19.04.2013 Views

ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 89<br />

uma vez que a liberação de tensões e a sensação de liberdade que isso oferece<br />

fortalecem os fiéis. Por isso “a própria idéia de cerimônia religiosa de alguma<br />

importância desperta naturalmente a idéia de festa” (DURKHEIM, 1989, p.456).<br />

A festa, nesse sentido, possui um caráter mantenedor da moral social, como<br />

transgressão simbólica da ordem, passível de permitir a pacificação das pressões<br />

sociais. Essa é uma linha de raciocínio também compartilhada por DaMatta (1997)<br />

que percebe a festa em seu aspecto ritual, capaz de manifestar aquilo que se deseja<br />

tornar perene numa sociedade, colocando em destaque as coisas do mundo social<br />

através de mecanismos de reforço, mas também de inversão e de neutralização.<br />

Para este autor, no Brasil, as festas incluem-se entre os eventos fora do dia-a-dia,<br />

contextualizados na condição de situações extraordinárias e previstas, construídas<br />

pela e para a sociedade e cuja passagem entre o universo cotidiano e o universo<br />

extraordinário é marcada por mudanças de comportamento que tornam os eventos<br />

extraordinários especiais. Esses eventos, segundo DaMatta, estariam polarizados<br />

em formais (solenidades, congressos, funerais etc.) e informais (festas, brincadeiras<br />

e demais situações em que o comportamento é dominado pela liberdade resultante<br />

da suspensão temporária das regras hierarquizantes).<br />

Na perspectiva durkheimiana, a festa, mesmo leiga, apresenta<br />

características de ritual religioso, pelo seu efeito de aproximar os indivíduos e<br />

suscitar um estado de efervescência das massas, distraindo os participantes de<br />

suas ocupações e preocupações ordinárias e, assim, suscitando necessidade de<br />

violar regras normalmente respeitadas (DURKHEIM, 1989).<br />

Segundo Amaral (1998), essa relação entre religião e festa no Brasil instaurou-<br />

se a partir da tentativa de estabelecer uma comunicação entre diferentes culturas<br />

durante o período colonial. A partir da importação de uma forma portuguesa de festejar,<br />

marcada pela religiosidade medieval, estabeleceu-se um modelo de sociabilidade<br />

inscrito na busca da semelhança dentro da diversidade. As festas religiosas que desde<br />

a Idade Média distribuem-se no calendário Juliano representam a tentativa da Igreja<br />

católica de “apropriar-se do tempo e das religiões pagãs, seguida de um processo de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!