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Conseqüências do boicote parcial ao ENADE na ... - DAA - Ufs

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1. Introdução<br />

<strong>Conseqüências</strong> <strong>do</strong> <strong>boicote</strong> <strong>parcial</strong> <strong>ao</strong> <strong>ENADE</strong> <strong>na</strong> avaliação de cursos fracos<br />

André M. C. Souza<br />

Departamento de Física/UFS<br />

O Exame Nacio<strong>na</strong>l de Desempenho de Estudantes (E<strong>na</strong>de) é um exame desti<strong>na</strong><strong>do</strong> a avaliar o<br />

desempenho <strong>do</strong>s estudantes da Educação Superior e é componente curricular obrigatório <strong>do</strong>s cursos<br />

de graduação, bem como condição prévia a conclusão <strong>do</strong> curso e registro <strong>do</strong> diploma.<br />

O desempenho <strong>do</strong>s cursos é expresso através de uma escala de cinco níveis e tem como<br />

resulta<strong>do</strong> fi<strong>na</strong>l uma conceito entre 1 e 5.<br />

Neste trabalho apresentamos um quadro ilustrativo sobre como se obtém o conceito de um<br />

curso no E<strong>na</strong>de. Fazemos também uma análise de um efeito de <strong>boicote</strong> às provas.<br />

2. A distribuição normal<br />

Como não há como avaliar antecipadamente a dificuldade que os alunos terão em uma<br />

determi<strong>na</strong>da prova, é usual usar conceitos da estatística a fim de padronizar as notas. Este<br />

procedimento é usual e é utiliza<strong>do</strong> para obtenção da nota fi<strong>na</strong>l de candidatos <strong>na</strong> maioria <strong>do</strong>s<br />

vestibulares e concursos.<br />

Existe um teorema matemático que aplica<strong>do</strong> à situação em questão implica que as notas de<br />

to<strong>do</strong>s os cursos estão distribuídas de acor<strong>do</strong> com uma função chamada “distribuição normal”. Esta<br />

função tem <strong>do</strong>is valores característicos, o valor médio e o desvio-padrão. O valor médio corresponde<br />

à média das notas de to<strong>do</strong>s os cursos e o desvio padrão à dispersão das notas <strong>ao</strong> re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> valor<br />

médio. Na figura abaixo, apresentamos uma representação da distribuição normal.<br />

3. A atribuição <strong>do</strong> conceito<br />

O conceito de cada curso é calcula<strong>do</strong> a partir de:<br />

i) Média das notas de to<strong>do</strong>s os alunos de um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> curso que realizaram a prova <strong>do</strong><br />

E<strong>na</strong>de.<br />

ii) Média e desvio-padrão da distribuição normal obtida das médias de to<strong>do</strong>s os cursos <strong>do</strong><br />

Brasil <strong>na</strong> área <strong>do</strong> curso a ser avalia<strong>do</strong>.<br />

A partir da média e desvio-padrão da distribuição normal obtida das médias de to<strong>do</strong>s os<br />

cursos <strong>do</strong> Brasil <strong>na</strong> área <strong>do</strong> curso a ser avalia<strong>do</strong>, separa-se as notas <strong>do</strong>s cursos de graduação em 5<br />

classes. Cada classe corresponde a um conceito (1, 2, 3, 4 e 5).


Não vamos aqui explicitar como são calcula<strong>do</strong>s os conceitos, pois são necessários cálculos<br />

matemáticos que não são fáceis de entendimento para leitores sem estu<strong>do</strong> prévio de estatística.<br />

Entretanto, vamos dar uma ilustração de como são separa<strong>do</strong>s os conceitos a partir da distribuição<br />

normal das notas.<br />

Na figura seguinte apresentamos um exemplo típico da distribuição normal obtida a partir das<br />

médias de to<strong>do</strong>s os cursos <strong>do</strong> Brasil <strong>na</strong> área de certo curso a ser avalia<strong>do</strong>. Consideran<strong>do</strong> que as<br />

provas têm notas entre 0(zero) e 100(cem), podemos ver as regiões de notas correspondentes às 5<br />

classes de conceito. Estas classes são determi<strong>na</strong>das pela média e desvio-padrão das notas.<br />

Em termos de quantidade, a maioria <strong>do</strong>s cursos fica com conceito 3. Depois vêem os cursos<br />

com conceito 2 e 4, e fi<strong>na</strong>lmente uma peque<strong>na</strong> quantidade de cursos fica com conceito 1 e 5.<br />

É importante salientar que a distribuição normal de um curso de matemática é diferente de<br />

um curso de letras e assim cada tipo de graduação tem sua distribuição normal particular. Portanto, é<br />

possível, por exemplo, um curso de matemática ser conceito 5 com nota média igual a 50, enquanto<br />

que um curso de letras ser conceito 1 com a mesma média. Tu<strong>do</strong> depende da média <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e o<br />

desvio-padrão de cada tipo de graduação.<br />

4. O <strong>boicote</strong><br />

Como a participação <strong>na</strong> prova <strong>do</strong> E<strong>na</strong>de é obrigatória, o <strong>boicote</strong> se dá quan<strong>do</strong> o aluno “zera”<br />

a prova. Isto é, quan<strong>do</strong> o aluno responde às questões objetivas aleatoriamente e não responde às<br />

questões subjetivas. Como conseqüência, a nota <strong>do</strong> aluno fica muito abaixo <strong>do</strong> que poderia e assim a<br />

nota média daquela turma fica aquém <strong>do</strong> que poderia.<br />

Como o <strong>boicote</strong> não se dá em to<strong>do</strong>s os cursos de uma mesma graduação <strong>do</strong> Brasil, isto<br />

resulta, fundamentalmente, <strong>na</strong> mudança da distribuição normal obtida das médias de to<strong>do</strong>s os cursos<br />

<strong>do</strong> Brasil <strong>na</strong> área a que pertence o curso a ser avalia<strong>do</strong>. Portanto, temos como conseqüência <strong>do</strong><br />

<strong>boicote</strong>:<br />

1) Diminuição da média <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

2) Aumento <strong>do</strong> desvio-padrão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

Estes <strong>do</strong>is fatores modificam os pontos de separação entre os conceitos. A figura abaixo<br />

apresenta uma situação típica.


Sem <strong>boicote</strong><br />

Com <strong>boicote</strong><br />

O mais importante a observar é que alguns cursos que sem o <strong>boicote</strong> <strong>parcial</strong> teriam conceito 1<br />

passam a ter conceito 2, e cursos com conceito 2 passam para conceito 3. Não a<strong>na</strong>lisamos aqui as<br />

mudanças de entre conceitos 3, 4 e 5. Estas mudanças se dão porque os cursos que boicotam caem de<br />

conceito e por conservação cursos fracos aumentam de conceito.<br />

5. Conclusão<br />

O <strong>boicote</strong> além de fazer diminuir o conceito de um curso em particular, também tem como<br />

conseqüência aumentar o conceito de alguns cursos fracos que não fazem <strong>boicote</strong>. Consideran<strong>do</strong>, por<br />

exemplo, que a avaliação in loco de um curso fraco se dá quan<strong>do</strong> a este é atribuí<strong>do</strong> um conceito 1, o<br />

<strong>boicote</strong> <strong>parcial</strong> <strong>ao</strong> E<strong>na</strong>de por parte de alunos de bons cursos tem favoreci<strong>do</strong> vários cursos<br />

fracos que deveriam passar por processos de descredenciamento.<br />

6. Observações<br />

Exploramos aqui, a partir de uma análise puramente matemática, conseqüências de um<br />

<strong>boicote</strong> <strong>parcial</strong> <strong>ao</strong> E<strong>na</strong>de. Salientamos que um trabalho com esta profundidade ape<strong>na</strong>s serve como<br />

subsídio para um debate mais aprofunda<strong>do</strong> sobre este processo de avaliação, seus objetivos e<br />

conseqüências.<br />

Agradecemos <strong>ao</strong> Prof. Antonio Edílson <strong>do</strong> Nascimento pela sugestão de apresentar este<br />

estu<strong>do</strong>.<br />

Aracaju, 03 de novembro de 2008

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