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ANO 5 - NÚMERO 5 - 2006<br />

REVISTA<br />

CIENTÍFICA<br />

FACULDADE BRASÍLIA DE SÃO PAULO<br />

5<br />

ISSN 1677-4612


REVISTA CIENTÍFICA<br />

FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />

ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006


REVISTA CIENTÍFICA FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />

ISSN – 1677-4612<br />

Sumário<br />

• Editorial ..................................................................................5<br />

Selma Ligeiro Rein - Presidente das FAMEC, FAAC e FMI<br />

• Entrevista Especial com o Presidente da Confederação<br />

Brasileira de Beisebol e Softbol em ibiúna ........................6<br />

• ENCONTROS: Educação e Novas Tecnologias –<br />

reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> Grupo montessori<br />

a propósito da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos<br />

Cursos de Graduação ...........................................................7<br />

• Comunicação gera efeitos probalísticos e incertos<br />

Carlos Rossini – FMI .............................................................10<br />

• A natureza na cidade: representações contemporâneas<br />

no merca<strong>do</strong> imobiliário<br />

Carlos Eduar<strong>do</strong> P. Ferreira – FAMEC .....................................14<br />

• Liderança servi<strong>do</strong>ra: Teoria, Conceito ou mais um<br />

modismo?<br />

João Pinheiro de Barros Neto – FAAC/FAMEC .....................19<br />

• reciclagem de alumínio – impactos econômicos e sociais<br />

Márcia Regina Konrad – aluna FAMEC .................................23<br />

• Administração de micro e pequenas empresas: confronto<br />

entre as peculiaridades apresentadas pela literatura<br />

e observadas na prática ao longo da implantação de<br />

programas de melhorias<br />

Rosley Anholon, Jefferson de Souza Pinto – FABRASP .......27<br />

• Aplicação de computação paralela para um<br />

sistema robótico<br />

Ricar<strong>do</strong> Shitsuka – FAMEC, Cao Jikan, Dorlivete M. Shitsuka,<br />

Rabhith I. C. M. Shitsuka, Caleb D. W. M. Shitsuka .............34<br />

• Sistema de atendimento à saúde<br />

Claudinei Rodrigues <strong>do</strong> Carmo, Elias Alves <strong>do</strong>s Santos,<br />

Marcelo Branco, Marisa Irene Emídio, Valdecir Pereira Coelho<br />

– alunos da FAMEC e orientação da prof. Josyane Lannes<br />

Florenzano de Souza ............................................................38<br />

• Sistemas de Gerenciamento de Estacionamento<br />

com reconhecimento Óptico de Placas de Veículo<br />

João Daniel Forstman, Luiz Fernan<strong>do</strong> Mangiopane,<br />

Marcos Antonio da Silva, Paulo César de Oliveira Veras<br />

– alunos da FAMEC ..............................................................42<br />

• Adaptação curricular e educação a distância: os alunos<br />

estão prepara<strong>do</strong>s?<br />

Adriana Paula Borges – FAMEC / FAAC ...............................47<br />

ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006<br />

• o estudante empreende<strong>do</strong>r<br />

Maria de Fátima Abud Olivieri – FAMEC ...............................52<br />

• interação Família e Escola – uma Experiência inova<strong>do</strong>ra<br />

Katsue Hamada e Zenun – FAMEC, Mitsuko Yamnazaki<br />

Marques ................................................................................57<br />

• o professor que sou e quero ser – reflexões a<br />

partir <strong>do</strong>s principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante<br />

o curso de didática<br />

Celina Bragança – aluna FAMEC ..........................................64<br />

• A aprendizagem da leitura e da escrita<br />

Nilza Izaac Macê<strong>do</strong> – FAMEC ...............................................70<br />

• Análise das conclusões <strong>do</strong> livro ´A origem das espécies´<br />

de Charles Darwin<br />

Ricar<strong>do</strong> Roberto Plaza Teixeira – FAAC ................................75<br />

• o audiovisual no Programa de Alfabetização de Jovens<br />

e Adultos da FAmEC com a ALFASoL<br />

Claudemir Edson Viana, Joel Graviolli (aluno e Gestor<br />

<strong>do</strong> Programa ALFASOL da FAMEC) .....................................79<br />

• Jogo chinês TANGrAm na aprendizagem de matemática<br />

no Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da<br />

FAmEC com a ALFASoL<br />

Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça – aluna FAMEC ........................83<br />

• Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos<br />

de Ciências Contábeis: Padrões Nacionais frente aos<br />

desafios impostos pela globalização<br />

Celina de Lima Pizolato – FABRASP, <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong><br />

<strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong> Giorgi ...........................................................86<br />

• A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens na cidade de<br />

São Paulo<br />

Renato Hsie – FABRASP ......................................................93<br />

• o Funk desce o morro, invade o asfalto e convida<br />

o outro para dançar<br />

Ângela Meneguello – FABRASP, Patricia Rodelli Amoroso ...103<br />

• A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total na educação:<br />

uma análise crítica<br />

Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga – FABRASP ...............106


REVISTA CIENTÍFICA FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />

ISSN – 1677-4612<br />

REVISTA CIENTÍFICA DA FAMEC – Resulta da organização e produção<br />

acadêmica das Instituições <strong>do</strong> Ensino Superior:<br />

FAmEC – FACuLDADE DE EDuCAÇÃo E CuLTurA moNTESSori<br />

FAAC – FACuLDADE ASSoCiADA DE CoTiA<br />

Fmi – FACuLDADE moNTESSori DE iBiÚNA<br />

FABrASP – FACuLDADE BrASÍLiA DE SÃo PAuLo<br />

Presidente FAmEC, FAAC e Fmi<br />

Selma Ligeiro Rein<br />

Presidente FABrASP<br />

Profa. Yako Kuba Sakamoto<br />

Vice-Presidente FAmEC, FAAC e Fmi<br />

Michelle Ligeiro Rein<br />

<strong>Di</strong>retores Acadêmicos<br />

FAMEC – Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />

FAAC – Prof. Adailton Costa Rodrigues<br />

FMI – James Prestes<br />

FABRASP – Profa. Dra. Hilda Maria C. Barroso Braga<br />

<strong>Di</strong>retor de Planejamento e marketing FAmEC, FAAC e Fmi<br />

Adalberto Borges de Oliveira Júnior<br />

Conselho Editorial<br />

Profa. Doutoranda Adriana Paula Borges<br />

Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />

Prof. Ms. Manoel Edson de Oliveira<br />

Profa. Ms. Márcia Moreira de Carvalho<br />

Prof. Ms. Marino Alves de Faria Filho<br />

Prof. Ms. Cláudio José de Andrade<br />

Prof. Ms. Marcos Senna<br />

Prof. Dr. Willian Aurélio Nogueira<br />

Prof. Dr. Valdir Luiz Lopes<br />

Prof. Ms. Ricar<strong>do</strong> Zani<br />

Consultores<br />

Profa. Dra. Hilda Maria C. Barroso Braga<br />

Profa. Doutoranda Márcia Giuzi Mareuse<br />

Profa. Doutoranda Ubiracy Cintra<br />

Prof. Dr. Valdevino Rodrigues <strong>do</strong>s Santos<br />

Coordenação Editorial<br />

Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />

Projeto Gráfico e <strong>Di</strong>agramação interna<br />

Andréa Bacellar<br />

revisão<br />

Prof. Dr. Valdir Luiz Lopes<br />

Tiragem<br />

Em PDF disponível nos sites da Instituições organiza<strong>do</strong>ras, e em CD-ROM.<br />

ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006


REVISTA CIENTÍFICA FAMEC / FAAC / FMI / FABRASP<br />

ISSN – 1677-4612<br />

E<strong>Di</strong>ToriAL<br />

Este é o quinto ano consecutivo que esta revista cientifica<br />

concretiza-se, viabilizan<strong>do</strong> a produção e divulgação <strong>do</strong>s trabalhos<br />

de <strong>do</strong>centes e discentes das Faculdades que organizam esta<br />

publicação: FAMEC, FAAC, FMI e FABRASP (Faculdade de<br />

Educação e Cultura Montessori, Faculdade Associada de Cotia,<br />

Faculdade Montessori de Ibiúna e Faculdade Brasília de São<br />

Paulo), e de autores convida<strong>do</strong>s.<br />

A revista continua prezan<strong>do</strong> por uma de suas principais<br />

características: participação de alunos como autores ou coautores,<br />

sen<strong>do</strong> na maioria das vezes como um <strong>do</strong>s produtos de<br />

um trabalho maior, parte de projetos e atividades decorrentes<br />

<strong>do</strong>s cursos de graduação. Por isso, é uma grande satisfação ter<br />

neste número da Revista um crescimento significativo no número<br />

e na qualidade <strong>do</strong>s trabalhos apresenta<strong>do</strong>s pelos alunos, sen<strong>do</strong><br />

que os aprova<strong>do</strong>s para participarem nesta edição foram seis.<br />

Também é preocupação da equipe organiza<strong>do</strong>ra desta<br />

Revista Científica que ela seja facilmente acessada pelo público<br />

em geral. Isto já aconteceu com os números 04 (2005) e 03<br />

(2004) que, desde maio de 2006 foram disponibilizadas em PDF<br />

no site da Faculdade Montessori (www.montessorinet.com.br/<br />

bibliotecadigital), com acesso livre para qualquer pessoa, e não<br />

só os integrantes da comunidade acadêmicas das Instituições<br />

de Ensino envolvidas. Isto porque uma das razões para tanto<br />

trabalho até chegar neste resulta<strong>do</strong>, a Revista Científica no. 5, é<br />

a de promover a divulgação <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Então, a partir deste número, a revista será editada apenas<br />

em suporte digital, CD-ROM e nos sites das Instituições<br />

promotoras. Mas, certamente, as transformações neste veículo<br />

de divulgação científica virão nos próximos números, se levarmos<br />

em consideração esta opção pela hipermídia.<br />

Algumas características <strong>do</strong> estilo Editorial deste revista<br />

vêm se manten<strong>do</strong>. Um exemplo é a já tradicional abertura <strong>do</strong>s<br />

trabalhos com um convida<strong>do</strong> especial sen<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> porque<br />

tem uma atuação em uma Instituição que se torna modelo para<br />

a sociedade brasileira. Neste ano, é entrevista<strong>do</strong> o Presidente da<br />

Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol em Ibiúna, o Sr.<br />

Jorge Otsuka, que nos conta um pouco sobre como a empresa<br />

Yakult apóia esta iniciativa.<br />

Ainda guardan<strong>do</strong> uma prática existente nesta Revista<br />

Científica é a seção Encontros, cujo objetivo é resgatar o conteú<strong>do</strong><br />

e a reflexão resultantes de um encontro entre professores<br />

<strong>do</strong> Grupo Montessori, como foi o que ocorreu com a Plenária<br />

sobre Educação e Novas Tecnologias durante o planejamento<br />

pedagógico de fevereiro de 2006 e, que aqui, transforma-se num<br />

texto organiza<strong>do</strong> pelo <strong>Di</strong>retor Acadêmico da FAMEC, Claudemir<br />

Edson Viana.<br />

Apesar da Revista não ter um tema central, permitin<strong>do</strong><br />

a diversidade verificada nos temas trata<strong>do</strong>s na revista<br />

neste número 5, a organização em blocos temáticos surgiu<br />

naturalmente conforme tínhamos os resulta<strong>do</strong>s de aprovação<br />

ANO 5 – NÚMERO 5 - 2006<br />

<strong>do</strong>s artigos inscritos. Assim, os próximos cinco artigos são das<br />

áreas de Administração de Empresas e de Comunicação Social:<br />

Comunicação gera efeitos probalísticos e incerto, A natureza<br />

na cidade de São Paulo: representações contemporâneas,<br />

Liderança servi<strong>do</strong>ra: Teoria, Conceito ou mais um modismo?,<br />

reciclagem de alumínio – impactos econômicos e sociais,<br />

Administração de micro e pequenas empresas: confronto<br />

entre as peculiaridades apresentadas pela literatura e<br />

observadas na prática ao longo da implantação de programas<br />

de melhorias.<br />

Um segun<strong>do</strong> bloco surgiu com o tema Tecnologias da<br />

Informação graças aos trabalhos aprova<strong>do</strong>s provenientes de<br />

experiências promovidas pelo curso de Sistemas de Informação<br />

da FAMEC, com artigos que tratam de sistemas aplica<strong>do</strong>s<br />

a situações <strong>do</strong> cotidiano, até a reflexão sobre os alunos na<br />

modalidade a distância: Aplicação de algoritmo de Computação<br />

paralela para simulação de um sistema robótico; Sistemas<br />

de atendimento à saúde; Sistemas de Gerenciamento de<br />

Estacionamento com reconhecimento Òptico de Placas de<br />

Veículo; Adaptação curricular e educação a distância: os<br />

alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />

No terceiro bloco de artigos, a educação é o eixo temático<br />

comum nos trabalhos aprova<strong>do</strong>s e que, por isso, formam esta<br />

seção da Revista. Mais especificamente, tratam de analisar<br />

programas políticos e sistemas da Alfabetização, e também<br />

de práticas pedagógicas e o perfil <strong>do</strong> aluno empreende<strong>do</strong>r: o<br />

estudante empreende<strong>do</strong>r; Programa de interação Família<br />

e Escola – Política Pública inova<strong>do</strong>ra; o professor que sou<br />

e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s principais elementos<br />

aborda<strong>do</strong>s durante o curso de didática; A aprendizagem<br />

da leitura e da escrita; Análise das conclusões <strong>do</strong> livro ´A<br />

origem das espécies´ de Charles Darwin; o audiovisual no<br />

Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da FAmEC<br />

com a ALFASoL; Jogo chinês TANGrAm na aprendizagem<br />

de matemática no Programa de Alfabetização de Jovens e<br />

Adultos da FAmEC com a ALFASoL<br />

E, por fim, um quarto bloco de artigos surgiu a partir da<br />

temática e da abordagem apresentadas por eles. Reflexões<br />

sobre a Educação Superior e a qualidade nos cursos de<br />

graduação são temas de alguns artigos, e também a cultura na<br />

sociedade metropolitana e suas implicações na vida de to<strong>do</strong>s:<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de<br />

Ciências Contábeis: Padrões Nacionais frente aos desafios<br />

impostos pela globalização; A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s<br />

jovens na cidade de São Paulo; o Funk desce o morro, invade<br />

o asfalto e convida o outro para dançar; A influencia <strong>do</strong><br />

ideário da qualidade total na educação: uma análise crítica.<br />

Boa leitura<br />

Selma Ligeiro rein<br />

5


Entrevista Especial com o Presidente da Confederação<br />

Brasileira de Beisebol e Softbol em Ibiúna.<br />

Como em todas as edições desta Revista Científica, na seção de Entrevista Especial procura-se trazer a público as ações<br />

de uma Instituição cujas intervenções na sociedade brasileira promovam o desenvolvimento cultural, educativo ou social.<br />

Neste número, como convidada especial, temos a Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol, situada em Ibiúna,<br />

São Paulo, cujo presidente, Sr. Jorge Otsuka é o entrevista<strong>do</strong>:<br />

1) Sr. otsuka, faça um breve relato da história da<br />

Confederação / CT Yakult:<br />

A CBBS (Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol), foi<br />

fundada em 3 de fevereiro de 1990, com o intuito de dar unidade<br />

ao beisebol brasileiro. Porém outros objetivos também faziam<br />

parte da estratégia, como: fazer com que o esporte se torne<br />

conheci<strong>do</strong> no Brasil (divulgan<strong>do</strong> e massifican<strong>do</strong>), elevar o nível<br />

técnico <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res e conseguir uma vaga nas Olimpíadas.<br />

Para tanto, intensificou-se a preparação <strong>do</strong>s atletas, e desde<br />

então a entidade vem trazen<strong>do</strong> técnicos japoneses e cubanos<br />

para ministrarem clínicas para técnicos e joga<strong>do</strong>res brasileiros.<br />

Já o CT Yakult foi funda<strong>do</strong> em 1997 e foi fruto da parceria entre<br />

a CBBS e a multinacional japonesa Yakult. É o mais <strong>completo</strong> e<br />

moderno complexo de beisebol <strong>do</strong> Brasil, com 3 campos oficiais,<br />

salas de musculação e treinamentos específicos (arremesso e<br />

rebatidas), refeitório e apartamentos. Recebe as mais importantes<br />

competições <strong>do</strong> calendário nacional <strong>do</strong> beisebol e softbol e<br />

mantém uma academia de beisebol com mais de 40 atletas.<br />

Simboliza o desenvolvimento que o beisebol e softbol brasileiros<br />

tiveram nos últimos anos.<br />

2) Qual a importância da CBBS para a comunidade de<br />

ibiúna?<br />

Através da figura <strong>do</strong> CT Yakult, a CBBS tem si<strong>do</strong> uma grande<br />

parceira para a comunidade de Ibiúna, oferecen<strong>do</strong> uma estrutura<br />

esportiva de altíssimo padrão à comunidade (através <strong>do</strong> projeto<br />

Beisebol Solidário, no qual crianças de escolas públicas aprendem<br />

a jogar beisebol e recebem toda assistência) e também um “up”<br />

ao cenário turístico da cidade, atrain<strong>do</strong> pessoas de todas as<br />

partes <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que vão à Ibiúna para conhecer<br />

o CT e acabam desfrutan<strong>do</strong> da infra-estrutura da cidade, como<br />

hotéis, comércio, transporte e outros.<br />

Yakult em Ibiúna<br />

3) Qual a perspectiva <strong>do</strong> esporte para os próximos anos?<br />

O beisebol buscará dar continuidade ao seu trabalho de<br />

massificação, buscan<strong>do</strong> novos atletas em Esta<strong>do</strong>s diferentes,<br />

apoian<strong>do</strong> projetos sociais e trabalhan<strong>do</strong> para conseguir espaço<br />

na mídia. Também manterá o intercâmbio, no qual sempre tem<br />

busca<strong>do</strong> atletas e técnicos estrangeiros para ministrar clínicas no<br />

Brasil. E continuará honran<strong>do</strong> o país nas inúmeras competições<br />

internacionais nas quais já participa há anos, buscan<strong>do</strong> a tão<br />

sonhada medalha nos Jogos Panamericanos de 2007, no Rio de<br />

Janeiro.<br />

4) Como está estruturada a CBBS?<br />

Jorge Otsuka - Presidente<br />

Olívio Sawasato - Vice-presidente e <strong>Di</strong>retor de Softbol<br />

Carlos Tetuo Sugimoto - <strong>Di</strong>retor de Beisebol<br />

Alexandre Nita - Secretário-executivo<br />

Eric Akita - Assessor de Imprensa<br />

Sr. Jorge Otsuka<br />

E inúmeros diretores-técnicos espalha<strong>do</strong>s pelos Esta<strong>do</strong>s de<br />

São Paulo, Paraná, Mato Grosso <strong>do</strong> Sul e Pará.<br />

5) Como as pessoas interessadas podem praticar o<br />

esporte?<br />

Hoje o beisebol brasileiro possui inúmeros lugares para prática<br />

nos mais diversos Esta<strong>do</strong>s no país, concentran<strong>do</strong> mais na região<br />

Sudeste. Caso alguém esteja interessa<strong>do</strong> em praticar o esporte,<br />

pedimos que entre em contato conosco, da Confederação,<br />

através <strong>do</strong> e-mail secretaria@cbbs.com.br, e também busque<br />

informações em nosso site www.cbbs.com.br.<br />

6


Encontros no Montessori: Educação e novas tecnologias –<br />

Reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> Grupo Montessori a propósito<br />

da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos Cursos de Graduação.<br />

No ano de 2006, o Grupo Montessori (FAMEC – Faculdade<br />

de Educação e Cultura Montessori, FAAC – Faculdade Associada<br />

de Cotia, FMI – Faculdade Montessori de Ibiúna) deu um passo<br />

decisivo e significativo em direção ao uso das tecnologias digitais<br />

nos processos de Ensino e Aprendizagem nos seus cursos<br />

de Graduação. A a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> Portal Virtual Universitário como<br />

Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) se deu sob diretrizes<br />

político-pedagógicas que visam promover a inclusão <strong>do</strong>s alunos<br />

na cibercultura como parte <strong>do</strong> processo de formação cultural e<br />

profissional, e, assim, garantir aos alunos maiores oportunidades<br />

de trabalho e de vida; também procuram promover entre os<br />

<strong>do</strong>centes um processo de otimização <strong>do</strong> seu trabalho e a<br />

exploração <strong>do</strong>s recursos disponibiliza<strong>do</strong>s por esta tecnologia<br />

para a ampliar a qualidade em suas aulas.<br />

Tomada a decisão, seria necessário um perío<strong>do</strong> inicial de<br />

experimentação, reflexão, crítica e avaliação sobre os pontos<br />

positivos e as dificuldades encontra<strong>do</strong>s no uso <strong>do</strong> Portal Virtual<br />

no processo de ensino e de aprendizagem promovi<strong>do</strong>s pelos<br />

cursos de graduação. É importante destacar que o modelo de<br />

uso <strong>do</strong> Portal a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo Grupo Montessori foi o mais amplo<br />

e complexo, pois que todas as disciplinas de to<strong>do</strong>s os cursos<br />

passaram a ter no Portal o seu espaço virtual a ser ‘alimenta<strong>do</strong>’<br />

pelos <strong>do</strong>centes responsáveis das disciplinas e pelos seus alunos.<br />

Isto porque se entende que a incorporação da tecnologia digital<br />

no ensino presencial de nível superior deva ocorrer de mo<strong>do</strong> a<br />

atingir a to<strong>do</strong>s, disciplinas, <strong>do</strong>centes e alunos, para promover<br />

a educação para e pela mídia, neste caso a multimídia digital, e<br />

não restringi-las a determina<strong>do</strong>s cursos, disciplinas, profissionais<br />

ou alunos.<br />

Sem dúvida que o caminho seria mais trabalhoso para to<strong>do</strong>s.<br />

Entretanto, o desafio foi encara<strong>do</strong> também pelos <strong>do</strong>centes<br />

que, como parte das Atividades de Capacitação Continuada<br />

e de Planejamento, promoveram encontros presenciais para<br />

esclarecer dúvidas e iniciar o debate sobre a utilização <strong>do</strong> Portal<br />

Virtual como apoio às aulas presenciais.<br />

A seguir, reproduzimos um trecho <strong>do</strong> debate entre <strong>do</strong>centes<br />

<strong>do</strong> Grupo Montessori sobre o tema, numa das reuniões de<br />

trabalho de Planejamento de 2006. Depois, quan<strong>do</strong> o debate<br />

transformou-se no texto síntese abaixo reproduzi<strong>do</strong>, o mesmo foi<br />

utiliza<strong>do</strong> para promover um FÓRUM no Portal entre <strong>do</strong>centes da<br />

FAMEC. Algumas contribuições de <strong>do</strong>centes deixadas no referi<strong>do</strong><br />

fórum foram reproduzidas na segunda parte deste trabalho.<br />

Este é um exemplo da construção coletiva de <strong>do</strong>centes,<br />

discentes, funcionários, enfim, de toda comunidade acadêmica,<br />

de um saber muito especial, pois que se trata de saber<br />

tecnológico a serviço da valorização humana! Para isso, é preciso<br />

sabermos nos apropriar e utilizar positivamente os serviços e<br />

recursos disponibiliza<strong>do</strong>s pela tecnologia digital, a exemplo <strong>do</strong><br />

Portal Virtual como apoio às práticas pedagógicas presenciais<br />

de <strong>do</strong>centes e no processo de aprendizagem entre alunos <strong>do</strong><br />

Ensino Superior.<br />

organiza<strong>do</strong>r: Prof. Dr. Claudemir Edson Viana<br />

Debate Presencial - Texto síntese <strong>do</strong> debate ocorri<strong>do</strong> na<br />

Plenária<br />

No ano de 2006, as Instituições <strong>do</strong> Grupo Montessori (FAMEC/<br />

FAAC/FMI) implementam o uso de um Portal Virtual como novo<br />

espaço de mediação <strong>do</strong> ensino e da aprendizagem. Em razão<br />

disto, a presente plenária objetiva promover o debate e a reflexão<br />

entre os <strong>do</strong>centes sobre aspectos que envolvem a utilização<br />

desta tecnologia na educação. Após a introdução com a exibição<br />

<strong>do</strong>s sete primeiros minutos <strong>do</strong> filme 2001 – Uma Odisséia no<br />

Espaço para estimular o debate, as principais reflexões são<br />

apresentadas a seguir:<br />

1- O termo Portal privilegia o caráter tecnológico, porém o<br />

conceito mais apropria<strong>do</strong> é o de AMBIENTE DE APRENDIZAGEM<br />

por enfatizar o processo educativo viabilizada por esta<br />

tecnologia, e o fato de a aplicação <strong>do</strong> recurso estar a serviço <strong>do</strong>s<br />

processos de aprendizagem. Portanto, trata-se de um processo<br />

de convivência, e não de concorrência, da tecnologia com<br />

méto<strong>do</strong>s tradicionais de ensino-aprendizagem. Neste senti<strong>do</strong>, o<br />

desafio está em adequar a prática pedagógica à inserção desta<br />

tecnologia como complemento às ações de sala de aula e,<br />

2- Como o <strong>do</strong>cente deve lidar com a situação, onde o aluno<br />

demonstra <strong>do</strong>minar mais esta tecnologia que ele(a)? Certamente<br />

que não seria dissimular tal diferença de conhecimentos em<br />

relação ao <strong>do</strong> aluno pois isto favoreceria o descrédito deste para<br />

com o <strong>do</strong>cente e sua prática. A melhor atitude <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente seria<br />

o de ‘aprender’ com o aluno, permitin<strong>do</strong> assim a mão-dupla que<br />

caracteriza a relação professor-aluno, de mo<strong>do</strong> a aprender com<br />

o aluno sobre aquilo que o <strong>do</strong>cente desconhece. Esta atitude<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>cente reforçará o comprometimento <strong>do</strong> aluna<strong>do</strong> com o<br />

processo, bem como o crescimento de ambos na utilização <strong>do</strong><br />

recurso tecnológico;<br />

3- Não se deve temer a tecnologia digital como ambiente de<br />

aprendizagem e sim ter uma atitude de incorporação da mesma<br />

sem perder a perspectiva crítica. Também é preciso perceber<br />

que a utilização desta tecnologia não substitui o papel <strong>do</strong><br />

professor como media<strong>do</strong>r <strong>do</strong> processo de aprendizagem. Muito<br />

pelo contrário, vem requerer <strong>do</strong> professor maior importância no<br />

processo de aprendizagem na medida em que são favoreci<strong>do</strong>s<br />

diferentes meto<strong>do</strong>logias de ensino e diferentes materiais<br />

didáticos, ou seja, além <strong>do</strong>s tradicionais suportes da informação<br />

como livros, apostilas, lousa etc, também fazer utilização de<br />

suporte digital. Isto significa também a utilização de linguagens<br />

contemporâneas no processo de ensino-aprendizagem, e esta<br />

consciência favorece a apropriação da tecnologia em prol<br />

<strong>do</strong> processo humano presente na relação professor-aluno; a<br />

utilização adequada desta tecnologia permitirá o enriquecimento<br />

e a otimização <strong>do</strong>s trabalhos de trocas entre os atores envolvi<strong>do</strong>s.<br />

Com isso, o aspecto humano prevalecerá sobre a tecnologia;<br />

4- Embora a tecnologia digital <strong>do</strong>s ambientes de aprendizagem<br />

favoreça a relação individual professor-aluno, é preciso explorar o<br />

trabalho coletivo <strong>do</strong>s alunos. Isso é possível graças a tecnologia<br />

que viabiliza recursos como o fórum, chats, dentre outras práticas<br />

via Internet. O processo de interação entre indivíduos possibilita<br />

o contato com pontos de vistas diferentes, conhecer e refletir<br />

sobre diversos questionamentos, refletir sobre seu próprio pensar,<br />

7


ampliar com autonomia sua tomada de consciência para buscar<br />

novos rumos, estan<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong>s a comunicação, a colaboração<br />

e a cooperação. Especificamente falan<strong>do</strong> da interação social<br />

em rede de computa<strong>do</strong>res essa interação pode ser diferenciada<br />

quanto à temporalidade e quanto ao direcionamento e número de<br />

interlocutores.<br />

Um fator importante a ser destaca<strong>do</strong> relaciona-se à<br />

percepção no processo interação-colaboração-cooperação. A<br />

percepção é a aquisição de conhecimento por meio <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />

sobre acontecimentos e ações mesmo sem se comunicar<br />

diretamente com elas, como é possível em ambientes virtuais<br />

de aprendizagem. A percepção torna-se um fator fundamental<br />

na comunicação, coordenação e cooperação de um grupo de<br />

trabalho, porém em ambientes virtuais isso pode se tornar um<br />

obstáculo 1 .<br />

Os ambientes virtuais de trabalho e de aprendizagem<br />

colaborativos, através da interconexão de máquinas fornecidas<br />

pelas redes de computa<strong>do</strong>res e pela Internet, visam facilitar as<br />

atividades em grupo. Portanto, estes ambientes devem prover<br />

elementos de percepção de forma a permitir a coordenação em<br />

tarefas cooperativas, principalmente onde a comunicação direta<br />

não ocorre, evitan<strong>do</strong>-se assim que a percepção se torne um<br />

obstáculo. Além disso, devem prover elementos de percepção<br />

para que indivíduos possam interpretar eventos, prever possíveis<br />

necessidades e transmitir informações de maneira organizada.<br />

Perceber as atividades <strong>do</strong>s outros indivíduos é essencial para o<br />

fluxo e naturalidade <strong>do</strong> trabalho e para diminuir as sensações de<br />

impessoalidade e distância, comuns nos ambientes virtuais.<br />

A percepção dentro de um ambiente envolve vários aspectos<br />

cognitivos relativos à habilidade humana. Enquanto a interação<br />

entre pessoas e ambiente dentro de uma situação face-a-face<br />

parece natural, visto que senti<strong>do</strong>s como visão e audição estão<br />

disponíveis em sua plenitude, a situação fica menos clara quan<strong>do</strong><br />

há a tentativa de fornecer suporte à percepção em ambientes<br />

virtuais (Assis, 2000). Estes ambientes tendem a esconder<br />

diversas informações, que estão disponíveis num encontro facea-face.<br />

Ten<strong>do</strong> como base essas informações é possível afirmar<br />

que o ideal é que existam momentos presenciais antes da<br />

colaboração em ambientes virtuais de aprendizagem para que a<br />

percepção possa se manifestar através das mensagens trocadas<br />

em meios eletrônicos.<br />

5- A interação humana com a tecnologia digital se dá de<br />

diferentes formas a depender das pessoas, <strong>do</strong> convívio e <strong>do</strong>mínio<br />

que possuem, e, principalmente, da diferença entre as gerações,<br />

pois que é notável a facilidade que os mais jovens têm em utilizar<br />

os recursos desta tecnologia, e isto é percebi<strong>do</strong> também nos<br />

processos cognitivos. Embora esta diferença seja ‘natural’,<br />

impõe-se aos mais velhos um processo de aprendizagem que<br />

se refletirá em suas práticas profissionais. No caso <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente,<br />

tal prática implica em adequações nas práticas pedagógicas<br />

em favor <strong>do</strong>s valores a serem trabalha<strong>do</strong>s por aquele entre seus<br />

alunos, como indica Edigar Morin 2 ;<br />

6- Questionamentos são parte <strong>do</strong> processo de incorporação<br />

da tecnologia digital sobre o processo de ensino-aprendizagem.<br />

O <strong>do</strong>cente se pergunta sobre como será a ‘aula virtual’, imagina<br />

uma limitação de suas práticas pedagógicas, atribui previamente<br />

os adjetivos de tênua, fria, distante à relação professor-aluno<br />

quan<strong>do</strong> ela se dá por meio da tecnologia digital e à distância.<br />

E pior, já imagina uma certa confusão a administrar em sala de<br />

aula quan<strong>do</strong> se pergunta sobre os alunos que não têm acesso à<br />

Internet e um computa<strong>do</strong>r: o que fazer? Como fazer ?, atribuin<strong>do</strong><br />

a este contexto o motivo por não embrenhar-se neste universo.<br />

São atitudes, até certo limite, humanamente aceitáveis, pois que<br />

temer o novo faz parte da adrenalina de enfrentá-lo; entretanto,<br />

Encontros no Montessori: Educação e novas tecnologias – Reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong><br />

Grupo Montessori a propósito da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos Cursos de Graduação.<br />

sabemos <strong>do</strong>s que têm me<strong>do</strong> da adrenalina, ou não se sentem<br />

capazes.<br />

7- Das participações <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes presentes, pode-se<br />

apresentar algumas sugestões, tais como:<br />

“o que tem no virtual, tem que ter na aula presencial”;<br />

“respeitar as diversidades de disciplinas e conteú<strong>do</strong>s”;<br />

“o professor não perde espaço, é mais um meio de<br />

aprendizagem”;<br />

“a essência está nas trocas...”;<br />

“disponibilização da produção cognitiva <strong>do</strong> grupo,<br />

reestruturação de resignificações sobre a realidade...”.<br />

E alguém pergunta, afinal: “e os livros? Como ficam os<br />

originais?...”.<br />

8- Precisamos formar o professor não só para usar as<br />

novas tecnologias como instrumental técnico, mas também<br />

como recursos pedagógicos, ou seja, precisamos capacitar o<br />

educa<strong>do</strong>r para que ele se torne media<strong>do</strong>r e utilize as ferramentas<br />

<strong>do</strong> Ambiente Virtual de Aprendizagem para oferecer acesso ao<br />

conteú<strong>do</strong> sistematiza<strong>do</strong>, ajudan<strong>do</strong> o educan<strong>do</strong> através dessas<br />

novas ferramentas a desenvolver o seu cognitivo.<br />

9- Durante a nossa experiência de <strong>do</strong>centes que utilizam a<br />

tecnologia digital, podemos desenvolver méto<strong>do</strong>s de ensinoaprendizagem<br />

que orientam os educa<strong>do</strong>res nas suas práticas<br />

pedagógicas. Sen<strong>do</strong> assim, também seremos produtores e<br />

cria<strong>do</strong>res de conhecimentos a respeito.<br />

Fórum no Portal Virtual: “Educação e Novas Tecnologias”<br />

– Contribuições de alguns <strong>do</strong>centes<br />

Adélio Brito<br />

A proposta de um Portal <strong>Di</strong>gital para nos auxiliar no processo<br />

de ensino é excelente, não só para nós <strong>do</strong>centes, mas também<br />

para o aluno. Se analisarmos o merca<strong>do</strong> de trabalho, veremos<br />

que ele caminha para uma virtualização numa velocidade cada<br />

vez mais acelerada. Além disso, podemos observar uma evolução<br />

da participação desse ambiente como ferramenta de trabalho.<br />

Muitas empresas já fazem reuniões, conferências e treinamentos<br />

utilizan<strong>do</strong> o ambiente virtual, sen<strong>do</strong> que antigamente, servia<br />

apenas como local de armazenamento de da<strong>do</strong>s, que nem<br />

sempre era utiliza<strong>do</strong> da melhor maneira.<br />

O que temos hoje em mãos, falan<strong>do</strong> especificamente da nossa<br />

Instituição, é uma oportunidade fantástica de habituarmos os<br />

alunos às novas tecnologias, não apenas à nossa, mas também<br />

como um estímulo a que procure novidades no segmento. E,<br />

também, uma maneira de torná-los mais atualiza<strong>do</strong>s e mais<br />

competitivos.<br />

Não podemos nos esquecer que é também uma oportunidade<br />

para nós <strong>do</strong>centes explorarmos novas maneiras de transmitirmos<br />

nosso conhecimento a um universo que, devi<strong>do</strong> à constante<br />

evolução, exige que o acompanhemos.<br />

Edson mota<br />

Esse tipo de uso de ferramenta é ótima oportunidade para<br />

to<strong>do</strong>s, porém temos um questionamento. Será que to<strong>do</strong>s estão<br />

prepara<strong>do</strong>s? Como manter o mesmo nível de atividade no portal se<br />

temos outros atrativos? O Portal pode ser uma ótima ferramenta,<br />

mas ela não pode ser considerada ensino a distância.<br />

8


marino Alves Filho<br />

Tu<strong>do</strong> o que é novo traz consigo alguns porquês. Aos poucos,<br />

e mudan<strong>do</strong> primeiro em nós, com certeza veremos o mun<strong>do</strong> de<br />

outra forma.<br />

ricar<strong>do</strong> Shitsuka<br />

Na prática diária da <strong>do</strong>cência e no dia-a-dia, muitas pessoas<br />

com as quais temos contato nos perguntam: O que é um Portal?<br />

Qual a diferença entre um “site” e um Portal? Qual a relação <strong>do</strong> Portal<br />

com a educação? Sempre é um prazer discutir essas questões<br />

para ajudar a formar ou construir o conhecimento coletivo.<br />

Desde a década de 90, as redes de computa<strong>do</strong>res passaram<br />

por evoluções e se constituíram em ambientes de informática<br />

que crescem em quantidade e uso por diversos motivos, entre<br />

os quais, a possibilidade de enxergar conteú<strong>do</strong>s de outros<br />

computa<strong>do</strong>res que estejam liga<strong>do</strong>s na rede, a possibilidade de<br />

comunicar entre os computa<strong>do</strong>res da rede e a possibilidade de<br />

realizar tarefas em conjunto ou em rede.<br />

As empresas foram os locais cujas “redes” prosperaram<br />

mais, embora em ambientes <strong>do</strong>mésticos também muita gente<br />

tenha suas “redes de computa<strong>do</strong>res”, quan<strong>do</strong> o poder aquisitivo<br />

e a necessidade o permitem. Há pessoas que possuem pontos<br />

de rede na sala, na cozinha, nos quartos e até nas garagens e<br />

nos lavatórios.<br />

As redes dentro das empresas evoluíram para as “intranets”,<br />

que eram uma versão interna às empresas, semelhante à grande<br />

rede das redes que é a Internet.<br />

Quan<strong>do</strong> se fala em “website”, “site” ou simplesmente<br />

página da internet, estamos nos referin<strong>do</strong> às telas que surgem<br />

no computa<strong>do</strong>r conecta<strong>do</strong> na Internet e mais precisamente,<br />

num serviço dessa mãe de todas as redes, que é o serviço web<br />

(serviço de interface gráfica da internet).<br />

Bem, as páginas podem ser estáticas ou dinâmicas. Quanto<br />

a página é estática há pouca interatividade, entre o usuário e o<br />

conteú<strong>do</strong> da página. Porém, quan<strong>do</strong> se pensa em aumentar a<br />

interatividade e este é também um <strong>do</strong>s fundamentos <strong>do</strong> Ensino a<br />

<strong>Di</strong>stância (EAD), pensa-se principalmente em páginas dinâmicas<br />

que podem trocar conteú<strong>do</strong> e permitir que se acessem outros<br />

serviços, bancos de da<strong>do</strong>s e áreas internas da empresa como é<br />

o caso da intranet. Neste último caso, quan<strong>do</strong> podemos acessar<br />

áreas internas das empresas, temos o PORTAL.<br />

Num Portal, temos que entrar com o “login” e a senha e<br />

podemos acessar bancos de da<strong>do</strong>s, sistemas internos. Este é<br />

o caso <strong>do</strong> Portal da nossa gloriosa FAMEC: podemos acessar o<br />

sistema no qual estamos postan<strong>do</strong> esta mensagem.<br />

Os portais, como é o caso <strong>do</strong> nosso, podem ampliar<br />

ou multiplicar a possibilidade de transmitir e interagir entre<br />

as pessoas. Desta forma, pessoas que possuem idéias e<br />

conhecimentos, podem trocar idéias e informações com outras<br />

pessoas, e desta forma, o conjunto to<strong>do</strong> <strong>do</strong>s usuários pode ter<br />

acesso ao pensamento <strong>do</strong>s outros, outras visões <strong>do</strong>s colegas,<br />

e isso em economia, administração, história da arte, história da<br />

educação, administração da produção, etc.<br />

Penso que se vivêssemos na Grécia Antiga, estaríamos juntos<br />

<strong>do</strong>s filósofos gregos como o grande Aristóteles, Anaxágoras<br />

e outros. Teríamos que estar <strong>do</strong> la<strong>do</strong> ateniense ou espartano.<br />

Se estivéssemos <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> la<strong>do</strong>, teríamos que seguir as leis<br />

Clistenianas, Draconianas etc.. Cada educa<strong>do</strong>r tem que viver a<br />

sua época. Já se estivéssemos na Idade Média, provavelmente<br />

estaríamos num mosteiro com os escribas. Num grande salto,<br />

pela história da educação, chegamos aos dias atuais, cuja<br />

Encontros no Montessori: Educação e novas tecnologias – Reflexões de <strong>do</strong>centes <strong>do</strong><br />

Grupo Montessori a propósito da implantação <strong>do</strong> Portal Virtual nos Cursos de Graduação.<br />

tecnologia é irreversível. Quem não vive o seu tempo, acaba<br />

fican<strong>do</strong> à margem da sociedade. Não que não exista espaço,<br />

ainda há quem trabalhe com artesanato, recuperação de peças<br />

antigas, museus etc. Porém, “o filé”, como reza a gíria popular, é a<br />

direção para onde converge a sociedade, e este é a da integração<br />

entre as tecnologias de Comunicação e de Informação (TICs).<br />

Nosso Portal é um claro exemplo dessa integração. Não basta<br />

ter os recursos tecnológicos sem a criatividade, o conteú<strong>do</strong>, o<br />

saber e a atuação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes. Muitas pessoas têm me<strong>do</strong>, pois<br />

há o aspecto da exposição. Porém há vantagens ilimitadas. Você<br />

pode saber o que pensam os colegas, como por exemplo, qual o<br />

pensamento didático-acadêmico <strong>do</strong> professor Ricar<strong>do</strong> Shitsuka,<br />

que envia a vocês um forte abraço montessoriano, e viva o Portal,<br />

que liberta o conhecimento.<br />

Conclusões<br />

Como pode-se observar nos trechos acima, após um certo<br />

temos associa<strong>do</strong> a uma <strong>do</strong>se de entusiasmo quanto à novidade<br />

<strong>do</strong> Portal na FAMEC e na FAAC, no segun<strong>do</strong> semestre de<br />

2006 foram desenvolvidas atividades acadêmicas envolven<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>centes e discentes que deram continuidade ao debate, à<br />

reflexão, e à construção da experiência no uso de Tecnologias<br />

da Informação nos cursos de Graduação. Um exemplo foi o tema<br />

da Semana Cultural de 2006 promovida nas três IES <strong>do</strong> Grupo<br />

Montessori (FAMEC, FAAC, FMI): Educação e Novas Tecnologias,<br />

em calendários diferentes, mas promoven<strong>do</strong> palestras, oficinas<br />

com especialistas convida<strong>do</strong>s, entre alunos e professores <strong>do</strong>s<br />

cursos, evento cultural e artístico. Outro exemplo é a utilização de<br />

20% da formação acadêmica <strong>do</strong>s nossos alunos na modalidade<br />

‘a distância’, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> Portal, num determina<strong>do</strong> grupo de<br />

disciplinas <strong>do</strong>s cursos reconheci<strong>do</strong>s, e que, certamente, servirá<br />

de experiência para o Grupo Montessori avançar nos usos da<br />

Tecnologia Educacional para promover a educação de qualidade<br />

a distância.<br />

NoTAS<br />

1- GEROSA, M.A., FUKS, H. & LUCENA, C.J.P. (2001) Elementos de<br />

percepção como forma de facilitar a colaboração em cursos via Internet,<br />

XII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação - SBIE 2001, 21 a 23<br />

de Novembro de 2001, Vitória-ES, pp. 194-202<br />

2- MORIN,Edgar. Os sete saberes necessários à educação <strong>do</strong> futuro.<br />

São Paulo: Cortez, 2002.<br />

9


ESumo<br />

Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />

O ato de comunicar invariavelmente traz em si intencionalidade<br />

e gera comportamento. Seus efeitos são probabilísticos e incertos.<br />

Ao tomar essa perspectiva como referência, os comunica<strong>do</strong>res<br />

– pessoas ou organizações – tendem a obter maior grau de<br />

certeza <strong>do</strong>s objetivos eleitos em cada projeto, ao contrário de<br />

quan<strong>do</strong> praticam uma comunicação casual, em que os riscos<br />

aumentam substancialmente em face das variáveis incontroláveis<br />

<strong>do</strong> processo.<br />

A comunicação, quanto mais fundamentada em procedimentos<br />

científicos (pesquisas, ensaios, simulações, testes), mais<br />

probabilidade tem de produzir os resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s.<br />

Na realidade, ao considerar-se a comunicação humana<br />

como foco de atividade acadêmica, prática e de interatividade,<br />

a inserção <strong>do</strong> princípio da incerteza pode contribuir como<br />

catalisa<strong>do</strong>r de um ato bem-sucedível.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Comunicação, probabilístico, organizações, pesquisa.<br />

ABSTrACT<br />

The act to communicate always brings in itself scienter<br />

and generates behavior. Its effect is probabilist and uncertain.<br />

When taking this perspective as reference, the communicators<br />

- people or organizations - tend to get greater degree of certainty<br />

of the elect objectives in each project, in contrast to when they<br />

practice an accidental communication, where the risks increase<br />

substantially in face to the uncontrollable variable of the process.<br />

The communication, the more based on scientific procedures<br />

(research, assays, simulation, tests), the more probability has<br />

to produce the results expected. Actually, when considering<br />

human communication as focus of academic. Activity, practice<br />

and of interactivity, the insertion of the uncertainty principle may<br />

contribute as catalytic of a well <strong>do</strong>ne act<br />

KEYworDS:<br />

Carlos Rossini 1<br />

Probabilidade é a perspectiva de que<br />

algo [que desejamos] venha a ocorrer.<br />

<strong>Di</strong>cionário Houaiss<br />

Communication, probabilist, organizations, research.<br />

10


Comunicação é um fenômeno probabilístico. Os efeitos <strong>do</strong>s<br />

seus recursos e procedimentos são incertos. Esta perspectiva<br />

indica a natureza mercurial desse termo e esclarece a imensa<br />

variedade de seu uso conceitual. A necessidade de criar um<br />

referencial substantivo com finalidades práticas, provavelmente<br />

terá provoca<strong>do</strong> a formulação de uma teoria descritivo-científica<br />

publicada em 1949 [C. Shannon e W. Weaver], de largo uso no<br />

campo da tecnologia de transmissão e recepção de informações,<br />

mas insuficiente para dar conta da complexidade das razões,<br />

emoções e relações humanas.<br />

A partir <strong>do</strong> conceito etimológico de comunicação [‘o que<br />

torna algo, pensamento ou ação comum’], há um aglomera<strong>do</strong><br />

de outros, de acor<strong>do</strong> com a perspectiva de como é olhada<br />

– biológico, pedagógico, histórico, sociológico, antropológico,<br />

psicológico, filosófico [Melo, 1978].<br />

Exatamente por existir essa possibilidade multifocal, se<br />

requer um recorte, a definição de um olhar específico, com a<br />

clara determinação de objetivo, seja ele de natureza funcional ou<br />

especulatória, porque, em comunicação, parece sempre haver o<br />

risco <strong>do</strong> para<strong>do</strong>xo ou <strong>do</strong> desafio como o proposto pela esfinge no<br />

caminho <strong>do</strong> deserto, em que o comunica<strong>do</strong>r se vê diante de um<br />

enigma que torna oco um <strong>do</strong>s seus significa<strong>do</strong>s: a capacidade<br />

de interpretar sinais.<br />

Este ensaio busca indicar possibilidades por meio da<br />

manutenção da coerência com a natureza significativa <strong>do</strong><br />

termo: o que se pensa, se sente e se faz gera um campo de<br />

probabilidades, ou seja, uma fonte sempre tenciona algo em<br />

relação a um receptor e essa intencionalidade não ocorre no<br />

vácuo e sim encontra pela frente outros, coisas e circunstâncias.<br />

Nesse contexto, é natural notar a possibilidade tanto de harmonia<br />

[concordância] quanto de conflitos [dissonâncias] ante o princípio<br />

aí atuante da incerteza.<br />

Raramente, se é que existe, a comunicação é isenta<br />

de intencionalidade. Quan<strong>do</strong> a pessoa tem sede procura<br />

biologicamente contato com a água. Quan<strong>do</strong> teme, procura<br />

inicialmente afastar-se <strong>do</strong> objeto temi<strong>do</strong>. Num caso, se aproxima<br />

e se relaciona intimamente com a água integran<strong>do</strong>-a em seu<br />

organismo; no outro, vai em direção oposta, para longe <strong>do</strong> perigo<br />

imaginário ou real.<br />

Quan<strong>do</strong> se admite que a comunicação flui num ambiente<br />

de incertezas, a percepção de sua probabilidade como meio de<br />

influência abre perspectivas extremamente positivas, em face das<br />

imensas capacidades humanas de criar novos relacionamentos,<br />

fato indispensável para adaptação, sobrevivência e suporte de<br />

crescimento individual ou coletivo.<br />

<strong>Di</strong>ante de um mun<strong>do</strong> lendário e mitológico, porta<strong>do</strong>r de<br />

incertezas objetivas e metafísicas, coube aos filósofos, por meio<br />

<strong>do</strong> uso da razão, criarem respostas e desenvolverem a sabe<strong>do</strong>ria<br />

sintética da observação direta transformada pela capacidade<br />

representacional da realidade tangível ou invisível como o éter.<br />

De qualquer mo<strong>do</strong>, os fenômenos estavam ali e precisavam ser<br />

conheci<strong>do</strong>s [humanamente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s]. Tal perspectiva gerou um<br />

acúmulo cultural transmiti<strong>do</strong> [comunica<strong>do</strong>] por meio da oralidade<br />

sapiente. Um movimento paralelo, de não menor magnitude, se<br />

fez representar pela poesia e pelo teatro gregos, apontan<strong>do</strong> e<br />

revelan<strong>do</strong> aspectos fenomênicos da existência humana tanto<br />

<strong>do</strong>s atos exteriores quanto das idéias e <strong>do</strong>s seus respectivos<br />

confrontos, como entre as visões idealistas e <strong>material</strong>istas,<br />

epicuristas e estóicas. Houve de fato uma relação [comunicação]<br />

como um fermento que removeu os homens de uma situação de<br />

espanto para outra em que a razão encontrou seu império.<br />

O pano de fun<strong>do</strong> desse cenário pode ser descrito como<br />

ensaios, caminhares e saltos probabilísticos em direção<br />

Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />

da suprema verdade em relação à qual to<strong>do</strong>s ainda nos<br />

encontramos em posição relativa, mas com ganhos de sabe<strong>do</strong>ria<br />

inquestionáveis. Se não houvesse a transmissão [ainda que às<br />

vezes precária] dessa cultura sapiente a história teria deixa<strong>do</strong> um<br />

vazio incompreensível, como um elo parti<strong>do</strong>.<br />

Aqui se propõe como foco da comunicação as possibilidades<br />

de ela se transformar um instrumento para o avanço civilizante por<br />

meio da superação de limites abusivos e fixa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> espectro<br />

da ignorância contra a qual se puseram os filósofos e visionários<br />

transcendentais.<br />

Fonte de<br />

informação<br />

Teoria técnica da comunicação<br />

Transmissor Canal Receptor Destino<br />

Fonte de<br />

ruí<strong>do</strong><br />

Modelo técnico (ou matemático) da comunicação desenvolvi<strong>do</strong> por Claude<br />

Shannon e Warren Weaver, publica<strong>do</strong> em 1949, in Teoria Matemática<br />

da Comunicação: um marco científico importante, mas que exige<br />

malabarismos interpretativos quan<strong>do</strong> se trata da comunicação humana,<br />

cujas características incluem pensamento, emoção e sensações.<br />

Indaga-se: qual é a probabilidade de a comunicação [as<br />

relações humanas inteligentes] servir como alavanca para mover<br />

as dificuldades [incertezas relativas] que impedem um consistente<br />

crescimento da civilização, uma vez que a demografia se acumula<br />

ao re<strong>do</strong>r da superfície da terra e, simultaneamente, um poder<br />

dissolvente mantém uma estrutura obsoleta mantene<strong>do</strong>ra de<br />

uma película como um lega<strong>do</strong> da barbárie social.<br />

Arma-se uma estratégia e a estratégia pode se transformar<br />

em arma, ao refletir os interesses e as posições <strong>do</strong>s seus<br />

planeja<strong>do</strong>res e usuários. É assombroso hoje como os indivíduos<br />

estão sujeitos aos imperativos <strong>do</strong>s grandes sistemas da tecnologia<br />

da informação. Um cliente de banco, nos tempos atuais, numa<br />

metáfora kafkiana, pode se sentir uma barata sob as solas de<br />

um gigantesco sistema impessoal e numérico. Este e outros<br />

sistemas se alimentam das partes de um processo que lembra<br />

a lei de Darwin, mas que não passa de uma visão hipnótica e<br />

impressionante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que transforma tu<strong>do</strong> em coisa.<br />

Uma comunicação estratégica, como a comunicação em<br />

geral, produz comportamento [mental e físico], e sua aplicação,<br />

conforme se constata, remonta quase literalmente ao significa<strong>do</strong><br />

etimológico da palavra: plano para enganar, confundir ou iludir<br />

o inimigo. A comunicação estratégica, ainda que possa servir<br />

de modelo para ações voltadas para o bem da coletividade,<br />

é freqüentemente utilizada como no senti<strong>do</strong> militar: vencer o<br />

inimigo. Observe-se que esse pre<strong>do</strong>mínio é historicamente<br />

mantene<strong>do</strong>r <strong>do</strong> status quo desde suas raízes mais primitivas, ou<br />

seja, a conquista e a manutenção de poder manipulatório de uns<br />

sobre os outros. Nesse caso, a comunicação, como mensagem<br />

e tonalidade, se presta funcionalmente como instrumento de<br />

<strong>do</strong>minação, seja sutil e ideológica, seja como meio para manter<br />

preservada pelo maior tempo possível uma posição privilegiada.<br />

Essa força <strong>do</strong>minante é tão silenciosa quanto impie<strong>do</strong>sa, na<br />

medida em que impede as pessoas de enxergarem sem viseiras<br />

ideológicas passadas cumulativamente de uns para outros. Na<br />

verdade, impede que se encontre um novo rumo, uma nova<br />

visão, indispensável para que, como os girassóis, as pessoas<br />

possam inflectir em direção à luz solar.<br />

11


Mas despojada de usos parciais e intencionalmente restritos,<br />

a comunicação mantém-se como força universal provável. Neste<br />

particular, cabe indagar: pode um país dar certo consideran<strong>do</strong> sua<br />

nacionalidade, ou seja, o conjunto de sua população, sem que<br />

haja hiperbólicas discrepâncias sociais, econômicas e culturais?<br />

Outra: como forma e conteú<strong>do</strong> corretos poderiam contribuir para<br />

remover as enfermidades sociais tão notórias na ecologia geral?<br />

Mais uma ainda: por que temos de ser tão diferentes quan<strong>do</strong><br />

essencialmente somos tão semelhantes?<br />

A ausência de escrúpulo, <strong>do</strong> que se poderia qualificar de<br />

elite mundana, não se desqualificaria pela própria grandeza<br />

de uma era que se introduz inexorável, como houve outras<br />

nos conduzin<strong>do</strong> para um portal que nos fez delir a montanha<br />

em cujo topo se encontra aquilo que muitos denominam pósmodernidade?<br />

Se a terceira onda [sociedade informatizada] já<br />

se encontra estabelecida e toma seu rumo, espera-se que haja<br />

uma intensificação da liberdade e uma ascensão para a onda<br />

intuitiva ou transpessoal, uma espécie da hora da verdade de<br />

quem é depositário, de alguma forma, da lenda, <strong>do</strong> mito, da<br />

razão e os esta<strong>do</strong>s antropologicamente correspondentes:<br />

coleta, caça, agricultura, industrialismo, aumento exponencial da<br />

densidade demográfica, efeitos ecológicos como degelo, furo da<br />

camada de ozônio, poluição generalizada e busca sôfrega para<br />

novas formas de energia e assim por diante. Cada era produz<br />

uma comunicação que lhe corresponde. Cada povo produz a<br />

comunicação da qual se faz merece<strong>do</strong>r.<br />

Podiam-se formular tantas perguntas quanto podemos<br />

projetar nossos olhares para muitas direções, em razão de que<br />

estamos chafurda<strong>do</strong>s no princípio da incerteza, o que eqüivale<br />

a dizer que não conseguimos enxergar na medida necessária<br />

para aonde estamos in<strong>do</strong>. A transmissão de nossa cultura é<br />

intermitente e, não raro, regride ou se mantém estagnada. E<br />

aí vão mais duas perguntas: a quem interessa esse esta<strong>do</strong> de<br />

coisas, se os cidadãos já não podem mais sair às ruas sem pedir<br />

salvo-conduto às divindades?Se existe um aparato, também<br />

conheci<strong>do</strong> pelo nome de indústria cultural, que tende a perpetuar<br />

nossa velocidade em câmara lenta, que explicações dariam os<br />

sábios sobre essa contradição com a global rede de comunicação<br />

tecnologicamente avançada?<br />

Assim, parece que temos que pensar rapidamente, agir<br />

rapidamente e viver precipitadamente sem entender ou saber em<br />

nome <strong>do</strong> quê.<br />

A comunicação<br />

As circunstâncias<br />

As coisas<br />

Os outros<br />

O eu<br />

Como fenômeno [veja o diagrama circular acima], a<br />

comunicação abrange uma teia de relações – o eu, o outro, as<br />

coisas, as circunstâncias. Dá a liga entre essas existências ou<br />

aparências. Sua configuração permite ver que há realmente muitas<br />

probabilidades que, no entanto, se sujeitam a regras ou intenções<br />

Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />

ocultas. Sujeito e objeto são estranhos entre si, assim como as<br />

pessoas são estranhas entre si, embora possam viver no mesmo<br />

edifício, no mesmo andar, durante anos ou mesmo décadas e<br />

nunca se enxergarem. Toda comunicação parece, efetivamente,<br />

sujeita a efeitos hipnóticos, assim como a cosmiatria modifica<br />

a aparência natural das pessoas agin<strong>do</strong> como sobreposição da<br />

imagem ou simulacro, num jogo de essência e aparência em que<br />

pre<strong>do</strong>mina a aparência ou as relações superficiais.<br />

Há ainda uma transposição a ser empreendida, da teoria à<br />

prática porque, enquanto a primeira busca levar à compreensão<br />

ou à elucidação <strong>do</strong> que está ou aparece diante de nós, a segunda<br />

requer sua aplicabilidade, objetivan<strong>do</strong> produzir efeitos sobre a<br />

realidade conserva<strong>do</strong>ra em sua renitência.<br />

Atualmente se coloca e recoloca em primeiro plano a questão<br />

da inclusividade de largas camadas da população na teia da<br />

internet como um direito compreensível, mas como explicar que<br />

essas mesmas camadas fiquem excluídas <strong>do</strong> uso das palavras<br />

ou mesmo de uma educação emancipa<strong>do</strong>ra? A experiência<br />

diária, sobretu<strong>do</strong> nas escolas e especialmente nas faculdades,<br />

tem demonstra<strong>do</strong> o abismo existente entre os estudantes e o<br />

principal instrumento de representação da realidade: a sintaxe<br />

das palavras. Os trabalhos acadêmicos, não raro, põem a<br />

descoberto a imensa dificuldade <strong>do</strong> universitário de empregar<br />

essas ferramentas das idéias e da criatividade. O rolo compressor<br />

formativo passa por sobre questões fundamentais como a de criar<br />

condições para que os alunos aprendam efetivamente a pensar.<br />

Como isso pode acontecer se o repertório disponível a eles é<br />

extremamente restrito? E também cabe indagar: por que razão<br />

os jovens não se sentem atraí<strong>do</strong>s pelo amor às palavras? Não<br />

seria a gramática formal, como se apresenta, um objeto estranho<br />

e distante da realidade cotidiana? Como se explica, aqui e ali, o<br />

baixo interesse pela leitura, leitura de mo<strong>do</strong> geral?<br />

Então, cabe ainda perguntar, seguin<strong>do</strong> a reflexão que se<br />

apresenta neste ensaio: qual a probabilidade de os estudantes<br />

amadurecerem e conquistarem um vocabulário amplia<strong>do</strong>, varia<strong>do</strong> e<br />

autônomo, a ponto de se reconhecerem com aptidão responsável?<br />

O pauperismo verbal é um fator relevante quan<strong>do</strong> se considera<br />

que pode contribuir para ampliar as incertezas porque se torna<br />

difícil fazer leituras apropriadas e substantivas da realidade. A<br />

exclusão da linguagem se apresenta como algo mais premente<br />

que a outra, porque sem a primeira a segunda se torna, ou pode<br />

ser tornar, uma atividade mecânica, como um ornato que encobre<br />

o que certamente poderia interessar pelos próprios atrativos.<br />

A história é geralmente pontificada ou demarcada por perío<strong>do</strong>s<br />

de transição em que algo que vinha sen<strong>do</strong> gesta<strong>do</strong> enfim vem à<br />

luz e confere um novo rumo à civilização. Antes disso, é possível<br />

imaginar, o andamento <strong>do</strong>s fatos desenboca numa estagnação,<br />

como as águas que se espalham diante de um dique e vão<br />

perden<strong>do</strong> velocidade, mas subin<strong>do</strong> de nível gradativamente.<br />

O início <strong>do</strong> terceiro milênio parece estar sen<strong>do</strong> redesenha<strong>do</strong>,<br />

porque o planeta deixou de ser e ainda não é, como alguém que<br />

está atravessan<strong>do</strong> um vale com destino a uma montanha, mas<br />

caminha lentamente num terreno pesa<strong>do</strong> e alagadiço.<br />

Se a pós-modernidade for a rede eletrônica planetária, a<br />

hiperinformação, a impessoalidade nas faces <strong>do</strong>s poderes em<br />

transformação ou mesmo o tempo da contemplação cósmica<br />

porque a terra dá os primeiros sinais de exaustão, to<strong>do</strong>s<br />

fatos suprapessoais, então estaríamos sen<strong>do</strong> conduzi<strong>do</strong>s<br />

imperceptivelmente de volta às cavernas? O que caracteriza a<br />

nossa civilização? Quais são seus traços mais marcantes ou<br />

evidentes? Que tendências to<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> ponto de vista holístico,<br />

estamos seguin<strong>do</strong> sem ter a consciência requerida para podermos<br />

ou não mudar o rumo <strong>do</strong> barco da história humana?<br />

12


Em suma, a comunicação como probabilidade diante das<br />

incertezas, se apresenta na condição de síntese de um dilema.<br />

Se o homem se elegeu livre para tomar conta da terra [e com<br />

isto criou os desafios <strong>do</strong> presente], quem pode tomar conta <strong>do</strong><br />

homem, além dele mesmo, e impedir seus desatinos? Porque<br />

tu<strong>do</strong> que houve e há [guerras, esgotamento <strong>do</strong>s recursos naturais,<br />

poluição, misérias, <strong>do</strong>enças] se criou graças a um crônico e<br />

aviltante desequilíbrio no interior <strong>do</strong> vasto e díspar aglomera<strong>do</strong><br />

humano e, obviamente, nem to<strong>do</strong>s desejam ser co-signatários<br />

de absur<strong>do</strong>s e insanidades autoritários.<br />

Ainda que instituições públicas e privadas e poderosos de<br />

to<strong>do</strong>s os calibres espalha<strong>do</strong>s pela superfície da Terra possam<br />

equivocar-se em seus pensamentos, decisões e atitudes, nem<br />

por isso estarão livres das conseqüências de seus atos.<br />

Sugere-se, neste ensaio, a possibilidade de se reatarem as<br />

pontas soltas que separaram homem da natureza, homem de<br />

homem e este de si mesmo. Ou, como diriam provavelmente<br />

os fenomenólogos, enxergar com olhos unifica<strong>do</strong>res o que se<br />

apresenta na paisagem como formas separadas fisicamente<br />

– eu, outro, coisa, circunstância. Ainda que conservem seu<br />

princípio configurante individual, essas categorias fazem parte <strong>do</strong><br />

espetáculo, são peças escritas para o mesmo teatro, com um fio<br />

condutor comum entre si. No jogo universal, to<strong>do</strong>s pertencemos<br />

à única família quântica, ainda que nos percebamos diferentes<br />

disso, daí que a comunicação se oferece em sua neutralidade<br />

usual imensas oportunidades de subirmos outros degraus<br />

na escala evolutiva, desde o ponto inicial [se houve] de nossa<br />

gênese. Talvez tenhamos que reeducar nossos senti<strong>do</strong>s para<br />

vermos o que ainda não conseguimos imaginar.<br />

Ver as nossas relações como probabilidades infinitas num<br />

cenário de incertezas nos possibilita enxergar tu<strong>do</strong> como<br />

novidade, alivia<strong>do</strong>s de um passa<strong>do</strong> que não cometemos, de<br />

preconceitos que não desejamos ter, enfim, livres como anelamos<br />

ser. Ou, como escreveu Fernan<strong>do</strong> Pessoa, no poema O Guarda<strong>do</strong>r<br />

de Rebanhos: “O meu olhar é níti<strong>do</strong> como o girassol. Tenho o<br />

costume de andar pelas estradas, olhan<strong>do</strong> para a direita e para a<br />

esquerda, e de vez em quan<strong>do</strong> olhan<strong>do</strong> para trás. E o que vejo a<br />

cada momento é aquilo que nunca antes eu tinha visto, e eu sei<br />

dar por isso muito bem. Sei ter o pasmo essencial que tem uma<br />

criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras. Sinto-me<br />

nasci<strong>do</strong> a cada momento para a eterna novidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.”<br />

DE<strong>Di</strong>CATÓriA<br />

Este ensaio é dedica<strong>do</strong> aos alunos <strong>do</strong> 1º e <strong>do</strong> 2º semestres <strong>do</strong><br />

curso de Comunicação Empresarial (Administração de Empresas)<br />

da Faculdade Montessori de Ibiúna, 2006.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

CHUNG, Tom. Qualidade Começa em Mim – Manual<br />

Neurolingüístico de Liderança e Comunicação. São Paulo, Editora<br />

Maltese, 1994.<br />

DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda S. F.B (organiza<strong>do</strong>ra).<br />

Vida e Morte – Ensaios Fenomenológicos. São Paulo, Editora<br />

Companhia Ilimitada, 1988.<br />

GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 21ª<br />

edição. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2002.<br />

HOUAISS, Antônio. <strong>Di</strong>cionário Houaiss da Língua Portuguesa.<br />

1ª edição. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2001.<br />

KAPLAN, Burton. Comunicação Estratégica – A Arte de<br />

Transmitir Idéias. Rio de Janeiro, LTC – Livros Técnicos e<br />

Científicos Editora, 1993.<br />

LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos Teóricos da<br />

Comunicação Humana. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1982.<br />

MELO, José Marques de. Comunicação Social – Teoria e<br />

Pesquisa. 6ª edição, Petrópolis, Rio de Janeiro, Editora Vozes,<br />

1978.<br />

PESSOA, Fernan<strong>do</strong>. O Eu Profun<strong>do</strong> e os Outros Eus. 22ª<br />

edição. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira, 1980.<br />

WATZLAWICK, Paul. Beavin, Janet Helmick. Jackson, Don.<br />

D. Pragmática da Comunicação Humana. São Paulo, Editora<br />

Cultrix, 1991<br />

NoTAS<br />

Comunicação gera efeitos probabilísticos e incertos.<br />

1- Carlos Rossini é jornalista e sociólogo, autor <strong>do</strong> livro “A coragem de<br />

comunicar”, Editora Madras, e de outros, professor de comunicação<br />

empresarial na Faculdade Montessori de Ibiúna, consultor de<br />

comunicação empresarial e de relacionamento, autor <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> CRP<br />

– Crian<strong>do</strong> Relacionamentos Positivos e de dezenas de artigos publica<strong>do</strong>s<br />

em jornais e revistas sobre comunicação e relacionamento humano.<br />

13


ESumo<br />

O propósito deste artigo é registrar a cambiante representação<br />

da natureza no merca<strong>do</strong> imobiliário da cidade de São Paulo.<br />

O processo de sua metropolização implica em um processo<br />

de desumanização que atingiu seu ápice nos anos 1970. A partir<br />

desta data, tomada como ponto de inflexão em sua história,<br />

assinala-se a emergência de uma onda verde expressa nos<br />

anúncios <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário que, valen<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> imaginário<br />

contemporâneo, constrói paisagens idílicas.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

A natureza na cidade: representações<br />

contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />

Filme publicitário, natureza, paisagem urbana.<br />

ABSTrACT<br />

The aim of this article is to register the changeable<br />

representation of nature in the real estate market in the city of<br />

São Paulo.<br />

The process of its metropolization implies a process of<br />

dehumanization which reached its height in the 1970s. From<br />

this date on, considered the inflexion point in its history, the<br />

emergence of a green wave becomes evident and it expresses<br />

itself in the advertisements of the real estate market, which, using<br />

the contemporary imaginary, constructs idyllic landscapes.<br />

KEYworDS:<br />

Publicity films, nature, urban landscape.<br />

Carlos Eduar<strong>do</strong> P. Ferreira 1<br />

14


“A vontade de ver a cidade precedeu os meios de satisfazêla.<br />

As pinturas medievais ou renascentistas representavam a<br />

cidade vista em perspectiva por um olho que no entanto jamais<br />

existira até então. Elas inventaram ao mesmo tempo a visão <strong>do</strong><br />

alto da cidade e o panorama que ela possibilitava. Essa ficção<br />

já transformava o especta<strong>do</strong>r medieval em olho celeste. Fazia<br />

deuses. Será que hoje as coisas se passam de outro mo<strong>do</strong>, agora<br />

que processos técnicos organizaram um poder ‘onividente’?”.<br />

Michel de Certeau em A Invenção <strong>do</strong> Cotidiano: 1. Artes de<br />

Fazer, p.170.<br />

introdução<br />

Ambrosio Lorenzetti – La Cité (1346)<br />

Processos históricos, sociais e culturais influenciam o<br />

mo<strong>do</strong> pelo qual formulamos idéias e imagens além de explicitar<br />

maneiras pelas quais nos relacionamos com vários setores<br />

da vida cotidiana. No que diz respeito à antropologia visual, a<br />

contemporaneidade elege o retorno à natureza como um de<br />

seus axiomas, ten<strong>do</strong> a questão ecológica primazia no discurso<br />

atual de suas representações simbólicas. Salienta-se, nos meios<br />

de comunicação, o perfil desse enfoque especialmente na<br />

publicidade e no turismo.<br />

Deslinda-se a hermenêutica forma<strong>do</strong>ra desse discurso de<br />

exaltação da natureza a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da relação antitética<br />

A natureza na cidade: representações<br />

contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />

entre a cidade e a natureza – propagada pelo imaginário<br />

contemporâneo e presente nas representações <strong>do</strong> turismo<br />

ecológico e <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário denomina<strong>do</strong> de alto padrão,<br />

– onde os anúncios publicitários enxergam a possibilidade de<br />

aí fundar as bases de seu marketing. Para tanto, analisa-se o<br />

dispositivo regula<strong>do</strong>r (Aumont, 1993: 192) entre o especta<strong>do</strong>r e<br />

suas imagens em determina<strong>do</strong> contexto simbólico.<br />

Tema<br />

A imposição de um veloz ritmo de vida, decorrente da<br />

transformação <strong>do</strong> tempo em merca<strong>do</strong>ria, apresenta-se como<br />

um <strong>do</strong>s fatores de maior relevância no atribula<strong>do</strong> dia-a-dia da<br />

vida urbana. O habitante das grandes cidades está sempre em<br />

movimento, em constante deslocamento pela urbe, cada vez<br />

dispon<strong>do</strong> menos <strong>do</strong> tempo-merca<strong>do</strong>ria ao circular por uma<br />

paisagem pós-industrial que muitas vezes lhe é hostil, onde o<br />

automóvel tem precedência em relação ao pedestre na paisagem<br />

urbana.<br />

A essa paisagem urbana de aparência hostil contrapõe-se<br />

uma outra categoria de paisagem – de pretenso caráter idílico –,<br />

<strong>material</strong>izada na representação que o imaginário contemporâneo<br />

procura disseminar por meio de imagens de certo caráter<br />

edênico, consolidan<strong>do</strong> a assertiva de Pierre Francastel de que “a<br />

linguagem figurativa tem um papel incalculável na manifestação<br />

das mentalidades coletivas” (1973: 29), ajudan<strong>do</strong> o homem a fixar<br />

imagens em seu espírito.<br />

Analisan<strong>do</strong> a relação <strong>do</strong> homem e o meio ambiente,<br />

mormente na Inglaterra, entre os séculos XVI e XIX, Keith Thomas<br />

aponta a intensa separação entre cidade e campo, “mais nítida<br />

que qualquer coisa que possamos encontrar na Idade Média, o<br />

que encorajou esse anseio sentimental pelos prazeres rurais e a<br />

idealização <strong>do</strong>s atrativos espirituais e estéticos <strong>do</strong> campo” (1988:<br />

297), visto que, durante a Renascença, a cidade fora sinônimo<br />

de civilização em oposição à rusticidade <strong>do</strong> campo, fazen<strong>do</strong> jus<br />

ao prolóquio de que tirar o homem da floresta confinan<strong>do</strong>-o na<br />

cidade equivalia a civilizá-lo (1988: 290).<br />

A tensão resultante <strong>do</strong> confronto entre o crescente progresso<br />

da urbanização e o anseio rural ao qual um número crescente<br />

de pessoas estava sujeito “indicavam claramente que não eram<br />

poucos os que entendiam que, embora o mun<strong>do</strong> da natureza<br />

devesse ser <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>, não devia ser completamente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />

e suprimi<strong>do</strong>. Esse antigo ideário pastoral sobreviveu moderno<br />

mun<strong>do</strong> industrial adentro. Pode ser visto nas imagens <strong>do</strong><br />

campo tão utilizadas para anunciar bens de consumo” (1988:<br />

301; grifo meu).<br />

A iminência de um desequilíbrio nas forças da natureza, o<br />

progressivo esgotamento das reservas naturais e a completa<br />

transformação <strong>do</strong> cenário terrestre têm propicia<strong>do</strong> representações<br />

que conferem o estatuto de edênicos e privilegia<strong>do</strong>s aos locais<br />

onde exista o mais leve resquício na paisagem de qualquer<br />

elemento verde. A iconografia resultante da supervalorização<br />

desse verde é muito característica de nosso tempo, visto que<br />

os instrumentos mentais com os quais o homem organiza a<br />

sua experiência visual são variáveis, sen<strong>do</strong> boa parte deles<br />

condiciona<strong>do</strong>s pela cultura e determina<strong>do</strong>s pela sociedade, que<br />

exerce sua influência sobre a experiência individual (Baxandall,<br />

1991: 48).<br />

Como destaca Peter Burke, “No futuro, é provável que o<br />

movimento ecológico tenha cada vez mais influência sobre<br />

a forma como a história é escrita” (1992: 20). No esforço e na<br />

tentativa de interpretar um pouco dessa história escrita por<br />

intermédio das imagens da natureza nos anúncios publicitários<br />

é que interprendemos este breve ensaio.<br />

15


Durante a década de 1970, Ferraz já apontara para o clima de<br />

intranqüilidade entre os países industrializa<strong>do</strong>s ao reconhecerem<br />

“o quanto o desenvolvimento econômico lhes tem custa<strong>do</strong> em<br />

termos de predação ambiental... O conceito de crescimento<br />

econômico, erigi<strong>do</strong> pela Economia, está se alteran<strong>do</strong> para fazer<br />

incluir no processo de produção o preço <strong>do</strong> insumo básico mais<br />

importante: o meio ambiente, até agora não computa<strong>do</strong> para<br />

efeito de custos” (1976:15).<br />

Essa preocupação com o meio ambiente, aditada ao famoso<br />

dístico “São Paulo precisa parar”, parece configurar momento de<br />

inflexão na história da cidade, sen<strong>do</strong> plausível flagrar a emergência<br />

dessa inquietação no merca<strong>do</strong> imobiliário por meio de seus<br />

anúncios publicitários. À “cidade desumana”, contrapõe-se uma<br />

tentativa de humanizar a cidade, tão bem expressa no logotipo<br />

da rosa e da pá de pedreiro que caracterizava a administração<br />

Faria Lima (1965/69), o que denota uma proposta de construção<br />

da natureza no alvorecer <strong>do</strong> ideário preservacionista <strong>do</strong> meio<br />

ambiente e na busca de uma melhor qualidade de vida.<br />

Bresciani, ao analisar a recorrência da palavra “melhoramentos”<br />

na historiografia da cidade de São Paulo – especialmente no<br />

perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre 1850 e 1950 –, situa seu emprego<br />

no decorrer <strong>do</strong> século XX em três diferentes fases. Nomeadas,<br />

respectivamente, como a fase <strong>do</strong> saneamento, a fase da<br />

metodização <strong>do</strong> “desenvolvimento desordena<strong>do</strong>” e a fase atual,<br />

entendida como de remodelação a partir de 1925, observa que<br />

“menos freqüente na cena principal, a palavra ‘melhoramentos’<br />

permanece no vocabulário <strong>do</strong>s urbanistas. Perde seu lugar nos<br />

planos e projetos de reforma e expansão da cidade, mas mantémse<br />

no relato das realizações <strong>do</strong> poder público” (2001: 363).<br />

Aos melhoramentos que o poder público procura instaurar, tais<br />

como os calçadões, a criação de áreas verdes, o embelezamento<br />

da cidade, a despoluição <strong>do</strong> ar e <strong>do</strong>s rios, a iniciativa privada<br />

professa o elogio aos espaços confina<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s con<strong>do</strong>mínios<br />

fecha<strong>do</strong>s, sempre favoreci<strong>do</strong>s por projetos paisagísticos em<br />

perfeita integração com a natureza.<br />

A Natureza ressacralizada?<br />

A representação da natureza como sen<strong>do</strong> uma obra de<br />

arte é o espelho de uma visão de mun<strong>do</strong>, uma idéia delineada<br />

a partir <strong>do</strong> Renascimento, quan<strong>do</strong> se opera uma progressiva<br />

dessacralização da natureza, objetivan<strong>do</strong> o esvaziamento de seu<br />

caráter divino.<br />

A rigor, como apontou Max Weber, o germe da secularização<br />

já se encontrava nas fontes mais antigas da religião de Israel (em<br />

associação com o pensamento helenístico), de maneira que o<br />

desencantamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> – a luta ancestral da magia contra a<br />

religião (Pierucci, 2000: 122) – já começara no Velho Testamento<br />

(Berger, 1971: 141).<br />

Assiste-se na atualidade a uma “revalorização” dessa<br />

mesma natureza por meio de imagens disseminadas nos meios<br />

de comunicação, agora não mais devi<strong>do</strong> ao seu caráter divino,<br />

mas pelo seu uso merca<strong>do</strong>lógico e sinonímia de qualidade de<br />

vida, além da efetiva possibilidade de sua extinção, posto que é<br />

sistemática e progressivamente destruída pela industrialização.<br />

A dessacralização, para Mircea Eliade, caracteriza o homem<br />

não-religioso das sociedades modernas – um ciclo recente<br />

na história <strong>do</strong> espírito humano –, experimentan<strong>do</strong> o homem<br />

desse tempo, “uma dificuldade cada vez maior em reencontrar<br />

as dimensões existenciais <strong>do</strong> homem religioso das sociedades<br />

arcaicas” (1992: 19).<br />

Aduz ainda Eliade, que esse homem profano conserva<br />

ainda os vestígios <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong> homem religioso, não<br />

obstante seja alto o grau de dessacralização atingi<strong>do</strong>, visto que<br />

“algumas imagens tradicionais, alguns traços da conduta <strong>do</strong><br />

homem arcaico persistem ainda no esta<strong>do</strong> de ‘sobrevivências’<br />

mesmo nas sociedades mais industrializadas” (1992: 49).<br />

A dessacralização, produto das conquistas científicas <strong>do</strong>s<br />

últimos séculos, perpassa todas as atividades sociais, operan<strong>do</strong>se<br />

também na moradia. Teve lugar tanto no Ocidente como no<br />

Oriente, ainda que relativamente restrita a uma elite cultural, para<br />

as quais, no caso <strong>do</strong> Extremo Oriente, a contemplação estética<br />

da Natureza conserva ainda um prestígio religioso (1992: 127).<br />

Eliade analisa o caso <strong>do</strong>s jardins com lagos, que se tornaram<br />

moda entre os letra<strong>do</strong>s chineses <strong>do</strong> século XVII, onde, no<br />

meio deles, eram edificadas pequenas montanhas e roche<strong>do</strong>s<br />

com árvores anãs, flores, além de, freqüentemente, modelos<br />

miniaturiza<strong>do</strong>s de casas, pagodes, pontes e figuras humanas,<br />

tratan<strong>do</strong>-se pois, “de um mun<strong>do</strong> à parte, um mun<strong>do</strong> em miniatura,<br />

que as pessoas instalavam em suas casas, em seus lares, para<br />

participar das forças místicas ali concentradas, de restabelecer,<br />

pela meditação, a harmonia com o Mun<strong>do</strong>” (1992: 127).<br />

O complexo de água, árvores, montanhas e grutas<br />

correspondia ao desenvolvimento de uma idéia religiosa antiga:<br />

a <strong>do</strong> Paraíso, local perfeito, retira<strong>do</strong>, fonte de beatitude e lugar de<br />

imortalidade, sen<strong>do</strong> certo que os taoístas “retomaram o esquema<br />

cosmológico arcaico – monte e lago – e elaboraram um complexo<br />

mais rico (montanha, lago, gruta, árvores), reduzi<strong>do</strong> a uma escala<br />

menor: um universo paradisíaco em miniatura, carrega<strong>do</strong> de<br />

forças místicas, pois retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> profano, e junto <strong>do</strong> qual<br />

os taoístas se recolhiam e meditavam” (1992: 128).<br />

Para Eliade, os jardins em miniatura exemplificam a maneira<br />

como é engendrada a dessacralização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: por meio dela,<br />

podemos imaginar “o que uma emoção estética dessa ordem<br />

pode tornar-se numa sociedade moderna para compreendermos<br />

como a experiência da santidade cósmica pode rarefazer-se e<br />

transformar-se até se tornar uma emoção unicamente humana:<br />

por exemplo, a da arte pela arte” (1992: 129).<br />

Parece muito próximo esse caráter de contemplação estética<br />

proposto nas imagens <strong>do</strong>s empreendimentos imobiliários –<br />

jardins, praças, fontes, gazebos, cascatas – vistos como obras<br />

de arte integradas à natureza, para a fruição de alguns poucos<br />

eleitos. Essa ordem de emoção estética tangencia de forma<br />

subliminar os anúncios publicitários.<br />

A modernidade dessacralizou o mun<strong>do</strong> em que viviam<br />

seus antepassa<strong>do</strong>s, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> comportamento antagônico,<br />

caracteriza<strong>do</strong> pela exortação ao esvaziamento de qualquer<br />

religiosidade. No entanto, ela é sabe<strong>do</strong>ra, ainda que de forma<br />

inconsciente, que esse comportamento freqüentemente passa<br />

por um processo de reatualização.<br />

A Construção da Paisagem<br />

A natureza na cidade: representações<br />

contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />

A paisagem é aqui considerada como constructo <strong>do</strong><br />

pensamento contemporâneo, pois se configura como cultura<br />

antes de ser natureza, segun<strong>do</strong> o argumento desenvolvi<strong>do</strong> em<br />

“Paisagem e Memória”, sen<strong>do</strong> analisada enquanto representação<br />

da imaginação “projetada sobre mata, água, rocha” (Shama,<br />

1996: 70).<br />

A comprovada ausência de verde cria territórios no imaginário<br />

hodierno, inspiran<strong>do</strong> a criação de ilhas de excelência – os<br />

con<strong>do</strong>mínios de casas e edifícios – que estabelecem um paradigma<br />

de representação por meio de um “pensamento plástico”, como<br />

enfatiza Pierre Francastel (1973: 3). Uma forma de pensamento é<br />

estabelecida, na qual é subjacente a idéia de que o compra<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

imóvel passará a viver em um paraíso perdi<strong>do</strong>.<br />

16


Na ilustração abaixo, podemos observar a proeminência<br />

desse sonho de uma natureza idealizada: agreste, intacta e<br />

para<strong>do</strong>xalmente <strong>do</strong>mesticada. O empreendimento é circunda<strong>do</strong><br />

por extensas áreas verdes existentes apenas no imaginário de<br />

quem vende e de quem compra. No mais das vezes, no lugar<br />

das áreas verdes encontram-se outros prédios no horizonte...<br />

recurso publicitário usa<strong>do</strong> para apagar o perfil urbano, crian<strong>do</strong> a<br />

inserção de bosques imagina<strong>do</strong>s.<br />

Folder<br />

Trata-se naturalmente de um mun<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong> adita<strong>do</strong> de todas<br />

as conquistas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno: completa e diversificada<br />

infra-estrutura, a quietude e a paz <strong>do</strong> campo, ressaltan<strong>do</strong>-se o<br />

fato de a cidade aparecer freqüentemente como pano de fun<strong>do</strong>,<br />

a exemplo das representações arcádicas na pintura. Como<br />

destaca Schama, “... se a visão que uma criança tem da natureza<br />

já pode comportar lembranças, mitos e significa<strong>do</strong>s complexos,<br />

muito mais elaborada é a moldura através da qual nossos olhos<br />

adultos contemplam a paisagem. Pois, conquanto estejamos<br />

habitua<strong>do</strong>s a situar a natureza e a percepção humana em <strong>do</strong>is<br />

campos distintos, na verdade elas são inseparáveis. Antes de<br />

poder ser um repouso para os senti<strong>do</strong>s, a paisagem é obra da<br />

mente” (1996: 17).<br />

Esse repouso, que o habitante das grandes cidades busca<br />

encontrar, por meio de imagens que auscultam um equilíbrio<br />

distante e desvaira<strong>do</strong>, revela-se fugaz. A paisagem é, antes, o<br />

produto de um imaginário construí<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> uma sacralidade<br />

ancestral perdida, desejoso de estabelecer-se segun<strong>do</strong> a<br />

hierofania <strong>do</strong> Centro <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, pois, “Viver perto de um ‘Centro<br />

<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>’ equivale, em suma, a viver o mais próximo possível<br />

<strong>do</strong>s deuses” (Eliade, 1992: 81).<br />

O centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, na grande metrópole, equivale a situar-se<br />

nas zonas nobres; preferencialmente junto aos grandes parques<br />

(Ibirapuera, Villa-Lobos, Aclimação), próximo aos serviços<br />

comerciais (shoppings) e rápi<strong>do</strong> acesso ao Metrô.<br />

Como salienta Eliade, “to<strong>do</strong> território ocupa<strong>do</strong> com o<br />

propósito de habitá-lo ou de utilizá-lo como ‘espaço vital’ é<br />

previamente transforma<strong>do</strong> de ‘caos’ em ‘cosmos’; isto quer dizer<br />

que, por meio <strong>do</strong> ritual, uma forma lhe é dada, o que o faz tornarse<br />

real” (1969: 23).<br />

A transformação <strong>do</strong> caos em cosmos encontra ressonância<br />

no percurso que leva o habitante urbano a retornar a cada dia,<br />

seguramente, ao seu centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> – uma trajetória que o<br />

conduz <strong>do</strong> inferno da cidade ao paraíso da moradia.<br />

Nas ilustrações seguintes, podemos examinar o<br />

caráter edênico e de centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> manifesto nessas<br />

representações.<br />

A natureza na cidade: representações<br />

contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />

Esta<strong>do</strong>, junho 2005<br />

A construção de uma nova espacialidade.<br />

A visão <strong>do</strong> alto da cidade e o panorama que ela possibilita:<br />

o olho celeste ao qual Michel de Certeau se refere<br />

O prosaico con<strong>do</strong>mínio não dissimula<br />

os outros prédios das imediações.<br />

Esta<strong>do</strong>, junho 2005<br />

Folder<br />

O espaço reserva<strong>do</strong> à área central – ágora <strong>do</strong>s<br />

novos tempos – e sua vegetação protética<br />

Esta<strong>do</strong><br />

A versão contemporânea das cidades-jardim e <strong>do</strong>s<br />

Grandes Boulevards, agora em versão campestre. Uma ilha de<br />

tranqüilidade cercada de campos de golf por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s<br />

17


O privilégio de ter o Parque Ibirapuera<br />

como “extensão natural <strong>do</strong> seu jardim”<br />

Exemplo de uma cosmologia na qual<br />

a hierofania <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> parece delinear-se<br />

Considerações finais<br />

Folder<br />

Esta<strong>do</strong>, junho 2005<br />

Procurou-se por meio deste trabalho, flagrar a representação<br />

da natureza no merca<strong>do</strong> imobiliário da cidade, procuran<strong>do</strong>se<br />

equacionar a maneira como ela é reposta, recuperada e<br />

resignificada por meio de um certo caráter sagra<strong>do</strong> que adquirem<br />

essas imagens de natureza, passan<strong>do</strong> pela estética <strong>do</strong> belo e <strong>do</strong><br />

sublime. Ainda que tenha havi<strong>do</strong> uma diminuição dessa dimensão<br />

<strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, este parece manifestar-se em novas morfologias.<br />

Delinea<strong>do</strong> o discurso de louvação da natureza no imaginário<br />

e na representação contemporânea, ainda se deveria investigar<br />

mais especificamente o que é sobranceiro nessa iconografia. Na<br />

construção das imagens <strong>do</strong>s anúncios publicitários, particularizada<br />

no segmento <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s imóveis de alto padrão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

imobiliário paulistano, verifica-se o discurso de preservação da<br />

natureza inerente a esse merca<strong>do</strong>, onde a natureza é vista como<br />

um “bem” e a merca<strong>do</strong>ria é tanto mais valorizada quanto maior<br />

for a sua proximidade das praças e parques, questionan<strong>do</strong>-se<br />

a relação existente entre os compra<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s imóveis de altopadrão<br />

– uma classe privilegiada –, e a construção de uma nova<br />

espacialidade na representação <strong>do</strong>s lugares e na apropriação<br />

dessa nova dimensão <strong>do</strong> espaço por meio de uma veneração da<br />

fronteira verde.<br />

Como salienta Harrison, “se a história ocidental odeia as<br />

florestas” – as folhagens obstruíam a vista para o céu, segun<strong>do</strong><br />

a intuição de Vico – “é porque, ao menos desde os gregos e os<br />

romanos, nós fomos uma civilização de a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>res <strong>do</strong> céu, filhos<br />

de um pai celeste. Lá, onde a divindade foi identificada ao céu ou<br />

à geometria eterna das estrelas, à infinitude cosmológica ou aos<br />

céus, as florestas tornaram-se profanas, pois elas escondem a<br />

visão de Deus” (1992: 24).<br />

Na contemporaneidade, postula-se a reposição dessas<br />

florestas. Ainda que inicialmente a sua profanação tenha nos<br />

ofereci<strong>do</strong> a visão de Deus, ela não pode prosseguir em sua sanha<br />

destrutiva, consubstanciada numa imprudente afronta à natureza<br />

que terminará por reverberar em toda a vida planetária.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

AUMONT, Jacques. A Imagem. Campinas: Papirus, 1993.<br />

BAXANDALL, Michael. O Olhar Renascente: pintura e<br />

experiência social na Itália da Renascença. Rio de Janeiro: Paz<br />

e Terra, 1991.<br />

BERGER, Peter L. (1967) El <strong>do</strong>sel sagra<strong>do</strong>: Elementos para<br />

una sociología de la religión. Buenos Aires: Amorrortu editores,<br />

1971.<br />

BRESCIANI, Maria Stella. “Melhoramentos entre intervenções e<br />

projetos estéticos: São Paulo (1850-1950)”. In: BRESCIANI, Maria<br />

Stella (org.). Palavras da Cidade. Porto Alegre: UFRGS, 2001.<br />

BURKE, Peter. “A Nova História, Seu Passa<strong>do</strong> e Seu Futuro”.<br />

In: Peter Burke (org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas.<br />

São Paulo: Unesp, 1992.<br />

CERTEAU, Michel de. A Invenção <strong>do</strong> Cotidiano. São Paulo:<br />

Vozes, 2000.<br />

ELIADE, Mircea. (1957). O sagra<strong>do</strong> e o profano. São Paulo:<br />

Martins Fontes, 1992.<br />

______________. (1947). Le mythe de l’éternel retour. Paris :<br />

Gallimard, 1969.<br />

FERRAZ, José Carlos de Figueire<strong>do</strong>. São Paulo e seu futuro:<br />

antes que seja tarde demais. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro<br />

de Administração Municipal, 1976.<br />

FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa. São Paulo:<br />

Perspectiva, 1973.<br />

HARRISON, Robert. Forêts: essai sur l’imaginaire occidental.<br />

Paris: Flammarion, 1992.<br />

PIERUCCI, Antônio Flávio. “Secularização Segun<strong>do</strong> Max<br />

Weber”. In: SOUZA, Jessé (org.). A atualidade de Max Weber.<br />

Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.<br />

SHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia<br />

das Letras, 1996.<br />

THOMAS, Keith. (1983) O homem e o mun<strong>do</strong> natural:<br />

mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais (1500-<br />

1800). São Paulo: Companhia das Letras, 1988.<br />

NoTAS<br />

A natureza na cidade: representações<br />

contemporâneas no merca<strong>do</strong> imobiliário.<br />

1- Docente <strong>do</strong> curso de Propaganda e Publicidade da FAMEC. Mestre<br />

em Multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp (2004).<br />

Trabalho apresenta<strong>do</strong> no X Encontro da SOCINE – Ouro Preto, MG – 18<br />

a 21 de outubro de 2006.<br />

18


ESumo<br />

<strong>Di</strong>ante <strong>do</strong> atual interesse no meio acadêmico e gerencial<br />

sobre a Liderança Servi<strong>do</strong>ra, o presente artigo visa apresentar<br />

os conceitos principais de liderança e esclarecer <strong>do</strong> que se trata<br />

esse tema emergente.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />

Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />

Liderança servi<strong>do</strong>ra, gestão, organizações, ética e valores,<br />

responsabilidade social.<br />

ABSTrACT<br />

Due to present interest about Servant-Leadership in academic<br />

and management spheres, the aim of this article is to present the<br />

mains concepts of leadership and clear up what is about this<br />

emerging theme.<br />

KEYworDS:<br />

Dr. João Pinheiro de Barros Neto 1<br />

Servant leadership, management, organizations, ethics and<br />

values, social responsibility.<br />

19


introdução<br />

Começa a surgir no Brasil um novo conceito de liderança que<br />

aos poucos vem despertan<strong>do</strong> não só o interesse <strong>do</strong> managment<br />

nacional, mas também <strong>do</strong>s Administra<strong>do</strong>res e teóricos da<br />

administração. Este interesse foi aumenta<strong>do</strong> com os livros de<br />

James C. Hunter (2004a; 2004b), “O Monge e o Executivo” e<br />

“The World’s Most Powerful Leadership Principle”, que estão<br />

divulgan<strong>do</strong> o que se convencionou chamar de Liderança<br />

Servi<strong>do</strong>ra.<br />

Em edição recente, uma reportagem de capa da revista Você<br />

S/A (LACERDA, 2005) trouxe o assunto agora também ao grande<br />

público e estudantes, que de forma geral já têm começa<strong>do</strong> a<br />

procurar maiores informações para se iniciarem no tema. Assim,<br />

neste artigo, procuraremos oferecer uma visão geral sobre esse<br />

novo tema de forma a atualizar os interessa<strong>do</strong>s, bem como<br />

sugerir alguma bibliografia, uma vez que títulos sobre o assunto<br />

no Brasil ainda são escassos.<br />

Liderança<br />

De maneira simples e bastante geral, podemos dizer que<br />

liderar é conseguir que a pessoa ou pessoas certas façam as<br />

coisas certas na hora certa da maneira certa, condição essencial<br />

para administrar com sucesso (BARROS NETO, 2002).<br />

Dessa forma, liderança tem a ver com conduzir as pessoas<br />

rumo aos objetivos e assim, entendemos liderança sob diversas<br />

dimensões e dentro de várias perspectivas: como qualidades<br />

pessoais, como uma função ligada à autoridade recebida da<br />

organização formal, como um conjunto de atitudes em uma<br />

situação específica, como um comportamento contingencial,<br />

dentre outras.<br />

Naturalmente que a liderança só pode existir em um contexto<br />

grupal, ou seja, é condição para se verificar liderança que exista<br />

um indivíduo interagin<strong>do</strong> com um grupo, ou no mínimo com outro<br />

indivíduo e, por conseguinte, alguém só é reconheci<strong>do</strong> como<br />

líder a partir <strong>do</strong> momento em que outro ou outros o percebam<br />

como capaz de satisfazer alguma necessidade ou pelo menos<br />

como possui<strong>do</strong>r de qualidades que potencialmente possam ser<br />

utilizadas para atender expectativas <strong>do</strong>s lidera<strong>do</strong>s.<br />

É importante ressaltar que liderança e poder são <strong>do</strong>is<br />

conceitos muito próximos, porém diferentes, pois, uma vez que<br />

o líder está sempre interagin<strong>do</strong> com outras pessoas, moldan<strong>do</strong>lhes<br />

ou alteran<strong>do</strong>-lhes o comportamento, exercen<strong>do</strong> influência,<br />

ele tem poder, entendi<strong>do</strong> como a capacidade ou potencial de<br />

influenciar a maneira de outro agir. Esse poder, entretanto, pode<br />

ou não ser concretiza<strong>do</strong>, uma vez que é prerrogativa <strong>do</strong> líder<br />

exercê-lo em sua plenitude (BARROS NETO, 2002).<br />

Quan<strong>do</strong> uma organização <strong>do</strong>ta alguém de poder, ela o<br />

está investin<strong>do</strong> de autoridade, que é o poder legítimo uma vez<br />

que foi socialmente reconheci<strong>do</strong> e aceito. É bom ressaltar no<br />

entanto, que muitas vezes a pessoa, em virtude de seu papel na<br />

organização, tem autoridade e poder, mas não tem a liderança<br />

de fato, que pode estar sen<strong>do</strong> exercida por um líder informal. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> líder tem poder, mesmo que esse poder não seja<br />

reconheci<strong>do</strong> e aceito formalmente.<br />

Por esse caráter, até certo ponto incontrolável da liderança, é<br />

que ela é tão estudada e discutida pelos teóricos da Administração.<br />

As empresas podem <strong>do</strong>tar alguns de seus emprega<strong>do</strong>s de<br />

autoridade e, portanto, de poder, mas nem sempre os líderes são<br />

aqueles que ela gostaria que fossem. As organizações escolhem<br />

e designam gerentes, chefes, supervisores investin<strong>do</strong>-os de<br />

cargos que representam autoridade, mas a liderança deve ser<br />

conquistada por cada um desses emprega<strong>do</strong>s seleciona<strong>do</strong>s e<br />

Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />

Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />

muitos deles não conseguem isso, mostran<strong>do</strong> que a liderança<br />

é independente da vontade da organização e de seu poder<br />

legalmente reconheci<strong>do</strong>.<br />

Há várias teorias que tentam explicar a liderança. Por exemplo,<br />

a teoria de traços de personalidade parte <strong>do</strong> pressuposto que<br />

algumas pessoas possuem uma combinação especial de<br />

qualidades e características pessoais, que as distinguem das<br />

outras, tais como: inteligência, decisão, percepção, empatia,<br />

raciocínio rápi<strong>do</strong>, presença de espírito, perseverança, aparência<br />

física, flexibilidade, agressividade e outras que as levariam<br />

naturalmente à liderança de seu grupo. O problema é que até hoje<br />

nenhuma teoria conseguiu explicar completamente o fenômeno<br />

da Liderança em sua plenitude, por isso, de tempos em tempos,<br />

surgem autores com novas perspectivas sobre o assunto, como<br />

é o caso da Liderança Servi<strong>do</strong>ra no momento.<br />

Liderança Servi<strong>do</strong>ra<br />

O termo Liderança Servi<strong>do</strong>ra (Servant-Ladership) foi usa<strong>do</strong><br />

pela primeira vez em 1970, em um hoje clássico ensaio de Robert<br />

K. Greenleaf cujo título é “The Servant as Leader” (GREENLEAF,<br />

1998, P. 3). Transcrevemos abaixo como o próprio Greenleaf<br />

definiu a Liderança Servi<strong>do</strong>ra no menciona<strong>do</strong> artigo.<br />

The servant-leader is servant-first. It begins with the natural<br />

feeling that one wants to serve. Then conscious choice brings<br />

one to aspire to lead. The best test is: <strong>do</strong> those served grow as<br />

persons; <strong>do</strong> they, while being served, become healthier, wiser,<br />

freer, more autonomous, more likely themselves to become<br />

servants? Robert K. Greenleaf, The Servant as Leader, 1970<br />

(apud GREENLEAF, 1998, p. 1).<br />

Segun<strong>do</strong> a Liderança Servi<strong>do</strong>ra, liderar significa servir.<br />

Isto pode parecer estranho em um primeiro momento, pois<br />

associamos sempre a liderança com o poder de mandar e de se<br />

fazer obedecer, mas como vimos no tópico anterior, a liderança<br />

tem muitas dimensões e o poder é apenas um deles.<br />

A definição <strong>do</strong> cria<strong>do</strong> <strong>do</strong> conceito de Liderança Servi<strong>do</strong>ra<br />

deixa bem claro que o Líder Servo tem a preocupação primeira de<br />

servir, no senti<strong>do</strong> de ajudar as pessoas a se tornarem melhores,<br />

a alcançarem plenamente seu potencial. O resulta<strong>do</strong> são novos<br />

líderes servos.<br />

Na Liderança Servi<strong>do</strong>ra o foco não está no líder como<br />

estamos acostuma<strong>do</strong>s a ver, ou seja, não existe culto a<br />

personalidade, grandes feitos, heróis quase míticos, salva<strong>do</strong>res<br />

da pátria, mas gente comum, com um forte desejo de servir aos<br />

seus semelhantes para que to<strong>do</strong>s cresçam juntos e, com isso,<br />

conseguir um mun<strong>do</strong> melhor.<br />

A Liderança Servi<strong>do</strong>ra é uma questão de escolha, de escolher<br />

servir à humanidade. Pode até parecer meio espiritual e não<br />

deixa de ser mesmo, pois essa é uma Liderança que transcende<br />

o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios, que se fundamenta no que há de melhor<br />

nas pessoas. Ao contrário da liderança como o senso comum a<br />

concebe, cheia de privilégios <strong>do</strong> status, <strong>do</strong> cargo ou da função<br />

e de recompensas materiais, a Liderança Servi<strong>do</strong>ra prima pelo<br />

sacrifício, pela humildade, pelo reconhecimento de que o líder<br />

só é importante na medida em que contribui para o crescimento<br />

<strong>do</strong>s lidera<strong>do</strong>s, se assim podemos chamar os que seguem um<br />

Líder Servi<strong>do</strong>r.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, uma das principais características <strong>do</strong> Líder<br />

Servo é a capacidade de persuadir, de procurar sempre convencer<br />

e nunca coagir ou constranger ninguém. A verdadeira Liderança<br />

Servi<strong>do</strong>ra está baseada na capacidade de influenciar pessoas a<br />

20


agir por meio da persuasão. Quan<strong>do</strong> mandamos, determinamos<br />

ou obrigamos alguém a fazer alguma coisa, não estamos<br />

lideran<strong>do</strong>, embora até consigamos resulta<strong>do</strong>s. Nessa situação<br />

estamos apenas ignoran<strong>do</strong> completamente a alma e o espírito<br />

das pessoas, ou seja a paixão e, dessa forma, deliberadamente<br />

excluímos o melhor de cada um.<br />

Há uma grande vantagem em usar a persuasão ao invés de<br />

qualquer outro meio para se conseguir alguma coisa. Essa idéia<br />

é antiga e vem desde os tempos da civilização helênica, afinal,<br />

era assim que Sócrates 2 (c.470-399 a.C.) costumava agir com<br />

seus interlocutores e discípulos, conforme podemos observar no<br />

texto abaixo de Xenofonte 3 .<br />

De mim, penso que os que praticam a sabe<strong>do</strong>ria e se julgam<br />

capazes de dar conselhos úteis a seus concidadãos de mo<strong>do</strong><br />

algum são violentos, posto saberem que a violência instiga o<br />

ódio e acarreta perigo, enquanto a persuasão elimina os riscos<br />

e não prejudica a perfeição. Com efeito, o homem a quem<br />

coagimos nos odeia como se o tivéssemos prejudica<strong>do</strong>. Aquele<br />

a quem persuadimos nos preza como se lhe tivéssemos feito<br />

um benefício. Não <strong>do</strong>s que praticam a sabe<strong>do</strong>ria, pois; é própria<br />

a violência, porém, <strong>do</strong>s que têm força mas não têm razão.<br />

Além <strong>do</strong> que, na violência hão mister numerosos auxiliares.<br />

Para persuadir não se precisa de ninguém: sozinho pode-se<br />

convencer. Além disso, jamais tais homens mancharam a mão<br />

de sangue. Quem preferiria matar seu semelhante a deixá-lo<br />

viver e lhe ser útil pela persuasão? (XENOFONTE, <strong>Di</strong>tos e feitos<br />

memoráveis de Sócrates, apud PESSANHA, 1999, p. 86-87).<br />

<strong>Di</strong>ante <strong>do</strong> exposto até agora, poderíamos dizer que o<br />

conceito de líderes e lidera<strong>do</strong>s perde senti<strong>do</strong> diante da Liderança<br />

Servi<strong>do</strong>ra. Teríamos talvez “ensinantes” e “aprendentes”, termos<br />

mais adequa<strong>do</strong>s para expressar uma relação de crescimento<br />

mútuo e não de subordinação, como nos vem à mente quan<strong>do</strong><br />

falamos de líderes e lidera<strong>do</strong>s. Ensinante e Aprendente são<br />

termos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> espanhol e fazem senti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o “lócus”<br />

são os novos espaços <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Ensinante refere-se aquele que ensina continuamente, por<br />

força de sua expertise, não depende de títulos, diplomas ou<br />

formação específica (lembremo-nos de Jesus Cristo, o maior<br />

<strong>do</strong>s líderes e que continua a nos ensinar até hoje) e aprendente<br />

é aquele que está disposto a aprender de coração aberto,<br />

portanto, conceitos, a nosso ver, muito mais sintoniza<strong>do</strong>s com<br />

os princípios e fundamentos da Liderança Servi<strong>do</strong>ra.<br />

É difícil dizer se a Liderança Servi<strong>do</strong>ra constitui uma nova<br />

teoria de liderança, até porque, apesar de já contar mais de 35<br />

anos desde que Greenleaf cunhou o termo, só agora começa a<br />

atingir o grande público e ganhar a atenção de pesquisa<strong>do</strong>res.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, Rooke e Torbert (2004, p. 47) definiram, antes de<br />

teorias, filosofias ou estilos de liderança, um conceito de “lógica<br />

de ação” que consiste na maneira como o líder “interpreta o<br />

entorno e reage quan<strong>do</strong> seu poder ou segurança são ameaça<strong>do</strong>s”.<br />

Os autores identificaram sete lógicas de ação, conforme tabela<br />

1 seguinte.<br />

Tabela 1: Sete maneiras de Liderar<br />

Lógica de Ação Características<br />

Oportunista<br />

<strong>Di</strong>plomata<br />

Especialista<br />

Realiza<strong>do</strong>ra<br />

Individualista<br />

Estrategista<br />

Alquimista<br />

Fonte: adapta<strong>do</strong> de Rooke e Torbert, 2004, p. 47.<br />

Segun<strong>do</strong> os autores, conhecer o próprio estilo de liderança<br />

é o primeiro passo para desenvolver e praticar uma lógica mais<br />

eficaz. Na amostra de líderes que estudaram, descobriram que<br />

5% são oportunistas, 12% diplomatas, 38% especialistas , 30<br />

% realiza<strong>do</strong>res, 10% individualistas, 4% estrategistas e apenas<br />

1% alquimistas. Nesse modelo, a lógica mais completa é a <strong>do</strong><br />

alquimista, a que to<strong>do</strong>s devem buscar alcançar.<br />

Embora não caiba no escopo deste artigo, não podemos<br />

deixar de imaginar como a lógica <strong>do</strong> Líder Servo se encaixa<br />

no modelo de Rooke e Torbert. Talvez, dentre os alquimistas<br />

representem 1% ou 0,01% da amostra total. É uma questão que<br />

deixamos em aberto para aqueles leitores que se interessarem<br />

em pesquisar mais profundamente sobre Liderança Servi<strong>do</strong>ra,<br />

agora que têm uma visão geral <strong>do</strong> tema.<br />

Conclusão<br />

Busca sempre um jeito<br />

de vencer. Auto-orienta<strong>do</strong>,<br />

manipula<strong>do</strong>r, faz valer<br />

a vontade pela força.<br />

Evita o conflito aberto.<br />

Quer pertencer a algo,<br />

obedece a normas <strong>do</strong> grupo,<br />

raramente sacode o barco.<br />

Comanda pela lógica e pela<br />

tarimba. Busca eficiência<br />

racional.<br />

Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />

Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />

Cumpre metas estratégicas.<br />

É eficaz em cumprir metas<br />

por meio de equipes. Equilibra<br />

deveres gerenciais e demandas<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

Entrelaça lógicas de ação<br />

pessoais e organizacionais<br />

conflitantes. Cria estruturas<br />

singulares para preencher<br />

lacunas entre estratégia<br />

e desempenho.<br />

Gera transformações<br />

organizacionais e pessoais.<br />

Exerce o poder <strong>do</strong><br />

questionamento mútuo, da<br />

vigilância e da vulnerabilidade<br />

a curto e longo prazos.<br />

Gera transformação social.<br />

Integra transformação, <strong>material</strong>,<br />

espiritual e social.<br />

Pontos Fortes<br />

Bom em emergências<br />

e oportunidades de<br />

vendas.<br />

Bom como<br />

argamassa social<br />

no trabalho. Ajuda a<br />

aglutinar as pessoas.<br />

Bom na contribuição<br />

individual.<br />

Adequa<strong>do</strong> a papéis<br />

gerenciais. Volta<strong>do</strong><br />

à ação e a metas.<br />

Eficaz em papéis<br />

empreende<strong>do</strong>res<br />

e de consultoria.<br />

Eficaz como líder<br />

de transformações.<br />

Bom para<br />

transformações de<br />

alcance social.<br />

Embora o interesse pela Liderança Servi<strong>do</strong>ra tenha<br />

recrudesci<strong>do</strong> com as obras recentes de alguns autores, o tema já<br />

existe há mais de 35 anos, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> inicialmente<br />

por Robert. K. Greenleaf, um alto executivo da área de treinamento<br />

da multinacional norte-americana AT&T.<br />

Consideran<strong>do</strong> as grandes transformações por que passam a<br />

humanidade e a consciência geral de que liderar é um fenômeno<br />

extremamente importante, que transcende o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

negócios e pode mesmo influir no futuro da espécie humana e<br />

<strong>do</strong> planeta, é de se supor que só tenda a crescer o interesse e<br />

as pesquisas sobre a Liderança Servi<strong>do</strong>ra. Esperamos que este<br />

artigo contribuía para isto.<br />

21


EFErêNCiAS:<br />

GREENLEAF, Robert K. The power of servant leadership. San<br />

Francisco/USA: Berret-Koehler Publishers, Inc, 1998.<br />

HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história<br />

sobre a essência da liderança. São Paulo: Sextante, 2004.<br />

HUNTER, James C. The world’s most powerful leadership<br />

principle: how to become a servant leader. Waterbrk, 2004.<br />

LACERDA, Daniela. O líder espiritualiza<strong>do</strong>: ele é ético, acredita<br />

que sua missão é servir aos outros e ganha cada vez mais força<br />

nas organizações. Você S/A, ed. 82, p. 22-30, 28 abr. 2005.<br />

PESSANHA, José Américo Mota (org.). Sócrates: vida e obra.<br />

Os pensa<strong>do</strong>res. São Paulo: Nova Cultural, 1999.<br />

ROOKE, David; TORBERT, William R. 7 transformações da<br />

liderança. Harvard Business Review, Chile, Harvard Business<br />

School, Impact Media, abr. 2005. p. 44-54.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

COSTA, José Eduar<strong>do</strong>. A cruzada da IBM: gigante da<br />

tecnologia quer que seus 350.000 funcionários sigam princípios,<br />

não regras. Você S/A, ed. 82, p. 36-9, 28 abr. 2005.<br />

GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL. São<br />

Paulo: Nova Cultural, 1998.<br />

GREENLEAF, Robert K. Servant leadership: a journey into the<br />

nature of legitimate power and greatness. Paulist Press, 2002.<br />

GUSMÃO, Marcos. Aprenda a servir: para sua liderança ficar<br />

realmente a serviço <strong>do</strong> seu time comece fazen<strong>do</strong> duas perguntas:<br />

a quem eu sirvo e com que objetivo? Você S/A, ed. 82, p. 32-5,<br />

28 abr. 2005.<br />

HUNTER, James C. The servant: a simple story about the true<br />

essence of leadership. Paulist Press, 2002.<br />

NOVA ENCICLOPEDIA ILUSTRADA FOLHA. São Paulo:<br />

Empresa Folha da Manhã, 1996. 2v.<br />

NoTAS<br />

Liderança servi<strong>do</strong>ra:<br />

Teoria, Conceito ou Mais um Modismo?<br />

1- João Pinheiro de Barros Neto, foi coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Curso de<br />

Administração da FAAC/FAMEC (até 06/2006), é Doutor em Sociologia<br />

e Mestre em Administração pela PUC/SP, especialista em Administração<br />

da Produção e Operações Industriais pela FGV/SP e Bacharel em<br />

Administração com habilitação em Comércio Exterior pela FASP. É<br />

também professor em cursos de Graduação e pós-graduação em<br />

Administração. Tem diversos artigos e livros publica<strong>do</strong>s, dentre os quais<br />

destacam-se “Teorias da Administração” pela Qualitymark Editora,<br />

“Administração Pública no Brasil”, pela Annablume e, com outros autores,<br />

“Regulação Pública da Economia no Brasil” pela Edicamp e “Liderança:<br />

Uma Questão de Competência, pela Saraiva”. Desde 1986 trabalha na<br />

Administração Pública Federal, onde já exerceu diversas funções de<br />

liderança e desenvolvimento/implementação de projetos. Foi membro da<br />

Banca Examina<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Prêmio Nacional da Qualidade - PNQ ciclo 2002<br />

e 2004, <strong>do</strong> Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão - PPQG nos Ciclos<br />

2002, 2003 e 2005 e <strong>do</strong> Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF nos<br />

ciclos 2005 e 2006.<br />

2- Filósofo grego, não deixou obra escrita. Seus ensinamentos chegaram<br />

até nós principalmente pelos escritos de Platão e textos de Xenofonte.<br />

Ele praticava a filosofia pelo méto<strong>do</strong> que chamou de dialético, fazen<strong>do</strong><br />

perguntas e submeten<strong>do</strong> as respostas a uma análise acurada e a contraargumentações.<br />

Ele afirmava que não possuía as respostas a essas<br />

questões e que apenas reconhecia sua própria ignorância, porém, tal<br />

reconhecimento, segun<strong>do</strong> ele, era justamente o pré-requisito para a<br />

verdadeira sabe<strong>do</strong>ria (NOVA ENCICLOPEDIA ILUSTRADA FOLHA,<br />

1996).<br />

3- Escritor grego, nasceu por volta de 430 a.C e conheceu Sócrates,<br />

tornan<strong>do</strong>-se seu admira<strong>do</strong>r. Sua “Apologia” é inspirada em Sócrates.<br />

Também foi general das tropas de mercenários de Ciro e, por ter servi<strong>do</strong><br />

ao rei espartano Agesilau, teve seus bens confisca<strong>do</strong>s e foi exila<strong>do</strong> (NOVA<br />

ENCICLOPEDIA ILUSTRADA FOLHA, 1996).<br />

22


ESumo<br />

Este artigo objetiva induzir a uma discussão sobre a reciclagem<br />

de alumínio e seus impactos econômicos e sociais.<br />

O que é reciclagem e mais especificamente o que é o<br />

alumínio recicla<strong>do</strong>? Como é a atuação <strong>do</strong> Brasil nos merca<strong>do</strong>s<br />

internacionais?<br />

A reciclagem de alumínio é capaz de gerar uma economia de<br />

até noventa e cinco porcento na utilização de energia, mas por<br />

quais motivações as organizações por quais motivos as empresa<br />

passaram a preocupar-se com suas atividades produtivas e seus<br />

efeitos na sociedade e no meio ambiente?<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Reciclagem de alumínio –<br />

Impactos econômicos e sociais.<br />

Reciclagem, Alumínio, Alumínio Recicla<strong>do</strong>, Economia.<br />

ABSTrACT<br />

This article’s main objective is to discuss about to the recycle<br />

aluminum and the economics and social impacts.<br />

What’s recycled and most specifically what’s recycled<br />

aluminum? How the atuation of Brazil in the international<br />

markets?<br />

The recycling of aluminum can be produce a economy till the<br />

ninety-five per cent to the use of energy, but what the motivations<br />

the organizations passed to care with theirs productive activities<br />

and effects in the society and the environment?<br />

KEYworDS:<br />

Marcia Regina Konrad 1<br />

Recyclied, Aluminum, Recycled Aluminum, Economy.<br />

23


introdução<br />

A reciclagem <strong>do</strong> alumínio evita despesas nas fases de<br />

transformação de extração e redução <strong>do</strong> minério a metal, que<br />

além de requerer alto consumo energético exige uma logística<br />

extremamente onerosa, já que há a exigência de grande escala<br />

no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

O Brasil é responsável pela exportação de aproximadamente<br />

quarenta porcento de sua produção total de aço, o que é um<br />

número bastante considerável, já que esse número gira em torno<br />

de cento e trinta e <strong>do</strong>is milhões de dólares previstos para 2006.<br />

A reciclagem <strong>do</strong> alumínio é capaz de gerar uma economia<br />

de até noventa e cinco porcento na utilização de energia e as<br />

empresas passaram a preocupar-se com a atividade produtiva e<br />

suas conseqüências na sociedade e no meio ambiente. O bom<br />

uso das matérias-primas e o cuida<strong>do</strong> com os detritos gera<strong>do</strong>s pela<br />

produção, entre outros itens, passaram a ser cuida<strong>do</strong>samente<br />

observa<strong>do</strong>s para que haja a diminuição de desperdícios, redução<br />

de custos e, ao mesmo tempo, a manutenção da sustentabilidade<br />

<strong>do</strong> negócio, como no caso da reciclagem das latas de alumínio.<br />

Ao longo desta discussão proposta sobre o tema da reciclagem<br />

<strong>do</strong> alumínio, será conceitualiza<strong>do</strong> o termo reciclagem, desde sua<br />

origem até sua incorporação a linguagem usual e sua importância,<br />

não só econômica, como também ecológica e social.<br />

A reciclagem de metais introduz ao leitor a visão deste grupo<br />

e sua utilização, enquanto o tema será aprofunda<strong>do</strong> no decorrer<br />

da discussão sobre o alumínio, sua reciclagem, o merca<strong>do</strong> de<br />

alumínio recicla<strong>do</strong> e seus impactos através de projetos sociais.<br />

reciclagem<br />

Reciclagem é o termo amplamente utiliza<strong>do</strong> para designar<br />

um conjunto de técnicas que objetivam aproveitar e reutilizar, da<br />

melhor e maior quantidade de maneiras possíveis, os detritos,<br />

fazen<strong>do</strong> com que estes retornem ao ciclo de produção <strong>do</strong> qual<br />

saíram.<br />

A reciclagem é resulta<strong>do</strong> de uma série de atividades, as<br />

quais, materiais que seriam simplesmente ti<strong>do</strong>s como lixo, ou por<br />

estarem em espera para serem envia<strong>do</strong>s ao lixo, são coleta<strong>do</strong>s ou<br />

“recoleta<strong>do</strong>s”, reavalia<strong>do</strong>s, separa<strong>do</strong>s e processa<strong>do</strong>s para que<br />

sejam utiliza<strong>do</strong>s como matéria-prima na manufatura de novos<br />

produtos. A reciclagem é tida como uma das etapas essenciais<br />

na política de gestão <strong>do</strong>s resíduos sóli<strong>do</strong>s, afora as técnicas de<br />

redução na fonte e reutilização (TEIXEIRA & ZANIN, 1999).<br />

As indústrias de reciclagem são também denominadas<br />

secundárias, por processarem matéria-prima de recuperação. Na<br />

maior parte <strong>do</strong>s processos, o produto recicla<strong>do</strong> é completamente<br />

diferente <strong>do</strong> produto inicial, mas existem casos em que a<br />

reciclagem não modifica as características químico-físicas de<br />

determina<strong>do</strong> <strong>material</strong>, o que possibilita seu uso exatamente para<br />

exercer a mesma função de sua produção primária.<br />

A importância da reciclagem<br />

A sociedade urbana atual produz diariamente, em média,<br />

cinco quilogramas de lixo, o que torna assusta<strong>do</strong>ra a especulação<br />

da quantidade da produção mundial. Somente no Brasil há a<br />

produção de duzentas e quarenta mil toneladas de lixo por dia.<br />

Uma das principais causas para o acúmulo de lixo no ambiente<br />

é o incontrolável crescimento populacional verifica<strong>do</strong> nos últimos<br />

séculos (DREW, 1998). Com o aumento <strong>do</strong> poder aquisitivo da<br />

população e dependen<strong>do</strong> de seu perfil de consumo, tanto maior<br />

é o aumento da quantidade de lixo produzi<strong>do</strong> diariamente.<br />

Reciclagem de alumínio –<br />

Impactos econômicos e sociais.<br />

Apesar <strong>do</strong> lixo ter sua fabricação a partir de recursos naturais,<br />

grande parcela deste não é passível de degradação natural pela<br />

natureza em um tempo relativamente curto, devi<strong>do</strong> ao alto grau<br />

de transformações e processamentos a que as matérias primas<br />

foram submetidas e à grande quantidade gerada (FIGUEIREDO,<br />

1995; PEREIRA-NETO, 1999).<br />

O que torna o índice de reciclagem no Brasil tão baixo é além<br />

da falta de informação e incentivo, o custo deste processo, já<br />

que reciclar contabiliza um custo quinze vezes mais caro <strong>do</strong> que<br />

simplesmente jogar o lixo em aterros.<br />

Através da reciclagem há a economia de energia e matériasprimas,<br />

bem como a geração de menos quantidade de poluentes<br />

<strong>do</strong> ar, da água e <strong>do</strong> solo. Com a aquisição <strong>do</strong> hábito da seletividade<br />

<strong>do</strong> lixo, há conseqüente melhora da limpeza pública, diminuição<br />

<strong>do</strong> acúmulo de lixo a ser despeja<strong>do</strong> nos aterros sanitários, maior<br />

geração de renda através da comercialização <strong>do</strong>s recicláveis, já<br />

que o desperdício é diminuí<strong>do</strong> e conseqüentemente há maior<br />

geração de empregos e responsabilidade com o lixo gera<strong>do</strong><br />

(CALDERONI, 2003; CHERMONT, 1996; PEREIRA-NETO, 1999;<br />

VILHENA, 1999).<br />

reciclagem de metais<br />

No merca<strong>do</strong> de reciclagem os tipos de <strong>material</strong> que tem<br />

maior remuneração por sua coleta são os metais, que por terem<br />

alta durabilidade e resistência mecânica e apresentarem alta<br />

conformação, são bastante utiliza<strong>do</strong>s no fabrico de equipamentos,<br />

embalagens em geral e equipamentos.<br />

Os metais são classifica<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> suas características<br />

físico-químicas, o que os faz pertencentes a <strong>do</strong>is grandes<br />

grupos, os ferrosos, compostos basicamente de ferro e aço,<br />

e os não-ferrosos. Na reciclagem, essa classificação também<br />

é empregada pela grande pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s metais à<br />

base de ferro e aço.<br />

Entre os metais não-ferrosos, destacam-se o alumínio, o<br />

cobre e suas ligas, como latão e o bronze, o chumbo, o níquel<br />

e o zinco. Tanto o zinco quanto o níquel, soma<strong>do</strong>s ao cromo e<br />

ao estanho, são amplamente utiliza<strong>do</strong>s na forma de ligas com<br />

outros metais, ou como revestimento deposita<strong>do</strong> sobre metais,<br />

como, por exemplo, o aço.<br />

A reciclagem evita despesas das fases de transformação de<br />

extração e redução <strong>do</strong> minério a metal, que além de requerer alto<br />

consumo energético exige uma logística extremamente onerosa,<br />

já que há a exigência de grande escala no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Nem toda empresa que lida com a produção <strong>do</strong> aço dispõe<br />

<strong>do</strong> processo de redução, e justamente essas empresas são<br />

responsáveis por aproximadamente vinte porcento da produção<br />

nacional de aço. A sucata representa cerca de quarenta porcento<br />

<strong>do</strong> total de aço consumi<strong>do</strong> no País, valor bem próximo aos<br />

valores de consumo de outros países, como os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

onde o valor atinge cinqüenta porcento <strong>do</strong> total da produção.<br />

o Alumínio<br />

O alumínio não é encontra<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong> natural na natureza.<br />

Sua extração é conseguida de um minério chama<strong>do</strong> bauxita, que<br />

possui em si a alumina, e é através da eletrólise desta alumina<br />

que há a obtenção <strong>do</strong> alumínio. Para cada tonelada de alumínio<br />

são necessárias em média quatro toneladas de bauxita, o que<br />

após o processo de beneficiamento será suficiente para a<br />

produção de aproximadamente sessenta mil latas de alumínio<br />

com capacidade para trezentos e cinqüenta mililitros. Durante<br />

o processamento da bauxita é requerida a utilização de cerca<br />

24


de dezesseis mil quilowatts, o que equivale à mesma potência<br />

energética de mil e setecentos quilos de petróleo, para obter-se<br />

apenas uma tonelada de alumínio.<br />

A reciclagem <strong>do</strong> alumínio é capaz de gerar uma economia de<br />

até noventa e cinco porcento na utilização de energia, porém,<br />

desconsideran<strong>do</strong>-se a energia já consumida durante os processos<br />

de coletagem e separação <strong>do</strong> <strong>material</strong> a ser recicla<strong>do</strong>.<br />

Por ser um <strong>material</strong> leve quanto a seu peso, o alumínio<br />

apresenta inúmeras vantagens em sua utilização para<br />

embalagens de diversos tipos, o que também, de forma indireta,<br />

acaba por reduzir o gasto energético e financeiro com relação a<br />

seu transporte.<br />

Ainda há discussões consideráveis quanto à avaliação <strong>do</strong><br />

ciclo total de beneficiamento <strong>do</strong> alumínio em to<strong>do</strong>s os produtos<br />

em que ele é utiliza<strong>do</strong> e da também difícil avaliação <strong>do</strong> impacto<br />

ambiental oriun<strong>do</strong>s de sua utilização, já que as alterações nos<br />

processos são variáveis a serem consideradas.<br />

Um exemplo da dificuldade de mensuração e comparação<br />

quanto à questão das variáveis envolvidas no processo de<br />

produção de uma latinha de bebidas de trezentos e cinqüenta<br />

mililitros, é muito bem tipifica<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> comparamos os da<strong>do</strong>s<br />

de sua produção em diferentes países europeus, que beneficiam o<br />

alumínio de maneiras diferentes para obtenção <strong>do</strong> mesmo produto<br />

final. Consideran<strong>do</strong>-se que uma lata de bebidas será produzida<br />

na Inglaterra, com a utilização de alumínio que foi fundi<strong>do</strong> na<br />

Noruega, utilizan<strong>do</strong> energia gerada por fonte hidrelétrica, e que<br />

este alumínio possui laminação alemã, ao final <strong>do</strong> processo<br />

serão libera<strong>do</strong>s para a atmosfera cento e dez gramas de dióxi<strong>do</strong><br />

de carbono (CO2), o que é equivalente a seis toneladas e meia<br />

de CO2 por tonelada de alumínio beneficia<strong>do</strong>. Consideran<strong>do</strong>-se<br />

que a mesma lata foi produzida na Alemanha, com a utilização<br />

de carvão como sua fonte energética primária, a liberação de<br />

CO2 para a atmosfera é mais de duzentos e cinqüenta porcento<br />

maior, pois salta <strong>do</strong>s cento e dez gramas, da produção britânica,<br />

para duzentos e oitenta gramas na produção germânica, valor<br />

este que pode ser mais eleva<strong>do</strong>, se por acaso, o carvão utiliza<strong>do</strong><br />

for originário da Tchecoslováquia, que produz um carvão de mais<br />

baixa qualidade.<br />

o merca<strong>do</strong> de alumínio recicla<strong>do</strong><br />

As empresas passaram a preocupar-se com a atividade<br />

produtiva e suas conseqüências na sociedade e no meio<br />

ambiente. O bom uso das matérias-primas e o cuida<strong>do</strong> com os<br />

detritos gera<strong>do</strong>s pela produção, entre outros itens, passaram<br />

a ser cuida<strong>do</strong>samente observa<strong>do</strong>s para que haja a diminuição<br />

de desperdícios, redução de custos e, ao mesmo tempo, a<br />

manutenção da sustentabilidade <strong>do</strong> negócio, como no caso da<br />

reciclagem das latas de alumínio.<br />

Com um trabalho de conscientização que teve início em 1991,<br />

o Brasil detém atualmente a marca de noventa e seis porcento<br />

de reciclagem de suas latinhas de alumínio, o que lhe qualifica<br />

como o campeão mundial de reciclagem deste <strong>material</strong>, índice<br />

obti<strong>do</strong> apenas por haver um permanente trabalho de educação<br />

e conscientização, já que o ranking de reciclagem desse<br />

<strong>material</strong> inclui apenas países em que a prática da reciclagem<br />

não é obrigatória. Em um país que carece de bons exemplos, as<br />

empresas precisam fazer mais <strong>do</strong> que apenas pagar corretamente<br />

os impostos.<br />

Em São Paulo há mais de <strong>do</strong>is mil processa<strong>do</strong>res de sucatas<br />

ferrosas e não-ferrosas e movimenta por ano oitocentos e<br />

cinqüenta milhões de reais. Atualmente, um cata<strong>do</strong>r de latinhas<br />

de alumínio recebe na cidade até três reais e cinqüenta centavos<br />

Reciclagem de alumínio –<br />

Impactos econômicos e sociais.<br />

por cada quilo de sucata, o que corresponde a sessenta e sete<br />

latinhas, vinte porcento a mais que há um ano.<br />

Em 2005, de acor<strong>do</strong> com a Associação Brasileira <strong>do</strong> Alumínio,<br />

a Abal, e a Associação Brasileira <strong>do</strong>s Fabricantes de Latas de<br />

Alta Reciclabilidade, a Abralatas, foram recicladas no país cento<br />

e vinte uma mil e trezentas toneladas de latas de alumínio, o<br />

que equivale a nove bilhões de latas, e estas mesmas entidades<br />

calculam que o merca<strong>do</strong> de latas usadas no país movimenta<br />

cerca de quatrocentos e cinqüenta milhões de reais por ano.<br />

A partir da metade <strong>do</strong> ano de 2005, os preços da sucata de<br />

alumínio oscilaram de quatro reais o quilo para até cinco reais e<br />

noventa centavos. Na Lon<strong>do</strong>n Metal Exchange, LME, a tonelada<br />

<strong>do</strong> alumínio é negociada atualmente a <strong>do</strong>is mil e quatrocentos<br />

dólares, mas já alcançou níveis próximos <strong>do</strong>s três mil dólares.<br />

Na Inglaterra, cerca de quatrocentas mil toneladas <strong>do</strong> metal<br />

são recicladas por ano, sen<strong>do</strong> que a maior parte é composta<br />

por latinhas usadas como embalagens para bebidas. No Brasil<br />

o milheiro da lata de alumínio é vendi<strong>do</strong> entre setenta dólares e<br />

setenta e cinco dólares e o merca<strong>do</strong> mundial aponta a existência,<br />

ainda, de um desequilíbrio entre oferta e demanda. No caso <strong>do</strong><br />

alumínio, este desequilíbrio tem o volume estima<strong>do</strong> em cem mil<br />

toneladas até 2008, o que faz com que os lotes da sucata estejam<br />

entre os mais disputa<strong>do</strong>s nos leilões.<br />

A partir desta tendência há fundições antecipan<strong>do</strong> a compra<br />

de alumínio e de outras commodities não-ferrosas já que em<br />

conseqüência da tendência de maior subida <strong>do</strong>s preços. A<br />

ameaça de novos reajustes e de escassez <strong>do</strong>s resíduos aceleram<br />

a busca pela matéria-prima.<br />

O setor de reciclagem de latas de alumínio no Brasil levou a<br />

geração de um pólo industrial específico, situa<strong>do</strong> na cidade de<br />

Pindamonhangaba, no esta<strong>do</strong> de São Paulo. O pólo conta com<br />

três fundições de alumínio voltadas para reciclagem de latas.<br />

Orientadas por O.N.G.s e pela própria indústria, as<br />

cooperativas agregam valor à sucata, prensan<strong>do</strong> o <strong>material</strong>, que<br />

é revendi<strong>do</strong> às indústrias sem intermediários. Outros setores<br />

também viram a potencialidade da reciclagem <strong>do</strong> alumínio e<br />

cresceram. Estimula<strong>do</strong>s pela perspectiva de aliar a proteção<br />

ambiental à redução de taxas de con<strong>do</strong>mínio, ou oferta de<br />

benefícios aos funcionários, con<strong>do</strong>mínios e clubes coletaram,<br />

em 2002, dezesseis porcento das latas encaminhadas à<br />

indústria, contra dez porcento em 2000. Além deles, ganharam<br />

espaço supermerca<strong>do</strong>s, escolas e eventos. Já por outro la<strong>do</strong>,<br />

os tradicionais depósitos de sucata, que recolheram dezenove<br />

porcento das latinhas em 2000, reduziram sua participação para<br />

treze porcento em 2002. Apesar dessa redução os sucateiros<br />

ainda ocupam o terceiro lugar como meio de coleta de alumínio<br />

a ser encaminha<strong>do</strong> para reciclagem.<br />

Projetos sociais gera<strong>do</strong>s a partir da reciclagem de<br />

alumínio<br />

A sociedade brasileira precisa tomar consciência da importância<br />

social da reciclagem, pois esta é uma atividade que gera valor,<br />

trabalho e renda para pessoas sem qualificação profissional que<br />

obtém hoje em dia o sustento recolhen<strong>do</strong> embalagens vazias e<br />

as venden<strong>do</strong> para ferros-velhos, cooperativas e recicla<strong>do</strong>res.<br />

Segun<strong>do</strong> MESTRINER (2004, on-line), estu<strong>do</strong>s recentes<br />

indicam que o número de cata<strong>do</strong>res espalha<strong>do</strong>s pelo Brasil está<br />

quase alcançan<strong>do</strong> a casa <strong>do</strong> milhão de pessoas e esta atividade,<br />

impulsionada pelo trabalho de centenas de cooperativas,<br />

O.N.G.S. e entidades que procuram instrumentalizar e ajudar<br />

o seu desenvolvimento, vem ganhan<strong>do</strong> contornos bastante<br />

expressivos <strong>do</strong>s pontos de vista social, econômico e ambiental.<br />

25


Por outro la<strong>do</strong>, a indústria recicla<strong>do</strong>ra já está instalada e<br />

operante no país, e novas tecnologias surgem continuamente,<br />

mostran<strong>do</strong> que este é um segmento em franca ascensão.<br />

A reciclagem não é caracterizada apenas pela<br />

reindustrialização <strong>do</strong> alumínio já utiliza<strong>do</strong>, há um outro braço<br />

deste merca<strong>do</strong> que consome as latinhas antes mesmo de que<br />

sejam recicladas industrialmente. Muitos artesãos descobriram<br />

que podiam transformar as latinhas usadas em peças para<br />

decoração, moda e diversos outros fins.<br />

Em Riacho Fun<strong>do</strong>, uma cidade satélite a vinte quilometros de<br />

Brasília, um grupo de quarenta e sete mulheres criou a Associação<br />

Cia. <strong>do</strong> Lacre, uma cooperativa de artesãs que cria e vende<br />

produtos que utilizam lacres de latinhas de cerveja e refrigerante<br />

como matéria-prima. Com apoio <strong>do</strong> Sebrae, Serviço Brasileiro<br />

de Apoio à Pequena e Média Empresa, <strong>do</strong> <strong>Di</strong>strito Federal, as<br />

artesãs chegaram a exportar cento e sessenta bolsas para a<br />

Itália em 2005. Para a confecção de cada bolsa, que é vendida<br />

em média por quarenta reais, são utiliza<strong>do</strong>s aproximadamente<br />

quatrocentos e cinqüenta lacres. Um tapete utiliza em média dez<br />

mil lacres. A cooperativa adquire cerca de vinte quilos de lacres<br />

por mês, que é compra<strong>do</strong> da própria comunidade por cinco<br />

reais o quilo, o que corresponde a aproximadamente três mil e<br />

quatrocentas unidades.<br />

Artesãos individuais também transformam lacres de latinhas<br />

em objetos como miniaturas, cintos, gorros e outras infinidades de<br />

produtos. Especialistas no setor classificam o uso em trabalhos<br />

artesanais como um fim nobre para os lacres e latinhas.<br />

Conclusão<br />

A potencialidade da reciclagem <strong>do</strong> alumínio vem aquecen<strong>do</strong><br />

o merca<strong>do</strong> global e benefician<strong>do</strong> muito nosso merca<strong>do</strong><br />

interno, não só através de índices financeiros como também<br />

com elevação <strong>do</strong>s índices de inclusão social de pessoas sem<br />

qualificação profissional, que obtém hoje em dia o sustento<br />

recolhen<strong>do</strong> embalagens vazias e as venden<strong>do</strong> para ferrosvelhos,<br />

cooperativas e recicla<strong>do</strong>res, bem como transforman<strong>do</strong> o<br />

reciclável em peças decorativas.<br />

Através da reciclagem há a economia de energia e matériasprimas,<br />

bem como a geração de menos quantidade de poluentes<br />

<strong>do</strong> ar, da água e <strong>do</strong> solo, e há maior geração de renda através<br />

da comercialização <strong>do</strong> alumínio reciclável, já que o desperdício é<br />

diminuí<strong>do</strong> e conseqüentemente há maior geração de empregos,<br />

o que aquece a economia.<br />

No merca<strong>do</strong> de reciclagem os tipos de <strong>material</strong> que tem<br />

maior remuneração por sua coleta são os metais, que por terem<br />

alta durabilidade e resistência mecânica e apresentarem alta<br />

conformação, são bastante utiliza<strong>do</strong>s no fabrico de equipamentos,<br />

embalagens em geral e equipamentos, e dentre eles o alumínio<br />

tem papel de destaque, já que seu índice de reaproveitamento é<br />

de cem porcento.<br />

A sociedade brasileira precisa tomar consciência da<br />

importância social da reciclagem, pois esta é uma atividade<br />

que gera valor, trabalho e renda para pessoas sem qualificação<br />

profissional formal, pois é a partir destas atividades que são<br />

geradas suas rendas, através da coleta de embalagens vazias e<br />

suas vendas para ferros-velhos, cooperativas e recicla<strong>do</strong>res.<br />

A reciclagem não é caracterizada apenas pela reindustrialização<br />

<strong>do</strong> alumínio já utiliza<strong>do</strong>, há um outro braço deste merca<strong>do</strong> que<br />

consome as latinhas antes mesmo de que sejam recicladas<br />

industrialmente, onde artesãos descobriram que podiam<br />

transformar as latinhas usadas em peças para decoração, moda<br />

e diversos outros fins.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

BRANCO, S.M. & ROCHA, A.A. Elementos de Ciências <strong>do</strong><br />

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VILHENA, A. Guia da Coleta Seletiva de Lixo. São Paulo:<br />

CEMPRE, 1999.<br />

NoTAS<br />

Reciclagem de alumínio –<br />

Impactos econômicos e sociais.<br />

1- Bacharelanda em Administração de Empresas pela Faculdade de<br />

Educação e Cultura Montessori (FAMEC).<br />

26


Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre<br />

as peculiaridades apresentadas pela literatura e observadas na<br />

prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />

rESumo<br />

Este artigo tem por objetivo confrontar as principais<br />

características administrativas mencionadas pela literatura com<br />

as observadas na prática ao longo da implantação de programas<br />

de melhorias em 9 empresas de micro e pequeno porte <strong>do</strong><br />

Núcleo de Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí (São Paulo).<br />

Ao longo de um ano, os autores deste artigo observaram<br />

deficiências administrativas como a falta de planejamento<br />

estratégico, a confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e<br />

jurídica da empresa, a relação de parentesco na atribuição de<br />

cargos e tarefas, entre outras, além de pontos fortes como a<br />

flexibilidade, a comunicação efetiva, o contato mais próximo<br />

com o cliente, etc. Por meio da implantação de programas<br />

de melhorias, as deficiências foram reduzidas e os pontos<br />

fortes foram aperfeiçoa<strong>do</strong>s. O presente trabalho apresenta as<br />

características marcantes à maioria das empresas no início desta<br />

implantação e contribui para a literatura <strong>do</strong> gênero.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Administração, Qualidade, Micro e Pequenas Empresas.<br />

ABSTrACT<br />

The aim of this article is to compare the main administrative<br />

characteristics mentioned by literature with the observed<br />

ones in practical throughout the implantation of programs of<br />

improvements in 9 micro and small companies of the Núcleo de<br />

Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí (São Paulo) Throughout<br />

one year, the authors of this article had observed administrative<br />

deficiencies as the lack of strategical planning, the confusion<br />

among the natural person of the legal entrepreneur and of the<br />

company, the blood relation in the attribution of positions and<br />

tasks, among others, beyond strong points as flexibility, the<br />

effective communication, the near contact with the customer,<br />

etc. By means of the implantation of programs of improvements,<br />

the deficiencies had been reduced and the strong points had<br />

been improved. The present work presents the remarkable<br />

characteristics to the majority of the companies at the beginning<br />

of this implantation and contributes with this kind of literature.<br />

KEYworDS:<br />

Rosley Anholon, DSc. 1<br />

Jefferson de Souza Pinto, MSc. 2<br />

Administration, Quality, Micro and Small Companies.<br />

27


1. introdução<br />

A importância das micro e pequenas empresas para o país já é<br />

conhecida há muito tempo, conforme comprova da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Serviço<br />

Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de São Paulo (SEBRAE-SP, 2005). Segun<strong>do</strong> esta instituição, as<br />

micro e pequenas empresas brasileiras são responsáveis pelo<br />

emprego de 67% da população economicamente ativa <strong>do</strong> país no<br />

ambiente urbano e contribuem com 20% <strong>do</strong> volume de riquezas<br />

gera<strong>do</strong> pela nação. Tais da<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>s às atividades<br />

empreende<strong>do</strong>ras demonstram uma grande perspectiva para o<br />

país. Segun<strong>do</strong> uma pesquisa realizada anualmente pela Babson<br />

College <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e pela Lon<strong>do</strong>n Business School<br />

da Inglaterra, o Brasil se caracteriza como um <strong>do</strong>s países mais<br />

empreende<strong>do</strong>res <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (GEM, 2004).<br />

Apesar da ótima correlação existente entre a importância<br />

das micro e pequenas empresas para o país e as altas taxas<br />

de empree<strong>do</strong>rismo, o Brasil ainda hoje apresenta um índice alto<br />

de mortalidade para empreendimentos com até quatro anos<br />

de existência, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s a países desenvolvi<strong>do</strong>s da<br />

América <strong>do</strong> Norte e da Europa. Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> SEBRAE<br />

(2004) a taxa de mortalidade para este tipo de empresa e para o<br />

perío<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> chega a 59,9%.<br />

A explicação para tal ocorrência reside no fato da maioria <strong>do</strong>s<br />

empreende<strong>do</strong>res brasileiros não possuírem conhecimentos ou<br />

estarem desprepara<strong>do</strong>s para enfrentarem um merca<strong>do</strong> altamente<br />

competitivo. A pesquisa realizada pela Babson College e pela<br />

Lon<strong>do</strong>n Business School mostrou que no Brasil a maioria das<br />

empresas é criada por necessidade e não por oportunidade<br />

(GEM, 2004). As pessoas empreendem quan<strong>do</strong> perdem um<br />

emprego ou quan<strong>do</strong> necessitam aumentar suas fontes de renda,<br />

não possuin<strong>do</strong>, portanto, preparo suficiente para tal desafio.<br />

Tal situação faz com que a maioria das empresas de micro<br />

e pequeno porte apresentem características administrativas<br />

peculiares e que influenciam diretamente o desempenho e<br />

sucesso em longo prazo. O estu<strong>do</strong> destas peculiaridades se<br />

caracteriza com a principal temática deste artigo.<br />

2. Classificação das Empresas e méto<strong>do</strong><br />

Conforme menciona<strong>do</strong> anteriormente, o objetivo deste<br />

artigo é confrontar as peculiaridades administrativas das<br />

empresas de micro e pequeno porte mencionadas pela<br />

literatura com as observadas na prática pela implantação de<br />

programas de melhorias em 9 empresas incubadas no Núcleo de<br />

Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí. A referência a<strong>do</strong>tada<br />

para a classificação das empresas foi a utilizada pelo Serviço<br />

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE,<br />

2005a) definida pelo decreto nº 5.028/2004 e apresentada a<br />

seguir:<br />

1. microempresa: aquelas com receita bruta anual igual ou<br />

inferior a R$ 433.755,14;<br />

2. Empresa de Pequeno Porte: aquelas com receita<br />

bruta anual superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$<br />

2.133.222,00.<br />

Cabe ressaltar que quan<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> o critério relaciona<strong>do</strong> à<br />

força de trabalho, a maioria das empresas incubadas mencionadas<br />

neste artigo são classificadas como empresas de micro porte,<br />

pelo fato de possuírem menos de dezenove funcionários no setor<br />

industrial ou menos de nove funcionários no setor de comércios<br />

e serviços.<br />

Com relação ao méto<strong>do</strong>, a pesquisa pode ser classificada como<br />

revisão bibliográfica e estu<strong>do</strong> de caso. Revisão bibliográfica pelo<br />

Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />

pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />

fato de terem si<strong>do</strong> levantadas às peculiaridades administrativas<br />

das empresas de micro e pequeno porte junto à literatura e<br />

estu<strong>do</strong> de caso pelo fato <strong>do</strong>s autores terem confronta<strong>do</strong> as<br />

informações levantadas com a realidade vivenciada por cada<br />

empresa incubada.<br />

Cabe ressaltar, por fim, que os programas de melhorias<br />

implanta<strong>do</strong>s nestas empresas focaram a avaliação de<br />

desempenho, o planejamento estratégico, a organização <strong>do</strong><br />

ambiente de trabalho e o controle da qualidade.<br />

3. Descrição das empresas onde foram implanta<strong>do</strong>s os<br />

programas de melhorias<br />

Como forma de ilustrar melhor a realidade vivenciada por<br />

cada empresas, apresenta-se a seguir uma breve descrição de<br />

cada uma delas:<br />

a) Empresa 1: Apresenta apenas uma proprietária com perfil<br />

modera<strong>do</strong> para mudanças e novas técnicas de gestão, atuan<strong>do</strong><br />

na produção e comercialização de travesseiros aromáticos. Sua<br />

força de trabalho é composta por quatro colabora<strong>do</strong>res e os<br />

resulta<strong>do</strong>s conquista<strong>do</strong>s com a implantação <strong>do</strong>s programas de<br />

melhorias foram bons. Destaca-se que no início das atividades a<br />

empresa possuía um estágio de gestão muito preliminar;<br />

b) Empresa 2: Atuan<strong>do</strong> no setor de roupas esportivas,<br />

esta empresa pertence a <strong>do</strong>is sócios com perfil arroja<strong>do</strong><br />

para mudanças e sua força de trabalho é constituída por seis<br />

colabora<strong>do</strong>res. No início das atividades a empresa apresentava<br />

um estágio de gestão preliminar e a falta de visão de melhoria<br />

contínua comprometeu a conquista de melhores resulta<strong>do</strong>s.<br />

c) Empresa 3: Apresenta apenas um proprietário com perfil<br />

arroja<strong>do</strong> para mudanças e novas técnicas de gestão, atuan<strong>do</strong><br />

na produção e comercialização de bolsas para instrumentos<br />

musicais e de mergulho. A força de trabalho é constituída por oito<br />

trabalha<strong>do</strong>res, apesar da mesma ter varia<strong>do</strong> muito ao longo das<br />

atividades de melhorias. Inicialmente, a empresa apresentava um<br />

estágio de gestão razoável.<br />

d) Empresa 4: Sen<strong>do</strong> de propriedade de <strong>do</strong>is sócios, esta<br />

empresa atua no setor de automação industrial fabrican<strong>do</strong> painéis<br />

para o controle de máquinas. A força de trabalho é constituída<br />

por 5 colabora<strong>do</strong>res e aproveitou muito bem os programas de<br />

melhorias.<br />

e) Empresa 5: Esta empresa atua no setor de serviços em<br />

usinagem, sen<strong>do</strong> composta por <strong>do</strong>is sócios. Apesar de um deles<br />

possuir um perfil arroja<strong>do</strong>, o perfil conserva<strong>do</strong>r <strong>do</strong> outro sócio<br />

impossibilitou a obtenção de melhores resulta<strong>do</strong>s. Inicialmente a<br />

empresa possuía um estágio de gestão razoável.<br />

f) Empresa 6: Atua na fabricação e comercialização de<br />

ferraduras para eqüinos, sen<strong>do</strong> de propriedade de <strong>do</strong>is irmãos<br />

com perfis modera<strong>do</strong>s, mas fortemente influencia<strong>do</strong>s pelas<br />

decisões paternas, este sim com perfil conserva<strong>do</strong>r. Na ocasião<br />

sua força de trabalho era composta por 4 colabora<strong>do</strong>res, mas<br />

a mesma variou muito ao longo da implantação. A empresa<br />

apresentava um estágio de gestão preliminar no início das<br />

atividades.<br />

g) Empresa 7: A empresa atua na produção e comercialização<br />

de medi<strong>do</strong>res de grandezas elétricas, sen<strong>do</strong> de propriedade<br />

de <strong>do</strong>is empresários, ambos com perfil arroja<strong>do</strong>. Sua força<br />

de trabalho é composta de por 6 colabora<strong>do</strong>res e no início da<br />

implantação das atividades apresentava um bom estágio de<br />

gestão.<br />

h) Empresa 8: Esta empresa produz e comercializa microterminais<br />

de vendas e controle de estoque para comércios<br />

28


em geral. Apesar de ser de propriedade de três sócios, todas<br />

as atividades e decisões são tomadas pela filha de um deles,<br />

que atua como diretora administrativa. A força de trabalho é<br />

composta por 6 colabora<strong>do</strong>res e no início das atividades a<br />

empresa apresentava um bom estágio de gestão.<br />

i) Empresa 9: Sen<strong>do</strong> de propriedade de <strong>do</strong>is sócios, esta<br />

empresa atua no projeto e comercialização de grandes peneiras<br />

vibratórias de altíssimo valor agrega<strong>do</strong>. A força de trabalho<br />

sempre foi pequena e variou muito, já que a empresa possuía<br />

sérios problemas financeiros. O estágio de gestão no início das<br />

atividades pode ser classifica<strong>do</strong> como razoável.<br />

3. Características das mPEs segun<strong>do</strong> a literatura<br />

Como forma de facilitar a análise das peculiaridades<br />

administrativas das empresas de micro e pequeno porte<br />

mencionadas pela literatura, os autores deste artigo optaram<br />

pela divisão das informações em <strong>do</strong>is tópicos intitula<strong>do</strong>s pontos<br />

fracos e pontos fortes das MPEs (Micro e Pequenas Empresas).<br />

3.1 Pontos fracos das mPEs<br />

a) influência das relações de parentesco nas atribuições<br />

de cargos e tarefas<br />

Um <strong>do</strong>s grandes problemas na empresa de micro e pequeno<br />

porte é influência das relações de parentesco nas atribuições<br />

de cargos e tarefas. É muito comum na maioria das MPEs que<br />

este fator se faça marcante em promoções ao invés <strong>do</strong> fator<br />

capacidade. Muitas vezes, uma pessoa acaba construin<strong>do</strong><br />

uma carreira numa empresa pela relação de parentesco que<br />

possui com o proprietário sem que possua merecimento para<br />

isso. Conseqüentemente, isto irá gerar descontentamento e<br />

desmotivação de alguns funcionários, pois por melhor que<br />

realizem suas tarefas, não terão chance de ascensão (SAVIANI,<br />

1995 e JACINTHO, 2004).<br />

Barros & Modenesi (1973) e Saviani (1995) ressaltam que esta<br />

sucessão por privilégios, vaidades ou pressões familiares leva<br />

a criação de uma liderança falida e incapacitada de administrar<br />

um negócio. A empresa não terá as pessoas certas para cada<br />

função, não haverá uma participação global de to<strong>do</strong>s aqueles<br />

que a constituem e reinará o clima “foi sempre assim, para que<br />

mudar”.<br />

b) Falta de planejamento estratégico, visão e missão<br />

O planejamento estratégico se faz necessário em qualquer<br />

tipo de negócio, independentemente de seu porte ou ramo<br />

de atuação. Este planejamento envolve a definição da visão,<br />

da missão, <strong>do</strong>s objetivos empresariais, previsão de vendas,<br />

tendências, pesquisas e distribuição de recursos. Segun<strong>do</strong> Fritz<br />

(1993) apud Crósta (2000), a maioria <strong>do</strong>s fracassos atuais se<br />

origina de uma má compreensão <strong>do</strong> que a empresa realmente<br />

é, ou seja, para que a empresa existe, qual seu merca<strong>do</strong>, qual<br />

seu produto ou serviço, etc. McAdam (1999) ressalta ainda<br />

que é extremamente difícil convencer pequenos empresários a<br />

traçarem objetivos em longo prazo numa realidade empresarial<br />

que eles acreditam mudar constantemente. As idéias de Murphy<br />

(1999) corroboram as afirmações anteriores.<br />

Ainda em relação ao planejamento estratégico, Certo &<br />

Peter (1995) afirmam que, para uma empresa ser competitiva,<br />

faz-se necessário o acompanhamento <strong>do</strong>s ambientes interno<br />

(relaciona<strong>do</strong>s aos departamentos da empresa como marketing,<br />

produção, administração, etc.), organizacional (agentes externos<br />

diretamente relaciona<strong>do</strong>s à empresa tais como concorrência,<br />

fornece<strong>do</strong>res, clientes, entre outros) e externo (agentes de<br />

Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />

pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />

âmbito global tais como fatores políticos, econômicos, etc.).<br />

Para as grandes empresas estes três ambientes se fazem muito<br />

presentes, mas para as MPEs deve-se focar principalmente os<br />

<strong>do</strong>is primeiros.<br />

c) Confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e a<br />

pessoa jurídica da empresa<br />

Quan<strong>do</strong> se analisa com maior riqueza de detalhes o setor<br />

financeiro das MPEs, observa-se freqüentemente que existe uma<br />

confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e a pessoa jurídica<br />

da empresa. É extremamente comum o <strong>do</strong>no ter primeiro a<br />

preocupação de quanto irá lhe sobrar no final <strong>do</strong> mês, ao invés de<br />

pensar em investimentos, capital de giro, etc. Conseqüentemente,<br />

não há como se ter um real fluxo de caixa, uma vez que em suas<br />

“emergências”, o micro ou pequeno empresário recorrerá ao<br />

capital da empresa. Esta falta de planejamento e organização<br />

financeira prejudica a implantação de um programa de qualidade<br />

(MURPHY, 1999 e GUIA PEGN, 2002).<br />

d) reduzida capacidade administrativa<br />

Muitas vezes, a reduzida capacidade administrativa <strong>do</strong>s<br />

dirigentes das empresas de micro e pequeno porte apresentase<br />

como fator limitante ao equilíbrio e ao crescimento. Essa<br />

reduzida capacidade, associada ao excesso de centralização das<br />

decisões, pode levar ao aparecimento de vícios e distorções de<br />

ordem. O micro e pequeno empresário precisa ter a consciência<br />

de que não está suficientemente treina<strong>do</strong> para a execução de<br />

certas atividades administrativas, recorren<strong>do</strong> para isso a cursos<br />

de atualização ou a programas de auxílio (BARROS & MODESI,<br />

1973, JACINTHO, 2004).<br />

e) Falta de conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em que está<br />

inserida<br />

Por intermédio das principais bibliografias (RATTNER, 1985;<br />

OLIVEIRA, 1994; SAVIANI, 1995; MURPHY, 1999, Guia PEGN,<br />

2002; SOIFER, 2002; PEGN, 2003), observa-se que a maioria das<br />

MPEs desconhece quais são seu concorrentes e quais os reais<br />

desejos de seus consumi<strong>do</strong>res. Isso ocorre porque pesquisas de<br />

merca<strong>do</strong>, grau de satisfação <strong>do</strong>s clientes, análise de não clientes<br />

e análise de reclamações são raramente realizadas. O que<br />

existe, na maioria das vezes, para as reclamações é a simples<br />

reposição <strong>do</strong> produto ou serviço, sen<strong>do</strong> a reclamação arquivada<br />

posteriormente. Para sugestões, dificilmente há dispositivos<br />

nas MPEs que permitam funcionários ou clientes expressarem<br />

opiniões.<br />

f) relação com os fornece<strong>do</strong>res<br />

Com relação ao fornecimento de matéria-prima, encontram-se<br />

duas situações. A primeira ocorre quan<strong>do</strong> a MPE recebe <strong>material</strong><br />

de um grande fornece<strong>do</strong>r. Geralmente, neste caso, o poder de<br />

barganha é muito pequeno e a MPE não consegue negociar por<br />

melhores preços; em contrapartida, a qualidade é garantida, pois<br />

freqüentemente os grandes fornece<strong>do</strong>res possuem programas<br />

de qualidades bem estabeleci<strong>do</strong>s. A segunda situação ocorre<br />

quan<strong>do</strong> o fornecimento se dá por uma outra MPE. Conseguemse<br />

baixos preços, mas não necessariamente bons negócios, uma<br />

vez que a qualidade <strong>do</strong> produto não está totalmente assegurada<br />

(RATTNER, 1985).<br />

O setor de compras também acaba sen<strong>do</strong> muito influencia<strong>do</strong><br />

pelo tipo de mentalidade <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>res. Freqüentemente,<br />

como não possuem uma boa visão da qualidade como<br />

forma de melhoria e competitividade, acabam aprovan<strong>do</strong><br />

orçamentos unicamente basea<strong>do</strong>s nos custos, esquecen<strong>do</strong>-se<br />

de que, mais para frente, uma matéria-prima de má qualidade<br />

poderá ocasionar problemas ou a insatisfação <strong>do</strong> cliente<br />

(PEGN, 2003).<br />

29


g) Setor produtivo<br />

Quan<strong>do</strong> se foca um pouco mais o setor produtivo das MPEs<br />

industriais, observa-se um parque de equipamentos defasa<strong>do</strong> ou<br />

mal organiza<strong>do</strong>. É comum a ausência de Planejamento e Controle<br />

da Produção (PCP), de Just in Time, de normas da qualidade, etc.<br />

Esta ausência da qualidade como fator diferencial acaba sen<strong>do</strong><br />

decorrente da falta de treinamento e reciclagem. Saviani (1995) e<br />

Murphy (1999) alegam que as MPEs consideram os programas de<br />

treinamento e reciclagem como custos e não como investimentos<br />

e, por isso, os reduzem numa época de recessão econômica.<br />

Além disso, os micro e pequenos empresários associam estes<br />

programas como sen<strong>do</strong> volta<strong>do</strong>s para somente para grandes<br />

empresas.<br />

Um outro ponto observa<strong>do</strong> no setor produtivo é a extrema<br />

dependência da MPE em relação a profissionais especializa<strong>do</strong>s<br />

em uma única função. No momento em que esses funcionários<br />

estão ausentes ou são desliga<strong>do</strong>s da empresa, observa-se<br />

uma dificuldade em manter o nível de produção até que outros<br />

profissionais sejam qualifica<strong>do</strong>s ou contrata<strong>do</strong>s. Não há um<br />

programa que permita a to<strong>do</strong>s os funcionários o conhecimento<br />

de to<strong>do</strong> o ciclo produtivo bem como treinamentos para se buscar<br />

a multi-funcionalidade (SAVIANI, 1995; WIKLUND & WIKLUND,<br />

1999; JACINTHO, 2004).<br />

h) Pedi<strong>do</strong>s acima da capacidade produtiva<br />

Tornou-se prática comum em muitas MPEs aceitarem<br />

pedi<strong>do</strong>s iguais ou maiores a suas máximas capacidades e não<br />

conseguirem atendê-los, em decorrência de quebra de máquinas,<br />

ausência de funcionários ou outros problemas que diminuem a<br />

produtividade. Como conseqüência, entregas são feitas com<br />

atrasos e a insatisfação <strong>do</strong> cliente é manifestada (OLIVEIRA,<br />

1994). Segun<strong>do</strong> Oliveira (2001), a norma NBR ISO 9001 (2000)<br />

ressalta a importância deste fator no item análise crítica <strong>do</strong>s<br />

requisitos relaciona<strong>do</strong>s ao produto. A empresa deve garantir que<br />

as necessidades <strong>do</strong> cliente sejam devidamente compreendidas<br />

e analisadas quanto à sua capacidade de realização, antes de se<br />

fechar um contrato. Quan<strong>do</strong> qualquer um <strong>do</strong>s requisitos de um<br />

pedi<strong>do</strong> de fornecimento for altera<strong>do</strong>, a empresa deve assegurar<br />

que estas alterações estejam <strong>do</strong>cumentadas e aprovadas pelo<br />

cliente. A não realização desta análise acaba sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />

grandes fatores de fracasso tanto de grandes empresas como<br />

de MPEs.<br />

i) Falta de uma política de recursos humanos<br />

O ser humano é a maior riqueza de uma organização. A vida<br />

de um profissional é intensamente vivida na empresa, onde o<br />

bem estar, o ambiente, as satisfações pessoais e profissionais<br />

devem ser atendidas dentro <strong>do</strong> possível (LANGBERT, 2000). É<br />

neste contexto que os micro e pequenos empresários devem<br />

perceber a importância <strong>do</strong>s Recursos Humanos na conquista de<br />

um clima ideal de trabalho junto a seus colabora<strong>do</strong>res.<br />

Observa-se que micro e pequenos empresários ainda<br />

confundem Departamento Pessoal com política de Recursos<br />

Humanos. Enquanto o primeiro está volta<strong>do</strong> apenas para um<br />

controle da vida <strong>do</strong> operário, como registro de faltas, horas<br />

extras trabalhadas, etc. o segun<strong>do</strong> pretende realizar um plano de<br />

carreiras, uma descrição de cargos, a satisfação <strong>do</strong> funcionário<br />

e o incremento de seu nível intelectual (SAVIANI, 1995). É<br />

interessante destacar, entretanto, que muitos micro e pequenos<br />

empresários não conseguem visualizar seus funcionários como<br />

colabora<strong>do</strong>res no crescimento e desenvolvimento de suas<br />

empresas e por isto não desenvolvem as atividades anteriormente<br />

mencionadas (MURPHY, 1999).<br />

Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />

pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />

j) Não utilização de recursos computacionais<br />

Mesmo em plena era da informática, ainda existem muitas<br />

MPEs que realizam suas contabilidades ou balanços de estoques<br />

sem o auxílio de micro-computa<strong>do</strong>res. Muitas vezes, existe uma<br />

aversão à informática por parte <strong>do</strong> micro e pequeno empresário,<br />

em especial por aqueles mais antigos. Eles acreditam que os<br />

méto<strong>do</strong>s tradicionais são mais simples, esquecen<strong>do</strong>-se de que<br />

estes possuem maior probabilidade de perda de informações<br />

e maior desperdício de tempo. O uso de um simples microcomputa<strong>do</strong>r<br />

com softwares de caráter geral permite organizar<br />

inúmeras informações e acessá-las facilmente no momento em<br />

que for necessário (Guia PEGN, 2002).<br />

k) En<strong>do</strong>marketing zero<br />

O en<strong>do</strong>marketing pode ser entendi<strong>do</strong> como o marketing interno<br />

que a instituição faz de si mesmo para seus colabora<strong>do</strong>res. Esse<br />

en<strong>do</strong>marketing deve ser pratica<strong>do</strong> a cada momento, a cada fato<br />

novo que coloque a empresa em patamares superiores junto aos<br />

seus concorrentes e ao seu público consumi<strong>do</strong>r. Geralmente, em<br />

MPEs essa política de propaganda inexiste, fazen<strong>do</strong> com que os<br />

funcionários desconheçam os sucessos da empresa.<br />

É muito comum que as conquistas ou bons negócios realiza<strong>do</strong>s<br />

pelas MPEs sejam somente divulga<strong>do</strong>s nos departamentos<br />

comerciais, como é o caso de vendas. Os méritos alcança<strong>do</strong>s<br />

devem ser difundi<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os colabora<strong>do</strong>res, pois cada célula<br />

da organização foi participante disto e deve ser comunicada<br />

(SAVIANI, 1995).<br />

l) Falta de uma visão de melhoria contínua<br />

Muitos micro e pequenos empresários ainda não possuem<br />

uma visão de melhoria contínua, uma vez que implantada uma<br />

melhoria ou alcança<strong>do</strong> um patamar superior, eles negligenciam<br />

a constante manutenção ou melhoria desta situação. Esquecem<br />

que administrar é rever a empresa a cada momento e sempre<br />

buscar uma situação melhor que a vigente, como indicada<br />

pela meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Kaizen. (OLIVEIRA, 1994; SAVIANI, 1995;<br />

SOIFER, 2002, JACINTHO, 2004).<br />

3.2 Pontos fortes das mPEs<br />

a) maior flexibilidade em relação às grandes empresas<br />

Se por um la<strong>do</strong> existem alguns pontos a serem melhora<strong>do</strong>s,<br />

principalmente na estrutura administrativa das MPEs, por outro<br />

existem características que as permitem obter maior flexibilidade<br />

em relação às grande empresa. Estas características, se<br />

reconhecidas e bem administradas pelos micro e pequenos<br />

empresários podem levá-las ao sucesso empresarial.<br />

Uma característica de extrema importância a ser ressaltada<br />

é a flexibilidade frente às grandes organizações. Segun<strong>do</strong><br />

Crosta (2000), por serem menores as MPEs permitem a seus<br />

proprietários uma visão mais privilegiada de seu “dia-a-dia” em<br />

função <strong>do</strong> contato mais próximo com cada funcionário e, como<br />

conseqüência, atingi-se uma maior flexibilidade. McAdam (1999)<br />

e Wiklund & Wiklund (1999) e Yusof & Aspinwall (2000) destacam<br />

essa flexibilidade como vantagem na implantação de programas<br />

de melhorias e na conquista de merca<strong>do</strong>s inviáveis às grandes<br />

empresas.<br />

b) Caráter mais empreende<strong>do</strong>r<br />

Se por um la<strong>do</strong> a implantação de um novo negócio ou de<br />

novas idéias em uma empresa já consolidada envolve um<br />

risco, por outro ela é a responsável, na maioria das vezes, pelo<br />

surgimento de melhorias e inovações. Esta é uma característica<br />

marcante de muitas MPEs, que se submetem proporcionalmente<br />

a um risco maior <strong>do</strong> grandes empresas. Os micro e pequenos<br />

30


empresários possuem mais coragem para arriscar e isto, quan<strong>do</strong><br />

acompanha<strong>do</strong> por planejamentos e estu<strong>do</strong>s, pode ser visto com<br />

ponto positivo na busca pela qualidade (SEBRAE, 2005b).<br />

c) Comunicação mais efetiva entre subordina<strong>do</strong> e superior<br />

Este talvez seja um <strong>do</strong>s pontos mais favoráveis das MPEs na<br />

implantação de programas de melhorias. Neste tipo de empresa,<br />

a relação superior-subordina<strong>do</strong> é mais direta e produtiva, fazen<strong>do</strong><br />

com que programas de treinamentos e de reciclagem tenham<br />

maior eficiência. Na relação inversa, ou seja, subordina<strong>do</strong>superior,<br />

os problemas <strong>do</strong> “dia-a-dia” da empresa são relata<strong>do</strong>s<br />

mais facilmente e, como conseqüência, resolvi<strong>do</strong>s com maior<br />

rapidez. Para Yusof & Aspinwall (2000) a comunicação mais<br />

efetiva é decorrente da estrutura hierárquica simples e possibilita<br />

a criação de um fluxo de informação mais eficiente.<br />

Também deve ser destacada a imagem <strong>do</strong> proprietário perante<br />

os seus funcionários. Ao contrário <strong>do</strong> que acontece em uma grande<br />

empresa, onde geralmente os funcionários mal conhecem o <strong>do</strong>no<br />

ou presidente devi<strong>do</strong> a uma estrutura altamente hierarquizada, na<br />

MPE ele se faz presente to<strong>do</strong>s os dias ten<strong>do</strong> sua imagem também<br />

associada a de um administra<strong>do</strong>r. Como os funcionários o vêem<br />

de uma maneira mais próxima, diminuin<strong>do</strong> assim a distância<br />

criada pela hierarquia, os contatos e conversas tornam-se mais<br />

freqüentes (SAVIANI, 1995; WIKLUND & WIKLUND, 1999; YUSOF<br />

& ASPINWALL, 2000, MARTINS, 2000).<br />

d) Contato mais próximo com o cliente<br />

Segun<strong>do</strong> Goldschmidt & Chung (2001) e Kee-Hung<br />

(2002), além da maior flexibilidade e simplicidade da estrutura<br />

hierárquica, as pequenas empresas se fazem mais próximas<br />

<strong>do</strong>s clientes <strong>do</strong> que as grandes organizações. Essa proximidade<br />

se faz presente principalmente na capacidade que a empresa<br />

de pequeno porte possui em estar junto aos clientes e ouvir<br />

suas reais necessidades. Como conseqüência, os produtos ou<br />

serviços por ela comercializa<strong>do</strong>s apresentarão um maior grau de<br />

satisfação.<br />

As características aqui apresentadas talvez não representem a<br />

totalidade das MPEs. Mediante a quantidade e heterogeneidade é<br />

possível encontrar aquelas que já se apresentam bem estruturadas<br />

e começam a colher ou colhem os frutos <strong>do</strong> sucesso há muito<br />

tempo. No entanto, como mostra<strong>do</strong> na introdução deste artigo, a<br />

taxa de mortalidade para MPEs ainda é grande e muitas ainda se<br />

vêem nas situações descritas anteriormente.<br />

4. o confronto entre a literatura e a prática<br />

Uma vez apresentadas as principais características<br />

relacionadas à administração das micro e pequenas empresas<br />

segun<strong>do</strong> a literatura, o presente item confrontará as informações<br />

levantadas com as peculiaridades observadas ao longo da<br />

implantação <strong>do</strong>s programas de melhorias. Ressalta-se deste já<br />

que as características e os benefícios conquista<strong>do</strong>s por cada<br />

empresa por meio da implantação destes programas serão<br />

trata<strong>do</strong>s em outros artigos.<br />

4.1 o confronto entre a literatura e a prática para os<br />

pontos fracos<br />

a) influência das relações de parentesco nas atribuições<br />

de cargos e tarefas: esta deficiência foi observada principalmente<br />

nas empresas que apresentavam inicialmente um estágio de gestão<br />

preliminar. Na empresa 1, por exemplo, tornou-se claro ao longo<br />

da implantação que alguns membros da família não possuíam<br />

qualificação para desenvolver as atividades requeridas por suas<br />

funções, prejudican<strong>do</strong> assim o desempenho da mesma.<br />

Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />

pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />

b) Falta de planejamento estratégico, visão e missão:<br />

esta característica se fez marcante em todas as empresas, pois<br />

mesmo aquelas que apresentavam inicialmente um estágio de<br />

gestão razoável ou bom (empresas 3, 5, 7 e 9) não possuíam<br />

objetivos em longo prazo. Em geral, os objetivos eram traça<strong>do</strong>s<br />

para curtos prazos e não ultrapassavam um horizonte de 6<br />

meses.<br />

c) Confusão entre a pessoa física <strong>do</strong> empresário e a pessoa<br />

jurídica da empresa: tal característica foi observada algumas<br />

vezes nas empresas menos estruturadas, onde os empresários<br />

não mantinham um fluxo de caixa correto e estabeleciam seus<br />

limites de retiradas de maneira informal e desestruturada.<br />

d) reduzida capacidade administrativa: Desde o início da<br />

implantação <strong>do</strong>s programas de melhorias esta característica se<br />

fez marcante, já que se observou que empresários com nível<br />

superior (empresas 3, 4, 5, 7, 8 e 9) apresentavam maior interesse<br />

nas atividades desenvolvidas <strong>do</strong> que aqueles com formação<br />

básica ou média.<br />

e) Falta de conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em que está inserida:<br />

de uma maneira geral as empresas possuíam um conhecimento<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em que estavam inseridas. Entretanto, cabe<br />

ressaltar que apenas as empresas 3, 7, 8 e 9 apresentavam um<br />

bom conhecimento sobre os merca<strong>do</strong>s em que poderiam atuar<br />

e expandir seus negócios. As demais empresas apresentavam<br />

uma visão muito regionalista, impossibilitan<strong>do</strong> o aproveitamento<br />

de oportunidades.<br />

f) relação com os fornece<strong>do</strong>res: esta característica foi<br />

observada apenas nas empresas menos estruturadas, que<br />

apresentavam inicialmente um estágio de gestão preliminar.<br />

g) Setor produtivo: com relação aos treinamentos, apenas<br />

as empresas menos estruturadas os consideravam como custos<br />

e não como investimento. Focan<strong>do</strong>-se a dependência em<br />

relação a funcionários especializa<strong>do</strong>s, ela se fez marcante em<br />

praticamente todas as empresas, destacan<strong>do</strong>-se principalmente<br />

as empresas 3, 4 e 9 que tiveram dificuldades em manter os<br />

padrões de produtividade com a saída de alguns colabora<strong>do</strong>res.<br />

h) Pedi<strong>do</strong>s acima da capacidade produtiva: apesar desta<br />

característica ter si<strong>do</strong> mencionada pela literatura, ela não foi<br />

observada em nenhuma das nove empresas incubadas.<br />

i) Falta de uma política de recursos humanos: com<br />

exceção das empresas 7 e 8 que possuíam uma visão um pouco<br />

mais apurada de fatores relaciona<strong>do</strong>s à gestão de recursos<br />

humanos, os demais empresários inicialmente não viam seus<br />

funcionários como colabora<strong>do</strong>res para o crescimento da<br />

empresa. Esta característica ficou evidenciada principalmente<br />

pela não divulgação de metas e objetivos estratégicos a serem<br />

alcança<strong>do</strong>s pela empresa.<br />

j) Não utilização de recursos computacionais: todas<br />

as empresas nas quais os programas de melhorias foram<br />

implanta<strong>do</strong>s possuíam e utilizavam recursos computacionais.<br />

Destaca-se, entretanto, que estes recursos eram utiliza<strong>do</strong>s<br />

principalmente no contato com o cliente e na divulgação da<br />

empresa. Apenas as empresas 3, 4, 7 e 8 os utilizavam também<br />

na elaboração da relatórios, acompanhamento de indica<strong>do</strong>res de<br />

desempenho, etc.<br />

k) En<strong>do</strong>marketing zero: esta característica vai ao encontro<br />

da falta de uma política de recursos humanos. Como a maioria<br />

<strong>do</strong>s empresários não conseguia visualizar seus funcionários<br />

como colabora<strong>do</strong>res para o crescimento da empresa, acabavam<br />

não divulgan<strong>do</strong> os benefícios conquista<strong>do</strong>s. Tal situação foi<br />

sen<strong>do</strong> reduzida ao longo da implantação <strong>do</strong>s programas de<br />

melhorias.<br />

31


l) Falta de uma visão de melhoria contínua: apesar da<br />

literatura mencionar a falta de melhoria contínua como uma das<br />

principais características administrativas das micro e pequenas<br />

empresas, não foi possível observá-la no início da implantação<br />

como feito para as demais características. Entretanto, após a<br />

implantação das melhorias, somente a empresa 1 estagnou e<br />

não passou a buscar uma evolução em seu desempenho.<br />

4.2 o confronto entre a literatura e a prática para os<br />

pontos fortes<br />

a) maior flexibilidade em relação às grandes empresas:<br />

ao longo da implantação <strong>do</strong>s programas de melhorias foram<br />

observadas situações em todas as empresas aonde a flexibilidade<br />

possibilitou o ganho de pedi<strong>do</strong>s em relação a empresas de maior<br />

porte. Como exemplo, cita-se a empresa 5 que por várias vezes<br />

mu<strong>do</strong>u um pouco sua maneira de trabalhar e prestou serviços a<br />

grandes empresas da região.<br />

b) Caráter mais empreende<strong>do</strong>r: apesar da literatura destacar<br />

esta característica como uma grande vantagem das empresas<br />

de micro e pequeno porte em relação a grandes organizações,<br />

observou-se uma situação inversa nas empresas analisadas.<br />

Em geral, as empresas arriscavam muito pouco e só tomavam<br />

uma decisão quanto possuíam plena confiança de que não<br />

possuiriam prejuízos, mesmo que estivesse perden<strong>do</strong> grandes<br />

oportunidades. Como exemplo destaca-se a empresa 5 e 8, que<br />

demoraram a contratar novos funcionários, mesmo com uma<br />

demanda acima <strong>do</strong> que podiam atender.<br />

c) Comunicação mais efetiva entre subordina<strong>do</strong> e superior:<br />

esta característica foi observada em todas as empresas e ficou<br />

evidente que a comunicação mais próxima entre subordina<strong>do</strong> e<br />

superior auxilia em muito a conquista de benefícios em programas<br />

de melhorias.<br />

d) Contato mais próximo com o cliente: o contato mais<br />

próximo com o cliente vai ao encontro das características<br />

associadas a maior flexibilidade por parte das micro e pequenas<br />

empresas. Em geral todas as empresas ouviam seus clientes e<br />

produziam aquilo que eles realmente desejavam.<br />

5. Conclusões<br />

Ao longo de um ano, os autores deste artigo implantaram<br />

programas de melhorias em nove empresas incubadas no<br />

Núcleo de Desenvolvimento Empresarial de Jundiaí e observaram<br />

peculiaridades em relação à administração das empresas de micro<br />

e pequeno porte. Tais peculiaridades foram confrontadas com as<br />

mencionadas na literatura e observou-se que apenas duas delas<br />

não foram notadas na prática (pedi<strong>do</strong>s acima da capacidade<br />

produtiva e falta de uma visão de melhoria contínua). Salientase<br />

ainda que apenas a característica relacionada ao caráter<br />

empreende<strong>do</strong>r apresentou uma correlação inversa à mencionada<br />

na literatura, já que as empresas analisadas preferiam minimizar<br />

os prejuízos mesmo que para isto estivesse perden<strong>do</strong> grandes<br />

oportunidades de negócios e os indica<strong>do</strong>res de desempenho<br />

apontassem viabilidade para tal.<br />

Destaca-se por fim que os programas de melhorias<br />

implanta<strong>do</strong> nas nove empresas procuraram trabalhar sobre as<br />

características apresentadas neste artigo, reduzin<strong>do</strong> os pontos<br />

fracos e aperfeiçoan<strong>do</strong> aquilo que as empresas já possuíam de<br />

bom. Ao final da implantação todas as empresas evoluíram em<br />

relação ao estágio de gestão inicial que possuíam. Os resulta<strong>do</strong>s<br />

deste programa serão apresenta<strong>do</strong>s em outros artigos. Para<br />

maiores detalhes entre em contato com os autores deste artigo.<br />

Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />

pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

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32


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Acesso em: 19 de maio de 2005.<br />

Administração de micro e pequenas empresas: confronto entre as peculiaridades apresentadas<br />

pela literatura e observadas na prática ao longo da implantação de programas de melhorias.<br />

NoTAS<br />

1- Rosley Anholon, DSc.<br />

Professor <strong>do</strong> Departamento de Administração<br />

Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas<br />

Departamento de Administração e Contabilidade<br />

e-mail: rosley.anholon@gmail.com<br />

2- Jefferson de Souza Pinto, MSc.<br />

Professor da Faculdade Brasília de São Paulo<br />

Professor <strong>do</strong> Departamento de Administração<br />

Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas<br />

Departamento de Administração e Contabilidade<br />

e-mail: jeffsouzap@uol.com.br<br />

33


ESumo<br />

Neste estu<strong>do</strong> apresenta-se um estu<strong>do</strong> de controle de braço<br />

robótico, em tempo real, por meio de computação paralela<br />

utilizan<strong>do</strong>-se um conjunto de coman<strong>do</strong>s em pipeline.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Aplicação de computação paralela<br />

para um sistema robótico.<br />

Algoritmo, arquitetura de computa<strong>do</strong>res, processamento<br />

paralelo, computação, sistemas de informação, pipeline.<br />

ABSTrACT<br />

This paper presents a study on control of robotics arm, at<br />

real time, by means of paralell computing using a set of pipeline<br />

instructions.<br />

KEYworDS:<br />

Ms. Ricar<strong>do</strong> Shtisuka 1<br />

Dr. Cao Ji Kan 2<br />

Dorlivete M. Shitsuka 3<br />

Rabbith I.C.M. Shitsuka 4<br />

Caleb D.W.M. Shitsuka 5<br />

Algorithms, computer architecture, paralell processing,<br />

computing, information system, pipeline.<br />

34


introdução<br />

A arquitetura de computa<strong>do</strong>res estuda a estrutura e<br />

organização <strong>do</strong> hardware, e se refere ao funcionamento interno<br />

<strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r, como ele está organiza<strong>do</strong> e arranja<strong>do</strong>. É a parte,<br />

interna não vista pelo usuário de computa<strong>do</strong>res [WIKEPEDIA,<br />

2006]. Dentro <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da arquitetura computacional incluí-se o<br />

estu<strong>do</strong> da computação paralela ou processamento paralelo.<br />

Na computação paralela, um computa<strong>do</strong>r executa mais<br />

de uma operação sincronizadamente ou então existem vários<br />

computa<strong>do</strong>res fazem as tarefas em conjunto.<br />

A finalidade desse processamento paralelo é fazer com que<br />

um software funcione mais rapidamente pelo fato de utilizar-se<br />

de vários processa<strong>do</strong>res simultaneamente.<br />

Uma das aplicações típicas para o aumento de velocidade<br />

de processamento cria<strong>do</strong> pelo processamento paralelo pode ser<br />

a aplicação na robótica: os movimentos de um robô demandam<br />

muitos cálculos de conversão de sistemas cartesianos para<br />

sistemas de coordenadas polares inerentes ao processo de<br />

funcionamento <strong>do</strong> mesmo, e por outro la<strong>do</strong>, deseja-se que o<br />

movimento de um braço robótico seja o mais rápi<strong>do</strong> possível.<br />

Supercomputa<strong>do</strong>res são máquinas que realizam cálculos<br />

a velocidades fantásticas, muito elevadas. Este é o caso <strong>do</strong><br />

supercomputa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> LSI (Laboratório de Sistemas Integráveis)<br />

da POLI-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).<br />

Este foi cria<strong>do</strong> em parceria com a empresa Itautec e com a FINEP<br />

(Financia<strong>do</strong>ra de Estu<strong>do</strong>s e Projetos). O laboratório desenvolveu<br />

o InfoCluster, um supercomputa<strong>do</strong>r capaz de processar até 16<br />

bilhões de da<strong>do</strong>s por segun<strong>do</strong> (UNIVERSIA, 2006).<br />

O processo de paralelismo, isto é, fazer-se com que vários<br />

processa<strong>do</strong>res trabalhem simultaneamente, é realiza<strong>do</strong> por<br />

meio de um algoritmo de paralelismo e este, se corretamente<br />

realiza<strong>do</strong>, pode trazer a vantagem da rapidez em relação ao<br />

processamento seqüencial <strong>do</strong> conjunto de cálculos necessários<br />

para a conversão <strong>do</strong> sistema de coordenadas para se realizar o<br />

movimento <strong>do</strong> conjunto robótico.<br />

Um <strong>do</strong>s objetivos precípuos num sistema de tempo real é que<br />

este deve corresponder ao <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> problema (mun<strong>do</strong> real)<br />

e na escala de tempo deste mun<strong>do</strong> real. Com este objetivo em<br />

mente, pode-se utilizar uma das várias técnicas de paralelismo<br />

em problemas seqüenciais autônomos com a finalidade de se<br />

atingir um alto desempenho no sistema.<br />

Neste artigo, apresenta-se uma aplicação de processamento<br />

paralelo em tempo real e uma implementação de algoritmo<br />

utilizan<strong>do</strong> a técnica de pipeline de paralelismo (STADLER, 1995).<br />

Computação paralela<br />

A arquitetura computacional consiste no uso de<br />

microprocessa<strong>do</strong>res independentes interliga<strong>do</strong>s por meio de<br />

uma memória comum entre os mesmos. A Figura 1 apresenta o<br />

esquema de paralelismo.<br />

Processa<strong>do</strong>r A<br />

Processa<strong>do</strong>r B<br />

Processa<strong>do</strong>r C<br />

Cache<br />

Cache<br />

Cache<br />

Figura 1 – Arquitetura para multiprocessa<strong>do</strong>res com<br />

memória compartilhada. (SHITSUKA, 2005)<br />

Memória<br />

compartilhada<br />

<strong>Di</strong>spositivos<br />

de E/S<br />

Aplicação de computação paralela<br />

para um sistema robótico.<br />

O software Single Program Multiple Data (SPMD) é um<br />

modelo de paralelização de trabalho assíncrono. Ele significa:<br />

“rodan<strong>do</strong> o mesmo programa com da<strong>do</strong>s diferentes”. Trata-se<br />

de um programa <strong>completo</strong> que, ao processar da<strong>do</strong>s separa<strong>do</strong>s<br />

pode gerar desvios diferentes, produzin<strong>do</strong>, desta forma, um<br />

paralelismo assíncrono.<br />

Os vários processa<strong>do</strong>res, <strong>do</strong> sistema com paralelismo,<br />

executam o mesmo programa, porém realizan<strong>do</strong> coisas diferentes<br />

em cada passo. Desse mo<strong>do</strong>, executan<strong>do</strong> instruções diferentes<br />

de um mesmo software.<br />

Controle de braços robóticos por meio de computação<br />

paralela.<br />

Nos sistemas de controle de manipula<strong>do</strong>res existem vários<br />

requisitos relaciona<strong>do</strong>s à performance ou desempenho, sen<strong>do</strong> o<br />

principal o tempo de resposta <strong>do</strong> sistema.<br />

O movimento de um manipula<strong>do</strong>r, geralmente é calcula<strong>do</strong><br />

antecipadamente por meio d algoritmo que determina a trajetória<br />

<strong>do</strong> braço mecânico. Desta forma o caminho a ser percorri<strong>do</strong> pelo<br />

braço mecânico obedecerá determinada orientação espacial.<br />

Uma posição atual é fornecida ao sistema por meio de<br />

sensores, os quais informam a referência necessária aos<br />

movimentos seguintes a serem realiza<strong>do</strong>s pelos atua<strong>do</strong>res deste<br />

dispositivo robótico. A Figura 2 apresenta o ciclo realiza<strong>do</strong> pelo<br />

sistema robótico menciona<strong>do</strong>.<br />

Informação<br />

espacial<br />

O ciclo de sistema robótico começa na coleta de da<strong>do</strong>s pelos<br />

sensores. Estes enviam sinais digitais para o sistema de controle<br />

digital onde é executa<strong>do</strong> o algoritmo de paralelismo. Este ciclo<br />

se completa com a resposta <strong>do</strong>s atua<strong>do</strong>res sobre o ambiente<br />

externo. O ciclo deve ser executa<strong>do</strong> em menos de 10ms de<br />

tempo, para que o sistema robótico apresente um desempenho<br />

aceitável.<br />

A resposta <strong>do</strong>s atua<strong>do</strong>res deve ser a mais rápida possível e,<br />

por este motivo, o sistema de controle deve realizar os cálculos<br />

de mo<strong>do</strong> o mais imediato possível.<br />

Existem diversos algoritmos de paralelismo os quais podem<br />

ser integra<strong>do</strong>s a fim de obter alto desempenho no sistema de<br />

controle. A seguir descreve-se um algoritmo que utiliza a técnica<br />

pipeline.<br />

Sistemas robóticos<br />

Ambiente externo<br />

Sensores Atua<strong>do</strong>res<br />

Posicionamento Sistema de<br />

controle digital<br />

Manipulação<br />

Figura 2 – Ciclo de sistema robótico (SHITSUKA, 2005).<br />

Movimento <strong>do</strong><br />

manipula<strong>do</strong>r<br />

Atualmente, os sistemas robóticos são dividi<strong>do</strong>s em 3<br />

(três) componentes principais: sensores, sistema de controle e<br />

atua<strong>do</strong>res.<br />

Sensores são componentes que coletam da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> braço<br />

mecânico em relação ao ambiente externo.<br />

35


O sistema de controle utiliza processa<strong>do</strong>res associa<strong>do</strong>s<br />

a algoritmos de paralelismo, e usa da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pelos<br />

sensores, para calcular os movimentos <strong>do</strong>s atua<strong>do</strong>res. Estes<br />

últimos recebem a informação <strong>do</strong> sistema de controle e executam<br />

os movimentos com o objetivo de realizar alguma atividade que<br />

se deseja que os braços robóticos realizem.<br />

Na Figura 3 pode-se observar um manipula<strong>do</strong>r com 2 (duas)<br />

articulações<br />

Figura 3 – Manipula<strong>do</strong>r com duas articulações<br />

O caminho que o manipula<strong>do</strong>r ou braço mecânico<br />

automatiza<strong>do</strong> tem que percorrer no espaço é especifica<strong>do</strong> por<br />

meio de coordenadas cartesianas. Por outro la<strong>do</strong>, os atua<strong>do</strong>res,<br />

geralmente, funcionam por meio da velocidade angular ou <strong>do</strong><br />

deslocamento. Desta diferença de sistema de trabalho, surge a<br />

necessidade da conversão <strong>do</strong> sistema de coordenadas.<br />

O cálculo de conversão deve ser realiza<strong>do</strong> no menor tempo<br />

possível para que não ocorra atraso nos movimentos.<br />

As equações de conversão de sistema são as seguintes:<br />

COS 2 =<br />

Esta equação pode ser reescrita, fican<strong>do</strong>:<br />

2 = arccos<br />

X + Y – I1 2 – I2 2<br />

2I1I2<br />

X + Y – I1 2 – I2 2<br />

2I1I2<br />

X I2 . sin 2<br />

1 = arctang –<br />

Y I1 + I2 . cos 2<br />

(equação original,<br />

que será des<strong>do</strong>brada)<br />

(primeira equação)<br />

(segunda equação)<br />

I1 e I2 são os comprimentos de cada braço e as coordenadas<br />

cartesianas X e Y são transformadas nos ãngulos 1 e 2<br />

respectivamente.<br />

A Figura 4 ilustra um esquema <strong>do</strong>s eixos e ângulos<br />

respectivos.<br />

Y<br />

I1<br />

Algoritmo computacional de pipeline<br />

A execução de uma tarefa pode ser dividida em vários<br />

estágios ou unidades, cada um <strong>do</strong>s mesmos sen<strong>do</strong> executa<strong>do</strong><br />

de forma independente.<br />

Consideran<strong>do</strong> uma tarefa com 5 estágios e que cada unidade<br />

gaste n ns de tempo, então uma determinada tarefa consumirá<br />

5n ns de tempo para ser realizada por um processa<strong>do</strong>r.<br />

Caso, se utilizem 5 processa<strong>do</strong>res, e estes forem manti<strong>do</strong>s<br />

ocupa<strong>do</strong>s, então é possível se completar a tarefa a cada n ns.<br />

O algoritmo computacional de pipeline realiza a divisão<br />

de uma tarefa em fases. As fases podem ser executadas<br />

simultaneamente e em paralelo. Cada uma delas utilizan<strong>do</strong><br />

da<strong>do</strong>s distintos das outras. Desse mo<strong>do</strong>, uma tarefa pode ser<br />

dividida em fases, por exemplo 5 fases, de mo<strong>do</strong> a executar<br />

cinco processos paralelamente.<br />

Uma das vantagens <strong>do</strong> algoritmo de paralelismo, como já se<br />

mencionou anteriormente, esta na execução paralela das fases<br />

da tarefa. Esta diminui o tempo <strong>do</strong>s cálculos de conversão de<br />

sistemas de coordenadas: os cálculos das equações <strong>do</strong> item<br />

anterior, SiSTEmAS roBÓTiCoS, representam duas fases de<br />

pipeline, ou processamento paralelo.<br />

Os cálculos da segunda equação dependem <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s cálculos da primeira equação. Este fato caracteriza a<br />

dependência de da<strong>do</strong>s de uma em relação à outra, fato que é<br />

comum nas seqüências de coman<strong>do</strong>s das fases <strong>do</strong> pipeline.<br />

memórias<br />

Ângulo 1<br />

Ângulo 2<br />

Aplicação de computação paralela<br />

para um sistema robótico.<br />

Figura 4 – Sistema de coordenadas cartezianas X e Y, e polares com<br />

1 e 2.<br />

Nos computa<strong>do</strong>res que possuem uma arquitetura com<br />

hierarquia de memória como ocorre nos sistemas com<br />

multiprocessa<strong>do</strong>res trabalhan<strong>do</strong> com de memória compartilhada<br />

e memória local, ou então, em sistemas de aglomera<strong>do</strong>s de<br />

multiprocessa<strong>do</strong>res em conjunto com memória compartilhadas<br />

e memória local em cada aglomera<strong>do</strong>, e uma memória<br />

compartilhada global, a exploração da localidade da memória<br />

é um fato importante para se obter um bom desempenho no<br />

quesito de velocidade de processamento.<br />

Linguagem de programação para sistemas de<br />

processamento paralelo<br />

Nos computa<strong>do</strong>res que possuem uma arquitetura com<br />

hierarquia de memória, como ocorre nos sistemas com<br />

multiprocessa<strong>do</strong>res com memória local compartilhada, ou em<br />

sistemas de aglomera<strong>do</strong>s de multiprocessa<strong>do</strong>res com memória<br />

compartilhada local em cada aglomera<strong>do</strong> e uma memória<br />

compartilhada global, a exploração da localidade da memória<br />

I2<br />

X<br />

36


é um fato importante para se obter um bom desempenho de<br />

velocidade de processamento.<br />

A linguagem de programação Cpar foi originada a partir da<br />

linguagem C sen<strong>do</strong> que foram acrescentadas extensões para<br />

expressar o paralelismo. Ela foi criada como o objetivo de<br />

oferecer construções simples para a exploração <strong>do</strong> paralelismo<br />

em múltiplos níveis. Também permite que se otimize o uso da<br />

memória local comum aos processa<strong>do</strong>res. Nela, os blocos<br />

conten<strong>do</strong> elementos que devem ser executa<strong>do</strong>s seqüencialmente,<br />

podem ser executa<strong>do</strong>s simultaneamente. Cada elemento de um<br />

bloco pode gerar sub-blocos, e dessa forma, cria-se sub-níveis<br />

de paralelismo.<br />

O modelo de programação a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> na linguagem Cpar oferece<br />

a paralelização da função Main( ) em múltiplos níveis por meio<br />

<strong>do</strong>s blocos paralelos.<br />

resulta<strong>do</strong>s<br />

Afim de se obter os pontos de referência <strong>do</strong> caminho ou<br />

trajetória a ser simulada pelo braço robótico, criou-se um software<br />

para realizar a especificação <strong>do</strong>s pontos cartesianos.<br />

Realizou-se a execução seqüencial <strong>do</strong> cálculo de controle de<br />

execução <strong>do</strong> algoritmo de pipeline.<br />

A Tabela 1 seguinte apresenta os resulta<strong>do</strong>s de tempo obti<strong>do</strong>s<br />

nos cálculos.<br />

ordem<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

Tabela 1 – Comparação de tempos de execução:<br />

paralelo e seqüencial.<br />

Númro de<br />

pontos<br />

20000<br />

40000<br />

60000<br />

80000<br />

100000<br />

120000<br />

140000<br />

160000<br />

180000<br />

200000<br />

Tempo<br />

seqüencial<br />

113861<br />

221674<br />

336987<br />

443850<br />

555770<br />

665387<br />

778947<br />

887720<br />

1018933<br />

1107124<br />

Tempo<br />

paralelo<br />

84630<br />

160985<br />

237420<br />

312130<br />

389224<br />

465888<br />

544273<br />

617889<br />

693710<br />

770606<br />

A comparação de tempos mostrou-se favorável para a<br />

computação paralela e o tempo obti<strong>do</strong> nesta não foi a metade <strong>do</strong><br />

tempo em relação à computação seqüencial devi<strong>do</strong> ao overhead<br />

de sincronização entre as fases <strong>do</strong> pipeline. Este overhead foi<br />

significativo, pois a granularidade presente em cada fase é<br />

pequena.<br />

O algoritmo pode ser melhora<strong>do</strong> aplican<strong>do</strong>-se ao mesmo,<br />

outras técnicas de programação paralela simultaneamente,<br />

como é o caso <strong>do</strong> uso de laços paralelos na fase 1.<br />

Observou-se que o pipeline não diminui o tempo de resposta<br />

de cada da<strong>do</strong> que entra no sistema de controle, entretanto, o<br />

algoritmo possibilita uma maior entrada de da<strong>do</strong>s.<br />

Conclusões<br />

Realizou-se um estu<strong>do</strong> de aplicação de computação paralela<br />

em sistema robótico.<br />

A linguagem Cpar foi utilizada com sucesso na implementação<br />

de algoritmo pipeline para controle de braço robótico.<br />

A comparação de tempos mostrou-se favorável para a<br />

computação paralela.<br />

Há a possibilidade de se melhorar o algoritmo de paralelismo,<br />

o que pode ser realiza<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s futuros.<br />

O algoritmo pipeline não diminui o tempo de resposta de cada<br />

da<strong>do</strong> que entra no sistema de controle, entretanto, o algoritmo<br />

possibilita uma maior entrada de da<strong>do</strong>s.<br />

Também, concluiu-se que o algoritmo não diminui o tempo<br />

de resposta de cada da<strong>do</strong> que entra no sistema de controle,<br />

entretanto, o algoritmo possibilita uma maior entrada de da<strong>do</strong>s.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

FRIEDMAN, A. <strong>Di</strong>cionário de informática. São Paulo: Makron<br />

1995.<br />

JAJA, J. An introduction to parallel algorithms. USA: University<br />

of Marylland, 1992.<br />

KYU, K.; LEWIS, T.G.; ELREWINI, H. Introduction to parallel<br />

computing. New York: Prentice-Hall, 1992.<br />

NOMYAMA, D.H. ; ZORZO, S.D.; AKAMATU, D.M. Computação<br />

concorrente: conceitos e linguagens de programação. São<br />

Carlos, 1998.<br />

SHITSUKA, Ricar<strong>do</strong>, et al. Sistemas de informação: um<br />

enfoque computacional. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2005.<br />

STADLER, W. Analytical robotics mas mechatronics, USA,<br />

1995.<br />

UNIVERSIA. Website <strong>Di</strong>sponível em: http://www.universia.com.<br />

br/html/materia/materia_jib.html Consulta<strong>do</strong> em 19 jun 2006.<br />

WIKIPEDIA. Website <strong>Di</strong>sponível em: http://pt.wikipedia.org/<br />

wiki/Arquitetura_de_computa<strong>do</strong>res Consulta<strong>do</strong> em 19 jun. 2006.<br />

NoTAS<br />

1- Professor Ms. da Faculdade Montessori, Mestre em Engenharia,<br />

Especialista em Sistemas de Informação;<br />

2- Doutor em Engenharia da Computação pela EPUSP, Mestre em<br />

Computação pelo IME-USP;<br />

3- Professora Especialista “Lato senu” em Sists. de Informação pela<br />

Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Especialista “Lato sensu” em<br />

Informática em Educação pela UFLA.<br />

4- Analista de Sistemas.<br />

5- Analista de Sistemas.<br />

Aplicação de computação paralela<br />

para um sistema robótico.<br />

37


ESumo<br />

Sistema de atendimento à saúde.<br />

Este artigo tem como objetivo apresentar o projeto para<br />

desenvolvimento de um Sistema de Atendimento à Saúde<br />

(SAS).<br />

A idéia de criar este sistema surgiu devi<strong>do</strong> às dificuldades<br />

diárias de to<strong>do</strong>s aqueles que trabalham na área da saúde, tais<br />

como registrar as informações sobre a saúde <strong>do</strong>s pacientes<br />

(histórico).<br />

O Serviço de Atendimento à Saúde (SAS) tem como<br />

proposta melhorar a deficiência encontrada na organização <strong>do</strong><br />

armazenamento das informações de saúde, com a promessa de<br />

não só substituir o prontuário em papel, mas também elevar a<br />

qualidade da assistência à saúde através de novos recursos e<br />

aplicações que visam agilizar os processos de atendimento.<br />

Para o alcance <strong>do</strong>s objetivos foi utiliza<strong>do</strong> a modelagem<br />

orientada a objetos com UML (Unified Modeling Language) e<br />

<strong>do</strong>cumentada na ferramenta Microsoft Visio 2005.<br />

O sistema desenvolvi<strong>do</strong> pode ser utiliza<strong>do</strong> em “hardware” de<br />

pequeno porte, trabalhan<strong>do</strong> em rede e com acesso a internet.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

<strong>Di</strong>ficuldades, Atendimento, Sistema Eletrônico.<br />

ABSTrACT<br />

Autores:<br />

Claudinei Rodrigues <strong>do</strong> Carmo 1<br />

Elias Alves <strong>do</strong>s Santos 2<br />

Marcelo Branco 3<br />

Marisa Irene Emidio 4<br />

Valdecir Pereira Coelho 5<br />

orientação:<br />

Profª Msc Josyane Lannes Florenzano de Souza 6<br />

This article has as objective presents the project for<br />

development of a system of service the health. The idea of<br />

creating this system appeared, due the daily difficulties of all<br />

those that work in the area of the health, such as registering the<br />

information about the patients’ health (historical).<br />

The Service System the health (SAS), he/she has as<br />

proposal to improve the deficiency found in the organization of<br />

the storage of the information of health, as the promise of not<br />

only to substitute the handbook in paper, but also to elevate the<br />

quality of the attendance to the health through new resources<br />

and applications that seek to activate the service processes. For<br />

the reach of the objectives the modelling was used guided to<br />

objects with UML (Unified modeling language) and <strong>do</strong>cumented<br />

in the tool Microsoft Visio 2005. The developed system can be<br />

used in hardware of small load, working in net and with access<br />

the internet.<br />

KEYworDS:<br />

<strong>Di</strong>fficulties, Attendance, Electronic System.<br />

38


1. introdução<br />

Os profissionais da área da saúde perdem muito tempo<br />

no preenchimento e no registro das informações de saúde e<br />

de <strong>do</strong>ença <strong>do</strong>s pacientes. Procuran<strong>do</strong> maneiras de agilizar o<br />

processo de preenchimento dessas informações no seu cotidiano,<br />

foi desenvolvi<strong>do</strong> pelo grupo de alunos <strong>do</strong> 4º ano de Sistemas de<br />

Informação o Sistema de Atendimento à Saúde (SAS) devi<strong>do</strong> às<br />

dificuldades de preenchimento <strong>do</strong> Prontuário Médico de papel<br />

que muitas vezes são ilegíveis.<br />

Com o uso <strong>do</strong> sistema informatiza<strong>do</strong>, caso o preenchimento<br />

de uma informação seja feita incorretamente, é mais fácil de<br />

corrigir, já com o prontuário de papel a correção gera uma rasura<br />

e a perda <strong>do</strong> prontuário.<br />

O sistema em papel apresenta diversas limitações, tanto<br />

práticas como lógicas, sen<strong>do</strong> ineficiente para o armazenamento<br />

e organização de grande número de da<strong>do</strong>s de tipos diferentes,<br />

apresentan<strong>do</strong> diversas desvantagens em relação ao prontuário<br />

eletrônico.<br />

As informações contidas no prontuário eletrônico podem<br />

estar armazenadas somente num único lugar. Enquanto que o<br />

prontuário de papel pode haver perdas freqüente da informação,<br />

multiplicidade de pastas, dificuldade de pesquisa coletiva, falta<br />

de padronização, dificuldade de acesso.<br />

2. Problema de Pesquisa e objetivo<br />

Através de pesquisa em algumas clínicas de pequeno porte,<br />

em regiões da cidade de São Paulo, foram detectadas que muitas<br />

delas têm dificuldades em registrar e armazenar as informações<br />

<strong>do</strong>s pacientes utilizan<strong>do</strong> fichas cadastrais em papel, sen<strong>do</strong><br />

esses <strong>do</strong>cumentos guarda<strong>do</strong>s em grandes armários ou arquivos<br />

causan<strong>do</strong> transtornos diversos no momento de consultar uma<br />

determinada informação. Ten<strong>do</strong> como objetivo de sanar estes<br />

problemas encontra<strong>do</strong>s, foi sugeri<strong>do</strong> a criação de um Sistema de<br />

Informação Gerencial (SIG), visan<strong>do</strong> agilizar e facilitar o processo<br />

de gerenciamento destas unidades.<br />

3. revisão Bibliográfica<br />

3.1 Sistemas de informação<br />

O Sistema de Informação, segun<strong>do</strong> Stair, (2002 [1]), é um<br />

conjunto de componentes inter-relaciona<strong>do</strong>s que coletam,<br />

manipulam e disseminam da<strong>do</strong>s e informação, proporcionan<strong>do</strong><br />

um mecanismo de ‘feedback” para atender a um objetivo.<br />

To<strong>do</strong>s interagem diariamente com sistemas de informação,<br />

tanto particularmente como profissionalmente. Um sistema<br />

de informação melhora as comunicações e, como resulta<strong>do</strong>,<br />

melhora o atendimento ao consumi<strong>do</strong>r.<br />

Os Sistemas de Informação poderão contribuir<br />

significativamente para a solução de muitos problemas<br />

empresariais. Assim, o esforço das empresas deve-se concentrar<br />

nos níveis superiores <strong>do</strong>s Sistemas de Informação Empresarias,<br />

ou seja, Sistemas de Informação Estratégico e de Gestão.<br />

Um Sistema de Informação Gerencial (SIG) é o processo<br />

de transformação de da<strong>do</strong>s em informações. E, quan<strong>do</strong> esse<br />

processo está volta<strong>do</strong> para geração de informações. Elas são<br />

necessárias e utilizadas no processo decisório da empresa.<br />

3.2 orientação a objeto<br />

A Orientação a Objeto (OO), segun<strong>do</strong> Pressman, (2003<br />

[5]), são objetos que podem ser categoriza<strong>do</strong>s, descritos,<br />

Sistema de atendimento à saúde.<br />

combina<strong>do</strong>s, modifica<strong>do</strong>s, e cria<strong>do</strong>s. Portanto, não é surpresa<br />

que uma Orientação Objeto deve ser exibida com o propósito<br />

para criação de “software” para computa<strong>do</strong>r, uma abstração que<br />

modela o mun<strong>do</strong> em um méto<strong>do</strong> que nos ajuda como entender<br />

melhor e navegar nele. Uma Orientação a Objetos aproxima o<br />

desenvolve<strong>do</strong>r de “software” foi primeiro proposto no fim de<br />

1960. Como isto leva quase 20 anos para a tecnologia de objetos<br />

virem a ser consideravelmente usada. Durante mea<strong>do</strong>s de 1990<br />

a Orientação Objetos e a engenharia de “software” tornam-se<br />

um paradigma de escolha por muitas construções de produtos<br />

de “softwares” e um crescimento nos sistemas de informação e<br />

engenheiros profissionais. Com o passar <strong>do</strong> tempo, tecnologias de<br />

objetos estão substituin<strong>do</strong> formas clássicas de desenvolvimento<br />

de “software”. Uma questão importante é “Por quê?”.<br />

A resposta (como muitas respostas sobre engenharia de<br />

“software”) não é simples. Algumas pessoas podem afirmar<br />

que profissionais de “software” simplesmente foram atraí<strong>do</strong>s<br />

por uma “nova abordagem”, mas essa é uma visão simplista.<br />

Tecnologias de objetos levam a um grande número de benefícios<br />

que proporciona vantagens tanto a nível técnico como de<br />

gerenciamento. Tecnologias de objetos levam ao reuso, e, o<br />

reuso (de correntes de programas) leva a um desenvolvimento<br />

de “software” mais rápi<strong>do</strong> e a programas com maior qualidade.<br />

“Softwares” Orienta<strong>do</strong>s a Objetos são mais fáceis de manter,<br />

pois sua estrutura é naturalmente independente.<br />

3.3 umL<br />

A Unifield Modeling Language (UML), segun<strong>do</strong> Booch, (2000<br />

[3]), é uma linguagem-padrão para a elaboração de estrutura de<br />

projetos de “software”. A UML poderá ser empregada para a<br />

visualização, a especificações, a construção e a <strong>do</strong>cumentação<br />

de artefatos que façam uso de sistemas complexos de<br />

“software”. Também é adequada para a modelagem de sistemas,<br />

cuja abrangência poderá incluir sistemas de informação<br />

corporativos a serem distribuí<strong>do</strong>s a aplicações baseadas em<br />

Web e até sistemas complexos embuti<strong>do</strong>s de tempo real. É<br />

uma linguagem muito expressiva, abrangen<strong>do</strong> todas as visões<br />

necessárias ao desenvolvimento e implantação desses sistemas.<br />

Apesar de sua expressividade, não é difícil compreender e usar<br />

a UML. Portanto, é somente uma parte de um méto<strong>do</strong> para<br />

desenvolvimento de software. É independente <strong>do</strong> processo,<br />

apesar de ser perfeitamente utilizada em processo orienta<strong>do</strong> a<br />

casos de usos, centra<strong>do</strong> na arquitetura, iterativo e incremental.<br />

Destina principalmente a sistemas complexos de software.<br />

Tem si<strong>do</strong> empregada de maneira efetiva em <strong>do</strong>mínios como os<br />

seguintes:<br />

• Sistemas de Informações corporativos<br />

• Serviços bancários e financeiros<br />

• Telecomunicações<br />

• Transportes<br />

• Defesa/espaço aéreo<br />

• Vendas de varejo<br />

• Eletrônica médica<br />

• Científicos<br />

• Serviços distribuí<strong>do</strong>s basea<strong>do</strong>s na Web<br />

A UML não está restrita à modelagem de software. Na<br />

verdade, é suficientemente expressiva para modelar sistemas<br />

que não sejam de “software”, como fluxo de trabalho no sistema<br />

legal, a estrutura e o comportamento de sistemas de saúde e o<br />

projeto de “hardware”.<br />

39


4. Estu<strong>do</strong> de Caso: Sistema de Atendimento a Saúde<br />

O projeto <strong>do</strong> Sistema de Atendimento à Saúde (SAS) surgiu<br />

devi<strong>do</strong> às necessidades <strong>do</strong>s profissionais da área da saúde em<br />

realizar o preenchimento das informações <strong>do</strong> paciente de forma<br />

ágil e fácil. A idéia <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> grupo de alunos <strong>do</strong> 4º ano<br />

de Sistemas de Informação consiste em um sistema que visa<br />

melhorar o atendimento na área da saúde, e totalmente basea<strong>do</strong><br />

na gestão <strong>do</strong>s processos de funcionamento de entidades como:<br />

hospitais, postos de saúde e clínicas.<br />

A regra de negócios está nos procedimentos, nos quais, a<br />

entidade aplica em seu dia-a-dia, ou seja, seus processos de<br />

atendimento e cadastro.<br />

Cada vez mais as pessoas necessitam em buscar e ter to<strong>do</strong><br />

o conforto que o mun<strong>do</strong> da tecnologia pode oferecer no que diz<br />

respeito à utilização <strong>do</strong>s recursos disponíveis na Web.<br />

O uso da informática como forma de organizar e armazenar<br />

a informação contida no prontuário em papel enfatiza que<br />

o Sistema de Atendimento a Saúde (SAS) também poderá<br />

implementar outros recursos de acor<strong>do</strong> a necessidade. O<br />

registro computa<strong>do</strong>riza<strong>do</strong> de paciente é um registro eletrônico de<br />

paciente que reside em um sistema especificamente projeta<strong>do</strong><br />

para dar apoio aos usuários através da disponibilidade de da<strong>do</strong>s<br />

<strong>completo</strong>s e correto, lembretes e alertas aos médicos, sistemas<br />

de apoio à decisão, links para bases de conhecimento médico,<br />

e outros auxílios.<br />

Para a construção <strong>do</strong> projeto Sistema de Atendimento a Saúde<br />

(SAS) serão utilizadas algumas ferramentas tais como Microsoft<br />

Visual Studio .Net, que tratará na manipulação de linguagens e<br />

aplicações Win<strong>do</strong>ws e Web totalmente baseada em ferramentas<br />

como o Net Framework 2.0 e Microsoft Office Visio 2003.<br />

4.1 requisitos funcionais<br />

Requisitos Funcionais, segun<strong>do</strong> Rezende (2002 [2]), podem<br />

ser defini<strong>do</strong>s como funções ou atividades que o “software” ou<br />

sistema faz (quan<strong>do</strong> pronto) ou fará (quan<strong>do</strong> em desenvolvimento).<br />

Devem ser elabora<strong>do</strong>s no ínicio de um projeto de sistema ou<br />

“software”.<br />

Os requisitos funcionais são fundamentais para elaborar<br />

um sistema ou “software” que atenda e satisfaça plenamente a<br />

equipe desenvolve<strong>do</strong>ra e os clientes ou usuários. Quan<strong>do</strong> bem<br />

defini<strong>do</strong>s e formalmente relata<strong>do</strong>s evitam a alta manutenção de<br />

sistemas ou “software”.<br />

4.2 requisitos Funcionais <strong>do</strong> SAS<br />

Na tabela abaixo o grupo de alunos <strong>do</strong> 4º ano de Sistemas<br />

de Informação descreve os requisitos funcionais para o projeto<br />

Sistema de Atendimento à Saúde (SAS):<br />

Número<br />

1<br />

2<br />

Ator<br />

Funcionário<br />

Médico<br />

Descrição <strong>do</strong>s atores<br />

Descrição<br />

Representa a pessoa que irá acessar<br />

o sistema para efetivar os seguintes<br />

serviços disponibiliza<strong>do</strong>s:<br />

• Efetuar cadastro<br />

• Enviar Prontuário<br />

• Consultar Cadastro<br />

Corresponde à pessoa que irá acessar<br />

o sistema para consultar e registrar o<br />

histórico <strong>do</strong> paciente:<br />

• Registrar Consulta<br />

• Emitir Relatório<br />

• Emitir Receita<br />

4.3 requisitos não funcionais<br />

Requisitos não funcionais, segun<strong>do</strong> Rezende, (2002 [2]), são<br />

restrições sobre os serviços ou as funções ofereci<strong>do</strong>s pelo sistema.<br />

Entre eles destacam-se restrições de tempo, restrições sobre<br />

o processo de desenvolvimento, padrões, como a capacidade<br />

<strong>do</strong>s dispositivos de E/S (entrada /saída) e as representações de<br />

da<strong>do</strong>s utilizadas nas interfaces de sistema.<br />

Os requisitos não funcionais surgem conforme a necessidade<br />

<strong>do</strong>s usuários, em razão de restrições de orçamento, de políticas<br />

organizacionais, pela necessidade de interoperabilidade com os<br />

outros sistemas de “software” ou “hardware” ou devi<strong>do</strong> a fatores<br />

externos, como por exemplo, regulamentos de segurança e<br />

legislação sobre privacidade.<br />

4.4 requisitos não funcionais <strong>do</strong> SAS<br />

Para atender este requisito o projeto Sistemas de Atendimento<br />

à Saúde oferece:<br />

• Interface gráfica, utilizan<strong>do</strong> recursos de janela, botões e<br />

mouse para a seleção de coman<strong>do</strong>s;<br />

• Interface amigável e fácil de usar;<br />

4.5 modelagem <strong>do</strong> SAS<br />

Sistema de atendimento à saúde.<br />

Antes de se consultar, o paciente precisa fazer um cadastro.<br />

O paciente se dirige à recepção para que o funcionário faça seu<br />

cadastro no SAS. Quan<strong>do</strong> o paciente chega ao hospital para<br />

sua consulta, o funcionário efetua o cadastro <strong>do</strong> paciente e<br />

encaminha para o médico através <strong>do</strong> SAS.<br />

Um diagrama de caso de uso representa uma coleção que<br />

representa a ação <strong>do</strong> ator, permite a representação da relação<br />

existente entre eles e, com isso, especifica ou caracteriza a<br />

funcionalidade e o comportamento de um sistema.<br />

Sua notação está representada na figura 01-<strong>Di</strong>agrama de<br />

Caso de Uso <strong>do</strong> SAS e descreve o que o sistema fará através de<br />

atores e casos de uso.<br />

Na figura 01, o ator funcionário executa as ações, que são<br />

os casos de uso, efetua cadastro, envia prontuário e consultar<br />

cadastro, e, o ator médico registra a consulta, emite relatório e<br />

receita.<br />

Ator<br />

Funcionário<br />

Caso<br />

de uso<br />

Efetuar<br />

cadastro<br />

Enviar<br />

prontuário<br />

Consultar<br />

cadastro<br />

Figura 01 – <strong>Di</strong>agrama de Caso de Uso SAS<br />

Médico<br />

Registrar<br />

consulta<br />

Emitir<br />

relatório<br />

Emitir<br />

receita<br />

O <strong>Di</strong>agrama de Caso de Uso, segun<strong>do</strong> Booch, (2000 [4]), é<br />

uma modelagem de aspectos dinâmicos de sistemas. Têm um<br />

papel central para a modelagem <strong>do</strong> comportamento de um<br />

sistema, de um subsistema ou de uma classe. São importantes<br />

40


para visualizar, especificar e <strong>do</strong>cumentar o comportamento<br />

de um elemento. Esses diagramas fazem com que sistemas,<br />

subsistemas e classes fiquem acessíveis e compreensíveis,<br />

por apresentarem a visão externa sobre como esses elementos<br />

podem ser utiliza<strong>do</strong>s no contexto. Também são importantes para<br />

testar sistemas executáveis por meio de engenharia de produção<br />

e para compreendê-los por meio de engenharia reversa.<br />

Existem outros diagramas da UML que poderão ser utiliza<strong>do</strong>s,<br />

porém neste artigo não foram menciona<strong>do</strong>s. Que são: <strong>Di</strong>agrama<br />

de Componentes, <strong>Di</strong>agrama de Classes, <strong>Di</strong>agrama de Atividades,<br />

<strong>Di</strong>agrama de Seqüência e <strong>Di</strong>agrama de Implantação.<br />

5. Conclusão<br />

O uso da tecnologia é um fator importante, que traz conforto,<br />

comodidade, rapidez e auxilio na execução de qualquer tarefa<br />

<strong>do</strong>s processos das empresas e também na vida das pessoas,<br />

sem duvida tráz benefícios em nosso cotidiano.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

[1] STAIR, Ralph M. REYNOLDS, George W. Princípios de<br />

Sistemas de Informação. São Paulo: Editora Thomson Learning,<br />

2002.<br />

[2] REZENDE, Denis Alcides. Engenharia de Software e<br />

Sistemas de Informação. São Paulo: Editora Brasport, 2002.<br />

[3] TONSIG, Sérgio Luiz. Engenharia de Software - Análise de<br />

Sistemas. São Paulo: Editora Futura, 2000.<br />

[4] BOOCH, Denis Alcides . RUMBAUGH, James. JACOBSON,<br />

Ivar. UML Guia <strong>do</strong> usuário. São Paulo: Editora Campus, 2000.<br />

[5] PRESSMAN, Roger. Software Engineering – a Practitioner’s<br />

Approach. Columbus, OH: Editora McGraw-Hill, 2003.<br />

NoTAS<br />

1- Claudinei Rodrigues <strong>do</strong> Carmo. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre<br />

de Sistemas de Informação. E-mail: Claudinei.carmo@itelefonica.com.br<br />

2- Elias Alves <strong>do</strong>s Santos. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de<br />

Sistemas de Informação. E-mail: alvez@ig.com.br<br />

3- Marcelo Branco. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de Sistemas de<br />

Informação. E-mail: branks@spypost.net<br />

4- Marisa Irene Emidio. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de Sistemas<br />

de Informação. E-mail: marisa.25@terra.com.br<br />

5- Valdecir Pereira Coelho. Estudante da FAMEC <strong>do</strong> 8º Semestre de<br />

Sistemas de Informação. E-mail: val_coelho@ig.com.br<br />

6- Profª Msc Josyane Lannes Florenzano de Souza. Mestre em Ciência<br />

da Computação PUC/RS. E-mail: josyane@terra.com.br<br />

Sistema de atendimento à saúde.<br />

41


ESumo<br />

Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />

Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />

Este artigo partiu da vontade de utilizar tecnologia surgida<br />

em anos recentes no merca<strong>do</strong> tecnológico volta<strong>do</strong> à informática,<br />

o que representou uma inovação da tecnologia, que são os<br />

sistemas OCR (Optical Character Recognition – Reconhecimento<br />

óptico de caracteres), volta<strong>do</strong>s ao reconhecimento de veículo/<br />

placa de veículo a partir de foto <strong>do</strong> mesmo.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

UML, Estacionamento, OCR.<br />

ABSTrACT<br />

This article had come from the will of using a technology<br />

recently arose in the technical market of information technology<br />

that represented an innovation in this field: the OCR technology<br />

(Optical Character Recognition), related to the recognition of a<br />

vehicle or a vehicle plate through a photography.<br />

KEYworDS:<br />

UML, Parking, OCR.<br />

Autores:<br />

João Daniel Forstman 1<br />

Luiz Fernan<strong>do</strong> Mangiopane 2<br />

Marcos Antonio da Silva 3<br />

Paulo César de Oliveira Veras 4<br />

orientação:<br />

Profª Ms. Josyane Lanne Florenzano de Souza 5<br />

42


1. introdução<br />

O reconhecimento automático de placas de veículos tem-se<br />

torna<strong>do</strong> uma aplicação de interesse mundial, face o avanço na<br />

capacidade computacional <strong>do</strong>s microcomputa<strong>do</strong>res e sistemas<br />

embarca<strong>do</strong>s, nas suas potencialidades de emprego e no<br />

enfrentamento <strong>do</strong>s desafios ainda em aberto para a pesquisa.<br />

No Brasil, o reconhecimento automático de placas está restrito<br />

a alguns poucos grupos de pesquisa, geralmente liga<strong>do</strong>s às<br />

maiores universidades <strong>do</strong> país, e a um número ainda menor<br />

de empresas que, em geral, tentam transformar a pesquisa<br />

acadêmica em produto ou representam ou fazem uso de pacotes<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> país.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, nos dedicamos a esse assunto e nos<br />

propusemos a desenvolver um sistema que contenha a tecnologia<br />

OCR (Optical Character Recognition – Reconhecimento Óptico<br />

de Caracteres). Assim, o sistema tem como objetivo oferecer<br />

uma maior rapidez, integridade e segurança na captação <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s veículos que adentrarem no estacionamento.<br />

2. Problema de pesquisa e objetivo<br />

Os sistemas OCR, volta<strong>do</strong>s ao reconhecimento de veículo<br />

e/ou placa de veículo a partir de foto <strong>do</strong> mesmo, ainda é uma<br />

tecnologia nova no merca<strong>do</strong> brasileiro. Desta forma, cremos<br />

que existem potenciais clientes para o produto e esses<br />

possuem níveis diferencia<strong>do</strong>s de informatização, que vão desde<br />

estacionamentos que utilizam “softwares” convencionais para<br />

estacionamentos liga<strong>do</strong>s em rede até clientes que não possuem<br />

nenhum tipo de processo informatiza<strong>do</strong>. Decidiu-se estudar essa<br />

nova tecnologia (OCR) para, não apenas agregar conhecimento a<br />

respeito deste tipo de “software”, como conhecimento adquiri<strong>do</strong>,<br />

mas também desenvolvê-lo com tecnologia OCR, que registraria,<br />

sem intervenção humana, o momento da entrada e saída de um<br />

determina<strong>do</strong> veículo através da captura de sua placa. Cremos<br />

que tal tecnologia aumenta o controle e a agilidade, bem como<br />

inibe possíveis fraudes por parte de funcionários contrata<strong>do</strong>s,<br />

ao lidar com o fluxo de entrada e saída de veículos em<br />

estacionamentos.<br />

Da necessidade de uma meto<strong>do</strong>logia para modelagem, dentre<br />

outras, foi a<strong>do</strong>tada a UML (Unified Modeling Linguage 6 ) que, pela<br />

variedade de diagramas e pela facilidade de uso, acredita-se seja<br />

a que mais produz ganho ao projeto, em senti<strong>do</strong> analítico e em<br />

senti<strong>do</strong> de desenvolvimento.<br />

Concluí<strong>do</strong>s os diagramas e a análises <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

projeto, escolheu-se a plataforma de desenvolvimento C# para<br />

a programação <strong>do</strong> “software”, pelo fato de, além de ser uma<br />

linguagem orientada a objeto, trata-se de uma técnica que, por<br />

ser uma maneira tão instintiva de se entender o mun<strong>do</strong> onde<br />

vivemos, seus conceitos facilitam ao entendimento <strong>do</strong> minimun<strong>do</strong><br />

de um sistema de informática, contribuin<strong>do</strong> também para a<br />

simplificação <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> desenvolve<strong>do</strong>r, e, também, uma<br />

melhor qualidade no desenvolvimento de seus sistemas em um<br />

menor espaço de tempo. Também, como a própria Linguagem<br />

orientada a objeto, é uma ferramenta nova, mas, que tem ti<strong>do</strong><br />

grande aceitação e utilização no merca<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> a facilidade de<br />

uso e o potencial que esta proporciona.<br />

3. revisão bibliográfica<br />

3.1 redes neurais artificiais<br />

Segun<strong>do</strong> Kovács [1], “redes neurais artificiais é frequentemente<br />

como uma subespecialidade da Inteligência Artifical, outras vezes<br />

como uma classe de modelos matemáticos para problemas de<br />

Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />

Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />

classificação e reconhecimento de padrões, outras ainda como<br />

uma parte da teoria coneccionista <strong>do</strong>s processos mentais e<br />

finalmente como uma categoria de modelos em ciência da<br />

congnição...redes neurais artificiais constituem genuinamente<br />

uma teoria para o estu<strong>do</strong> de fenômenos complexos”.<br />

Redes neurais artificiais [2] é um conceito que visa imitar o<br />

cérebro humano na maneira de processar informações. O cérebro<br />

é ti<strong>do</strong> como um processa<strong>do</strong>r altamente complexo e que realiza<br />

processamentos de maneira paralela. Para isso, ele se utiliza<br />

<strong>do</strong>s neurônios, de forma que eles realizem o processamento<br />

necessário. Isso é feito numa velocidade extremamente alta e<br />

não existe qualquer computa<strong>do</strong>r no mun<strong>do</strong> capaz de realizar o<br />

que o cérebro humano faz.<br />

Nas redes neurais artificiais, a idéia é realizar a análise<br />

e processamento de informações de forma similar aos de<br />

neurônios <strong>do</strong> cérebro. Como o cérebro humano é capaz de<br />

aprender e tomar decisões baseadas na aprendizagem, as redes<br />

neurais artificiais devem fazer o mesmo. Assim, uma rede neural<br />

pode ser interpretada como um esquema de processamento<br />

capaz de armazenar conhecimento basea<strong>do</strong> em aprendizagem e<br />

disponibilizar este conhecimento para a aplicação em questão.<br />

3.2 oCr<br />

Segun<strong>do</strong> a enciclopédia livre Wikipedia [3], “OCR é um acrónimo<br />

para o inglês Optical Character Recognition, uma tecnologia para<br />

reconhecer caracteres a partir de um ficheiro de imagem, ou mapa<br />

de bits. Através <strong>do</strong> OCR é possível digitalizar uma folha de texto<br />

impresso e obter um arquivo de texto editável”.<br />

A OCR utiliza de redes neurais, conforme visto anteriormente,<br />

na verificação de padrões gráficos para escaneamento, extração<br />

e conversão em caracteres editáveis.<br />

4. meto<strong>do</strong>logia<br />

Para o projeto, foi realizada uma pesquisa de campo na qual<br />

foram identificadas as características <strong>do</strong>s estacionamentos que<br />

são chama<strong>do</strong>s neste artigo de ‘A’ e ‘B’, ambos da região sul da<br />

cidade de São Paulo.<br />

Uma vez conheci<strong>do</strong> os estacionamentos, identificam-se a<br />

carência de um sistema que agregasse um maior gerenciamento<br />

<strong>do</strong>s processos. A partir deste ponto, foi estudada a melhor forma<br />

de desenvolver uma solução que atendesse essas necessidades.<br />

Escolhemos o desenvolvimento de um sistema que monitorasse<br />

a ação <strong>do</strong>s funcionários, utilizan<strong>do</strong> o OCR como base, para inibir<br />

possíveis fraudes no perío<strong>do</strong> de tempo de um veículo estaciona<strong>do</strong><br />

e também para controlar a contabilização <strong>do</strong> fluxo de caixa.<br />

O sistema terá os seguintes procedimentos:<br />

1. Quan<strong>do</strong> o veículo adentrar ao estacionamento, sua placa<br />

será capturada através de câmera, sen<strong>do</strong> essa manipulada<br />

pelo sistema e retornan<strong>do</strong> a placa em texto e a data e horário<br />

automaticamente. O funcionário será responsável pela entrada<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s restantes (da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> cliente, por exemplo);<br />

2. O sistema captura novamente a placa <strong>do</strong> veículo quan<strong>do</strong><br />

este deixar o estacionamento, calculan<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de sua<br />

estadia.<br />

Para melhor compreensão desse procedimento, veja a figura<br />

em anexo.<br />

Utilizan<strong>do</strong>-se da ferramenta Rational Rose 2002, será possível<br />

desenvolver os gráficos da UML, abstrain<strong>do</strong> os fluxos <strong>do</strong> sistema.<br />

Além disso, o diagrama de Caso de Uso (fig. 02) demonstra as<br />

funcionalidades <strong>do</strong> sistema, bem como o nível de acesso, onde:<br />

43


- O atendente herda to<strong>do</strong>s os atributos <strong>do</strong> funcionário,<br />

assim, tem permissão de se logar (login/logof) no sistema, alterar<br />

cliente, incluir cliente, gerar movimentação de acor<strong>do</strong> com a<br />

disponibilidade de vaga o que causará a impressão <strong>do</strong> recibo ao<br />

cliente e receber o pagamento;<br />

- O gerente, além de herdar os atributos <strong>do</strong> funcionário, tem<br />

como especializações, permissão de incluir, alterar e excluir<br />

marca, modelo cliente funcionário, imprimir relatórios gerenciais<br />

e deletar movimentações (entrada/saída de veículos).<br />

O <strong>Di</strong>agrama de Classes (fig.03) demonstra a interação entre<br />

os objetos, esclarecen<strong>do</strong> que destas surgiram tabelas dentro da<br />

base de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sistema. O relacionamento entre as classes<br />

demonstra sua normalização.<br />

Para desenvolvimento da interface gráfica foi utilizada a<br />

ferramenta Microsoft Visual Studio 2003, utilizan<strong>do</strong> linguagem<br />

C#. Com a captura automática da placa <strong>do</strong> veículo o sistema<br />

exibirá a foto da placa e verificará se existe cadastra<strong>do</strong> um cliente<br />

tipo “mensalista”, caso contrário, o sistema preencherá os da<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> cliente como “cliente avulso” automaticamente. A figura 04<br />

demonstra a tela principal <strong>do</strong> sistema.<br />

6. Anexos e figuras<br />

Entrada <strong>do</strong> veículo<br />

Veículo entra no<br />

estacionamento<br />

A foto é<br />

capturada<br />

A imagem<br />

é convertida<br />

em texto<br />

O funcionário<br />

entra com<br />

os da<strong>do</strong>s<br />

Fig. 01 – Fluxo <strong>do</strong> sistema<br />

Saída <strong>do</strong> veículo<br />

O sistema<br />

captura<br />

a placa<br />

A imagem<br />

é convertida<br />

em texto<br />

O sistema<br />

calcula<br />

o perío<strong>do</strong><br />

5. Conclusões<br />

Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />

Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />

Cremos que, com esta proposta, oferecemos alguma<br />

contribuição à comunidade científica no que se refere ao<br />

processamento de imagem e reconhecimento de caracteres,<br />

bem como com as possibilidades de controle e gerenciamento,<br />

e inovação na forma como se trabalha no ramo de merca<strong>do</strong><br />

menciona<strong>do</strong> nesse artigo.<br />

Com os esforços emprega<strong>do</strong>s até o momento, desenvolveuse<br />

a interface gráfica fig.(4), Banco de da<strong>do</strong>s, processo de entrada<br />

e saída, captura de imagem. Espera-se nos próximos 06 meses,<br />

desenvolver a parte <strong>do</strong> código onde será tratada a imagem.<br />

Isto será realiza<strong>do</strong> por meio da interpretação e comparações<br />

de algoritmos já existentes. Por fim, os esforços serão bem<br />

emprega<strong>do</strong>s diante da expansão profissional e pessoal que to<strong>do</strong><br />

o processo trará.<br />

Embora o sistema de estacionamento apresenta<strong>do</strong> tende<br />

ao sucesso ao trazer diferenciais em relação à grande maioria<br />

<strong>do</strong>s “softwares” de merca<strong>do</strong>, o bom funcionamento <strong>do</strong> sistema<br />

depende das condições da placa <strong>do</strong> veículo; de boa iluminação<br />

no local para captura da imagem da placa; resolução da câmera;<br />

qualidade da placa de captura de vídeo com resolução mínima<br />

de 640x480.<br />

Fig. 02 – <strong>Di</strong>agrama de Caso de Uso <strong>do</strong> sistema de estacionamento. 7<br />

44


Fig. 03 – <strong>Di</strong>agrama de Classe <strong>do</strong> sistema de estacionamento. 8<br />

Fig. 04 – Interface Gráfica <strong>do</strong> sistema de estacionamento.<br />

Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />

Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />

45


BiBLioGrAFiA:<br />

[1] KOVÁCS, Z. L. Redes Neurais Artificiais Fundamentos e<br />

Aplicações. Edição Acadêmica São Paulo: 1996.<br />

[2] ALECRIM, Emerson. Redes Neurais Artificiais, INFO<br />

WESTER, São Paulo 09/05/2004, 15/03/2006. <strong>Di</strong>sponível:<br />

www.infowester.com/redesneurais.php.<br />

[3] Wikipedia, A enciclopédia livre, 29/03/2006. <strong>Di</strong>sponível:<br />

wikipedia.org [captura<strong>do</strong> em 29/03/2006].<br />

[4] Silva, Alexandre Manoel Pereira Alves da/Rocha.<br />

Thayssa Águila da. MODELAGEM DE UMA FERAMENTA CASE,<br />

Universidade Federal de Pernambuco Belém 1998. <strong>Di</strong>sponível:<br />

www.cin.ufpe.br/~tar/trabalhos/graduacao.htm [captura<strong>do</strong> em<br />

15/03/2006].<br />

SILVA, Adriano Rivoli da, Sistema de Reconhecimento<br />

Automático de Placas de Veículos, Centro Federal de Educação<br />

Tecnologia <strong>do</strong> Paraná, Paraná, 2005.<br />

RODRIGUES, Roberto J. Reconhecimento de dígitos cursivos<br />

– um méto<strong>do</strong> de segmentação por histogramas, NCE- Núcleo<br />

de Computação Eletrônica/UFRJ, Rio de Janeiro, <strong>Di</strong>sponível:<br />

www.labic.nce.ufrj.br/<strong>do</strong>wnloads/laptec_2000.pdf [captura<strong>do</strong><br />

em 15/03/2006].<br />

NoTAS<br />

Sistema de Gerenciamento de Estacionamento com<br />

Reconhecimento Óptico de Placas de Veículo.<br />

1- João Daniel Forstman, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação e<br />

Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />

2- Luiz Fernan<strong>do</strong> Mangiopane, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação e<br />

Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />

3- Marcos Antonio da Silva, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação e<br />

Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />

4- Paulo César de Oliveira Veras, Graduan<strong>do</strong> da Faculdade de Educação<br />

e Cultura Montessori, Curso de Sistemas de Informação/São Paulo-SP<br />

5- Mestre em ciência da computação – PUC/RS<br />

6- A UML é uma meto<strong>do</strong>logia que visa parametrizar, através de gráficos<br />

a estrutura final de um software.<br />

7- Para a criação desse diagrama de Caso de Uso foi utilizada a ferramenta<br />

Rational Rose 2002 que não dá suporte a acentuação.<br />

8- Para a criação desse diagrama de Classe foi utilizada a ferramenta<br />

Rational Rose 2002 que não dá suporte a acentuação.<br />

46


ESumo<br />

A educação on-line tem obti<strong>do</strong> destaque entre as Instituições<br />

de Educação Superior e sua interferência pode ser notada por<br />

todas as dimensões e níveis de ensino. Existe uma série de fatores<br />

que devem ser leva<strong>do</strong>s em consideração na hora de decidir pela<br />

mudança no paradigma educacional. Este artigo tem como<br />

objetivo principal divulgar os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa realizada<br />

entre os alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação quan<strong>do</strong> ao<br />

conhecimento e aceitação da Educação a <strong>Di</strong>stância na grade<br />

curricular <strong>do</strong> curso. Além da divulgação existe a necessidade<br />

em identificar a real possibilidade de implantação de uma “nova”<br />

forma de ensino com foco no aprendiz. No final é proposto um<br />

plano de ação para tornar possível a modificação da grade<br />

curricular envolven<strong>do</strong> os alunos e professores nas discussões<br />

pertinentes ao papel de cada um, na tentativa de propiciar um<br />

ensino semi-presencial apoia<strong>do</strong> pela Internet.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Adaptação curricular e educação a distância:<br />

os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />

Educação a distância, Educação Superior no Brasil, Sistemas<br />

de Informação, currículos, Internet.<br />

ABSTrACT<br />

The education on-line has gotten prominence enters the<br />

Institutions of Superior Education and its interference can be<br />

noticed by all the dimensions and levels of education. A series of<br />

factors exists that must be taken in consideration r to decide for<br />

change in the educational paradigm. This article has as objective<br />

main to divulge the results of the carried through research it<br />

enters the pupils of the course of Systems of Information when<br />

to the knowledge and acceptance of long-distance Education in<br />

the curricular grating of the course. Beyond the spreading the<br />

necessity in identifying the real possibility of implantation of<br />

“new” a form of education with focus in the apprentice exists.<br />

In the end an action plan is considered to become possible the<br />

curricular grid modification involved the pupils and professors in<br />

the pertinent quarrels the paper of each one, in the attempt to<br />

propitiate an half-actual education supported by the Internet.<br />

KEYworDS:<br />

Adriana Paula Borges 1<br />

<strong>Di</strong>stance education, Superior education in Brazil, Systems of<br />

Information, resumes, Internet.<br />

47


1. introdução<br />

A educação à distância – EAD – tem si<strong>do</strong> desenvolvida em<br />

várias linhas e abordagens, desde aquelas inseridas em um<br />

formato mais institucional, basea<strong>do</strong> em soluções sistêmicas,<br />

prontas e fechadas, até outras de filosofia aberta e comunitária<br />

[MATTA, 03]. Entre os modelos de EAD destaca-se a educação<br />

baseada na web que faz uso da Internet como meio de divulgação<br />

de informação, também chamada de educação on-line.<br />

A educação on-line está em seus primórdios e sua interferência<br />

será notada cada vez mais em todas as dimensões e níveis de<br />

ensino. Com o avanço da telemática, a rapidez de comunicação<br />

por redes e a facilidade de ver-nos e interagir à distância, a<br />

educação on-line ocupará um espaço central na pedagogia nos<br />

próximos anos [MORAN,03]. Na atualidade existem ainda fatores<br />

limita<strong>do</strong>res que impedem a rápida evolução da educação online<br />

como: pessoal pouco qualifica<strong>do</strong> para trabalhar com essa<br />

meto<strong>do</strong>logia de ensino, equipamentos e acesso à Internet com<br />

preço eleva<strong>do</strong>, falta de preparo adequa<strong>do</strong> de materiais didáticos,<br />

resistência a mudanças tanto por parte <strong>do</strong>s alunos quanto <strong>do</strong>s<br />

professores.<br />

Para acompanhar essa evolução este artigo tem como<br />

objetivo principal investigar o nível de conhecimento e aceitação<br />

<strong>do</strong>s alunos perante a possibilidade de inclusão da educação<br />

online na grade curricular <strong>do</strong> curso de Bacharel em Sistemas<br />

de Informação. Adequar a realidade existente na Instituição<br />

Particular de Ensino Superior - Faculdade Montessori - às novas<br />

possibilidades oferecidas pelo MEC (Ministério da Educação e<br />

Cultura) através da Portaria 2253 de 18 de outubro de 2001, que<br />

autoriza instituições de nível superior a oferecerem cursos de<br />

graduação semi-presenciais, onde parte <strong>do</strong> total da carga horária<br />

de cada disciplina pode ser ofereci<strong>do</strong> através da Internet “Art. 1 o .<br />

As instituições de ensino superior <strong>do</strong> sistema federal de ensino<br />

poderão introduzir, na organização pedagógica e curricular de<br />

seus cursos superiores reconheci<strong>do</strong>s, a oferta de disciplinas que,<br />

em seu to<strong>do</strong> ou em parte, utilizem méto<strong>do</strong> não presencial, com<br />

base no art. 81 da Lei nº 9.394, de 1.996, e no disposto nesta<br />

portaria.” [Link 2].<br />

Pretende-se, ao final, propor ações para tornar possível a<br />

modificação da grade curricular envolven<strong>do</strong> principalmente os<br />

alunos, foco de pesquisa deste trabalho.<br />

O terceiro objetivo, através <strong>do</strong> embasamento teórico e da<br />

pesquisa in loco, é amparar da<strong>do</strong>s para expor e discutir o cenário<br />

real que hoje compõe a Instituição de Nível Superior, no que se<br />

refere às reais possibilidades de adaptação curricular tornan<strong>do</strong> o<br />

ensino, hoje presencial, semi-presencial apoia<strong>do</strong> pela Educação<br />

à distância através da Internet e seus benefícios na visão <strong>do</strong>s<br />

alunos.<br />

Com o resulta<strong>do</strong> desta pesquisa, espera-se contribuir para<br />

um processo de mudança de paradigma no ensino-aprendizagem<br />

presencial, oferecen<strong>do</strong> ao corpo <strong>do</strong>cente e discente novas formas<br />

de abordagem didático-pedagógicas advindas, entre outros, da<br />

utilização de recursos telemáticos, ten<strong>do</strong> em vista a importância<br />

dessa relação (ensino-aprendizagem) e da melhor organização<br />

<strong>do</strong> conhecimento na era da informação.<br />

2. A pesquisa<br />

Esta pesquisa foi realizada junto aos alunos <strong>do</strong> curso de<br />

Sistemas de Informação da Faculdade Montessori. Trata-se de<br />

uma pesquisa investigativa, exploratória, de opinião, formulada<br />

em questionário com perguntas fechadas, de múltipla escolha,<br />

conten<strong>do</strong> questões onde poderiam ser assinaladas mais de<br />

uma opção.<br />

Adaptação curricular e educação a distância:<br />

os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />

No total foram respondi<strong>do</strong>s sessenta e <strong>do</strong>is (62) questionários<br />

por alunos. Abaixo estão os gráficos com as questões e<br />

porcentagem de respostas.<br />

Figura 1 – Quantidade de alunos que possuem acesso à internet.<br />

É possível verificar na Figura 1 que grande parte <strong>do</strong>s alunos que<br />

responderam a pesquisa, 46%, possui acesso a computa<strong>do</strong>res e<br />

Internet. A princípio, isso não seria um fator de impedimento para<br />

a adaptação curricular nem para o oferecimento de disciplinas<br />

optativas, como sugere este trabalho. Os alunos teriam acesso<br />

ao conteú<strong>do</strong> de cada disciplina em casa, no trabalho ou na<br />

própria faculdade, que disponibiliza laboratórios com acesso a<br />

Internet aos alunos.<br />

Figura 2 – Freqüência de acesso à internet. resposta <strong>do</strong>s alunos.<br />

Os alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação acessam a<br />

Internet to<strong>do</strong>s os dias, como foi possível verificar na pesquisa.<br />

Já era de se esperar, porém esta questão foi formulada devi<strong>do</strong><br />

ao perfil <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso, na tentativa de verificar se o<br />

interesse por tecnologia os faz acessar mais a Internet <strong>do</strong> que os<br />

demais alunos. De acor<strong>do</strong> com a Figura 2, é possível perceber<br />

que, mesmo entre os alunos <strong>do</strong> primeiro ano, não há grandes<br />

dificuldades em buscar informações utilizan<strong>do</strong> páginas web.<br />

Figura 3 – Gráfico que ilustra a finalidade <strong>do</strong> acesso a internet.<br />

48


O uso da Internet pelos alunos é bem varia<strong>do</strong>, como é possível<br />

verificar na Figura 3. Vai desde da leitura de notícias <strong>do</strong> dia até<br />

solicitação de suporte técnico conforme resposta <strong>do</strong>s próprios<br />

alunos. Na atualidade é comum que as empresas ofereçam<br />

suporte técnico ou mesmo Serviço de Atendimento ao Cliente<br />

via Internet, via sala de bate papo, onde um atendente on-line tira<br />

as dúvidas, dá sugestões, resolve problemas de configuração,<br />

entre outros.<br />

Figura 4 – utilização de programas de troca<br />

de mensagens instantâneas.<br />

Mais da metade <strong>do</strong>s alunos que responderam ao questionário<br />

afirmam utilizar programas de troca de mensagens instantâneas<br />

síncronos como MSN Messenger ou ICQ. (Figura 4). Esse é um<br />

fator importante, pois fica claro que não seria um problema a<br />

a<strong>do</strong>ção desse tipo de software como ferramenta de apoio na<br />

solução das dúvidas com os professores/tutores, ou para formar<br />

uma comunidade colaborativa de aprendizagem. Além de ser<br />

uma forma eficiente e econômica (ambos os programas são<br />

gratuitos) na troca de mensagens entre grupos.<br />

Figura 5 – Acompanhamento de curso via web.<br />

A prova de que a Educação à distância nos moldes que<br />

conhecemos hoje, via Internet, fazen<strong>do</strong> uso de tecnologia de som<br />

e imagem para disseminar informação, ainda é pouco utilizada<br />

pelos alunos: mais da metade <strong>do</strong>s alunos que responderam à<br />

pesquisa nunca fizeram nenhum curso a distância (Figura 5).<br />

Figura 6 – Como foi sua experiência em curso via web?<br />

Adaptação curricular e educação a distância:<br />

os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />

Um da<strong>do</strong> positivo identifica<strong>do</strong> na pesquisa: entre os poucos<br />

alunos que já fizeram um curso EaD, mais da metade (60%)<br />

aprovaram a experiência, consideran<strong>do</strong>-a boa, conforme<br />

demonstra a Figura 6.<br />

Figura 7 – Gráfico que ilustra as expectativas de real<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alunos em cursos EaD.<br />

Mesmo não ten<strong>do</strong> muita experiência em curso EaD, apenas <strong>do</strong>is<br />

por cento <strong>do</strong>s alunos que responderam a pesquisa (Figura 7) não<br />

acham possível aprender em cursos dessa modalidade. A grande<br />

maioria, quarenta e quatro por cento, acredita que o aprendiza<strong>do</strong><br />

depende <strong>do</strong> aluno e da forma como o conteú<strong>do</strong> é apresenta<strong>do</strong>.<br />

Alguns acreditam que a aprendizagem depende exclusivamente<br />

<strong>do</strong> aluno, vinte e <strong>do</strong>is por cento, número significativo; e outros<br />

vinte e três por cento, acham que depende da integração entre<br />

aluno, professor/tutor e atividades a serem realizadas. A resposta<br />

a essa questão foi surpreendente analisan<strong>do</strong>-se que, na maioria<br />

das vezes, os alunos de instituições particulares (de acor<strong>do</strong> com<br />

vivência própria) se colocam em uma posição de defesa, como<br />

meros receptores de informação, como se deles não dependesse<br />

nenhum esforço para o aprendiza<strong>do</strong>. Aqui é possível identificar<br />

uma mudança de postura, os alunos se vêem na condição de<br />

auto-motivação ao aprendiza<strong>do</strong>, o que é muito bom se forem<br />

analisa<strong>do</strong>s os perfis de cada aluno, de cada turma.<br />

Figura 8 – Gráfico que ilustra a aceitação <strong>do</strong> corpo discente com<br />

relação à possibilidade de cursar graduação semi-presencial.<br />

Alguns alunos já conhecem o projeto de mudança curricular<br />

tornan<strong>do</strong> algumas aulas semi-presenciais, mas não em número<br />

significativo a ponto de influenciar nessa questão. Os alunos se<br />

mostram favoráveis a matricular-se em um curso semi-presencial.<br />

Sen<strong>do</strong> alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação, que<br />

acompanham o desenvolvimento da tecnologia e a velocidade<br />

com que as informações mudam, nada mais natural <strong>do</strong> que a<br />

aceitação da educação à distância com to<strong>do</strong>s os benefícios que<br />

ela traz aos estudantes. O que foi possível perceber, de acor<strong>do</strong><br />

49


com as questões respondidas pelos alunos, é que eles ainda<br />

não estão prepara<strong>do</strong>s para cursos de graduação totalmente<br />

on-line. Ainda sentem a necessidade da figura de um professor, o<br />

que, segun<strong>do</strong> eles, transmite mais segurança. E mesmo assim,<br />

setenta e três por cento deles fariam um curso de graduação<br />

onde parte das disciplinas fosse oferecida a distância, como é<br />

possível verificar na Figura 8.<br />

Figura 9 – Gráfico que ilustra as características<br />

que, na opinião <strong>do</strong>s alunos, pode ser um diferencial<br />

positivo em um curso semi-presencial.<br />

Novamente, tratan<strong>do</strong>-se de alunos de cursos diretamente<br />

liga<strong>do</strong>s à tecnologia, a necessidade de aulas mais dinâmicas e<br />

produtivas, de ocupar melhor o tempo em sala de aula, de mudar<br />

“a cara” da escola, é o que tornaria um curso semi-presencial<br />

diferente, como é possível verificar no gráfico da Figura 9.<br />

A possibilidade de oferecer um tempo maior para execução<br />

de tarefas, implementação de programas também seria um<br />

diferencial considerável. Houve quase um empate entre permitir<br />

a personalização da grade curricular e ter disciplinas optativas.<br />

A personalização da grade curricular significa poder escolher<br />

quais disciplinas o aluno quer cursar, sem distinção entre as<br />

obrigatórias e as optativas.<br />

Figura 10 – Necessidades que tornariam, na opinião<br />

<strong>do</strong>s alunos, um curso EaD significativo.<br />

Quanto às ferramentas necessárias em uma instituição de<br />

ensino para que o aprendiza<strong>do</strong> seja realmente significativo, trinta<br />

e sete por cento acha que os ambientes virtuais de aprendizagem<br />

têm grande importância, juntamente com o conteú<strong>do</strong> bem<br />

prepara<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> vinte e oito por cento, como se pode verificar<br />

na Figura 10.<br />

Adaptação curricular e educação a distância:<br />

os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />

Figura 11 – Gráfico ilustra as necessidades de<br />

um estudante para acompanhar um curso EaD.<br />

Novamente é possível identificar uma mudança de postura<br />

<strong>do</strong>s alunos. De acor<strong>do</strong> com o gráfico da Figura 11, quarenta e<br />

três por cento acredita que a vontade real de aprender é o pon<strong>do</strong><br />

necessário para que consiga acompanhar um curso EaD. Outros<br />

trinta e cinco por cento acredita que dedicação e disciplina sejam<br />

importantes.<br />

Figura 12 – As expectativas em um curso EaD.<br />

Com relação às expectativas em um curso EaD houve quase um<br />

empate entre a possibilidade de pesquisar assuntos <strong>do</strong> interesse<br />

relaciona<strong>do</strong>s à profissão e conseguir acompanhar as mudanças<br />

na era <strong>do</strong> conhecimento, de acor<strong>do</strong> com gráfico da Figura 12.<br />

Figura 13 – Gráfico que ilustra os pontos motiva<strong>do</strong>res,<br />

segun<strong>do</strong> os alunos, que os levaria a fazer um curso EaD.<br />

É possível verificar, de acor<strong>do</strong> com o gráfico da Figura 13,<br />

que existe grande curiosidade por parte <strong>do</strong>s alunos com relação<br />

a cursos EaD, trinta e cinco por cento deles se sente motiva<strong>do</strong><br />

pela possibilidade de aprender de uma forma diferente; vinte e<br />

quatro por cento se motivaria pela possibilidade de testar, na<br />

prática, se as impressões e expectativas seriam correspondidas.<br />

50


3. Considerações finais e ações necessárias<br />

Os alunos <strong>do</strong> curso de Sistemas de Informação se<br />

mostraram dispostos a participar da mudança no oferecimento<br />

das disciplinas. Eles são conscientes de que, para cursar as<br />

disciplinas oferecidas parcialmente à distância, são necessários<br />

planejamento - tanto por parte <strong>do</strong>s professores com relação aos<br />

conteú<strong>do</strong>s, como pelos alunos que devem reservar parte <strong>do</strong><br />

tempo para se dedicar às atividades e ao acompanhamento <strong>do</strong><br />

curso; envolvimento <strong>do</strong>s professores e <strong>do</strong>s alunos, participação<br />

no que é possível para tornar o curso dinâmico e mais produtivo;<br />

comprometimento e muita vontade de aprender.<br />

Um fato surpreendente foi a mudança de postura <strong>do</strong>s alunos<br />

perante a responsabilidade de aprendiza<strong>do</strong>. A grande maioria<br />

acredita que o aprendiza<strong>do</strong> depende <strong>do</strong> aluno e da forma como o<br />

conteú<strong>do</strong> é apresenta<strong>do</strong>. Alguns acreditam que a aprendizagem<br />

depende exclusivamente <strong>do</strong> aluno, outros acham que depende<br />

da integração entre aluno, professor/tutor e atividades a serem<br />

realizadas.<br />

Basean<strong>do</strong>-se no resulta<strong>do</strong> positivo <strong>do</strong>s questionários, é<br />

possível estabelecer ações para tornar real essa proposta. A<br />

primeira ação que deve ser tomada divide-se em duas partes, de<br />

igual importância:<br />

• A definição de qual ambiente de EAD deve ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>;<br />

• A escolha das disciplinas farão uso da EAD como ferramenta<br />

para disseminação de conhecimento.<br />

O envolvimento <strong>do</strong>s professores e <strong>do</strong>s alunos é fundamental,<br />

pois são as pessoas que usarão diretamente o ambiente, seja<br />

para aprender ou para ensinar. Sobre o ambiente destacam-se<br />

alguns pontos importantes como a utilização de um ambiente<br />

construtivista de aprendizagem suporta<strong>do</strong> por computa<strong>do</strong>r. Esse<br />

ambiente deve ser estrutura<strong>do</strong> para intermediar a formação<br />

continuada e planeja<strong>do</strong>,a partir <strong>do</strong> reconhecimento das<br />

necessidades <strong>do</strong> aprendiz – o que pode implicar na elaboração<br />

de um modelo para cada classe de alunos. Há de ressaltar a<br />

necessidade de treinamento também <strong>do</strong>s alunos que, embora<br />

sejam da área computacional, apresentam também as mesmas<br />

dificuldades perante o novo.<br />

Sobre o curso, é possível destacar etapas de nivelamento em<br />

disciplinas fundamentais, como português e matemática, poden<strong>do</strong><br />

ser oferecida também a disciplina de fundamentos de informática<br />

com ênfase na Internet, como apoio aos alunos com pouca<br />

“intimidade” com esse modelo de aprendizagem [REIS, 03]<br />

Para a elaboração <strong>do</strong> <strong>material</strong> didático devem estar previstos<br />

encontros para capacitação <strong>do</strong>cente. É importante que cada<br />

professor tenha consciência de que o <strong>material</strong> disponibiliza<strong>do</strong> na<br />

Internet deve levar em consideração que o aluno está distante, que<br />

as formas de tirar as dúvidas é diferente, que não há exposição<br />

<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> e sim à leitura <strong>do</strong> mesmo (neste projeto, que não<br />

conta com recursos áudio visuais) e que, por essa razão, deve<br />

ter textos claros, com links bem organiza<strong>do</strong>s, pois o aluno não<br />

deve “se perder” na quantidade de <strong>material</strong>. Nesta fase, torna-se<br />

importante a utilização de mapas conceituais.<br />

Segun<strong>do</strong> Gava (2003),<br />

“o processo de ensino-aprendizagem é desenvolvi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

várias etapas, dentre as quais podemos citar o contato <strong>do</strong><br />

estudante com o conhecimento existente sobre o objeto<br />

de seu estu<strong>do</strong> (que em geral é denomina<strong>do</strong> de conteú<strong>do</strong>),<br />

o estu<strong>do</strong> e a análise desse conteú<strong>do</strong> e a externalização <strong>do</strong><br />

conhecimento <strong>do</strong> estudante sobre o assunto em questão” e<br />

ainda “Consideramos que em algumas situações como, por<br />

exemplo, para a confecção de uma síntese, o uso de mapas<br />

conceituais possui algumas vantagens em relação ao uso <strong>do</strong><br />

texto clássico. A confecção de um texto geralmente exige<br />

maior esforço cognitivo pois requer, além <strong>do</strong> conhecimento<br />

propriamente dito, uma organização seqüencial, a a<strong>do</strong>ção de<br />

um estilo (escrever sempre na segunda pessoa), a observância<br />

de regras gramaticais, a preocupação com forma”.<br />

A previsão de capacitação <strong>do</strong>cente é de um semestre, a fim<br />

de que as questões acima descritas, e ainda outras não inclusas<br />

aqui, possam ser discutidas. Essa capacitação deverá ocorrer<br />

em horário especial, aos finais de semana, para que to<strong>do</strong>s os<br />

professores possam participar desse processo de mudanças.<br />

Com essa iniciativa, pretende-se minimizar os problemas na<br />

adaptação curricular, atenden<strong>do</strong> às exigências <strong>do</strong> MEC sobre<br />

EaD e capacitan<strong>do</strong> e incentivan<strong>do</strong> o corpo <strong>do</strong>cente a fazer uso<br />

<strong>do</strong> ambiente de EaD, atentan<strong>do</strong> para as questões importantes: o<br />

aluno e seu aprendiza<strong>do</strong> significativo.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

AZEVEDO, Wilson. Retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> site: http://www.aquifolium.<br />

com.br/educacional/artigos/panoread.html - artigo “PANORAMA<br />

ATUAL DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL”, último<br />

acesso em 19/07/2004.<br />

BELISARIO, Aluízio. “O <strong>material</strong> didático na educação à<br />

distância e a construção de propostas interativas”. In: SILVA,<br />

Marco. Educação Online. São Paulo, Edições Loyola, 2003.<br />

Págs. 135-146.<br />

GAVA, Tânia Barbosa Salles; Menezes, Crediné Silva de;<br />

Cury, Davidson; “Aplicações de mapas conceituais na educação<br />

como ferramenta metacognitiva”, Departamento de Informática<br />

da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito Santo, ES. publica<strong>do</strong> no site<br />

da Associação Brasileira de Educação a <strong>Di</strong>stância http://www.<br />

abed.org.br).<br />

[LINK 1] Retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> site http://www.iuvb.edu.br/br/<br />

atualidades/artigos/sueli_e_maria/educacao_distancia00.htm,<br />

último acesso em 22/07/2003.<br />

[LINK 2] http:://www.mec.gov.br – Site <strong>do</strong> Ministério da<br />

Educação e Cultura <strong>do</strong> Governo Brasileiro. Último acesso em<br />

20/05/2004.<br />

SOUZA, Thelma Rosane P., “A Avaliação como Prática<br />

Pedagógica”, CEAD Universidade de Brasília e ABEAS Associação<br />

Brasileira de Educação Agrícola Superior, publica<strong>do</strong> no site da<br />

Associação Brasileira de Educação a <strong>Di</strong>stância http://www.abed.<br />

org.br). Último acesso em 22/07/2003.<br />

MATTA, Alfre<strong>do</strong>. “Projetos Pedagógicos de Autoria de hipermídias<br />

e suas aplicações em EAD”. In: ALVES, Lynn; NOVA, Cristiane.<br />

Educação a distância – Uma nova concepção de aprendiza<strong>do</strong> e<br />

interatividade. São Paulo, Editora Futura, 2003. Págs. 87-123<br />

MORAN, José Manuel. “Contribuições para uma pedagogia<br />

da educação online”. In: SILVA, Marco. Educação Online. São<br />

Paulo, Edições Loyola, 2003. Págs.39-50.<br />

REIS, Ernesto Mace<strong>do</strong>; de Paula, Felipe Cordeiro; “ACAD -<br />

Ambiente Construtivista de Aprendizagem a <strong>Di</strong>stância na Internet:<br />

Planejamento e Arquitetura Inicial”, Universidade Federal <strong>do</strong><br />

Rio de Janeiro, publica<strong>do</strong> no site da Associação Brasileira de<br />

Educação a <strong>Di</strong>stância (http://www.abed.org.br)<br />

NoTAS<br />

Adaptação curricular e educação a distância:<br />

os alunos estão prepara<strong>do</strong>s?<br />

1- Adriana Paula Borges é professora e coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> curso de<br />

Sistemas de Informação da FAMEC e FAAC; Bacharel em Ciência da<br />

Computação pela Universidade Ibirapuera, Especialista em Informática<br />

em Educação pela Universidade Federal de Lavras, Especialista em<br />

Gestão da Educação a <strong>Di</strong>stância pela Universidade Federal de Juiz de<br />

Fora, Mestre em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP e<br />

<strong>do</strong>utoranda em Educação pela Faculdade de Educação da USP.<br />

51


ESumo<br />

O objetivo deste artigo é estudar os caminhos que permitem<br />

ao estudante empreende<strong>do</strong>r, uma visão abrangente das teorias<br />

e das práticas utilizadas no merca<strong>do</strong> de trabalho. As mudanças<br />

nos conceitos e a preocupação <strong>do</strong>s teóricos em adequar a<br />

teoria a prática, tem origem entre outros fatores, na evolução<br />

das Tecnologias de Informação (TI) , principalmente na forma de<br />

atuar das organizações, que necessitam se ajustar à realidade<br />

emergente, sob pena de perder sua competitividade no merca<strong>do</strong><br />

e como conseqüência os respectivos clientes.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Empreende<strong>do</strong>r, resulta<strong>do</strong>s, visão e conhecimento.<br />

O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />

ABSTrACT<br />

The objective of this article is to study the ways that allow the<br />

enterprising student has an including vision of the theories and<br />

the practical in the work market. The changes in the concepts<br />

and the concern of the theoreticians in adjusting the theory<br />

and the practical has its origin besides the evolution of the<br />

Technologies of Information and others factors, the way of act<br />

of the organizations that need to adjust to the emergent reality<br />

or otherwise can lose its competitiveness in the market and as<br />

consequence the respective customers.<br />

KEYworDS:<br />

PhD. Maria de Fátima Abud Olivieri 1<br />

Enterprinsing, results, vision and knowledge.<br />

52


introdução<br />

É inegável que o ensino <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo se tornou<br />

um <strong>do</strong>s mecanismos atuais e complementares de interação<br />

universidade-empresa, independente da área de conhecimento,<br />

por ser uma atividade imprescindível para a formação diferenciada<br />

<strong>do</strong>s estudantes, futuros profissionais no merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />

Fillion, narra em um artigo escrito para a Revista de<br />

Administração da USP – Universidade de São Paulo (1999), que<br />

a história <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo iniciou com <strong>do</strong>is pioneiros:<br />

Cantillon (1775) e Say (1803), que não estavam interessa<strong>do</strong>s<br />

somente em economia, mas também em empresas, criação de<br />

novos empreendimentos, desenvolvimento e gerenciamento de<br />

negócios.<br />

Richard Cantillon vivia de rendas e buscava investimentos.<br />

Tinha a capacidade de analisar uma operação identifican<strong>do</strong> nela<br />

aqueles elementos que já eram lucrativos e os que poderiam vir<br />

a ser ainda mais. Ele foi basicamente um banqueiro, que hoje<br />

poderia ser descrito um capitalista de risco.<br />

Jean Baptista Say, como o segun<strong>do</strong> autor a<br />

demonstrar interesse pelo empreende<strong>do</strong>rismo, considerava<br />

o desenvolvimento econômico como resulta<strong>do</strong> da criação de<br />

novos empreendimentos e ansiava pela expansão da revolução<br />

industrial inglesa até a França.<br />

Para ambos os autores, empreende<strong>do</strong>res eram<br />

pessoas que corriam riscos, basicamente porque investiam<br />

o seu próprio dinheiro.<br />

Conceitos<br />

Max Weber (1930) foi um <strong>do</strong>s primeiros autores a demonstrar<br />

interesse pelo comportamento <strong>do</strong>s empreende<strong>do</strong>res. Ele<br />

identificou o sistema de valores como um elemento fundamental<br />

para a explicação <strong>do</strong> comportamento empreende<strong>do</strong>r.<br />

Schumpeter (1934) associa o empreende<strong>do</strong>rismo à inovação;<br />

desenvolvimento econômico e ao aproveitamento de oportunidades<br />

em negócios.<br />

McClelland (1971) concentrava-se em gerentes de grandes<br />

organizações e identificava a necessidade de poder. Ele mostrou<br />

que o ser humano é um produto social.<br />

E daí por diante, vários autores foram surgin<strong>do</strong> e tecen<strong>do</strong><br />

contribuições científicas para o avanço <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo,<br />

sen<strong>do</strong> que até hoje, são consideradas relevantes as características<br />

de correr riscos, ser inova<strong>do</strong>r, a busca de novas oportunidades<br />

e a preocupação com o comportamento, pois este influencia as<br />

pessoas que estão próximas de nós.<br />

Os diferentes conceitos foram aprimora<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong><br />

tempo, como se pode observar a seguir:<br />

Segun<strong>do</strong> Fillion (1991) “Um empreende<strong>do</strong>r é uma pessoa que<br />

imagina, desenvolve e realiza visões”.<br />

Dolabela (1999:28) utiliza a definição de Fillion e acrescenta<br />

que para ser um verdadeiro empreende<strong>do</strong>r, é necessário<br />

possuir uma série de características que contribuam para que a<br />

empreitada alcance o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> o dicionário Aurélio (1995) estudante é a pessoa que<br />

estuda, aluno . E aluno, é a pessoa que recebe instrução e/ou<br />

educação de algum mestre ou mestres em estabelecimento de<br />

ensino ou particularmente. Portanto, pode-se dizer que estudante<br />

empreende<strong>do</strong>r, é a pessoa que procura conhecimentos,<br />

assimila-os e realiza visões a respeito <strong>do</strong>s mesmos, poden<strong>do</strong><br />

torná-las realidade.<br />

O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />

É, sem dúvida, o processo criativo em ação. Por ser comum<br />

a todas as pessoas, o que difere de uma a outra, é justamente a<br />

maneira de como ele é trabalha<strong>do</strong>. Para que esse processo seja<br />

desenvolvi<strong>do</strong>, sugere-se exercícios permanentes de pesquisas,<br />

atualização <strong>do</strong>s conhecimentos e troca de informações.<br />

Inácio (2004:44) diz que o empreende<strong>do</strong>r, para aprofundarse<br />

em sua idéia emergente, procura pessoas com quem possa<br />

obter informações para aprimorá-la, testá-la e verificar se é um<br />

bom negócio. Procura também ler sobre o assunto, participa de<br />

feiras e eventos. Ao obter tais informações, vai alteran<strong>do</strong> a sua<br />

idéia inicial, agregan<strong>do</strong> novas características, mudan<strong>do</strong> alguma<br />

coisa, descobrin<strong>do</strong> ou inventan<strong>do</strong> novos processos de produção,<br />

distribuição ou vendas. É um processo contínuo de conquistas<br />

de novas relações.<br />

Portigliatti (2005) diz que o grande capital a ser investi<strong>do</strong><br />

não é o dinheiro, mas sim conhecimento, informações,<br />

relacionamentos e um produto ou serviço vendável no merca<strong>do</strong><br />

internacional. Assinala ainda que, toman<strong>do</strong> como base o espírito<br />

empreende<strong>do</strong>r de Thomas Edison que, em meio a obstáculos<br />

a serem transpostos e pessoas incrédulas que queriam impor<br />

limites às suas ações, declarou que não existem limites. Os únicos<br />

limites existentes são aqueles que nós próprios colocamos ou<br />

permitimos que os outros coloquem. Por isso, em 1902, ele<br />

acreditava que a eletricidade poderia iluminar o mun<strong>do</strong>.Para os<br />

outros era uma loucura, para ele uma realidade.<br />

Desenvolver um produto e mantê-lo no merca<strong>do</strong> é tarefa para<br />

empreende<strong>do</strong>r. Mas não basta se limitar ao merca<strong>do</strong> nacional, é<br />

preciso avançar o sinal, ter visão globalizada de futuro, chegan<strong>do</strong><br />

a internacionalização da empresa. A exemplo disso, Dollabela<br />

cita o caso da empresa de goiabada, em seu livro O segre<strong>do</strong> de<br />

Luiza, em que a empreende<strong>do</strong>ra, viajou para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

e foi procurar internacionalizar a sua empresa.<br />

O início <strong>do</strong>s contatos com o merca<strong>do</strong> externo, pode ser<br />

feito através de um Seminário Internacional, onde, além <strong>do</strong><br />

interessa<strong>do</strong> ter a oportunidade de participar de palestras sobre<br />

diversos temas atuais, poderá visitar empresas multinacionais,<br />

com a oportunidade de realização de “net-working”.<br />

Internacionalizar a carreira , inician<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

é justifica<strong>do</strong> por algumas razões: o maior merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, extensa população com poder de compra e apura<strong>do</strong>s<br />

hábitos de consumo, oportunidades para empresas de to<strong>do</strong>s<br />

os segmentos, presença de empresas de todas as partes <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, potencialização da imagem para as empresas que já<br />

estão no merca<strong>do</strong> e cartão de visita para entrada em qualquer<br />

nível de comércio internacional.<br />

Perfil <strong>do</strong> Empreende<strong>do</strong>r<br />

Consideran<strong>do</strong> o conhecimento já divulga<strong>do</strong> atualmente<br />

através de pesquisas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, sobre o perfil <strong>do</strong><br />

empreende<strong>do</strong>r, Dolabela (1999:28) , diz que:<br />

“O empreende<strong>do</strong>r é um ser social produto <strong>do</strong> meio em que<br />

vive (época e lugar). Se uma pessoa vive em um ambiente<br />

em que ser um empreende<strong>do</strong>r é visto como algo positivo,<br />

então terá motivação para criar o seu próprio negócio”. Em<br />

outro trecho, o autor afirma que: “é um fenômeno regional,<br />

ou seja, existem cidades, regiões, países mais – ou menos<br />

– empreende<strong>do</strong>res <strong>do</strong> que outros. O perfil <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>r<br />

(fatores <strong>do</strong> comportamento e atitudes que contribuem para o<br />

sucesso), pode variar de um lugar para outro”.<br />

Embora o aluno empreende<strong>do</strong>r seja um ser social, produto<br />

<strong>do</strong> meio em que vive, ele está sujeito às inferências internas e<br />

53


externas que vão influenciar o seu comportamento e atitudes,<br />

poden<strong>do</strong> variar de um lugar para outro, sen<strong>do</strong> de forma positiva<br />

ou negativa, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu equilíbrio em relação ao meio<br />

em que se encontra.<br />

Mas aí vem a pergunta: Para que servem tais conceitos? Eles<br />

são o norte ou o ponto de partida <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res para os<br />

estu<strong>do</strong>s que conduzem o estudante empreende<strong>do</strong>r ao sucesso.<br />

O ensino <strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>rismo nos diversos campos <strong>do</strong><br />

conhecimento pode ser uma fonte de criação de empresas,<br />

desde que haja uma orientação empreende<strong>do</strong>ra na formação<br />

acadêmica, redirecionan<strong>do</strong> a força de trabalho para a autogestão,<br />

com criatividade, liderança e visão <strong>do</strong> futuro para<br />

inovar e ocupar o seu espaço no merca<strong>do</strong>. O empreende<strong>do</strong>r é<br />

“alguém que tem a visão para enxergar e discernir oportunidades<br />

disponíveis para to<strong>do</strong>s, mas invisíveis para a maioria, e que tem<br />

atitude e habilidade para aplicar o conhecimento transforman<strong>do</strong>,<br />

com ousadia, a visão em realidade” (Portigliatti 2006).<br />

Características <strong>do</strong> Empreende<strong>do</strong>r<br />

Algumas características são fundamentais para quem<br />

pretende se aventurar no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios, as quais devem<br />

ser apresentadas ao estudante, durante o perío<strong>do</strong> em que<br />

estiver em curso, visan<strong>do</strong> a preparação e desenvolvimento dele<br />

para o merca<strong>do</strong> de trabalho. São elas: aproveitar oportunidades,<br />

saber organizar, ser líder, ter talento, conhecer o ramo em que<br />

vai atuar, assumir riscos calcula<strong>do</strong>s, tomar decisões e manter o<br />

otimismo.<br />

Aproveitar oportunidades significa estar atento e ser capaz<br />

de perceber, no momento certo, as oportunidades de negócio<br />

que são oferecidas pelo merca<strong>do</strong>.<br />

Saber organizar é ter noção de organização e capacidade<br />

de conduzir os talentos humanos, utilizar materiais e recursos<br />

financeiros, de forma lógica e racional. A boa organização<br />

economiza tempo.<br />

Ser líder é saber orientar a realização de tarefas, definir<br />

objetivos, criar condições de relacionamento equilibra<strong>do</strong> entre a<br />

equipe de trabalho como um to<strong>do</strong>. É incentivar as pessoas no<br />

rumo <strong>do</strong> planejamento e metas definidas.<br />

Ter talento é perceber diante das atividades rotineiras, o que<br />

pode ser feito para transformar as simples idéias em negócios<br />

efetivos.<br />

Quanto mais o empreende<strong>do</strong>r <strong>do</strong>minar o ramo em que<br />

pretende atuar, maiores serão as oportunidades de êxito.<br />

Arriscar significa ter coragem para enfrentar desafios. Os<br />

riscos fazem parte de qualquer atividade porém, é necessário<br />

aprender administrá-los. Neste caso, os riscos, são aqueles<br />

calcula<strong>do</strong>s, possíveis de acontecer diante de determinadas<br />

situações planejadas, para a movimentação de um negócio.<br />

Tomar decisões, é tarefa para empreende<strong>do</strong>r. Para isso, ele<br />

necessita estar bem informa<strong>do</strong>, analisar a situação com critérios,<br />

avaliar as alternativas existentes, para escolher a solução<br />

adequada, no momento exato.<br />

Manter o otimismo é condição primordial para o empreende<strong>do</strong>r<br />

conduzir os seus negócios, com o público interno e externo à<br />

organização.<br />

Essas características podem ser desenvolvidas no estudante<br />

empreende<strong>do</strong>r, através de indicação de bibliografias adequadas,<br />

aulas práticas e motivação constante em sala de aula.<br />

O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />

Da idéia à realidade<br />

O empreende<strong>do</strong>r tem um “modelo”, uma pessoa que o<br />

influencia. Entre outros predica<strong>do</strong>s, tem iniciativa, autonomia,<br />

auto-confiança, otimismo e necessidade de realização.<br />

Para ele o fracasso é considera<strong>do</strong> como um resulta<strong>do</strong> qualquer.<br />

Apreende com os próprios erros. É um sonha<strong>do</strong>r realista. É líder,<br />

cultiva a imaginação e aprende a definir visões. Traduz seus<br />

pensamentos em ações, define o que deve aprender para realizar<br />

sua visão e fixa metas. Assim, o sonho estabelece um paralelo<br />

com a criatividade, passan<strong>do</strong> pelo processo de transformação<br />

– no qual pode encontrar o choque com a realidade – nascen<strong>do</strong><br />

a realidade em si, chamada de empreende<strong>do</strong>rismo.<br />

Para os estudantes empreende<strong>do</strong>res, pode-se estabelecer<br />

nesse ponto os chama<strong>do</strong>s<br />

5 E’s: empreende<strong>do</strong>r, empresário, executivo, emprega<strong>do</strong> e<br />

estagiário (Portigliatti:2006). Sen<strong>do</strong> este último, a condição inicial<br />

para se tornar o primeiro da lista .<br />

Entretanto, visão sem ação, não passa de um sonho. A ação<br />

sem visão é uma utopia e visão com ação , é empreen<strong>do</strong>rismo<br />

que transforma uma vida, uma empresa, uma cidade, um esta<strong>do</strong><br />

ou nação.<br />

Atualmente, pode-se dizer que to<strong>do</strong> empreende<strong>do</strong>r, inclusive<br />

o estudante, possui três características que bem equilibradas,<br />

conduzem ao sucesso <strong>do</strong>s empreendimentos: conhecimento,<br />

habilidade e atitude.<br />

A importância desse assunto para o estudante, merece<br />

especial atenção, pois as empresas procuram pessoas que se<br />

destacam não só pelo conhecimento tecnológico e cultural,<br />

mas como líderes, visionários e com idéias inova<strong>do</strong>ras, que<br />

sejam capazes de criar diferenciais para concorrer com o<br />

merca<strong>do</strong>, culminan<strong>do</strong> com o crescimento <strong>do</strong> capital social da<br />

organização.<br />

Timmons, (apud DOLABELLA, Fernan<strong>do</strong>, 2004:94), enumera<br />

os 7 segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sucesso como sen<strong>do</strong>:<br />

• Não há segre<strong>do</strong>s. Somente o trabalho duro dará<br />

resulta<strong>do</strong>s;<br />

• Tão logo surge um segre<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s o conhecem<br />

imediatamente;<br />

• Nada mais importante <strong>do</strong> que um fluxo de caixa positivo;<br />

• Se você ensina uma pessoa a trabalhar para outras, você a<br />

alimenta por um ano; mas se você a estimula a ser empreende<strong>do</strong>r,<br />

você a alimenta, e a outra, durante toda a vida;<br />

• Não deixe o caixa ficar negativo;<br />

• O empreende<strong>do</strong>rismo, antes de ser técnico ou financeiro,<br />

é fundamentalmente um processo humano.<br />

• A felicidade é um fluxo de caixa positivo.<br />

É comum a to<strong>do</strong>s os iniciantes a busca pelo sucesso.<br />

Mas como se pode perceber não existe uma fórmula mágica,<br />

como uma receita de bolo ou algo similar, que o resulta<strong>do</strong> é<br />

espera<strong>do</strong>, como uma simples operação matemática de adição.<br />

Depende muito mais <strong>do</strong> estímulo que o estudante tem pelo seu<br />

objetivo e da maneira de como ele encara o desafio, ou seja,<br />

<strong>do</strong> conhecimento, da habilidade e da atitude de cada um de<br />

nós. Existem pessoas que ficam aguardan<strong>do</strong> a vida melhorar, o<br />

sucesso chegar, para posteriormente se entusiasmarem. Mas na<br />

verdade, o entusiasmo é que traz o sucesso.<br />

Cabe citar que o site da Universia (www.universia.com.br<br />

- acessa<strong>do</strong> em 14/06/2006) divulgou uma pesquisa feita pela<br />

Companhia de Talentos, empresa de recrutamento e seleção,<br />

54


com 14.721 estudantes a qual apontou a lista das 10 empresas<br />

mais desejadas pelos estudantes brasileiros <strong>do</strong> Ensino Superior<br />

para se trabalhar, a seguir discriminada:<br />

A referida pesquisa teve por objetivo descobrir as expectativas<br />

<strong>do</strong>s estudantes com relação ao merca<strong>do</strong> de trabalho e mostrar<br />

às empresas esses resulta<strong>do</strong>s, para que possam ter novos<br />

parâmetros na hora de escolher seus profissionais. A pergunta aos<br />

universitários foi: Qual é a empresa <strong>do</strong>s seus sonhos? A escolha<br />

era justificada por 16 motivos pré-seleciona<strong>do</strong>s: credibilidade<br />

no merca<strong>do</strong>, bons salários e bons benefícios, qualidade de vida<br />

entre os funcionários e possibilidade de trabalhar fora <strong>do</strong> país,<br />

entre outros.<br />

As empresas mais desejadas foram: Petrobrás; Natura;<br />

Unilever; Nestlé; CRVD; IBM; City Group; Santander Banespa;<br />

Microsoft e Grupo Itaú.<br />

O Santander Banespa foi a oitava empresa mais citada pelos<br />

universitários, e por isso, recebeu em 12 de junho de 2006, o<br />

prêmio Empresas <strong>do</strong>s Sonhos <strong>do</strong>s Universitários Para iniciarem a<br />

Carreira 2006. Para o vice-presidente de Recursos Humanos <strong>do</strong><br />

Santander Banespa, Ulrico Barini, o prêmio é conseqüência de<br />

uma gestão de recursos humanos inova<strong>do</strong>ra, que faz da empresa<br />

referência na capacitação de jovens profissionais. Em 2005, o<br />

banco admitiu 2.900 estagiários e efetivou 1.224,manten<strong>do</strong> seu<br />

índice médio de efetivação de 50%. De janeiro a abril deste ano,<br />

683 estagiários foram efetiva<strong>do</strong>s.<br />

Complementan<strong>do</strong> as informações, em dezembro de 2005, a<br />

Companhia de Talentos já havia divulga<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s parciais<br />

da pesquisa apontan<strong>do</strong> as preferências <strong>do</strong>s universitários entre<br />

22 e 26 anos de idade, em relação às empresas <strong>do</strong>s sonhos para<br />

o início da carreira. À época, entre os 6.796 pesquisa<strong>do</strong>s, liderava<br />

a lista de preferência a Petrobrás, com 14,8% das escolhas,<br />

seguida pela Microsoft (13,4%), Natura (12,52%), Unilever<br />

(11,01%) e IBM (9,16%). O indica<strong>do</strong>r foi o ponto de partida para a<br />

criação <strong>do</strong> prêmio contemplan<strong>do</strong> as empresas apontadas pelos<br />

estudantes como as melhores opções <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />

Consideran<strong>do</strong> que o universo corporativo passa por um<br />

perío<strong>do</strong> de transição, especialistas em Psicologia <strong>do</strong> Trabalho<br />

apontam que o instituto <strong>do</strong> emprego formal, estável, com<br />

registro em carteira, está em extinção. Logo, além de desejar<br />

emprego em uma grande instituição, é preciso desenvolver o<br />

senso empreende<strong>do</strong>r. (fonte: www.universia.com.br - acesso em<br />

14/06/2006).<br />

Trios importantes para o Estudante Empreende<strong>do</strong>r<br />

Após o conhecimento da história e conceitos elabora<strong>do</strong>s<br />

por teóricos sobre empreende<strong>do</strong>rismo, cabe ressaltar os trios<br />

importantes para o estudante empreende<strong>do</strong>r, que revelam o<br />

diferencial <strong>do</strong> profissional com a postura consigo mesmo e com<br />

o meio onde ele está inseri<strong>do</strong>. Não se pode deixar de mencionar<br />

que nesse aprendiza<strong>do</strong>, o diferencial é condição de destaque,<br />

entre a maioria que apresenta um padrão de comportamento.<br />

Inicialmente deve-se considerar os três verbos mais<br />

importantes: aprender, servir e cooperar. Essas palavras quan<strong>do</strong><br />

inseridas no vocabulário diário, funcionam como o segre<strong>do</strong> de<br />

um cofre, para liberar o que existe de melhor dentro de nós.<br />

A seguir são indicadas três atitudes que merecem atenção:<br />

analisar, reprovar e reclamar. Isso significa que to<strong>do</strong>s precisam<br />

se posicionar em qualquer situação, evitan<strong>do</strong> o chama<strong>do</strong> “em<br />

cima <strong>do</strong> muro”.<br />

Na seqüência, são apresentadas três normas de conduta:<br />

auxiliar com intenção <strong>do</strong> bem, silenciar em alguns momentos<br />

e pronunciar frases de bondade e estímulo. É claro que essas<br />

normas, só terão um resulta<strong>do</strong> positivo, após serem colocadas<br />

em prática, pelo estudante empreende<strong>do</strong>r. Porém, deve-se levar<br />

em consideração, que à medida que o ser humano se propõe a<br />

a<strong>do</strong>tar mudanças de comportamento, ele já iniciou o processo.<br />

A princípio, a palavra “mudar” carrega consigo um estigma<br />

de resistência, sen<strong>do</strong> inicialmente ridicularizada em qualquer<br />

situação. Depois passa a ser recusada, sen<strong>do</strong> finalmente seguida<br />

pela maioria.<br />

Várias são as formas de mudanças que estão sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tadas<br />

pelas empresas, quer sejam para acompanhar o merca<strong>do</strong>,<br />

competir ou simplesmente atualizar e melhor dirigir os negócios.<br />

Portanto, a melhoria só terá o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>, se houver uma<br />

atitude recíproca entre pessoas, grupos ou organizações. E para<br />

finalizar, são apresentadas três regras para o progresso: corrigir<br />

em nós o que desagrada nos outros, auxiliar-nos mutuamente e<br />

amarmos uns aos outros.<br />

O empreende<strong>do</strong>r que conhece suas características e se<br />

preocupa com o bem estar <strong>do</strong>s seus correligionários, sabe que<br />

está em constante evolução e aprendiza<strong>do</strong>, que a necessidade<br />

de correção <strong>do</strong> que não está bom em si mesmo é um dever<br />

quase que sistemático, o conhecimento de que ninguém faz<br />

nada sozinho já está implícito em suas atitudes e tu<strong>do</strong> o que fizer,<br />

faça com amor, pois este é o diferencial no resulta<strong>do</strong> das ações<br />

de cada um de nós.<br />

Considerações Finais<br />

Quan<strong>do</strong> o assunto é o estudante, para a autora deste artigo,<br />

significa que se está diante de um quadro com projeção para o<br />

futuro e que requer uma atenção muito especial. O estudante<br />

empreende<strong>do</strong>r é alguém que busca conhecimentos e, com<br />

ousadia, cria e inova desde os primeiros anos <strong>do</strong> curso superior.<br />

Há que se lembrar, entretanto, que para que isso aconteça<br />

é necessário um grande interesse e envolvimento <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>centes, para dar credibilidade e continuidade a esse espírito<br />

empreende<strong>do</strong>r, através de aulas dinâmicas, motiva<strong>do</strong>ras, sain<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> modelo tradicional, levan<strong>do</strong> o estudante a aprender a pensar,<br />

a trabalhar em equipe, descobrir mais sobre a capacidade de<br />

cada um, ensinar a negociar, além de tantas outras práticas para<br />

promover a criatividade, a identificação de oportunidades e as<br />

relações interpessoais.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />

AWAD, Elias. Samuel Klein e Casas Bahia, uma trajetória de<br />

sucesso. Osasco – SP: Novo Século Editora, 2003. 1ª edição – 4ª<br />

reimpressão. 263 páginas.<br />

BERNARDES, Cyro; MARCONDES, Reinal<strong>do</strong> Cavalheiro.<br />

Crian<strong>do</strong> Empresas para o sucesso. 3ª edição revisada e ampliada<br />

– São Paulo: Saraiva,2004 – 179 páginas.<br />

CHIAVENATO, Idalberto. Empreende<strong>do</strong>rismo: dan<strong>do</strong> asas ao<br />

espírito empreende<strong>do</strong>r. São Paulo: Saraiva, 2004 – 278 páginas.<br />

DOLABELLA, Fernan<strong>do</strong>. O Segre<strong>do</strong> de Luiza. São Paulo:<br />

Cultura Editores Associa<strong>do</strong>s, 2004. 15ª impressão – 312<br />

páginas.<br />

DORNELAS, José Carlos Assis. Empreende<strong>do</strong>rismo<br />

Corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003 – 1890 páginas.<br />

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo <strong>Di</strong>cionário da<br />

Língua Portuguesa. Nova Fronteira, 14ª reimpressão.<br />

INÀCIO, Sandra Regina da Luz. O Perfil <strong>do</strong> Empreende<strong>do</strong>r.<br />

São Paulo: Lógica, 2004 – 110 páginas.<br />

55


HASHIMOTO, Marcos. Espírito Emprende<strong>do</strong>r nas<br />

Organizações: aumentan<strong>do</strong> a competitividade através <strong>do</strong> intraempreende<strong>do</strong>rismo.<br />

São Paulo: Saraiva, 2006 – 277 páginas.<br />

PORTIGLIATTI, Anthony. Entrepreneurship. (Apresenta<strong>do</strong> no<br />

Seminário Internacionalizan<strong>do</strong> Sua Carreira/Negócio, São Paulo,<br />

2006).<br />

PORTIGLIATTI, Anthony. Não Importa o Tamanho de sua<br />

empresa, você pode Internacionaliza-la. Revista Empresa Familiar<br />

– Edição Bimestral – Julho/Agosto 2005 – Ano I nº 3.<br />

Sites:<br />

www.universia.com.br - Melhores Opções para a Carreira.<br />

Acesso em 15/06/2006.<br />

http://www.sebraesp.com.br - Acesso em 14/06/2006.<br />

http://groups.msn.marcoshashimoto. Forman<strong>do</strong><br />

Empreende<strong>do</strong>res. Acesso em 13/03/2006.<br />

NoTAS<br />

1- Maria de Fátima Abud Olivieri, PhD., Mestre em Educação, Arte e<br />

História da Cultura, Relações Públicas, professora universitária em cursos<br />

de pós-graduação e de graduação da Faculdade Montessori.<br />

O estudante empreende<strong>do</strong>r.<br />

56


Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra 1 .<br />

rESumo<br />

A literatura sobre as práticas familiares que influenciam<br />

positivamente no desempenho escolar enfatiza a importância<br />

da interação família e escola para diminuir as zonas de<br />

conflito vivenciadas pelos seus protagonistas. São conflitos<br />

resultantes das linguagens diferenciadas usadas pelos pais e<br />

professores, pertencentes a instituições ou ambientes culturais<br />

diversos. <strong>Di</strong>stintas nas tarefas e formas de ensinar, mas ambas<br />

socializa<strong>do</strong>ras, responsáveis pela preparação das crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes para o exercício pleno da cidadania.<br />

Com o agravamento da situação familiar a partir das últimas<br />

décadas <strong>do</strong> séc. XX, a ausência <strong>do</strong>s pais <strong>do</strong>s lares, deixan<strong>do</strong><br />

filhos menores aos cuida<strong>do</strong>s de outros, forçam a procura por<br />

instituições públicas de ensino, sobrecarregan<strong>do</strong>-as. As escolas<br />

buscam formas de linguagem que aproxime as famílias, tornan<strong>do</strong>as<br />

receptivas, possibilitan<strong>do</strong> o conhecimento e participação <strong>do</strong>s<br />

pais no trabalho escolar. Desenvolver essa meto<strong>do</strong>logia é a<br />

proposta <strong>do</strong> Programa de Interação Família e Escola.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Família, Interação, Escola, Participação.<br />

ABSTrACT<br />

The Literature on family practices that influences positively<br />

on school performance emphasizes the importance of interaction<br />

between family and school to minimized the conflicts lived by<br />

its protagonists. These conflicts are the result of the different<br />

languages used by parents and teachers, belonging to different<br />

institutions or cultural environments. Unique in its tasks and<br />

teaching ways, even thought both are guide to socialization,<br />

responsible for the preparation of the children and a<strong>do</strong>lescents<br />

for the full exercise of citizenship.<br />

With the deterioration of the family situation since the last<br />

decades of 20th century, the absence of the parents at home,<br />

leaving young children under the care of others, force the search<br />

for public education institutions, overloading them. The schools<br />

look for a language that approaches the families, making them<br />

more receptive, allowing for knowledge and participation of the<br />

parents in school work. The proposal of the Program of Family<br />

and School Interaction is to develop this metho<strong>do</strong>logy.<br />

KEYworDS:<br />

Family, Interaction, School, Participation.<br />

Profª Ms. Katsue Hamada e Zenun 2<br />

Profª Mitsuko Yamazaki Marques 3<br />

57


Os da<strong>do</strong>s estatísticos registra<strong>do</strong>s pelo INEP – Instituto Nacional<br />

de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas de 2005, indicam que o Município de<br />

Taboão da Serra disponibilizou vagas para colocar 100% das<br />

crianças de 7 a 14 anos no Ensino Fundamental. Entretanto, os<br />

da<strong>do</strong>s sobre a repetência indicam que o índice de reprovação <strong>do</strong>s<br />

alunos ao longo <strong>do</strong> Ensino Fundamental I, sobretu<strong>do</strong> na 4ª série,<br />

ainda é inquietante, chegan<strong>do</strong> a atingir 20,8% numa das escolas. 4<br />

Esses da<strong>do</strong>s revelam que o município tem um longo caminho<br />

a trilhar para diminuir a repetência e alcançar o patamar de<br />

excelência no que diz respeito à qualidade de ensino. Não se trata<br />

aqui de buscar soluções meramente estatísticas que caracterizam<br />

os programas de atendimento à população, mas que implantem<br />

alternativas meto<strong>do</strong>lógicas que promovam a real aprendizagem.<br />

Da repetência e seu diagnóstico<br />

A repetência está sempre associada ao “fracasso escolar”<br />

e, por mais que se tenha avança<strong>do</strong> nas pesquisas, essa idéia<br />

parece longe <strong>do</strong> desaparecimento.<br />

1. O fracasso é diagnostica<strong>do</strong> como negatividade, por déficits<br />

de inteligência, afeto, cultura, nutrição ou condição financeira.<br />

2. As crianças são fracassadas, mas como “vítimas” de<br />

uma desordem capitalista, na qual a escola estaria cumprin<strong>do</strong><br />

sua função na reprodução da desigualdade social, excluin<strong>do</strong> e<br />

discriminan<strong>do</strong> essas crianças.<br />

3. É habitual a procura <strong>do</strong>s culpa<strong>do</strong>s pelo fracasso escolar:<br />

família ou sua ausência; carências culturais, alimentares;<br />

sociedade capitalista ou Esta<strong>do</strong>.<br />

A repetência traz consigo um estigma que marca e rotula as<br />

crianças como “repetentes” ou “multirepetentes” que, à primeira<br />

análise:<br />

1. Têm um quociente intelectual normal, ou muito próximo da<br />

normalidade, ou ainda, superior.<br />

2. Seu ambiente sóciofamiliar é normal.<br />

3. Não apresentam deficiências sensoriais nem afecções<br />

neurológicas significativas.<br />

Entretanto, seu rendimento escolar é reiteradamente<br />

insatisfatório. Segun<strong>do</strong> diagnóstico <strong>do</strong>s professores “apresentam<br />

grandes dificuldades de aprendizagem”, o que indica um perfil<br />

bastante genérico.<br />

Alunos que reprovam vários anos na mesma série são mais<br />

comuns <strong>do</strong> que se pode imaginar. Essas crianças, ao longo<br />

dessas experiências, sentem que a escola não foi feita para eles<br />

e tendem a se evadir. Segun<strong>do</strong> Freire (1999, p.35) 5 , “os alunos<br />

não se evadem da escola, a escola é que os expulsa”. Quem<br />

realmente falhou, o aluno ou a escola? Esses alunos reprova<strong>do</strong>s<br />

retornarão no ano seguinte? Uma criança curiosa que está<br />

descobrin<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e suas possibilidades não avançou nada<br />

em um, <strong>do</strong>is ou três anos? Não aprenderam nada? E, nada<br />

faremos por elas?<br />

Vários autores chamam a atenção para o fato de que o<br />

maior percentual de fracasso na produção escolar, de crianças<br />

encaminhadas a consultórios e clínicas, encontra-se no que<br />

comumente se denomina de “problema de aprendizagem<br />

reativo”, produzi<strong>do</strong> e causa<strong>do</strong> pelo próprio ambiente escolar<br />

(WEISS et. al, 1999, p.46) 6 .<br />

Das dificuldades de aprendizagem<br />

A literatura sobre as dificuldades de aprendizagem se<br />

caracteriza por um conjunto de argumentos, definições muitas<br />

Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />

vezes contraditórias ou ambíguas. Na classificação diagnóstica<br />

confunde-se com outras expressões como “crianças com<br />

necessidades educativas especiais”, “crianças com inadaptações<br />

sócioambientais”, dentre outras.<br />

Podemos assinalar como elementos de definição mais<br />

relevantes:<br />

1. A criança com transtornos de aprendizagem que tem uma<br />

linha desigual em seu desenvolvimento.<br />

2. Os problemas de aprendizagem não são causa<strong>do</strong>s por<br />

pobreza ambiental.<br />

3. Os problemas não são devi<strong>do</strong>s a atraso mental ou<br />

transtornos emocionais.<br />

Em síntese, só é procedente falar em dificuldades de<br />

aprendizagem quan<strong>do</strong> fazemos referência a alunos que<br />

incluem problemas mais localiza<strong>do</strong>s nos campos da conduta<br />

e da aprendizagem, <strong>do</strong>s seguintes tipos: a) Atividade motora:<br />

hiperatividade ou hipoatividade, dificuldade de coordenação;<br />

b) Atenção: baixo nível de concentração, dispersão; c) Área<br />

matemática: problemas em seriações, inversão de números,<br />

reitera<strong>do</strong>s erros de cálculo; d) Área verbal: problemas na<br />

codificação/ decodificação simbólica, irregularidades na<br />

lectoescrita, disgrafías; e) Emoções: desajustes emocionais<br />

leves, baixa auto-estima; f) Memória: dificuldades de fixação;<br />

g) Percepção: reprodução inadequada de formas geométricas,<br />

confusão entre figura e fun<strong>do</strong>, inversão de letras; b)Sociabilidade:<br />

inibição participativa, pouca habilidade social, agressividade.<br />

Partin<strong>do</strong> da realidade plenamente constatada de que to<strong>do</strong>s<br />

os alunos são diferentes, tanto em suas capacidades, quanto<br />

em suas motivações, interesses, ritmos evolutivos, estilos de<br />

aprendizagem, situações ambientais e, entenden<strong>do</strong> que todas<br />

as dificuldades de aprendizagem são em si mesmas contextuais<br />

e relativas, é necessário colocar o acento no próprio processo de<br />

interação ensino e aprendizagem.<br />

É, sem dúvida, um processo complexo em que estão<br />

incluídas inúmeras variáveis: aluno, professor, concepção e<br />

organização curricular, meto<strong>do</strong>logias, estratégias, recursos.<br />

Além disso, a aprendizagem <strong>do</strong> aluno não depende somente<br />

dele, e sim <strong>do</strong> grau em que a ajuda <strong>do</strong> professor esteja ajustada<br />

ao nível de necessidade que o aluno apresenta em cada tarefa<br />

de aprendizagem. Pressupõe-se que, quan<strong>do</strong> esse ajuste é<br />

adequa<strong>do</strong>, os avanços serão significativos. Requer a superação<br />

da concepção tradicional <strong>do</strong>s problemas escolares apoia<strong>do</strong>s<br />

em enfoques clínicos centra<strong>do</strong>s nos déficits <strong>do</strong>s alunos e em<br />

tratamentos psico-terapêuticos anexos aos processos escolares.<br />

A busca de alternativas caminha pela proposta de compreensão<br />

desses problemas, a individualização <strong>do</strong> ensino para essas<br />

crianças e opção pela inclusão ao invés da exclusão. Trata-se<br />

de criar novos contextos que atendam as individualidades <strong>do</strong>s<br />

alunos, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> que cada um sabe, de suas potencialidades<br />

e não de suas dificuldades. “<strong>Di</strong>ficuldades de aprendizagem” são<br />

de ensino e de aprendizagem. Ambas estão juntas, é difícil dizer<br />

qual das duas tem mais peso.<br />

De acor<strong>do</strong> com Blin (2005) 7 sem subestimar o efeito de<br />

fatores externos à escola, variadas pesquisas sobre a eficácia<br />

<strong>do</strong> ensino têm demonstra<strong>do</strong> a influência <strong>do</strong>s professores e da<br />

maneira como conduzem a ação pedagógica, não somente sobre<br />

a forma como se dá a aprendizagem <strong>do</strong>s alunos, mas também<br />

sobre o mo<strong>do</strong> com que se comportam em aula. O conhecimento<br />

<strong>do</strong>s processos associa<strong>do</strong>s ao ato de aprender e uma prática<br />

didática capaz de facilitá-los pode minimizar grande parte <strong>do</strong>s<br />

problemas e <strong>do</strong>s rótulos coloca<strong>do</strong>s nos alunos com “dificuldades<br />

de aprendizagem”.<br />

58


O preparo e o bom senso <strong>do</strong> professor é o elemento chave<br />

para que essas questões possam ser mais bem abordadas. A<br />

questão varia de acor<strong>do</strong> com cada etapa da escolarização<br />

e, principalmente, de acor<strong>do</strong> com os traços pessoais de cada<br />

aluno. De um mo<strong>do</strong> geral, há momentos mais estressantes na<br />

vida de qualquer criança, como por exemplo, as mudanças, as<br />

novidades, as exigências de adaptação a uma nova escola ou,<br />

simplesmente, a adaptação à a<strong>do</strong>lescência. São essas fases de<br />

provação afetiva e emocional que vêm à tona as características<br />

da personalidade de cada criança ou a<strong>do</strong>lescente, a fragilidade e<br />

dificuldade superação.<br />

Os professores menos avisa<strong>do</strong>s podem considerar que todas<br />

as crianças sintam e reajam da mesma maneira aos estímulos e<br />

às situações ou acreditar que submeten<strong>do</strong> indistintamente to<strong>do</strong>s<br />

os alunos às mais diversas situações, quaisquer dificuldades<br />

adaptativas (sensibilidades, afetividades, traços de retraimento e<br />

introversão etc), se corrigiriam diante desses desafios ou diante<br />

da possibilidade de exposição ao ridículo. Na realidade, podem<br />

agravar o sentimento de inferioridade, a ponto de a criança ou<br />

a<strong>do</strong>lescente não mais querer freqüentar aquela classe ou se<br />

recusar a ir para a escola.<br />

O “aluno problema” pode ser reflexo de algum transtorno<br />

emocional, muitas vezes origina<strong>do</strong> de relações familiares<br />

conturbadas, de situações trágicas ou transtornos <strong>do</strong><br />

desenvolvimento. Se o fato se tornar um estigma, será um<br />

far<strong>do</strong> a mais, mais um dilema emocional agravante. Para esses<br />

casos, o conhecimento e a sensibilidade <strong>do</strong>s professores<br />

podem se constituir em um bálsamo para corações e mentes<br />

momentaneamente conturba<strong>do</strong>s.<br />

Da didática como fator de prevenção<br />

Segun<strong>do</strong> Perrenoud (2001) 8 mesmo em uma classe cujo<br />

professor é o centro (geográfico) <strong>do</strong> saber, dificilmente ele se<br />

dirige constantemente a to<strong>do</strong>s os alunos e que cada um deles<br />

recebe a mesma orientação, as mesmas tarefas, os mesmos<br />

recursos. Indica as situações abaixo para essa afirmação:<br />

1. O professor interage seletivamente com os alunos e,<br />

por isso, alguns têm, mais que outros, a experiência de serem<br />

ouvi<strong>do</strong>s ou questiona<strong>do</strong>s, felicita<strong>do</strong>s ou repreendi<strong>do</strong>s. Não há<br />

como padronizar a comunicação verbal.<br />

2. Mesmo nas desses professores com postura mais<br />

tradicional, muitas vezes o trabalho é realiza<strong>do</strong> em grupos, e<br />

o professor circula como um recurso para atender os alunos.<br />

Entretanto, a diversidade <strong>do</strong>s ritmos de trabalho pode levar<br />

ao enriquecimento ou ao empobrecimento das tarefas. Assim,<br />

sempre haverá aqueles que terminam primeiro e dispõem de<br />

tempo para brincar, enquanto outros demoram e é preciso<br />

esperá-los.<br />

Coloca ainda o autor, que se levarmos em conta o currículo<br />

real como uma série de experiências, ficará evidente que este<br />

currículo é heterogêneo, pois são percursos distintos, apesar de<br />

freqüentarem a mesma sala, com o mesmo professor durante<br />

anos. A individualização de itinerários educativos é possível para<br />

os professores, pois ao invés de uma individualização deixada<br />

ao acaso, é possível realizá-los deliberadamente, isto é, planejar<br />

um leque de possibilidades de acor<strong>do</strong> com as necessidades<br />

diversas <strong>do</strong>s sujeitos.<br />

Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />

Da escola como ambiente intermediário entre a família e<br />

a sociedade – os pressupostos para o desenvolvimento <strong>do</strong><br />

Programa de interação Família e Escola<br />

A escola oferece um ambiente propício para as manifestações<br />

emocionais da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. É onde cada criança ou<br />

a<strong>do</strong>lescente é comparada com seus pares, com seu grupo etário<br />

e social. Nesse ambiente o professor é o profissional com maiores<br />

possibilidades de detectar e mediar os problemas cruciais da<br />

vida e <strong>do</strong> desenvolvimento desses educan<strong>do</strong>s.<br />

Dentro da sala de aula há situações significativas nas quais os<br />

professores podem atuar tanto beneficamente quanto conscientes<br />

ou inconscientemente, agravan<strong>do</strong> condições emocionais <strong>do</strong>s<br />

alunos. São situações emocionais próprias de sua constituição<br />

(ou personalidade) ou manifestações de suas vivências sociais<br />

e familiares (ansiedade de separação na infância, transtornos<br />

obsessivo – compulsivos, autismo infantil, deficiência mental,<br />

déficit de atenção, morte na família, separações conjugais,<br />

<strong>do</strong>enças graves etc). Um ambiente escolar acolhe<strong>do</strong>r onde os<br />

educa<strong>do</strong>res a<strong>do</strong>tem uma postura ética em relação ao aluno<br />

possibilitará o desenvolvimento de suas potencialidade e criará<br />

uma rede de proteção contra as vulnerabilidades a que estão<br />

sujeitos to<strong>do</strong>s seres em desenvolvimento.<br />

Os pressupostos da Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da<br />

Educação/1996 e as metas <strong>do</strong> Plano Nacional de Educação<br />

definem que a criança deve ser chamada a freqüentar o Ensino<br />

Fundamental a partir <strong>do</strong>s seis anos dentro de uma perspectiva<br />

de educação de qualidade, portanto, uma educação socialmente<br />

relevante. Entretanto, uma educação de qualidade caracterizase<br />

por um conjunto de fatores intra - escolares e sociais que<br />

dizem respeito às condições de vida <strong>do</strong>s alunos e de suas<br />

famílias, ao seu contexto social, cultural e econômico e, à própria<br />

escola – professores, diretores, projeto pedagógico, recursos,<br />

instalações, estrutura organizacional, ambiente escolar e relações<br />

intersubjetivas no cotidiano escolar. É certo que esses múltiplos<br />

fatores estão inter–relaciona<strong>do</strong>s e nenhum deles responde<br />

isoladamente por qualquer mudança e, por isso, os programas<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para incidir sobre os problemas identifica<strong>do</strong>s devem<br />

estar articula<strong>do</strong>s.<br />

Presume-se que os fatores referentes à escola situam-se<br />

dentro das possibilidades de intervenção <strong>do</strong>s gestores de políticas<br />

públicas na esfera da educação. Os fatores extras – escolares<br />

dependem de macropolíticas que interfiram nas condições das<br />

famílias e <strong>do</strong>s programas oficiais de combate à exclusão social.<br />

De qualquer maneira, não basta legalmente propiciar o acesso<br />

aos seis anos e excluí-las da permanência na escola.<br />

A simples aceitação dessa realidade nos acomodará<br />

diante <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s escolares que indicam altos índices de<br />

insucessos diagnostica<strong>do</strong>s como repetência, cujas causas<br />

deveriam ser pesquisadas com maior rigor científico. Considerará<br />

que a competência <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes atingiu o máximo de suas<br />

possibilidades diante <strong>do</strong> aluna<strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r de todas as múltiplas<br />

necessidades criadas ou impostas por fatores extra–escolares.<br />

É aceitar comodamente uma situação como irreversível e assim<br />

<strong>do</strong>rmir sem remorsos o sono <strong>do</strong>s justos.<br />

A revolução no ensino terá resulta<strong>do</strong>s consistentes quan<strong>do</strong><br />

se fixar a intenção de reverter a situação de baixa qualidade<br />

da aprendizagem na educação como meta e bandeira de uma<br />

proposta política-pedagógica. Exigirá, por um la<strong>do</strong>, identificar os<br />

condicionantes <strong>do</strong> problema, e por outro la<strong>do</strong>, refletir sobre a<br />

construção de estratégias de mudança desse quadro.<br />

Essa tomada de posição deve reconhecer que a<br />

responsabilidade de educar as crianças a partir <strong>do</strong>s seis anos<br />

significa conhecer as vulnerabilidades que afetam a infância<br />

59


<strong>do</strong>s seis aos <strong>do</strong>ze anos e o poder público deve estar apto a<br />

implementar to<strong>do</strong>s os mecanismos de proteção, ten<strong>do</strong> como<br />

referências as diferentes etapas <strong>do</strong> desenvolvimento humano - o<br />

aprendiza<strong>do</strong> escolar, as relações interpessoais e a construção de<br />

uma imagem de si; vistos como desafios a serem enfrenta<strong>do</strong>s<br />

pela criança, com o suporte da família e da escola.<br />

Envolver a família na educação escolar pode significar a sua<br />

participação nos trabalhos realiza<strong>do</strong>s pela escola para criar uma<br />

atmosfera que fortaleça o desenvolvimento e a aprendizagem<br />

das crianças nesses <strong>do</strong>is ambientes socializa<strong>do</strong>res – a escola e a<br />

família (Reali e Tancredi, 2001) 9 . Segun<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s de pesquisas<br />

sobre o interesse <strong>do</strong>s pais pelo processo de escolarização <strong>do</strong>s<br />

filhos indica<strong>do</strong>s pelas autoras, constata-se que de maneira geral<br />

aspiram para seus filhos uma escola de qualidade, comprometida<br />

com o ensino de conteú<strong>do</strong>s e habilidades. Entendem (e<br />

esperam) que tais aprendizagens propiciarão uma melhora nas<br />

condições de vida. Consideram a escola como principal local<br />

de aprendizagem de seus filhos e a maioria se preocupa com<br />

o acompanhamento das atividades escolares e em conhecer<br />

pessoalmente o(a) professor(a) <strong>do</strong>s filhos.<br />

Um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em 2001 pelas autoras em uma escola<br />

municipal de educação infantil que pretendia estreitar os laços<br />

com as famílias <strong>do</strong>s alunos, indica o grande interesse <strong>do</strong>s pais<br />

pela escola e pelo aprendiza<strong>do</strong> de seus filhos. Entretanto, os<br />

professores demonstraram concepções preconceituosas com<br />

generalização de características negativas presentes em uma<br />

parcela da comunidade escolar. De forma geral, subestimam a<br />

motivação <strong>do</strong>s pais nas questões escolares e a sua capacidade de<br />

compreender o que se ensina nas escolas. Esse estu<strong>do</strong> forneceu<br />

para as pesquisa<strong>do</strong>ras fortes elementos para a necessidade de<br />

investigar mais profundamente as bases das concepções que<br />

os professores têm sobre os alunos e seus familiares e buscar<br />

formas de modificar essas crenças por meio de programas de<br />

formação continuada centra<strong>do</strong>s na escola.<br />

As diversas situações estudadas pelas professoras (Reali e<br />

Tancredi, 2001) nos projetos de extensão da Universidade Federal<br />

de São Carlos (SP), reforçam a necessidade de se investir numa<br />

melhor compreensão <strong>do</strong>s processos envolvi<strong>do</strong>s nas relações<br />

famílias – escola. Ten<strong>do</strong> o professor como elemento–chave nessas<br />

relações, pode-se conceber o estabelecimento de interações<br />

buscan<strong>do</strong> estratégias adequadas para que os pais ajudem seus<br />

filhos nas tarefas escolares (ou tarefa casa), sem desrespeitar suas<br />

características culturais e disponibilidades, entre outros aspectos.<br />

Não há caminhos para o estabelecimento de regras gerais para a<br />

implementação de mo<strong>do</strong>s de comunicação únicos entre a escola e<br />

as famílias, nem de se propor um modelo único de interação entre<br />

essas instituições ou um padrão para definir o papel da família em<br />

relação às questões escolares. O que importa é a percepção <strong>do</strong><br />

professor quanto à importância de se conhecer a família de seus<br />

alunos e de propiciar a sua aproximação com a escola.<br />

Na literatura que subsidiou este trabalho, existe unanimidade<br />

em reconhecer o fato de que a família precisa ser tratada com<br />

prioridade na política educacional enquanto co-responsável na<br />

educação <strong>do</strong>s filhos, condição essa essencial para o sucesso<br />

escolar. Não basta conhecer as crenças e as interações individuais<br />

<strong>do</strong>s professores. É fundamental identificá-las e compreendê-las<br />

no contexto <strong>do</strong> grupo de educa<strong>do</strong>res para o fortalecimento de<br />

uma parceria produtiva e para uma aprendizagem de sucesso. O<br />

estreitamento de relações entre família e escola é um caminho de<br />

mão dupla que exige a construção de objetivos comuns, origina<strong>do</strong><br />

e fomenta<strong>do</strong> pela escola ten<strong>do</strong> como finalidade a oferta de um<br />

ensino de qualidade. A contrapartida desta ação é a reflexão<br />

sobre os méto<strong>do</strong>s de ensino a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>centes. Estariam<br />

adequa<strong>do</strong>s ao universo de populações majoritariamente de baixa<br />

Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />

renda e de baixo nível cultural, além da ocorrência de situações<br />

de vulnerabilidade que refletem sobre as características físicas,<br />

biológicas e neurológicas das crianças?<br />

Da necessidade à viabilidade - uma construção coletiva<br />

No Município de Taboão da Serra, o Decreto Municipal nº.<br />

033, assina<strong>do</strong> em 28 de maio de 2005 10 , expressou-se essa<br />

determinação. O envolvimento <strong>do</strong>s pais e das mães, antes<br />

limita<strong>do</strong> e informal, ampliou-se para a rede pública municipal de<br />

ensino com a implantação <strong>do</strong> Programa que se intitulou “Interação<br />

Família e Escola”, tornan<strong>do</strong>-se os principais protagonistas da<br />

ação educativa e <strong>do</strong> sucesso escolar da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente,<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s professores.<br />

Assim proposto, todas as unidades de Ensino Fundamental<br />

(20 Escolas Municipais de Ensino Fundamental – EMEF’s),<br />

tornaram-se sede de projetos com participação inicial de 410<br />

<strong>do</strong>centes <strong>do</strong>s anos iniciais <strong>do</strong> Ensino Fundamental de Nove Anos<br />

(de série inicial a 4ª. Série), representan<strong>do</strong> aproximadamente<br />

60% <strong>do</strong>s professores de Ensino Fundamental I 11 em exercício.<br />

A coordenação <strong>do</strong> Programa coube à equipe gestora (diretores,<br />

assistentes e coordena<strong>do</strong>res pedagógicos). A elaboração <strong>do</strong>s<br />

projetos pedagógicos das unidades escolares se fez dentro <strong>do</strong>s<br />

respectivos Planos de Gestão (2005 a 2009), respeitan<strong>do</strong>-se a<br />

especificidade local.<br />

Além disso, estabeleceu-se que os relatórios serão redigi<strong>do</strong>s<br />

pelos “professores – visita<strong>do</strong>res”. Esses relatórios subsidiarão<br />

os estu<strong>do</strong>s, pesquisas e reflexões em HTC -Horário de Trabalho<br />

Coletivo na busca conjunta de alternativas às dificuldades e<br />

desafios que cada escola enfrentará, procuran<strong>do</strong>-se definir os<br />

encaminhamentos mais adequa<strong>do</strong>s: aos órgãos municipais<br />

(secretarias de Saúde, Ação Social e Cidadania, Habitação),<br />

à equipe multidisciplinar 12 para avaliação diagnóstica, à<br />

coordenação da secretaria de educação etc.<br />

Dos eixos nortea<strong>do</strong>res das ações <strong>do</strong> Programa de<br />

interação entre a Família e a Escola<br />

Face ao exposto e, consideran<strong>do</strong> a importância de se<br />

desenvolver uma meto<strong>do</strong>logia de aproximação entre escolas e<br />

famílias a fim de garantir às crianças e a<strong>do</strong>lescentes o direito<br />

a uma educação de qualidade e a salvo de toda forma de<br />

negligência e de discriminação; e os professores como elementos<br />

chave <strong>do</strong> processo ensino-aprendizagem e, portanto, das ações<br />

escolares, incluin<strong>do</strong> as de interação escola-família; elegemos os<br />

seguintes eixos nortea<strong>do</strong>res:<br />

1. Uma meto<strong>do</strong>logia que seja de pesquisa e de intervenção<br />

no processo de ensino e de aprendizagem para garantia <strong>do</strong><br />

sucesso escolar <strong>do</strong> aluno. Constituir-se numa alternativa de<br />

formação continuada de professores para os problemas de<br />

aprendizagem encontradas no cotidiano da escola.<br />

2. Serão os professores-visita<strong>do</strong>res que irão buscar<br />

conhecimentos, informações e subsídios no seio da família<br />

<strong>do</strong> aluno que servirá de apoio para garantir o sucesso escolar<br />

da criança ou <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. O envolvimento <strong>do</strong>s pais e das<br />

mães formalizar-se-á na proposta de parceria família – escola,<br />

como meta <strong>do</strong> desenvolvimento de uma política educacional<br />

centrada na família. A cada ano letivo, a escola promoverá<br />

parcerias que elevarão o envolvimento e participação da família<br />

na promoção <strong>do</strong> crescimento social, emocional e acadêmico<br />

das crianças e <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes. Os objetivos da parceria<br />

serão amplos, abrangen<strong>do</strong> desde a assistência às necessidades<br />

especiais <strong>do</strong>s estudantes e <strong>do</strong>s próprios pais e mães em<br />

desvantagem social, até a obrigação de estes promoverem<br />

60


o desenvolvimento acadêmico de seus filhos, apoian<strong>do</strong> o<br />

dever de casa, e ainda a obrigação de participarem da gestão<br />

escolar, acenan<strong>do</strong> com possibilidades de excelência e eqüidade<br />

educacionais. Efeitos perversos podem ser os decorrentes de<br />

visão romântica <strong>do</strong> envolvimento <strong>do</strong>s pais que esconde diversas<br />

concepções de educação, família e escola, bem como, conflitos<br />

potenciais nas relações entre pais/mães e professores, e<br />

mesmo entre grupos de pais/mães, associa<strong>do</strong>s à diversidade de<br />

classe, etnia, organização familiar e valores. Evitar tais efeitos é<br />

responsabilidade que deve ser atribuída aos estu<strong>do</strong>s reflexivos e<br />

à pesquisa, que certamente serão desencadea<strong>do</strong>s ao longo da<br />

execução <strong>do</strong> Programa.<br />

3. O terceiro eixo nortea<strong>do</strong>r é entrelaça<strong>do</strong> com os <strong>do</strong>is<br />

primeiros que nos leva ao conhecimento <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res da<br />

vulnerabilidade da criança a partir <strong>do</strong>s seis anos. Permite<br />

traçar a trajetória <strong>do</strong> seu desenvolvimento escolar ao longo<br />

de sua infância e criar uma ampla rede de proteção social<br />

principalmente nos casos encaminha<strong>do</strong>s pelos educa<strong>do</strong>res como<br />

crianças porta<strong>do</strong>ras de grandes dificuldades de aprendizagem.<br />

As causas desses problemas quase sempre se apresentam<br />

associa<strong>do</strong>s a comprometimentos de outra natureza – problemas<br />

de ordem emocional e comportamental que ultrapassam o<br />

âmbito escolar, poden<strong>do</strong> afetar a vida da criança na família e nas<br />

relações interpessoais. Por exemplo, as crianças ex–prematuras,<br />

na fase escolar podem apresentar dificuldades na fala, gagueira<br />

e me<strong>do</strong>. Podem ter comportamentos desobedientes, agita<strong>do</strong>s,<br />

impacientes, irrequietos, briguentos, tristonhos, destrutivos,<br />

difícil relacionamento com outras crianças. Podem ser crianças<br />

vulneráveis para o enfrentamento das demandas e desafios de<br />

tarefas evolutivas da própria fase escolar e via de regra, tem<br />

menor sensibilidade à instrução e requer maior mediação social<br />

de desenvolvimento e aprendizagem (Maturano et all, 2004) 13<br />

4. Para crianças assim diagnosticadas há que se traçar<br />

uma rede de proteção pedagógica mediante a utilização de<br />

meto<strong>do</strong>logias adequadas de intervenção no processo de ensino<br />

para que o fracasso escolar associa<strong>do</strong> a outras circunstâncias<br />

adversas não aumente o nível de vulnerabilidade.<br />

5. Um sistema educacional que busca qualidade social deve<br />

prover, além das alternativas meto<strong>do</strong>lógicas de ensino, todas as<br />

possibilidades de prevenção e de intervenção para impedir<br />

que fatores adversos interfiram na aprendizagem. Por<br />

exemplo, saúde bucal com prevenção para bom desenvolvimento<br />

da dentição, garante níveis compatíveis de acuidade auditiva e<br />

visual, nutrição saudável, entre outros.<br />

6. rejeição <strong>do</strong> estereótipo de “crianças que não aprendem”<br />

que tradicionalmente atua no sistema escolar de maneira geral<br />

como uma profecia auto–realiza<strong>do</strong>ra em que, tratada como<br />

fracassada de antemão pelos pais e mestres, a criança fracassa,<br />

e ao fracassar, comprova o estereótipo e o reforça. Conhecer<br />

os impactos da dificuldade de aprendizagem no comportamento<br />

infantil é um desafio permanente <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, discutir o padrão de<br />

queixas <strong>do</strong>s professores e <strong>do</strong>s pais e promover o enfrentamento<br />

dessas crianças para vencer as diversas situações pedagógicas,<br />

e ao final garantir o sucesso escolar torna-se a maior grandeza <strong>do</strong><br />

Programa de Interação entre a Família e a Escola, uma proposta<br />

renova<strong>do</strong>ra de lançar um olhar afetivo a todas as crianças e, em<br />

seu benefício, construir na educação municipal de Taboão da<br />

Serra, uma proposta de ensino de qualidade social.<br />

Dos mecanismos de acompanhamento e de avaliação<br />

A avaliação é fundamental para a transparência <strong>do</strong> Programa<br />

e seus objetivos, tornan<strong>do</strong> reconhecíveis as limitações, os<br />

aspectos positivos, bem como tornar possibilitar a orientação<br />

Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />

de novas iniciativas e melhoria qualitativa <strong>do</strong> próprio Programa.<br />

Acima de tu<strong>do</strong> é instrumento que garante o diálogo permanente<br />

com os professores em formação, proporcionan<strong>do</strong> a participação<br />

autêntica em sua própria educação (Demo, 1999) 14<br />

Os resulta<strong>do</strong>s para definição <strong>do</strong>s Padrões de Excelência <strong>do</strong><br />

Programa de Interação Família e Escola enquanto instrumento<br />

de formação continuada <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res deverá resultar da<br />

constatação <strong>do</strong>s seguintes elementos:<br />

1. Ampliação da visão <strong>do</strong> espaço de aprendizagem, partin<strong>do</strong><br />

da idéia que professores e alunos podem vivenciar experiências<br />

educativas que vão além <strong>do</strong>s limites da sala de aula.<br />

2. A<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> conceito de ensinar e aprender como direito<br />

humano, a partir de uma visão da escola integrada na vida da<br />

comunidade.<br />

3. A promoção <strong>do</strong> engajamento <strong>do</strong>s professores para<br />

atuarem com temáticas relacionadas à ética, direitos humanos,<br />

convivência democrática e inclusão social, tanto no âmbito<br />

escolar quanto no entorno da escola.<br />

4. Serão indica<strong>do</strong>res quantificáveis: a apropriação <strong>do</strong><br />

potencial advin<strong>do</strong> da família para melhoria <strong>do</strong> processo de ensino<br />

e de aprendizagem; a integração <strong>do</strong>s professores e respectiva<br />

escola com a riqueza cultural <strong>do</strong> entorno; a apropriação de<br />

novos conhecimentos a partir <strong>do</strong> envolvimento com diversos<br />

dispositivos culturais e formas de expressão da comunidade; o<br />

uso intenso e significativo <strong>do</strong>s inúmeros recursos e equipamentos<br />

culturais existentes na localidade (bairro), na cidade de Taboão<br />

da Serra e região ampliada (São Paulo)<br />

A meto<strong>do</strong>logia de avaliação proposta tem na percepção <strong>do</strong><br />

papel <strong>do</strong> professor envolvi<strong>do</strong> no Programa de Interação Família<br />

e Escola, importância para o seu próprio desenvolvimento<br />

profissional – como sujeito ativo que constrói novos conhecimentos<br />

acerca <strong>do</strong> seu ensinar. Essa reflexão (Schön, 1992) 15 sobre a<br />

prática no decorrer <strong>do</strong> processo formativo é enfatizada na imensa<br />

literatura que trata da formação continuada <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res para<br />

a construção <strong>do</strong> que se tem chama<strong>do</strong> “conhecimento prático <strong>do</strong><br />

professor” (Nóvoa, 1992) 16 .<br />

A prática reflexiva envolve o reconhecimento da importância<br />

<strong>do</strong>s professores como sujeitos na formulação de propostas,<br />

no exame permanente de seus valores e suposições e que<br />

reconheçam a importância de seu papel de liderança na<br />

elaboração <strong>do</strong> currículo e na mudança da escola para definição<br />

de propostas socialmente relevantes.<br />

Uma proposta de formação continuada assim formulada<br />

parte <strong>do</strong> pressuposto de se oferecer condições para que os<br />

participantes partilhem experiências vividas na especificidade de<br />

cada escola e conversem entre si tornan<strong>do</strong> esse espaço, o centro<br />

de discussões que cria condições favoráveis para o repensar<br />

da prática e possibilita avaliar seu desempenho profissional, ao<br />

mesmo tempo em que promove o engajamento no processo de<br />

melhoria da educação. Portanto, a avaliação como constitutivo<br />

da formação, torna-se fundante no processo de viabilização <strong>do</strong><br />

Programa tanto no que se refere ao acompanhamento e registro<br />

quanto à sistematização. A discussão com os educa<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Programa ressaltou necessidade de estabelecer alguns<br />

indica<strong>do</strong>res, tais como:<br />

1. Caracterização <strong>do</strong>s professores participantes (sua<br />

formação, idade, tempo de magistério)<br />

2. Desenvolvimento de formas de acompanhamento <strong>do</strong>s<br />

grupos (cada escola = um grupo) através <strong>do</strong>s segmentos<br />

de coordenação (um em cada escola) visan<strong>do</strong> detectar<br />

transformações nas concepções e na prática pedagógica <strong>do</strong>s<br />

componentes <strong>do</strong> grupo sob sua coordenação.<br />

61


3. Entrevistas com professores de cada grupo-escola para<br />

identificar transformações nas concepções e nas práticas<br />

pedagógicas (relatos descreven<strong>do</strong> suas práticas, reconhecimento<br />

de transformações e <strong>do</strong>s fatores que influenciaram as<br />

transformações).<br />

4. No grupo de coordena<strong>do</strong>res, identificar os mecanismos<br />

utiliza<strong>do</strong>s para estabelecimento de canais de comunicação entre<br />

os professores e formas de encaminhamento das ações <strong>do</strong><br />

Programa de Interação Família e Escola.<br />

Das perspectivas<br />

A análise de resulta<strong>do</strong>s preliminares (2005) anuncia<br />

perspectivas alenta<strong>do</strong>ras, tais como:<br />

1. Em relação à escola:<br />

• Maior aproximação das famílias, sobretu<strong>do</strong> em relação ao<br />

professor;<br />

• Acompanhamento pelos pais das atividades da escola, por<br />

exemplo, as tarefas;<br />

• <strong>Di</strong>scussão em HTC para replanejamento;<br />

• Maior compreensão das dificuldades apresentadas pelos<br />

alunos;<br />

• Estabelecimento de uma certa cumplicidade entre o<br />

professor e o aluno;<br />

• Maior participação de professores no Programa;<br />

2. Em relação à formação:<br />

• Realização de um Encontro de educa<strong>do</strong>res participantes <strong>do</strong><br />

Programa, nos dias 7 e 8 de julho de 2005;<br />

• Oferta de vagas no curso de extensão em educação<br />

comunitária na Universidade de São Paulo (USP)-Leste em<br />

parceria com o Projeto Aprendiz.<br />

• Produção de um vídeo com depoimentos de pais,<br />

professores e alunos.<br />

Em dezembro de 2005, o Programa Interação Família Escola<br />

recebeu destaque especial como finalista no Prêmio Objetivos<br />

de Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio (ODM) 17<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e Saúde Coletiva.<br />

Revista Ciência & Saúde Coletiva . II (1-2), 1997.<br />

CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. A família enquanto<br />

objeto de política educacional: crítica ao modelo americano de<br />

envolvimento <strong>do</strong>s pais na escola. Paraíba: Universidade Federal<br />

da Paraíba (www.educacaoonline.pro.br)<br />

DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. Campinas: Autores<br />

Associa<strong>do</strong>s, 1999.<br />

FOLLARI, R.A. Algumas considerações práticas sobre a<br />

interdisciplinaridade. in BRANCHETTI L. e JANTSCH. A. A<br />

interdisciplinaridade para além da filosofia <strong>do</strong> sujeito. Petrópolis:<br />

Vozes, 1995<br />

GRÜN, M. Questionan<strong>do</strong> os pressupostos epistemológicos da<br />

educação ambiental: a caminho de uma nova ética. Porto Alegre,<br />

1955 (dissertação de mestra<strong>do</strong>. UFRGS)<br />

MEDINA, Carlos Alberto de. Família e Mudança. Rio de<br />

Janeiro: Vozes, 1974 (www.tvebrasil.com.br)<br />

MATURANO, Edna Maria; LINHARES, Maria Beatriz Martins<br />

e LOUREIRO, Sonia Regina (Coordena<strong>do</strong>res). Vulnerabilidade<br />

e Proteção – Indica<strong>do</strong>res na Trajetória de Desenvolvimento <strong>do</strong><br />

Escolar. São Paulo: FAPESP – Casa <strong>do</strong> Psicólogo, 2004.<br />

MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. A proteção da criança<br />

no cenário internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.<br />

REALI, Aline M. de Medeiros Rodrigues e TANCREDI, Regina<br />

M. Simões Puccinelli.<br />

SAVIANI, D. Educação: <strong>do</strong> senso comum à consciência<br />

filosófica. São Paulo: Cortez, Legislação<br />

BRASIL. Constituição Federativa <strong>do</strong> Brasil, 1988.<br />

BRASIL. Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, 1990.<br />

BRASIL. Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.<br />

BRASIL. Plano Nacional de Educação, 2001.<br />

BLIN, Jean-François. Classes difíceis: ferramentas para<br />

prevenir e administrar os problemas escolares. Porto Alegre:<br />

Artmed, 2005.<br />

FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo, SP:<br />

Cortez, 3ª ed,1999.<br />

PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças:<br />

fragmentos de uma sociologia <strong>do</strong> fracasso. Porto Alegre: Artmed<br />

Editora, 2001.<br />

WEISS, Alba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia R. A<br />

Informática e os Problemas Escolares de Aprendizagem. Rio de<br />

Janeiro: Ed. DP&A, 1999.<br />

NoTAS<br />

1- Texto preliminar foi inicialmente elabora<strong>do</strong> no decorrer de 2005, para<br />

subsidiar o Projeto Pedagógico <strong>do</strong> Programa de Interação Família e<br />

Escola, na gestão César Callegari, Secretário Municipal de Educação no<br />

município de Taboão da Serra (SP) a partir de 2005. <strong>Di</strong>stribuí<strong>do</strong> à Rede<br />

Pública Municipal para discussão, em dezembro de 2005.<br />

2- Foi <strong>Di</strong>retora de Formação na Secretaria Municipal de Educação de<br />

Taboão da Serra e responsável pela Formação Continuada e, nessa<br />

qualidade, participou <strong>do</strong> Programa de Interação Família e Escola até<br />

maio de 2005. Professora de <strong>Di</strong>dática e Prática de Ensino para a Educação<br />

Infantil na FAMEC.<br />

3- Texto elabora<strong>do</strong> inicialmente pela profª Mitsuko Yamasaki Marques,<br />

Assistente de Secretário (gestão Cesar Callegari, 2005/6) da Secretaria<br />

Municipal de Educação de Taboão da Serra (SP), junto à Equipe de<br />

Formação.<br />

4- Da<strong>do</strong>s referentes a 2004. Secretaria Municipal de Educação – SEMUEC.<br />

Documento preliminar subsídios para elaboração <strong>do</strong><br />

Plano <strong>Di</strong>retor - março 2005.<br />

Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />

5- FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo, SP: Cortez, 3ª<br />

ed,1999.<br />

6- WEISS, Alba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia R. A Informática e<br />

os Problemas Escolares de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Ed. DP&A,<br />

1999.<br />

7- BLIN, Jean-François. Classes difíceis: ferramentas para prevenir e<br />

administrar os problemas escolares. Porto Alegre: Artmed, 2005.<br />

8- Perrenoud, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos<br />

de uma sociologia <strong>do</strong> fracasso. Porto Alegre: Artmed, 2001.<br />

9- REALI, Aline M. de Medeiros e TANCREDI, Regina M. Simões Puccinelli.<br />

Desenvolven<strong>do</strong> uma meto<strong>do</strong>logia de aproximação entre a escola e a<br />

família <strong>do</strong>s alunos com parceria da Universidade . São Carlos: Anais <strong>do</strong><br />

IV SEMPE – Seminário de Meto<strong>do</strong>logia para Projetos de Extensão, pp<br />

29-31, agosto de 2001. (http://www.ufscar.br)<br />

62


10- Gestão de César Callegari, Secretário Municipal de Taboão da Serra,<br />

2005/6.<br />

11- Com a implantação <strong>do</strong> Ensino Fundamental de 9 anos, esse segmento<br />

se refere aos professores <strong>do</strong> 1°ano (antiga pré-escola ao 5° ano (antiga<br />

4ª série).<br />

12- Grupo constitui<strong>do</strong> de um médico pediatra, duas assistentes sociais,<br />

psicóloga, fonoaudióloga e pedagogas.<br />

13- MATURANO, Edna Maria; LINHARES, Maria Beatriz Martins e<br />

LOUREIRO, Sonia Regina (Coordena<strong>do</strong>res). Vulnerabilidade e Proteção<br />

– Indica<strong>do</strong>res na Trajetória de Desenvolvimento <strong>do</strong> Escolar. São Paulo:<br />

FAPESP – Casa <strong>do</strong> Psicólogo, 2004.<br />

14- DEMO, Pedro . Avaliação Qualitativa . Campinas: Autores Associa<strong>do</strong>s,<br />

1999.<br />

15- SCHÖN, Donald A. Educan<strong>do</strong> o profissional reflexivo: um novo design<br />

para o ensino e a aprendizagem . Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.<br />

16- NÓVOA, Antonio . Os professores e sua formação . Lisboa: Dom<br />

Quixote, 1995.<br />

17- Uma iniciativa <strong>do</strong> governo federal, <strong>do</strong> Programa das Nações Unidas<br />

para o Desenvolvimento (PNUD) e <strong>do</strong> Movimento Nacional pela Cidadania<br />

e Solidariedade que premia projetos de inclusão social, alcance da<br />

cidadania e promoção <strong>do</strong>s direitos humanos.<br />

Interação Família e Escola – Uma Experiência Inova<strong>do</strong>ra.<br />

63


O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />

principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática 1 .<br />

rESumo<br />

O presente artigo faz comentários sintéticos sobre os<br />

conteú<strong>do</strong>s aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática I, ressaltan<strong>do</strong><br />

elementos fundamentais das tendências pedagógicas brasileiras,<br />

da identidade <strong>do</strong>cente e <strong>do</strong>s instrumentos didático pedagógicos,<br />

como planejamento e plano e o uso de tecnologias. Neste<br />

exercício, procura ainda contextualizar mais detalhadamente o<br />

crescimento <strong>do</strong> sistema apostila<strong>do</strong> de ensino, como exemplo da<br />

abordagem tecnicista.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Tendências pedagógicas brasileiras, identidade <strong>do</strong>cente,<br />

sistema apostila<strong>do</strong> de ensino, planejamento e plano.<br />

ABSTrACT<br />

This work presents synthetic commentaries the boarded<br />

contents of the course of <strong>Di</strong>dactic I, standing out basic elements<br />

of the Brazilian pedagogical trends, the identity of the teachers<br />

about and the pedagogical instruments, as the planning, the<br />

plan and the use of technologies. In this exercise, it still looks for<br />

more development of the location of the growth of the emended<br />

education system, as example of the technicist approaching.<br />

KEYworDS:<br />

Celina Bragança 2<br />

Brazilian pedagogical trends, teaching identity, emended<br />

system of education, planning and plan.<br />

64


Vou iniciar esta reflexão relembran<strong>do</strong> a infância. Afinal, pensar<br />

sobre identidade implica necessariamente um olhar generoso e<br />

atento sobre a nossa história, não?<br />

Quero retomar especificamente um conto simples, recorrente<br />

nas nossas vidas pela sua importância no imaginário coletivo<br />

ocidental: “O Patinho Feio”. O enre<strong>do</strong>, explícito em seus<br />

propósitos “educativos”, apresenta de forma poética a estória de<br />

um filhote de cisne que, por acidente, acaba por nascer entre os<br />

patos. A partir daí, transcorrem os sofrimentos e angústias para<br />

sentir-se acolhi<strong>do</strong>, o que só se viabiliza depois que a busca <strong>do</strong><br />

próprio personagem acaba por levá-lo a conhecer seus iguais – e<br />

a se Re-conhecer.<br />

re-conhecer, grifo. Conhecer de novo, revisitar o seu próprio<br />

pensar, romper com o condicionamento a partir de uma visão<br />

simplista e dicotômica – agostiniana- de que há apenas “O certo<br />

e O erra<strong>do</strong>”.<br />

Sem rodeios, acredito em uma identidade constituída a partir<br />

da revelação <strong>do</strong> seu certo e <strong>do</strong> seu erra<strong>do</strong> – claro, respeita<strong>do</strong>s<br />

os limites de uma vida em um ambiente coletivo. Afinal, o mun<strong>do</strong><br />

não tem apenas patos – há também os cisnes, os marrecos, os<br />

gansos... E a beleza se apresenta em cada um deles (e em tantos<br />

outros que não citamos...).<br />

Em um mun<strong>do</strong> que nos estimula a introjetar passivamente,<br />

no entanto, um padrão único de realização e felicidade – conta<br />

bancária polpuda, corpo atlético molda<strong>do</strong> por academias, roupas<br />

pré-determinadas, apetrechos tecnológicos descarta<strong>do</strong>s e<br />

substituí<strong>do</strong>s anual ou semestralmente – como arcar com o ônus<br />

de refletir sobre seus próprios caminhos, e encontrar referências<br />

autônomas de ser? Ou mais – para que fazê-lo?<br />

É aí, a meu ver, que podemos – e devemos falar em Educação.<br />

Em uma “Educação” assim, com letra maiúscula: processual,<br />

contínua e múltipla – focada em uma densa relação entre<br />

formação e trans - formação (além da formação, literalmente). E<br />

vale retomar nosso protagonista “empresta<strong>do</strong>” – o patinho (que<br />

se achava...) feio.<br />

Acredito que devamos destacar um elemento central na<br />

questão da identidade: a auto-estima. A busca <strong>do</strong> “patinho”<br />

é uma luta interna contra seu próprio olhar depreciativo: uma<br />

espécie de avesso <strong>do</strong> mito de Narciso, o personagem acredita<br />

ser “menos” <strong>do</strong> que os outros, portanto, não merece<strong>do</strong>r de<br />

conquistas em sua vida.<br />

A descoberta da identidade, e seu exercício pleno, é<br />

condição imprescindível para o efetivo exercício da educação<br />

crítica, transforma<strong>do</strong>ra. E assim o é porque, em sala de aula, é<br />

preciso atuar no resgate da autoestima em ambos os extremos<br />

da relação professor/aluno – protagonistas não de um conto,<br />

mas da própria existência.<br />

Segun<strong>do</strong> Morin 3 , é preciso retomar, pela via da educação, a<br />

visão ampla e integrada <strong>do</strong> saber: é o que ele destaca como<br />

desafio para o século XXI. E este desafio, ressaltemos, diz<br />

também respeito a desconstruir o paradigma descartiano que<br />

segmenta corpo e mente (e fundamenta uma prática pedagógica<br />

fragmentada, proposta e implementada a partir <strong>do</strong>s ideais de<br />

Comte – atualmente hipertrofiada).<br />

Paulo Freire traduziu de forma precisa o que também a nós<br />

angustia, como registrou Fávaro:<br />

“Paulo Freire (1975) referia-se à prática escolar como ‘prática<br />

epistemológica da educação para <strong>do</strong>mesticação’, uma prática<br />

que, segun<strong>do</strong> ele, se baseia na dicotomia entre ‘saber e trabalhar,<br />

pensar e fazer, informar e formar, reconhecer os conhecimentos<br />

existentes e criar novos conhecimentos’. Nesse tipo de prática<br />

O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />

principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />

que, sem me<strong>do</strong>, podemos dizer que ainda prevalece nas nossas<br />

escolas, ‘saber consiste em receber informações ou estocar os<br />

depósitos constituí<strong>do</strong>s pelos outros’. Trata-se de uma prática<br />

que consiste em anestesiar ou ‘(des)dialetizar’ o pensamento,<br />

o que leva a uma percepção, como diz ele, ‘focalizada’ da<br />

realidade, em vez de uma visão ‘totalizada” 4 .<br />

Perceber sua identidade significa, portanto, exercer os<br />

valores pessoais, a visão de mun<strong>do</strong> e a própria história na vida<br />

profissional cotidiana. No processo ensino/ aprendizagem,<br />

esta visão plena traduz-se em aplicar o próprio repertório de<br />

referências na construção <strong>do</strong>s elos facilita<strong>do</strong>res da convergência<br />

entre os conteú<strong>do</strong>s e a vivência <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

Significa extrair e ofertar novos nexos que permitam a efetiva<br />

aproximação <strong>do</strong>s “conhecimentos universais” em um movimento<br />

que dá senti<strong>do</strong> ao saber, incrementa<strong>do</strong> e motivan<strong>do</strong> o aluno a<br />

uma postura ativa diante da sociedade e de sua vida.<br />

Trata-se, portanto, e em última instância, de apoiar a<br />

construção da identidade <strong>do</strong> aluno. É bem como aponta<br />

Denise Nery, em uma passagem de seu artigo “Afinal, o que é<br />

identidade?”:<br />

“Desta forma, a identidade que, a princípio aparece como algo<br />

da<strong>do</strong>, é produto de um permanente processo de identificação,<br />

a identidade está sempre em metamorfose, expressan<strong>do</strong> o<br />

movimento social.” 5<br />

Ou ainda, mais a frente:<br />

“Assim, chegamos, resumidamente a um conceito possível de<br />

identidade: consciência que o indivíduo tem de si mesmo como<br />

um ‘ser <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>’.” 6<br />

Nesta última fala, a autora argumenta na direção <strong>do</strong> que<br />

anteriormente registramos como auto-estima – a partir <strong>do</strong> que<br />

se estabelece a “feiúra” <strong>do</strong> personagem patinho da nossa<br />

estória – tanto quanto de inúmeros alunos, pressiona<strong>do</strong>s diante<br />

da falibilidade de um acolhimento familiar e social a que,<br />

supostamente, a democracia deveria lhe assegurar o direito e<br />

exercício.<br />

Na passagem anterior, ela aponta a possibilidade de<br />

reconstrução da identidade a partir de novas bases – o que,<br />

certamente, é parte fundamental das atribuições – ou mais,<br />

das responsabilidades – da Educação. Resgatan<strong>do</strong> Piaget e<br />

Vygotsky, mais uma vez através de Fávaro, é possível elucidar<br />

nosso chama<strong>do</strong>:<br />

“E aqui está uma questão importante para a educação e<br />

para a escola, (...), ao me referir à tomada de consciência<br />

e aos processos de internalização e externalização: esse<br />

conhecimento sistematiza<strong>do</strong> e formaliza<strong>do</strong>, interagin<strong>do</strong> com o<br />

conhecimento cotidiano pode (e isso é consenso tanto para<br />

Piaget quanto para Vygotsky) promover o desenvolvimento<br />

das funções mentais superiores, cuja principal característica<br />

é a formação da consciência (para Vygostky) ou a tomada<br />

da consciência que conduz ao pensamento reflexivo (para<br />

Piaget) e que, em última análise, se trata da conscientização<br />

<strong>do</strong> sujeito se seus próprios processos mentais.” 7<br />

Para efetivar esta dimensão, é imprescindível conhecer,<br />

compreender e praticar a escolha por uma abordagem, pedagógica<br />

complexa e, principalmente, coerente com a identidade (valores,<br />

65


princípios...) <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente. É certo que diferentes perspectivas da<br />

relação professor/aluno incidem sobre as opções pedagógicas<br />

– e acolhem a identidade de forma específica.<br />

Acatamos o ordenamento analítico proposto por Libâneo 8<br />

para resgatar, sinteticamente, as principais tendências didáticopedagógicas.<br />

Entre as propostas de base liberal, abordaremos a tradicional, a<br />

tecnicista e a escolanovista. Quanto às progressistas, ressaltamos<br />

a libertária/ liberta<strong>do</strong>ra e a crítica social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s.<br />

Trataremos sobre elas, entretanto, elucidan<strong>do</strong> especificamente o<br />

“protagonismo” no processo ensino aprendizagem.<br />

Na pedagogia tradicional, os conteú<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s em<br />

uma visão única, hierárquica, em que o professor tem o <strong>do</strong>mínio<br />

<strong>do</strong> conhecimento e da “situação” de aprendizagem. Ao aluno,<br />

resta atuar como coadjuvante passivo, acatan<strong>do</strong> e reproduzin<strong>do</strong><br />

a perspectiva de mun<strong>do</strong> que lhe é apresentada sem que seja<br />

faculta<strong>do</strong> o questionamento ou a reflexão.<br />

Contraditoriamente, o <strong>do</strong>cente ainda que reconhecidamente<br />

protagonista, também é tolhi<strong>do</strong>, enclausura<strong>do</strong> em um<br />

condicionamento comportamental que impede que seu papel<br />

preponderante seja legitima<strong>do</strong> pelos seus diferenciais no seu<br />

ofício de professor – numa espécie de poder concedi<strong>do</strong> a um<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r, que, ao exercê-lo, anula-se e vê-se <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>. Tratase<br />

aqui de um para<strong>do</strong>xo peculiar à nossa sociedade: as regras<br />

legalmente estabelecidas e esvaziadas de legitimidade dada sua<br />

desconexão com o real, o humano, o cotidiano 9 . <strong>Di</strong>ante deste<br />

cenário/ pacto, resta ao professor a disciplina, para assegurar sua<br />

prática desvirtuada, empobrecida e esvaziada de en<strong>do</strong>geinização<br />

<strong>do</strong>s saberes.<br />

Lastreada igualmente por recursos pedagógicos exógenos<br />

(conforme condições que atribuímos há pouco à disciplina e à<br />

hierarquia “legalmente” instituída pela pedagogia tradicional),<br />

situamos a abordagem tecnicista.<br />

Podemos entendê-la como uma espécie de extensão <strong>do</strong><br />

modelo tradicional, “atualizada” para atender às demandas<br />

de um novo contexto sócio-econômico <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ocidental,<br />

especialmente acentua<strong>do</strong> no século XX (persistin<strong>do</strong>, com<br />

acelerações e intensificações, até hoje 10 ).<br />

A incorporação da nova lógica produtiva traduz-se, com<br />

maior evidência, em uma prática pedagógica “enriquecida” pelos<br />

recursos técnicos e tecnológicos disponibiliza<strong>do</strong>s em função da<br />

intensa produção voltada à facilitação e aprimoramento <strong>do</strong>s<br />

mecanismos de apoio à produção. Na sala de aula, a “evolução”<br />

<strong>material</strong>izou-se em recursos como o livro didático e a apostila,<br />

retro projetor e data show, computa<strong>do</strong>res, vídeos e DVDs – entre<br />

outros.<br />

Sem prejuízo <strong>do</strong> valor que possa ser agrega<strong>do</strong> por tais<br />

ferramentas 11 , sem dúvida de grande potencial, ao processo<br />

de ensino e aprendizagem, é fundamental compreender que a<br />

pedagogia tecnicista desloca o protagonismo da sala de aula<br />

para eles. Assim, a relação conteú<strong>do</strong>/ tecnologia consoli<strong>do</strong>u<br />

uma nova estrutura de poder: é a “apostila” 12 quem dita as<br />

temáticas, volumes de conteú<strong>do</strong>, apresentação visual, enfim,<br />

to<strong>do</strong>s os elos da prática (supostamente) formativa. É ela a nova<br />

protagonista.<br />

Cabe aqui fazer um breve intervalo nos comentários sobre<br />

as tendências pedagógicas para apontar brevemente o impacto<br />

desta inflexão na realidade escolar.<br />

Ao estabelecer que os conteú<strong>do</strong>s possam ser defini<strong>do</strong>s por<br />

especialistas – os autores das apostilas - o próprio <strong>do</strong>cente é<br />

esvazia<strong>do</strong> de seu papel estrutural na pedagogia tradicional: o<br />

de detentor <strong>do</strong> conhecimento. Desta forma, consideran<strong>do</strong> que<br />

O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />

principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />

sua identidade já não tinha relevância porque ficava represada<br />

no modelo único, pré-estabeleci<strong>do</strong> de <strong>do</strong>cência, o vínculo entre<br />

a escola e o processo formativo exime o professor, que assume<br />

duplamente um papel de coadjuvante.<br />

Coadjuvante, sim, já que sen<strong>do</strong> o acesso ao conhecimento<br />

assegura<strong>do</strong> pela “apostila”, o professor pode ser substituí<strong>do</strong><br />

sem que isto cause impacto significativo – daí verificarmos,<br />

naturalmente, a depreciação de sua auto-estima de forma ainda<br />

mais aguda <strong>do</strong> que no modelo tradicional.<br />

Daí também a sua degeneração como trabalha<strong>do</strong>r, em que<br />

o valor da mão de obra dilui-se, reduz “ad eternum”. E essa<br />

desvalorização retroalimenta a ciranda: o professor autodepreciase<br />

(e é referenda<strong>do</strong> pelo funcionamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de escolas,<br />

cada vez mais regi<strong>do</strong> pela lógica <strong>do</strong> capital), acata atuar por<br />

baixíssimos salários e condições degradantes em sala de aula, e<br />

assim por diante.<br />

A escola passa então a priorizar a relação com o “cliente”, que<br />

não mais é o aluno, mas seus pais. Mais uma vez, a “apostila”<br />

atende às expectativas <strong>do</strong> público alvo: incorpora técnicas de<br />

marketing (como o requinte na apresentação visual), conteú<strong>do</strong><br />

seleciona<strong>do</strong> a partir das expectativas médias da sociedade<br />

(ícones representativos da formação cultural, tecnológicas, etc).<br />

Mais uma vez aqui percebemos a configuração social trabalhada<br />

por Debord (1997), constituin<strong>do</strong> o que poderíamos, parafrasean<strong>do</strong><br />

o autor, denominar “educação <strong>do</strong> espetáculo”.<br />

A combinação de tantos fatores configura um cenário de<br />

expansão intensa <strong>do</strong> padrão apostila<strong>do</strong> de ensino, que toma,<br />

talvez já não tão surpreendentemente, to<strong>do</strong>s os níveis de<br />

escolarização: <strong>do</strong> ensino infantil ao superior, passan<strong>do</strong> pelos<br />

longos anos <strong>do</strong> fundamental e pelo médio (resumi<strong>do</strong> a um<br />

preparatório para o vestibular – aliás, de forma tão “competente”<br />

que esta que podemos chamar de “medição <strong>do</strong> adestramento”,<br />

conforme vimos em Freire no início destes comentários, passa a<br />

ser até dispensável pela maior parte das faculdades privadas).<br />

Caberia retomar ainda a perspectiva de Althusser 13 , lembran<strong>do</strong><br />

a conexão entre a escola e a estrutura de poder da sociedade<br />

– mas isto levaria a estender demais uma reflexão que não é<br />

objeto primeiro destes comentários.<br />

Fica claro, e passamos então a ter como dada tal questão, é<br />

que o modelo tecnicista toma o sistema escolar expressivamente<br />

(em especial da década de setenta <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> em diante)<br />

e atinge ainda mais frontalmente a identidade <strong>do</strong> professor,<br />

além de reiterar uma posição de negação <strong>do</strong> protagonismo<br />

discente, bem como o reconhecimento e valorização de sua<br />

individualidade.<br />

Individualidade, aliás, que nos permite retomar a “visita”<br />

às diferentes tendências pedagógicas, levan<strong>do</strong>-nos à última<br />

abordagem liberal: a escola nova. Condizente com um movimento<br />

histórico <strong>do</strong> pensamento ocidental de enorme importância, esta<br />

tendência pedagógica mantém fortes vínculos com o trabalho <strong>do</strong>s<br />

teóricos da psicologia, inclusive Freud, na psicanálise. Com uma<br />

visão de mun<strong>do</strong> centrada no indivíduo, nas microinstâncias, esta<br />

é também uma perspectiva manifesta na biologia, na música, nas<br />

artes plásticas, impregnan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> de um olhar absolutamente<br />

fundamental para as referências contemporâneas.<br />

A prática proposta pela escola nova constrói-se em bases que<br />

reconhecem o conteú<strong>do</strong> pertinente como elemento endógeno<br />

ao aluno, que deve ser desperta<strong>do</strong> potencializan<strong>do</strong> o ritmo de<br />

desenvolvimento infantil/ juvenil.<br />

Trata-se assim, sem dúvida, de uma expansão teórica, em<br />

busca de novas linguagens em sala de aula (e fora dela), pauta<strong>do</strong><br />

pelo reconhecimento <strong>do</strong>s limites, e até mesmo prejuízos,<br />

66


provenientes da formação tradicional. Sua fragilidade reside num<br />

posicionamento que se concentra em rever o méto<strong>do</strong> – mérito<br />

de absoluta pertinência – e isolar o conteú<strong>do</strong> universal instituí<strong>do</strong>,<br />

como se este fosse dispensável no sistema de ensino.<br />

As experiências, que no Brasil ocorrem especialmente a partir<br />

da década de trinta <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, apesar de extremamente<br />

relevantes para conduzir a novas reflexões e conseqüentes<br />

práticas diferenciadas, não alcança o efetivo resulta<strong>do</strong> em<br />

reconduzir a visão tradicional. Enfim, pouco há de aderência com<br />

mudanças estruturais nos processos formativos e no desenho<br />

majoritário da escola no país.<br />

Daí o fato de Saviani nominá-las crítico-reprodutivistas: apesar<br />

de sua origem contestatória, as iniciativas são pouco efetivas e<br />

interromper o ciclo que apontamos anteriormente. É um espaço<br />

marginal que se constitui e, ao não inserir-se profundamente<br />

nas instâncias decisórias da Educação, também não interfere<br />

retroalimentação <strong>do</strong> sistema capitalista de produção.<br />

Entre outros fatores, é fundamental que se diga, as práticas<br />

escolanovistas serão bastante para as propostas inova<strong>do</strong>ras que<br />

virão na segunda metade <strong>do</strong> século XX – aquelas a que acatamos<br />

a qualificação como progressistas.<br />

Comentemos. O marco central da busca por novas respostas<br />

tem como ícone Paulo Freire - referência não apenas para o<br />

Brasil, mas para inúmeros países. Retoma-se, em suas propostas<br />

e de alguns outros de sua matriz, a preocupação com o méto<strong>do</strong><br />

– mas também com um olhar criterioso, específico sobre o<br />

recorte temático <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> a ser aborda<strong>do</strong>. A construção da<br />

ação freireano visa um país cuja realidade é inclusiva, as bases<br />

societárias não são concentradas, manipula<strong>do</strong>ras e massacrantes<br />

em relação à maioria da população.<br />

O eixo de trabalho prioriza<strong>do</strong>, diante disso, é a inclusão <strong>do</strong>s<br />

adultos analfabetos na sociedade, portanto as práticas estão<br />

centradas na construção de uma ação concreta para que, mais<br />

<strong>do</strong> que o letramento, a educação de jovens e adultos busque a<br />

consciência de mun<strong>do</strong>.<br />

Vale aqui retomar as palavras <strong>do</strong> mestre para visualizarmos<br />

de forma precisa o seu pensar sobre a Educação:<br />

“Para que a educação fosse neutra era preciso que não houvesse<br />

discordância nenhuma entre as pessoas com relação aos mo<strong>do</strong>s<br />

de vida individual e social, com relação ao estilo político a ser<br />

posto em prática, aos valores a serem encarna<strong>do</strong>s. Era preciso<br />

que não houvesse, por exemplo, nenhuma divergência em face<br />

da fome e da miséria no Brasil e no mun<strong>do</strong>; era necessário que<br />

toda a população nacional aceitasse mesmo que elas, miséria<br />

e fome, aqui e fora daqui, são uma fatalidade <strong>do</strong> fim de século.<br />

Era preciso também que houvesse unanimidade na forma de<br />

enfrentá-las e superá-las. Para que a educação não fosse uma<br />

forma política de intervenção no mun<strong>do</strong> era indispensável<br />

que o mun<strong>do</strong> em que ela se desse não fosse humano. Há<br />

uma incompatibilidade total entre o mun<strong>do</strong> humano da fala,<br />

da percepção, da inteligibilidade, da comunicação, da ação,<br />

da observação, da comparação, da verificação, da busca, da<br />

escolha, da decisão, da ruptura, da ética e da possibilidade de<br />

transgressão e a neutralidade não importa de quê.<br />

O que devo pretender não é a neutralidade da educação, mas<br />

o respeito, a toda prova, aos educan<strong>do</strong>s, aos educa<strong>do</strong>res e às<br />

educa<strong>do</strong>ras. ” 14<br />

Um pouco mais adiante, mas também em busca de uma ação<br />

síntese entre méto<strong>do</strong> e conteú<strong>do</strong> a serviço de uma educação<br />

transforma<strong>do</strong>ra, virá a pedagogia crítica social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s.<br />

Em ambos os casos, o <strong>do</strong>cente é revitaliza<strong>do</strong>, redimensiona<strong>do</strong><br />

no processo de ensino e aprendizagem. Seu lócus de atuação<br />

O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />

principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />

passa a refletir um compromisso com a mobilização e a reflexão<br />

<strong>do</strong> aluno. A educação é reconhecida como catalisa<strong>do</strong>r da<br />

transformação, da autopercepção como agente social, como<br />

bem demonstram os comentários de Fávero que revisitamos,<br />

e que evidencian<strong>do</strong> a convergência entre os pressupostos da<br />

psicologia e a prática desenhada pelas pedagogias progressistas<br />

aqui tratadas:<br />

“Por isso mesmo, a escola, como instituição social, tem,<br />

na teoria de Vygotsky, assim como na de Piaget e na de<br />

Wallon, um papel tão preponderante: ela pode intervir no<br />

desenvolvimento de seus alunos, na medida em que, com a<br />

mediação <strong>do</strong>s conceitos científicos, isto é, sistematiza<strong>do</strong>s,<br />

formaliza<strong>do</strong>s e hierarquiza<strong>do</strong>s a partir de um sistema de regras<br />

lógicas de coordenação e subordinação, pode promover a sua<br />

conscientização acerca <strong>do</strong>s próprios processos mentais.”<br />

E agora vejamos o que diz Libâneo sobre a pedagogia crítico<br />

social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s:<br />

“Embora se aceite que os conteú<strong>do</strong>s são realidades exteriores<br />

ao aluno, que devem ser assimila<strong>do</strong>s e não simplesmente<br />

reinventa<strong>do</strong>s, eles não são fecha<strong>do</strong>s e refratários às realidades<br />

sociais. Não basta que os conteú<strong>do</strong>s sejam apenas ensina<strong>do</strong>s,<br />

ainda que bem ensina<strong>do</strong>s; é preciso que se liguem, de forma<br />

indissociável, à sua significação humana e social.” 15<br />

Há uma grande sintonia entre as últimas três falas aqui<br />

apresentadas, todas voltadas para o posicionamento sócio<br />

político da educação, em busca de uma Educação apta a tornar<br />

a pessoa por ela constituída sujeito de si.<br />

Cabe ressaltar que a principal distinção entre as abordagens<br />

liberta<strong>do</strong>ra/ libertária trata da seleção <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s: enquanto<br />

Freire toma por insumo na sua alfabetização o cotidiano, os<br />

teóricos da pedagogia crítica social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s alertam<br />

que o contato e a incorporação <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s universais<br />

é imprescindível para a educação transforma<strong>do</strong>ra e plena,<br />

conforme aponta<strong>do</strong> na fala de Libâneo.<br />

Esta última tendência evidencia ainda a sociedade de classes,<br />

apontan<strong>do</strong> não apenas a relevância da escolarização lato sensu,<br />

mas especificamente o papel da escola pública, que, por<br />

seu caráter universal, poderia atingir e modificar - “ativar” – a<br />

maior parte da população. É também a escola pública a única<br />

possibilidade de interrupção da lógica que realimenta as bases<br />

produtivas capitalistas – como discuti<strong>do</strong> em tópicos anteriores<br />

deste <strong>do</strong>cumento.<br />

Os movimentos progressistas da pedagogia apontam,<br />

como pudemos comentar brevemente, para a fundamental<br />

reversão <strong>do</strong> empobrecimento <strong>do</strong> processo formativo da<br />

prática escolar cotidiana – tanto para o aluno quanto para o<br />

professor. E é exatamente aqui que retornamos à nossa estória,<br />

que ludicamente aborda a descoberta, pelo acolhimento e<br />

identificação, <strong>do</strong> Belo, <strong>do</strong> próprio Belo: seus valores e senti<strong>do</strong>s,<br />

que constituem a essência <strong>do</strong> viver e o efetivo protagonismo<br />

sobre suas decisões.<br />

E o que cabe a nós, <strong>do</strong>centes? Ou mais: como responder<br />

a provocação original deste texto: que professor sou e que<br />

professor quero ser?<br />

É absolutamente impossível, a não ser que aceitemos<br />

a fragmentação da condição humana, mediocrizante e<br />

estruturalmente limitada, conjecturar sobre o professor sem ter<br />

clareza da pessoa que quero ser – e que sou. Um patinho que<br />

se perceba feio está automaticamente desabilita<strong>do</strong> para ensinar<br />

67


o Belo – ou mais: despertar a consciência <strong>do</strong> Belo em cada um<br />

<strong>do</strong>s seus alunos.<br />

Para o exercício profissional, a didática apresenta instrumentos<br />

diversos, <strong>do</strong>s quais devemos nos apropriar conforme afinidade,<br />

respeitan<strong>do</strong> as especificidades e potencialidade de cada um. Os<br />

méto<strong>do</strong>s e técnicas devem ser como extensão de nós. Só assim<br />

de fato irão compor um esforço de qualificação da educação,<br />

a busca pela real transformação. É neste senti<strong>do</strong> que nos<br />

apropriamos da fala de Weffort (2000):<br />

“O ato de refletir é liberta<strong>do</strong>r porque instrumentaliza o educa<strong>do</strong>r<br />

no que ele tem de mais vital: o seu pensar.<br />

Educa<strong>do</strong>r algum é sujeito de sua prática se não tem apropriada<br />

a sua reflexão, o seu pensamento.<br />

Não existe ação reflexiva que não leve sempre a constatações,<br />

descobertas, reparos, aprofundamento. E, portanto, que não<br />

nos leve aprofundar algo em nós, nos outros, na realidade.<br />

Na concepção democrática de educação, onde o ato de refletir<br />

(apropriação <strong>do</strong> pensamento) é expressão original de cada<br />

sujeito, está implícito que não existe um modelo de reflexão.<br />

Cada educa<strong>do</strong>r tem sua marca, o seu mo<strong>do</strong> de registrar seu<br />

pensamento. ” 16<br />

Há caminhos importantes que ampliam nossas potencialidades<br />

– desde que tenhamos, antes, consciência delas. O planejamento,<br />

como exercício sistematiza<strong>do</strong> de busca por uma novo pensar e<br />

uma nova prática é uma rica ferramenta, desde que seja uma<br />

oportunidade de reconstruir saberes estratifica<strong>do</strong>s, a partir de<br />

nexos vivenciais de cada forman<strong>do</strong> e forma<strong>do</strong>r.<br />

Os produtos desse “pensar”, coletivo e expansivo, sobre o<br />

cotidiano da escola e da sala de aula: plano e projetos deverão<br />

ser, portanto, <strong>do</strong>cumento, registro da identidade <strong>do</strong>cente e, por<br />

extensão, da identidade escolar.<br />

As trocas e a aprendizagem contínua têm sintonia fina<br />

com as propostas inova<strong>do</strong>ras da prática <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, porque<br />

<strong>material</strong>izam a constante busca pelo crescimento pessoal, pela<br />

renovação que assegura e reitera o viver. Daí a relevância das<br />

diferentes formas de estágio – que subsidia a construção da autoimagem<br />

(por negação ou reprodução), portanto, da identidade,<br />

e permite dimensionar o desafio de assumir-se – integralmente<br />

- como professor. E, reafirmemos, esta escolha jamais poderá<br />

se proteger entre as quatro paredes de uma sala de aula – ela<br />

é parte constitutiva de nós e emana em cada escolha, em cada<br />

atitude.<br />

É exatamente por isso que retomamos aqui o que já era<br />

sabe<strong>do</strong>ria latente há milênios e, decerto não gratuitamente,<br />

perenizou-se e ainda nos intriga e impulsiona. Assimilemos, pois,<br />

as palavras de Aristóteles:<br />

“A única qualidade que realmente importa na vida de um<br />

homem é a coragem. Porque todas as outras nascerão dela.”<br />

Sigamos, então, acima de tu<strong>do</strong> e para além de apenas<br />

professores – CorAJoSoS: o que, enfim, sou e quero ser.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos ideológicos <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>. Lisboa, Editorial Presença, s/ data.<br />

ALVES, Vera Regina Oliveira. Tendências educacionais:<br />

concepção histórico - cultural e teoria histórico-crítica. In<br />

www.artenaescola/artigos.<br />

DEBORD, Guy. A Sociedade <strong>do</strong> espetáculo. Rio de Janeiro,<br />

RJ: Editora Contraponto, 1997.<br />

FÁVARO, Maria Helena. Psicologia e Conhecimento: subsídios<br />

da psicologia <strong>do</strong> desenvolvimento para a análise <strong>do</strong> ensinar e<br />

aprender. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2005.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes<br />

necessários à prática educativa. São Paulo, SP: Editora Paz e<br />

Terra, 1996.<br />

HARVEY, David. Condição Pós Moderna. São Paulo, SP:<br />

Edições Loyola, 1992.<br />

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública – A<br />

pedagogia Crítico-social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. São Paulo, SP: Edições<br />

Loyola, 1985.<br />

___________________ <strong>Di</strong>dática. São Paulo, SP: Cortez, 1994.<br />

– Coleção Magistério.<br />

___________________ Adeus professor, adeus professora?<br />

Novas exigências educacionais e a profissão <strong>do</strong>cente. São Paulo,<br />

SP: Cortez, 2006 – Coleção Questões da Nossa época.<br />

MENDES, Tadeu Atila. Articulações entre correntes filosóficas<br />

e tendências educacionais – destaque à tendência liberal<br />

tradicional. In Revista conhecimento Interativo, São José <strong>do</strong>s<br />

Pinhais, PR, volume 1, no. 1 p.98-107, jul-dez/2005<br />

MORIN, Edgar. A religação <strong>do</strong>s saberes: o desafio <strong>do</strong> século<br />

XXI. Rio de Janeiro, RJ: Editora Bertrand Brasil, 2002.<br />

NERY, Denise Rockenbach. Afinal, o que é identidade? (texto<br />

adapta<strong>do</strong> da tese de <strong>do</strong>utoramento “Resgate da Identidade:<br />

registran<strong>do</strong> um projeto e investigan<strong>do</strong> a relação identidade –<br />

espaço”) FFLCH, 1999 (mimeo).<br />

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia: teorias da<br />

educação; curvatura da vara; onze teses sobre educação e<br />

política. São Paulo: Cortez Editora/ Editora Autores Associa<strong>do</strong>s,<br />

1986 (Coleção Polêmicas <strong>do</strong> nosso Tempo).<br />

VIEIRA, Alexandre Thomaz; ALMEIDA, Maria Elizabeth<br />

Biancocini de; ALONSO, Myrtes (orgs). Gestão Educacional e<br />

Tecnologia. São Paulo, SP: Editora Avercamp, 2003.<br />

WEFFORT, Madalena Freire. Observação, Registro e reflexão.<br />

São Paulo, SP: Editora Cortez, 2000.<br />

NoTAS<br />

1- O presente artigo foi feito, originalmente, como trabalho final da<br />

disciplina <strong>Di</strong>dática I, sob orientação da Professora Daniela Libâneo, no<br />

primeiro perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> curso de Pedagogia da Faculdade de Educação e<br />

Cultura Montessori.<br />

2- Celina Bragança é aluna regular <strong>do</strong> primeiro ano <strong>do</strong> curso de Pedagogia<br />

da Faculdade de Educação e Cultura Montessori.<br />

3- Referimo-nos aqui especificamente ao trabalho coordena<strong>do</strong> por Morin<br />

de jornadas temáticas, que originou a coletânea de artigos comenta<strong>do</strong>s<br />

pelo filósofo e sociólogo (referências constantes da Bibliografia<br />

deste <strong>do</strong>cumento). Cabe-nos ressaltar os trabalhos apresenta<strong>do</strong>s na<br />

terceira, quarta, quinta e oitava jornadas (respectivamente “A vida”, “A<br />

humanidade”, “Línguas, civilizações, literatura, artes e cinema” e “A<br />

religação <strong>do</strong>s saberes”) para fundamentação de nossos argumentos.<br />

4- FÁVARO, Maria Helena Psicologia e Conhecimento: subsídios da<br />

psicologia <strong>do</strong> desenvolvimento para a análise <strong>do</strong> ensinar e aprender.<br />

Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2005 p. 302.<br />

5- NERY, Denise Rockenbach Afinal, o que é identidade? (texto adapta<strong>do</strong><br />

da tese de <strong>do</strong>utoramento “Resgate da Identidade: registran<strong>do</strong> um projeto e<br />

investigan<strong>do</strong> a relação identidade – espaço”) FFLCH, 1999 (mimeo) p. 6<br />

6- Idem. Ibidem. p.7.<br />

O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />

principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />

7- FÁVARO, Maria Helena Op. Cit p. 225. (grifo meu)<br />

8- LIBÂNEO, José Carlos <strong>Di</strong>dática. São Paulo, SP: Cortez, 1994. –<br />

Coleção Magistério.<br />

68


9- Vale lembrar aqui a obra A Sociedade <strong>do</strong> Espetáculo, de Guy Debord<br />

(referências na bibliografia deste <strong>do</strong>cumento), em que são desnudadas<br />

as entranhas da sociedade contemporânea, deixan<strong>do</strong>-se à mostra suas<br />

contradições e relações de <strong>do</strong>mínio.<br />

10- Vale lembrar aqui <strong>do</strong> livro Condição Pós-moderna, de David Harvey<br />

(referências na Bibliografia deste <strong>do</strong>cumento), que oferece um retrato<br />

multidimensional da construção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo, ressaltan<strong>do</strong><br />

inclusive aspectos fundamentais para a compreensão da prática<br />

educativa.<br />

11- O livro Gestão Educacional e Tecnologia (referências na Bibliografia<br />

deste <strong>do</strong>cumento) trata <strong>do</strong> tema, observan<strong>do</strong> elementos interessantes da<br />

incorporação da tecnologia na prática escolar.<br />

12- Utilizamos aqui a apostila como ícone de uma série de ferramentas<br />

anteriormente citadas, de tal forma que a citação daquela permiti-nos<br />

prescindir da referência literal a essas.<br />

13- Para trilhar esta perspectiva crítica, registramos, além da obra<br />

<strong>do</strong> próprio autor, as reflexões propostas em Alves, Mendes e Saviani<br />

– conforme referências constantes da bibliografia deste <strong>do</strong>cumento.<br />

14- FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à<br />

prática educativa. São Paulo, SP: Editora Paz e Terra, 1996 p. 125.<br />

15- LIBÂNEO, José Carlos (1986) Democratização da Escola Pública – A<br />

pedagogia Crítico-social <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. São Paulo, SP: Edições Loyola,<br />

1985 p. 39.<br />

16- WEFFORT, Madalena Freire Observação, Registro e reflexão. São<br />

Paulo, Sp: Editora Cortez, 2000 p. 39<br />

O professor que sou e quero ser – reflexões a partir <strong>do</strong>s<br />

principais elementos aborda<strong>do</strong>s durante o curso de <strong>Di</strong>dática.<br />

69


ESumo<br />

A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />

Este artigo faz parte da dissertação de mestra<strong>do</strong> “A dimensão<br />

subjetiva <strong>do</strong> professor alfabetiza<strong>do</strong>r e sua práxis: uma análise<br />

psicopedagógica” 1 , que tem como interesse compreender como<br />

aqueles que são considera<strong>do</strong>s bons professores alfabetiza<strong>do</strong>res<br />

aprenderam a alfabetizar. Nesse contexto se faz necessário<br />

entender e conhecer as pesquisas realizadas sobre a leitura e a<br />

escrita, pois desde os desenhos feitos por nossos ancestrais nas<br />

cavernas, até a elaboração da escrita tal como a conhecemos<br />

hoje, foi um longo caminho percorri<strong>do</strong>. Entretanto, os objetivos<br />

continuam os mesmos: comunicar e registrar a representação da<br />

memória coletiva. A necessidade de se compreender o processo<br />

de alfabetização não é nova. Há muito se procura entender os<br />

mecanismos implica<strong>do</strong>s para a aquisição das capacidades de<br />

leitura e escrita, bem como as razões <strong>do</strong> sucesso de uns e <strong>do</strong><br />

insucesso de outros. Porém, para a compreensão <strong>do</strong> processo<br />

de aquisição da leitura e da escrita, é necessário compreender<br />

seus pressupostos presentes nas práticas educativas.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Alfabetização, aprendizagem, leitura e escrita.<br />

ABSTrACT<br />

The learning of reading and writing<br />

This article is part of the Master’s dissertation entitled “The<br />

subjective dimension of the reading and writing teacher and<br />

his practice: a psychopedagogical analysis”, which aims at<br />

understanding how the ones considered good reading and writing<br />

teachers learned how to teach it. In this context it is needed to<br />

understand and know what has already been researched on<br />

reading and writing, from the caves drawings up to the writing<br />

we know at the present moment, since it is been a long way<br />

past. However, the objectives are kept the same: communicate<br />

and register the collective memory representation. The need for<br />

understanding this process is not recent. For a long time there<br />

has been an effort towards understanding the mechanisms<br />

behind the reading and writing capacity acquisition and also<br />

the reasons for ones’ success and others’ failure. On the other<br />

hand, in order to understand this reading and writing acquisition<br />

process, it is needed to understand its presuppositions present<br />

on the educational practice.<br />

KEYworDS:<br />

Literacy, learning, reading and writing.<br />

Nilza Isaac Macê<strong>do</strong> 1<br />

70


Tu<strong>do</strong> começou nas paredes de uma caverna...<br />

Os homens que viviam na época anterior à escrita faziam<br />

desenhos nas paredes das cavernas imitan<strong>do</strong> o que estava a sua<br />

volta: animais, homens, ferramentas e utensílios. Quan<strong>do</strong> o homem<br />

começa a plantar, criar animais, fiar, construir cidades, a escrita<br />

passou a ser um instrumento necessário e importante como um<br />

meio de comunicação. Aos poucos as figuras se tornaram mais<br />

complexas e se transformaram em símbolos e em um sistema de<br />

representação das palavras e não mais em objetos ou conceitos.<br />

Esses registros passam por várias etapas desde sinais para poucas<br />

palavras, que podiam ser a representação de seres e objetos <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> em torno deles, até o momento em que se torna impossível<br />

inventar e decorar sinais para todas as palavras, à descoberta<br />

de que os mesmos sinais podiam ser usa<strong>do</strong>s para palavras que<br />

tinham significa<strong>do</strong>s pareci<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> o homem descobre que<br />

os sinais podiam representar o som da fala, passam a usar os<br />

mesmos sinais para palavras que tinham os mesmos sons, mas<br />

que queriam dizer coisas completamente diferentes. Esses sinais,<br />

não eram usa<strong>do</strong>s só para palavras inteiras, mas também para<br />

pedaços de palavras. Aos poucos alguns povos começaram a<br />

usar um único sinal para representar vários sons e é com os gregos<br />

que se começa a usar a indicação <strong>do</strong> som da vogal até chegar à<br />

escrita que temos hoje. No entanto, os seus objetivos continuam<br />

os mesmos, isto é, comunicar e registrar a representação da<br />

memória coletiva, conforme nos orienta Zatz (1991).<br />

Nas sociedades letradas, aprender a ler tem algo de iniciação<br />

em que a criança, aprenden<strong>do</strong> a ler, é admitida na memória da<br />

comunidade, familiarizan<strong>do</strong>-se com o passa<strong>do</strong> por meio de livros<br />

(MANGUEL, 1997).<br />

Segun<strong>do</strong> Ferreiro (1995:103), “A língua escrita é muito mais<br />

que um conjunto de formas gráficas. É um mo<strong>do</strong> de a língua<br />

existir, é um objeto social, é parte de nosso patrimônio cultura”.<br />

Para algumas culturas ainda prevalece a oralidade<br />

enquanto meio de transmissão cultural, porém as sociedades<br />

industrializadas privilegiam a linguagem escrita como meio de<br />

transmissão cultural. Para que a escrita tivesse o uso que tem<br />

hoje foram necessários vários séculos, pois a própria evolução<br />

da escrita não garantiu que to<strong>do</strong>s pudessem ter o acesso a<br />

ela. Segun<strong>do</strong> Manguel (1997), na Baixa Idade Média e começo<br />

da Renascença, aprender a ler e escrever, fora da Igreja, era<br />

privilégio da aristocracia e da alta burguesia. Mesmo assim,<br />

havia parte da alta burguesia que acreditava que ler e escrever<br />

eram tarefas menores, apropriadas somente para meninos e<br />

meninas de classes pobres. Nesse contexto, as amas ou mães<br />

que soubessem ler iniciavam o ensino <strong>do</strong> alfabeto. As crianças<br />

aprendiam a ler soletran<strong>do</strong>. Só depois <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> das<br />

primeiras letras, contratavam-se professores particulares para os<br />

meninos e a mãe era a responsável pela educação das meninas.<br />

Atualmente, ao nascer, a criança se depara com um conjunto<br />

de conhecimentos construí<strong>do</strong>s e estabeleci<strong>do</strong>s socialmente e<br />

inicia um processo de socialização que implica no aprendiza<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> contexto simbólico da sociedade na qual está inserida. A<br />

realidade constituída por nossas sociedades possibilitou a<br />

construção desse universo simbólico complexo onde o homem<br />

deve aprender a viver e, nesse contexto, a escola passa a ser<br />

responsável pela aprendizagem e transmissão cultural. É ela<br />

que tem o objetivo de desenvolver o aprendiza<strong>do</strong> da leitura e da<br />

escrita permitin<strong>do</strong> o acesso aos conhecimentos. Quan<strong>do</strong> vemos<br />

o caminho que a criança percorre no processo de alfabetização,<br />

percebemos que ele é muito semelhante ao processo de<br />

transformação pelo qual a escrita passou desde a sua invenção.<br />

“Os esboços das crianças da idade pré-escolar são jogos que<br />

os envolvem no descobrimento da sua própria capacidade para<br />

‘criar marcas’ sobre um papel”. (FERREYRA, 1998, p.58).<br />

A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />

A aprendizagem da leitura e da escrita é um verdadeiro ato<br />

de abstração, pois supõe modificações nos mo<strong>do</strong>s de pensar,<br />

de refletir e expressar-se e, conseqüentemente, mudanças nas<br />

estruturas cerebrais.<br />

É importante lembrar que a escrita é, juntamente com a<br />

roda e o fogo, um <strong>do</strong>s inventos <strong>do</strong> homem que mais fortemente<br />

transformaram sua mente e sua vida, possibilitan<strong>do</strong> assim<br />

novas estratégias cognitivas, novos mo<strong>do</strong>s de pensamento e<br />

comunicação, o que implica transformações nos processos<br />

psicológicos superiores.<br />

Conforme Azeve<strong>do</strong> (2003), para entender o processo de<br />

aprendizagem da leitura e da escrita e a sua utilização ideológica,<br />

é necessário refletir historicamente, pois somente a partir de<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX as pesquisas relacionadas à leitura e<br />

à escrita adquiriram conotação científica. Os estudiosos se<br />

ocuparam com as implicações sociais e psicológicas de seu<br />

uso relacionadas às atividades comerciais, legais, religiosas,<br />

políticas, literárias e científicas.<br />

Já é comum afirmar que a escrita é mais que o abecedário,<br />

mais <strong>do</strong> que a capacidade de decodificar palavras e frases.<br />

O importante é conhecer o que é esse “mais”, e para isso é<br />

necessário identificar a marca conceitual que a escrita imprimiu<br />

em nossas atividades culturais e cognitivas. (p.31).<br />

As pesquisas sobre a evolução <strong>do</strong> processo de alfabetização<br />

ocorrem mais precisamente na Europa, América <strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong><br />

Sul e acontecem em três perío<strong>do</strong>s.<br />

O primeiro perío<strong>do</strong> corresponde à primeira metade <strong>do</strong> século,<br />

quan<strong>do</strong> o ensino estava sen<strong>do</strong> alvo de discussão e buscava-se<br />

o melhor méto<strong>do</strong> para se ensinar a ler, uma vez que acreditavam<br />

que o fracasso escolar estava relaciona<strong>do</strong> ao uso de méto<strong>do</strong>s<br />

inadequa<strong>do</strong>s. A discussão estava entre os que defendiam o<br />

Méto<strong>do</strong> Analítico (global), que acreditavam que a melhor maneira<br />

de se ensinar a leitura e a escrita era oferecen<strong>do</strong> ao aluno a<br />

totalidade das palavras ou textos e, os defensores <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong><br />

Fonético-Sintético, que propunham que o aluno deveria aprender<br />

primeiro as letras ou sílabas e o som das mesmas para depois<br />

chegar à palavra ou frases.<br />

No Brasil houve uma difusão desses méto<strong>do</strong>s, que ficou<br />

conheci<strong>do</strong> como Méto<strong>do</strong> Misto, uma vez que for a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelas<br />

Cartilhas que se baseavam em análise e síntese estruturadas a<br />

partir de um silabário, que nas palavras de Frago (1993) seriam:<br />

Uma vez <strong>do</strong>minadas - e identificadas - as letras e sílabas, as leituras<br />

posteriores costumam reduzir-se à memorização de textos também da<strong>do</strong>s<br />

para sua repetição o mais exato possível e a escrita à mera tomada de<br />

notas ou à repetição – em provas ou exames – <strong>do</strong> memoriza<strong>do</strong>. (p.25).<br />

Essas modificações <strong>do</strong> ensino no Brasil, nas décadas de 20<br />

e 30 <strong>do</strong> século XX, fazem com que o aluno passe a ser o centro<br />

de interesse e o professor deixa de ser um mero transmissor<br />

de conhecimentos. Essas modificações contemplavam as<br />

necessidades da sociedade industrial; o <strong>do</strong>mínio da leitura e<br />

escrita e a formação profissional passaram a ser requisitos para<br />

a entrada <strong>do</strong> indivíduo no merca<strong>do</strong> de trabalho. À medida que<br />

a economia foi se diversifican<strong>do</strong>, a alfabetização e a instrução<br />

tornaram-se necessidades cada vez mais importantes, e a escola<br />

enquanto instituição social precisava atender essa demanda da<br />

sociedade. Na década de 40, a conceituação de alfabetiza<strong>do</strong><br />

era apenas ter as habilidades de codificar a leitura e a escrita.<br />

A partir de 1948, o conceito muda para a capacidade de ler e<br />

71


escrever um texto em alguma língua. Nos anos 50, a concepção<br />

se ampliou passan<strong>do</strong> para além de codificar e decodificar; o<br />

aluno precisa também compreender o que lê e o que escreve,<br />

propon<strong>do</strong> um novo conceito: “O alfabetiza<strong>do</strong> é uma pessoa<br />

capaz de ler e escrever, com compreensão, uma breve e simples<br />

exposição de fatos relativos à vida cotidiana 2 .” (Conceitualização<br />

das Conferências internacionais de Educação patrocinadas pela<br />

UNESCO, 1958) 3 .<br />

O segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> corresponde ao auge da discussão nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s nos anos 60, em torno de um debate mais amplo<br />

em torno da questão <strong>do</strong> fracasso escolar. Muitos investimentos<br />

foram feitos em pesquisas, para tentar compreender o que havia<br />

de erra<strong>do</strong> com as crianças que não aprendiam. Buscava-se no<br />

aluno a razão de seu próprio fracasso. Nesse perío<strong>do</strong> surgiram as<br />

teorias <strong>do</strong> déficit, que supunham que a aprendizagem dependia<br />

de pré-requisitos (cognitivos, psicológicos, perceptivos, motores,<br />

lingüísticos, etc) e que muitas crianças fracassavam por não<br />

dispor dessas habilidades prévias. Como o fracasso concentravase<br />

nas crianças mais pobres, a justificativa atribuída a ele era<br />

uma suposta incapacidade das próprias famílias de propiciarem<br />

estímulos adequa<strong>do</strong>s e muitos exercícios de estimulação foram<br />

cria<strong>do</strong>s para diminuí-lo.<br />

No Brasil, o uso <strong>do</strong> teste <strong>do</strong> ABC de Lourenço Filho passa a ser<br />

usa<strong>do</strong> com a difusão da idéia de que no início da escolarização,<br />

toda criança deveria passar pelos exercícios de “prontidão”.<br />

A idéia de alfabetização passa a abranger, além da leitura<br />

e interpretação, a preparação <strong>do</strong> homem para desempenhar<br />

seus papéis: social, cívico e econômico, e contribuir para o<br />

seu desenvolvimento e sua liberdade que na conceituação da<br />

UNESCO (1965) seria: “Longe de constituir fim em si mesma, a<br />

alfabetização deve ser concebida com o fim de preparar o homem<br />

para desempenhar um papel [...] que transcenda os limites de<br />

uma alfabetização reduzida ao ensino da leitura e da escrita”.<br />

O terceiro perío<strong>do</strong>, que começa em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 70 é<br />

marca<strong>do</strong> por mudanças de paradigma. O desenvolvimento da<br />

investigação nessa área muda radicalmente seu enfoque. Em<br />

lugar de procurar correlações que explicassem o déficit <strong>do</strong>s que<br />

não conseguiam aprender, começou-se a tentar compreender<br />

como aqueles que conseguem aprender, aprendem a ler e a<br />

escrever sem dificuldades e aqueles que não se alfabetizaram, o<br />

que eles pensam a respeito da escrita.<br />

Desta forma, para uma melhor compreensão <strong>do</strong> processo<br />

de aquisição da leitura e escrita é necessário compreender seus<br />

pressupostos, pois essas crenças estão presentes nas práticas<br />

educativas. Em seus estu<strong>do</strong>s Azeve<strong>do</strong> (2003) apresenta seis<br />

pressupostos aceitos e compartilha<strong>do</strong>s a respeito <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio da<br />

escrita.<br />

O primeiro é que escrever é transcrever a fala; o segun<strong>do</strong><br />

é a superioridade da escrita com relação à fala, a escrita é<br />

considerada como um instrumento de precisão e poder. O terceiro<br />

é a superioridade tecnológica <strong>do</strong> sistema de escrita alfabética. O<br />

quarto é que a escrita é o órgão <strong>do</strong> progresso social. A difusão<br />

da leitura e da escrita seria a responsável pela criação das<br />

instituições racionais e democráticas da sociedade, assim como o<br />

desenvolvimento industrial e o crescimento econômico; um atraso<br />

nos graus de alfabetização representa uma ameaça para qualquer<br />

sociedade progressista e democrática. O quinto pressuposto<br />

admite a escrita como instrumento <strong>do</strong> desenvolvimento cultural e<br />

científico. O sexto pressuposto é a escrita como um instrumento<br />

de desenvolvimento cognitivo. O conhecimento da escrita dá ao<br />

pensamento o grau de abstração que não existe no discurso oral<br />

e nas culturas orais. Esse pressuposto está liga<strong>do</strong> principalmente<br />

aos trabalhos de Vygotsky e Luria, quan<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tam a opinião de<br />

A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />

que os processos mentais superiores estão envolvi<strong>do</strong>s no uso<br />

de signos socialmente inventa<strong>do</strong>s tais como a linguagem, a<br />

escrita, os números e as figuras, que são diferentes nas várias<br />

culturas. Esses autores defendem que os recursos culturais se<br />

transformam em recursos psicológicos por meio da interiorização<br />

e, dessa forma, o <strong>do</strong>mínio da escrita influencia as operações e as<br />

atividades cognitivas.<br />

Se um <strong>do</strong>s objetivos maiores da alfabetização é ensinar a<br />

escrever, temos que considerar que a escrita se diferencia de<br />

outras formas de representação de mun<strong>do</strong>, não só porque induz<br />

à leitura, mas também por que essa leitura é motivada, isto é,<br />

quem escreve pede ao leitor que interprete o que está escrito.<br />

A leitura não se reduz à somatória <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s individuais<br />

das letras, palavras, mas obriga o leitor a enquadrar to<strong>do</strong>s os<br />

elementos no universo cultural, social, histórico em que o escritor<br />

se baseou para escrever.<br />

Essas crenças estão refletidas nas práticas <strong>do</strong>s que ensinam<br />

e também <strong>do</strong>s que aprendem e, sem ressaltar os componentes<br />

subjetivos inerentes ao processo da aprendizagem da leitura e<br />

da escrita, ficará difícil rever a prática presente nesse processo.<br />

O poder da escrita não reside nela mesma, mas no uso que as<br />

sociedades fazem dela. Numa sala de aula convivem crianças da<br />

mesma idade e a professora. Porém, essa diversidade social nem<br />

sempre é aproveitada pelo ensino, embora se possa perceber a<br />

riqueza desse intercâmbio entre pares para a aprendizagem.<br />

O que podemos ver é que a partir das pesquisas de como se<br />

aprende a ler e a escrever, desenvolvidas nas últimas décadas,<br />

compreende-se que a alfabetização é um processo de construção<br />

de hipóteses sobre o funcionamento e as regras de geração <strong>do</strong><br />

sistema alfabético de escrita, e que isso não é um conteú<strong>do</strong><br />

simples, pois demanda procedimentos de análise complexos por<br />

parte de quem aprende, que é um ser humano que pensa, e,<br />

portanto, se alfabetiza.<br />

Sabemos hoje que, no processo de alfabetização, todas as<br />

crianças, independente de sua classe social ou da proposta de<br />

ensino, formulam hipóteses, muito curiosas e muito lógicas sobre<br />

a escrita. Avançam a partir de idéias muito simples, pautadas no<br />

descobrimento da relação entre fala e escrita, para idéias geniais<br />

sobre como seria essa relação.<br />

A leitura é a realização <strong>do</strong> objeto da escrita. Quem escreve,<br />

escreve para ser li<strong>do</strong>. A leitura é, pois, uma decifração e uma<br />

decodificação. O leitor, em primeiro lugar, deverá decifrar a escrita,<br />

depois entender a linguagem encontrada; em seguida, decodificar<br />

todas as implicações que o texto tem e, finalmente, refletir sobre<br />

isso e formar o próprio conhecimento e opinião a respeito <strong>do</strong><br />

que leu. Essa decifração não funciona adequadamente, assim<br />

como sem a decodificação e demais componentes referentes<br />

à interpretação, se torna estéril e sem grande interesse. A<br />

leitura é uma atividade estritamente lingüística e a linguagem se<br />

constrói com a fusão de significa<strong>do</strong>s com significantes. Portanto,<br />

é falso pensar que se pode ler só pelo significa<strong>do</strong> ou só pelo<br />

significante, porque só um ou outro jamais constituem uma<br />

realidade lingüística.<br />

Concordamos com Goodman (1997) que escrever e ler são<br />

processos dinâmicos e construtivos. O escritor decide quanta<br />

informação fornecerá a fim de que os leitores possam, antes de<br />

qualquer coisa, inferir e recriar o que ele criou. Os leitores farão<br />

uso <strong>do</strong> seu conhecimento <strong>do</strong> texto, de seus próprios valores, de<br />

suas próprias experiências à medida que forem extrain<strong>do</strong> senti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> texto. Os textos têm que ser reais e não compostos de uma<br />

determinada lista de vocabulário ou seqüência de fonemas. Os<br />

escritores devem ter uma idéia de seu público leitor, e os leitores<br />

têm que ter uma idéia de quem escreveu o texto. Portanto,<br />

72


os escritores têm algo a dizer e os leitores reais sabem como<br />

entender e reagir.<br />

Segun<strong>do</strong> a teoria piagetiana, o sujeito aprende através de<br />

suas próprias ações sobre os objetos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e constrói suas<br />

próprias categorias de pensamento, ao mesmo tempo em que<br />

organiza seu mun<strong>do</strong>. Basea<strong>do</strong> nessa teoria Ferreiro e Teberosky<br />

(1985), na década de 1970, investigaram quais idéias as crianças<br />

constroem quan<strong>do</strong> tentam compreender o que é escrita. A<br />

análise e a classificação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s dessa investigação foi<br />

denominada de Psicogênese da Língua escrita.<br />

A alfabetização segun<strong>do</strong> os pressupostos de Ferreiro e<br />

Teberosky (1985), constitui-se em um processo em que o sujeito<br />

enfrenta constantes contradições que o obrigam a reformular<br />

continuamente suas hipóteses. Ao se apropriar da escrita,<br />

dialeticamente a criança apropria-se de si mesma como usuárioprodutor<br />

da escrita.<br />

A leitura como prática social é sempre um meio, nunca um<br />

fim. Não existe uma idade para o aprendiza<strong>do</strong> da leitura. Há<br />

crianças que aprendem a ler muito ce<strong>do</strong>, em geral porque a leitura<br />

passa a ter tanta importância para elas que não conseguem ficar<br />

sem saber. Muitos leitores precoces não têm características<br />

peculiares, como inteligência acima da média, ou privilégios<br />

sociais, mas têm outro tipo de privilégio: considerar a leitura um<br />

valor e se acharem capazes de ler. No Brasil, há muito tempo<br />

se considera que a iniciação à leitura deva ocorrer apenas aos<br />

sete anos, por isso, quan<strong>do</strong> dependem da escola para aprender,<br />

nossas crianças começam a ler muito tarde.<br />

As crianças aprendem a ler participan<strong>do</strong> de atividades de uso<br />

da escrita junto com pessoas que <strong>do</strong>minam esse conhecimento.<br />

Aprendem a ler quan<strong>do</strong> acham que podem fazer isso. É difícil<br />

uma criança aprender a ler quan<strong>do</strong> se espera dela o fracasso, e<br />

também se ela não achar finalidade na leitura. To<strong>do</strong>s que lêem o<br />

fazem para atender uma necessidade pessoal: saber quais são<br />

as notícias <strong>do</strong> dia, as novidades da revista, a receita de um prato,<br />

como montar um equipamento, quais as regras de um jogo, para<br />

obter novos conhecimentos, aprender os encantos de um poema<br />

ou das emoções de um livro.<br />

A leitura para Cagliari (1995), é um processo no qual o leitor<br />

realiza um trabalho ativo de construção de significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> texto, a<br />

partir <strong>do</strong> que está buscan<strong>do</strong> nele, <strong>do</strong> conhecimento que já possui<br />

a respeito <strong>do</strong> assunto, <strong>do</strong> autor e <strong>do</strong> que sabe sobre a língua (as<br />

características <strong>do</strong> gênero, <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r, <strong>do</strong> sistema de escrita, etc).<br />

A estratégia de seleção permite que o leitor se atenha apenas<br />

aos índices úteis, desprezan<strong>do</strong> os menos importantes. Ao ler,<br />

fazemos isso o tempo to<strong>do</strong>: o nosso cérebro “sabe” que não<br />

precisa se deter na letra que vem após o “q”, pois certamente<br />

será o “u”, ou que nem sempre é o caso de se fixar nos artigos,<br />

pois o gênero está defini<strong>do</strong> pelo substantivo.<br />

A estratégia de antecipação torna possível prever o que ainda<br />

está por vir, com base em informações claras e em suposições. Se<br />

a linguagem for muito apurada e o conteú<strong>do</strong> não for muito novo<br />

e nem muito difícil, é possível eliminar letras em cada uma das<br />

palavras escritas em um texto, sem que a falta de informações<br />

prejudique a compreensão; é a antecipação de letras, sílabas e<br />

palavras e até significa<strong>do</strong>s.<br />

A estratégia de inferência permite captar o que não está dito<br />

no texto de forma clara. A inferência é aquilo que “lemos”, mas<br />

não está escrito, são “adivinhas” baseadas tanto em pistas dadas<br />

pelo próprio texto como em conhecimentos que o leitor possui.<br />

Algumas partes <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> de um texto podem ser inferidas<br />

em função <strong>do</strong> contexto: porta<strong>do</strong>res, circunstâncias de aparição<br />

ou propriedades, texto que vai contribuir para a interpretação.<br />

A estratégia de verificação ajuda o controle da eficácia<br />

das outras estratégias para confirmar ou não as especulações<br />

realizadas. Ao ler, utilizamos todas as estratégias ao mesmo<br />

tempo, sem saber disso; só o percebemos se formos analisarmos<br />

com cuida<strong>do</strong> nosso processo de leitura.<br />

Alguns conhecimentos prévios necessários à leitura são: saber<br />

como os textos se organizam e quais são as suas características,<br />

saber para que servem os títulos e admitir que não é preciso<br />

conhecer o significa<strong>do</strong> de todas as palavras para compreender<br />

uma mensagem escrita, além de ter intimidade com o conteú<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> texto.<br />

Dessa forma, podemos dizer então que, a leitura e a escrita<br />

são uma extensão da aprendizagem natural da linguagem<br />

integral, citada por Goodman (1997), pois são funcionais, reais e<br />

relevantes, <strong>do</strong> altamente concreto e contextualiza<strong>do</strong> para o mais<br />

abstrato, de contextos conheci<strong>do</strong>s para desconheci<strong>do</strong>s e se<br />

desenvolvem de um to<strong>do</strong> para as partes. Ainda, segun<strong>do</strong> o autor,<br />

um jogo de adivinhações psicolingüísticas, um processo no qual<br />

o pensamento e a linguagem estão involucra<strong>do</strong>s em contínuas<br />

transações, uma busca constate de significa<strong>do</strong>s.<br />

Embora a escola se proponha a formar leitores reflexivos e<br />

críticos, muitos chegam até a pós-graduação com problemas de<br />

leitura. Para Cagliari (1995), a escola cumprirá em grande parte o<br />

seu papel, se formar bons leitores, pois a leitura é a extensão da<br />

escola na vida das pessoas.<br />

O processo de aquisição da escrita é uma trajetória longa,<br />

com inúmeras questões a responder, esquemas a construir e<br />

reconstruir. Nesse constante assimilar e acomodar-se, o sujeito<br />

que aprende é requisita<strong>do</strong> a construir um caminho único e original,<br />

essencialmente marca<strong>do</strong> pela sua modalidade de aprendizagem,<br />

seu mo<strong>do</strong> de apropriação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, construídas desde as<br />

primeiras relações com os da<strong>do</strong>s da realidade. Dessa forma, não<br />

se pode resumir o processo de construção da escrita a estágios<br />

estanques, momentos ou etapas pré-estabelecidas. Não é<br />

possível “rotular” e avaliar o sujeito como pré-sílabico, silábico<br />

ou alfabético. Na verdade, compreender como se dá, de forma<br />

geral, o desenvolvimento no que se refere à aquisição da escrita<br />

nos fornece pistas para compreender como se dá o processo<br />

naquele sujeito em particular.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />

AZEVEDO, Cleomar. As emoções no processo de alfabetização<br />

e a atuação <strong>do</strong>cente. 1. ed. – São Paulo: Vetor, 2003.<br />

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo:<br />

Scipione, 1995.<br />

FERREIRO, Emília. Psicogênese da língua escrita. Emilia Ferreiro<br />

e Ana Teberosky. Tradução de <strong>Di</strong>ana Myriam Lchtenstein, Liana <strong>Di</strong><br />

Marco e Mário Corso. - Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.<br />

______. Reflexões sobre alfabetização. Tradução Horácio<br />

Gonzáles (et al). 24 ed. São Paulo: Cortez, 1995. (Coleção<br />

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FERREYRA, Erasmo Norberto. A linguagem oral na educação<br />

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FRAGO, Antonio Viñao. Alfabetização na sociedade e na<br />

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FREIRE, Paulo, 1921. A importância <strong>do</strong> ato de ler: em três<br />

artigos que se completam. 29. ed. – São Paulo: Cortez, 1994.<br />

73


GOODMAN, Kem. Introdução à linguagem integral. Porto<br />

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LURIA, Alexandr Romanovich. Pensamento e linguagem:<br />

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Lichtenstein e Mario Corso; supervisão de tradução de Sérgio<br />

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MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Tradução de<br />

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Martins Fontes, 1998.<br />

ZATZ, Lia. Aventura da escrita: história <strong>do</strong> desenho que virou<br />

letra. São Paulo: Moderna, 1991.<br />

NoTAS<br />

1- Professora <strong>do</strong> curso de pedagogia da FAMEC. MACÊDO, Nilza Isaac<br />

de. A dimensão subjetiva <strong>do</strong> professor alfabetiza<strong>do</strong>r e sua práxis: uma<br />

análise psicopedagógica. São Paulo: UNISA, 2005. <strong>Di</strong>ssertação de<br />

Mestra<strong>do</strong>.<br />

2- O termo alfabetiza<strong>do</strong> é utiliza<strong>do</strong> com o mesmo senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo em<br />

inglês “literacy”, designan<strong>do</strong> a condição de pessoas ou grupos que não<br />

apenas sabem ler e escrever, mas também, como propõe Magda Soares,<br />

utilizam a leitura e a escrita, incorporan<strong>do</strong>-as em seu viver, transforman<strong>do</strong><br />

por isso sua condição (Soares, 2001).<br />

3- Cita<strong>do</strong> por SOARES, 2001, p.71.<br />

A aprendizagem da leitura e da escrita.<br />

74


ESumo<br />

Este artigo analisa o último capítulo “Recapitulações e<br />

conclusões” <strong>do</strong> livro “A origem das espécies” escrito por Charles<br />

Darwin em 1859. Após a apresentação da vida e da obra de Darwin,<br />

nós discutimos a natureza das idéias darwinianas e a estrutura e<br />

a argumentação deste livro, bem como o seu principal objetivo:<br />

convencer o leitor sobre a teoria da evolução. A importância<br />

deste livro na história da ciência pode ser medida pelo o impacto<br />

da revolução darwiniana fora <strong>do</strong>s limites da ciência e pelas<br />

principais reações a Teoria de Darwin. Este trabalho apresenta<br />

também alguns livros interessantes sobre a teoria da evolução<br />

que podem ser usa<strong>do</strong>s com propósitos educacionais.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />

“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />

História da ciência, evolução, educação científica, biologia.<br />

ABSTrACT<br />

This article analyses the last chapter “Recapitulation and<br />

conclusion” of the book “On the origin of species” written by<br />

Charles Darwin en 1859. After the presentation of the life and<br />

work of Darwin, we discuss the nature of the Darwinian ideas<br />

and the structure and the argumentation of this book and its<br />

main objective: to convince the reader about the theory of the<br />

evolution. The importance of this book on the history of science<br />

can be measured by the impact of the darwinian revolution<br />

outside of science and the main reactions to Darwin´s theory. This<br />

work presents also some interesting books about the theory of<br />

evolution that can be used with educational intentions.<br />

KEYworDS:<br />

Ricar<strong>do</strong> Roberto Plaza Teixeira 1<br />

History of science, evolution, science education, biology.<br />

75


1- introdução à obra “A origem das espécies”<br />

O livro “A origem das espécies” teve a sua primeira edição<br />

publicada no ano de 1859 pelo britânico Charles Darwin (1809-<br />

1882). Podemos dizer que na história da ciência, Darwin está<br />

para a biologia assim como Newton está para a física: ambos<br />

estabeleceram os fundamentos destes campos científicos e<br />

vislumbraram as suas possibilidades de crescimento influencian<strong>do</strong><br />

cientistas mesmo muito tempo após as suas mortes. Neste<br />

trabalho usaremos a tradução para o português feita por Eduar<strong>do</strong><br />

Fonseca e publicada pela Editora Hemus. A versão integral em<br />

inglês <strong>do</strong> livro “A origem das espécies” encontra-se a disposição<br />

de quem desejar consultá-la gratuitamente na internet no sítio:<br />

http://pages.britishlibrary.net/charles.darwin/texts/origin1859/<br />

origin06.html.<br />

Charles Wynn e Arthur Wiggins (2002) classificam a teoria<br />

da evolução como uma das cinco maiores idéias da ciência<br />

em to<strong>do</strong>s os tempos. Na mesma linha, David Brody e Arnold<br />

Brody (1999) incluem a evolução como uma das sete maiores<br />

descobertas científicas da história. Em português, nos últimos<br />

anos foram edita<strong>do</strong>s no Brasil muitos livros que pretendem atingir<br />

um público leigo interessa<strong>do</strong> pela teoria da evolução. Dentre eles<br />

podemos citar os excelentes livros escritos por Zimmer (1999,<br />

2004), Dennett (1998), Fortey (2000), Rose (2000), Bizzo (2002),<br />

Weiner (1995), Dawkins (1996, 2001, 2005) e Gould (1989, 1992,<br />

1999, 2001). Particularmente, estes <strong>do</strong>is últimos autores, Richard<br />

Dawkins e Stephen Jay Gould, têm contribuí<strong>do</strong> muito para a<br />

divulgação da teoria da evolução por meio de seus instigantes<br />

livros, que são extremamente aconselha<strong>do</strong>s para aqueles que<br />

pretendem conhecer melhor as sutilezas e as conseqüências<br />

desta teoria, e a atualidade das idéias de Darwin. Sobre a<br />

evolução da espécie humana, destacamos os livros escritos<br />

por Mithen (2002), Stanford (2004) e Foley (2003). De autoria <strong>do</strong><br />

próprio Darwin pode-se citar também “Viagem de um naturalista<br />

ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, “A expressão das emoções no homem<br />

e nos animais”, “A origem <strong>do</strong> homem e a seleção sexual” e<br />

“Autobiografia (1809-1882)”, to<strong>do</strong>s traduzi<strong>do</strong>s para o português.<br />

Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809 na cidade de<br />

Shrewabury e faleceu em 19 de abril de 1882 em Kent, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> enterra<strong>do</strong> na Abadia de Westminster, próximo de Charles<br />

Lyell e Isaac Newton. Seu mérito científico foi o estabelecimento<br />

de uma teoria da evolução com um mecanismo que a explicasse:<br />

a seleção natural. Darwin estu<strong>do</strong>u Medicina e Teologia na<br />

universidade, ten<strong>do</strong> inclusive pesquisa<strong>do</strong> sobre a similaridade<br />

de órgãos entre animais com diferentes graus de complexidade.<br />

Mas seu futuro profissional na área da “história natural” foi sela<strong>do</strong><br />

após concordar em viajar por cerca de cinco anos (1831-1836)<br />

no barco inglês HMS Beagle que tinha a missão de mapear o<br />

mun<strong>do</strong> para a Coroa Inglesa. Após ser convida<strong>do</strong> formalmente<br />

para a viagem pelo capitão <strong>do</strong> barco, Robert FitzRoy, Darwin<br />

concor<strong>do</strong>u com a viagem de forma empolgada, mostran<strong>do</strong> um<br />

espírito aberto a descobertas em geral.<br />

Darwin procurou estudar e observar a natureza naquilo que<br />

poderia unificar toda a diversidade biológica existente sobre<br />

a Terra: desta forma, como lembra Mayr (1998), ele seguiu a<br />

tradição de muitos pensa<strong>do</strong>res gregos importantes. Darwin<br />

era filho de um médico, Robert Darwin, e neto também de um<br />

médico, Erasmus Darwin, que aliás havia publica<strong>do</strong> uma extensa<br />

obra científica: estas influências na sua formação seguramente<br />

devem ter motiva<strong>do</strong> seus interesses científicos. Sua família tanto<br />

de origem paterna quanto de origem materna pertencia à elite<br />

intelectual e social da época.<br />

O livro “A origem das espécies” – cujo nome original era<br />

“A origem das espécies por meio da seleção natural, ou a<br />

preservação das raças favorecidas na luta pela vida” – é ao<br />

Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />

“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />

mesmo tempo um <strong>do</strong>cumento científico e um livro de divulgação<br />

científica, e seu potencial pedagógico é conseqüência desta sua<br />

dupla característica.<br />

2- Análise <strong>do</strong> capítulo “recapitulações e conclusões” de<br />

“A origem das espécies”<br />

Darwin, no último capítulo de “A origem das espécies”,<br />

intitula<strong>do</strong> “Recapitulações e conclusões”, finaliza o livro com<br />

a estratégia de ressaltar os argumentos favoráveis e destruir<br />

aqueles desfavoráveis às suas teses. Em muitos momentos ele<br />

faz o papel de promotor contra as suas próprias idéias, para,<br />

obviamente, melhor poder contra-argumentar: “Em primeiro lugar,<br />

nada me parece mais difícil <strong>do</strong> que acreditar no aperfeiçoamento<br />

<strong>do</strong>s órgãos e <strong>do</strong>s mais complica<strong>do</strong>s instintos, não por artifícios<br />

superiores, embora semelhantes à razão humana, mas por<br />

acumulação de inúmeras e pequenas variações, todas vantajosas<br />

ao seu possui<strong>do</strong>r humano”.<br />

Contu<strong>do</strong>, é ao leitor comum, com os conceitos e preconceitos<br />

da época, que Darwin deve convencer e ele procura realizar<br />

esta tarefa de forma bem articulada. Para isso ele se posiciona<br />

no papel <strong>do</strong> leitor e <strong>do</strong> seu “bom senso” – com o qual devese<br />

tomar cuida<strong>do</strong> em assuntos científicos, pois segun<strong>do</strong> um<br />

comentário irônico de Einstein: “bom senso é o conjunto<br />

de to<strong>do</strong>s os preconceitos que adquirimos durante nossos<br />

primeiros dezoito anos de vida”. Portanto, se Darwin evidencia<br />

os argumentos contrários às suas hipóteses, é para neutralizálos:<br />

“esta dificuldade, ainda que parecen<strong>do</strong> insuportável à nossa<br />

imaginação, não poderia ser considerada válida se se admitirem<br />

as seguintes proposições: todas as partes <strong>do</strong> organismo e to<strong>do</strong>s<br />

os instintos oferecem pelo menos diferenças individuais; a luta<br />

constante pela sobrevivência determina a conservação <strong>do</strong>s<br />

desvios de estrutura ou de instinto que podem ser vantajosos;<br />

e, finalmente, gradações no esta<strong>do</strong> de perfeição de cada órgão,<br />

todas boas por si mesmas, podem ter existi<strong>do</strong>”.<br />

Outros exemplos de tentativa de “atacar” a si mesmo permeiam<br />

to<strong>do</strong> o texto: “Há, deve reconhecer-se, casos particulares difíceis<br />

que parecem contrários a teoria da seleção natural”; “pode<br />

perguntar-se porque não enxergamos em re<strong>do</strong>r de nós todas<br />

essas formas intermediárias e porque os seres organiza<strong>do</strong>s não<br />

estão confundi<strong>do</strong>s num inexplicável acaso”; “Por que é que as<br />

nossas coleções de fósseis não nos fornecem a prova evidente<br />

da gradação e das mutações das formas viventes?”. Darwin<br />

responde a estas perguntas apresentan<strong>do</strong> as limitações científicas<br />

de então: “Não se explorou geologicamente mais que uma<br />

minúscula parte da Terra” e “não temos conhecimento suficiente<br />

da constituição <strong>do</strong> universo e <strong>do</strong> interior da Terra para raciocinar<br />

com precisão sobre a sua idade.” Fica evidente a esperança de<br />

que a ciência avance na demolição das explicações bíblicas: “A<br />

crença na imutabilidade das espécies era quase inevitável, tanto<br />

que se não atribuía a história da Terra senão uma duração muito<br />

curta”.<br />

As idéias de Thomas Malthus e o linguajar econômico<br />

aparecem claramente: “A luta pela sobrevivência é uma<br />

conseqüência inevitável da multiplicação geométrica de to<strong>do</strong>s os<br />

seres organiza<strong>do</strong>s”; “de mo<strong>do</strong> a poderem apoderar-se <strong>do</strong> maior<br />

número de lugares diferentes na economia da natureza”; “Como<br />

a seleção natural atua em meio a concorrência”; “ [as espécies]<br />

sejam vencidas e substituídas por produtos vin<strong>do</strong>s de outras<br />

regiões.” Existiram entretanto outras tentativas de interpretação<br />

política. Engels, por exemplo, argumentou: “Assim como Darwin<br />

descobriu a lei <strong>do</strong> desenvolvimento orgânico, Marx descobriu<br />

a lei <strong>do</strong> desenvolvimento da história <strong>do</strong> homem”. É conheci<strong>do</strong>,<br />

a propósito, o fato de que Marx desejou dedicar “O Capital” a<br />

Darwin.<br />

76


Darwin tem um bom faro científico para prever o<br />

desenvolvimento da genética - “Um vasto campo de estu<strong>do</strong>s<br />

e apenas trilha<strong>do</strong> será aberto sobre as causas e as leis da<br />

variabilidade” – e da geologia - “no decurso imenso de épocas<br />

remotas houve grandes emigrações nas diversas partes da Terra,<br />

devidas a numerosas alterações climatéricas e geológicas”. É<br />

um otimista frente ao desenvolvimento científico e, desta forma,<br />

incentiva a nova geração de pesquisa<strong>do</strong>res de sua época:<br />

“Entrevejo, num futuro remoto, caminhos abertos a pesquisas<br />

muito mais importantes ainda”. Sua visão sobre a seleção natural<br />

também em certo senti<strong>do</strong> adquire um ar finalista – aceitan<strong>do</strong><br />

implicitamente o conceito polêmico de progresso subjacente<br />

à noção de evolução – pelo menos na tentativa de convencer<br />

ao leitor: “Ora como a seleção natural atua apenas para o bem<br />

de cada indivíduo, todas as qualidades corporais e intelectuais<br />

devem tender a progredir para a perfeição”.<br />

Perceben<strong>do</strong> com nitidez os pontos de sua teoria que seriam<br />

postos a prova pelos críticos, Darwin resolve em sua linha de<br />

argumentação salientá-los para mostrar a sutileza de suas idéias<br />

e ao mesmo tempo a limitação das evidências experimentais na<br />

época. Este é o caso da questão das “gradações” existentes<br />

entre diferentes espécies. Darwin, apresenta o problema e<br />

contra-argumenta, salientan<strong>do</strong> casos específicos que têm<br />

uma explicação mais complexa: “porém, notamos na natureza<br />

gradações tão esquisitas, que devemos ser muito compreensivos<br />

antes de afirmar que um órgão, ou um instinto, ou mesmo toda<br />

a conformação não atingiria o seu esta<strong>do</strong> atual percorren<strong>do</strong> um<br />

grande número de fases intermediárias”.<br />

O princípio da refutabilidade – ou seja, de que qualquer<br />

hipótese para ser científica deve ser refutável experimentalmente<br />

– sempre parece permear o estilo de argumentação de Darwin,<br />

como fica evidente, por exemplo, quan<strong>do</strong> ele afirma que “quanto<br />

à distribuição geográfica, as dificuldades que encontra a teoria da<br />

descendência com modificações são muito sérias”.<br />

O diálogo se dá muitas vezes com os velhos naturalistas e<br />

com suas opiniões preconcebidas, mas a esperança está sempre<br />

dirigida à nova geração de naturalistas “que poderão estudar<br />

imparcialmente as duas facetas da questão”. Darwin utiliza-se<br />

das evidências experimentais colecionadas ao longo da sua vida,<br />

sempre cuida<strong>do</strong>samente, pois nas suas palavras “a analogia<br />

pode ser um guia engana<strong>do</strong>r”. Os exemplos da<strong>do</strong>s são sempre<br />

instigantes e repletos de detalhes: “A disposição semelhante<br />

nos ossos na mão humana, na asa <strong>do</strong> morcego, na barbatana <strong>do</strong><br />

golfinho e na perna <strong>do</strong> cavalo; o mesmo número de vértebras no<br />

pescoço da girafa e <strong>do</strong> elefante (...) explicam-se facilmente pela<br />

teoria da descendência com modificações lentas e ligeiras”.<br />

O próprio Darwin se pergunta em um trecho, simulan<strong>do</strong><br />

indignação: “Até onde, poderão perguntar-me, levais vós a<br />

vossa <strong>do</strong>utrina da modificação das espécies?” E ele após alguns<br />

argumentos chega à conclusão contrária obviamente a “velha<br />

crença na criação das espécies através <strong>do</strong> barro”, “devemos<br />

admitir também que to<strong>do</strong>s os seres organiza<strong>do</strong>s que vivem<br />

ou que viveram na Terra podem originar-se de uma só forma<br />

original”. To<strong>do</strong>s nós, seres vivos terrestres, descendemos de<br />

uma forma original só: eis aqui uma das mais fortes conclusões<br />

<strong>do</strong> darwinismo e de sua concepção de mun<strong>do</strong>! E também a fonte<br />

da reação às suas idéias por parte de muitos grupos religiosos.<br />

O modelo seu de cientista parece ser Newton - “Ninguém<br />

hoje, contu<strong>do</strong>, se recusa a admitir todas as conseqüências que<br />

ressaltam de um elemento desconheci<strong>do</strong>, a atração, embora<br />

Leibniz tivesse outrora censura<strong>do</strong> Newton de ter introduzi<strong>do</strong> na<br />

ciência ‘propriedades ocultas e milagres’” – com o qual Darwin<br />

se identifica na luta contra a Igreja - “a maior descoberta que o<br />

homem efetuou, a lei da atração universal, foi também atacada por<br />

Leibniz como subversiva da religião natural, e nestas condições<br />

da religião revelada”. Mas a mensagem é também de conciliação<br />

religiosa, como no final poético e diplomático de seu livro: “Não<br />

há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com<br />

os seus poderes diversos atribuí<strong>do</strong>s primitivamente pelo Cria<strong>do</strong>r<br />

a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora,<br />

enquanto o nosso planeta, obedecen<strong>do</strong> à lei fixa da gravitação,<br />

continua a girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e<br />

admiráveis formas, originadas de um começo tão simples, não<br />

cessou de se desenvolver e desenvolve-se ainda!”<br />

3- Conclusões<br />

Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />

“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />

Passaram-se cerca de 20 anos desde a viagem no navio HMS<br />

Beagle para que Darwin publicasse “A origem das espécies” com<br />

as suas principais conclusões. Tal cautela se deve ao impacto<br />

de suas conclusões sobre o edifício explicativo da natureza<br />

construí<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s séculos pela Igreja. Por outro la<strong>do</strong>, estas<br />

mesmas conclusões darwinistas também foram – e ainda o são<br />

– interpretadas de forma a servir de legitimação para o sistema<br />

econômico capitalista.<br />

A extensão da obra, a variedade de exemplos, o estilo<br />

da escrita e o vigor <strong>do</strong>s argumentos nos mostram como esta<br />

obra foi detalhada e pacientemente estruturada pelo autor. A<br />

preocupação com a defesa das suas idéias, sobretu<strong>do</strong> em relação<br />

aos criacionistas fica evidente nos títulos de alguns capítulos:<br />

“<strong>Di</strong>ficuldades surgidas contra a hipótese de descendência com<br />

modificações” e “Contestações diversas feitas à teoria da seleção<br />

natural”. Para Bernard Cohen (1985) a revolução Darwiniana foi<br />

provavelmente a revolução mais significativa que já ocorreu no<br />

campo das ciências. Realmente, usan<strong>do</strong> as idéias de Thomas<br />

Kuhn (1975) de revolução científica, to<strong>do</strong> um paradigma<br />

perfeitamente bem estabeleci<strong>do</strong> foi abala<strong>do</strong> pelas propostas de<br />

Charles Darwin.<br />

Darwin não foi o primeiro a ter idéias evolutivas sobre a vida<br />

na Terra: segun<strong>do</strong> Stephen Jay Gould (1989), a idéia de evolução<br />

remonta aos gregos antigos. Um <strong>do</strong>s livros deste autor faz uma<br />

referência direta a este fato: “Lance de da<strong>do</strong>s – A idéia de evolução<br />

de Platão a Darwin”. O impacto de “A Origem das espécies” se<br />

deve em primeiro lugar ao detalhamento experimental <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

científicos expostos por Darwin para fundamentar a sua teoria.<br />

Ao receber a medalha Copley – a mais alta comenda científica<br />

da época – em 1864, Darwin obteve um reconhecimento<br />

quase unânime <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> científico. Esta aceitação de sua<br />

teoria relaciona-se também ao clima fértil social, política e<br />

economicamente para tais idéias. Nas palavras de Bernard<br />

Cohen (1985) em seu livro “Revolution in science”: “Of course,<br />

there are additional factors that must be taken into account for a<br />

full understanding of the receptivity of Darwin’s mind to Malthus<br />

and the recognition of the significance of competition that led to<br />

population thinking, among them the principles of individualism<br />

and competition in Adam Smith’s economic thinking.”<br />

Para muitos autores, Darwin teria escrito em 1870 o livro<br />

“A descendência <strong>do</strong> homem” para realizar uma autocrítica<br />

em relação a algumas idéias de “A origem das espécies” que<br />

serviram de legitimação ideológica pelas classes <strong>do</strong>minantes<br />

e pela Inglaterra na sua expansão pelo mun<strong>do</strong>; Darwin estaria<br />

com esse livro inician<strong>do</strong> o combate ao “monstro” que nasceu em<br />

nome dele - o denomina<strong>do</strong> darwinismo social - e à idéia que a<br />

seleção natural seria um modelo para a organização social.<br />

Nélio Bizzo (1987), de outro ângulo, chega a diferentes<br />

conclusões: “Na ‘Origem [Descendência] <strong>do</strong> homem’, [Darwin]<br />

deixava muito clara suas posições racistas: ‘A seleção permite<br />

ao homem agir de mo<strong>do</strong> favorável, não somente na constituição<br />

77


física de seus filhos, mas em suas qualidades intelectuais e morais.<br />

Os <strong>do</strong>is sexos deveriam ser impedi<strong>do</strong>s de desposarem-se quan<strong>do</strong><br />

se encontrassem em esta<strong>do</strong> de inferioridade muito acentuada de<br />

corpo ou espírito (...) enquanto os inconscientes se casam e os<br />

prudentes evitam o casamento, os membros inferiores da sociedade<br />

tendem a suplantar (em número) os membros superiores. (...)<br />

Deveria haver concorrência aberta para to<strong>do</strong>s os homens e deverse-iam<br />

fazer desaparecer todas as leis e to<strong>do</strong>s os costumes que<br />

impedem os mais capazes de conseguir os seus objetivos e criar<br />

o maior número possível de crianças.’” Esta última é seguramente<br />

uma referência à questão política - o princípio de não intervenção<br />

estatal e a mão invisível <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> – colocada pelo liberalismo,<br />

sustentáculo ideológico <strong>do</strong> capitalismo inglês em expansão. Mas<br />

a contradição é evidente em sua argumentação; ao mesmo tempo<br />

que usa a expressão “deveria haver concorrência aberta (...)”<br />

Darwin antes afirma que “os <strong>do</strong>is sexos deveriam ser impedi<strong>do</strong>s<br />

de (...)”: afinal, o esta<strong>do</strong> deve ou não deve intervir? <strong>Di</strong>to de outra<br />

forma: a seleção natural, como “mão invisível” necessitaria ou<br />

não de uma ajuda da “mão visível” <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> – se o objetivo for<br />

propagar a civilização ocidental?<br />

Darwin até hoje causa em seus leitores as mais variadas<br />

reações e interpretações, da paixão ao ódio. Suas idéias sobre a<br />

evolução enfrentam e enfrentaram ao mesmo tempo concepções<br />

espontâneas – como as lamarckistas –, distorções políticas<br />

– como as <strong>do</strong>utrinas fascistas – e contraposições religiosas<br />

– como as criacionistas. Quanto à força <strong>do</strong> criacionismo, basta<br />

lembrar que, em pronunciamentos públicos, George W. Bush,<br />

o presidente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s – maior potência científica<br />

<strong>do</strong> planeta – questionou a veracidade da teoria da evolução,<br />

argumentan<strong>do</strong> que sobre a criação das espécies confiava mais<br />

nas sagradas escrituras.<br />

Na Educação Básica é necessário trabalhar desde ce<strong>do</strong> a<br />

evolução como uma das idéias forças na Educação Básica, para<br />

formarmos cidadãos realmente alfabetiza<strong>do</strong>s cientificamente;<br />

em nosso país. Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais<br />

explicitam esta necessidade. Em termos pedagógicos, os livros<br />

de Darwin, e particularmente “A origem das espécies”, são<br />

excelentes ferramentas didáticas para o ensino da teoria da<br />

evolução, já que podem esclarecer as idéias básicas <strong>do</strong> autor<br />

e ao mesmo tempo permitem discutir algumas concepções<br />

equivocadas acerca <strong>do</strong> tema.<br />

O fato de que até hoje as discussões sobre a evolução<br />

incendeiam muitas mentes e muitos corações, nos mostra<br />

a vitalidade e a força das idéias contidas em “A origem das<br />

espécies”. Uma piada famosa evidencia bem o impacto da<br />

teoria da evolução no pensamento de muitas pessoas. Consta<br />

que, uma senhora inglesa <strong>do</strong> século XIX, ao dar-se conta das<br />

conseqüências da teoria da evolução teria afirma<strong>do</strong> ao seu<br />

mari<strong>do</strong>: “Queri<strong>do</strong>, vamos torcer para que as coisas que o senhor<br />

Darwin diz não sejam verdadeiras. Mas, se forem, vamos esperar<br />

que não caia na boca <strong>do</strong> povo” (Zimmer, 2004). Desta forma, é<br />

um dever nosso enquanto educa<strong>do</strong>res fazer com que a evolução<br />

caia na boca <strong>do</strong> povo!<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

BIZZO, Nélio. O que é darwinismo. São Paulo: Editora<br />

Brasiliense, 1987.<br />

BIZZO, Nélio. Darwin – Do telha<strong>do</strong> das Américas à teoria da<br />

evolução. São Paulo: Odysseus, 2002.<br />

BRODY, David Eliot e BRODY, Arnold R. As sete maiores<br />

descobertas científicas da história. São Paulo: Companhia das<br />

Letras, 1999.<br />

COHEN, I. Bernard. Revolution in science. Cambridge: The<br />

Belknap Press of Harvard University Press, 1985.<br />

DAWKINS, Richard. O rio que saía <strong>do</strong> Éden. Rio de Janeiro:<br />

Rocco, 1996.<br />

DAWKINS, Richard. O relojoeiro cego – A teoria da evolução<br />

contra o desígnio divino. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.<br />

DAWKINS, Richard. O capelão <strong>do</strong> diabo. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 2005.<br />

DARWIN, Charles. A origem das espécies. São Paulo: Editora<br />

Hemus, s/d.<br />

DARWIN, Charles. Viagem de um naturalista ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. São Paulo: Abril Cultural, s/d.<br />

DARWIN, Charles. A expressão das emoções no homem e<br />

nos animais. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.<br />

DARWIN, Charles. Autobiografia (1809-1892). Rio de Janeiro:<br />

Contraponto, 2000.<br />

DARWIN, Charles. A origem <strong>do</strong> homem e a seleção sexual.<br />

São Paulo: Itatiaia Editora, 2004.<br />

DENNETT, Daniel. A perigosa idéia de Darwin. Rio de Janeiro:<br />

Rocco, 1999.<br />

FOLEY, Robert. Os humanos antes da humanidade. São<br />

Paulo: Editora da Unesp, 2003.<br />

FORTEY, Richard. Vida: uma biografia não-autorizada. Rio de<br />

Janeiro: Editora Record, 2000.<br />

GOULD, Stephen Jay. O polegar <strong>do</strong> Panda. São Paulo:<br />

Martins Fontes, 1989.<br />

GOULD, Stephen Jay. Darwin e os grandes enigmas da vida.<br />

São Paulo: Martins Fontes, 1992.<br />

GOULD, Stephen Jay. A falsa medida <strong>do</strong> homem. São Paulo:<br />

Martins Fontes, 1999.<br />

GOULD, Stephen Jay. Lance de da<strong>do</strong>s – A idéia de evolução<br />

de Platão a Darwin. Rio de Janeiro: Record, 2001.<br />

KUHN, T. S. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo:<br />

Perspectiva, 1975.<br />

LYELL, Charles. Principles of geology. UK: Penguin, 1997<br />

MAYR, E.. O Desenvolvimento <strong>do</strong> Pensamento Biológico.<br />

Brasília: Ed. UNB, 1998.<br />

MITHEN, Steven. A pré-história da mente. São Paulo: Editora<br />

da Unesp, 2002.<br />

ROSE, Michael. O espectro de Darwin. Rio de Janeiro: Jorge<br />

Zahar Editor, 2000.<br />

STANFORD, Craig. Como nos tornamos humanos. Rio de<br />

Janeiro: Elsevier, 2004.<br />

WEINER, Jonathan. O bico <strong>do</strong> tentilhão. Rio de Janeiro:<br />

Rocco, 1995.<br />

WYNN, Charles M. E WIGGINS, Arthur W.. As cinco maiores<br />

idéias da ciência. São Paulo: Ediouro, 2002.<br />

ZIMMER, Carl. À Beira d´Água. Rio de Janeiro: Jorge Zahar<br />

Editor, 1999.<br />

ZIMMER, Carl. O livro de ouro da evolução. Rio de Janeiro:<br />

Ediouro, 2004.<br />

NoTAS<br />

Análise das conclusões <strong>do</strong> livro<br />

“A origem das espécies” de Charles Darwin.<br />

1- Doutor pela Universidade de São Paulo e Professor da FAAC, <strong>do</strong><br />

CEFET-SP, da PUC-SP e <strong>do</strong> Instituto Singularidades. E-mail para contato:<br />

rrpteixeira@bol.com.br<br />

78


ESumo<br />

O audiovisual no programa de alfabetização<br />

de jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />

Apresentação de histórico e justificativas <strong>do</strong> uso de audiovisual<br />

como meio e como produto no processo de alfabetização de<br />

jovens e adultos <strong>do</strong> programa promovi<strong>do</strong> pela FAMEC, Faculdade<br />

de Educação e Cultura Montessori, São Paulo, em parceria com<br />

a ALFASOL, a propósito da produção <strong>do</strong> vídeo “Programa de<br />

Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC(2001-2006)”.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Alfabetização de Jovens e Adultos, audiovisual, FAMEC,<br />

ALFASOL.<br />

ABSTrACT<br />

Presentation of historical and justifications of the audiovisual<br />

use as an instrument and product in the learning process of young<br />

and adults of the program promoted by the FAMEC – Faculdade<br />

de Educação e Cultura Montessori), São Paulo, in partnership<br />

with the ALFASOL, with the objective of the video production<br />

“Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC<br />

(2001-2006)”.<br />

KEYworDS:<br />

Claudemir Edson Viana (FAMEC) 1<br />

Joel Gaviolli (FAMEC) 2<br />

Young and adults learning, audiovisual, FAMEC, ALFASOL.<br />

79


introdução<br />

O pequeno histórico sobre o Programa de Alfabetização de<br />

Jovens e Adultos <strong>do</strong> texto abaixo, cria<strong>do</strong> para ser a locução em<br />

off <strong>do</strong> vídeo produzi<strong>do</strong> pela FAMEC em 2006, intitula<strong>do</strong> “Projeto<br />

Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC (2002-2006)”,<br />

dá uma rápida idéia <strong>do</strong> sucesso alcança<strong>do</strong> pela Instituição<br />

na implantação e gestão <strong>do</strong> Programa, sobretu<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> ao<br />

empenho e seriedade com que <strong>do</strong>centes, alunos e funcionários<br />

se disponibilizaram para trabalharem na execução <strong>do</strong> programa<br />

em todas as cidades monitoradas pela FAMEC, desde 2001,<br />

quan<strong>do</strong> da parceria estabelecida com ALFASOL.<br />

Texto <strong>do</strong> Vídeo “Projeto Alfabetização Solidária da FAmEC<br />

(2001-2006)”<br />

A Famec, Faculdade de Educação e Cultura Montessori, em<br />

sua política de qualidade <strong>do</strong> ensino, desenvolve o Projeto de<br />

Alfabetização de Jovens e Adultos em parceria com o Programa<br />

de Alfabetização Solidária envolven<strong>do</strong> estagiários, professores e<br />

coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s cursos de Pedagogia e Artes, sobretu<strong>do</strong>.<br />

Os objetivos <strong>do</strong> Programa em relação à Instituição de Ensino<br />

Superior são: capacitar, alfabetizar, instrumentalizar e familiarizar<br />

os alfabetiza<strong>do</strong>res com o <strong>material</strong> didático “Viver e Aprender”,<br />

acompanhar a execução <strong>do</strong> projeto nos municípios verifican<strong>do</strong><br />

as condições mínimas de trabalho, além de proporcionar uma<br />

larga experiência no que se refere à redução de analfabetos<br />

interferin<strong>do</strong> assim, diretamente, na qualidade de vida daqueles<br />

que participam <strong>do</strong> programa. Segun<strong>do</strong> Márcia Moreira,<br />

coordena<strong>do</strong>ra pedagógica <strong>do</strong> programa na Famec:<br />

“O Programa de Alfabetização da Famec vem contemplar os<br />

objetivos que a Instituição coloca no seu projeto pedagógico<br />

e como filosofia também da Instituição, que são os projetos<br />

sociais, como o Programa de Alfabetização Solidária que faz<br />

parte de um destes projetos sociais”.<br />

A Famec participa <strong>do</strong> Programa de Alfabetização Solidária<br />

desde 2001 em parceria com diferentes municípios. Em<br />

2001 e 2002, na cidade de Maués AM, em 2003 na cidade de<br />

Caridade <strong>do</strong> Piauí PI. Em 2004 passamos a atender 3 municípios<br />

simultaneamente no Esta<strong>do</strong> de Pernambuco: Água Preta, São<br />

José da Coroa Grande e Venturosa.<br />

A professora capacita<strong>do</strong>ra Denise Rockenback Nery diz:<br />

“Eu já estava há <strong>do</strong>is anos aqui na Famec e sempre ouvia falar<br />

<strong>do</strong> Projeto Alfasol e ai uma vez, quan<strong>do</strong> o Joel foi apresentar o<br />

projeto para os alunos e passou uns vídeos, eu fiquei bastante<br />

animada e procurei pelo Joel e falei: olha se precisar de alguém<br />

para trabalhar, estou pronta, eu não tenho muita experiência em<br />

alfabetização, mas acabei de fazer um curso sobre o tema e se<br />

você quiser ajuda estou disposta. Foi aí que ele me convi<strong>do</strong>u<br />

para trabalhar . O mais interessante é que conseguimos formar<br />

uma equipe, juntamos professores e alunos e formamos um<br />

grupo que discutia junto, preparava o curso junto e depois cada<br />

um ia para um município vivenciar uma experiência diferente.<br />

Na volta trazíamos os resulta<strong>do</strong>s e discutíamos juntos, acho<br />

que isso é que foi mais gratificante <strong>do</strong> projeto”.<br />

Em 2005, expandimos nosso trabalho para mais 2 municípios<br />

no mesmo Esta<strong>do</strong>, Tamandaré e Ribeirão, devi<strong>do</strong> à necessidade<br />

de atendimento.<br />

Atendimento aos municípios:<br />

O audiovisual no programa de alfabetização de<br />

jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />

8 comunidades em Maués – AM; 8 comunidades em Caridade<br />

<strong>do</strong> Piauí – PI; 10 comunidades em água Preta – PE; 10 comunidades<br />

em São José da Coroa Grande – PE; 50 comunidades em Venturosa<br />

– PE; 20 comunidades em Tamandaré – PE; 15 comunidades em<br />

Ribeirão – PE.<br />

maués (Am) – Localiza<strong>do</strong> na região nordeste <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Amazonas, o município cresceu em torno da produção <strong>do</strong> guaraná,<br />

sua maior riqueza. A população, constituída por indígenas e não<br />

indígenas, já aprendera a conviver com as diferenças culturais.<br />

Interligadas por rios, as salas de aula só podem ser alcançadas<br />

por meio de canoas a motor. O programa no município atendeu<br />

203 alunos nas oito comunidades, a maioria na zona rural.<br />

Caridade <strong>do</strong> Piauí (Pi) – Situada no sertão <strong>do</strong> Piauí, recentese<br />

da grande seca que começa em abril, maio e se prolonga<br />

até outubro aproximadamente. No curto perío<strong>do</strong> de chuva planta<br />

algodão e no resto <strong>do</strong> ano vive de pequenas atividades como:<br />

plantio de melancia, olaria produzin<strong>do</strong> tijolos, e criação de cabras<br />

e vacas. As condições são muito precárias na zona rural, não há<br />

luz, a claridade fica por conta de velas e lampiões e o acesso só<br />

é possível com carros de tração integral, motocicleta ou lombo<br />

de animal.<br />

água Preta (PE) – Está situada na região da Mata Sul de<br />

Pernambuco, a economia gera em torno de engenhos e Usinas<br />

de cana de açúcar e álcool, apesar de ser a mais antiga entre<br />

os municípios vizinhos, Água Preta parece que parou no tempo,<br />

seus vizinhos se desenvolveram no comercio, na saúde e na<br />

cultura. O município de Água Preta detém o maior número de<br />

engenhos da região e 2 Usinas de açúcar e álcool. Os alunos<br />

atendi<strong>do</strong>s somam 250 em vinte comunidades, a maioria situada<br />

em engenhos na zona rural de difícil acesso.<br />

São José da Coroa Grande (PE) – Município a beira mar no<br />

litoral sul pernambucano fazen<strong>do</strong> divisa com Alagoas, seu povo<br />

vive da pesca da lagosta e da prefeitura local, a maioria das salas<br />

de aula funciona em casas alugadas de terceiros pela prefeitura.<br />

A população atendida foi de 253 alunos em 20 comunidades,<br />

todas na área urbana.<br />

Venturosa (PE) – localizada no sertão pernambucano, sua<br />

economia gira em torno da produção de leite e queijo, muito<br />

dependente da prefeitura a população em sua maioria é muito<br />

simples sem acesso a um comércio mais expressivo. Neste<br />

município atendemos 1150 alunos em 50 comunidades, todas<br />

na área urbana.<br />

Tamandaré (PE) – Cidade litorânea, vive <strong>do</strong> turismo, <strong>do</strong>s<br />

engenhos e da uma Usina de açúcar e álcool. Vizinha de São<br />

José da Coroa Grande, Tamandaré com apenas 8 anos de vida<br />

conseguiu um progresso expressivo principalmente por causa <strong>do</strong><br />

turismo. Metade das salas estão localizadas na zona rural, dentro<br />

de engenhos. Com uma ótima estrutura, conseguimos atender<br />

256 alunos em 25 comunidades.<br />

Situa<strong>do</strong> a 120 quilômetros <strong>do</strong> Recife, ribeirão - PE vive de<br />

engenhos, de uma Usina de açúcar e álcool bem como de seu<br />

comércio ativo. Cidade muito acidentada, com grandes morros,<br />

80


e cujo acesso às salas de aula depende de um bom transporte,<br />

pois não é fácil chegar até as salas. Atendemos 15 turmas<br />

e 375 alunos.<br />

“Por mais que você leia, estude sobre o Brasil, nada como<br />

você ir em loco conhecer o lugar, não com aquela perspectiva<br />

<strong>do</strong> turista por exemplo: o município que eu trabalhei São José<br />

da Coroa Grande, é um município turístico, muito bonitas as<br />

praias, etc. Mas o nosso olhar era diferente, a gente ia com olhar<br />

de conhecer aquele povo, aquela gente, os seus problemas,<br />

suas dificuldades e ver um povo muito bravo, muito corajoso<br />

enfrentan<strong>do</strong> todas as dificuldades que vão desde a estrutura<br />

agrária, a concentração de terras, com acampamento <strong>do</strong> MST<br />

no lugar, falta crônica de emprego, de atividades econômicas,<br />

mas ao mesmo tempo uma força de vontade muito grande,<br />

seja <strong>do</strong>s professores, <strong>do</strong>s alunos principalmente”.( Denise<br />

Rockenback Nery)<br />

“O grande desafio em capacitar os professores da Alfasol, é<br />

acabar com a estranheza que a escola causa a muitos logo nos<br />

primeiros dias de aula, o modelo que a maioria guarda na mente<br />

é o tradicional, caderno, lápis, giz, lousa e um professor, muitos<br />

desses alfabetiza<strong>do</strong>res ao participar de debates, estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

meio, dinâmicas de grupo e apresentação de vídeos ficam<br />

com a sensação de que estão sen<strong>do</strong> engana<strong>do</strong>s, cabe ao<br />

capacita<strong>do</strong>r mostrar que os recursos varia<strong>do</strong>s também fazem<br />

parte da aprendizagem, no entanto, procuramos alertar esses<br />

professores para a importância de combinar essa atividade ao<br />

registro que para os alunos é uma característica especifica da<br />

escola, ao escrever eles tem a sensação de aprendizagem de<br />

apropriação <strong>do</strong> conhecimento e reflexão, para mim é gratificante<br />

compartilhar com os profissionais da Famec esse pacto pela<br />

alfabetização no esta<strong>do</strong> em que nasci que é Pernambuco em<br />

torno de um único objetivo: levar o direito a educação e o<br />

desenvolvimento humano aquelas pessoas que se encontram<br />

privadas da capacidade de ler, escrever, calcular e interpretar o<br />

mun<strong>do</strong> com dignidade”. (Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça)<br />

“Normalmente as pessoas ligam o de Programa Alfabetização<br />

Solidária ao curso de Pedagogia, mas na realidade o próprio<br />

nome diz: Alfabetização Solidária! Ocorre que o curso de<br />

Pedagogia forma educa<strong>do</strong>res, como eu costumo dizer para<br />

os meus alunos: cientistas da educação, e talvez pela maioria<br />

que procura o curso de Pedagogia serem professores, vêm da<br />

rede pública, grande parte então tenha esta visão, o que não<br />

deixa de ser uma verdade, mas os outros cursos são muito<br />

bem vin<strong>do</strong>s, e esta é a nossa intenção a partir desse ano, que<br />

outras pessoas ingressem no programa tanto professor como<br />

alunos <strong>do</strong> curso de Artes, de Administração etc, que têm<br />

pessoas com afinidade, que tem vontade, porque é um projeto<br />

muito interessante e gratificante para quem participar”.(Márcia<br />

Moreira)<br />

“A parceria de apoio à alfabetização de jovens e adultos foi<br />

instituída em 2001 entre a Faculdade de Educação e Cultura<br />

Montessori e o Programa de Alfabetização Solidária. Ela<br />

prevê o atendimento educacional de jovens e adultos nos<br />

Esta<strong>do</strong>s e Municípios com o menor índice de desenvolvimento<br />

humano. A Famec entende que o sucesso desse programa<br />

está liga<strong>do</strong> ao comprometimento e a articulação entre todas<br />

as partes envolvidas, ou seja, Instituições, Professores e<br />

alunos estagiários, esse compromisso prevê parcerias entre<br />

a Famec, a Alfasol, Prefeituras e Sociedade Civil, focalizan<strong>do</strong><br />

uma população não escolarizada. Os municípios atendi<strong>do</strong>s por<br />

nós, têm apoio <strong>do</strong> MEC e <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Desenvolvimento da<br />

Educação que normaliza os recursos financeiros necessários.<br />

Com esses recursos, com a vontade e o comprometimento <strong>do</strong>s<br />

interessa<strong>do</strong>s, garantiremos a continuidade <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

alunos egressos <strong>do</strong> programa de alfabetização”.(Joel Gaviolli)<br />

A historia <strong>do</strong> trabalho de alfabetização da Famec começou em<br />

2001, e nestes cinco anos alcançamos a marca de 12 municípios<br />

atendi<strong>do</strong>s, 255 turmas trabalhadas, 308 alfabetiza<strong>do</strong>res<br />

O audiovisual no programa de alfabetização de<br />

jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />

capacita<strong>do</strong>s e 4459 alunos alfabetiza<strong>do</strong>s. Atualmente estamos<br />

atenden<strong>do</strong> 6 municípios em Pernambuco, 102 turmas e 2500<br />

alunos, 4 lojas <strong>do</strong> Carrefour em São Paulo com 4 turmas e 60<br />

alunos, 8 turmas na periferia de São Paulo com 154 alunos. É<br />

a Famec pratican<strong>do</strong> da responsabilidade social promoven<strong>do</strong><br />

alfabetização em diferentes lugares <strong>do</strong> Brasil, e contan<strong>do</strong> com<br />

a solidariedade <strong>do</strong>s alunos, professores e funcionários, participe<br />

você também!”.<br />

Alfabetizar com audiovisual, um caminho possível<br />

A FAMEC tem ti<strong>do</strong> o máximo de cuida<strong>do</strong> com o andamento <strong>do</strong><br />

Programa Alfabetização Solidária desde que assumiu a parceria<br />

com a ONG ALFASOL, e com o compromisso com as cidades<br />

indicadas para sua tutela na desafiante tarefa de promover a<br />

capacitação e acompanhamento de alfabetiza<strong>do</strong>res, mora<strong>do</strong>res<br />

da mesma cidade em que o alto índice de analfabetismo e o<br />

Ìndice de Desenvolvimento Social clamam por intervenções<br />

como a deste programa.<br />

Este cuida<strong>do</strong> se dava em to<strong>do</strong>s os aspectos de<br />

responsabilidade da FAMEC. E, no que diz respeito à Formação<br />

<strong>do</strong>s Alfabetiza<strong>do</strong>res, o Projeto Pedagógico elabora<strong>do</strong> pela equipe<br />

de <strong>do</strong>centes e discentes envolvi<strong>do</strong>s no Programa no decorrer<br />

desse perío<strong>do</strong>, foi acumulan<strong>do</strong> meto<strong>do</strong>logias de capacitação <strong>do</strong>s<br />

Alfabetiza<strong>do</strong>res (geralmente mora<strong>do</strong>res das cidades tuteladas<br />

com o Ensino Médio) balizadas pelos fundamentos teóricos e<br />

meto<strong>do</strong>lógicos de Paulo Freire, ou seja, orientadas para uma<br />

educação dialógica e comprometida com a realidade e a situação<br />

<strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, o que neste caso apresentava-se<br />

em duas dimensões: a <strong>do</strong> Alfabetiza<strong>do</strong>r e a <strong>do</strong> Alfabetizan<strong>do</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> que ambos vistos como sujeitos no papel de aprendiz e<br />

educa<strong>do</strong>r.<br />

Esta perspectiva política-pedagógica foi sen<strong>do</strong> construída<br />

pela equipe de estagiários, alunos, <strong>do</strong>centes e coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Programa na FAMEC, como já foi descrito pela professora Katsue<br />

Hamada e Zenun em seu artigo “Educação de Jovens e Adultos”,<br />

publica<strong>do</strong> na Revista Científica da FAMEC 3 , e que tratava <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> de 2002 quan<strong>do</strong> atuamos em parceria com Caridade<br />

<strong>do</strong> Piauí(PI), e iniciávamos a parceria com cidades <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />

Pernambuco. Estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Meio, produção de correspondências,<br />

utilização de <strong>material</strong> da mídia impressa (jornais, revistas, gibis,<br />

folhetos, cartazes etc), <strong>do</strong> desenho, da História de Vida, dentre<br />

outros, são exemplos de meto<strong>do</strong>logias utilizadas e ensinadas<br />

aos Alfabetiza<strong>do</strong>res durante as oficinas de capacitação e nas<br />

orientações diretas ou a distância,, num processo mais ou menos<br />

lento a depender das condições apresentadas para a realização<br />

<strong>do</strong> trabalho (tempo e pessoas envolvidas, disposição política e<br />

administrativa de to<strong>do</strong>s os parceiros envolvi<strong>do</strong>s etc).<br />

De qualquer forma, o tempo, a experiência e até a persistência<br />

<strong>do</strong> Programa na FAMEC foram acumulan<strong>do</strong> um saber que reflete<br />

também aquilo que a Instituição tem, confia e utiliza para a<br />

formação de professores <strong>do</strong> Ensino Básico em seus cursos de<br />

Pedagogia, Educação Artística, e que, de certa forma, existe em<br />

to<strong>do</strong>s os seus cursos de graduação. Trata-se da educação para<br />

e pela mídia, por constatar que ela faz parte e é constituinte <strong>do</strong><br />

complexo processo de representação social construída pelos<br />

sujeitos de uma comunidade. Mais claro: sabemos o quanto a<br />

mídia, sobretu<strong>do</strong> a audiovisual a que quase to<strong>do</strong>s os alunos <strong>do</strong><br />

Programa têm acesso, está presente no cotidiano de milhões<br />

de brasileiros, e o quanto ela acaba ten<strong>do</strong> importante papel<br />

no processo de construção <strong>do</strong> conhecimento realiza<strong>do</strong> pelos<br />

indivíduos, sobre seu contexto e sobre si. Muito das informações<br />

que chegam pela Tv e pelo Rádio, acabam sen<strong>do</strong> quase que as<br />

únicas fontes sobre algo que um sujeito tem a sua disposição<br />

81


para, juntamente com seu contexto social imediato (família,<br />

religião, clube etc), elaborar sua consciência de si e <strong>do</strong> Outro.<br />

Tal abordagem política pedagógica <strong>do</strong> Projeto Político<br />

Pedagógico da FAMEC, e que se reflete em seus projetos, é o de<br />

se apropriar das mídias e de suas linguagens como instrumento<br />

e objeto de ensino e reflexão entre seus alunos e <strong>do</strong>centes. E<br />

isto perpassou os cursos de Graduação da FAMEC em forma<br />

de disciplinas específicas e/ou de conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s ou a<br />

isso destina<strong>do</strong>s. Condizente com esta proposta, a Instituição<br />

disponibilizou a estrutura mínima necessária para a utilização e<br />

produção <strong>do</strong> audiovisual. Instalações na FAMEC como salas de<br />

aula com Tv e Vídeo, auditórios e salas multimídia, laboratórios<br />

de informática com acesso à Internet, e outros que atendem<br />

às necessidades de to<strong>do</strong>s os alunos são exemplos disto.<br />

Também oferece equipamento e profissional especializa<strong>do</strong>s<br />

para a edição de vídeos, o que permitiu que a mesma equipe da<br />

FAMEC, envolvida no desafio de capacitar alfabetiza<strong>do</strong>res para<br />

a alfabetização de outros, também pudesse fazer uso da mídia<br />

audiovisual, e passasse para outro patamar da relação entre<br />

comunicação e educação, ou seja, a de produtor no senti<strong>do</strong><br />

mais clássico <strong>do</strong> termo, e aqui <strong>material</strong>iza<strong>do</strong> pela produção<br />

de um vídeo de 20 minutos contan<strong>do</strong> a história <strong>do</strong> Programa<br />

de Alfabetização Solidária da FAMEC, e apresentan<strong>do</strong> alguns<br />

fundamentos <strong>do</strong> programa.<br />

Além de produto, no senti<strong>do</strong> de ser o resulta<strong>do</strong>, o final de<br />

um processo, é preciso perceber que, agora, a mesma equipe<br />

<strong>do</strong> Programa Alfabetização Solidária da FAMEC e toda a equipe<br />

da Instituição estão descobrin<strong>do</strong> a dimensão da utilização deste<br />

produto em processos, ou seja, na divulgação <strong>do</strong> programa na<br />

Instituição e fora dela, na organização e preparação da equipe<br />

e das propostas de capacitação <strong>do</strong>s Alfabetiza<strong>do</strong>res, e de<br />

acompanhamento/avaliação <strong>do</strong> processo de alfabetização nas<br />

cidades sob tutoria da FAMEC. Certamente que, sen<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong><br />

de um processo pedagógico e não de um simples interesse<br />

merca<strong>do</strong>lógico da Instituição, o vídeo “O Programa Alfabetização<br />

de Jovens e Adultos da FAMEC (2001-2006)” tem o poder de<br />

refletir e servir aos integrantes <strong>do</strong> Programa para promoção de<br />

processos de educação e comunicação.<br />

E isto inclui procedimentos <strong>do</strong>s capacita<strong>do</strong>res da FAMEC em<br />

visita às cidades tutoradas como a da observação antropológica,<br />

como descreveu acima a professora Denise Rockenback Nery.<br />

Outras meto<strong>do</strong>logias de Ensino utilizadas e ensinadas aos<br />

Alfabetiza<strong>do</strong>res, e que constituíram a prática <strong>do</strong>s executores <strong>do</strong><br />

Programa da FAMEC, estiveram sempre balizadas no senti<strong>do</strong> de<br />

explorar e fazer explorar o próprio meio social como fonte, objeto<br />

e meio de promoção da alfabetização. E também a utilização<br />

<strong>do</strong> audiovisual na capacitação <strong>do</strong>s Alfabetiza<strong>do</strong>res é objeto de<br />

nossas preocupações, e está claramente norteada por objetivos,<br />

como aponta acima Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça.<br />

O Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da<br />

FAMEC acabou por associar meios e meto<strong>do</strong>logias de ensino<br />

e de alfabetização ao <strong>material</strong> didático de apoio ofereci<strong>do</strong> pelo<br />

Programa da Alfabetização Solidária, como é o exemplo <strong>do</strong> vídeo<br />

e <strong>do</strong> audiovisual de forma geral, como fonte e linguagem, no<br />

processo de ensino e de aprendizagem.<br />

Em fim, neste senti<strong>do</strong>, trata-se <strong>do</strong> ensinar a ler e escrever,<br />

mas também por meio das imagens, em movimento ou não! De<br />

forma ampla, trata-se de influências diretas de uma perspectiva<br />

educomunicativa 4 , que aparece ainda de forma inconsistente no<br />

Programa de Alfabetização Solidária da FAMEC, e mesmo no<br />

Projeto Político Pedagógico da Instituição, mas que já contribue<br />

para a mudança de paradigmas na educação de jovens e<br />

adultos, analfabetos ou não!. Isto é também reflexo <strong>do</strong> perfil de<br />

vários integrantes da Instituição e <strong>do</strong> Programa de Alfabetização<br />

da FAMEC que possuem formação e experiências nesta nova<br />

área <strong>do</strong> conhecimento, a educomunicação, resultante da<br />

interdisciplinaridade, sobretu<strong>do</strong> entre comunicação e educação,<br />

sen<strong>do</strong> que alguns deles são integrantes <strong>do</strong> Programa de Pós-<br />

Graduação da Escola de Comunicações e Artes da USP, onde a<br />

área vem se constituin<strong>do</strong>.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à<br />

prática educativa. Paz e Terra, 1997.<br />

MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações –<br />

comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.<br />

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação <strong>do</strong> futuro.<br />

São Paulo: Cortez, 2002.<br />

SOARES, I. O. Sociedade da Informação ou da Comunicação.<br />

São Paulo: Cidade Nova, 1997.<br />

_____________. “Um novo campo de trabalho”, Jornal da<br />

USP-4 a 10/06/2001.<br />

VIANA, C. E. O processo educomunicacional: a mídia na<br />

escola. <strong>Di</strong>ssertação de Mestra<strong>do</strong>. ECA/USP, 2000.<br />

NoTAS<br />

O audiovisual no programa de alfabetização de<br />

jovens e adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />

1- Doutor em Ciências da Comunicação (ECA/USP). <strong>Di</strong>retor Acadêmico<br />

da FAMEC, integrante da equipe gestora <strong>do</strong> programa Alfabetização<br />

Solidária na FAMEC; pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> LAPIC (Laboratório de Pesquisas<br />

sobre Infância, Imaginário e Comunicação – ECA/USP); Especialização<br />

em Educomunicação (ECA/USP).<br />

2- Pedagogo forma<strong>do</strong> na FAMEC, pós-graduan<strong>do</strong> em Arte-Educação na<br />

FAMEC, e Gestor <strong>do</strong> programa Alfabetização Solidária da FAMEC.<br />

3- Artigo disponível no site www.montessorinet.com.br, em Biblioteca<br />

<strong>Di</strong>gital, clicar no ano de 2004, na íntegra em PDF.<br />

4- Para saber mais sobre educomunicação, consulte o site <strong>do</strong> Núcleo<br />

de Comunicação e Educação da ECA/USP (NCE) – www.eca.usp.br/<br />

nucleos/nce.<br />

82


ESumo<br />

Jogo chinês TANGRAM na aprendizagem<br />

de matemática no Programa Alfabetização<br />

de Jovens e Adultos da FAMEC com a ALFASOL 1 .<br />

O momento atual pede uma matemática viva, não uma ciência<br />

estática, pronta e acabada a ser memorizada. A Matemática<br />

deve preservar suas características de produto cultural e<br />

instrumentalizar os alunos para que os mesmos compreendam<br />

e mudem a realidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em que vivem. Sen<strong>do</strong> assim,<br />

optamos por trabalhar com os alunos (alfabetiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s<br />

municípios atendi<strong>do</strong>s pela FAMEC - Faculdade de Educação e<br />

Cultura Montessori) sobre o quebra-cabeça chinês, de origem<br />

milenar, que permite criar e montar mais de 1.500 figuras entre<br />

animais, plantas, pessoas, objetos, letras, números, figuras<br />

geométricas e outras, o TANGRAM, como uma meto<strong>do</strong>logia de<br />

ensino de matemática para jovens e adultos em alfabetização.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Aprendizagem, matemática, jogo chinês, alfabetização de<br />

jovens e adultos, FAMEC, ALFASOL.<br />

ABSTrACT<br />

At the present an alive mathematics is needed, not as a static<br />

science, ready and finished to be memorized. The Mathematics<br />

must preserve its characteristics of cultural product and to proved<br />

the students the understanding and the change of the reality of<br />

the world where they live. So, we opt to work with the students<br />

(teachers of the cities who teach to read an write attended by<br />

FAMEC – Faculdade de Educação e Cultura Montessori) on<br />

Chinese game, of millenarian origin, that allows to create and<br />

mount more than 1,500 figures animals, plants, people, objects,<br />

letters, numbers, geometric figures and soon, the TANGRAM, as<br />

a metho<strong>do</strong>logy of education of mathematics for young and adults<br />

learning.<br />

KEYworDS:<br />

Ana Paula Vieira Men<strong>do</strong>nça 2<br />

Learning, mathematics, Chinese game, young and adults<br />

learning, FAMEC, ALFASOL.<br />

83


Apresentação<br />

A Matemática auxilia na resolução de muitos problemas<br />

<strong>do</strong> cotidiano, tem inúmeras aplicações no mun<strong>do</strong> e configurase<br />

como um poderoso instrumento para a construção de<br />

conhecimentos em outras áreas, além de construir enormemente<br />

com o lógico dedutivo.<br />

Por esse papel tão importante que desempenha na formação<br />

das pessoas, o ensino de matemática não pode ser visto como<br />

simples transmissão de conceitos e procedimentos de cálculo.<br />

Torna-se fundamental mudar essa forma mecânica de ensino.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a presente proposta foi elaborada acreditan<strong>do</strong><br />

que é fundamental que os alunos pensem e aprendam com suas<br />

próprias ações, resolven<strong>do</strong> problemas, levantan<strong>do</strong> hipóteses e<br />

confrontan<strong>do</strong>-as com o conhecimento socialmente construí<strong>do</strong>.<br />

O momento atual pede uma matemática viva, não uma ciência<br />

estática, pronta e acabada a ser memorizada. A Matemática<br />

deve preservar suas características de produto cultural e<br />

instrumentalizar os alunos para que os mesmos compreendam e<br />

mudem a realidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em que vivem.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, optamos por trabalhar com os alunos de EJA<br />

com o quebra-cabeça chinês, de origem milenar, que permite<br />

criar e montar mais de 1.500 figuras entre animais, plantas,<br />

pessoas, objetos, letras, números, figuras geométricas e outras,<br />

o TANGRAM.<br />

Descrição da atividade<br />

Os trabalhos em Matemática devem iniciar-se com a<br />

proposição de problemas cuja solução envolva o conteú<strong>do</strong> a ser<br />

estuda<strong>do</strong>.<br />

Essas situações – problemas devem apresentar desafios<br />

“difíceis,” porém possíveis para os alunos de mo<strong>do</strong> que eles<br />

busquem novas informações ou reorganizem seus conhecimentos<br />

anteriores para chegar à resolução <strong>do</strong>s problemas propostos.<br />

Iniciar a exploração <strong>do</strong>s diferentes conteú<strong>do</strong>s por meio de<br />

situações – problema, e não da definição de conceitos ou da<br />

apresentação de técnicas, faz com que os alunos coloquem em<br />

jogo seus conhecimentos prévios sobre os conteú<strong>do</strong>s aborda<strong>do</strong>s,<br />

elaborem hipóteses e procedimentos pessoais. Essas hipóteses<br />

e procedimentos pessoais, convencionais ou não, devem ser<br />

socializa<strong>do</strong>s e discuti<strong>do</strong>s pelos alunos. Montan<strong>do</strong> o TANGRAM<br />

o aluno pode perceber que existem diversas maneiras de<br />

resolver um problema e, também, pode analisar qual ou quais<br />

procedimentos são os mais claros, simples, rápi<strong>do</strong>s etc.<br />

Posteriormente, esses procedimentos devem ser testa<strong>do</strong>s<br />

em outras situações – problema propostas pelo professor,<br />

envolven<strong>do</strong> outros contextos a depender <strong>do</strong>s objetivos<br />

planeja<strong>do</strong>s, para que possam ser valida<strong>do</strong>s pelo grupo. Essa<br />

validação <strong>do</strong>s procedimentos e hipóteses pelos alunos passa a<br />

constituir-se em um conjunto de saberes compartilha<strong>do</strong>s pelo<br />

grupo, ou “conclusões provisórias”. Registradas passam a<br />

compor um banco de pré-conceitos (noções) e procedimentos<br />

que podem ser constituí<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s pelos alunos durante a<br />

resolução de novos problemas.<br />

Ao avaliar que a maioria <strong>do</strong>s alunos está elaboran<strong>do</strong><br />

concepções bastante próximas aos conhecimentos considera<strong>do</strong>s<br />

socialmente váli<strong>do</strong>s, o professor deverá ‘institucionalizar” o saber<br />

construí<strong>do</strong> pelos alunos, comparan<strong>do</strong>-o ao saber convencional,<br />

ou seja, apresentan<strong>do</strong>-lhes as definições e os procedimentos<br />

convencionais.<br />

Jogo chinês TANGRAM na aprendizagem de matemática no<br />

Programa Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />

Feito isso, trabalha-se com o TANGRAM para a resolução<br />

de problemas mais complexos, reinician<strong>do</strong>-se o ciclo com a<br />

apresentação de novos desafios aos alunos.<br />

Em seus estu<strong>do</strong>s, Jean Piaget (1967) mostrou-nos como os<br />

indivíduos avançam de um estágio de conhecimento para outros<br />

mais amplos e complexos, vivencian<strong>do</strong> situações de conflito<br />

cognitivo ou obstáculos (situações-problema) na interação com<br />

objetivos de aprendizagem. Esses obstáculos levam o sujeito<br />

a reorganizar seus conhecimentos anteriores ou buscar novas<br />

informações para ultrapassá-los, motivan<strong>do</strong>-os a pesquisarem e<br />

trocarem idéias sobre esses problemas.<br />

Vygotsky também evidência em seus estu<strong>do</strong>s a necessidade<br />

de interação com os objetos de aprendizagem num ambiente<br />

social real, no qual os parceiros menos experientes podem<br />

contribuir. A contribuição entre os alunos é fundamental<br />

para o avanço individual e coletivo destes na construção <strong>do</strong><br />

conhecimento.<br />

Piaget também evidenciou a existência de maneiras<br />

características de entender um objeto de conhecimento – por<br />

exemplo, o número – geralmente comum aos indivíduos que<br />

se encontram num mesmo estágio de desenvolvimento. Essa<br />

“contribuição de Piaget reforça ainda mais a idéia de que<br />

devemos apresentar problemas aos alunos, sem ter ensina<strong>do</strong>”,<br />

antes, todas as etapas e ferramentas necessárias à sua solução.<br />

Nesse caso, os alunos não encontrarão os mesmos obstáculos<br />

na situação-problema apresentada, e nem a resolverão com os<br />

mesmos recursos, sen<strong>do</strong> esta heterogeneidade considerada<br />

um fator de enriquecimento da discussão e aprendizagem <strong>do</strong><br />

grupo.<br />

Em Matemática, o TANGRAM pode ser usa<strong>do</strong> como recurso,<br />

para trabalhar não apenas como formas geométricas, mas<br />

principalmente, habilidades como composição e decomposição<br />

de figuras, discriminação e memória visual, percepção de<br />

diferentes posições que uma figura pode assumir sem alterar<br />

sua forma, representação de figuras geométricas, construção de<br />

figuras e para conceber objetos e formas.<br />

Essas habilidades, quan<strong>do</strong> desenvolvidas simultaneamente,<br />

permitem ao aluno superar dificuldades de reconhecimento de<br />

formas geométricas e suas propriedades e auxiliam a relacionar<br />

propriedades e figuras, passan<strong>do</strong> a um estágio de pensamento<br />

mais analítico <strong>do</strong> que visual.<br />

Isso significa que, para que uma atividade seja considerada<br />

problema, os alunos não devem contar com todas as<br />

informações necessárias para sua resolução. Dessa forma,<br />

montan<strong>do</strong> o TANGRAM, os alunos são leva<strong>do</strong>s a reorganizar<br />

seus conhecimentos anteriores e/ou basear novas informações<br />

e procedimentos para resolver a situação problema.<br />

Vale salientar que o ensino, que nós da FAMEC acreditamos<br />

volta-se muito mais para o processo <strong>do</strong> que para o produto,<br />

dan<strong>do</strong> lugar a uma Matemática de experimentação e construção<br />

permanentes.Não há ênfase na quantidade de conceitos que os<br />

alunos mais reproduzem e, sim, na qualidade <strong>do</strong>s conhecimentos<br />

que produzem. Não há pressa, há respeito. A Matemática de<br />

processo supõe respeitar o tempo e a forma de pensar de cada<br />

aluno, fornecen<strong>do</strong> espaço e <strong>material</strong> para a criação e troca de<br />

idéias. É indispensável o confronto de idéias com outras pessoas<br />

e com situações de uso social , para progredir com segurança na<br />

aquisição de conhecimentos.<br />

84


A LENDA Do TANGrAm<br />

Conta a lenda que um jovem chinês despedia-se<br />

de seu mestre, pois iniciaria uma grande viagem<br />

pelo mun<strong>do</strong>. Nessa ocasião, o mestre entregou-lhe<br />

um espelho de forma quadrada e disse:<br />

- Com esse espelho você registrará tu<strong>do</strong> que ver<br />

durante a viagem, para mostrar-me na volta.<br />

O discípulo, surpreso, indagou:<br />

- Mas mestre, como um simples espelho<br />

poderei eu lhe mostrar tu<strong>do</strong> o que encontrar<br />

durante a viagem?<br />

No momento em que fazia esta pergunta, o<br />

espelho caiu-lhe das mãos, quebran<strong>do</strong>-se em<br />

sete peças.<br />

Então o mestre disse:<br />

- Agora você poderá, com essas sete peças,<br />

construir figuras para ilustrar o que viu durante<br />

a viagem.<br />

Lendas e histórias como essas sempre cercam objetos ou<br />

fatos de cuja origem<br />

temos pouco ou nenhum conhecimento, como é o caso <strong>do</strong><br />

TANGRAM. Se é ou não verdade, pouco importa: o que vale é a<br />

magia , própria <strong>do</strong>s mitos e lendas.<br />

oficina matemática – trabalhan<strong>do</strong> com o TANGrAm<br />

<strong>material</strong> necessário: 1 TANGRAM para cada participante,<br />

lápis de cor, folha de sulfite envelopes para guardar o jogo.<br />

Procedimentos:<br />

1- Fazer uma leitura <strong>do</strong> texto acima com os participantes e<br />

pedir que ilustrem a lenda no sulfite.<br />

2- Solicitar que observem as peças <strong>do</strong> TANGRAM e digam<br />

como foi que se quebraram, conforme a lenda: que figuras<br />

foram formadas, quantas de cada tipo, quais as semelhanças e<br />

diferenças entre elas etc.<br />

3- Para finalizar, pedir aos participantes que criem uma figura<br />

qualquer, usan<strong>do</strong> as sete peças. Quan<strong>do</strong> terminar, devem tornar<br />

a figura sobre a folha de sulfite, pintan<strong>do</strong> em seguida como<br />

desejarem e escrever um texto sobre ela.<br />

Observação: Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s terminarem seus textos, estes<br />

serão li<strong>do</strong>s para a classe e reescritos, se você desejar trabalhar<br />

questões de leitura e escrita.<br />

Uma exposição de to<strong>do</strong>s os desenhos e textos poderá ser<br />

organizada e, depois juntar os trabalhos em forma de livro que<br />

ficará a disposição da turma.<br />

Jogo chinês TANGRAM na aprendizagem de matemática no<br />

Programa Alfabetização de Jovens e Adultos da FAMEC com a ALFASOL.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

P. PIAGET, Jean. O raciocínio na criança, Rio de Janeiro:<br />

Recoral, 1967<br />

ZUNINO, Delia Lener de. A Matemática na escola: aqui e<br />

agora. Porto Alegre: Artmed, 1996.<br />

____________________. A Matemática das sete peças <strong>do</strong><br />

Tangram. São Paulo: CAEM/IME/USP,1994<br />

NoTAS<br />

1- Texto de Oficina apresentada na VII Semana Internacional de<br />

Alfabetização de Jovens e Adultos, promovi<strong>do</strong> pela ALFASOL em São<br />

Paulo, no dia 13/09/06, e apresentada pela sua autora.<br />

2- Pedagoga formada pela FAMEC, aluna <strong>do</strong> curso de pós-graduação<br />

de Arte-Educação da FAMEC. Professora Polivalente da 3a. série<br />

<strong>do</strong> Ensino Fundamental <strong>do</strong> Colégio Professor Carneiro Ribeiro, e<br />

professora capacita<strong>do</strong>ra de alfabetiza<strong>do</strong>res em cidades <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />

Pernambuco, participantes <strong>do</strong> Programa Alfabetização Solidária e sob<br />

acompanhamento da FAMEC.<br />

85


ESumo<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de<br />

Cursos de Ciências Contábeis: Padrões Nacionais<br />

Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />

As competências e as habilidades são conceitos utiliza<strong>do</strong>s<br />

tanto no campo profissional quanto no educacional e são<br />

aborda<strong>do</strong>s neste artigo sob diferentes prismas: o semântico,<br />

o didático pedagógico, o psicológico, o profissional e o legal,<br />

cada um <strong>do</strong>s quais contribuin<strong>do</strong> para a sua compreensão e<br />

aplicabilidade no processo da educação contábil vista sob o<br />

prisma da globalização <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho. São apresentadas<br />

as competências e habilidades a serem desenvolvidas na<br />

formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r, sugeridas pela Comissão de Educação<br />

da Federação Internacional de Conta<strong>do</strong>res – IFAC, assim como<br />

aquelas propostas pela Legislação Educacional Brasileira. Para<br />

concluir, são apresenta<strong>do</strong>s: o panorama social <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho <strong>do</strong> Conta<strong>do</strong>r no Brasil, e algumas indicações de quais<br />

são as competências e habilidades desejadas pelo merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho. As considerações finais indicam que há uma tendência<br />

de harmonia entre os parâmetros nacionais e os internacionais<br />

no que se refere à formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r no tocante às suas<br />

competências e habilidades.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Competências e habilidades, ciências contábeis,<br />

globalização, formação acadêmica.<br />

ABSTrACT<br />

The abilities and the skills are concepts used as in the<br />

professional as in the educational field and they are boarded<br />

in this article under different prisms: the semantic one, the<br />

pedagogical didactic, the psychological one, the professional and<br />

the legal one, each one of which contributing its understanding<br />

and applicability in the process of the countable education<br />

sight under the prism of the globalization of the professional<br />

market. The abilities and skills are presented to be developed<br />

in the formation of the accountant, suggested the Commission<br />

of Education of the International Federacy of Accountants -<br />

IFAC, as well as those proposals for the Brazilian Educational<br />

Legislation. To conclude, it is presented: the social panorama of<br />

the market of the Accountant in Brazil, and some indications of<br />

which are the abilities and skills desired by the market. The final<br />

considerations indicate that it has a trend of harmony considering<br />

the national and international parameters as for the formation of<br />

the accountant in regards to its abilities and skills<br />

KEYworDS:<br />

Ms. Célia de Lima Pizolato 1<br />

Ms. <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong> <strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong> Giorgi 2<br />

Abilities and abilities, countable sciences, globalization,<br />

academic formation.<br />

86


introdução<br />

O século XXI é palco de mudanças vertiginosas no<br />

conhecimento humano, na tecnologia, nas comunicações,<br />

na ampliação da visão de mun<strong>do</strong>, na internacionalização das<br />

empresas e, conseqüentemente, no merca<strong>do</strong> de trabalho, na<br />

tomada de consciência sobre a questão da preservação da<br />

natureza, na ética e valores morais relativos à gestão pública e<br />

privada, na solidariedade e na formação da cidadania.<br />

Este cenário requer um processo educacional diferencia<strong>do</strong>.<br />

Hoje, o ensino aprendizagem é idealiza<strong>do</strong>, planeja<strong>do</strong> e é<br />

indispensável que seja efetiva<strong>do</strong> através <strong>do</strong> desenvolvimento das<br />

competências e habilidades de to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s no processo:<br />

professores e alunos.<br />

O professor de nível superior da formação profissional tem<br />

a responsabilidade de formar pessoas com competências<br />

e habilidades para dar a sua contribuição neste ambiente,<br />

quer atuan<strong>do</strong> como <strong>do</strong>cente, quer como profissional, quer<br />

como pesquisa<strong>do</strong>r, dentro de padrões técnicos nacionais e<br />

internacionais. É claro que, sozinho, nenhum professor poderá<br />

ter tanto poder, mas, através <strong>do</strong> trabalho interdisciplinar os<br />

esforços de toda uma equipe de profissionais altamente<br />

competentes poderão ser soma<strong>do</strong>s para atingir esse objetivo.<br />

É necessário que o professor de Contabilidade esteja inseri<strong>do</strong><br />

num projeto pedagógico participativo, no qual seja possível<br />

reconstruir sua prática, seus saberes e sua competência.<br />

A Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da Educação Nacional de1996<br />

introduz, em seu texto as aberturas necessárias para que As<br />

Instituições de Ensino Superior tenham a liberdade de elaborar<br />

currículos flexíveis que atendam à necessidade <strong>do</strong> contexto em<br />

que a instituição se insere. A avaliação <strong>do</strong> aproveitamento de seus<br />

alunos será feita de mo<strong>do</strong> a otimizar a aplicação de recursos na<br />

educação, promoven<strong>do</strong> o aluno para níveis superiores, desde que<br />

comprovada a evolução de suas competências a habilidades.<br />

1. A Educação por Competências e Habilidades<br />

Competências e habilidades são duas palavras muito<br />

importantes no contexto educacional atual. A definição <strong>do</strong> seu<br />

significa<strong>do</strong> não é exatamente a mesma para to<strong>do</strong>s os estudiosos<br />

da educação e a missão desse artigo é exatamente reunir os<br />

diferentes conceitos dessas palavras, contribuin<strong>do</strong> assim para<br />

a viabilização de sua aplicabilidade nos currículos e nas bases<br />

tecnológicas <strong>do</strong> projeto pedagógico.<br />

1.1. Competências e Habilidades<br />

A análise <strong>do</strong>s conceitos de competências e habilidades darse-á,<br />

inicialmente, pelo seu caráter semântico, a apresentar a<br />

interpretação <strong>do</strong> <strong>Di</strong>cionário Larousse.<br />

“Competência: s.f. (<strong>do</strong> Latim. Competentia.) 1. Atribuição,<br />

jurídica ou legal, de desempenhar certos encargos ou apreciar<br />

ou julgar determina<strong>do</strong>s assuntos. 2.Capacidade decorrente de<br />

profun<strong>do</strong> conhecimento que alguém tem sobre um assunto;<br />

aptidão, habilidade”.<br />

Habilidade: s.f. ( <strong>do</strong> Latim. Habilitas , habilitatis. ) 1. Qualidade<br />

daquele que é hábil. 2.Capacidade, destreza, agilidade. 3.<br />

Qualidade de alguém que age com engenhosidade e inteligên<br />

cia.4.Engenhosidade.5.Astúcia,manhã. 6.Qualidade que torna o<br />

sujeito apto , capaz no plano legal.7.Qualidade de alguém que é<br />

capaz de realizar um ato com uma boa adaptação psicomotora ,<br />

adequada ao fim em questão”.<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />

Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />

Segun<strong>do</strong> Edwards (1995: 79-97), competência deve ser<br />

entendida como capa-cidade.Já para Ramirez (2000), as<br />

competências e habilidades assumem as seguintes características:<br />

a educação e o desenvolvimento de competências são<br />

processos que jamais podem ser considera<strong>do</strong>s plenamente ou<br />

definitivamente concluí<strong>do</strong>s, e são o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> entrelaçamento<br />

das habilidades, conhecimentos e atitudes.<br />

A noção de competência, no Brasil, apesar de já ser<br />

conhecida no âmbito das ciências humanas (notadamente no<br />

campo das ciências da cognição e da lingüística) desde os anos<br />

70, passa a ser incorporada nos discursos <strong>do</strong>s empresários, <strong>do</strong>s<br />

técnicos <strong>do</strong>s órgãos públicos que lidam com o trabalho e por<br />

alguns cientistas sociais, como se fosse uma decorrência natural<br />

e imanente ao processo de transformação na base <strong>material</strong> <strong>do</strong><br />

trabalho (MANFREDI. 1998, p. 10).<br />

Usada de forma generalizada, é empregada, indistintamente,<br />

nos campos educacionais e <strong>do</strong> trabalho como se fosse porta<strong>do</strong>ra<br />

de uma conotação universal. No discurso <strong>do</strong>s empresários há uma<br />

tendência a defini-la menos como “estoque de conhecimentos/<br />

habilidades”, mas, sobretu<strong>do</strong>, como capacidade de agir, intervir,<br />

decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis. O<br />

desempenho e a própria produtividade global passam a depender<br />

em muito dessa capacidade e da agilidade de julgamento e de<br />

resolução de problemas. (LEITE 1996, p. 162)<br />

Nesta mesma linha de argumentação, os <strong>do</strong>cumentos da<br />

SEFOR- Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional<br />

<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Trabalho referem-se à competência como<br />

sen<strong>do</strong> processual, exigin<strong>do</strong>, portanto, um processo de educação<br />

contínua, direciona<strong>do</strong> a desenvolver um conjunto de habilidades<br />

(classificadas de básicas, específicas e de gestão). Esta tipologia<br />

é assim definida:<br />

As habilidades básicas podem ser entendidas em uma ampla<br />

escala de atributos, que parte de habilidades mais essenciais,<br />

como ler, interpretar, calcular, até chegar ao desenvolvimento<br />

de funções cognitivas que propiciem o desenvolvimento de<br />

raciocínios mais elabora<strong>do</strong>s.<br />

As habilidades específicas estão estreitamente relacionadas<br />

ao trabalho e dizem respeito aos saberes, saber-fazer e saberser;<br />

são exigidas por postos, profissões ou trabalhos em uma ou<br />

mais áreas correlatas.<br />

As habilidades de gestão estão relacionadas às competências<br />

de autogestão, de empreendimento, de trabalha<strong>do</strong>s em equipes.<br />

Quanto às dimensões empíricas a serem consideradas quan<strong>do</strong><br />

se trata de estudar a competência profissional em contextos<br />

organizacionais específicos, Manfredi (1998, p. 21) destaca a<br />

possibilidade de se trabalhar com as seguintes dimensões:<br />

a) <strong>do</strong>mínio de conhecimentos e habilidades básicas;<br />

b) capacidades básicas para desenvolver qualquer atividade<br />

de trabalho (competências de base para o trabalho);<br />

c) competências e/ou habilidades e conhecimentos<br />

específicos relativos ao campo profissional;<br />

d) competências contextuais (aquelas que derivam de um<br />

conjunto de habilidades necessárias para vincular cada atividade<br />

particular ao conjunto da estrutura organizativa) que podem ser<br />

definidas como operacionais (no âmbito da ação) e estratégicas<br />

(nos planos decisórios e de intervenção).<br />

No caso específico <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> professor na formação<br />

profissional <strong>do</strong> aluno, a capacidade adquire uma abrangência<br />

que inclui: conhecimentos teóricos, pedagogia e experiência<br />

profissional, o que é demonstra<strong>do</strong> no Quadro 1, a seguir.<br />

87


Quadro 1: uma reflexão <strong>do</strong>s níveis de competência <strong>do</strong><br />

professor que, permitirá contribuir na formação profissional<br />

<strong>do</strong> aluno de ciências contábeis:<br />

Nível<br />

Global<br />

COMPETÊNCIA GLOBAL<br />

DO PROFESSOR<br />

áreas Principais<br />

Base de<br />

conhecimento<br />

explícito<br />

Planejamento<br />

e Preparação<br />

Ensino<br />

Interativo<br />

Modelo<br />

Profissional<br />

Abrangente<br />

Autodesenvolvimento<br />

Profissional<br />

Descrição<br />

1. Recursos Curriculares;<br />

2. Recursos Pedagógicos;<br />

3. Experiência Profissional;<br />

4. Conhecimentos claros a respeito<br />

de alunos, contexto e recursos;<br />

5. Média adequada de atividades<br />

e recursos para alunos;<br />

6. Assistência inteligente e eficiente<br />

ao aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno,<br />

à organização e à pesquisa;<br />

7. Avaliação e monitoramento<br />

efetivo <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> e progresso<br />

<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno;<br />

8. Adequa<strong>do</strong> relacionamento para<br />

influenciar alunos, seu comportamento,<br />

motivação e bem-estar;<br />

9. Avaliação e monitoramento<br />

efetivos <strong>do</strong> comportamento,<br />

motivação e bem-estar <strong>do</strong> aluno;<br />

10. Cumprir a tarefa de construir<br />

um modelo profissional<br />

abrangente, através da colaboração<br />

efetiva e vários outros;<br />

11. Desenvolvimento de conhecimento<br />

básico específico da matéria,<br />

pedagogia e profissional;<br />

12. Melhoria da capacidade<br />

profissional, através de estu<strong>do</strong>,<br />

reflexão e mudança.<br />

Dentre os aspectos de competência deve se destacar<br />

a maneira <strong>do</strong> professor motivar os alunos na prática <strong>do</strong><br />

conhecimento.<br />

O professor de Contabilidade tem que assumir que os<br />

currículos não são fins , mas colocam–se a serviço <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de competências, sen<strong>do</strong> estas caracterizadas<br />

pela capacidade de, através de esquemas mentais ou funções<br />

operatórias, mobilizar, articular, em ação, valores, conhecimentos<br />

e habilidades. Significa, necessariamente, a<strong>do</strong>tar uma<br />

Pedagogia que propicie, essencialmente, o exercício contínuo<br />

e contextualiza<strong>do</strong> desses processos de mobilização, articulação<br />

e aplicação.<br />

A aprendizagem está diretamente relacionada com o interesse<br />

e a motivação <strong>do</strong> aluno em relação àquilo que está sen<strong>do</strong><br />

aprendi<strong>do</strong>, sentimento que pode ser fortemente influencia<strong>do</strong> pela<br />

forma como o professor conduz o processo de aprendizagem–<br />

ensino.<br />

A natureza <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s, as estratégias e<br />

recursos utiliza<strong>do</strong>s para discutir e repassar as informações e<br />

conhecimentos, e até mesmo o próprio professor podem funcionar<br />

como estimula<strong>do</strong>res da motivação ou desmotivação <strong>do</strong> aluno.<br />

Ao professor cabe apresentar estímulos que alimentem<br />

continuamente um esta<strong>do</strong> desejável de motivação e interesse<br />

para aprender, tais como:<br />

a) destacar a importância das informações transmitidas;<br />

b) falar pouco, somente o essencial para a compreensão<br />

<strong>do</strong> assunto; evitar abordar muitas idéias em um só bloco de<br />

exposição, mesmo que sejam complementares;<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />

Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />

c) dar uma rápida visão <strong>do</strong> to<strong>do</strong> que será aborda<strong>do</strong> , e a seguir<br />

detalhar o assunto, começan<strong>do</strong> pelos aspectos mais simples até<br />

chegar aos mais complexos;<br />

d) interagir com os alunos, para averiguar a compreensão<br />

sobre o exposto;<br />

e) concluir, reafirman<strong>do</strong> a essência da informação<br />

repassada;<br />

f) escolher o momento para apresentar um assunto;<br />

g) identificar, no cotidiano, a informação que está sen<strong>do</strong><br />

apresentada, evidencian<strong>do</strong> sua importância e oportunidade.<br />

Silva (2000), faz consideração sobre a competência <strong>do</strong>s<br />

professores de contabilidade <strong>do</strong> ensino superior. Na sua opinião,<br />

“...A seriedade e a dedicação <strong>do</strong> professor são competências<br />

que devem ser desenvolvidas na execução <strong>do</strong>s programas das<br />

disciplinas sob sua responsabilidade e são condições sine qua<br />

non para o funcionamento desta ferramenta de valor que é o<br />

currículo.”<br />

Salienta ainda que o professor deve romper com o sistema<br />

tradicional, no qual aluno finge que aprende, e o professor sem<br />

motivação didática finge que ensina. O professor/orienta<strong>do</strong>r<br />

deve ser provoca<strong>do</strong>r para descobertas e organiza<strong>do</strong>r de<br />

situações favoráveis ao aprender a aprender. Deve este buscar<br />

rapidamente cuidar da sua competência por meio de atualizações,<br />

mestra<strong>do</strong> e/ou <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, para desenvolver condições de<br />

assimilação das novas formas de gerenciamento dentro da<br />

crescente expansão da atuação profissional, o que implica,<br />

certamente, um desenvolvimento perfeito da comunicação, da<br />

capacidade intelectual e da orientação didático-pedagógica,<br />

como conseqüência de uma base de conhecimento mais ampla<br />

e consciente.<br />

Aos olhos de Gil (1997), dentre os específicos que atingem<br />

os professores universitários estão os seguintes conhecimentos:<br />

preparo especializa<strong>do</strong> na matéria, cultura geral e didáticopedagógica,<br />

estrutura e funcionamento <strong>do</strong> ensino superior,<br />

planejamento de ensino, psicologia da aprendizagem, méto<strong>do</strong> e<br />

técnicas de ensino e de avaliação.<br />

Sob o ponto de vista de Rios (2000), falar em competência<br />

significa falar em saber fazer bem, e o saber fazer bem tem uma<br />

dimensão técnica, a <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> saber fazer, isto é, <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

<strong>do</strong>s conhecimentos de que o sujeito necessita para desempenhar<br />

o seu papel, aquilo que se requer dele socialmente, articula<strong>do</strong><br />

com o <strong>do</strong>mínio das técnicas, das estratégias que permitam que<br />

ele desempenhe satisfatoriamente sua atividade. Considera a<br />

presença da ética como dimensão da competência.<br />

Estas são apenas algumas das abordagens existentes sobre<br />

as competências e habilidades e suas aplicações na educação<br />

em geral e específica para o ensino superior de Ciências<br />

Contábeis, mas através delas já é possível enxergar a pertinência<br />

e adequação que estes conceitos têm no contexto educacional<br />

exigente de uma melhoria contínua da qualidade profissional de<br />

to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s no processo.<br />

1.2. implementação de Competências e Habilidades<br />

Para que a educação se desenvolva por meio de competências<br />

e habilidades, é necessária uma reconstrução de modelos<br />

pedagógicos tradicionais. Uma das propostas é a construção de<br />

currículos através de projetos: projetos de curso, projetos de aula<br />

para a construção de competências, e projeto interdisciplinar de<br />

intervenção na realidade.<br />

A interdisciplinaridade, para Ivani Fazenda(1993), é uma nova<br />

atitude frente à questão <strong>do</strong> conhecimento, de abertura para a<br />

88


compreensão de aspectos ocultos <strong>do</strong> ato de aprender. Exige,<br />

portanto, uma profunda imersão no trabalho cotidiano, na prática<br />

de cinco princípios: coerência, humildade, espera, desapego e<br />

respeito.<br />

Pela primeira vez os temas autonomia escolar e projeto<br />

pedagógico aparecem explicita<strong>do</strong>s nos textos das Leis da<br />

Educação no Brasil a partir da Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da<br />

Educação Nacional Brasileira, de 20 de dezembro de 1996,<br />

fundamentada no princípio da flexibilidade e da autonomia, que<br />

ratifica a incumbência das escolas de elaborar e executar suas<br />

propostas pedagógicas e <strong>do</strong>s professores de participarem da<br />

sua elaboração.<br />

A Câmara de Educação Superior <strong>do</strong> Conselho Nacional<br />

de Educação, órgão <strong>do</strong> Ministério de Educação e Cultura<br />

aprovou, em 16 de dezembro de 2004, a Resolução CNE Nº<br />

10/04, que estabelece as <strong>Di</strong>retrizes Curriculares Nacionais <strong>do</strong><br />

Curso de Graduação em Ciências Contábeis, que, em seu Art.<br />

4º, discrimina as competências e habilidades que deverão ser<br />

formadas durante o curso de Ciências Contábeis, a saber:<br />

I - utilizar adequadamente a terminologia e a linguagem das<br />

Ciências Contábeis e Atuariais;<br />

II - demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar da atividade<br />

contábil;<br />

III - elaborar pareceres e relatórios que contribuam para o<br />

desempenho eficiente e eficaz de seus usuários, quaisquer que<br />

sejam os modelos organizacionais;<br />

IV - aplicar adequadamente a legislação inerente às funções<br />

contábeis;<br />

V - desenvolver, com motivação e através de permanente<br />

articulação, a liderança entre equipes multidisciplinares para<br />

a captação de insumos necessários aos controles técnicos,<br />

à geração e disseminação de informações contábeis, com<br />

reconheci<strong>do</strong> nível de precisão;<br />

VI - exercer suas responsabilidades com o expressivo <strong>do</strong>mínio<br />

das funções contábeis, incluin<strong>do</strong> noções de atividades atuariais<br />

e de quantificações de informações financeiras, patrimoniais<br />

e governamentais, que viabilizem aos agentes econômicos<br />

e aos administra<strong>do</strong>res de qualquer segmento produtivo ou<br />

institucional o pleno cumprimento de seus encargos quanto ao<br />

gerenciamento, aos controles e à prestação de contas de sua<br />

gestão perante à sociedade, geran<strong>do</strong> também informações para<br />

a tomada de decisão, organização de atitudes e construção de<br />

valores orienta<strong>do</strong>s para a cidadania;<br />

VII - desenvolver, analisar e implantar sistemas de informação<br />

contábil e de controle gerencial, revelan<strong>do</strong> capacidade crítico<br />

analítica para avaliar as implicações organizacionais com a<br />

tecnologia da informação;<br />

VIII - exercer com ética e proficiência as atribuições e<br />

prerrogativas que lhe são prescritas através da legislação<br />

específica, revelan<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínios adequa<strong>do</strong>s aos diferentes<br />

modelos organizacionais.<br />

Em seu Art. 5º, insere os currículos que os cursos de graduação<br />

em Ciências Contábeis, bacharela<strong>do</strong>, dentro <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong>s<br />

padrões internacionais, deven<strong>do</strong> contemplar, em seus projetos<br />

pedagógicos e em sua organização curricular, conteú<strong>do</strong>s que<br />

revelem conhecimento <strong>do</strong> cenário econômico e financeiro, nacional<br />

e internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas<br />

e padrões internacionais de contabilidade, em conformidade com<br />

a formação exigida pela Organização Mundial <strong>do</strong> Comércio e pelas<br />

peculiaridades das organizações governamentais, observa<strong>do</strong> o<br />

perfil defini<strong>do</strong> para o forman<strong>do</strong>.<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />

Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />

O Art. 7º regulamenta aspectos da formação profissional<br />

<strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, por meio <strong>do</strong> Estágio Curricular Supervisiona<strong>do</strong><br />

entendi<strong>do</strong> como um componente curricular direciona<strong>do</strong> para<br />

a consolidação <strong>do</strong>s desempenhos profissionais deseja<strong>do</strong>s,<br />

inerentes ao perfil <strong>do</strong> forman<strong>do</strong>.<br />

As formações acadêmica e profissional deverão ser ampliadas<br />

por atividades complementares vistas como componentes<br />

curriculares que possibilitam o reconhecimento, por meio de<br />

avaliação de habilidades, conhecimentos e competências <strong>do</strong><br />

aluno, inclusive adquiridas fora <strong>do</strong> ambiente escolar, abrangen<strong>do</strong><br />

a prática de estu<strong>do</strong>s e atividades independentes, transversais,<br />

opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações<br />

com o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e com as ações de extensão junto à<br />

comunidade.<br />

2. Competências e Habilidades <strong>do</strong> Conta<strong>do</strong>r: a Visão da<br />

IFAC – International Federation of Public Accountants<br />

O presidente <strong>do</strong> Comitê de Educação da IFAC, Sr. Warren Allen,<br />

neozelandês, considera que: “o objetivo da educação contábil<br />

deve ser a produção de conta<strong>do</strong>res profissionais competentes,<br />

capazes de dar, ao longo de suas vidas, uma contribuição positiva<br />

à profissão e à sociedade na qual eles trabalham”.<br />

Em vista destes princípios, o Comitê de Educação da IFAC<br />

aprovou, em maio de 2001, a abertura de um fórum mundial<br />

de discussão, via internet, a respeito de quais seriam as<br />

competências e habilidades inerentes à formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r,<br />

com o intuito de receber contribuições de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e<br />

produzir um <strong>do</strong>cumento comum. O fórum de debate terminou em<br />

31 de outubro de 2001, ocasião em que foi elabora<strong>do</strong> relatório<br />

conclusivo, a saber:<br />

“O objetivo <strong>do</strong> ensino e pesquisa em contabilidade deve ser<br />

o de formar um conta<strong>do</strong>r profissional competente, capaz de<br />

dar contribuições positivas, durante to<strong>do</strong> o seu tempo de vida,<br />

à profissão e à sociedade na qual ele trabalha. A manutenção<br />

da competência profissional diante das crescentes mudanças<br />

encontradas torna imperativo que os conta<strong>do</strong>res desenvolvam e<br />

mantenham uma atitude de aprender a aprender”.<br />

Conclui ainda o relatório que a pesquisa e a educação de<br />

conta<strong>do</strong>res profissionais devem prover as bases <strong>do</strong> conhecimento,<br />

habilidades e valores profissionais que os capacitem a continuar<br />

a aprender e adaptar-se às mudanças durante to<strong>do</strong> o tempo de<br />

suas vidas profissionais.<br />

A competência é definida como sen<strong>do</strong> a habilidade de<br />

desempenhar um papel dentro de um padrão adequa<strong>do</strong> à<br />

realidade de seu ambiente de trabalho.<br />

O <strong>do</strong>mínio de habilidades e o conhecimento <strong>do</strong>s valores<br />

profissionais são desejáveis para o conta<strong>do</strong>r ser capaz de<br />

demonstrar competência, o que inclui conhecimento técnico,<br />

aptidões pessoais e comportamento ético. As habilidades podem<br />

ser agrupadas em seis categorias diferentes:<br />

• Atitudes (por exemplo: comportamento profissional/valores);<br />

• Aptidões comportamentais (por exemplo: liderança);<br />

• Ampla perspectiva de negócios (por exemplo: pensamento<br />

estratégico/ crítico);<br />

• Aptidões funcionais (por exemplo: análise de risco);<br />

• Conhecimento de conteú<strong>do</strong> (por exemplo: auditoria);<br />

• Aptidões cognitivas (por exemplo: conhecimento,<br />

compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação).<br />

O texto indica que a competência pode ser desenvolvida por<br />

meio de uma combinação de estu<strong>do</strong>s acadêmicos, treinamento<br />

89


e desenvolvimento no trabalho e da educação profissional. Pode<br />

ser que o enfoque acadêmico cobrirá a maior parte da teoria da<br />

contabilidade, a educação profissional se aterá mais na prática<br />

das habilidades necessárias aos conta<strong>do</strong>res profissionais, e<br />

o treinamento no ambiente de trabalho desenvolverá ambos:<br />

prática e atualização profissionais.<br />

Para desenvolver as competências e habilidades<br />

profissionais desejáveis à formação <strong>do</strong>s conta<strong>do</strong>res profissionais<br />

é aconselhável a combinação <strong>do</strong>s três componentes: estu<strong>do</strong>s<br />

acadêmicos, treinamento na empresa e educação profis-sional.<br />

O texto <strong>completo</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento final “The IFAC Draft<br />

<strong>Di</strong>scussion Paper” pode ser encontra<strong>do</strong> na World Wide Web:<br />

ifac.org.<br />

3. Panorama <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de Trabalho para o Egresso <strong>do</strong><br />

Curso de Ciências Contábeis<br />

O egresso <strong>do</strong> Curso de Ciências Contábeis encontrará diante<br />

de si um merca<strong>do</strong> de trabalho tão abrangente quanto diversifica<strong>do</strong>.<br />

As oportunidades de trabalho na empresa, como autônomo, no<br />

ensino, em órgãos públicos e no merca<strong>do</strong> editorial são tantas<br />

que dificilmente um currículo poderá atender à formação <strong>do</strong><br />

perfil <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r, a não ser por meio <strong>do</strong> desenvolvimento de<br />

competências e habilidades generalistas voltadas ao aprender<br />

a aprender e à resolução de problemas. Os méto<strong>do</strong>s de ensino<br />

volta<strong>do</strong>s à pesquisa são aqueles que conferem, gradativamente,<br />

a independência <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, e são indica<strong>do</strong>s para a resolver<br />

seus problemas na área de aquisição de conhecimentos.<br />

O quadro Visão Geral da Profissão Contábil, elabora<strong>do</strong> pelo Dr.<br />

José Carlos Marion(2005), ilustra o alto nível de abrangência das<br />

possibilidades de trabalho existentes no merca<strong>do</strong> à disposição<br />

<strong>do</strong> egresso <strong>do</strong>s cursos de ciências contábeis.<br />

Conta<strong>do</strong>r<br />

Quadro 2 : Visão Geral da Profissão Contábil<br />

Na Empresa<br />

Independente<br />

(Autônomo)<br />

No Ensino<br />

No Serviço<br />

Público<br />

No Merca<strong>do</strong><br />

Editorial<br />

Fonte: Marion, 2005, adapta<strong>do</strong>.<br />

Planeja<strong>do</strong>r Tributário<br />

Analista Financeiro<br />

Conta<strong>do</strong>r Geral<br />

Cargos Administrativos<br />

Auditor Interno<br />

Conta<strong>do</strong>r de Custo<br />

Conta<strong>do</strong>r Gerencial<br />

Atuário<br />

Controller<br />

Auditor Independente<br />

Consultor<br />

Empresário Contábil<br />

Perito Contábil<br />

Investiga<strong>do</strong>r de Fraude<br />

Professor<br />

Pesquisa<strong>do</strong>r<br />

Parecerista<br />

Conferencista<br />

Cargos Administrativos<br />

Conta<strong>do</strong>r Público<br />

Agente Fiscal de Renda<br />

<strong>Di</strong>versos Concursos Públicos<br />

Tribunal de Contas<br />

Oficial Conta<strong>do</strong>r<br />

Consultor Editorial Contábil<br />

Revisor Técnico<br />

Colabora<strong>do</strong>r<br />

Organiza<strong>do</strong>r de Obras sobre<br />

Contabilidade<br />

Escritor<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />

Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />

O quadro Visão Geral da Profissão Contábil, elabora<strong>do</strong> pelo Dr.<br />

José Carlos Marion(2005), ilustra o alto nível de abrangência das<br />

possibilidades de trabalho existentes no merca<strong>do</strong> à disposição<br />

<strong>do</strong> egresso <strong>do</strong>s cursos de ciências contábeis.<br />

Um leque tão amplo de opções oferecidas pelo merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho como o apresenta<strong>do</strong> no Quadro 2 representa um desafio<br />

aos educa<strong>do</strong>res. Será que, seguin<strong>do</strong> o caminho de ensinar<br />

conteú<strong>do</strong>s, estaremos preparan<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>res profissionais?<br />

Quanto tempo seria necessário para ensinar tanto conhecimento?<br />

Como deveria ser o currículo de um curso de ciências contábeis<br />

neste perfil de merca<strong>do</strong> de trabalho?<br />

Neste contexto, a solução está em criarmos condições<br />

para que nossos alunos de ciências contábeis desenvolvam<br />

as competências e habilidades necessárias para aprender a<br />

aprender, para solucionar problemas, para contribuir e agregar<br />

valor aonde quer que estejam.<br />

3.1. A Solução de Problemas: Aprender a resolver,<br />

resolver para Aprender<br />

A busca de um novo paradigma educacional, centra<strong>do</strong> na<br />

aprendizagem e não no ensino, inclui o professor como media<strong>do</strong>r<br />

entre o conhecimento acumula<strong>do</strong> e o interesse e a necessidade<br />

<strong>do</strong> aluno. Assim como o currículo, entendi<strong>do</strong> como o conjunto<br />

integra<strong>do</strong> e articula<strong>do</strong> de situações organizadas de mo<strong>do</strong> a<br />

promover aprendizagens significativas.<br />

Para desenvolver competências é preciso, antes de tu<strong>do</strong>,<br />

trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor<br />

tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar<br />

seus conhecimentos, habilidades e valores no senti<strong>do</strong> de<br />

encontrar soluções alternativas para a solução de problemas,<br />

preven<strong>do</strong> quais as conseqüências que advirão de cada uma das<br />

soluções apresentadas.<br />

3.2. A Pesquisa de robert Sack e Steve Albrecht<br />

A realização da 17ª Convenção Estadual de Contabilistas<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo, de 26 a 28 de 2001, incluiu em sua<br />

programação o Workshop intitula<strong>do</strong> Educação Contábil:<br />

problemas e oportunidades, sob a coordenação <strong>do</strong> Prof. Sérgio<br />

de Iudícibus, da FEA/USP. O workshop teve a participação<br />

especial de Robert J. Sack, professor emérito da Universidade<br />

de Virgínia/EUA, que, na ocasião, apresentou o relatório de uma<br />

pesquisa feita em colaboração com Steve Albrecht, a respeito da<br />

visão acadêmica <strong>do</strong> ensino de ciências contábeis, comparada à<br />

visão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />

Foram constata<strong>do</strong>s os fatos:<br />

1. O número e a qualidade de estudantes de cursos de<br />

formação contábil caiu.<br />

2. O modelo educacional está abala<strong>do</strong> e precisa ser<br />

restaura<strong>do</strong>.<br />

3. Profissionais em contabilidade optariam por outra área de<br />

especialização, se tivessem opção de começar tu<strong>do</strong> novamente<br />

agora.<br />

Os autores da pesquisa constataram que ainda ensinamos<br />

contabilidade como se informações fossem caras. A ilustrar esta<br />

afirmação, os pesquisa<strong>do</strong>res apresentaram o seguinte quadro de<br />

níveis de remunerações por atividades desenvolvida.<br />

90


Quadro 3: Níveis de remunerações<br />

por Atividades Desenvolvidas.<br />

$ 10-hora $ 30-hora $ 100-hora $ 300-hora $ 1.000-hora<br />

Registran<strong>do</strong><br />

eventos<br />

comerciais.<br />

Sumarizan<strong>do</strong><br />

eventos<br />

registra<strong>do</strong>s<br />

Converten<strong>do</strong><br />

da<strong>do</strong>s em<br />

informações<br />

Transforman<strong>do</strong><br />

informações em<br />

conhecimento<br />

Fonte: Albrecht e Sack, 2001.<br />

A importância das informações <strong>do</strong> Quadro 3 está mais<br />

em seu significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que em seus números, por se tratar de<br />

pesquisa realizada nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, em 2001. Consideradas<br />

as diferenças culturais, sociais, econômicas, entende-se que,<br />

também no Brasil as melhores remunerações são auferidas pelos<br />

profissionais com maior poder de decisão e que, para ocupar<br />

esta posição de destaque na empresa, o conta<strong>do</strong>r deverá ser<br />

capaz de analisar projetos e propor alternativas que agreguem<br />

valor à empresa, a si mesmo e à sociedade de uma forma geral,<br />

considerada sua inserção no meio ambiente. A visão crítica e a<br />

consciência ética deverão estar presentes em cada proposta de<br />

decisão.<br />

Será que os egressos <strong>do</strong>s cursos de ciências contábeis<br />

estarão prepara<strong>do</strong>s para galgar os melhores postos de gestão<br />

dentro das empresas? Ou estarão mais aptos a realizarem<br />

operações repetitivas relativas às operações comerciais? Ou,<br />

estarão no meio termo?<br />

Nesta pesquisa, Albrecht e Sack constataram que o mo<strong>do</strong><br />

de ver a educação contábil é diferente para professores e para<br />

profissionais liberais, conforme demonstra o Quadro 4:<br />

Professores<br />

Quadro 4: Tópicos Considera<strong>do</strong>s importantes pelos<br />

Fazen<strong>do</strong><br />

decisões que<br />

agregam valor<br />

Ensinan<strong>do</strong> muito aqui! Ensinan<strong>do</strong> pouco aqui!<br />

- Contabilidade Financeira<br />

- Finanças<br />

- Impostos<br />

- Contabilidade Gerencial<br />

- Auditoria<br />

- Tecnologia<br />

- Estatística<br />

- Marketing<br />

- Pensamento analítico<br />

- Comunicação por escrito<br />

- Tecnologia por computa<strong>do</strong>r<br />

- Relacionamentos<br />

- Aprendiza<strong>do</strong> contínuo<br />

- Mensuração<br />

- Língua estrangeira<br />

- Planilhas eletrônicas<br />

- Processamento de palavras<br />

- Win<strong>do</strong>ws Microsoft<br />

- www<br />

- Terminologia<br />

- Base de da<strong>do</strong>s<br />

- Comércio eletrônico<br />

Profissionais Liberais<br />

- Sistemas de Informação<br />

- Estratégia<br />

- <strong>Di</strong>reito<br />

- Global<br />

- Comércio Eletrônico<br />

- Ética<br />

- Méto<strong>do</strong>s de Pesquisa<br />

- Comunicação verbal<br />

- Trabalho em equipe<br />

- Liderança<br />

- Administração de projeto<br />

- Orientação de clientes/<br />

fregueses<br />

- Administração de mudança<br />

- Negociação<br />

- Pesquisa<br />

- Administração de projetos<br />

- Administração de tecnologia<br />

- Outros sistemas operacionais<br />

- Administração de operações<br />

- Segurança Observa-se, e planos no Quadro 4, que a preocupação <strong>do</strong>s professores<br />

de contigencias<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />

Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />

tem o seu foco volta<strong>do</strong> para o conteú<strong>do</strong> e o que o merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho espera que os profissionais tenham competências e<br />

habilidades necessárias à solução de problemas, ao trabalho em<br />

equipe e à liderança, entre outros.<br />

Considerações Finais<br />

As competências e habilidades, quan<strong>do</strong> vistas segun<strong>do</strong><br />

as mais diferentes abordagens deste artigo, tornam evidentes<br />

que o modelo de perfil profissional <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r espera<strong>do</strong> pelo<br />

merca<strong>do</strong> de trabalho: ter proficiência e capacidade para atuar<br />

profissionalmente em um contexto evolutivo.<br />

O conceito de competência emerge como elemento orienta<strong>do</strong>r<br />

em todas as profissões e envolve o conhecimento (o saber,<br />

as informações articuladas operatoriamente), as habilidades<br />

(psicomotoras, ou seja, o “saber fazer” elabora<strong>do</strong> cognitivamente<br />

e sócio-afetivamente), os valores, as atitudes (o “saber ser”, as<br />

predisposições para decisões e ações, construídas a partir de<br />

referenciais estéticos, políticos e éticos) constituí<strong>do</strong>s de forma<br />

articulada e mobiliza<strong>do</strong>s em realizações profissionais, com os<br />

padrões de qualidade requeri<strong>do</strong>s, normal ou distintivamente, das<br />

produções de uma área profissional.<br />

Os parâmetros para o estabelecimento das competências e<br />

habilidades <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r, indicadas pela IFAC, são harmônicos<br />

com os da legislação nacional. Ambos estabelecem que a<br />

formação <strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r profissional deve ser desenvolvida a partir<br />

da combinação de estu<strong>do</strong>s acadêmicos, educação profissional<br />

e treinamento e desenvolvimento no trabalho, de mo<strong>do</strong> a prover<br />

as bases <strong>do</strong> conhecimento, as habilidades e valores profissionais<br />

que os capacitem a continuar a aprender e a adaptar-se a<br />

mudanças durante to<strong>do</strong> o tempo de suas vidas profissionais,<br />

de forma a agregar valor às empresas nas quais trabalham, à<br />

sociedade e a si próprios, por meio da criação de conhecimentos<br />

mais <strong>do</strong> que pela simples geração de informações.<br />

A realidade atual de nossos cursos de Ciências Contábeis<br />

ainda não reflete, em sua plenitude, os ideais de formação<br />

<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r profissional, dentro <strong>do</strong>s padrões nacionais e<br />

internacionais espera<strong>do</strong>s. Os currículos devem ser redireciona<strong>do</strong>s<br />

para que os ideais propostos se transformem em realidade,<br />

assim como os méto<strong>do</strong>s de ensino, que devem ser cada vez<br />

mais instigantes, desafia<strong>do</strong>res, de forma a tornar os alunos cada<br />

vez mais independentes na trajetória da permanente aquisição<br />

de competências e habilidades que os possibilitem a atuar num<br />

merca<strong>do</strong> de trabalho tão diversifica<strong>do</strong> e abrangente como o é o<br />

<strong>do</strong> conta<strong>do</strong>r.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

ALBRECHT, Steve e SACK, Robert J. Formação Contábil:<br />

Mapean<strong>do</strong> o Curso por Meio de um Futuro Arrisca<strong>do</strong>. <strong>Di</strong>sponível<br />

na World Wide Web: , acesso em 30 de setembro<br />

de 2001.<br />

BRASIL, LDB – Lei de <strong>Di</strong>retrizes e Bases da Educação Nacional<br />

- n. 9394/76, Editora Saraiva, São Paulo, 1997.<br />

BRASIL, Resolução CNE Nº 10/04. <strong>Di</strong>sponível na World Wide<br />

Web: , acesso em 30/03/2006.<br />

DAVIS, Barbara Gross. Tools of Teaching, Jossey Publishers,<br />

San Francisco, California, USA, i993, First Edition.<br />

FAZENDA, Ivani C.A., Coordena<strong>do</strong>ra. Práticas Interdisciplinares<br />

na Escola. São Paulo: Cortez, 1993.<br />

FRANCO, Hilário. A Contabilidade na Era da Globalização.<br />

São Paulo: Atlas, 1999.<br />

91


GIL, Antonio Carlos. Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Ensino Superior. São<br />

Paulo: Atlas, 1997.<br />

GIORGI, <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong> <strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong>; PIZOLATO, Célia de<br />

Lima e MORETTIN, Ana Aparecida. Competências, Habilidades<br />

e o Ensino Superior de Contabilidade. Conselho Regional de<br />

Contabilidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro: Revista Pensar Contábil, Ago/<br />

Out 2001.<br />

GOLDBERG, Maria Amélia et al. Avaliação de Competências<br />

no Desempenho <strong>do</strong> Papel de Orienta<strong>do</strong>r Educacional. Cadernos<br />

de Pesquisas n. 11, Fundação. Carlos Chagas, São Paulo,<br />

dez/1974, pp. 21-60.<br />

IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Manual de<br />

Contabilidade Para Não Conta<strong>do</strong>res. São Paulo: Ed.Atlas 1992.<br />

KRAEMER , Maria E .P . Contabilidade Gerencial no Contexto<br />

Operacional da Atual Economia Globalizada. Revista brasileira de<br />

Contabilidade. Nº 14. pp.72-81.<br />

LAFFIN, Marcos. O Professor de Contabilidade no contexto<br />

de novas exigências. Revista Brasileira de Contabilidade, Ano<br />

XXX nº 127 , pp. 20-32.<br />

LEITE, Elenice M. Reestruturação produtiva, trabalho e<br />

qualificação no Brasil. In: Educação e trabalho no capitalismo<br />

contemporâneo, São Paulo: Atlas, 1996.<br />

MANFREDI, Silvia Maria. Trabalho, qualificação e competência<br />

profissional - das dimensões conceituais e políticas. Educ. Soc.<br />

[online]. set. 1998, vol.19, no.64 [cita<strong>do</strong> 18 Abril 2006], p.13-49.<br />

<strong>Di</strong>sponível na World Wide Web: .<br />

ISSN 0101-7330, acesso em 10/04/2006.<br />

MARION, José Carlos. Quadro Conta<strong>do</strong>r. <strong>Di</strong>sponível na World<br />

Wide Web: . Publica<strong>do</strong> em 31/01/2005, acesso em<br />

25/03/2006.<br />

RAMIREZ, Paulo. A Formação de Competências para o<br />

Profissional de Nível Técnico na Área de Gestão. <strong>Di</strong>ssertação<br />

apresentada no Centro Universitário Nove de Julho, São Paulo,<br />

2000, pp. 120-125.<br />

RIOS, Terezinha Azere<strong>do</strong>. Ética e Competência. São Paulo:<br />

Cortez Editora, 2000.<br />

SERRA NEGRA, Carlos A. Meto<strong>do</strong>logia para o Ensino Contábil:<br />

O Uso de Artigos Técnicos. Revista <strong>do</strong> CRC-RGS, R.G.<strong>do</strong> Sul . p.<br />

43-48. Maio ,1999.p.47.<br />

SCHWES, Nicolau. O reconhecimento de processo de<br />

comunicação e <strong>do</strong> processo de motivação no ensino de<br />

contabilidade. Revista Brasileira de Contabilidade <strong>do</strong> CRC-RGS<br />

– Porto Alegre –v.26-Nº .89 abril-junho/1997.<br />

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Competência, Revista Brasileira de Contabilidade, Ano XXIX, no.<br />

121, Janeiro/Fevereiro de 2000, pp. 22-27.<br />

The IFAC Draft <strong>Di</strong>scussion Paper” pode ser encontra<strong>do</strong> na<br />

World Wide Web: ifac.org.<br />

Competências e Habilidades <strong>do</strong>s Egressos de Cursos de Ciências Contábeis:<br />

Padrões Nacionais Frente aos Desafios Impostos pela Globalização.<br />

NoTAS<br />

1- Celia de Lima Pizolato – Mestre em Controla<strong>do</strong>ria e<br />

Contabilidade Estratégica pela Unifecap; Profª da Faculdade Brasília<br />

de São Paulo e Fatec da Zona Leste e de São Berna<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campos<br />

e-mail: celiapizolato@ig.com.br<br />

2- <strong>Wanny</strong> <strong>Arantes</strong> <strong>Bongiovanni</strong> <strong>Di</strong> Giorgi - Mestre em Controla<strong>do</strong>ria e<br />

Contabilidade Estratégica pela Unifecap<br />

92


ESumo<br />

Este estu<strong>do</strong> parte da hipótese que, ao promover a inclusão<br />

digital, seria possível melhorar as condições de inclusão social<br />

por meio de inserção no merca<strong>do</strong> de trabalho, especificamente<br />

<strong>do</strong>s jovens da cidade de São Paulo. Desta forma, foi delinea<strong>do</strong><br />

este estu<strong>do</strong>, visan<strong>do</strong> caracterizar os jovens empobreci<strong>do</strong>s da<br />

cidade de São Paulo, participantes <strong>do</strong>s cursos de informática em<br />

três Escolas de Informática e Cidadania (EIC), promovida pelo<br />

Comitê para Democratização da Informática (CDI) de São Paulo,<br />

quanto ao conhecimento de informática; além de identificar as<br />

ações de inclusão digital nestas escolas e analisar se estas ações<br />

são indutoras de inclusão social.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

Exclusão/inclusão digital, exclusão/inclusão social.<br />

ABSTrACT<br />

This study starts from the hypothesis that, by promoting the<br />

digital inclusion, it would become possible to improve the social<br />

inclusion conditions, since it makes it easier to get a job, mainly<br />

for young people in São Paulo City. This research was <strong>do</strong>ne<br />

following this idea, in order to distinguish the poor young people<br />

from São Paulo city, that study in the information courses in three<br />

Information and Citizenship Schools (EIC), that are supported<br />

by the Information Democracy Committee (CDI) of São Paulo,<br />

based on information knowledge; besides that, we also intended<br />

to identify the digital inclusion actions in these schools, and to<br />

analyse if these actions influences the social inclusion.<br />

KEYworDS:<br />

<strong>Di</strong>gital exclusion/inclusion, social exclusion/inclusion.<br />

Renato Hsie 1<br />

93


introdução:<br />

Historicamente, os primeiros sinais de exclusão digital foram<br />

identifica<strong>do</strong>s após a Revolução Industrial no século XVIII, na<br />

Inglaterra, ten<strong>do</strong> ganha<strong>do</strong> reforço posterior no século XIX com a<br />

revolução nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na Inglaterra; essas revoluções<br />

geraram o uso intensivo de novas fontes de energia, exigin<strong>do</strong><br />

conhecimento de novas tecnologias pelos seus usuários.<br />

Porém, o perío<strong>do</strong> que caracteriza o início da era da exclusão<br />

digital (se é que podemos assim denominar) situa-se em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, após as duas grandes guerras mundiais,<br />

com o advento <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r. Este instrumento era utiliza<strong>do</strong><br />

inicialmente para realizar cálculos balísticos, auxilian<strong>do</strong> na<br />

trajetória <strong>do</strong>s mísseis. Em 1951, houve uma evolução deste<br />

equipamento, permitin<strong>do</strong> o processamento de da<strong>do</strong>s numéricos<br />

e alfabéticos. Em 1953, a empresa IBM lançou os seus primeiros<br />

mainframes 2 . Em 1971, iniciou-se a era <strong>do</strong>s microprocessa<strong>do</strong>res<br />

que permitem multiplicar inúmeras vezes a capacidade de<br />

processamento de da<strong>do</strong>s. Em 1978, foi cria<strong>do</strong> o Apple II, um<br />

microcomputa<strong>do</strong>r “caseiro”, com monitor colori<strong>do</strong>, entrada para<br />

discos flexíveis e, concomitantemente, é apresenta<strong>do</strong> o primeiro<br />

programa de computa<strong>do</strong>r de planilhas e cálculos, o VisiCalc.<br />

No final <strong>do</strong>s anos 1970, a diminuição <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong><br />

computa<strong>do</strong>r permitiu o seu uso em várias atividades econômicas,<br />

culturais, educacionais, e posteriormente em <strong>do</strong>micílios. Além<br />

disso, houve o aumento progressivo da sua capacidade de<br />

processar informações.<br />

Em 1969, a ARPANET 3 , acrônimo de ARPA 4 Network,<br />

conseguiu interligar quatro centros universitários <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s: Stanford, Berkeley, UCLA e Utah, levan<strong>do</strong> ao surgimento<br />

da Internet. Estas experiências progrediram e, a partir <strong>do</strong>s anos<br />

90, gerou a explosão das conexões à Internet para to<strong>do</strong>s os<br />

computa<strong>do</strong>res, inclusive <strong>do</strong>miciliares.<br />

No Brasil, estas tecnologias chegaram no final <strong>do</strong>s anos<br />

1980, e imediatamente foram sen<strong>do</strong> apropriadas pelo merca<strong>do</strong>,<br />

pela política, pela educação e, lentamente, pelos <strong>do</strong>micílios.<br />

Conseqüentemente, houve a necessidade de capacitação <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res na aquisição de novas proficiências para operar<br />

as máquinas. Assim, o merca<strong>do</strong> de trabalho cada vez mais exige<br />

mão-de-obra qualificada para operar estas novas tecnologias,<br />

condenan<strong>do</strong> grande massa de trabalha<strong>do</strong>res analfabetos digitais<br />

ao desemprego e à exclusão social.<br />

A ONG CDI – Comitê para Democratização da Informática<br />

– surgiu nesse contexto, visan<strong>do</strong> atuar em favor <strong>do</strong>s jovens que<br />

não conseguem ingressar no seu primeiro emprego por falta de<br />

proficiência digital, que vivem em comunidades socialmente<br />

excluídas, fomentan<strong>do</strong> a democratização <strong>do</strong> conhecimento da<br />

informática nestas comunidades.<br />

inclusão/exclusão social <strong>do</strong>s jovens na cidade de São<br />

Paulo.<br />

Inúmeras são as definições e os estu<strong>do</strong>s sobre a temática<br />

inclusão e exclusão social. Dentre elas, face ao nosso objeto<br />

de estu<strong>do</strong>, optamos por analisar as formas de exclusão<br />

especialmente com relação a desinserção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho<br />

e a inserção de jovens, no seu primeiro emprego, na cidade de<br />

São Paulo. A questão da cidadania e seus direitos, incluin<strong>do</strong><br />

trabalho, lazer, cultura, arte e subjetividade pessoal, como formas<br />

de inclusão social, também são trata<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong>.<br />

Na cidade de São Paulo, a exclusão social <strong>do</strong>s jovens é<br />

caracterizada pela sua dificuldade de ingressar no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho. Esta dificuldade, em parte, é dada pela falta de<br />

proficiência de alguma habilidade que os tornaria empregáveis.<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

Esta condição de empregabilidade poderia ser obtida a partir <strong>do</strong><br />

conhecimento de novas tecnologias de informação. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, a cidade de São Paulo apresenta merca<strong>do</strong> de trabalho<br />

capitalista e globaliza<strong>do</strong>, que tem as suas próprias regras.<br />

Uma destas regras é a de desqualificação de pessoas;<br />

desqualificação esta que se acentua naqueles que não conseguem<br />

acompanhar a evolução <strong>do</strong> sistema. Para estes, restam apenas<br />

os serviços marginais, com baixos salários e geralmente<br />

insuficientes para a sobrevivência digna <strong>do</strong> indivíduo. O merca<strong>do</strong><br />

exclui para incluir de outra forma; esta condição é denominada<br />

por Sawaia (1999) como sen<strong>do</strong> inserção social perversa. Assim,<br />

a sociedade que exclui também inclui, e esta alternância de<br />

exclusão/inclusão constitui-se num processo longo e gradativo<br />

de exclusão segui<strong>do</strong> de inclusão em uma outra realidade, isto é,<br />

de caráter ilusório da inclusão, retiran<strong>do</strong> <strong>do</strong> indivíduo o seu direito<br />

de possuir o mínimo necessário para a sua sobrevivência digna.<br />

“To<strong>do</strong>s estamos inseri<strong>do</strong>s de algum mo<strong>do</strong>, nem sempre decente e<br />

digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sen<strong>do</strong><br />

a grande maioria da humanidade inserida através da insuficiência<br />

e das privações, que se des<strong>do</strong>bram para fora <strong>do</strong> econômico”<br />

(Sawaia, 1999: p. 8).<br />

Outros autores também realizaram estu<strong>do</strong>s sobre processos<br />

excludentes em sociedades contemporâneas, tais como, os<br />

franceses Paugam e Castel, que analisaram as conseqüências<br />

societárias das transformações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, cunhan<strong>do</strong><br />

os conceitos de desqualificação e desfiliação, respectivamente,<br />

especifican<strong>do</strong> processos que seriam trata<strong>do</strong>s genericamente<br />

como sen<strong>do</strong> de exclusão social.<br />

Robert Castel (1988: p. 526-530), ao analisar a questão<br />

social, aponta três situações que são caracterizadas na<br />

sociedade salarial 5 como: “desestabilização <strong>do</strong>s estáveis”,<br />

isto é, trabalha<strong>do</strong>res que possuíam estabilidades no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho e que foram expulsos desse sistema produtivo;<br />

a “instalação na precariedade” que atinge principalmente os<br />

jovens, alternan<strong>do</strong> entre perío<strong>do</strong>s de atividade, desemprego e<br />

trabalhos temporários; e, redescoberta <strong>do</strong>s “sobrantes”, como<br />

sen<strong>do</strong>, aqueles que não têm lugar, ou que não são integra<strong>do</strong>s,<br />

nem integráveis na sociedade.<br />

A desfiliação é um termo cunha<strong>do</strong> por Castel apud Wanderley<br />

(1999: p. 21-22) como sen<strong>do</strong> uma ruptura de pertencimento,<br />

de vínculo societal. “Efetivamente, desfilia<strong>do</strong> é aquele cuja<br />

trajetória é feita de uma série de rupturas com relação a esta<strong>do</strong>s<br />

de equilíbrios anteriores, mais ou menos estáveis ou instáveis”.<br />

Nesta condição, estão incluídas as populações com insuficiência<br />

de recursos materiais, assim como aquelas fragilizadas pela<br />

instabilidade <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> relacional; ou seja, populações em vias<br />

de pauperização e também as que estão em vias de desfiliação<br />

com perda de vínculo societal, geran<strong>do</strong> a “ausência de inscrição<br />

<strong>do</strong> sujeito em estruturas que tem um senti<strong>do</strong>”.<br />

De um mo<strong>do</strong> geral, as empresas têm suas matrizes<br />

operacionais baseadas numa sociedade salarial, objetivan<strong>do</strong> a<br />

diminuição de custos e a maximização <strong>do</strong>s lucros. Assim, a corrida<br />

ao máximo da eficiência é movida pela competitividade, geran<strong>do</strong><br />

a desqualificação <strong>do</strong>s menos aptos e exigin<strong>do</strong> a atualização da<br />

formação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res de maneira constante. Assim, nesta<br />

disputa, vence o melhor qualifica<strong>do</strong>, restan<strong>do</strong> aos jovens e,<br />

principalmente, àqueles com dificuldades de acesso aos meios<br />

de qualificação, as vagas de estágios ou outros serviços não<br />

efetivos.<br />

A desqualificação e a desfiliação são processos excludentes<br />

que representam apenas a ponta <strong>do</strong> iceberg, sen<strong>do</strong> ocultada<br />

ainda toda uma série de outros meios de desinserção <strong>do</strong> indivíduo<br />

numa sociedade salarial. A porção submersa é representada pela<br />

grande erosão <strong>do</strong> coeficiente de empregabilidade daqueles que<br />

94


poderiam se inserir no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, ou mesmo, daqueles<br />

que já se encontram nele. Esta erosão é mediada pela diferença<br />

entre as mudanças sucessivas da tecnologia nas indústrias e a<br />

velocidade da desqualificação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

As mudanças tecnológicas requerem novos conhecimentos<br />

e habilidades para manter o trabalha<strong>do</strong>r atualiza<strong>do</strong>. Esta<br />

reciclagem deve ser constante. A estagnação <strong>do</strong> indivíduo<br />

quanto à renovação de suas qualidades profissionais, torna-o<br />

tecnologicamente obsoleto e, como conseqüência, é retira<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> de trabalho, inician<strong>do</strong> assim o processo de exclusão,<br />

com perda <strong>do</strong> status social e até da identidade. Esta exclusão,<br />

segun<strong>do</strong> Paugam (2003: p. 45-47), não se refere apenas ao<br />

esta<strong>do</strong> de uma pessoa que carece de bens materiais, mas<br />

corresponde também a um status social específico, inferior e<br />

desvaloriza<strong>do</strong>, marcan<strong>do</strong> profundamente a identidade daqueles<br />

que a vivenciam. O autor denomina esta perda <strong>do</strong> status social<br />

como sen<strong>do</strong> a desqualificação social, isto é, o estigma que<br />

se associa às populações que se encontram em situação de<br />

precariedade sócio-econômica, constituin<strong>do</strong> o que o autor<br />

denominou de novos pobres.<br />

A nova pobreza é, assim, explicada por Paugam, como sen<strong>do</strong> o<br />

fenômeno que remete a uma série de evoluções simultâneas, que<br />

se referem, em particular, à degradação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho,<br />

com a multiplicação <strong>do</strong>s empregos instáveis e o grande aumento<br />

<strong>do</strong> desemprego prolonga<strong>do</strong>, como também, ao enfraquecimento<br />

<strong>do</strong>s vínculos sociais (2003: p. 31). A pobreza é fruto <strong>do</strong> conflito<br />

entre a problemática da integração normativa e funcional de<br />

indivíduos, onde o emprego é parte essencial, e o produto da<br />

construção social. Ou então, é conseqüência da desqualificação<br />

social decorrente <strong>do</strong> processo relaciona<strong>do</strong> a fracassos, por<br />

um la<strong>do</strong>, e por outro, <strong>do</strong> sucesso da integração social; sen<strong>do</strong><br />

a desqualificação social o inverso da integração social. Nesta<br />

situação, o Esta<strong>do</strong> é convoca<strong>do</strong> para criar políticas de integração,<br />

visan<strong>do</strong> à regulação <strong>do</strong> vínculo social, como garantia de coesão<br />

social (Paugam apud Wanderley, 1999: p. 21).<br />

Um indivíduo que sofre com esses processos excludentes,<br />

relaciona<strong>do</strong>s ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, está também sujeito a<br />

mudanças sociais geradas pela redução de seus relacionamentos.<br />

Esta condição é percebida em grandes cidades onde o sistema<br />

capitalista e globalizada impera, como, por exemplo, em São<br />

Paulo.<br />

Numa cidade como São Paulo, os desemprega<strong>do</strong>s se<br />

encontram numa situação de escassez financeira, que diminui,<br />

inclusive, as suas possibilidades de gerar relacionamentos, que<br />

muitas vezes, dependem de atividades de lazer, restringin<strong>do</strong><br />

estes a laços entre pessoas de sua proximidade territorial. Além<br />

disso, neste contexto, são fatos, também, a precariedade de<br />

emprego e a desfiliação social.<br />

Em “Metamorfoses da questão social”, de Robert Castel, o<br />

elemento trabalho é entendi<strong>do</strong> num contexto além das relações<br />

técnicas de produção, implican<strong>do</strong> num feixe de relações sociais,<br />

culturais e identitárias de indivíduos e grupos. Nesta realidade,<br />

os desemprega<strong>do</strong>s sentem-se ameaça<strong>do</strong>s pela demora ou pela<br />

falta de perspectivas de inserção no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho. Este<br />

processo compromete as relações sociais, reduzin<strong>do</strong> a sua<br />

abrangência e restringin<strong>do</strong> o seu acesso inclusive a serviços<br />

de integração social, nas áreas de educação, lazer e outros.<br />

Além disso, os indivíduos que tentam se inserir pela primeira<br />

vez no merca<strong>do</strong> de trabalho, segun<strong>do</strong> Castel (1998: p. 526-<br />

529), sentem-se angustia<strong>do</strong>s pela demora em ter acesso a um<br />

emprego ou mesmo um estágio. Assim, pela falta de trabalhos<br />

formais, são obriga<strong>do</strong>s a se ocuparem com trabalhos temporários<br />

ou informais, muitas vezes em condições precárias, não ten<strong>do</strong><br />

direito a contrato ou garantias. Esta precarização <strong>do</strong> trabalho<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

é entendida como sen<strong>do</strong> “um processo central, comanda<strong>do</strong><br />

pelas novas exigências tecnológicas-econômicas da evolução<br />

<strong>do</strong> capitalismo moderno”, provocan<strong>do</strong> desestabilização <strong>do</strong>s<br />

estáveis e aumentan<strong>do</strong> o déficit de lugares ocupáveis na estrutura<br />

social, sen<strong>do</strong> estes “posições às quais estão associa<strong>do</strong>s uma<br />

utilidade social e um reconhecimento público”.<br />

Os estu<strong>do</strong>s de exclusão e inclusão social realiza<strong>do</strong>s no<br />

nosso meio, particularmente em São Paulo, corroboram<br />

as idéias apresentadas anteriormente. Segun<strong>do</strong> Dupas, os<br />

contornos toma<strong>do</strong>s pela economia global são fomenta<strong>do</strong>res da<br />

exclusão social. As sociedades emergentes não são capazes<br />

de gerar um modelo de merca<strong>do</strong> com mecanismos que levem<br />

a estabilidades de postos de trabalho, mesmo que flexíveis,<br />

compatíveis com uma renda mínima que seja suficiente para uma<br />

qualidade de vida essencial. Na análise deste autor, a exclusão<br />

social se dá em to<strong>do</strong>s os níveis sociais. Este processo pode ser<br />

identifica<strong>do</strong> não somente nos desemprega<strong>do</strong>s, mas também<br />

naqueles que não conseguem ascensão na sua categoria de<br />

emprego. Quanto aos jovens que tentam se inserir no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho, a ausência de oportunidades gera um círculo<br />

vicioso onde a falta de recursos financeiros impede progressos<br />

e é traduzida, na prática, pela falta de chances de educar os<br />

seus filhos, de praticar atividades de lazer como cinema, teatro,<br />

shopping centers, visitar amigos e familiares, sen<strong>do</strong> estes,<br />

condena<strong>do</strong> à exclusão sem direitos; além <strong>do</strong> que a situação da<br />

desesperança por um emprego diminui a sua expectativa pela<br />

vida, dan<strong>do</strong> vigor à infelicidade.<br />

“...as sociedades deste final de século, embora fascinadas por<br />

vários benefícios e promessas oferecidas pela globalização, já<br />

elegeram seu grande inimigo: o me<strong>do</strong> da exclusão social, que<br />

atinge to<strong>do</strong>s os níveis. Os inequivocamente incluí<strong>do</strong>s, acumulam<br />

informações, riqueza e circulam pela aldeia global – têm me<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> potencial de violência <strong>do</strong> excluí<strong>do</strong>, além de um razoável<br />

sentimento de culpa cujo tamanho depende <strong>do</strong> seu grau de<br />

solidariedade social. Aqueles ainda incluí<strong>do</strong>s, assusta<strong>do</strong> com a<br />

diminuição <strong>do</strong>s empregos formais e a redução Esta<strong>do</strong>-protetor,<br />

temem escorregar para a exclusão. E por último, aqueles que<br />

são ou sentem-se excluí<strong>do</strong>s, no seu dia-a-dia de sobreviventes,<br />

tem razões de sobra para sentirem me<strong>do</strong>.” (Dupas, p. 1998:69)<br />

A seguir, Dupas descreve a relação entre o desenvolvimento<br />

tecnológico e a fragilidade da relação de emprego na sociedade<br />

industrial e a sua relação com o Esta<strong>do</strong>:<br />

“Questão que agrava a sensação de exclusão é a deterioração<br />

progressiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no seu tradicional papel de supri<strong>do</strong>r de<br />

serviços essenciais” (...) “Parte da sociedade está começan<strong>do</strong><br />

a acreditar que a globalização traz a exclusão. Esse mal-estar é<br />

devi<strong>do</strong> a inúmeros fatores, mas sem dúvida o mais importante<br />

entre eles é a mudança no paradigma <strong>do</strong> emprego” (...) “fica<br />

claro que hoje há uma crescente e progressiva informalização<br />

das relações de trabalho, decorrente tanto da automação e<br />

modalidades de trabalho à distância, como pelas tendências<br />

de terceirização, porque se respaldam em sólida lógica de<br />

merca<strong>do</strong>: menores preços e maior qualidade <strong>do</strong> produto final”.<br />

(Dupas, 1998: p. 70-75)<br />

As empresas inseridas no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r global tiram<br />

proveito da sua mão-de-obra, de tecnologias e de matériasprimas<br />

existentes da forma mais eficiente possível. As relações<br />

de trabalho são determinadas pelas “transnacionais, que além<br />

de fabricarem diferentes partes <strong>do</strong> produto em diferentes<br />

países, o fazem sob contratos de trabalho varia<strong>do</strong>s. Onde lhes<br />

é conveniente, utilizam mão-de-obra familiar e pagam por peça;<br />

95


outras vezes, contratam nos moldes convencionais de trabalho”<br />

(Dupas, 1999: p. 15). Estas empresas univocamente apresentam<br />

um único objetivo que é minimizar os custos de produção e<br />

maximizar os lucros, levan<strong>do</strong> ao surgimento da precariedade <strong>do</strong><br />

trabalho, uma vez que esta revolução, ocorrida no âmbito das<br />

tecnologias da informação, gerou a perda da importância na<br />

questão da localização espacial e geográfica, isto é, deixou de ser<br />

essencial a instalação <strong>do</strong> indivíduo nas proximidades de algum<br />

centro produtor, já que os seus produtos ou peças de produtos<br />

podem ser advindas de diversas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Desta forma,<br />

a sociedade que possuir maior contingência de trabalha<strong>do</strong>res<br />

desocupa<strong>do</strong>s, ociosos, particularmente jovens, ou seja, aquelas<br />

fatias da sociedade sensíveis à questão da exclusão social, ficam<br />

a mercê <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e assistem à quebra de seu vínculo social,<br />

por falta de condições de acessos.<br />

Assim, verificamos também, segun<strong>do</strong> Roger apud Dupas,<br />

que a exclusão pode se dar em vários aspectos na sua<br />

“multidimensionalidade incluin<strong>do</strong> uma idéia de falta de acesso<br />

não só a bens e serviços, mas também à segurança, à justiça<br />

e à cidadania”. Está intimamente ligada a desigualdades<br />

econômicas, política, cultural e étnica, entre outras. Esses<br />

aspectos de exclusão são aponta<strong>do</strong>s pelo autor em várias<br />

instâncias, sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s considera<strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s: exclusão <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> de trabalho, exclusão <strong>do</strong> trabalho regular, exclusão <strong>do</strong><br />

acesso a moradias decentes e a serviços comunitários, exclusão<br />

<strong>do</strong> acesso a bens e serviços que inclusive públicos, exclusão<br />

dentro <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho, exclusão da possibilidade de<br />

garantir a sobrevivência, exclusão em relação à segurança física,<br />

sobrevivência e proteção contra contingências, exclusão <strong>do</strong>s<br />

direitos humanos (Dupas, 1999: p. 20).<br />

Martins (2002: p. 11) é autor da noção de exclusão perversa.<br />

Para ele a “sociedade que exclui é a mesma que inclui e integra,<br />

que cria formas também desumanas de participação, na medida<br />

em que delas faz condição de privilégios e não de direitos”. E,<br />

ainda, não se trata apenas de diferenças econômicas, mas da<br />

não distribuição igualitária <strong>do</strong>s bens sociais, culturais e políticos<br />

que a sociedade produz.<br />

Assim, exclusão e inclusão sociais fazem parte de um mesmo<br />

processo. Martins retoma os conceitos de pobre, marginaliza<strong>do</strong>s<br />

e excluí<strong>do</strong>s:<br />

Provavelmente estamos mudan<strong>do</strong> o nome da mesma coisa<br />

porque a mesma coisa está nos mostran<strong>do</strong> coisas novas,<br />

que não conhecíamos e não éramos capazes de ver. De certo<br />

mo<strong>do</strong>, a palavra exclusão está desmistifican<strong>do</strong> a palavra pobre.<br />

Através deste pseu<strong>do</strong>conceito, não revela<strong>do</strong>r, que acoberta de<br />

algum mo<strong>do</strong> o que seria o pobre na fase anterior, nós estamos<br />

tentan<strong>do</strong> revelar a nossa desconfiança em relação à antigamente<br />

suposta abrangência explicativa das palavras pobre e pobreza...<br />

a palavra exclusão indica uma dificuldade, mais que uma certeza<br />

– revela uma incerteza no conhecimento que se pode Ter a<br />

respeito daquilo que constitui o objeto da nossa preocupação –<br />

a preocupação com os pobres, os marginaliza<strong>do</strong>s, os excluí<strong>do</strong>s,<br />

os que estão procuran<strong>do</strong> identidade e um lugar aceitável na<br />

sociedade. Portanto, a palavra exclusão nos fala, possivelmente,<br />

de um la<strong>do</strong>, da necessidade prática de uma compreensão nova<br />

daquilo que, não faz muito, to<strong>do</strong>s chamávamos de pobreza<br />

(Martins, 1997: p. 28).<br />

Esta exclusão é mais longa e o tempo que se leva <strong>do</strong><br />

momento da exclusão para o momento da inclusão está cada<br />

vez mais alonga<strong>do</strong>, está deixan<strong>do</strong> de ser um perío<strong>do</strong> transitório.<br />

A inclusão “se dá no plano econômico, pois a pessoa consegue<br />

ganhar alguma coisa para sobreviver, mas não se dá no plano<br />

social” (Martins, 1997: p. 33). Para Martins, o indivíduo ganha o<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

suficiente para a sua sobrevivência, porém não o bastante para<br />

sua sociabilidade.<br />

Ao construir o Mapa de Exclusão e Inclusão Social de São<br />

Paulo, Sposati aborda esses conceitos e sua interligação, ou<br />

seja, as condições de vida das pessoas em sociedade que se<br />

relacionam mutuamente em seus próprios territórios. A autora<br />

também conclui, em sua argumentação, que exclusão e inclusão<br />

fazem parte <strong>do</strong> mesmo processo e explica:<br />

O que se constatou é que a relação exclusão/inclusão social<br />

é indissolúvel ao contrário das meto<strong>do</strong>logias que realizam a<br />

medida da riqueza ou da pobreza como unidade autônomas<br />

com variáveis autoexplicativas. A exclusão e inclusão social<br />

são necessariamente interdependentes. Alguém é excluí<strong>do</strong><br />

de uma dada situação de inclusão. O desafio foi, portanto, o<br />

de resolver esta questão através da construção meto<strong>do</strong>lógica.<br />

(Sposati, Aldaíza. Cidade, Território, exclusão/inclusão Social.<br />

Congresso Internacional de Geoinformação – GEO Brasil/2000.<br />

São Paulo, Palácio das Convenções <strong>do</strong> Anhembi – 16/06/2000.<br />

In: www.dpi.inpe.br/geopro/exclusao/cidades.pdf).<br />

A dialética exclusão/inclusão é também analisada sob ponto<br />

de vista de território, basea<strong>do</strong> no “debate sobre as condições de<br />

vida <strong>do</strong> território como um <strong>do</strong>s instrumentos para concretizar a<br />

redistribuição social no enfrentamento das desigualdades sociais”<br />

(Koga, 2003: p. 19). Esta análise, da relação entre o sujeito e o<br />

território, está intimamente ligada com a dimensão da cidadania<br />

que busca “pelo rompimento <strong>do</strong> processo de naturalização das<br />

situações de exclusão social e de pobreza que se introjeta com<br />

facilidade no cotidiano da sociedade brasileira”.<br />

Para apresentar uma análise sobre as principais<br />

especificidades <strong>do</strong> município de São Paulo, através de alguns<br />

indica<strong>do</strong>res que retratem a configuração socioeconômica, as<br />

características da população, as mudanças verificadas no seu<br />

perfil da década de 90 e sua distribuição no espaço territorial,<br />

Pochmann analisa o que denominou de o aban<strong>do</strong>no e esperança<br />

na cidade de São Paulo. O processo de exclusão e a estratégia<br />

paulistana de inclusão social, onde<br />

a desigualdade de renda, de oportunidades de trabalho,<br />

de acesso à saúde, à justiça, à escola, à cultura, ao lazer, à<br />

segurança, à escolha e cidadania política constituem, cada<br />

uma delas, faces de uma única questão abrangente que,<br />

quan<strong>do</strong> estudada em conjunto e focada sobre os que estão<br />

despoja<strong>do</strong>s desses direitos, costuma chamar-se de exclusão<br />

social (Pochmann, 2003: p. 15).<br />

Pochmann investiga a cidade de São Paulo através de<br />

indica<strong>do</strong>res e mapas produzi<strong>do</strong>s, pela PMSP – Prefeitura <strong>do</strong><br />

Município de São Paulo e SDTS – Secretaria <strong>do</strong> Desenvolvimento,<br />

Trabalho e Solidariedade, “retratan<strong>do</strong> a cidade de forma<br />

abrangente, levan<strong>do</strong> em consideração temas que vão <strong>do</strong><br />

nível de renda das famílias até o número de homicídios entre<br />

jovens, e a descrição da reação paulistana a exclusão social”<br />

(Pochmann, 2003: p. 13). No seu estu<strong>do</strong>, Pochamann compara<br />

a velha exclusão, a situação das pessoas antes da década de<br />

1980, e, a nova exclusão nos últimos 24 anos. No quadro 3, o<br />

autor interpretou critérios de manifestação da nova e da velha<br />

exclusão social através de alguns indica<strong>do</strong>res de condições de<br />

vulnerabilidade apresentadas pela SDTS/PMSP, 2002.<br />

96


Condições de<br />

Vulnerabilidade<br />

Faixa Etária<br />

Raça e Procedência<br />

Estrutura Familiar<br />

Condição de<br />

Habitação<br />

Conhecimento<br />

Posição no Trabalho<br />

Renda<br />

Quadro 1: Critérios de manifestação<br />

da Nova e da Velha Exclusão Social.<br />

Velha Exclusão<br />

Presença de crianças<br />

Negro e/ou imigrante<br />

Muitos dependentes<br />

Ausência de moradia<br />

Analfabetismo na<br />

língua pátria<br />

Ocupa<strong>do</strong> com baixa<br />

produtividade<br />

Insuficiente<br />

monetização<br />

Fonte: SDTS/PMSP, 2002 apud (Pochmann, 2003: 21)<br />

Nova Exclusão<br />

Presença de velhos<br />

Branco e/ou não<br />

migrante<br />

Monoparentais<br />

Moradia precária<br />

Analfabeto digital<br />

Desemprego<br />

recorrente<br />

Desmonetiza<strong>do</strong><br />

Esse processo renova<strong>do</strong> de produção e reprodução de<br />

exclusão social está longe de substituir a velha, sobrepon<strong>do</strong>se<br />

a ela. A exclusão nova está transbordan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s lugares onde<br />

antes esteve configurada: mun<strong>do</strong> rural, Nordeste, e franjas <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> de trabalho urbano. Ou seja, analfabetismo na língua<br />

pátria, ocupação de baixa produtividade, negro e imigrante,<br />

famílias numerosas etc. Novas características surgem como<br />

fomenta<strong>do</strong>ras da exclusão social, como, o analfabetismo<br />

digital, desemprego recorrente, branco e não imigrante, famílias<br />

monoparentais, entre outros.<br />

Inseri<strong>do</strong>s neste contexto, os jovens da cidade de São Paulo<br />

buscam as suas formas de sobrevivência, tentan<strong>do</strong> se posicionar<br />

na sociedade. A exclusão social <strong>do</strong>s jovens paulistanos é<br />

caracterizada pela sua dificuldade de se ingressar no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho. A falta de oportunidades aliada à formação escolar<br />

precária e restrições ao acesso a atividades sócio-culturais<br />

dificulta ainda mais a sua inserção na sociedade. O baixo nível<br />

de educação escolar pode ser representa<strong>do</strong> pelo índice de<br />

analfabetismo que segun<strong>do</strong> IBGE, Censos Demográficos <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> de 1999 e 2000, apresentou na região Sudeste <strong>do</strong> Brasil<br />

entre jovens de 15 a 24 anos, 34,1% em 1999 e 17,1% em 2000.<br />

Além disso, a baixa qualidade de educação pública é dada não<br />

apenas pela falta de infra-estrutura, como também, o baixo salário<br />

<strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res geran<strong>do</strong> desinteresse, levan<strong>do</strong> à formação de<br />

jovens com qualificação insuficiente. Não obstante, os jovens<br />

que estão inseri<strong>do</strong>s em algum tipo de trabalho, muitas vezes<br />

são descarta<strong>do</strong>s por falta de proficiência ou de conhecimentos<br />

atualiza<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a realidade <strong>do</strong> trabalho.<br />

Essas condições deterioradas, acompanhadas de um processo<br />

educativo descompassa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sujeitos jovens e a<strong>do</strong>lescentes,<br />

produzem como resulta<strong>do</strong>s o desinteresse, a resistência,<br />

dificuldades escolares acentuadas e, muitas vezes, práticas<br />

de violência, que caracterizam a rotina das unidades escolares<br />

(Sposito, 2003:16).<br />

Como conseqüência, os jovens, muitas vezes, nesta busca<br />

pela inserção no circuito econômico e no meio social, acabam se<br />

situan<strong>do</strong> de uma forma inadequada, precária.<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

Assim, diante de to<strong>do</strong>s estes fatores, os jovens na cidade de<br />

São Paulo, buscam meios de qualificação para que se tornem<br />

empregáveis. Construímos para este estu<strong>do</strong>, a hipótese de que<br />

o conhecimento de novas tecnologias de informação pode ser<br />

um <strong>do</strong>s meios para se alcançar a condição de empregabilidade,<br />

ajudan<strong>do</strong> o indivíduo a se inserir no merca<strong>do</strong> de trabalho,<br />

melhoran<strong>do</strong> a sua situação no contexto social. Assim, a inclusão<br />

digital é, a seguir, discutida, como uma das formas de se alcançar<br />

às novas tecnologias de informação.<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens na cidade de São<br />

Paulo.<br />

A exclusão digital diz respeito à falta de acesso a informação<br />

gerada e transmitida pelo computa<strong>do</strong>r e pelo desconhecimento<br />

mínimo <strong>do</strong> uso de computa<strong>do</strong>r como proficiência para o merca<strong>do</strong><br />

de trabalho.<br />

O acesso ao mun<strong>do</strong> digital pode ser alcança<strong>do</strong> em diversas<br />

instâncias: nas residências, no trabalho, nas viagens durante<br />

negócios, nas escolas, nos serviços públicos, entre outras.<br />

Segun<strong>do</strong> Neri 6 (2003), a inclusão digital é cada vez mais parceira<br />

da cidadania e da inclusão social, e ainda, está presente desde<br />

o voto nas urnas eletrônicas ao uso <strong>do</strong>s cartões bancários <strong>do</strong><br />

Bolsa-Escola, passan<strong>do</strong> pelo primeiro contato <strong>do</strong>s jovens como<br />

computa<strong>do</strong>r que poderá ser o passaporte para o acesso ao<br />

primeiro emprego.<br />

O combate à exclusão digital, também denominada por<br />

Neri de “brecha digital”, não se resume apenas em prover os<br />

desprovi<strong>do</strong>s da tecnologia digital. A cada ano que passa, surgem<br />

novas tecnologias, trazen<strong>do</strong> mais velocidade de processamento<br />

de informações e tornan<strong>do</strong> os equipamentos de gerações<br />

anteriores obsoletos. Esta brecha digital tende aumentar à<br />

medida que as tecnologias digitais vão sen<strong>do</strong> renovadas. A<br />

cada inovação/substituição, novas proficiências tornam-se<br />

necessárias como requisito de qualificação <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res<br />

destes novos equipamentos.<br />

Oportunizar aos excluí<strong>do</strong>s digitais novas proficiências significa<br />

incluí-los digitalmente. Essa inclusão digital objetiva diminuir a<br />

distância informacional entre os que <strong>do</strong>minam e aqueles que são<br />

leigos das tecnologias emergentes e promove vias de ganho aos<br />

excluí<strong>do</strong>s digitais e, também, os excluí<strong>do</strong>s sociais.<br />

Ainda de acor<strong>do</strong> com Neri, existem poucos diagnósticos e<br />

debates sobre o binômio inclusão-exclusão digital, devi<strong>do</strong> ao<br />

tardio reconhecimento da importância <strong>do</strong> tema no escopo das<br />

políticas públicas ou, quan<strong>do</strong> a discussão existe, está raramente<br />

ligada ao acesso pelo usuário “pobre”, seja ele trabalha<strong>do</strong>r,<br />

desemprega<strong>do</strong> ou estudante. O autor acredita que a inclusão<br />

digital funciona como cria<strong>do</strong>ra de oportunidades de geração de<br />

renda e de cidadania na nossa desigual sociedade, em plena era<br />

<strong>do</strong> conhecimento.<br />

Para Silveira 7 , os “novos excluí<strong>do</strong>s” são aqueles que não<br />

conseguem se comunicar na velocidade <strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s através<br />

da comunicação mediada por computa<strong>do</strong>r. Os incluí<strong>do</strong>s têm a<br />

possibilidade desta comunicação através uso da internet, na<br />

rede de computa<strong>do</strong>res mediada por prove<strong>do</strong>res de acesso e da<br />

linha telefônica. Assim, os novos excluí<strong>do</strong>s representam aqueles<br />

que não têm acesso a essas novas tecnologias.<br />

A era atual é regida pelo computa<strong>do</strong>r e o seu desenvolvimento<br />

desenfrea<strong>do</strong>, tornan<strong>do</strong> a comunicação, baseada no envio de<br />

mensagens eletrônicas, numa velocidade quase instantânea,<br />

facilitan<strong>do</strong> e amplian<strong>do</strong> os contatos, inclusive no contexto<br />

internacional. O conhecimento destas novas tecnologias,<br />

responsáveis pela evolução da computação, é aponta<strong>do</strong> pelo<br />

97


Silveira como facilita<strong>do</strong>ras de acesso ao trabalho, pois “para<br />

se obter um emprego, cada vez mais será preciso ter alguma<br />

destreza no uso <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r” (2001: p. 17). Conseqüentemente<br />

é fator de ampliação das chances <strong>do</strong> indivíduo ser incluí<strong>do</strong><br />

socialmente, “uma vez que as principais atividades econômicas,<br />

governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade<br />

vão migran<strong>do</strong> para a rede, sen<strong>do</strong> praticadas e divulgadas por<br />

meio da comunicação informacional” (Silveira, 2001: p. 18).<br />

O uso <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r está presente nos diversos setores de<br />

trabalho; tais como, escolas, repartições públicas, indústrias,<br />

presta<strong>do</strong>ras de serviços, enfim, em to<strong>do</strong>s os campos onde se<br />

almeja maior velocidade de produção. Dessa forma, através<br />

destas novas tecnologias, há a redução <strong>do</strong> tempo em que o<br />

objetivo daquela tarefa é alcança<strong>do</strong>.<br />

O <strong>do</strong>mínio destas destrezas é imprescindível na procura de<br />

empregos, principalmente para jovens que querem trabalhar,<br />

sen<strong>do</strong>, muitas vezes, um pré-requisito primordial.<br />

A sociedade da capital paulistana é cada vez mais provida<br />

de informação mediada pelo computa<strong>do</strong>r. Assim, aquele que<br />

não souber “manipular, reunir, desagregar, processar e analisar<br />

informações ficará distante da produção <strong>do</strong> conhecimento,<br />

estagna<strong>do</strong> ou ven<strong>do</strong> se agravar sua condição de miséria”<br />

(Silveira, 2001: p. 21).<br />

A manipulação de da<strong>do</strong>s é somente possível ao indivíduo que<br />

conhecer os tipos de sistemas operacionais que estão inseri<strong>do</strong>s<br />

no computa<strong>do</strong>r e seus coman<strong>do</strong>s, tornan<strong>do</strong> o computa<strong>do</strong>r um<br />

instrumento obediente ao seu comandante. Esses coman<strong>do</strong>s<br />

permitem ao usuário reunir, desagregar e processar os da<strong>do</strong>s,<br />

transforman<strong>do</strong>-os em informações.<br />

Por esta razão, a necessidade de assegurar o acesso às<br />

pessoas excluídas deste sistema de tecnologia e informação é<br />

primordial como “estratégia de inclusão social”. Para isto, Silveira<br />

propõe:<br />

... a formulação de políticas públicas de orientação, educação<br />

não-formal, proficiência tecnológica e de uso das novas<br />

tecnologias da informação para mudar a vida, ou seja, para<br />

fomentar instrumentos ágeis para organizar reivindicações,<br />

realizar referen<strong>do</strong>s e plebiscitos, lutar por prioridades<br />

orçamentárias, fiscalizar por prioridades orçamentárias,<br />

fiscalizar governos e expor preocupações e necessidades<br />

coletivas (Silveira, 2001: p. 22).<br />

A formulação dessas políticas públicas, citadas por Silveira, já<br />

está sen<strong>do</strong> realizada e com resulta<strong>do</strong>s, para os primeiros grupos<br />

de incluí<strong>do</strong>s digitais. Os telecentros, instala<strong>do</strong>s pela Prefeitura<br />

da Cidade de São Paulo, promovem aprendiza<strong>do</strong> aos excluí<strong>do</strong>s<br />

digitais através <strong>do</strong> uso de softwares livres.<br />

Os softwares livres são sistemas operacionais denomina<strong>do</strong>s<br />

Linux, que executam tarefas idênticas aos sofwares priva<strong>do</strong>s<br />

(Microsoft). Nos telecentros, são ensina<strong>do</strong>s os coman<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Linux para execução das tarefas como editoração de textos,<br />

planilhas de cálculos, banco de da<strong>do</strong>s, páginas de apresentações<br />

e internet.<br />

O governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo vem fomentan<strong>do</strong> a<br />

inclusão digital através <strong>do</strong> projeto Acessa São Paulo, dispon<strong>do</strong><br />

computa<strong>do</strong>res em lugares estratégicos, por exemplo, no Poupa<br />

Tempo, permitin<strong>do</strong>, a digitação de currículos profissionais e o<br />

acesso a internet para a procura de empregos.<br />

Iniciativas como Fundações empresariais, organizações não<br />

governamentais e associações de bairro já estão receben<strong>do</strong><br />

computa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s para projetos de inclusão digital.<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

Todas essas iniciativas objetivam promover a proficiência aos<br />

excluí<strong>do</strong>s digitais e, juntamente com outras atividades sociais e<br />

culturais, possibilitam a melhora da qualidade de vida <strong>do</strong>s jovens,<br />

tornan<strong>do</strong>-os mais sociáveis, atribuin<strong>do</strong>-lhes conhecimentos<br />

básicos para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.<br />

Silveira (2001: p. 23) ainda aponta que inclusão digital é<br />

importante para redução da miséria, rompen<strong>do</strong> a “reprodução<br />

<strong>do</strong> ciclo da ignorância e <strong>do</strong> atraso tecnológico”.<br />

Uma das conseqüências da inclusão digital é favorecer<br />

grandes conglomera<strong>do</strong>s da nova economia “com mão-deobra<br />

capacitada”, com experiências no uso das redes e com<br />

“habilidade em informática”, crian<strong>do</strong> também enorme contingente<br />

de “consumi<strong>do</strong>res de produtos de informática, hardware, software<br />

e serviços de manutenção”. Ou seja, com a inclusão digital, mais<br />

pessoas podem acessar as novas tecnologias e seus serviços.<br />

Desta forma, Silveira defende uma justiça de cobrança destes<br />

conglomera<strong>do</strong>s da nova economia, de tal forma que haja um<br />

meio de troca justa em contrapartida ao “crescimento de seus<br />

lucros com a prática e manutenção da inclusão digital” (Silveira,<br />

2001: p. 23).<br />

Assim, conclui o autor, as pessoas apartadas da sociedade<br />

da informação estão perceben<strong>do</strong> a importância de sua inserção,<br />

buscan<strong>do</strong> as menores brechas para não perderem os bits da<br />

história. O computa<strong>do</strong>r conecta<strong>do</strong> à Internet já é para as famílias<br />

uma esperança de um futuro melhor para seus filhos. Ou seja, o<br />

conhecimento de novas tecnologias promove melhores chances<br />

para inserção no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.<br />

A inclusão digital já se encontra presente nas escolas públicas<br />

de várias cidades brasileiras, principalmente na cidade de São<br />

Paulo. Segun<strong>do</strong> o Censo Escolar de 2001, <strong>do</strong> INEP, da totalidade<br />

de alunos matricula<strong>do</strong>s no ensino fundamental regular, 25,4%<br />

estava matriculada em escolas com acesso a internet e, no<br />

ensino médio regular este número é de 45,6%. Um estu<strong>do</strong> feito<br />

pelo Mapa de Inclusão/Exclusão <strong>Di</strong>gital 8 em 2003 apontou que<br />

a correlação entre desempenho escolar e acesso a computa<strong>do</strong>r<br />

é positiva em todas as faixas etárias e é maior na faixa que<br />

compreende os alunos de 13 a 18 anos que freqüentam a oitava<br />

série. Como resulta<strong>do</strong>, houve melhor desempenho desses alunos<br />

nas provas de Português e de Matemática, onde os maiores<br />

impactos foram constata<strong>do</strong>s.<br />

A discrepância da escolaridade média entre os incluí<strong>do</strong>s<br />

e excluí<strong>do</strong>s digitais, segun<strong>do</strong> mostra o Mapa de Inclusão e<br />

Exclusão <strong>Di</strong>gital, é praticamente o <strong>do</strong>bro, onde os incluí<strong>do</strong>s<br />

digitais possuem 8,72 anos <strong>completo</strong>s de estu<strong>do</strong>. Além disso,<br />

o Mapa mostrou que a renda média <strong>do</strong> primeiro grupo é de R$<br />

1677,00 contra os R$ 569,00 <strong>do</strong> total da população.<br />

O Brasil possui segun<strong>do</strong> o Censo de 2000, fonte IBGE, apenas<br />

10,29% de mora<strong>do</strong>res com acesso ao computa<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> São<br />

Paulo o líder de to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s brasileiros na inclusão digital<br />

com 17,98% de seus mora<strong>do</strong>res.<br />

A controvérsia desta revolução tecnológica pode ser deduzida<br />

através da exclusão digital no mun<strong>do</strong> e, particularmente, no<br />

Brasil. O quadro 4, mostra a posição brasileira no ranking de<br />

número de hosts 9 no mun<strong>do</strong>.<br />

98


PAÍSES<br />

Quadro 2: ranking de número de hosts no mun<strong>do</strong>.<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

Japão<br />

Itália<br />

Canadá<br />

Alemanha<br />

Reino Uni<strong>do</strong><br />

Austrália<br />

Holanda<br />

Brasil<br />

Taiwan<br />

França<br />

Espanha<br />

Demais Países<br />

Total de Hosts em 30 países<br />

Fonte: Network Wizards, 2003.<br />

O quadro 3 mostra que o Brasil ocupa a nona classificação,<br />

com apenas 1,34%, seguida por Taiwan e França, com 1,30% e<br />

1,29%, respectivamente. Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ocupam a primeira<br />

posição com 72,03%, apresentan<strong>do</strong> o maior número de hosts<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Nas Américas, o Brasil assume uma posição melhor no<br />

ranking. O quadro 5 mostra que o Brasil ocupa terceiro lugar,<br />

com 1,75%, no ranking antecedi<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, com<br />

94,35%, e Canadá, com 2,34%. Na América <strong>do</strong> Sul, o Brasil<br />

ocupa o primeiro no ranking com 73% e seguida pela Argentina<br />

com 16,23%.<br />

PAÍSES<br />

Quadro 3: ranking de número de hosts na América.<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

Canadá<br />

Brasil<br />

México<br />

Argentina<br />

Chile<br />

Uruguai<br />

Colômbia<br />

Rep. Dominicana<br />

Venezuela<br />

Peru<br />

Guatemala<br />

Outros<br />

Total de Hosts em 15 países<br />

Fonte: Network Wizards, 2003.<br />

HoSTS<br />

120571516<br />

9260117<br />

3864315<br />

2993982<br />

2891407<br />

2583753<br />

2564339<br />

2415286<br />

2237527<br />

2170233<br />

2157628<br />

1694601<br />

11980296<br />

167385000<br />

HoSTS<br />

120571516<br />

2993982<br />

2237527<br />

1107795<br />

495920<br />

135155<br />

78660<br />

55626<br />

45508<br />

24138<br />

17447<br />

9789<br />

15937<br />

127789000<br />

No Brasil, apesar da sua boa classificação 10 no nível mundial,<br />

nas Américas e na América <strong>do</strong> Sul, o número de pessoas que se<br />

conectam à Internet, ou simplesmente denomina<strong>do</strong>s de usuários<br />

de computa<strong>do</strong>res é muito pequeno. Segun<strong>do</strong> a Sociedade da<br />

Informação no Brasil – Livro Verde, o nível de alfabetização digital<br />

%<br />

72,03%<br />

5,53%<br />

2,31%<br />

1,79%<br />

1,73%<br />

1,54%<br />

1,53%<br />

1,44%<br />

1,34%<br />

1,30%<br />

1,29%<br />

1,01%<br />

7,16%<br />

100%<br />

%<br />

94,35%<br />

2,34%<br />

1,75%<br />

0,87%<br />

0,39%<br />

0,11%<br />

0,06%<br />

0,04%<br />

0,04%<br />

0,02%<br />

0,01%<br />

0,01%<br />

0,01%<br />

100,00%<br />

da população brasileira é muito baixo. As oportunidades de<br />

aquisição das noções básicas de informática indispensáveis para<br />

acesso à rede e seus serviços são insuficientes. O desenvolvimento<br />

histórico da Internet no Brasil foi marca<strong>do</strong>, desde a sua origem<br />

no final da década de 1980, por estreita aliança entre o setor<br />

acadêmico e as ONGs, destacan<strong>do</strong>-se a cooperação entre<br />

a RNP 11 e o Ibase 12 , que culminou com o esforço de abertura<br />

de serviços internet para quaisquer interessa<strong>do</strong>s, ocorrida em<br />

1995.<br />

No cenário de inclusão/exclusão digital até aqui descrito,<br />

existe uma questão instigante à nossa reflexão – “é possível<br />

pensar a inclusão social a partir da inclusão digital?”.<br />

Segun<strong>do</strong> a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, RNP 13 ,<br />

o objetivo da Inclusão <strong>Di</strong>gital é a Inclusão Social. O que se<br />

quer é erradicar, no campo da tecnologia de informação e de<br />

comunicação, algo análogo ao analfabetismo funcional, e não<br />

a qualificação de pessoas nos aspectos mais avança<strong>do</strong>s da<br />

tecnologia de informação e de comunicação.<br />

Entende-se, então, que a inclusão digital é uma das formas<br />

de indução à inclusão social para as classes subalternas, sen<strong>do</strong>,<br />

assim, um <strong>do</strong>s objetivos da Inclusão <strong>Di</strong>gital é a Inclusão Social.<br />

Desta forma, a essência da inclusão digital em primeira<br />

instância, caracteriza-se pela alfabetização digital na busca da<br />

inclusão social. A alfabetização digital<br />

é uma expressão que remete ao processo de capacitação<br />

da população para que essa ganhe proficiência na utilização<br />

<strong>do</strong>s recursos de tecnologia de informação e de comunicação<br />

disponíveis. Sua definição clara é fundamental, pois pode levar<br />

à dissipação de recursos que devem se concentrar na solução<br />

da questão da Inclusão <strong>Di</strong>gital, delimitar os contornos <strong>do</strong><br />

que é “utilizar com proficiência os recursos de tecnologia de<br />

informação e de comunicação disponíveis”, dada a ênfase em<br />

inclusão social que deve pautar o processo de Inclusão <strong>Di</strong>gital.<br />

(RNP, acesso 15/01/2003)<br />

A seguir, mostramos a importância de atividades sócioculturais<br />

e o impacto na vida de jovens paulistanos, principalmente<br />

na sua inserção ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.<br />

meto<strong>do</strong>logia<br />

Foi utiliza<strong>do</strong> como universo empírico desta pesquisa, a<br />

organização não governamental que mais empreende inclusão<br />

digital no Brasil, a CDI-SP, que promove Escolas de Informática<br />

e Cidadania.<br />

O seguinte caminho meto<strong>do</strong>lógico foi utiliza<strong>do</strong> nesta<br />

pesquisa:<br />

1- Pesquisa bibliográfica sobre a temática, inclusive na rede<br />

mundial de computa<strong>do</strong>res;<br />

2- Aproximação à temática da inclusão digital pela<br />

participação em encontros e eventos;<br />

3- Pesquisa <strong>do</strong>cumental da ONG CDI e das EICs pesquisadas.<br />

4- Pesquisa de campo.<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

A escolha <strong>do</strong> universo da pesquisa, as regiões sul, sudeste<br />

e centro-sul da Cidade de São Paulo que possuem 36 <strong>do</strong>s 96<br />

distritos da cidade, deve-se ao fato de que nesse espaço territorial<br />

há distritos com índices compostos de inclusão e exclusão social<br />

e de desenvolvimento humano (IEX DH) polariza<strong>do</strong>s.<br />

Para escolha da amostra utilizamos o Mapa da Exclusão/<br />

Inclusão Social da cidade de São Paulo 14 , 2002, elabora<strong>do</strong> pelo<br />

99


Núcleo de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa em Seguridade e Assistência<br />

Social – NEPSAS-PUCSP, Instituto de Pesquisas Espaciais<br />

– INPE – Programa de Pesquisas em Geoprocessamento e<br />

Instituto de Estu<strong>do</strong>s, Formação e Assesoria em Políticas Sociais<br />

– PÓLIS. O Mapa da Exclusão/Inclusão Social, segun<strong>do</strong> seus<br />

pesquisa<strong>do</strong>res, é “uma meto<strong>do</strong>logia de análise geo-espacial de<br />

da<strong>do</strong>s e produção de índices intra-urbanos sobre a exclusão/<br />

inclusão social e a discrepância territorial da qualidade de vida”.<br />

Ele permite conhecer “o lugar” <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s (sua posição geográfica<br />

no território) como elemento para a análise geo-quantitativa da<br />

dinâmica social e da qualidade ambiental. Constrói índices de<br />

discrepância (IDI) e índices compostos de exclusão/inclusão<br />

social (IEX). Foram escolhidas para composição da amostra da<br />

pesquisa, as Escolas de Informática e Cidadania, localizadas nos<br />

distritos com menor, médio e maior IEX DX 15 .<br />

Os distritos que compõe o universo da pesquisa são: Vila<br />

Mariana, Moema, Saúde, Campo Belo, Santo Amaro, Jabaquara,<br />

Campo Grande, Pari, Brás, Belém, Tatuapé, Mooca, Água Rasa,<br />

Carrão, Vila Formosa, Aricanduva, Ipiranga, Vila Prudente, São<br />

Lucas, Sapopemba, Cursino, Sacomã, Vila Andrade, Campo<br />

Limpo, Capão Re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, Jardim São Luis, Socorro, Cidade Dutra,<br />

Cidade Ademar, Pedreira, Grajaú, Parelheiros e Marsilac, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong>s para amostra os seguintes distritos: Campo<br />

Belo, Capão Re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> e Jabaquara.<br />

A pesquisa qualitativa foi realizada por meio de entrevistas<br />

estruturadas a partir de questões abertas e fechadas, previamente<br />

estabelecidas.<br />

Para sistematização e análise, os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s nas<br />

entrevistas foram trata<strong>do</strong>s, de mo<strong>do</strong> a compreendê-los<br />

criticamente.<br />

O público atendi<strong>do</strong> pelas Escolas de Informática e Cidadania<br />

é composto de jovens de ambos os sexos, escolaridade variada,<br />

com ou sem trabalho e situa<strong>do</strong>s entre 16 a 21 anos.<br />

Foram entrevista<strong>do</strong>s 30 alunos, de três EICs: Gotas de Flor<br />

com Amor, Fundação Gabi e Associação Beneficente Provisão,<br />

localiza<strong>do</strong>s em distritos cujos índices compostos de inclusão<br />

e exclusão social e de desenvolvimento humano (IEX DH) são<br />

–0,72, -0,36 e 0,59 respectivamente, e ICJ 0,22, 0,39 e 0,59<br />

respectivamente.<br />

Conclusão<br />

Alguns resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com relação às características<br />

<strong>do</strong>s 30 jovens entrevista<strong>do</strong>s refletem a realidade <strong>do</strong>s jovens<br />

da cidade de São Paulo. O pre<strong>do</strong>mínio de mulheres em busca<br />

da capacitação informacional mostra a ampliação <strong>do</strong> papel da<br />

mulher como prove<strong>do</strong>ra de renda da família, necessitan<strong>do</strong> de<br />

melhor qualificação a fim de alcançar melhores empregos, com<br />

melhores salários. As características individuais obti<strong>do</strong>s por esta<br />

pesquisa como a cor da pele, a idade mediana e a escolaridade<br />

<strong>do</strong>s jovens são comparáveis aos levanta<strong>do</strong>s pelo Mapa da<br />

Juventude, sen<strong>do</strong> representativo para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jovens da<br />

cidade de São Paulo.<br />

Entre os jovens, assim como foram detecta<strong>do</strong>s na pesquisa,<br />

particularmente aqueles que estão tentan<strong>do</strong> a inserção no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho pela primeira vez, as suas oportunidades de trabalho,<br />

além de escassas, são também precárias, fazen<strong>do</strong> serviços pouco<br />

qualifica<strong>do</strong>s e inconstantes, alimentan<strong>do</strong> a gênese de trabalhos no<br />

setor de serviços por meio de prestação a terceiros. Castel (1998:<br />

p. 493) afirmava a respeito de “déficit de integração” que havia<br />

marca<strong>do</strong> o início da na sociedade industrial através <strong>do</strong> crescimento<br />

<strong>do</strong> consumo, <strong>do</strong> acesso à precariedade ou à moradia decente, da<br />

maior participação na cultura e no lazer, <strong>do</strong>s avanços na realização<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

de uma maior igualdade de oportunidades, a consolidação <strong>do</strong><br />

direito <strong>do</strong> trabalho, a extensão das proteções sociais, a supressão<br />

<strong>do</strong>s bolsões de pobreza, etc.<br />

Foi verifica<strong>do</strong> nesta pesquisa, quanto ao uso da informática,<br />

a maioria <strong>do</strong>s jovens ainda acredita que o conhecimento desta<br />

tecnologia pode abrir caminhos para a inserção no merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho, enquanto que alguns têm interesse em adquirir mais<br />

conhecimentos através <strong>do</strong> acesso à rede mundial de informação<br />

(Internet), e uma minoria nem sabe o que fazer ainda com esta<br />

aquisição. Com isto, pode-se concluir que a inclusão digital ainda<br />

é um tema da atualidade, poden<strong>do</strong> representar, para muitos, um<br />

determinante de sua condição no merca<strong>do</strong> de trabalho, com<br />

repercussão na sua situação social.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, <strong>do</strong>minar as técnicas de informática, para<br />

muitos jovens, pode representar um importante meio de lazer,<br />

às vezes, até o único meio, através <strong>do</strong> acesso à Internet. Os<br />

jovens empobreci<strong>do</strong>s tendem a se confinar cada vez mais a<br />

relacionamentos nas proximidades onde vivem, para evitar gastos<br />

e porque é nesse meio onde ele se identifica, onde, “os lugares<br />

de exclusão e pobreza revelam uma composição cada vez mais<br />

sólida, onde formam um verdadeiro mar de “déficit de cidadania”,<br />

em torno de algumas ilhas de inclusão e riqueza” (Koga, 2003:<br />

p. 79). Estreita-se assim o seu horizonte de conhecimento da<br />

cultura e das atividades de lazer. A Internet, nesse momento,<br />

seria um meio de acesso a estas atividades.<br />

Entretanto, a proposta das EICs foi de oferecer, além <strong>do</strong>s<br />

cursos de informática, atividades sócio-culturais que levassem<br />

ao conhecimento e prática da cidadania, contribuin<strong>do</strong> na<br />

formação <strong>do</strong> indivíduo (jovem), enquanto cidadão ativo, atuante,<br />

capacita<strong>do</strong>s para a organização, a participação e a intervenção<br />

social. Sob este aspecto, o resulta<strong>do</strong> obti<strong>do</strong> foi heterogêneo, pois<br />

apenas a EIC Gotas de Flor com Amor apresentou infra-estrutura<br />

apropriada para oferecer este tipo de atividades. Assim, mais<br />

uma vez, mesmo nas escolas que buscam acesso a meios de<br />

cultura aos jovens, objetivan<strong>do</strong> a ampliação da cidadania, não<br />

oferecem maiores oportunidades de conhecimento e de inserção<br />

no território de vivência destes jovens.<br />

Pelos resulta<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, analisan<strong>do</strong> as possibilidades<br />

de inclusão social de jovens empobreci<strong>do</strong>s, pela alfabetização<br />

digital promovida pelas EICs subsidiadas pelo CDI na cidade<br />

de São Paulo, podemos concluir que, a hipótese deste trabalho<br />

confirma-se parcialmente. A aquisição de novas tecnologias de<br />

informação e o acesso ao conhecimento, a inclusão digital, pode<br />

melhorar a situação <strong>do</strong>s jovens no merca<strong>do</strong> de trabalho, mas<br />

ela, exclusivamente, não é suficiente como indutora de inclusão<br />

social, necessitan<strong>do</strong> de ser composta com meios de promoção<br />

às atividades sócio-culturais, amplian<strong>do</strong> o conhecimento e o<br />

exercício da cidadania. Este conjunto, como um to<strong>do</strong>, faria com<br />

que os jovens se tornassem produtores de suas realizações,<br />

não somente no que se refere ao trabalho como emprego, mas<br />

também, como agentes cria<strong>do</strong>res e transforma<strong>do</strong>res no meio em<br />

que vivem. Promover a inclusão social através da inclusão digital<br />

significa capacitar os jovens com tecnologia de informação,<br />

melhoran<strong>do</strong> a sua inserção no merca<strong>do</strong> de trabalho; alia<strong>do</strong> a<br />

fatores coadjuvantes indispensáveis como a sua evolução nos<br />

relacionamentos com a sociedade, estimulan<strong>do</strong> o exercício da<br />

cidadania. Assim, “é possível crer que com a maciça inclusão<br />

das pessoas na sociedade da informação teremos uma explosão<br />

das possibilidades da cidadania. E quanto mais cidadãs forem<br />

as pessoas, mais conscientes serão das necessidades de<br />

reinvenção da dinâmica social excludente e desigual” (Silveira,<br />

2001: p. 18).<br />

Vale ressaltar que, a pesquisa aqui apresentada representa<br />

parte <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s jovens paulistanos que vivem em situação<br />

100


de alguma exclusão social, em busca de sua inserção, através<br />

de posicionamento no merca<strong>do</strong> de trabalho, poden<strong>do</strong> ser<br />

condiciona<strong>do</strong> pelo <strong>do</strong>mínio de tecnologias de informação. Este<br />

estu<strong>do</strong> apresenta aspectos relevantes às comunidades, ONGs e<br />

associações que intentam promover a inclusão social por meio<br />

da inclusão digital.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

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101


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http://www6.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/planejamento/<br />

mapas/0001/upload_fs/00_SUB_GRUPOS09_06-09-02-Model.jpg<br />

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http://www.catolicanet.com.br/institutogabi/<br />

www.gotasdeflor.org.br<br />

www.abprovisao.com.br<br />

http://www.isc.org/ds/<br />

http://www.rnp.br/<br />

www.ibase.org.br/<br />

NoTAS<br />

1- Professor da FABRASP.<br />

2- Computa<strong>do</strong>r de grande porte, que pode ser acessa<strong>do</strong> através de<br />

um terminal remoto, isto é, por um conjunto composto de monitor e<br />

tecla<strong>do</strong>.<br />

3- Pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Lincoln Lab <strong>do</strong> Instituto de Tecnologia de<br />

Massachussets como Paul Baran, Larry Roberts, Ivan Sutherland e Bob<br />

Taylor, criaram ARPANET.<br />

4- Advanced Research Projects Agency, cria<strong>do</strong> pelo presidente<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s Dwight Eisenhower com intuito de pesquisar e<br />

desenvolver projetos militares que recuperem a vanguarda tecnológica<br />

norte-americana.<br />

5- Para Castel, sociedade salarial é, sobretu<strong>do</strong> uma sociedade na qual a<br />

maioria <strong>do</strong>s sujeitos sociais tem sua inserção social relacionada ao lugar<br />

que ocupam no salaria<strong>do</strong>, ou seja, não somente sua renda, mas, também,<br />

seu status, sua proteção, sua identidade...(2000: p. 243) Uma sociedade<br />

salarial é uma sociedade que continua fortemente hierarquizada. Não<br />

é uma sociedade de igualdade, permanecem injustiças, permanece<br />

mesmo a exploração. É, também, uma sociedade conflituosa na qual os<br />

diferentes grupos sociais são concorrentes, mas é uma sociedade na<br />

qual cada indivíduo desfruta de uma mínimo de garantia e de direitos<br />

(2000: p. 245).<br />

6- Neri, Marcelo Côrtes. Publica<strong>do</strong> em “Valor Econômico”, dia<br />

01/04/2003.<br />

7- Coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Governo Eletrônico da Prefeitura de São Paulo,<br />

responsável pelo Plano de Inclusão <strong>Di</strong>gital <strong>do</strong> Município.<br />

8- FGV e CDI.<br />

A exclusão/inclusão digital <strong>do</strong>s jovens<br />

na cidade de São Paulo.<br />

9- Host na internet é um computa<strong>do</strong>r que tem acesso bidirecional <strong>completo</strong><br />

a outros computa<strong>do</strong>res. Um host tem um número específico que, soma<strong>do</strong><br />

ao número da rede, formam seu endereço IP. O host armazena, centraliza<br />

e distribui arquivos, serviços de correio eletrônico, redes de impressão<br />

etc. Sua capacidade vai de um micro a um supercomputa<strong>do</strong>r.<br />

10- Vale a pena ressaltar que o Brasil ocupa a nona classificação pelo<br />

número de hosts no mun<strong>do</strong> é excelente devi<strong>do</strong> a sua comparação com<br />

os países desenvolvi<strong>do</strong>s onde pre<strong>do</strong>mina os incluí<strong>do</strong>s digitais.<br />

11- Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. http://www.rnp.br/<br />

12- Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. www.ibase.org.br/<br />

13- http://www.rnp.br/noticias/2001/not-010510-gt.html acesso em<br />

09/06/2003<br />

14- SPOSATI, Aldaíza (coord.). Mapa da exclusão/inclusão social da<br />

cidade de São Paulo: dinâmica social nos anos 90. São Paulo, PUC-SP,<br />

Polis, Inpe, 2000b. (CD-Rom).<br />

15- Em anexo a tabela com índices de IEX de to<strong>do</strong>s os distritos da cidade<br />

de São Paulo fonte: Mapa da exclusão/inclusão social da cidade de São<br />

Paulo.<br />

102


ESumo<br />

O Funk desce o morro, invade o asfalto<br />

e convida o outro para dançar.<br />

o Funk desce o morro, invade o asfalto e convida<br />

o outro para dançar<br />

Os estigmas perpetuam na sociedade seja de forma positiva<br />

ou negativa, inclusa ou exclusa. Facetas que são ora aceitas, ora<br />

rejeitadas nas complexas relações sociais.<br />

Decifrar a sua dinâmica nessas relações elenca aceitarmos<br />

ainda no entendimento de Tomaz Tadeu Silva (2000), que<br />

o indivíduo tem de “passar para o outro la<strong>do</strong>”, “cruzar<br />

fronteiras”,”estar na fronteira”, ao menos conhecer, participar,<br />

vivenciar o que é ofereci<strong>do</strong> pelo Outro.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o propósito deste texto é levantar elementos<br />

como o discurso da música Funk em sua justificativa, o qual<br />

confere valores e sentimentos de orgulho de sua produção com<br />

vista a ocupar um lugar na sociedade de maneira geral.<br />

Algumas das questões sobre a identidade, identificação,<br />

diferença e escolhas se entrecruzam no pensar das relações de<br />

estigmas numa coletividade e são compartilhadas na tentativa<br />

de buscar estabelecer um entendimento na sociedade.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

Estigmas, identidade, diferenças.<br />

ABSTrACT<br />

Angela Meneguello 1<br />

Patricia Rodelli Amoroso 2<br />

Funk movement comes <strong>do</strong>wn from the hills, invades<br />

the asphalt inviting people to dance<br />

The stigmas had been perpetuated in the society in a positive<br />

or negative way, included or excluded. Facets which can be<br />

acceptable or rejected in a complex social relationship.<br />

To make its dynamic decipherable, means to us to consider,<br />

in Tomaz Tadeu Silva (2000) words, that “The individual has to be<br />

in the other side”, “to cross frontiers”, “to be in the frontier”, at<br />

least, “to know, to participate, experiencing what is proposed by<br />

the other”.<br />

The present article examines the elements like the funk music<br />

discourse in its justification which gives worthiness also proud<br />

feelings of its production which is looking forward to take a place<br />

in the society, in the general way.<br />

Some of the questions about the identity, identification,<br />

difference and choices, cross over the understanding of<br />

relationships of the stigmas in a community and they are shared<br />

looking for a social understanding establishment.<br />

KEYworDS:<br />

Stigmata, identity, differences.<br />

103


O que seria da cor verde se não existisse a cor azul? O que<br />

seria <strong>do</strong> rock se não existissem os demais gêneros musicais?<br />

Certamente já ouviram essas frases um dia, um tanto que clichês,<br />

aparentemente banais, mas estão enraizadas no discurso social,<br />

ainda que nos permitam escolhas dan<strong>do</strong> ênfase às questões<br />

sobre as diferenças. Aparentemente nessas frases, podemos<br />

mencionar e estabelecer que não se passa de uma observação<br />

de certa forma positivada (“a cor que eu mais gosto”, “o som<br />

que eu curto”), ou seja, ocorrem identificações de escolha, além<br />

da simples enunciação da diferença das cores e <strong>do</strong>s gêneros<br />

musicais, podemos pensar como perpassar nas relações de<br />

Estigmas estabelecidas pela sociedade.<br />

Em outras palavras, mais <strong>do</strong> que já ter uma identidade, os<br />

indivíduos são confronta<strong>do</strong>s com a longa e árdua identificação<br />

de si próprios, jamais concluída e repleta de escolhas, como<br />

afirma Bauman:<br />

Isto não significa, claro, que a escolha é feita no vazio e que parte<br />

ou poderia partir <strong>do</strong> zero, de circunstâncias mais favoráveis.<br />

Toda opção é feita a partir <strong>do</strong> que nos é, oferecida e pouca<br />

pessoas, se é que algumas, podem gabar-se de ter começa<strong>do</strong><br />

sua auto-identificação <strong>do</strong> nada. Indivíduos assim excepcionais<br />

continuarão a ser poucos e isola<strong>do</strong>s até uns <strong>do</strong>s outros, uma<br />

vez que, embora sen<strong>do</strong> uma tarefa individual, a“identidade” é<br />

também um fenômeno social. Identidade é o que se reconhece<br />

socialmente como identidade: está fadada a continuar uma<br />

ficção da imaginação individual a não ser que se comunique a<br />

outros em termos socialmente legíveis, expressa em símbolos<br />

socialmente compreensíveis.” (BAUMAN, 2000: p.142).<br />

Tomaz Tadeu nos insere a refletir sobre a produção social da<br />

Identidade e da diferença como aquilo que é e aquilo que não é:<br />

A identidade é simplesmente aquilo que se é: “sou brasileiro”, “sou<br />

negro”, assim concebida parece ser uma positividade (“aquilo que<br />

sou”) uma característica independente, um “fato” autônomo. Nessa<br />

perspectiva, a identidade só tem como referência a si própria: ela<br />

é auto-contida e auto-suficiente. A diferença é concebida com<br />

uma entidade independente. Apenas, neste caso, em oposição<br />

à identidade, a diferença é aquilo que o outro é: “ela é italiana”,<br />

“ela é branca”. Da mesma forma que a identidade, a diferença<br />

é, nesta perspectiva, concebida como auto-referenciada, como<br />

algo que remete a si própria. A diferença, tal como a identidade,<br />

simplesmente existe.” (TADEU, 2000: p.74)<br />

O autor compreende que identidade e diferença são<br />

inseparáveis, uma vez que uma depende da outra e são<br />

produzidas socialmente, consideran<strong>do</strong> a diferença como produto<br />

deriva<strong>do</strong> da identidade, sen<strong>do</strong> a identidade referência, é o ponto<br />

original relativamente ao qual se define a diferença.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, ao resgatarmos o funk no atual contexto, como<br />

o samba em outra época, é sempre questionan<strong>do</strong> por suas letras,<br />

por sua relação com a comunidade, por sua suposta indigência<br />

musical. Assim sen<strong>do</strong>, o diferente, estigmatiza<strong>do</strong> por diversas<br />

classes sociais. O funk retrata em suas letras, ou seja, em sua<br />

identidade, o cotidiano das pessoas que vivem nas comunidades<br />

mais pobres, suas vivências e suas culturas e agora desce o<br />

morro e invade o asfalto, divertin<strong>do</strong> às noites das danceterias<br />

entre os jovens da classe média e alta, agregan<strong>do</strong> os indivíduos<br />

a pertencerem, ao menos, experimentarem por meio <strong>do</strong> ritmo a<br />

relação com o Outro, pretenden<strong>do</strong> buscar a identificação externa<br />

ou ainda nas palavras de Maria Rita Kehl <strong>do</strong> Ideal <strong>do</strong> Eu.<br />

Ressaltar a origem miserável, questões da raça, de cor, de<br />

um passa<strong>do</strong> histórico, certamente nos propõem essa relação<br />

O Funk desce o morro, invade o asfalto<br />

e convida o outro para dançar.<br />

de produção da diferença e identidade na letra de Amilcka e<br />

Chocolate – Som de Preto, onde de certa forma nos instiga para<br />

refletir e convida o Outro para dançar...<br />

É som de preto, de favela<strong>do</strong>, mais quan<strong>do</strong> toca ninguém fica<br />

para<strong>do</strong>, tá liga<strong>do</strong>! O nosso som não tem idade não vê raça e<br />

não vê cor, mais a sociedade pra gente não dá valor, só querem<br />

nos criticar pensan<strong>do</strong> que somos animais, se existia o la<strong>do</strong> ruim<br />

hoje não existe mais, porque funkeiro de hoje em dia caiu na<br />

real, essa história de porrada isso é coisa banal, agora pare e<br />

pense, se liga na responsabilidade, funk foi a tempestade e hoje<br />

vira abonança [...].<br />

O antropólogo Hermano Vianna ressalta uma nova visão de<br />

inserção, inclusão, se assim podemos dizer, <strong>do</strong> funk na sociedade:<br />

“O funk é o principal movimento da cultura popular carioca hoje.<br />

É um novo estilo musical que só poderia ter si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> aqui, e<br />

que muita gente de outros países já começa a copiar. Com seu<br />

funk, o Rio exporta novamente alegria para o planeta inteiro”.<br />

O funk anuncia o seu cotidiano sen<strong>do</strong> capaz de contar a sua<br />

vida por meio das narrativas de suas músicas, na tentativa de<br />

buscar a atenção e ainda o diálogo com o Outro”. O Outro é o Outro<br />

Gênero, o Outro é a cor diferente, o Outro é a outra sexualidade,<br />

o Outro é a outra raça, o Outro é a outra nacionalidade, o Outro é<br />

o corpo diferente”, diz Tomaz Tadeu (2000: p. 97).<br />

Assim podemos compartilhar com Stuart Hall:<br />

As identidades são construídas por meio da diferença e não fora<br />

dela. Isso implica o reconhecimento radicalmente perturba<strong>do</strong>r<br />

de que é apenas por meio da relação com o Outro, da relação<br />

com aquilo que não é, precisamente aquilo que falta, com<br />

aquilo que tem si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> de seu exterior constitutivo,<br />

que o significa<strong>do</strong> ´positivo´ de qualquer termo – e, assim, sua<br />

´identidade´- pode ser construí<strong>do</strong>”. (HALL, 2002: p. 111)<br />

Nos permite entender que vivemos numa sociedade plural,<br />

onde a cada momento na história várias gerações convivem,<br />

interagem, se expressam, se autoconstituem, se reproduzem e<br />

se inovam por meio das relações sociais e até mesmo por meio<br />

<strong>do</strong>s grupos que acabam pertencen<strong>do</strong>.<br />

São nessas relações sociais que Freud busca decifrar uma<br />

dinâmica social <strong>do</strong> que cada um tem e de que forma se junta aos<br />

grupos. Afirma que o indivíduo se transforma quan<strong>do</strong> inseri<strong>do</strong><br />

num grupo. Essa transformação pode ser entendida nas facetas<br />

que operam os estigmas, sejam de forma positiva ou negativa,<br />

excludente e excluída, pois sempre retomam a identificação <strong>do</strong><br />

amor e ódio nessas relações.<br />

Assim, podemos tomar vários exemplos de formação de<br />

grupos na sociedade: grupos de fãs <strong>do</strong> funk, fãs <strong>do</strong> rock, fãs <strong>do</strong><br />

samba, dentre outros, ainda que os gostos podem se misturar,<br />

uma vez que podemos compartilhar da idéia de escolha <strong>do</strong><br />

Bauman que não há identificação com o vazio, com o nada, algo<br />

é proporciona<strong>do</strong> e ou apresenta<strong>do</strong> nesses grupos, pois Freud<br />

nos aponta que os relacionamentos grupais sempre têm algo a<br />

oferecer, reúnem-se à parte das qualidades individuais presentes<br />

e assim relacionam-se às identificações. Essa identificação é<br />

chamada de identidade social em outras áreas, com o uso de<br />

outra terminologia, porém é a mesma idéia complementa Maria<br />

Rita Kelh. A autora faz a diferença <strong>do</strong> Eu Ideal como sen<strong>do</strong> uma<br />

identidade primeira <strong>do</strong> Eu e <strong>do</strong> Ideal <strong>do</strong> Eu como sen<strong>do</strong> uma<br />

identidade social, ideais culturais que estão externamente nessas<br />

relações sociais/grupais.<br />

104


A possibilidade que o indivíduo tem de “passar para o outro<br />

la<strong>do</strong>”, ainda nos termos de Tomaz Tadeu “cruzar fronteiras”, “estar<br />

na fronteira”, ao menos conhecer, participar, vivenciar o que é<br />

ofereci<strong>do</strong> pelo Outro, nos leva a analisar como esses elementos<br />

se produzem e até mesmo estabelecer essa diferenciação para<br />

pensar numa idéia de retratação para superar os Estigmas.<br />

Goffman nos aponta que em cada sociedade e em cada cultura<br />

os Estigmas operam de formas diferentes e não se relacionam com<br />

atributos separa<strong>do</strong>s, mas numa relação nessa sociedade.<br />

Assim podemos analisar a produção <strong>do</strong> funk na sociedade<br />

carioca, situada na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, conhecida como o<br />

“berço nacional” da música funk que permeia uma justificativa de<br />

um discurso de mérito, um discurso que tem a função de conferir<br />

valores e sentimentos de orgulho e digno de ocupar um lugar<br />

na sociedade de maneira geral. Agora, em outras sociedades,<br />

instituídas a outras culturas e outros valores, talvez pre<strong>do</strong>minem<br />

a rejeição em relação à música Funk, ainda que nada venha<br />

impossibilitar uma identificação <strong>do</strong>s seus indivíduos nessas<br />

relações sociais/grupais.<br />

Dadas essas identificações <strong>do</strong>s indivíduos aos grupos<br />

sociais, devemos observar numa sociedade essas relações<br />

que se entrecruzam e como pensar as relações de Estigmas na<br />

coletividade. Não podemos totalizar essa discussão e também<br />

não abrir parâmetros para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Devemos entrelaçar<br />

essas discussões para estabelecer um entendimento na<br />

sociedade. Não tomarmos como elementos negativos serem a<br />

totalização das discussões <strong>do</strong>s Estigmas, embora é como ele<br />

é mais visto e mais discuti<strong>do</strong>, acabamos toman<strong>do</strong> isso como<br />

estu<strong>do</strong> prevalecente, estabelecen<strong>do</strong> o Estigma como algo<br />

depreciativo, ressalta Goffman (1978).<br />

O funk ganha um espaço simbólico proferi<strong>do</strong> na sociedade e nos<br />

grupos, ainda que operan<strong>do</strong> numa articulação estereotipada, surgem<br />

para uma inclusão e identificação desse grupo na coletividade.<br />

Segun<strong>do</strong> Tomas Tadeu (2000), a Identidade está sempre<br />

ligada a uma forte separação entre “Nós” e “Eles”, os pronomes<br />

são evidentes indica<strong>do</strong>res de posições de sujeito fortemente<br />

marcadas por relações de poder, com carga positiva e outra<br />

negativa, utilizan<strong>do</strong>-os até como uma classificação hierárquica.<br />

É váli<strong>do</strong> comentar que a sociedade produz, constrói em<br />

seu discurso traços distintivos, como a palavra funkeiro (“Eles”)<br />

– tornan<strong>do</strong>-a como uma marca discursiva depreciativa para<br />

estabelecer os Estigmas.<br />

Outras marcas da presença <strong>do</strong> poder propostas por Tomaz<br />

Tadeu: incluir/excluir (“estes pertencem, aqueles não”); demarcar<br />

fronteiras (“nós” e “eles”), classificar (“bons” e “maus”; “puros”<br />

e “impuros”, “desenvolvi<strong>do</strong>s” e “primitivos”, “racionais” e<br />

“irracionais”), normalizar (“nós somos normais e eles anormais”).<br />

Identidade e diferença se traduzem em declarações sobre quem<br />

pertence e quem não pertence, quem está incluí<strong>do</strong> e quem está<br />

excluí<strong>do</strong>, conclui o autor. Numa das músicas <strong>do</strong> funk, podemos<br />

observar essas marcas ditadas por Tomaz Tadeu de inclusão e<br />

exclusão na letra Gordurosa – Mc <strong>Di</strong>dô:<br />

Alô gordinha! Agora eu quero ver você descer, hein! Essa é<br />

pras gordinhas que não gostam de academia, então, desce,<br />

derece, desce gordurosa, agora sobe, sobe, sobe gordurosa,<br />

o gordinha, o gordinha eu não vim te esculachar, eu sou MC<br />

<strong>Di</strong>dô só quero ver você dançar e então desce, derece, desce<br />

gordurosa, agora sobe, sobe gordurosa [...].<br />

Nessa canção é claramente demonstrada como se só as<br />

`magrinhas´ (“nós”) pudessem dançar o funk, excluin<strong>do</strong> as<br />

´gordinhas´ (“elas”), classifican<strong>do</strong> quem está dentro e quem<br />

está <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora na sociedade e ao mesmo tempo inclui a<br />

´gordinha´ (“o Outro é o corpo diferente”) para dançar e fazer<br />

parte <strong>do</strong> grupo, como um convite. Claramente sobressaltam<br />

essas relações de poder ditadas por Tomaz Tadeu.<br />

Para Goffman é preciso haver pontos de contatos nessas<br />

relações de fracasso e sucesso, perdas e ganhos. Ele aponta<br />

que podemos nos valer dessas distinções, se apropriar desses<br />

Estigmas e de se beneficiar em relação a isso, de certa forma,<br />

se aproveitan<strong>do</strong> e ocupan<strong>do</strong> um lugar na sociedade. Esse jogo<br />

entre os Estigmatiza<strong>do</strong>s e os não Estigmatiza<strong>do</strong>s se prevalece<br />

dessas diferenciações estabelecen<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong> de dupla via<br />

em relação ao outro.<br />

Para essa inquietação poderíamos pensar em apontarmos que<br />

o ser humano está livre de opções existenciais, o que cada um<br />

pode ser percebi<strong>do</strong>, inseri<strong>do</strong>, identifica<strong>do</strong>, simplesmente olhan<strong>do</strong><br />

ao re<strong>do</strong>r os demais membros da tribo, de grupos, pela simples<br />

razão da escolha ou ainda se prevalecen<strong>do</strong> e se benefician<strong>do</strong><br />

dessas diferenciações como bem ressalta Goffman, e, ou ainda,<br />

já ser identifica<strong>do</strong> como o ´diferente`, já estar estigmatiza<strong>do</strong> pela<br />

sua própria herança cultural que vem sen<strong>do</strong> construída ao longo<br />

da história da humanidade.<br />

Há, em suma, uma relação de amor e ódio entre o Eu e o<br />

outro. Um precisa <strong>do</strong> outro, atraem-se mutuamente e se repelem<br />

ao mesmo tempo, construin<strong>do</strong>-se como sujeitos aos quais se<br />

pode ´falar´ (Stuart Hall).<br />

Assim, são dadas as vozes (aos quais se pode `falar`) aos<br />

sujeitos, aos grupos inseri<strong>do</strong>s numa sociedade na tentativa de<br />

enfatizar as aprovações, pregações e reprovações daquilo que<br />

nos cercam.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança<br />

no mun<strong>do</strong> atual. Tradução Plínio Dentzien, Rio de Janeiro: Jorge<br />

Zahar, 2003.<br />

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produção social da identidade e da diferença. Petrópolis, RJ;<br />

Vozes, 2000.<br />

NoTAS<br />

O Funk desce o morro, invade o asfalto<br />

e convida o outro para dançar.<br />

1- Mestranda <strong>do</strong> curso de Comunicação da Universidade Paulista – UNIP<br />

e Professora da Faculdade Brasília de São Paulo.<br />

2- Jornalista, professora acadêmica da Universidade Paulista – UNIP<br />

– São Paulo-SP - e-mail: patriciajornalista@hotmail.com<br />

105


ESumo<br />

O artigo apresenta como o ideário da qualidade total chega<br />

ao setor educacional brasileiro, discutin<strong>do</strong> sua repercussão<br />

nos processos educacionais e no papel da escola. Mostra de<br />

que maneira as experiências <strong>do</strong> setor produtivo são aplicadas<br />

à Educação e seus efeitos perversos para a sociedade que não<br />

compreende os motivos reais da atual situação da educação<br />

brasileira.<br />

PALAVrAS-CHAVE:<br />

A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />

na educação: uma análise crítica.<br />

Qualidade em educação, qualidade total, produtividade em<br />

educação.<br />

ABSTrACT<br />

The article presents how the ideas about total quality arrives<br />

to the brasilian education sector, discussing its repercussion in<br />

the education process and the paper of school. Shows so as to<br />

the experiences from protuctive sector are applied in education<br />

and their wiched effects to the socity, who <strong>do</strong>es not understand<br />

the true reasons the present situation of the brazilian education.<br />

KEYworDS:<br />

Dra. Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga 1<br />

Quality in education, total quality, productive education.<br />

106


O modelo da Qualidade Total surgiu no meio industrial e nele<br />

ganhou visibilidade, passan<strong>do</strong> a ser considera<strong>do</strong> uma filosofia<br />

empresarial estratégica. Desenvolvi<strong>do</strong> a partir da década de trinta<br />

<strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, o modelo da Qualidade Total só vai ganhar<br />

notoriedade, na década de cinqüenta, (MAXIMIANO, 2000, p.74-<br />

75), através <strong>do</strong> trabalho de W. Edwards Deming no Japão, que<br />

defendia a idéia de melhoria da qualidade relacionada à redução<br />

da variabilidade – a padronização – e que este seria o caminho<br />

para a prosperidade, por meio da produtividade, da redução <strong>do</strong>s<br />

custos, da conquista de merca<strong>do</strong>s e da expansão <strong>do</strong> emprego.<br />

A responsabilidade da alta administração, nesse processo,<br />

segun<strong>do</strong> a ótica de Deming, era identificar as necessidades <strong>do</strong><br />

cliente ou consumi<strong>do</strong>r, e <strong>do</strong>s funcionários, a transformação <strong>do</strong>s<br />

insumos em produtos e serviços que atendessem ao merca<strong>do</strong> (o<br />

cliente), buscan<strong>do</strong> sempre o seu aperfeiçoamento. A disseminação<br />

dessas idéias proporcionou resulta<strong>do</strong>s extraordinários para os<br />

setores produtivos da economia, aumentan<strong>do</strong> surpreendentemente<br />

as possibilidades das empresas competirem nos merca<strong>do</strong>s,<br />

cujas regras e condições tornavam-se cada vez mais complexas.<br />

Como filosofia empresarial, a idéia de qualidade vai se impon<strong>do</strong><br />

a outros setores da economia, além da indústria, designan<strong>do</strong> a<br />

chamada Era da Qualidade (MEZOMO, 1997, p.145).<br />

Com os novos cenários <strong>do</strong>s negócios, demarca<strong>do</strong>s pelo<br />

aumento da concorrência e pela necessidade de empresas<br />

melhores qualificadas, a Educação passa a ser ressignificada e<br />

reduzida, pelos detentores <strong>do</strong> capital, a qualifica<strong>do</strong>ra de mãode-obra,<br />

tarefa primordial e essencial para a sobrevivência<br />

empresarial.<br />

De seus resulta<strong>do</strong>s relativos à competitividade industrial,<br />

seus princípios passam a nortear outros setores da economia,<br />

diferentemente da indústria e a educação não ficou imune a essa<br />

tendência.<br />

A aplicação da filosofia da Qualidade Total em Educação<br />

ocorreu primeiramente nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, não ten<strong>do</strong> ainda<br />

mais de duas décadas. Spanbauer (1995) apresentou com<br />

entusiasmo a idéia de sucesso <strong>do</strong> Fox Valley Technical College,<br />

em Wisconsin, como um <strong>do</strong>s pioneiros na implantação da<br />

gestão pela aualidade total na educação, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

a partir de 1985; e Ramos (1994, p. 202) estuda o movimento<br />

das universidades americanas para incorporar os princípios da<br />

qualidade total na gestão de suas atividades, especificamente<br />

para a gestão de suas principais funções o ensino e a pesquisa,<br />

testan<strong>do</strong> alternativas para a superação da crise vivenciada pelo<br />

setor, na década de oitenta, <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>.<br />

Na década seguinte, Drüg; Ortiz (1994) mostram que essas<br />

idéias chegam ao setor educacional brasileiro, através de<br />

experiências pioneiras como a da Fundação Cristiano Ottoni<br />

quan<strong>do</strong>, em 1991, inicia um projeto de Qualidade Total com a<br />

Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação de Minas Gerais. A referida<br />

Fundação vem defenden<strong>do</strong> uma série de vantagens para a<br />

implantação da Qualidade Total na Educação, fruto da sua<br />

experiência em consultoria na área. A atuação da Fundação, pela<br />

análise de Barbosa et. al. (1995), avançou na profissionalização<br />

<strong>do</strong> gerenciamento das instituições de ensino, pela implementação<br />

da Qualidade total, enaltecen<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> de seu trabalho<br />

aspectos como o cumprimento de metas da organização,<br />

manutenção <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio tecnológico através da padronização<br />

e melhoria da qualidade <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s, dentre<br />

outros 2 . Essa noção de qualidade sequer questiona como são<br />

estabelecidas as metas organizacionais, quem participa de sua<br />

escolha e decisão. Nessa perspectiva, a padronização como meta<br />

da qualidade total em educação impulsiona a exclusão, inibe as<br />

possibilidades de exercício de cidadania, e mata a criatividade<br />

própria da atividade humana. Portanto, essa noção de qualidade<br />

A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />

na educação: uma análise crítica.<br />

<strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s está relacionada ao processo, mas<br />

não oferece espaço de questionamento quanto à validade e à<br />

pertinência <strong>do</strong>s serviços que oferece.<br />

Com essa visão, muitas vezes equivocada e míope, a<br />

idéia de qualidade total chega à educação brasileira e vem<br />

ganhan<strong>do</strong> espaço. São muitos os defensores da Qualidade Total,<br />

enaltecen<strong>do</strong> suas vantagens para o uso na gestão universitária e<br />

educacional de mo<strong>do</strong> geral.<br />

As críticas ao modelo de Qualidade Total na Educação podem<br />

ser divididas em <strong>do</strong>is grandes grupos: o primeiro compreende<br />

aqueles que criticam o modelo da Qualidade Total mesmo em<br />

sua aplicação restrita às empresas produtivas; o segun<strong>do</strong> grupo<br />

compreende aqueles que criticam o fato da Educação estar<br />

sen<strong>do</strong> objeto de aplicação das ferramentas da Qualidade Total.<br />

A principal justificativa para os que defendem a utilização<br />

das ferramentas da Qualidade Total na Educação vem da crise<br />

pela qual passa o sistema universitário brasileiro, cujo teor <strong>do</strong>s<br />

discursos põe a sociedade contra o sistema educacional. Os<br />

estu<strong>do</strong>s de RAMOS explicam que:<br />

A Sociedade, de inúmeras formas, declara, contínua e<br />

explicitamente, o seu desagra<strong>do</strong> em termos <strong>do</strong> trabalho, de<br />

pouca Qualidade, efetiva<strong>do</strong> pelas instituições educacionais. As<br />

críticas de ‘falta de competência’ e ‘fracasso’ estão cada vez<br />

mais definitivas. (RAMOS, 1992, P.57)<br />

Autores como Mezzomo (1997), estudiosos da gestão de<br />

organizações de ensino, apontam como fatores da crise problemas<br />

relaciona<strong>do</strong>s à inadequação <strong>do</strong>s currículos, a fragmentação da<br />

universidade e <strong>do</strong> conhecimento por ela cultiva<strong>do</strong>, a baixa produção<br />

científica face os investimentos em pesquisa, compressão<br />

salarial <strong>do</strong> meio acadêmico em relação a outras categorias de<br />

profissionais qualifica<strong>do</strong>s, muita dependência das universidades<br />

em relação aos órgãos regula<strong>do</strong>res, pouca criatividade no ensino<br />

e pesquisa, consideran<strong>do</strong> as necessidades da sociedade atual,<br />

sucateamento das estruturas físicas e a falta de modelo de<br />

gerenciamento específico para a gestão universitária, afirman<strong>do</strong><br />

que no Brasil, essa prática ocorre pre<strong>do</strong>minantemente de forma<br />

ama<strong>do</strong>ra, enquanto outros setores da economia já <strong>do</strong>minam e<br />

praticam as ferramentas da Qualidade Total.<br />

Com esse referencial de qualidade impregnan<strong>do</strong> diversos<br />

segmentos <strong>do</strong> setor educacional, pouco crítico de seu papel, fazse<br />

necessário apresentar as críticas a essa noção de qualidade,<br />

a partir de diversos autores, que vem se posicionan<strong>do</strong> sobre<br />

o assunto. Primeiramente as críticas questionam diretamente<br />

a filosofia da Qualidade Total, aplicada ao setor empresarial,<br />

representada pelas análise de Frigotto (1997), Gentili (1997) e<br />

Lopes (1992).<br />

O modelo de Qualidade Total é instrumento que leva a<br />

perpetuar as desigualdades sociais, pois trata-se de um modelo<br />

de acumulação de capital basea<strong>do</strong> no aumento de produtividade<br />

via manipulação das características sócio-psicológicas <strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>r, através <strong>do</strong> emprego das teorias motivacionais e <strong>do</strong><br />

trabalho em equipe (FRIGOTTO, 1997).<br />

O modelo de gestão da Qualidade Total, utiliza<strong>do</strong> pelos<br />

detentores <strong>do</strong> capital, para manter a acumulação e o ganho<br />

constante sobre o capital, surge como alternativa ao modelo<br />

de produção taylorista-fordista que, na atual globalização<br />

da economia e advento da chamada Era da Informação, não<br />

atende mais às necessidades das empresas, para manterem-se<br />

competitivas frente a acirrada concorrência. É nesse contexto<br />

que surgem os modelos da “qualidade” com o intuito de instalar<br />

uma nova maneira de gestão, baseada na participação efetiva<br />

107


<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e na utilização <strong>do</strong>s conceitos de trabalho em<br />

equipe e unidade, para aumentar o ganho das empresas e<br />

derrotar a concorrência. Gentili (1997) mostra que a função<br />

da Qualidade Total seria o de criar um modelo catalisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

trinômio qualidade-produtividade-rentabilidade, visan<strong>do</strong> sempre<br />

ao aumento da acumulação de capital, ainda que através de um<br />

discurso de preocupação social e de interesse pela qualidade de<br />

vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Outra crítica ainda ao referi<strong>do</strong> modelo recai sobre o fato<br />

de que a implantação da Qualidade Total tem um alto custo e<br />

determina<strong>do</strong>s produtos não poderiam incorporar esse aumento,<br />

sob o risco de se tornarem pouco competitivos no merca<strong>do</strong>,<br />

o que indica o caráter mercantil <strong>do</strong>s modelos de “qualidade”.<br />

(LOPES,1992, p. 333).<br />

O segun<strong>do</strong> grupo de críticas ao discurso da Qualidade Total<br />

direciona seu foco de análise aos conceitos inerentes ao processo<br />

educacional e a possível inadequação destes ao modelo de<br />

Qualidade Total. A principal crítica deste grupo relacionase<br />

ao caráter ideológico que estaria regen<strong>do</strong> os modelos de<br />

“qualidade” aplica<strong>do</strong>s na Educação. Os críticos analisam o<br />

modelo de Qualidade Total atrela<strong>do</strong> à ideologia neoliberal 3 e,<br />

por isso, protestam contra o fato das instituições educacionais<br />

estarem servin<strong>do</strong> apenas para formação de mão-de-obra<br />

para o merca<strong>do</strong>. Este fato colocaria em risco to<strong>do</strong> o sistema<br />

educacional, relegan<strong>do</strong>-o à simples condição de forma<strong>do</strong>r de<br />

mão-de-obra, subtrain<strong>do</strong> desse sistema a noção de formação<br />

de cidadãos, conscientes e capazes de analisar criticamente a<br />

relação entre capital e trabalho. No dizer de BUARQUE (1994,<br />

p. 58), a universidade passou a organizar-se para produzir mãode-obra<br />

desejada pelo merca<strong>do</strong> - teóricos programa<strong>do</strong>s para<br />

cumprir papéis específicos na cadeia de produção - e aban<strong>do</strong>nou<br />

o papel de formar pensa<strong>do</strong>res.<br />

Outra crítica relacionada ao modelo da Qualidade Total em<br />

educação refere-se ao fato <strong>do</strong> sistema educacional, além de estar<br />

sen<strong>do</strong> reduzi<strong>do</strong> a mero forma<strong>do</strong>r de mão-de-obra para atender às<br />

necessidades pontuais <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> produtivo, também passam<br />

a servir de veículo de transmissão das idéias que proclamam<br />

as vantagens <strong>do</strong> livre merca<strong>do</strong> e da livre iniciativa, na busca<br />

da qualidade, entendida aqui como a maximização <strong>do</strong> lucro com<br />

a minimização <strong>do</strong>s recursos envolvi<strong>do</strong>s no processo (SILVA,<br />

1997, p.12).<br />

Silva continua sua crítica, mostran<strong>do</strong> que o pensamento<br />

neoliberal estaria transforman<strong>do</strong> questões políticas e sociais em<br />

simples questões técnicas, ao ponto que propõe a análise <strong>do</strong><br />

valor <strong>do</strong> sistema educacional basea<strong>do</strong> em critérios puramente<br />

técnicos (tecnicismo educacional), colocan<strong>do</strong> a avaliação desse<br />

processo como questão central. Ao se analisar o desempenho de<br />

uma instituição educacional restrita a números de desempenho,<br />

basea<strong>do</strong>s em estatísticas, tende-se a relegar to<strong>do</strong> o sistema<br />

educacional a uma posição secundária na sociedade, subtrain<strong>do</strong>lhe<br />

o direito e o dever de discutir questões de cunho político e<br />

social mais abrangentes.<br />

A pressão para que o sistema educacional se ajuste aos<br />

parâmetros de desempenho e competitividade é muito forte,<br />

ten<strong>do</strong> como suporte ou instrumento de pressão a avaliação,<br />

cujos resulta<strong>do</strong>s são amplamente divulga<strong>do</strong>s, sem pouco ou<br />

nenhum esclarecimento a que qualidade se referem, quais<br />

referenciais a norteiam, deixan<strong>do</strong> à própria sociedade fazer a sua<br />

interpretação.<br />

O discurso neoliberal propaga ainda a urgência da aplicação<br />

das ferramentas da Qualidade Total na Educação, definin<strong>do</strong><br />

as instituições que dela se utilizam, como comparáveis a<br />

qualquer empresa – quanto a seus padrões de desempenho e<br />

a seu valor, enquanto organizações competitivas, que a partir<br />

desses referenciais podem estabelecer preço a seus serviços<br />

(FRIGOTTO, 1997).<br />

Os resulta<strong>do</strong>s das avaliações oficiais, aplica<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os<br />

níveis de ensino, reforçaram o discurso neoliberal, que precisava<br />

justificar suas políticas para a educação. Ao buscar compreender<br />

as intenções que subjazem às ações, Enguita (1997, p.102-103)<br />

mostra que o discurso de cunho neoliberal vem aproveitan<strong>do</strong>se<br />

<strong>do</strong>s baixos resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nas avaliações oficiais para<br />

justificar o desemprego e a baixa competitividade 4 das empresas<br />

brasileiras nos merca<strong>do</strong>s internacionais, estabelecen<strong>do</strong> relação<br />

entre a má qualidade <strong>do</strong> sistema educacional como um to<strong>do</strong> e<br />

o desempenho econômico-produtivo <strong>do</strong> país - entenden<strong>do</strong>-se<br />

por qualidade, neste caso, o grau de adequação <strong>do</strong> sistema<br />

educacional ao sistema produtivo e mercantil. Os que manifestam<br />

esse tipo de análise omitem as regras perversas de regulação<br />

<strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s, como os acor<strong>do</strong>s protecionistas, a manipulação<br />

<strong>do</strong> valor das moedas e taxas de câmbio, entre muitos outros<br />

fatores.<br />

Como conseqüência, cada vez mais está se firman<strong>do</strong> no<br />

país a posição de que as políticas públicas para educação<br />

devem levar o ajuste entre educação e emprego, educação e<br />

competitividade, e que isto viria a ocorrer pela intervenção nos<br />

modelos educacionais através de um novo modelo de gestão.<br />

Conclusões<br />

A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />

na educação: uma análise crítica.<br />

A compreensão da ideologia <strong>do</strong> modelo da qualidade<br />

total aplica<strong>do</strong> à educação vem desmistificar a idéia de que<br />

o desempenho desfavorável <strong>do</strong> país é culpa de seu sistema<br />

educacional, da<strong>do</strong> que a insistência <strong>do</strong>s discursos de que há<br />

problemas de ajuste entre educação e emprego, entre o que o<br />

sistema escolar produz e o que o mun<strong>do</strong> empresarial requer,<br />

e como decorrência a sociedade, de maneira geral interpreta<br />

que de fato a educação está abaixo da qualidade esperada,<br />

atribuin<strong>do</strong> inclusive à educação e ao poder público o fenômeno<br />

<strong>do</strong> desemprego, que não é capaz de formar indivíduos<br />

com a competência adequada às demandas da sociedade,<br />

principalmente ao setor produtivo. Nessa análise superficial, as<br />

empresas isentam-se da responsabilidade pelo desemprego<br />

como se não dependesse delas a decisão sobre os investimentos<br />

e emprego e forma de organização <strong>do</strong>s processos de trabalho.<br />

Neste contexto de intensa competição, a que o sistema<br />

educacional vem sen<strong>do</strong> atrela<strong>do</strong>, as instituições privadas<br />

ganham força em relação às instituições educacionais públicas,<br />

dependentes de investimentos públicos, fato este que vem<br />

colaboran<strong>do</strong> com a difusão <strong>do</strong> ideário neoliberal de privatização<br />

<strong>do</strong> sistema educacional, sob alegação <strong>do</strong> risco de obsolescência<br />

e falta de competitividade. Para a competitividade <strong>do</strong> setor<br />

educacional, a ênfase recai na idéia de uma correta gestão<br />

educacional, apoiada nas ferramentas da Qualidade Total, que<br />

saem das experiências <strong>do</strong> setor produtivo para ganhar espaço<br />

no setor priva<strong>do</strong> da educação. Com elas vem toda a proposta<br />

de padronização e produção em escala, condição para ganhos<br />

financeiros, como em qualquer outro setor produtivo.<br />

Dessa forma, a padronização <strong>do</strong>s processos educacionais<br />

recaem sobre a padronização de conteú<strong>do</strong>s e materiais de apoio,<br />

excessiva ênfase nos controles <strong>do</strong> processo, desde o nível de<br />

aproveitamento <strong>do</strong> aluno até seus custos, a inclusão da noção<br />

de tempo-padrão para cumprimento de etapas educacionais.<br />

Processos que inibem a criatividade <strong>do</strong> aluno e restringem o<br />

desenvolvimento de seus potenciais, quan<strong>do</strong> não contempla<strong>do</strong>s<br />

pelos conteú<strong>do</strong>s e meto<strong>do</strong>logias eleitas pelos diversos processos<br />

de ensino. As dificuldades apresentadas pelos alunos também<br />

108


ficam camufladas com as formas de avaliação que visam a<br />

promoção <strong>do</strong> aluno, mesmo sem o devi<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong>, uma vez<br />

que os recursos não podem ser desperdiça<strong>do</strong>s. O aluno paga e<br />

quer levar o que comprou; a escola, por sua vez, não quer e não<br />

pode perder o aluno, pois reduz seus ganhos.<br />

Do ponto de vista <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente, os processos<br />

padrozina<strong>do</strong>s via <strong>material</strong> didático eliminam a necessidade de<br />

formação constante <strong>do</strong> professor; evitam também a contratação<br />

de professores mais bem prepara<strong>do</strong>s, na intenção de redução<br />

de custos. As deficiências meto<strong>do</strong>lógicas e de conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

professor são minimizadas pelo uso <strong>do</strong> <strong>material</strong> didático, e para<br />

isso o professor é treina<strong>do</strong>.<br />

Paralelamente a isso, a produção e comercialização de<br />

<strong>material</strong> didático exclusivo de grupos educacionais é uma grande<br />

fonte de renda, muitas vezes mais rentável que o próprio negócio<br />

de educação.<br />

Por esse ideário, os novos vocabulários se integram ao setor<br />

educacional, referin<strong>do</strong>-se a alunos como clientes, o ensino e a<br />

pesquisa como merca<strong>do</strong>ria, os professores e os demais recursos<br />

materiais postos em categorias equivalentes, seleciona<strong>do</strong>s e<br />

defini<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> menor custo. Também o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> setor<br />

educacional vem se tornan<strong>do</strong> atrativo aos empresários da<br />

educação, que vão se agregan<strong>do</strong> por possuírem capital para<br />

investimentos, cuja decisão, em que investir, recai apenas sobre<br />

a rentabilidade <strong>do</strong> negócio.<br />

Enfim, no contexto <strong>do</strong> ensino priva<strong>do</strong>, o discurso da<br />

qualidade com a finalidade de ganhos em escala, produtividade e<br />

competitividade assemelha-se a qualquer outro setor competitivo<br />

da economia mercantil contemporânea.<br />

BiBLioGrAFiA:<br />

BARBOSA, E.F. et al. Implantação da Qualidade Total na<br />

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SILVA, T.T. (org.) Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação:<br />

Visões Críticas. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 33-92.<br />

GENTILI, P.A.A.; SILVA, T.T. (orgs.) Neoliberalismo, Qualidade<br />

Total e Educação: Visões Críticas. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.<br />

GUILLON, A.B.B.; MIRSHAWKA, V. Reeducação: qualidade,<br />

produtividade e criatividade - caminho para a escola excelente no<br />

século XXI. São Paulo: Makron Books, 1994.<br />

GOTTLIEB, L. A Busca da excelência pelo Ensino Superior:<br />

mapeamento experimental. Universidade - A Busca da Qualidade,<br />

n. 3, p. 182-5, maio/jun. 1994.<br />

LOPES, R. Calidad: claves para un proceso de mejora. In:<br />

BIASCA, R.; PALADINO, M. Resizing. Buenos Aires: Macchi,<br />

1992.<br />

MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à<br />

Administração. 5. ed. Revisada e ampliada. São Paulo: Atlas,<br />

2000.<br />

MEZOMO, J.C. Gestão da Qualidade Total na escola.<br />

Petrópolis: Vozes, 1997.<br />

RAMOS, C. Excelência na Educação: a escola da Qualidade<br />

Total. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1992.<br />

_________. Excelência na Educação: a escola da Qualidade<br />

Total. In: Universidade: A Busca da Qualidade, n. 4, p. 200-6,<br />

jul./ago. 1994.<br />

SANDRONI, P. Novo dicionário de Economia. 4. ed. São<br />

Paulo: Best Seller, 1994.<br />

SILVA, T.T. A “Nova” direita e as transformações na pedagogia<br />

da política e na política da pedagogia. In: GENTILI, P.A.A.; SILVA,<br />

T.T., org. Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação: Visões<br />

Críticas. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 11-29.<br />

SPANBAUER, S.J. Um sistema de qualidade para a educação:<br />

usan<strong>do</strong> técnicas de qualidade e produtividade para salvar nossas<br />

escolas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1995.<br />

NoTAS<br />

1- Doutora em Educação pela PUC-SP e Mestre em Administração<br />

de Empresas pela FGV-SP. <strong>Di</strong>retora Acadêmica da Faculdade Brasília<br />

de São Paulo e professora de cursos de pós-graduação em Gestão e<br />

Educação. E-mail: hildabraga@terra.com.br<br />

2- Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho de consultoria da Fundação Cristiano Ottini:<br />

a) o trabalho pedagógico ganha uma percepção mais holística;<br />

b) melhora sensível no ambiente de trabalho;<br />

c) incentivo ao trabalho em equipe e aprendiza<strong>do</strong> mútuo;<br />

d) redução de retrabalho e favorecimento <strong>do</strong> uso racional <strong>do</strong>s recursos;<br />

e) melhoria na administração <strong>do</strong> tempo;<br />

f) preocupação com a realização das metas da organização;<br />

g) introdução de transparência nos processos;<br />

A influência <strong>do</strong> ideário da qualidade total<br />

na educação: uma análise crítica.<br />

h) amplo conhecimento <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da organização;<br />

i) possibilidade de a<strong>do</strong>ção rápida de contramedidas para o bloqueio das<br />

causas gera<strong>do</strong>ras de maus resulta<strong>do</strong>s;<br />

j) criação de condições para a realização de um planejamento estratégico<br />

mais compartilha<strong>do</strong>;<br />

k) geração de possibilidade de manutenção <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio tecnológico<br />

através da padronização;<br />

l) melhoria de to<strong>do</strong>s os serviços presta<strong>do</strong>s pela universidade.<br />

BARBOSA, E.F. et al. Implantação da Qualidade Total na Educação. Belo<br />

Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni, 1995.<br />

3- Neoliberalismo é uma <strong>do</strong>utrina político-econômica que representa<br />

uma tentativa de adaptar os princípios <strong>do</strong> liberalismo econômico às<br />

condições <strong>do</strong> capitalismo moderno. O Neoliberalismo defende a livre<br />

concorrência sob o disciplinamento da ordem econômica feito pelo<br />

Esta<strong>do</strong> (SANDRONI,1994, p. 240.<br />

4- Competitividade é a condição de competir e vencer a competição,<br />

segun<strong>do</strong> BATEMAN, T.S.; SNELL, S.A. Administração: construin<strong>do</strong><br />

Vantagem Competitiva. São Paulo: Atlas, 1998, p. 35.<br />

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CAMPUS I<br />

FAMEC - FACULDADE MONTESSORI<br />

Av. Jurucê, 402 - Moema - São Paulo - SP<br />

CEP 04080-011 - Tel.: 5542-9911<br />

www.montesorinet.com.br<br />

CAMPUS II<br />

FAAC - FACULDADE ASSOCIADA DE COTIA COTI<br />

Rua Nelson Raineri, 700 - Recanto R Vista Alegre - Cotia - SP<br />

CEP 06702-155 - Tel.: T<br />

4616-0770<br />

w.faac.br<br />

CAMPUS III<br />

FMI - FACULDADE MONTESSORI DE IBIÚNA<br />

Ro<strong>do</strong>via Bunjiro Nakao - Ibiúna - SP<br />

CEP 18150-000 - Tel.: (15) 3248-1850<br />

FABRASP - FACULDADE BRASÍLIA DE SÃO PAULO<br />

Rua Angá, 395 - Vila Formosa - São Paulo - SP<br />

CEP 03360-000 - Tel.: 6211-0066<br />

www.brasiliasp.br

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