ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 94 Romeiros- acompanhantes Participantes cujo vínculo com a romaria não está relacionado à escolha pessoal em função da devoção com o santo, mas ao acompanhamento por pressão ou voluntário a outro participante da romaria. Geralmente são curiosos de qualquer idade ou jovens, menores de 18 anos a quem os familiares mais velhos tentam inculcar a importância das práticas religiosas. Estão geralmente em estágios variáveis do processo de socialização religiosa. Tanto há os envolvidos em práticas de devoção oficiais e populares quanto os que dão os primeiros passos na aproximação com o catolicismo ainda demonstrando alheamento a expressões do culto religioso característico das romarias. Percebem a romaria como uma “aventura do conhecimento do mundo”. Não tem uma elaboração formada sobre a experiência, recorrendo frequentemente à leitura dos mais experientes para construir uma elaboração racional sobre o deslocamento. Evocam muito as referências de narrações e explicações de segunda mão como forma de elaborar a experiência num quadro de representações. QUADRO 1: Tipificação dos participantes das romarias que se nomeiam romeiros em Juazeiro do Norte. A noção genérica de romeiro reflete a conceituação dos deslocamentos de pessoas estabelecidas sob a égide de categorias abstratas. Sua utilidade se assenta na tentativa de compreensão da dinâmica social, já que se torna praticamente impossível no contexto contemporâneo de pluralidade e individuação definir fronteiras entre categorias próximas, num plano mais concreto. Essa noção pode ser analisada como representação de uma mentalidade ideal-típica que se estrutura com determinada atitude profunda, de maneira distinta diante dos significados do mundo das festas tradicionais. “Cada membro do grupo se orientaria em direção a esse tipo-ideal, abstrato por definição, com mais ou menos rigor, sem nunca encarná-lo na sua integralidade” (SANCHIS, 1987, on line). Identifiquei, a priori, “romeiros" como sujeitos da pesquisa. Entretanto, em termos de agentes sociais, não existe “o romeiro” modelado a partir de fôrma única. Desconstruir o conceito de romeiro como categoria natural é tarefa fundamental para avançar na compreensão do agente, que hoje tem vários perfis. Principalmente ao observar que existem distinções significativas nas motivações para as romarias e na reprodução da devoção nas novas gerações de romeiros.
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 95 Romeiros, moradores, turistas, devotos e curiosos podem ser tomados como categorias sociais que foram observadas de forma distinta ao longo do tempo e que, a partir de processos culturais mais amplos, passaram a se construir de forma diferenciada pelos contextos de interação que mesclam suas distinções. Com efeito, complexificou-se a definição de fronteiras classificatórias e as interpretações são possíveis apenas com a utilização de categorias analíticas híbridas, cuja investigação de sentidos suscita a compreensão das formas como instituições e agentes diversos colaboram nessa construção. Por exemplo, em Juazeiro do Norte, prefeitura e secretaria de turismo se encarregam de montar um cenário para explorar e criar demandas diversificadas durante a visitação e fazer o romeiro consumir um produto que não é necessariamente religioso, mas que usa daquele momento de expressão religiosa para se colocar à venda. A promoção de eventos culturais nas romarias, como apresentações de reisados, lapinhas, manifestações folclóricas e shows de forró, constitui-se atrativo diferenciado, pelo caráter festivo dimensionado em brincadeira e diversão. Durante a maior parte da pesquisa utilizei o instrumental de observação participante que favoreceu a identificação das “lógicas” dos grupos pertencentes à categoria abstrata romeiro e ajudou a pensar em “tipos ideais” como tendências, oferecendo referências a partir das quais foi possível pensar a diversidade no interior da categoria. Nesse sentido, a manutenção ou instituição de formas diferenciadas de ser romeiro se dá por conta de uma interdependência constituída a partir de um só processo de transformação cultural que lhes dá sentido. Há ainda uma diversidade exterior à noção nativa de romeiro quando os participantes assim não se nomeiam, embora sejam percebidos como tais pelos demais. Não se classificando a si mesmos como “romeiros”, fazem surgir outro conjunto de “tipos” como referências para pensar elementos de diversidade a partir de localizações e fronteiras utilizadas em processos de identificações distanciados das noções convencionadas.
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categorias sociais que foram observadas de forma distinta ao longo do tempo e que,<br />
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possíveis apenas com a utilização de categorias analíticas híbridas, cuja<br />
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prefeitura e secretaria de turismo se encarregam de montar um cenário para<br />
explorar e criar demandas diversificadas durante a visitação e fazer o romeiro<br />
consumir um produto que não é necessariamente religioso, mas que usa daquele<br />
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Há ainda uma diversidade exterior à noção nativa de romeiro quando os<br />
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