade em<br />
educação.<br />
ABSTrACT<br />
The article presents how the ideas about total quality arrives<br />
to the brasilian education sector, discussing its repercussion in<br />
the education process and the paper of school. Shows so as to<br />
the experiences from protuctive sector are applied in education<br />
and their wiched effects to the socity, who <strong>do</strong>es not understand<br />
the true reasons the present situation of the brazilian education.<br />
KEYworDS:<br />
Dra. Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga 1<br />
Quality in education, total quality, productive education.<br />
106
O modelo da Qualidade Total surgiu no meio industrial e nele<br />
ganhou visibilidade, passan<strong>do</strong> a ser considera<strong>do</strong> uma filosofia<br />
empresarial estratégica. Desenvolvi<strong>do</strong> a partir da década de trinta<br />
<strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, o modelo da Qualidade Total só vai ganhar<br />
notoriedade, na década de cinqüenta, (MAXIMIANO, 2000, p.74-<br />
75), através <strong>do</strong> trabalho de W. Edwards Deming no Japão, que<br />
defendia a idéia de melhoria da qualidade relacionada à redução<br />
da variabilidade – a padronização – e que este seria o caminho<br />
para a prosperidade, por meio da produtividade, da redução <strong>do</strong>s<br />
custos, da conquista de merca<strong>do</strong>s e da expansão <strong>do</strong> emprego.<br />
A responsabilidade da alta administração, nesse processo,<br />
segun<strong>do</strong> a ótica de Deming, era identificar as necessidades <strong>do</strong><br />
cliente ou consumi<strong>do</strong>r, e <strong>do</strong>s funcionários, a transformação <strong>do</strong>s<br />
insumos em produtos e serviços que atendessem ao merca<strong>do</strong> (o<br />
cliente), buscan<strong>do</strong> sempre o seu aperfeiçoamento. A disseminação<br />
dessas idéias proporcionou resulta<strong>do</strong>s extraordinários para os<br />
setores produtivos da economia, aumentan<strong>do</strong> surpreendentemente<br />
as possibilidades das empresas competirem nos merca<strong>do</strong>s,<br />
cujas regras e condições tornavam-se cada vez mais complexas.<br />
Como filosofia empresarial, a idéia de qualidade vai se impon<strong>do</strong><br />
a outros setores da economia, além da indústria, designan<strong>do</strong> a<br />
chamada Era da Qualidade (MEZOMO, 1997, p.145).<br />
Com os novos cenários <strong>do</strong>s negócios, demarca<strong>do</strong>s pelo<br />
aumento da concorrência e pela necessidade de empresas<br />
melhores qualificadas, a Educação passa a ser ressignificada e<br />
reduzida, pelos detentores <strong>do</strong> capital, a qualifica<strong>do</strong>ra de mãode-obra,<br />
tarefa primordial e essencial para a sobrevivência<br />
empresarial.<br />
De seus resulta<strong>do</strong>s relativos à competitividade industrial,<br />
seus princípios passam a nortear outros setores da economia,<br />
diferentemente da indústria e a educação não ficou imune a essa<br />
tendência.<br />
A aplicação da filosofia da Qualidade Total em Educação<br />
ocorreu primeiramente nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, não ten<strong>do</strong> ainda<br />
mais de duas décadas. Spanbauer (1995) apresentou com<br />
entusiasmo a idéia de sucesso <strong>do</strong> Fox Valley Technical College,<br />
em Wisconsin, como um <strong>do</strong>s pioneiros na implantação da<br />
gestão pela aualidade total na educação, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
a partir de 1985; e Ramos (1994, p. 202) estuda o movimento<br />
das universidades americanas para incorporar os princípios da<br />
qualidade total na gestão de suas atividades, especificamente<br />
para a gestão de suas principais funções o ensino e a pesquisa,<br />
testan<strong>do</strong> alternativas para a superação da crise vivenciada pelo<br />
setor, na década de oitenta, <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>.<br />
Na década seguinte, Drüg; Ortiz (1994) mostram que essas<br />
idéias chegam ao setor educacional brasileiro, através de<br />
experiências pioneiras como a da Fundação Cristiano Ottoni<br />
quan<strong>do</strong>, em 1991, inicia um projeto de Qualidade Total com a<br />
Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação de Minas Gerais. A referida<br />
Fundação vem defenden<strong>do</strong> uma série de vantagens para a<br />
implantação da Qualidade Total na Educação, fruto da sua<br />
experiência em consultoria na área. A atuação da Fundação, pela<br />
análise de Barbosa et. al. (1995), avançou na profissionalização<br />
<strong>do</strong> gerenciamento das instituições de ensino, pela implementação<br />
da Qualidade total, enaltecen<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> de seu trabalho<br />
aspectos como o cumprimento de metas da organização,<br />
manutenção <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio tecnológico através da padronização<br />
e melhoria da qualidade <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s, dentre<br />
outros 2 . Essa noção de qualidade sequer questiona como são<br />
estabelecidas as metas organizacionais, quem participa de sua<br />
escolha e decisão. Nessa perspectiva, a padronização como meta<br />
da qualidade total em educação impulsiona a exclusão, inibe as<br />
possibilidades de exercício de cidadania, e mata a criatividade<br />
própria da atividade humana. Portanto, essa noção de qualidade<br />
A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />
na educação: uma análise crítica.<br />
<strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s está relacionada ao processo, mas<br />
não oferece espaço de questionamento quanto à validade e à<br />
pertinência <strong>do</strong>s serviços que oferece.<br />
Com essa visão, muitas vezes equivocada e míope, a<br />
idéia de qualidade total chega à educação brasileira e vem<br />
ganhan<strong>do</strong> espaço. São muitos os defensores da Qualidade Total,<br />
enaltecen<strong>do</strong> suas vantagens para o uso na gestão universitária e<br />
educacional de mo<strong>do</strong> geral.<br />
As críticas ao modelo de Qualidade Total na Educação podem<br />
ser divididas em <strong>do</strong>is grandes grupos: o primeiro compreende<br />
aqueles que criticam o modelo da Qualidade Total mesmo em<br />
sua aplicação restrita às empresas produtivas; o segun<strong>do</strong> grupo<br />
compreende aqueles que criticam o fato da Educação estar<br />
sen<strong>do</strong> objeto de aplicação das ferramentas da Qualidade Total.<br />
A principal justificativa para os que defendem a utilização<br />
das ferramentas da Qualidade Total na Educação vem da crise<br />
pela qual passa o sistema universitário brasileiro, cujo teor <strong>do</strong>s<br />
discursos põe a sociedade contra o sistema educacional. Os<br />
estu<strong>do</strong>s de RAMOS explicam que:<br />
A Sociedade, de inúmeras formas, declara, contínua e<br />
explicitamente, o seu desagra<strong>do</strong> em termos <strong>do</strong> trabalho, de<br />
pouca Qualidade, efetiva<strong>do</strong> pelas instituições educacionais. As<br />
críticas de ‘falta de competência’ e ‘fracasso’ estão cada vez<br />
mais definitivas. (RAMOS, 1992, P.57)<br />
Autores como Mezzomo (1997), estudiosos da gestão de<br />
organizações de ensino, apontam como fatores da crise problemas<br />
relaciona<strong>do</strong>s à inadequação <strong>do</strong>s currículos, a fragmentação da<br />
universidade e <strong>do</strong> conhecimento por ela cultiva<strong>do</strong>, a baixa produção<br />
científica face os investimentos em pesquisa, compressão<br />
salarial <strong>do</strong> meio acadêmico em relação a outras categorias de<br />
profissionais qualifica<strong>do</strong>s, muita dependência das universidades<br />
em relação aos órgãos regula<strong>do</strong>res, pouca criatividade no ensino<br />
e pesquisa, consideran<strong>do</strong> as necessidades da sociedade atual,<br />
sucateamento das estruturas físicas e a falta de modelo de<br />
gerenciamento específico para a gestão universitária, afirman<strong>do</strong><br />
que no Brasil, essa prática ocorre pre<strong>do</strong>minantemente de forma<br />
ama<strong>do</strong>ra, enquanto outros setores da economia já <strong>do</strong>minam e<br />
praticam as ferramentas da Qualidade Total.<br />
Com esse referencial de qualidade impregnan<strong>do</strong> diversos<br />
segmentos <strong>do</strong> setor educacional, pouco crítico de seu papel, fazse<br />
necessário apresentar as críticas a essa noção de qualidade,<br />
a partir de diversos autores, que vem se posicionan<strong>do</strong> sobre<br />
o assunto. Primeiramente as críticas questionam diretamente<br />
a filosofia da Qualidade Total, aplicada ao setor empresarial,<br />
representada pelas análise de Frigotto (1997), Gentili (1997) e<br />
Lopes (1992).<br />
O modelo de Qualidade Total é instrumento que leva a<br />
perpetuar as desigualdades sociais, pois trata-se de um modelo<br />
de acumulação de capital basea<strong>do</strong> no aumento de produtividade<br />
via manipulação das características sócio-psicológicas <strong>do</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>r, através <strong>do</strong> emprego das teorias motivacionais e <strong>do</strong><br />
trabalho em equipe (FRIGOTTO, 1997).<br />
O modelo de gestão da Qualidade Total, utiliza<strong>do</strong> pelos<br />
detentores <strong>do</strong> capital, para manter a acumulação e o ganho<br />
constante sobre o capital, surge como alternativa ao modelo<br />
de produção taylorista-fordista que, na atual globalização<br />
da economia e advento da chamada Era da Informação, não<br />
atende mais às necessidades das empresas, para manterem-se<br />
competitivas frente a acirrada concorrência. É nesse contexto<br />
que surgem os modelos da “qualidade” com o intuito de instalar<br />
uma nova maneira de gestão, baseada na participação efetiva<br />
107
<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e na utilização <strong>do</strong>s conceitos de trabalho em<br />
equipe e unidade, para aumentar o ganho das empresas e<br />
derrotar a concorrência. Gentili (1997) mostra que a função<br />
da Qualidade Total seria o de criar um modelo catalisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
trinômio qualidade-produtividade-rentabilidade, visan<strong>do</strong> sempre<br />
ao aumento da acumulação de capital, ainda que através de um<br />
discurso de preocupação social e de interesse pela qualidade de<br />
vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Outra crítica ainda ao referi<strong>do</strong> modelo recai sobre o fato<br />
de que a implantação da Qualidade Total tem um alto custo e<br />
determina<strong>do</strong>s produtos não poderiam incorporar esse aumento,<br />
sob o risco de se tornarem pouco competitivos no merca<strong>do</strong>,<br />
o que indica o caráter mercantil <strong>do</strong>s modelos de “qualidade”.<br />
(LOPES,1992, p. 333).<br />
O segun<strong>do</strong> grupo de críticas ao discurso da Qualidade Total<br />
direciona seu foco de análise aos conceitos inerentes ao processo<br />
educacional e a possível inadequação destes ao modelo de<br />
Qualidade Total. A principal crítica deste grupo relacionase<br />
ao caráter ideológico que estaria regen<strong>do</strong> os modelos de<br />
“qualidade” aplica<strong>do</strong>s na Educação. Os críticos analisam o<br />
modelo de Qualidade Total atrela<strong>do</strong> à ideologia neoliberal 3 e,<br />
por isso, protestam contra o fato das instituições educacionais<br />
estarem servin<strong>do</strong> apenas para formação de mão-de-obra<br />
para o merca<strong>do</strong>. Este fato colocaria em risco to<strong>do</strong> o sistema<br />
educacional, relegan<strong>do</strong>-o à simples condição de forma<strong>do</strong>r de<br />
mão-de-obra, subtrain<strong>do</strong> desse sistema a noção de formação<br />
de cidadãos, conscientes e capazes de analisar criticamente a<br />
relação entre capital e trabalho. No dizer de BUARQUE (1994,<br />
p. 58), a universidade passou a organizar-se para produzir mãode-obra<br />
desejada pelo merca<strong>do</strong> - teóricos programa<strong>do</strong>s para<br />
cumprir papéis específicos na cadeia de produção - e aban<strong>do</strong>nou<br />
o papel de formar pensa<strong>do</strong>res.<br />
Outra crítica relacionada ao modelo da Qualidade Total em<br />
educação refere-se ao fato <strong>do</strong> sistema educacional, além de estar<br />
sen<strong>do</strong> reduzi<strong>do</strong> a mero forma<strong>do</strong>r de mão-de-obra para atender às<br />
necessidades pontuais <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> produtivo, também passam<br />
a servir de veículo de transmissão das idéias que proclamam<br />
as vantagens <strong>do</strong> livre merca<strong>do</strong> e da livre iniciativa, na busca<br />
da qualidade, entendida aqui como a maximização <strong>do</strong> lucro com<br />
a minimização <strong>do</strong>s recursos envolvi<strong>do</strong>s no processo (SILVA,<br />
1997, p.12).<br />
Silva continua sua crítica, mostran<strong>do</strong> que o pensamento<br />
neoliberal estaria transforman<strong>do</strong> questões políticas e sociais em<br />
simples questões técnicas, ao ponto que propõe a análise <strong>do</strong><br />
valor <strong>do</strong> sistema educacional basea<strong>do</strong> em critérios puramente<br />
técnicos (tecnicismo educacional), colocan<strong>do</strong> a avaliação desse<br />
processo como questão central. Ao se analisar o desempenho de<br />
uma instituição educacional restrita a números de desempenho,<br />
basea<strong>do</strong>s em estatísticas, tende-se a relegar to<strong>do</strong> o sistema<br />
educacional a uma posição secundária na sociedade, subtrain<strong>do</strong>lhe<br />
o direito e o dever de discutir questões de cunho político e<br />
social mais abrangentes.<br />
A pressão para que o sistema educacional se ajuste aos<br />
parâmetros de desempenho e competitividade é muito forte,<br />
ten<strong>do</strong> como suporte ou instrumento de pressão a avaliação,<br />
cujos resulta<strong>do</strong>s são amplamente divulga<strong>do</strong>s, sem pouco ou<br />
nenhum esclarecimento a que qualidade se referem, quais<br />
referenciais a norteiam, deixan<strong>do</strong> à própria sociedade fazer a sua<br />
interpretação.<br />
O discurso neoliberal propaga ainda a urgência da aplicação<br />
das ferramentas da Qualidade Total na Educação, definin<strong>do</strong><br />
as instituições que dela se utilizam, como comparáveis a<br />
qualquer empresa – quanto a seus padrões de desempenho e<br />
a seu valor, enquanto organizações competitivas, que a partir<br />
desses referenciais podem estabelecer preço a seus serviços<br />
(FRIGOTTO, 1997).<br />
Os resulta<strong>do</strong>s das avaliações oficiais, aplica<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os<br />
níveis de ensino, reforçaram o discurso neoliberal, que precisava<br />
justificar suas políticas para a educação. Ao buscar compreender<br />
as intenções que subjazem às ações, Enguita (1997, p.102-103)<br />
mostra que o discurso de cunho neoliberal vem aproveitan<strong>do</strong>se<br />
<strong>do</strong>s baixos resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nas avaliações oficiais para<br />
justificar o desemprego e a baixa competitividade 4 das empresas<br />
brasileiras nos merca<strong>do</strong>s internacionais, estabelecen<strong>do</strong> relação<br />
entre a má qualidade <strong>do</strong> sistema educacional como um to<strong>do</strong> e<br />
o desempenho econômico-produtivo <strong>do</strong> país - entenden<strong>do</strong>-se<br />
por qualidade, neste caso, o grau de adequação <strong>do</strong> sistema<br />
educacional ao sistema produtivo e mercantil. Os que manifestam<br />
esse tipo de análise omitem as regras perversas de regulação<br />
<strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s, como os acor<strong>do</strong>s protecionistas, a manipulação<br />
<strong>do</strong> valor das moedas e taxas de câmbio, entre muitos outros<br />
fatores.<br />
Como conseqüência, cada vez mais está se firman<strong>do</strong> no<br />
país a posição de que as políticas públicas para educação<br />
devem levar o ajuste entre educação e emprego, educação e<br />
competitividade, e que isto viria a ocorrer pela intervenção nos<br />
modelos educacionais através de um novo modelo de gestão.<br />
Conclusões<br />
A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />
na educação: uma análise crítica.<br />
A compreensão da ideologia <strong>do</strong> modelo da qualidade<br />
total aplica<strong>do</strong> à educação vem desmistificar a idéia de que<br />
o desempenho desfavorável <strong>do</strong> país é culpa de seu sistema<br />
educacional, da<strong>do</strong> que a insistência <strong>do</strong>s discursos de que há<br />
problemas de ajuste entre educação e emprego, entre o que o<br />
sistema escolar produz e o que o mun<strong>do</strong> empresarial requer,<br />
e como decorrência a sociedade, de maneira geral interpreta<br />
que de fato a educação está abaixo da qualidade esperada,<br />
atribuin<strong>do</strong> inclusive à educação e ao poder público o fenômeno<br />
<strong>do</strong> desemprego, que não é capaz de formar indivíduos<br />
com a competência adequada às demandas da sociedade,<br />
principalmente ao setor produtivo. Nessa análise superficial, as<br />
empresas isentam-se da responsabilidade pelo desemprego<br />
como se não dependesse delas a decisão sobre os investimentos<br />
e emprego e forma de organização <strong>do</strong>s processos de trabalho.<br />
Neste contexto de intensa competição, a que o sistema<br />
educacional vem sen<strong>do</strong> atrela<strong>do</strong>, as instituições privadas<br />
ganham força em relação às instituições educacionais públicas,<br />
dependentes de investimentos públicos, fato este que vem<br />
colaboran<strong>do</strong> com a difusão <strong>do</strong> ideário neoliberal de privatização<br />
<strong>do</strong> sistema educacional, sob alegação <strong>do</strong> risco de obsolescência<br />
e falta de competitividade. Para a competitividade <strong>do</strong> setor<br />
educacional, a ênfase recai na idéia de uma correta gestão<br />
educacional, apoiada nas ferramentas da Qualidade Total, que<br />
saem das experiências <strong>do</strong> setor produtivo para ganhar espaço<br />
no setor priva<strong>do</strong> da educação. Com elas vem toda a proposta<br />
de padronização e produção em escala, condição para ganhos<br />
financeiros, como em qualquer outro setor produtivo.<br />
Dessa forma, a padronização <strong>do</strong>s processos educacionais<br />
recaem sobre a padronização de conteú<strong>do</strong>s e materiais de apoio,<br />
excessiva ênfase nos controles <strong>do</strong> processo, desde o nível de<br />
aproveitamento <strong>do</strong> aluno até seus custos, a inclusão da noção<br />
de tempo-padrão para cumprimento de etapas educacionais.<br />
Processos que inibem a criatividade <strong>do</strong> aluno e restringem o<br />
desenvolvimento de seus potenciais, quan<strong>do</strong> não contempla<strong>do</strong>s<br />
pelos conteú<strong>do</strong>s e meto<strong>do</strong>logias eleitas pelos diversos processos<br />
de ensino. As dificuldades apresentadas pelos alunos também<br />
108
ficam camufladas com as formas de avaliação que visam a<br />
promoção <strong>do</strong> aluno, mesmo sem o devi<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong>, uma vez<br />
que os recursos não podem ser desperdiça<strong>do</strong>s. O aluno paga e<br />
quer levar o que comprou; a escola, por sua vez, não quer e não<br />
pode perder o aluno, pois reduz seus ganhos.<br />
Do ponto de vista <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente, os processos<br />
padrozina<strong>do</strong>s via <strong>material</strong> didático eliminam a necessidade de<br />
formação constante <strong>do</strong> professor; evitam também a contratação<br />
de professores mais bem prepara<strong>do</strong>s, na intenção de redução<br />
de custos. As deficiências meto<strong>do</strong>lógicas e de conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
professor são minimizadas pelo uso <strong>do</strong> <strong>material</strong> didático, e para<br />
isso o professor é treina<strong>do</strong>.<br />
Paralelamente a isso, a produção e comercialização de<br />
<strong>material</strong> didático exclusivo de grupos educacionais é uma grande<br />
fonte de renda, muitas vezes mais rentável que o próprio negócio<br />
de educação.<br />
Por esse ideário, os novos vocabulários se integram ao setor<br />
educacional, referin<strong>do</strong>-se a alunos como clientes, o ensino e a<br />
pesquisa como merca<strong>do</strong>ria, os professores e os demais recursos<br />
materiais postos em categorias equivalentes, seleciona<strong>do</strong>s e<br />
defini<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> menor custo. Também o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> setor<br />
educacional vem se tornan<strong>do</strong> atrativo aos empresários da<br />
educação, que vão se agregan<strong>do</strong> por possuírem capital para<br />
investimentos, cuja decisão, em que investir, recai apenas sobre<br />
a rentabilidade <strong>do</strong> negócio.<br />
Enfim, no contexto <strong>do</strong> ensino priva<strong>do</strong>, o discurso da<br />
qualidade com a finalidade de ganhos em escala, produtividade e<br />
competitividade assemelha-se a qualquer outro setor competitivo<br />
da economia mercantil contemporânea.<br />
BiBLioGrAFiA:<br />
BARBOSA, E.F. et al. Implantação da Qualidade Total na<br />
Educação. Belo Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni, 1995.<br />
BATEMAN, T.S.; SNELL, S.A. Administração: construin<strong>do</strong><br />
Vantagem Competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.<br />
BUARQUE, C. A Aventura da Universidade. São Paulo: Editora<br />
da Universidade Estadual Paulista; Rio de Janeiro: Paz e Terra,<br />
1994.<br />
DRÜGG, K.I.; ORTIZ, D.D. O desafio da Educação: a Qualidade<br />
Total. São Paulo: Makron Books, 1994.<br />
ENGUITA, M.F. O discurso da Qualidade e a qualidade <strong>do</strong><br />
discurso. In: GENTILI, P.A.A.; SILVA, T.T. (org.) Neoliberalismo,<br />
Qualidade Total e Educação: Visões Críticas. 5. ed. Petrópolis:<br />
Vozes, 1997. p. 95-110.<br />
FERREIRA, A.A.; REIS, A.C.F.; PEREIRA, M.I. Gestão<br />
empresarial: de Taylor aos nossos dias. São Paulo: Pioneira,<br />
1998.<br />
FRIGOTTO, G. Educação e formação humana: ajuste<br />
neoconserva<strong>do</strong>r e alternativa democrática. In: GENTILI, P.A.A.;<br />
SILVA, T.T. (org.) Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação:<br />
Visões Críticas. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 33-92.<br />
GENTILI, P.A.A.; SILVA, T.T. (orgs.) Neoliberalismo, Qualidade<br />
Total e Educação: Visões Críticas. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.<br />
GUILLON, A.B.B.; MIRSHAWKA, V. Reeducação: qualidade,<br />
produtividade e criatividade - caminho para a escola excelente no<br />
século XXI. São Paulo: Makron Books, 1994.<br />
GOTTLIEB, L. A Busca da excelência pelo Ensino Superior:<br />
mapeamento experimental. Universidade - A Busca da Qualidade,<br />
n. 3, p. 182-5, maio/jun. 1994.<br />
LOPES, R. Calidad: claves para un proceso de mejora. In:<br />
BIASCA, R.; PALADINO, M. Resizing. Buenos Aires: Macchi,<br />
1992.<br />
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à<br />
Administração. 5. ed. Revisada e ampliada. São Paulo: Atlas,<br />
2000.<br />
MEZOMO, J.C. Gestão da Qualidade Total na escola.<br />
Petrópolis: Vozes, 1997.<br />
RAMOS, C. Excelência na Educação: a escola da Qualidade<br />
Total. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1992.<br />
_________. Excelência na Educação: a escola da Qualidade<br />
Total. In: Universidade: A Busca da Qualidade, n. 4, p. 200-6,<br />
jul./ago. 1994.<br />
SANDRONI, P. Novo dicionário de Economia. 4. ed. São<br />
Paulo: Best Seller, 1994.<br />
SILVA, T.T. A “Nova” direita e as transformações na pedagogia<br />
da política e na política da pedagogia. In: GENTILI, P.A.A.; SILVA,<br />
T.T., org. Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação: Visões<br />
Críticas. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 11-29.<br />
SPANBAUER, S.J. Um sistema de qualidade para a educação:<br />
usan<strong>do</strong> técnicas de qualidade e produtividade para salvar nossas<br />
escolas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1995.<br />
NoTAS<br />
1- Doutora em Educação pela PUC-SP e Mestre em Administração<br />
de Empresas pela FGV-SP. <strong>Di</strong>retora Acadêmica da Faculdade Brasília<br />
de São Paulo e professora de cursos de pós-graduação em Gestão e<br />
Educação. E-mail: hildabraga@terra.com.br<br />
2- Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho de consultoria da Fundação Cristiano Ottini:<br />
a) o trabalho pedagógico ganha uma percepção mais holística;<br />
b) melhora sensível no ambiente de trabalho;<br />
c) incentivo ao trabalho em equipe e aprendiza<strong>do</strong> mútuo;<br />
d) redução de retrabalho e favorecimento <strong>do</strong> uso racional <strong>do</strong>s recursos;<br />
e) melhoria na administração <strong>do</strong> tempo;<br />
f) preocupação com a realização das metas da organização;<br />
g) introdução de transparência nos processos;<br />
A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />
na educação: uma análise crítica.<br />
h) amplo conhecimento <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da organização;<br />
i) possibilidade de a<strong>do</strong>ção rápida de contramedidas para o bloqueio das<br />
causas gera<strong>do</strong>ras de maus resulta<strong>do</strong>s;<br />
j) criação de condições para a realização de um planejamento estratégico<br />
mais compartilha<strong>do</strong>;<br />
k) geração de possibilidade de manutenção <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio tecnológico<br />
através da padronização;<br />
l) melhoria de to<strong>do</strong>s os serviços presta<strong>do</strong>s pela universidade.<br />
BARBOSA, E.F. et al. Implantação da Qualidade Total na Educação. Belo<br />
Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni, 1995.<br />
3- Neoliberalismo é uma <strong>do</strong>utrina político-econômica que representa<br />
uma tentativa de adaptar os princípios <strong>do</strong> liberalismo econômico às<br />
condições <strong>do</strong> capitalismo moderno. O Neoliberalismo defende a livre<br />
concorrência sob o disciplinamento da ordem econômica feito pelo<br />
Esta<strong>do</strong> (SANDRONI,1994, p. 240.<br />
4- Competitividade é a condição de competir e vencer a competição,<br />
segun<strong>do</strong> BATEMAN, T.S.; SNELL, S.A. Administração: construin<strong>do</strong><br />
Vantagem Competitiva. São Paulo: Atlas, 1998, p. 35.<br />
109
CAMPUS I<br />
FAMEC - FACULDADE MONTESSORI<br />
Av. Jurucê, 402 - Moema - São Paulo - SP<br />
CEP 04080-011 - Tel.: 5542-9911<br />
www.montesorinet.com.br<br />
CAMPUS II<br />
FAAC - FACULDADE ASSOCIADA DE COTIA COTI<br />
Rua Nelson Raineri, 700 - Recanto R Vista Alegre - Cotia - SP<br />
CEP 06702-155 - Tel.: T<br />
4616-0770<br />
w.faac.br<br />
CAMPUS III<br />
FMI - FACULDADE MONTESSORI DE IBIÚNA<br />
Ro<strong>do</strong>via Bunjiro Nakao - Ibiúna - SP<br />
CEP 18150-000 - Tel.: (15) 3248-1850<br />
FABRASP - FACULDADE BRASÍLIA DE SÃO PAULO<br />
Rua Angá, 395 - Vila Formosa - São Paulo - SP<br />
CEP 03360-000 - Tel.: 6211-0066<br />
www.brasiliasp.br