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A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
1. Introdução<br />
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Antes de adentrarmos às questões relacionadas à sexualidade, urge fazermos<br />
algumas considerações preliminares. Se não, vejamos:<br />
1.1) Não desejamos flertar nem de longe com to<strong>do</strong> esse estardalhaço acerca<br />
<strong>do</strong> sexo que está sen<strong>do</strong> divulga<strong>do</strong> em nossos dias. Nas palavras de J. Allan Peterson,<br />
“sexo, sexo, sexo. A nossa cultura está chegan<strong>do</strong> ao ponto de saturação total. A fossa<br />
está transbordan<strong>do</strong>. Livros, revistas, discos e filmes o proclamam incessantemente (...)<br />
to<strong>do</strong>s os dias, o dia to<strong>do</strong>, bombardeia-nos essa mensagem como petar<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s de um<br />
canhão de lavagem cerebral: ‘consiga <strong>do</strong> sexo tu<strong>do</strong> o que ele pode dar. De to<strong>do</strong> jeito. Em<br />
to<strong>do</strong> o tempo. Você só vive uma vez. Goze o que puder. Não deixe passar a<br />
oportunidade. O amanhã não existe’”. É tu<strong>do</strong> isso que nossa sociedade tem vivi<strong>do</strong> e,<br />
portanto, não devemos utilizar um segun<strong>do</strong> de nosso tempo para fazermos coro com esse<br />
som maligno que embriaga e mata a consciência.<br />
Enquanto repenso estes estu<strong>do</strong>s (outubro/2011), folheio um artigo da Revista Veja<br />
de julho de 1990, que teve como título de capa “<strong>Sexo</strong> e Violência na TV: o impacto sobre<br />
as crianças”. A pedi<strong>do</strong> da Veja, alunos <strong>do</strong> curso de Rádio e TV da Escola de<br />
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo contaram as cenas de erotismo,<br />
nudez e violência mostra<strong>do</strong>s pela televisão durante uma semana. Os números aponta<strong>do</strong>s<br />
(pasmem, há 21 anos!) já eram estarrece<strong>do</strong>res. A pesquisa deu conta de que uma criança<br />
de cinco anos que assistia TV duas horas por dia, ao final de um ano teria assisti<strong>do</strong> a<br />
1.168 piadas sobre sexo, 7.446 cenas de nudez e mais de 12.600 disparos de arma de<br />
fogo. Tamanha exposição nada pode gerar senão profunda insensibilização para com<br />
práticas sexuais de toda sorte pervertidas e uma geração de vicia<strong>do</strong>s em pornografia.<br />
1
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
1.2) Não queremos cortejar nem por um segun<strong>do</strong> a filosofia he<strong>do</strong>nista.<br />
He<strong>do</strong>nismo é a <strong>do</strong>utrina filosófica que faz <strong>do</strong> prazer o fim último da vida. O he<strong>do</strong>nismo<br />
preconiza que tu<strong>do</strong> o que traz prazer é certo, sen<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> aquilo que inibe ou<br />
constrange a plena posse daquele prazer.<br />
Seguin<strong>do</strong> esta filosofia, o mun<strong>do</strong> tem aceita<strong>do</strong> que se o casamento não<br />
proporciona o prazer anela<strong>do</strong>, que seja encontra<strong>do</strong>, noutro lugar, onde quer que esteja.<br />
Que não haja regulamento e restrições, contanto que o prazer encontre livre curso, não<br />
importan<strong>do</strong> as consequências danosas proporcione.<br />
1.3) Vale acrescentar que não é o sexo que proporcionará a tão sonhada<br />
felicidade. Cumpre-nos informar-lhe que se você não é uma pessoa feliz, realizada, não<br />
será uma transformação em sua vida sexual que fará isso por você. Afirmar que para<br />
sermos felizes dependemos que algo aconteça em nosso cônjuge e em nossa relação<br />
conjugal é entregar a nossa vida em mãos erradas.<br />
Nas palavras <strong>do</strong> Dr. Lloyd-Jones, “a tragédia (...) da posição moderna é que ela vê<br />
a felicidade apenas como experiência (...). Esta é a ideia de felicidade: a gratificação <strong>do</strong><br />
meu desejo <strong>do</strong> momento; nada mais é leva<strong>do</strong> em consideração. A pessoa como um to<strong>do</strong><br />
– a mente, a alma, a consciência – não é considerada; as consequências não são levadas<br />
em consideração”.<br />
Almejamos que as anotações que o leitor encontrará a seguir sejam muitíssimo<br />
úteis quanto a toda a questão que circunda a sexualidade. No entanto, e mais que isso,<br />
asseveramos ardentemente que a felicidade deve estar para além <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> atual da<br />
sexualidade e jamais depende dela. Que nossa felicidade provenha da consciência de<br />
uma vida de paz com Deus, <strong>do</strong> acesso à Sua presença, da convicção da comunhão com<br />
Ele. Que entendamos que felicidade é o esta<strong>do</strong> daquelas vidas que tiveram suas<br />
consciências purificadas das obras mortas para servirem ao Deus vivo (Hb 9:14).<br />
É aqui que perguntamos por que tantas pessoas vivem para a busca <strong>do</strong> ‘prazer a<br />
to<strong>do</strong> custo’. A resposta é clara: elas não são felizes! Se fossem, não viveriam neste<br />
desespero por uma suposta felicidade que, cegos, tentam agarrar no escuro enquanto<br />
tateiam em vão.<br />
2
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Que ouçamos a voz <strong>do</strong> sábio prega<strong>do</strong>r: “Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te<br />
provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade” (Ec<br />
2:1).<br />
1.4) Por outro la<strong>do</strong>, devemos evitar posturas <strong>do</strong>entia e excessivamente<br />
escrupulosas quanto às questões da sexualidade 1 . Certo é que muitos assumiram<br />
uma atitude exacerbadamente pudica com relação ao sexo. “Pedro Lombar<strong>do</strong> e Graciano<br />
advertiram aos cristãos de que o Espírito Santo saía <strong>do</strong> quarto, quan<strong>do</strong> um casal<br />
praticava o ato sexual – mesmo que fosse com o objetivo de conceber um filho! Outros<br />
líderes eclesiásticos ensinavam com insistência que Deus exigia abstinência sexual em<br />
to<strong>do</strong>s os dias santos. E, além disso, os casais eram aconselha<strong>do</strong>s a não manterem<br />
relações sexuais às quintas-feiras, por ser o dia em que Cristo fora preso; nem às sextas-<br />
feiras, em honra de sua crucificação; aos sába<strong>do</strong>s, em honra da Virgem Maria; aos<br />
<strong>do</strong>mingos, pela ressurreição de Jesus; e às segundas-feiras, em respeito pelas almas<br />
falecidas. A igreja procurava controlar cada faceta da vida <strong>do</strong> homem, não lhe deixan<strong>do</strong><br />
possibilidade de buscar a vontade de Deus, nem ao casal o direito de decidir por si<br />
mesmo como iria viver os mais íntimos aspectos da vida conjugal” (Tim e Beverly<br />
LaHaye).<br />
1 Genival Veloso de França aponta, dentre outras, as causas as religiosas (identificação com o peca<strong>do</strong>) e as<br />
culturais (conceitos de pu<strong>do</strong>r e decência) como enseja<strong>do</strong>ras de frigidez, que denomina como “distúrbio <strong>do</strong><br />
instinto sexual que se caracteriza pela diminuição <strong>do</strong> apetite sexual na mulher, devi<strong>do</strong> a vaginismo ou<br />
<strong>do</strong>enças psíquicas ou glandulares.<br />
3
2. Princípios Basilares<br />
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
No que pertine ao nosso tema, o propósito é mais uma vez entendermos com<br />
clareza o que a Bíblia tem a ensinar, convictos estan<strong>do</strong> de que Deus tem o melhor<br />
Conselho, a última palavra, quanto a to<strong>do</strong>s os aspectos da nossa existência.<br />
A Reforma Protestante trouxe a ousadia necessária para que os <strong>do</strong>gmas da Igreja<br />
Católica começassem a ser questiona<strong>do</strong>s e estimulou o retorno à Palavra de Deus. É a<br />
partir dela, e somente dela, que temos extraí<strong>do</strong> os princípios que nos devem nortear cada<br />
aspecto de nossa existência. Citan<strong>do</strong> mais uma vez Lloyd-Jones, “o cristão nada sabe<br />
além da Bíblia”.<br />
Nesse passo, portanto, desejamos elencar os princípios basilares sobre os quais<br />
devemos construir o edifício sóli<strong>do</strong> <strong>do</strong> conhecimento acerca da temática.<br />
2.1) O sexo é uma criação de Deus. Antes <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>, e antes mesmo de<br />
qualquer outro mandamento da<strong>do</strong> ao primeiro casal, é dito que “Deus os abençoou, e<br />
Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra (...)” (Gn 1:28). Em Gn 2:22<br />
somos informa<strong>do</strong>s que Eva foi formada por Deus e trazida a Adão por Ele e, após a<br />
celebração de Gn 2:24, é-nos dito que “ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e<br />
não se envergonhavam” (Gn 2:25). Pelo que é simples supor que Adão e Eva viviam suas<br />
experiências sexuais.<br />
Ten<strong>do</strong> feito o primeiro casal, Deus os uniu, inclusive sexualmente, e pôs sua<br />
aprovação “em tu<strong>do</strong> quanto tinha feito, e eis que era muito bom (...)” (Gn 1:31).<br />
2.2) Nada há de erra<strong>do</strong> com o sexo, em si mesmo. Dizer que nada há de erra<strong>do</strong><br />
com o sexo, em si mesmo, é tão só inferir logicamente <strong>do</strong> fato de que o sexo é uma<br />
criação de Deus.<br />
O escritor aos hebreus (13:4a) escreveu que “venera<strong>do</strong> seja entre to<strong>do</strong>s o<br />
matrimônio (...)”. Ele investe contra a influência <strong>do</strong> ascetismo, que proibia o casamento<br />
como se o celibato fosse um tipo superior de santidade. Calvino, comentan<strong>do</strong> este<br />
versículo, entende a expressão ‘entre to<strong>do</strong>s’ “no senti<strong>do</strong> em que não há nenhuma classe<br />
4
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
humana à qual se deva proibir o matrimônio. O que permitiu à raça humana,<br />
universalmente”, continua o reforma<strong>do</strong>r de Genebra, “é lícito a to<strong>do</strong>s, sem exceção. Com<br />
isso quero dizer que to<strong>do</strong>s que se encontram aptos para o matrimônio e necessitam dele<br />
devem desfrutá-lo”.<br />
Corroboran<strong>do</strong> ainda este meu ponto, Tim e Beverly LaHaye nos lembram que “o<br />
Senhor Jesus escolheu um casamento para ser o cenário <strong>do</strong> Seu primeiro milagre”, além<br />
de ratificar a primeira celebração como norma definitiva (cf. Jo 2:1-11; Mt 19:5): “e serão<br />
os <strong>do</strong>is uma só carne”.<br />
2.3) O sexo, uma criação de Deus e, por isso, ‘bom’ em si mesmo, foi da<strong>do</strong><br />
para a satisfação humana em seu senti<strong>do</strong> mais pleno. Primeiro, lembramos a bênção<br />
da geração de filhos (“frutificai e multiplicai-vos”), a maior dentre outras satisfações e o<br />
maior dentre os demais propósitos.<br />
Segun<strong>do</strong>, citamos a bênção <strong>do</strong> companheirismo. Por dez vezes, no Antigo<br />
Testamento, o verbo hebraico ‘yada’(conhecer) é usa<strong>do</strong> para relação sexual. “E conheceu<br />
Adão a Eva, sua mulher (...)” (Gn 4:1). O sexo é a maneira mais íntima, completa e<br />
pessoal que há em toda a expressão de companheirismo. Na relação sexual há a mais<br />
completa <strong>do</strong>ação e é a maior expressão de confiança, de compartilhamento e de<br />
identificação. É o ato sexual que faz <strong>do</strong> termo “uma só carne” uma realidade.<br />
Terceiro, somos leva<strong>do</strong>s à bênção <strong>do</strong> prazer sexual em si mesmo. O sexo também<br />
foi da<strong>do</strong> por Deus para o prazer! O texto de Gn 26:6-9 nos informa que a mentira de<br />
Isaque foi desmascarada quan<strong>do</strong> Abimeleque o viu “brincan<strong>do</strong> com Rebeca sua mulher”<br />
(v.8). A palavra, também traduzida por “acarician<strong>do</strong>”, vem da mesma raiz <strong>do</strong> nome Isaque,<br />
pelo que nos parece que o autor quis fazer um jogo de palavras: “o acaricia<strong>do</strong>r<br />
acariciava”. Não sabemos, na verdade, o que viu Abimeleque, mas, seja lá o que viu o fez<br />
concluir que aquelas brincadeiras não eram próprias para irmãos. John Gill comentou<br />
como Isaque e Rebeca estar-se-iam rin<strong>do</strong> e abraçan<strong>do</strong>, beijan<strong>do</strong>-se com frequência e<br />
coisas como essas. Em Dt 24:5 informamo-nos que o recém casa<strong>do</strong> era libera<strong>do</strong> de<br />
serviços militares “por um ano inteiro (...) para alegrar a mulher que tomou”. Que além de<br />
deixar herdeiros, o casal gozasse os prazeres iniciais <strong>do</strong> casamento. Em Cantares, os<br />
prazeres <strong>do</strong> sexo são descritos numa riqueza inexcedível de ilustrações. Diz-se que são<br />
5
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
melhores que o vinho para alegrar (4:10a), mais saborosos que favos de mel e leite<br />
(4:11). As alegrias <strong>do</strong> sexo são comparáveis à participação em um oásis, onde se bebe<br />
de um manancial e colhem-se os frutos mais deliciosos e as mais raras especiarias (4:12-<br />
15; cf. Pv 5:15, 18). “Seja bendito o teu manancial e alegra-te com a mulher da tua<br />
mocidade”.<br />
2.4) O sexo só exala sua beleza e só reflete o propósito <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong><br />
vivi<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> casamento, conforme ordena<strong>do</strong> por Deus. Hernandes Dias Lopes<br />
sintetiza com maestria “os quatro grandes pilares <strong>do</strong> casamento como instituição divina”,<br />
observan<strong>do</strong> Mc 10:6-9: o casamento é heterossexual (“Deus os fez homem e mulher”),<br />
monogâmico (“deixará o homem a seu pai e mãe e unir-se-á a sua mulher”),<br />
monossomático (“serão os <strong>do</strong>is uma só carne”) e indissolúvel (“o que Deus ajuntou não<br />
separe o homem”). Pois bem, é somente no casamento como instituí<strong>do</strong> pelo Cria<strong>do</strong>r que<br />
o sexo deve ser vivencia<strong>do</strong>.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, leiamos as palavras <strong>do</strong> apóstolo Paulo: “(...) por causa da impureza,<br />
cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio mari<strong>do</strong>” (I Co 7:2). Fácil<br />
observar das palavras <strong>do</strong> escritor sagra<strong>do</strong> que dentre as razões pelas quais Deus<br />
estabeleceu o casamento está a prevenção <strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s de ordem sexual, fato que levou<br />
Augustus Nicodemus e Minka Schalkwijk afirmarem que “da perspectiva das Escrituras,<br />
sexo é algo só para o casamento”, e que Paulo “não vê outra opção legítima, nem um<br />
outro caminho váli<strong>do</strong> diante de Deus para satisfação sexual que não seja o casamento”.<br />
Lamentavelmente, uma pesquisa feita pela Unesco em parceria com o Ministério<br />
da Saúde em 2002, revelou que os brasileiros estão perden<strong>do</strong> a virgindade mais ce<strong>do</strong>: os<br />
meninos aos 14 anos e as meninas aos 15, enquanto que em 1998 a média era de 16 e<br />
19 anos, respectivamente 2 .<br />
Concluímos, pois, com William Hendriksen, para quem, “em seu cenário<br />
apropria<strong>do</strong>, o sexo é um maravilhoso <strong>do</strong>m de Deus. Entretanto, não há lugar para a<br />
2 De acor<strong>do</strong> com pesquisa <strong>do</strong> Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) no Rio de<br />
Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salva<strong>do</strong>r e Recife, 43% <strong>do</strong>s católicos são a favor <strong>do</strong> sexo<br />
antes <strong>do</strong> casamento.<br />
6
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
luxúria e a vulgaridade. Isso é errôneo sempre e em qualquer lugar, seja para os solteiros<br />
ou para os casa<strong>do</strong>s”.<br />
3. Desvios da sexualidade<br />
Gn 3:1-7 apresenta-nos o relato da queda. O casal estava em plena comunhão<br />
com Deus e em perfeita harmonia entre si. Mas o ato de desobediência em comer <strong>do</strong> fruto<br />
de determinada árvore, que lhe havia si<strong>do</strong> proibi<strong>do</strong> (Gn 2:17), trouxe consequências<br />
imediatas.<br />
A primeira experiência de culpa <strong>do</strong>s primeiros pais foi a sua descoberta quanto à<br />
nudez (Gn 3:7), expressa em termos de vergonha. A intimidade <strong>do</strong> casamento (Gn 2:24)<br />
sofreu séria avaria. Percebe-se que o aspecto sexual da humanidade foi muitíssimo<br />
atingi<strong>do</strong>, ensejan<strong>do</strong> o surgimento de toda forma de iniquidade, perversão, exagero e<br />
descontrole nesta área. É nesse quadrante que devemos compreender toda a sujeira<br />
relacionada à sexualidade.<br />
A Bíblia ocupa-se com toda esta questão da santidade <strong>do</strong> sexo, porque atenta à<br />
santidade <strong>do</strong> lar e ao retorno à condição original de dignidade planejada pelo Cria<strong>do</strong>r.<br />
Guardar a santidade <strong>do</strong> sexo é resguardar a santidade <strong>do</strong> lar, proteger a família e viver de<br />
mo<strong>do</strong> que a glória de Deus seja reconhecida nas relações humanas.<br />
“Porneia” é a palavra grega mais geral para relações e relacionamentos sexuais<br />
ilícitos e imorais. “Porneia” brota de um coração não regenera<strong>do</strong> (Mt 15:19; Mc 7:21), daí<br />
que Paulo a trata como uma “obra da carne” (Gl 5:19). A sanha homossexual das<br />
civilizações de So<strong>do</strong>ma e Gomorra foi chamada por Judas (Jd 7) de “porneia”. Portanto,<br />
de “porneia” deve-se arrepender (II Co 12:21; Ap 2:21), abster (I Ts 4:3) e fazer morrer (Cl<br />
3:5).<br />
A seguir, trataremos das principais formas de desvios da sexualidade como<br />
divinamente instituída, que certamente podem ser descritas como “porneia”.<br />
7
3.1) Edipismo: a tendência ao incesto.<br />
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Incesto é uma forma agravada de fornicação ou adultério, por ser uma união sexual<br />
ilícita entre parentes consangüíneos ou proximamente relaciona<strong>do</strong>s. É “o impulso <strong>do</strong> ato<br />
sexual com parentes próximos” (Genival Veloso de França).<br />
“Na qualidade de um povo santo, separa<strong>do</strong> para ter uma ligação especial com o<br />
Senhor, Israel não podia imitar as práticas de outros povos” (Oxford Annotated Biblie). A<br />
legislação mosaica, portanto, tinha por intuito separar o povo de Israel <strong>do</strong>s costumes e<br />
das atividades pagãs. No antigo Egito, por exemplo, a união incestuosa não era apenas<br />
permitida, mas, em alguns casos, era até exigida. Que Israel não imitasse os costumes<br />
pagãos (Lv 18:3-5; 24-27).<br />
Os capítulos 18 e 20 dão-nos os graus de parentesco que excluíam o casamento<br />
ou as experiências sexuais. Pela expressão “descobrir a nudez” quer-se dizer “ter sexo<br />
com” ou “casar com” (Lv 18:6), quan<strong>do</strong> se está a proibir tanto a relação sexual ocasional<br />
quanto o casamento com parentes menciona<strong>do</strong>s nos versículos que se seguem.<br />
Em Lv 18:7, o incesto com a mãe é proibi<strong>do</strong>, embora, por inferência, também o seja<br />
da filha com o seu pai (cf. Gn 19:32-38). Esta prática era comum entre os persas,<br />
egípcios, cananeus e permaneceu entre os japoneses. O castigo deste incesto era a<br />
morte (Lv 20:11), talvez por apedrejamento. O código de Hamurabi prescrevia a fogueira.<br />
Em Lv 18:8, o incesto com a madrasta é veda<strong>do</strong>. Temos como exemplos deste<br />
peca<strong>do</strong>, os casos de Rúben com Bila (Gn 35:22; cf. 49:3,4) e de Absalão com as<br />
mulheres de Davi, seu pai (II Sm 16:20-23; cf. I Rs 2:17). No Novo Testamento, há um<br />
caso menciona<strong>do</strong> em I Co 5:1-4 (cf. Dt 22:30). Quanto à punição, ver Lv 20:11.<br />
Em Lv 18:9, 11, temos a proibição de relações sexuais com irmãs, germanas ou<br />
unilaterais. O exemplo que nos salta aos olhos é o <strong>do</strong> patriarca Abraão (Gn 20:12).<br />
Observamos ainda a loucura de Amnom com Tamar (II Sm 13:11-14). Uma maldição é<br />
pronunciada contra aqueles que incorressem neste tipo de relação em Dt 27:22. A<br />
punição era a pena de morte (Lv 20:17), talvez por apedrejamento.<br />
Em Lv 18:10, o incesto com a neta é proibi<strong>do</strong>. Por inferência, deduz-se que sexo<br />
com a filha era proibi<strong>do</strong>, já que o era com a neta. A punição não é mencionada.<br />
Deduzimos tenha si<strong>do</strong> o apedrejamento.<br />
8
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Em Lv 18:12, 13, temos a proibição de relação incestuosa com tias paternas ou<br />
maternas 3 . O próprio Moisés era filho de uma relação destas (Ex 6:20). Naor, irmão de<br />
Abraão, casou-se com Milca, filha de seu irmão Harã (Gn 11:29). Otniel casou-se com sua<br />
sobrinha Acsa, filha de Calebe, seu irmão mais velho (Js 15:17; Jz 1:13). Heró<strong>do</strong>to nos<br />
informa, e Tácito, que os persas, gregos e romanos casavam-se com as tias. A punição<br />
deste peca<strong>do</strong> seria infertilidade por maldição divina (Lv 20:19, 20). Em Lv 18:14 é proibi<strong>do</strong><br />
o sexo com as tias por afinidade, ou a esposa <strong>do</strong> tio. Quanto à punição, ver Lv 20:20.<br />
Em Lv 18:15 é proibida a relação sexual com a nora. A punição seria a execução<br />
(Lv 20:12), provavelmente por apedrejamento. Um caso da transgressão dessa lei foi o<br />
vergonhoso incesto de Judá com sua nora Tamar (Gn 38). Relação incestuosa com a<br />
sogra não é mencionada em Lv 18, mas ocorre em Lv 20:14 e Dt 27:23, cuja punição<br />
seria morte na fogueira.<br />
Em Lv 18:16 proíbe-se relação sexual com a cunhada. Herodes Antipas tornou-se<br />
culpa<strong>do</strong> deste peca<strong>do</strong> e foi repreendi<strong>do</strong> por João Batista (Mt 14:3, 4). A punição deste<br />
peca<strong>do</strong> seria infertilidade por maldição divina (Lv 20:21). Exceção à regra seria o<br />
casamento por levirato, quan<strong>do</strong> um homem deveria casar-se com a viúva sem filhos de<br />
seu irmão, com a fim de perpetuar sua descendência (DDT 25:5-10). Segun<strong>do</strong> o relato de<br />
Gn 38:6-10, Onã é puni<strong>do</strong> por Deus com morte por não haver cumpri<strong>do</strong> a tarefa <strong>do</strong><br />
levirato que lhe cabia. A maneira como os saduceus tentaram ‘apanhar’ o Senhor Jesus<br />
tem a prática <strong>do</strong> levirato como pressuposto (Mt 22:23-28).<br />
Em Lv 18:17 é defeso o sexo com uma mulher e sua filha ou neta, mesmo que a<br />
mãe/avó viesse a falecer. A punição específica a esse peca<strong>do</strong> não foi mencionada. Por<br />
inferência de Lv 20:14, conclui-se pela morte na fogueira.<br />
Em Lv 18:18 é proibida a relação com duas irmãs, ou que se casasse com duas<br />
irmãs ao mesmo tempo. Jacó casou-se com duas irmãs (Gn 29:28-30), mas isso ocorreu<br />
antes da lei mosaica. Não há menção de uma punição específica para este caso.<br />
3 A <strong>do</strong>utrina forense tem defendi<strong>do</strong> a atualidade da vigência <strong>do</strong> Decreto-Lei 3.200/1941, que, em seu art. 2º,<br />
permite a possibilidade <strong>do</strong> casamento entre parentes colaterais de terceiro grau (tio/sobrinha; tia/sobrinho),<br />
quan<strong>do</strong> exame pericial comprovar que não resultará em risco à prole. Uma aberração perpetuada no direito<br />
brasileiro.<br />
9
3.2) Homossexualismo: feminino e masculino.<br />
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
O homossexualismo masculino é também chama<strong>do</strong> de uranismo e pederastia; o<br />
feminino, de safismo, lesbianismo ou tribadismo. O homossexualismo pode manifestar-se<br />
ainda em termos de travestismo (gratificação com o uso de vestes e atitudes <strong>do</strong> sexo<br />
oposto) e transexualismo (inconformação com o próprio esta<strong>do</strong> sexual).<br />
Se apenas 4% das populações modernas se compõem de verdadeiros<br />
homossexuais, uma horrenda taxa de 20% é de bissexuais (Champlin). “A famosa<br />
investigação <strong>do</strong> zoólogo americano Alfred C. Kinsey sobre a sexualidade humana o levou<br />
a concluir que 4% <strong>do</strong>s homens (pelo menos os americanos brancos) são exclusivamente<br />
homossexuais por toda a vida; 10% o são por até três anos; 37% têm algum tipo de<br />
experiência homossexual entre a a<strong>do</strong>lescência e a idade adulta. A percentagem de<br />
mulheres homossexuais, segun<strong>do</strong> observou, é mais baixa, embora atinja a casa <strong>do</strong>s 4%<br />
entre as idades de 20 e 35” (John Stott) 4 .<br />
Para o renoma<strong>do</strong> estudioso da medicina legal, Genival Veloso de França,<br />
homossexualismo é “uma das formas mais comuns de transtorno da identidade sexual” e<br />
“a prova indiscutível de uma personalidade anormal, pelas profundas modificações da<br />
conduta e da afetividade”.<br />
Mas, essa posição longe está da unanimidade. Em 1973, a Associação Americana<br />
de Psiquiatria deixou de classificar a homossexualidade como transtorno mental. Em<br />
1985, o Conselho Federal de Medicina deixou de considerá-la como desvio sexual, e a<br />
OMS (Organização Mundial de Saúde), em 1990, retirou a homossexualidade da<br />
Classificação Internacional de Doenças.<br />
4 Mas os números aponta<strong>do</strong>s não são exatos. Em 2003, uma equipe <strong>do</strong> Hospital das Clínicas de São Paulo<br />
preparou uma pesquisa com 7000 entrevista<strong>do</strong>s, homens e mulheres, de 18 a 70 anos, pertencentes a<br />
todas as classes sociais e regiões. Resulta<strong>do</strong>: 10% disseram-se homossexuais.<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Percebe-se, nesse diapasão, que o homossexualismo (ou homoafetividade) passou<br />
por diversas fases nesse caminho de “conquistas”. A princípio, a conduta era revestida de<br />
silêncio e anonimato, passan<strong>do</strong> em seguida da exposição mais franca e aberta até as<br />
lutas e reivindicações pela institucionalização da “família homoafetiva”.<br />
Países como Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Noruega, Suécia, Islândia,<br />
Canadá e África <strong>do</strong> Sul já permitem o casamento entre pessoas <strong>do</strong> mesmo sexo. Na<br />
América Latina, a Argentina foi o primeiro Esta<strong>do</strong> a autorizar o casamento nessas bases,<br />
em apertada votação (33 votos a favor e 27 contra) no Sena<strong>do</strong>, em 15 de julho de 2010.<br />
Na Brasil, julga<strong>do</strong>s esparsos decidiram, a priori, no senti<strong>do</strong> de se conceder direitos<br />
próprios de família, acerca <strong>do</strong> reconhecimento da sociedade de fato, hipótese em que, no<br />
caso de dissolução, dever-se-ia aferir a contribuição de cada um <strong>do</strong>s sócios para se<br />
proceder à partilha na proporção <strong>do</strong>s esforços de cada um. A par destas posições<br />
jurisprudenciais, já existiam decisões judiciais reconhecen<strong>do</strong> mesmo a união estável entre<br />
homossexuais, mormente ao argumento de que tais relacionamentos baseiam-se em<br />
“afeto”.<br />
Mas, indubitavelmente, a decisão judicial mais marcante nessa toada de “vitórias<br />
homossexuais” foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal, julgan<strong>do</strong> a ADI 4277 (Ação<br />
Direta de Inconstitucionalidade 4277). Nessa decisão, o STF, ao arrepio da Constituição<br />
Federal (cf. art. 226, § 3º) e <strong>do</strong> Código Civil (cf. art. 1.723) vigentes, e ainda fazen<strong>do</strong> as<br />
vezes de verdadeiro legisla<strong>do</strong>r, reconheceu a existência da união estável homossexual<br />
como entidade familiar, em inteira paridade com uniões heterossexuais e para to<strong>do</strong>s os<br />
fins de direito de família (a<strong>do</strong>ção, herança, regime de bens, dissolução e partilha etc.).<br />
Outro capítulo dessa “novela” me<strong>do</strong>nha versa sobre a transgenitalização e da<br />
alteração <strong>do</strong> prenome e <strong>do</strong> sexo no registro civil.<br />
O art. 13 <strong>do</strong> Código Civil/2002 proíbe o ato de disposição <strong>do</strong> próprio corpo, quan<strong>do</strong><br />
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. O<br />
conceito de “bons costumes”, entretanto, é flui<strong>do</strong> e, certamente, se cirurgias de mudança<br />
de sexo contrariavam os “bons costumes” na década de 70 <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, época em<br />
o Código em vigor foi gesta<strong>do</strong>, hoje já não contrariam, mormente em uma sociedade que<br />
vê seus valores morais se esboroarem numa velocidade estonteante.<br />
11
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
O Conselho de Justiça Federal, já capitulan<strong>do</strong> ante a crescente degradação moral<br />
da sociedade, posicionou-se <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong> em seu Enuncia<strong>do</strong> 276: “O art. 13 <strong>do</strong><br />
Código Civil, ao permitir a disposição <strong>do</strong> próprio corpo por exigência médica, autoriza as<br />
cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabeleci<strong>do</strong>s<br />
pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente alteração <strong>do</strong> prenome e <strong>do</strong> sexo no<br />
Registro Civil”.<br />
Atualmente, tais cirurgias são regulamentadas pela Resolução 1.652/02 (que<br />
revogou a Resolução 1.482/97) <strong>do</strong> Conselho Federal de Medicina, perfilhan<strong>do</strong> o<br />
transexualismo com as características <strong>do</strong> “1) Desconforto com o sexo anatômico natural;<br />
2) Desejo expresso de eliminar os genitais (...); 3) Permanência desses distúrbios de<br />
forma contínua e consistente por, no mínimo, <strong>do</strong>is anos; 4) Ausência de outros<br />
transtornos mentais”.<br />
Uma vez permitida a transgenitalização, o caminho estava aberto para a alteração<br />
<strong>do</strong> prenome e <strong>do</strong> sexo no registro civil. O argumento é que o transexual sofreria toda sorte<br />
de constrangimentos e seria constantemente exposto ao ridículo se tivesse que<br />
apresentar-se com nome masculino apesar da aparência feminina.<br />
Notável que após uma das palestras que dei sobre o tema, fui informa<strong>do</strong> de um<br />
caso real por alguém que me ouvia. Era a história de um rapaz recém chega<strong>do</strong> em uma<br />
cidade, que começou um relacionamento com uma moça de seu novo <strong>do</strong>micílio. O<br />
namoro ia se fortalecen<strong>do</strong>. Ele, muito anima<strong>do</strong> com a beleza da moça, conversava com<br />
seus colegas de faculdade sobre suas intenções de casamento etc. Até que veio a<br />
descobrir tratar-se sua “namorada” de um transexual. Ficamos a imaginar, com certa <strong>do</strong>se<br />
de indignação, que as próximas gerações, com muito mais razões, poderão contrair<br />
relacionamentos dura<strong>do</strong>uros e casamentos <strong>do</strong> tipo “gato por lebre”.<br />
Outra história hedionda ouvi de um site confiável, que noticiava uma mudança de<br />
sexo <strong>do</strong> menino T.L., da Califórnia, “filho” de um casal de lésbicas. As “mães” perceberam<br />
o jeito efemina<strong>do</strong> <strong>do</strong> garoto, observaram que dizia “sou uma menina” dentre as primeiras<br />
frases ditas por ele e que aos sete anos ameaçou mutilar o próprio órgão sexual. Pronto.<br />
Decidiu-se que a melhor hora para a mudança de sexo era na infância, processo que já<br />
se iniciou. O menino T.L. começou um tratamento hormonal aos oito anos, que impedirá o<br />
12
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
desenvolvimento de ombros largos, voz grave, pelos faciais e ajudará no desenvolvimento<br />
de características femininas.<br />
A despeito de todas as “conquistas”, o movimento LGBT não está satisfeito. Quer-<br />
se a criminalização de manifestações contrárias ao homossexualismo e a legalização <strong>do</strong><br />
casamento civil homoafetivo, na mesma senda da lei argentina.<br />
Todavia, o que mais nos ocupa é a saúde da Igreja de Cristo. Anelamos ver se<br />
nossos irmãos estão firmes na verdade da palavra de Deus e andam a observan<strong>do</strong>. É<br />
dizer, queremos investigar, nesse passo da caminhada, o que Deus prescreve a respeito<br />
<strong>do</strong> homossexualismo.<br />
A Bíblia contém quatro grupos de passagens que trazem claras proibições ao<br />
homossexualismo. Primeiro, a história de So<strong>do</strong>ma (em Gn 19:1-3), d’onde vem o nome<br />
“so<strong>do</strong>mia”. Conforme a visão cristã tradicional, os habitantes de So<strong>do</strong>ma foram “culpa<strong>do</strong>s<br />
de práticas homossexuais”, por tentarem (sem sucesso) “infligir aos <strong>do</strong>is anjos que Ló<br />
estava receben<strong>do</strong> em sua casa”. De mo<strong>do</strong> semelhante, temos a história narrada em Jz<br />
19, episódio ocorri<strong>do</strong> em Gibeá. Na ocasião, outro residente (desta vez um velho<br />
anônimo) convida <strong>do</strong>is estrangeiros (não anjos, mas um levita e sua concubina) para sua<br />
casa. Uns homens cruéis cercaram sua casa e fizeram a mesma exigência <strong>do</strong>s<br />
so<strong>do</strong>mitas, para que o visitante fosse para fora “para que o conhecessem”. Em ambos os<br />
textos “conhecer” é eufemismo para ato sexual (cf. Gn 4:1, 17,25).<br />
Segun<strong>do</strong> a interpretação preferida <strong>do</strong> movimento homossexual, “conhecer” não<br />
significa “fazer sexo”, mas, simplesmente, “travar conhecimento”. Ló teria hospeda<strong>do</strong><br />
estrangeiro sobre cujas intenções não se sabia. Destarte, o peca<strong>do</strong> de So<strong>do</strong>ma, como<br />
<strong>do</strong>s homens de Gibeá, teria si<strong>do</strong> o de invadir a privacidade <strong>do</strong>s hospedeiros e violar leis<br />
de hospitalidade.<br />
John Stott, em apoio à tradição cristã, afirma que (1) “Os adjetivos ‘perverso’, ‘vil’ e<br />
‘desgraça<strong>do</strong>’ (Gn 19:7; Jz 19:23) não parecem adequa<strong>do</strong>s para descrever uma violação<br />
de hospitalidade; (2) a oferta das mulheres no lugar <strong>do</strong>s homens realmente parece como<br />
se houvesse alguma conotação sexual no episódio; (3) embora o verbo ‘yada’ seja usa<strong>do</strong><br />
apenas 10 vezes para intercurso sexual (...) 6 dessas ocorrências estão em Gênesis, e<br />
uma na própria história de So<strong>do</strong>ma (...) (v.8); (4) (...) a inequívoca declaração de Judas<br />
13
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
[Jd 7] não pode ser descartada como simplesmente um erro copia<strong>do</strong> <strong>do</strong> pseu<strong>do</strong>-<br />
epigrafa<strong>do</strong> judaico”. Acresça-se que II Pe 2:8 chama o peca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s so<strong>do</strong>mitas de “obras<br />
iníquas”.<br />
Em seguida, temos os textos levíticos (18:22; 20:13), que, segun<strong>do</strong> a “exegese<br />
gay”, proíbem rituais religiosos liga<strong>do</strong>s à i<strong>do</strong>latria, sem qualquer relação com a<br />
homoafetividade. Nada mais enganoso. Os textos claramente condenam o<br />
homossexualismo e o denunciam como “abominação”. Como vimos na história de Gibeá<br />
(Jz 19:27), os israelitas não aban<strong>do</strong>naram de vez esse vício (cf. I Rs 14:24). A punição<br />
<strong>do</strong>s homossexuais em Israel era a morte, provavelmente pelo apedrejamento, <strong>do</strong>nde se<br />
infere a gravidade com que o peca<strong>do</strong> era considera<strong>do</strong>.<br />
Na lei mosaica, a proibição <strong>do</strong> homossexualismo é extensão <strong>do</strong> sétimo<br />
mandamento (“não adulterarás”, Ex 20:14), que, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> mais amplo possível qualquer<br />
forma de imoralidade sexual, mormente como proteção à família. A lei nada mais é que<br />
um mandamento de retorno ao princípio, à maneira estabelecida por Deus (Gn 2:18, 23).<br />
Deus fez uma mulher para um homem. A unidade deve ser vivida na diversidade de sexos<br />
(Gn 2:24).<br />
Terceiro, temos as declarações de Paulo em Rm 1, em sua descrição <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
greco-romano de seus dias. Os pagãos suprimiram a verdade e se voltaram aos í<strong>do</strong>los.<br />
Em julgamento, “Deus os entregou” às suas mentes depravadas (1:24, 26,28). Mais uma<br />
vez o texto é manipula<strong>do</strong> pelo “movimento cristão LGBT”, para quem Paulo estaria<br />
condenan<strong>do</strong> a prática <strong>do</strong>s “perverti<strong>do</strong>s” (prática homossexual de macho heterossexual) e<br />
não <strong>do</strong>s “inverti<strong>do</strong>s” (homens e mulheres com disposição homossexual). Percebe-se,<br />
todavia, que para Paulo o homossexualismo é sempre contrário à natureza (physis),<br />
significan<strong>do</strong> a ordem criada por Deus, que não se deriva de um determinismo biológico e<br />
sim da apostasia <strong>do</strong> coração. Para o apóstolo, violar a physis é violar a ordem criada por<br />
Deus.<br />
Quarto, temos outros textos paulinos (I Co 6:9, 10; I Tm 1:9-11), nos quais<br />
aparecem as palavras gregas ‘arsenokoitai’ (em ambos) e ‘malakoi’ (em I Co somente).<br />
Segun<strong>do</strong> leitura com tendência homoafetiva, nestes textos Paulo tinha em mente a<br />
pederastia comercial entre homens mais velhos e a<strong>do</strong>lescentes, ensejan<strong>do</strong> a corrupção<br />
14
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
destes. “Malakoi’ (efemina<strong>do</strong>s) é literalmente “macio ao toque”, e, metaforicamente, entre<br />
os gregos, indicava o homem que representava o papel passivo no intercurso<br />
homossexual. ‘Arsenokoitai’ (so<strong>do</strong>mitas) significa literalmente “macho na cama” e os<br />
gregos usavam esta expressão para descrever aquele que fazia as vezes <strong>do</strong> homem na<br />
relação homossexual. Donde se infere que quaisquer formas de homossexualismo<br />
(inclusive entre homens e travestis ou transexuais) constituem-se, no primeiro texto, em<br />
óbice ao reino de Deus e, no segun<strong>do</strong>, uma marca <strong>do</strong>s transgressores da Sua lei moral.<br />
Quer pelo crescimento exacerba<strong>do</strong>, quer pela repercussão ou pelos desafios que<br />
apresenta, o homossexualismo permanece alardean<strong>do</strong> a sociedade por atentar às<br />
questões morais, sociais, familiares e jurídicas.<br />
3.3) Bestialismo ou zoofilismo.<br />
É a perversão que consiste na satisfação sexual com animais <strong>do</strong>mésticos, prática<br />
mais comum no campo que no meio urbano. “O Relatório Kinsey sobre o sexo mostrou<br />
que entre 40 e 50% da população rural <strong>do</strong>s EUA têm cometi<strong>do</strong> atos dessa natureza. Mas<br />
nas áreas urbanas a taxa de pessoas envolvidas é de somente 4%” (Champlin).<br />
Esse peca<strong>do</strong> é chama<strong>do</strong> de confusão, ou seja, uma desordem da natureza (Lv<br />
18:23; 20:15, 16; DDT 27:21; Ex 22:19). A punição para quem praticasse sexo com<br />
animais era a morte.<br />
15
3.4) Outras formas me<strong>do</strong>nhas de perversão sexual.<br />
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Erotismo é a tendência abusiva aos atos sexuais. No homem, chama-se satiríase;<br />
na mulher, ninfomania ou uteromania. Caracteriza-se pelo ar<strong>do</strong>r insaciável <strong>do</strong> desejo<br />
sexual.<br />
Exibicionismo é a perversão consistente na satisfação sexual de mostrar seus<br />
órgãos genitais, em geral à distância e em locais públicos.<br />
Mixoscopia caracteriza-se pelo desejo iníquo de presenciar o coito de terceiros.<br />
Trata-se voyeurismo (deriva<strong>do</strong> das expressões francesas voyeurs ou voyeuses).<br />
Pluralismo é torpeza que se manifesta na prática sexual com mais de três<br />
participantes, e, nas palavras de Genival Veloso de França, traduz “um eleva<strong>do</strong> grau de<br />
desajustamento moral e sexual”.<br />
Swapping, por sua vez, é a prática horrenda que se perfaz pela troca consentida<br />
de parceiros entre <strong>do</strong>is ou mais casais.<br />
Gerontofilia é a atração de indivíduos jovens por pessoas de excessiva idade. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, pe<strong>do</strong>filia, segun<strong>do</strong> Genival Veloso de França, “é a perversão sexual que se<br />
apresenta pela predileção erótica com crianças, in<strong>do</strong> desde os atos obscenos até a<br />
prática de manifestações libidinosas”. França alerta que “há uma verdadeira indústria de<br />
confecção de álbuns com crianças despidas que são avidamente compulsa<strong>do</strong>s ou em<br />
sites na Internet visita<strong>do</strong>s por esses perverti<strong>do</strong>s”.<br />
O que colacionamos até aqui demonstrou suficientemente ao leitor que a lista de<br />
perversões sexuais é interminável. Faltaria tempo para acrescentar as práticas horrendas<br />
da necrofilia (impulsão de praticar sexo com cadáver), sadismo (satisfação sexual pelo<br />
sofrimento <strong>do</strong> parceiro), masoquismo (prazer sexual na própria <strong>do</strong>r, sofrimento ou<br />
humilhação) e outras torpezas <strong>do</strong> gênero.<br />
À guisa de arremate, anotamos tão só que não há limites à perversão <strong>do</strong> instinto<br />
sexual. A sede de inovação, a busca desenfreada pelo prazer a to<strong>do</strong> custo e a super<br />
16
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
erotização têm, juntas, conduzi<strong>do</strong> a perversões inimagináveis, a patologias e à<br />
desestabilidade das relações e da família em uma sociedade que anda a galopes em<br />
direção a completa destruição de to<strong>do</strong> e qualquer senso de moral.<br />
3.5) Dentre outras práticas controvertidas, se não pervertidas, se encontram<br />
os sexos oral e anal.<br />
A pesquisa de Tim e Beverly LaHaye, realizada com 3.377 pessoas, <strong>do</strong>s quais 98%<br />
professaram ser crentes verdadeiros, indicou “que o sexo oral está aumentan<strong>do</strong> hoje,<br />
graças à amoral educação sexual, à pornografia, à moderna literatura sexual e à<br />
decadência moral de nossos dias”. A pesquisa revelou que a prática entre os cristãos é<br />
menos comum. “Obviamente, a comunidade cristã ainda não aceitou unanimemente o<br />
sexo oral. A maioria <strong>do</strong>s conselheiros cristãos mostra-se relutante em condenar ou apoiar<br />
a prática, deixan<strong>do</strong> a decisão com o indivíduo. Contu<strong>do</strong>, parece existir um grande número<br />
de crentes que desfrutam de uma vida amorosa satisfatória e feliz sem esta prática”,<br />
asseveraram.<br />
“Estamos convenci<strong>do</strong>s”, afirma o casal LaHaye, “de que nada tomará o lugar <strong>do</strong><br />
tradicional ato conjugal como o principal méto<strong>do</strong> de expressão <strong>do</strong> amor conjugal entre<br />
pessoas casadas”.<br />
Quanto ao sexo oral, alguns entendem como carícias preliminares <strong>do</strong> jogo <strong>do</strong> sexo,<br />
não sen<strong>do</strong> mesmo o caso de substituir o intercurso normal. O que não acontece ao sexo<br />
anal.<br />
Na verdade, o sexo anal é uma perversão da natureza, como Deus a planejou. É o<br />
sexo <strong>do</strong>s so<strong>do</strong>mitas. É uma distorção promovida pela pornografia que desafia o propósito<br />
de Deus para o sexo e seu prazer liga<strong>do</strong> à procriação. Nem por um segun<strong>do</strong> defendemos<br />
17
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
a procriação como a única bênção a ser auferida <strong>do</strong> sexo, no entanto, bênção alguma<br />
está dissociada inteiramente desta, como pretende o sexo anal.<br />
4. Adultério: gravidade, causas e prevenção.<br />
4.1) A gravidade <strong>do</strong> adultério<br />
Vê-se a gravidade <strong>do</strong> adultério na forma como foi puni<strong>do</strong> no Antigo Testamento:<br />
morte por apedrejamento (cf. Lv 18:20; 20:10). O adultério já era passível de castigo nos<br />
códigos legais antigos, que remontam ao segun<strong>do</strong> milênio a.C., como o código Lipit-Istar,<br />
o Código de Hamurábi e as antigas leis assírias. No Novo Testamento, o adultério é dito<br />
como incompatível com Reino de Deus (I Co 6:9-10) e como causa que sujeita o adúltero<br />
ao julgamento divino (Hb 13:4).<br />
Segun<strong>do</strong> o ensino <strong>do</strong> Senhor Jesus, o sétimo mandamento (Ex 20:14; Dt 5:18) já é<br />
viola<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se olha “para uma mulher com intenção impura”, caso em que, “no<br />
coração, já adulterou com ela” (Mt 5:28). É dizer, se a infidelidade ao matrimônio é<br />
peca<strong>do</strong>, qualquer tendência nesta direção igualmente já o é. Não ignoramos que os<br />
grandes peca<strong>do</strong>s nascem das maquinações <strong>do</strong> coração (Mt 15:19). Ademais, observamos<br />
que se o “não adulterarás” já é quebra<strong>do</strong> na mente, proíbe-se com ele o adultério<br />
consenti<strong>do</strong>, o virtual e o consumo de pornografia.<br />
Das pesquisas da Redbook, somos informa<strong>do</strong>s que apenas 3% das pessoas<br />
interrogadas não consideram o adultério erra<strong>do</strong>, o que nos faz concluir que mesmo os<br />
adúlteros não consideram a prática saudável.<br />
Nesse passo de nosso estu<strong>do</strong> sobre “a santidade <strong>do</strong> sexo”, desejo tecer breves<br />
anotações acerca das razões que tornam o adultério algo especialmente grave. Se não,<br />
vejamos.<br />
18
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
4.1.1) O adultério projeta-se contra a santidade <strong>do</strong> lar. “Venera<strong>do</strong> seja entre to<strong>do</strong>s o<br />
matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição e aos adultérios,<br />
Deus os julgará” (Hb 13:4). Há uma ameaça de punição àquele que lança mácula sobre o<br />
matrimônio, tal é o caso <strong>do</strong>s impuros e adúlteros.<br />
4.1.2) O adúltero milita contra uma instituição divina – o casamento. “Assim não<br />
são mais <strong>do</strong>is, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”<br />
(Mt 19:6). O adultério causa tal rompimento ao ajuntamento feito por Deus que torna<br />
possível à vítima segundas núpcias legítimas perante Ele (Mt 19:9). Aqui, o casamento<br />
enquanto instituição é considera<strong>do</strong> objetivamente em sua seriedade. Deus é o seu<br />
primeiro celebrante e o seu institui<strong>do</strong>r. Afrontá-lo é voltar-se contra uma instituição divina,<br />
frise-se.<br />
4.1.3) O adultério é uma violação de um pacto realiza<strong>do</strong> na presença de Deus. Pv<br />
2:17 fala da mulher estranha “que deixa o guia da sua mocidade e se esquece da aliança<br />
<strong>do</strong> seu Deus”. Segun<strong>do</strong> o profeta Malaquias, eis a razão pela qual Deus havia despreza<strong>do</strong><br />
o ofício <strong>do</strong>s sacer<strong>do</strong>tes em seu tempo: “Por que o Senhor foi testemunha entre ti e a<br />
mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sen<strong>do</strong> ela a tua companheira, e a<br />
mulher da tua aliança” (Ml 2:14). A par da noção de casamento como instituição, subsiste<br />
a ideia de casamento como acor<strong>do</strong> livre de vontades entre pessoas livres. Ali, Deus é o<br />
institui<strong>do</strong>r, aqui, a testemunha de um pacto. Ali, casamento é objetivamente considera<strong>do</strong>;<br />
aqui, subjetivamente considera<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> Deus a testemunha deste santo acor<strong>do</strong>. Não se<br />
pode olvidar que Deus respeita nossos acor<strong>do</strong>s, se legítimos, e quer que os respeitemos<br />
(cf. Js 9).<br />
4.1.4) O adultério (e quaisquer outras formas de prostituição) é um ato<br />
singularmente grave pelo mo<strong>do</strong> como se insurge contra a verdade sobre o corpo <strong>do</strong><br />
cristão.<br />
No texto de I Co 6, o verso 13 informa-nos que não há conexão entre o corpo e a<br />
prostituição como há entre o alimento e o estômago. A conexão é entre o corpo e o<br />
Senhor, que ressuscitará o corpo (14). No verso 15 é-nos dito que os nossos corpos são<br />
membros <strong>do</strong> Corpo de Cristo. A gravidade <strong>do</strong> adultério está no fato de que membros <strong>do</strong><br />
Corpo de Cristo são retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> seu uso apropria<strong>do</strong> e torna<strong>do</strong>s membros de meretriz.<br />
19
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Como podemos dar-nos a uma unidade espúria em um ato sexual ilícito, quan<strong>do</strong> estamos<br />
uni<strong>do</strong>s ao Senhor? (vs. 16,17). Portanto, “fugi da prostituição”. Não existe outro mo<strong>do</strong> de<br />
tratar o caso!<br />
Passo seguinte, a singularidade <strong>do</strong> adultério é descrita no v. 18. “A assertiva <strong>do</strong><br />
Apóstolo é estritamente veraz. O alcoolismo e a glutonaria são peca<strong>do</strong>s feitos no corpo e<br />
através <strong>do</strong> corpo, sen<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong>s mediante o abuso <strong>do</strong> mesmo, porém, são coisas<br />
introduzidas de fora, erradas em seu efeito, cujo efeito é dever de cada indivíduo prever e<br />
evitar”. Mas a fornicação é uma usurpação daquele corpo que pertence ao Senhor. Não é<br />
um efeito sobre o corpo, com base na participação de coisas vindas de fora, mas, antes,<br />
uma “degradante solidariedade física, incompatível com a solidariedade <strong>do</strong> crente em<br />
Cristo”, uma contradição da verdade <strong>do</strong> corpo, proveniente de si mesmo.<br />
Leon Morris descreve a singular gravidade <strong>do</strong> adultério deste mo<strong>do</strong>: “Outros<br />
peca<strong>do</strong>s contra o corpo, por exemplo a bebedice e a glutonaria, envolve o uso de algo<br />
que vem de fora <strong>do</strong> corpo. O apetite sexual surge de dentro. Aqueles se prestam para<br />
outros propósitos, por ex., a sociabilidade. Este não tem outro propósito que o da<br />
gratificação da lascívia. Aqueles são pecaminosos quan<strong>do</strong> usa<strong>do</strong>s em excesso. Este é em<br />
si mesmo pecaminoso”.<br />
4.1.5) Quinto, adultério é uma estupidez. “O caminho <strong>do</strong>s prevarica<strong>do</strong>res é áspero”<br />
(Pv 13:15). A princípio parece <strong>do</strong>ce. É a solução que “caiu <strong>do</strong> céu”. “To<strong>do</strong>s os meus<br />
problemas serão resolvi<strong>do</strong>s”. Até que se descobre que seu preço é alto: “Porque os<br />
lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais suave <strong>do</strong> que o<br />
azeite. Mas o seu fim é amargoso como o absinto, agu<strong>do</strong> como a espada de <strong>do</strong>is gumes.<br />
Os seus pés descem para a morte; os seus passos estão impregna<strong>do</strong>s <strong>do</strong> inferno. Para<br />
que não ponderes os caminhos da vida, as suas andanças são errantes: jamais os<br />
conhecerás. Agora, pois, filhos, dai-me ouvi<strong>do</strong>s, e não vos desvieis das palavras da minha<br />
boca. Longe dela seja o teu caminho, e não te chegues à porta da sua casa; para que não<br />
dês a outrem a tua honra, e não entregues a cruéis os teus anos de vida; para que não<br />
farte a estranhos o teu esforço, e to<strong>do</strong> o fruto <strong>do</strong> teu trabalho vá parar em casa alheia; e<br />
no fim venhas a gemer, no consumir-se da tua carne e <strong>do</strong> teu corpo. E então digas: Como<br />
odiei a correção! e o meu coração desprezou a repreensão! E não escutei a voz <strong>do</strong>s que<br />
20
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
me ensinavam, nem aos meus mestres inclinei o meu ouvi<strong>do</strong>! No meio da congregação e<br />
da assembléia foi que eu me achei em quase to<strong>do</strong> o mal” (Pv 5:3-14).<br />
4.1.6) O adultério é especialmente grave por configurar-se numa traição em um<br />
ambiente construí<strong>do</strong> necessariamente sobre a base da confiança. Somente uma atitude<br />
de extremo egoísmo exporia à instabilidade e ao sofrimento aqueles que nos são mais<br />
próximos, que mais dependem e mais esperam de nós. Sem dúvida, “as lágrimas,<br />
dúvidas e noites mal <strong>do</strong>rmidas de pessoas que passaram pela trágica experiência da<br />
traição conjugal e os filhos de pais separa<strong>do</strong>s devem nos alertar e sensibilizar” (Hans<br />
Ulrich Reifler).<br />
Quem permanece a vaguear em busca de pastos mais verdes não tem ideia <strong>do</strong><br />
frescor <strong>do</strong> seu próprio. “Bebe água da tua fonte, e das correntes <strong>do</strong> teu poço (...) seja<br />
bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade. Como cerva<br />
amorosa, e gazela graciosa, os seus seios te saciem to<strong>do</strong> o tempo; e pelo seu amor sejas<br />
atraí<strong>do</strong> perpetuamente (...)” (Pv 5:15,18,19). Noutras palavras, olhe para dentro, nunca<br />
para fora <strong>do</strong> seu cerca<strong>do</strong>!<br />
“Russel Conwell conta uma história incomparável:<br />
Era uma vez um i<strong>do</strong>so, penso que se chamava Ali Hafed. Ele era possui<strong>do</strong>r de uma<br />
grande fazenda, pomar, campos de cereais, hortas. Fizera muitos investimentos, e estava<br />
rico e contente. Um dia recebeu a visita de um velho sacer<strong>do</strong>te budista, um homem de<br />
elevada estirpe. Eles se assentaram perto <strong>do</strong> fogo e o sacer<strong>do</strong>te contou-lhe a minuciosa<br />
história da criação. E concluiu dizen<strong>do</strong> que os diamantes eram as pedras preciosas mais<br />
raras e valiosas que haviam si<strong>do</strong> criadas; ‘gotas congeladas de luz solar’, e, se Ali tivesse<br />
diamantes, ele poderia obter o que quisesse para si e para a sua família.<br />
Ali Hafed começou a sonhar com diamantes – acerca de quanto eles valiam. E<br />
tornou-se pobre. Ele não perdera nada, mas sentia-se pobre. Ele disse: ‘Quero uma mina<br />
de diamantes’, e ficava acorda<strong>do</strong> durante a noite.<br />
Certa manhã ele decidiu vender a sua fazenda e tu<strong>do</strong> o que tinha, e viajar pelo<br />
mun<strong>do</strong>, em busca de diamantes. Juntou o dinheiro que tinha, deixou a família aos<br />
cuida<strong>do</strong>s de um vizinho, e começou a sua busca. Viajou pela Palestina e pela Europa<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
extensivamente, e nada encontrou. Por fim, depois que o seu dinheiro já fora to<strong>do</strong> gasto e<br />
ele estava em farrapos, em miséria e pobreza, chegou em uma praia em Barcelona,<br />
Espanha. Uma grande onda veio quebran<strong>do</strong>, e esse homem pobre, desanima<strong>do</strong>,<br />
sofren<strong>do</strong>, quase moribun<strong>do</strong>, não pôde resistir à terrível tentação de se lançar nessa onda<br />
tremenda. E afun<strong>do</strong>u, para nunca mais emergir.<br />
“O homem que comprou a fazenda de Ali Hafede, certo dia levou o seu camelo<br />
para o regato que havia em sua horta. Quan<strong>do</strong> o camelo colocou o focinho naquele ribeiro<br />
raso, o novo proprietário notou um brilho curioso de luz, que provinha de uma pedra nas<br />
areias brancas da torrente. Ao esgravatar com os de<strong>do</strong>s a areia, ele encontrou um monte<br />
das mais belas pedras preciosas: diamantes. Esta foi a descoberta da mais magnífica<br />
mina de diamantes na história da humanidade: a Golconda. Os maiores diamantes que<br />
enfeitam as coroas reais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vieram dessa mina” (Peterson).<br />
Pare de comparar seu cônjuge com quem quer que seja. Ele é especial. Ele é só<br />
seu. Deus o separou para você. “Alegra-te com a mulher da tua mocidade”.<br />
4.2) Causa e prevenção<br />
Após havermos pensa<strong>do</strong> sobre a gravidade <strong>do</strong> adultério, devemos ponderar sobre<br />
quais as suas possíveis causas. Desse mo<strong>do</strong>, ressalte-se, não desejamos justificá-lo.<br />
Adultério é adultério, peca<strong>do</strong> grave contra Deus, contra a instituição divina <strong>do</strong> casamento,<br />
contra estabilidade e santidade <strong>do</strong> lar, uma negação da verdade <strong>do</strong> corpo e ponto final.<br />
Nada o tornará menos pecaminoso!<br />
No entanto, apenas colocar sua gravidade não nos isenta da responsabilidade de<br />
proteger o cônjuge contra os possíveis e não raros assaltos que to<strong>do</strong>s sofremos. Assiste<br />
razão a quem vê o adultério como uma fragilidade <strong>do</strong> casal, e não somente <strong>do</strong> adúltero.<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Embora tenhamos coloca<strong>do</strong> alhures a realidade quanto aos prazeres da vida<br />
sexual, é possível que muitos, ao terem li<strong>do</strong>, tenham pensa<strong>do</strong> secretamente ou mesmo<br />
dito abertamente: “Tu<strong>do</strong> bem, mas isto não corresponde à minha realidade”. Na<br />
verdade, para alguns, a hora <strong>do</strong> sexo é a hora <strong>do</strong> terror, é o pior e o mais angustiante de<br />
to<strong>do</strong>s os momentos. Outros ainda já perderam as esperanças de reencontrarem o<br />
caminho <strong>do</strong> prazer na cama e já vaticinaram: “melhor seria se ele não pensasse mais<br />
nisso”. É nesse passo que surgem to<strong>do</strong>s os tipos de desculpas: os afazeres, as crianças,<br />
o cansaço, a enfermidade e coisas que valham, contanto que se livrem daquela hora.<br />
Já em 1953, o Dr. Alfred Kinsey, chama<strong>do</strong> o pai <strong>do</strong> “relatório sexual”, “disse que<br />
metade <strong>do</strong>s homens e um quarto das mulheres que entrevistou confessaram relações<br />
extraconjugais”. Na pesquisa da Redbook, em 1974, quase um terço das mulheres<br />
participaram de relações extraconjugais. Destas, cerca de 90% haviam ti<strong>do</strong> sexo pré-<br />
nupcial. A mesma pesquisa revelou que é duas vezes mais provável que esposas sem<br />
religião tenham sexo fora <strong>do</strong> casamento <strong>do</strong> que aquelas fortemente religiosas.<br />
Apenas anoto estes da<strong>do</strong>s com a finalidade de apontar à insatisfação com o prazer<br />
sexual no casamento. É óbvio, ressalte-se outra vez, que o adúltero não será justifica<strong>do</strong><br />
pela negligencia que sofre em seu casamento, mas, é certo que alguns relacionamentos<br />
propiciam a carência que gera o caso extraconjugal. É óbvio ainda que o cônjuge<br />
insatisfeito esteja mais vulnerável aos ataques de Satanás, e isto não sou eu que digo!<br />
Vejamos as palavras <strong>do</strong> escritor inspira<strong>do</strong>: “Mas, por causa da prostituição, cada<br />
um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio mari<strong>do</strong>. O mari<strong>do</strong> pague<br />
à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao mari<strong>do</strong>. A mulher não tem<br />
poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o mari<strong>do</strong>; e também da mesma maneira o<br />
mari<strong>do</strong> não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos priveis<br />
um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao<br />
jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela<br />
vossa incontinência” (I Co 7:2-5).<br />
Notemos que neste texto, o apóstolo indica uma das razões <strong>do</strong> matrimônio: “as<br />
prostituições” (v 2). No verso 3, ele inicia sua fala sobre as obrigações <strong>do</strong> casamento, o<br />
que desenvolve no verso 4, afirman<strong>do</strong> que os cônjuges “não têm poder sobre o seu<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
próprio corpo”. A palavra “poder” aí é “autoridade”, indican<strong>do</strong> que os cônjuges não têm o<br />
direito de usarem seus corpos completamente como queiram. Eles têm obrigações<br />
mútuas, o que sugere que o ato sexual é algo absolutamente indispensável em tempos<br />
normais.<br />
No verso 5, Paulo desenvolve ainda a ideia de que um cônjuge pertence ao outro,<br />
a ponto de chamar a negação <strong>do</strong> próprio corpo de ato de fraude. A privação, ensina, só<br />
deve acontecer (1) “por mútuo consentimento”, (2) “por algum tempo” (e depois ajuntai-<br />
vos outra vez) e (3) “para vos aplicardes ao jejum e à oração”, “para que Satanás não vos<br />
tente pela vossa incontinência”.<br />
Para Paulo, a nossa incontinência é tal que mesmo os afastamentos por mútuo<br />
consentimento e santo propósito devem ser esporádicos e não tão longos. O que contribui<br />
ao nosso ponto é que ambos, mari<strong>do</strong> e mulher, se tornam mais vulneráveis quan<strong>do</strong> o<br />
casamento não lhes proporciona satisfatório prazer sexual.<br />
Conservemos, pois, em mente a exortação apostólica de I Co 7: manter a relação<br />
conjugal viva é um antí<strong>do</strong>to eficiente contra a incontinência na área sexual. Por isso,<br />
desejo oferecer algumas notas sobre o que se pode fazer positivamente pela construção<br />
e preservação de uma vida conjugal satisfatória. Vejamos.<br />
Primeiro, controlemos o mal humor. Ninguém deseja ardentemente ir para a<br />
cama com um eterno irrita<strong>do</strong>, <strong>do</strong> tipo que de tu<strong>do</strong> reclama e para quem tu<strong>do</strong> está sempre<br />
erra<strong>do</strong>. Qualquer brisa suave é por ele interpretada como um torna<strong>do</strong> violento.<br />
Segun<strong>do</strong>, vigiemos as palavras. “O homem prudente encobre o conhecimento,<br />
mas o coração <strong>do</strong>s tolos proclama a estultícia” (Pv 12:23). Não percebemos que não dá<br />
para ir à cama estan<strong>do</strong> cheios de mágoas?<br />
Terceiro, não percamos nenhuma oportunidade de elogiar nosso cônjuge.<br />
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a<br />
edificação, para que dê graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de<br />
Deus, no qual estais sela<strong>do</strong>s para o dia da redenção.Toda a amargura, e ira, e cólera, e<br />
gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós, antes sede uns para com<br />
os outros benignos, misericordiosos, per<strong>do</strong>an<strong>do</strong>-vos uns aos outros, como também Deus<br />
vos per<strong>do</strong>ou em Cristo” (Ef4:29-32). Este foi o segre<strong>do</strong> <strong>do</strong> reencontro de Salomão e<br />
Sulamita: palavras de elogio. Ela fala sobre o quanto admira seu ama<strong>do</strong>, em 5:10-16. Ele<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
declara-se apaixonadamente em 6:4-9 e 7:1-9. Até que novamente se reencontram em<br />
7:10-13.<br />
Quarto, lutemos contra a rotina. Ela é cruel. Sejamos criativos. Tomemos<br />
iniciativas. Planejemos juntos o lazer que seja adequa<strong>do</strong> para ambos. Invistamos em<br />
momentos só para o casal, freqüentemente. Mas, acima de tu<strong>do</strong>, criemos uma rotina<br />
agradável, vez que não vivemos da exceção, mas da regra.<br />
Quinto, não guardemos mágoas. Quan<strong>do</strong> formos magoa<strong>do</strong>s, abramos o coração<br />
de um mo<strong>do</strong> que não acusemos nosso cônjuge. Ao invés de dizermos: “você me<br />
magoou”, digamos, “estou me sentin<strong>do</strong> feri<strong>do</strong>”, “preciso colocar meus sentimentos e lhe<br />
per<strong>do</strong>ar”.<br />
Sexto, tentemos conversar abertamente sobre sexo. Não precisamos ser nem<br />
pornógrafos em nosso linguagem, nem demasiadamente escrupulosos. O livro de<br />
Cantares é um exemplo claro <strong>do</strong> que digo. As falas são desinibidas sem ferirem nossa<br />
sensibilidade. Essa é a linguagem <strong>do</strong> Espírito Santo. Nestas conversas, precisamos tentar<br />
nos conhecer melhor. Gostos, preferências, coisas indesejadas, tu<strong>do</strong> precisa ser coloca<strong>do</strong><br />
de mo<strong>do</strong> claro.<br />
Sétimo, tentemos vencer a inibição, se inibi<strong>do</strong>s, ou tentemos respeitar a<br />
inibição <strong>do</strong> outro, se desinibi<strong>do</strong>s. Precisamos descobrir juntos, na intimidade <strong>do</strong> casal,<br />
o que excita o outro, sem que haja qualquer tipo de coerção.<br />
Oitavo, aprendamos a ceder. Raramente os casais se encontram no tocante ao<br />
ritmo sexual. Muitas vezes aquilo que é escassez para um é transbordante para o outro.<br />
Ambos deveremos ceder. O amor sabe sacrificar algo pelo outro. E o mais importante:<br />
não nos sintamos rejeita<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> o cônjuge não estiver com vontade.<br />
Nono, lembremo-nos que somos casa<strong>do</strong>s, e, como tais, possuímos deveres<br />
para com o outro. “O mari<strong>do</strong> pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a<br />
mulher ao mari<strong>do</strong>” (I Co 7:3). Não podemos mais viver como bem desejamos a ponto de<br />
negligenciarmos nossos deveres maritais.<br />
Décimo, leiamos uma boa literatura cristã sobre o assunto. Há nas livrarias<br />
tanto materiais bons quanto ruins. Escolha o melhor, o mais equilibra<strong>do</strong> e dê preferência a<br />
autores consagra<strong>do</strong>s à área de aconselhamento familiar, mormente com base em<br />
exposições de textos bíblicos que tratam <strong>do</strong> assunto. Ademais, leituras que nos ajudam a<br />
conhecer mais a Bíblia nos auxiliarão a sermos cristãos melhores e, por isso, cônjuges<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
melhores. Conheçamos as funções <strong>do</strong> seu corpo, ao máximo que pudermos, tanto quanto<br />
<strong>do</strong> nosso cônjuge. Leiamos, ao menos, um bom livro por ano nesta área.<br />
Décimo primeiro, procuremos ajuda em casos especiais. Alguns perpetuam um<br />
problema por não se disporem a pedir socorro. Alguns casos pedem um conselheiro,<br />
outros, um profissional médico.<br />
Décimo segun<strong>do</strong>, zelemos o nosso corpo. Cuidemos de nossa saúde e da<br />
higiene pessoal. Evitemos, por tu<strong>do</strong> nesta vida, os maus o<strong>do</strong>res. Procuremos apresentar-<br />
nos quase sempre atraentes para nosso cônjuge, mas nunca repulsivos.<br />
Décimo terceiro, não usemos o sexo como uma arma que premia ou pune. Isto<br />
é mais especialidade das mulheres, que costumam expressar sua insatisfação com a<br />
negação <strong>do</strong> sexo.<br />
Décimo quarto, e por outro la<strong>do</strong>, não apareçamos faceiros e agradáveis só<br />
quan<strong>do</strong> quisermos sexo. Isso é simplesmente patético! E ela sente-se usada ante<br />
tamanho cinismo.<br />
Décimo quinto, tenhamos em casa a devida privacidade e mantenhamos o<br />
ninho devidamente apto para nos receber. Alguns não suportarão a casa de cabeça<br />
para baixo. Sei que alguns se excedem nesse perfeccionismo. Mas, por favor, que o<br />
mínimo suficiente seja observa<strong>do</strong>.<br />
Por fim, deixo-vos com este conselho de Augustus Nicodemus e Minka<br />
Schaulkwijk: “mantenham expectativas realistas sobre o desempenho sexual a assim<br />
evitarão frustrações (...) Os casais deveriam se conscientizar que é perfeitamente normal<br />
não ter relações sexuais toda noite” (com grifo nosso).<br />
4.3) E se nada funcionar?<br />
Remetemos o leitor ao texto de Gn 29:30-35. O verso 26 deste capítulo explica,<br />
ainda que não justifique, o que segun<strong>do</strong> Labão era costume em sua terra: “não se faz<br />
assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita”.<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
Sen<strong>do</strong> este o costume da terra, Lia não reivindicou estrita exclusividade<br />
monogâmica. Os seus ciúmes não diziam respeito a privilégios sexuais. O que ela não<br />
pode aceitar foi não ser amada! Ah, isso não.<br />
O verso 30 nos informa que Jacó “amou também a Raquel mais <strong>do</strong> que a Lia”.<br />
Esta, que amava seu mari<strong>do</strong> (30:15a!), teve sua tristeza compensada pelo Senhor, pois<br />
“ven<strong>do</strong> (...) que Lia era desprezada, abriu a sua madre” (v. 31).<br />
Lia, que era “desprezada”, “preterida”, alimentava esperanças de conquistar o amor<br />
<strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>. E isto expôs nos nomes e expressões de sentimentos positivos que<br />
proferia a cada novo filho.<br />
Quero que você note que Jacó mantinha relações sexuais com Lia. Mas isso não<br />
era o bastante. Lia precisava ser amada. Lia precisa entender as expressões <strong>do</strong> afeto de<br />
Jacó, ver demonstração de seu interesse por ela.<br />
A cada um <strong>do</strong>s primeiros três filhos há uma palavra que revela sua <strong>do</strong>r e um bra<strong>do</strong><br />
de esperança renovada.<br />
Nasceu o primeiro filho “e chamou-o Rúben”, nome que alguns dizem significar “eis<br />
um filho!”, “pois disse: Porque o Senhor atendeu à minha aflição...”. A palavra hebraica<br />
para ‘aflição’ é, literalmente “depressão”. Lia sentia-se deprimida por não ser amada.<br />
Talvez esta seja a causa das depressões da esposa <strong>do</strong> leitor. Ela meramente está<br />
convencida de que você não a ama! Mas, quanto à Liz, sua esperança é que “agora me<br />
amará o meu mari<strong>do</strong>”. Seria você tão sur<strong>do</strong> como Jacó que não consegue ouvir o clamor<br />
de sua esposa?<br />
Ao segun<strong>do</strong> filho Lia chamou-o Simeão, que talvez signifique ‘audição’, para indicar<br />
que Deus continua lhe ouvin<strong>do</strong>. Por ocasião <strong>do</strong> nascimento de Simeão, lhe disse:<br />
“porquanto o Senhor ouviu que eu era desprezada”. A palavra hebraica que é traduzida<br />
para ‘desprezada’ significa “odiada”. Esta era a maneira como Lia entendia os<br />
sentimentos de Jacó para com ela. Como você acha que reage na cama uma mulher que<br />
se sente ‘odiada’ ou humilhada? Com que alegria você espera que ela lhe receba em<br />
casa? Não, não, não se engane! O máximo que uma mulher assim poderá fazer é cumprir<br />
sua ‘obrigação’ de esposa e dizer: “tome logo, homem, tome o que lhe devo”. É assim que<br />
você a quer?<br />
Lia revela mais de suas impressões com o terceiro filho. Ela se sentia distanciada<br />
<strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong> e deixa escapar sua esperança que “agora esta vez se unirá meu mari<strong>do</strong> a<br />
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Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
A <strong>Santidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Sexo</strong><br />
mim”, como que dizen<strong>do</strong>: “não é possível que ele permaneça longe, já lhe dei três filhos”.<br />
Lia talvez compartilhasse das expectativas tolas que ainda hoje sobrevivem, a saber, que<br />
filhos prendem mari<strong>do</strong>s. Em pensan<strong>do</strong> assim, até que poderíamos justificar Lia, pela<br />
cultura na qual ela estava inserida. Mas de mo<strong>do</strong> algum desculpamos as mulheres que<br />
continuam a gerar filhos com o fim de agarrar o mari<strong>do</strong>. Não, não, jamais! O seu mari<strong>do</strong><br />
tem que ficar com você por você. Jacó queria Raquel sem filhos mesmo. Elcana queria<br />
Ana sem filhos mesmo. Veja como ele a consolava: “Ana, por que choras? E por que não<br />
comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor <strong>do</strong> que dez filhos?” (I<br />
Sm 1:8).<br />
Lia concebe o quarto filho, “dizen<strong>do</strong>: Esta vez louvarei ao Senhor”. É possível que<br />
Lia tenha aprendi<strong>do</strong> que não deveria viver em torno de suas buscas pessoais. Que Deus<br />
era mais importante que Jacó. Que melhor era parar para ver coisas maiores que Deus<br />
estava fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong> que viver em torno de um homem frágil como seu mari<strong>do</strong>. Lia não foi a<br />
mais amada das esposas de Jacó, mas por meio dela viria o Messias, nosso Senhor. “Por<br />
isso chamou-o Judá, que significa ‘Deus seja louva<strong>do</strong>’”. Deus seja louva<strong>do</strong>, com ou sem o<br />
amor de Jacó. Ou simplesmente teria acha<strong>do</strong> Lia, na religião, uma maneira de afogar<br />
suas mágoas? Quem não conhece mulheres mal amadas que canalizam sua carência<br />
aos assuntos religiosos?<br />
Não imaginamos ser o caso. Quero que você perceba a dignidade da fé desta<br />
mulher, a Lia. Ela percebeu que mesmo as mais grandiosas estratégias podem falhar.<br />
Não pode conquistar o mari<strong>do</strong> nem lhe dan<strong>do</strong> quatro filhos. A despeito disso, fez o que as<br />
mulheres que nada mais esperam <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> deveriam fazer: encontrar seu amparo e seu<br />
regozijo em Deus. Afinal, Deus, antes de querer que tenhamos uma vida sexual<br />
plenamente satisfeita, deseja que busquemos o Seu Reino e sua justiça. A glória de Deus<br />
deve animar-nos mais que qualquer satisfação de ordem pessoal.<br />
Portanto, deixemo-nos encher pelo Espírito Santo, e cuidemos em nos esforçar<br />
para que o fruto <strong>do</strong> Espírito seja cada vez mais evidente em nós. Julgamos plenamente<br />
possível a um casal manter uma vida equilibrada, fiel, respeitosa e afetuosa, ainda que<br />
não haja a melhor sexualidade possível.<br />
A Deus toda a glória.<br />
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />
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