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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 88<br />

determinam condutas e práticas sociais referentes ao que Berger (1986) chama de<br />

“sociedade no homem”, ou seja, a papéis e identificações reconstruídas<br />

eternamente. Combinados, turismo e religião reinventam e revigoram cultos<br />

tradicionais em tempos de pluralidade religiosa. Fortuna (1999) faz uma abordagem<br />

que fortalece a idéia de que a presença de uma componente turística nas<br />

peregrinações se desenrola numa sociedade que se “desencanta”, tendo a religião,<br />

numa situação assim, a tendência a ser apropriada e percebida de modo individual,<br />

surgindo acompanhada de novas linguagens e símbolos.<br />

Para Benjamin (2000), a relevância do turismo religioso se assenta na sua<br />

capacidade de atrair pessoas da classe média e alta; contudo o povo mantém uma<br />

estrutura organizacional própria na realização de romarias, com traços culturais que<br />

remontam a tradição das peregrinações penitenciais, ao mesmo tempo em que<br />

incorporam aspectos típicos do turismo da modernidade. De outra forma, o culto<br />

também funciona como mídia seminal da ortodoxia religiosa entre massas<br />

analfabetas (EADE, SALLNOW 70 , 2000). Para Steil (2003), entretanto, a romaria<br />

opera como um discurso “metassocial” que comporta duas formas de sociabilidade:<br />

a lógica da peregrinação em situação de comunhão e a lógica turística da distinção e<br />

do estranhamento na relação com o outro. Essa abordagem no campo dos<br />

deslocamentos, como romarias ou como deambulações turísticas, coloca em xeque<br />

a interação entre os agentes envolvidos - indivíduos e grupos - que são plurais,<br />

resultantes de diferentes ordenamentos e códigos sociais e refletem a busca da<br />

identidade pessoal e coletiva num mundo em rápida transformação.<br />

Durkheim (1989) já apontava que o mundo das coisas religiosas é produzido<br />

por forças intensas e tumultuosas que deixam um excedente disponível de material<br />

simbólico, resultante num estado de efervescência sentida pelos fiéis. Esse mundo<br />

não se exaure com a expressão de práticas situadas em simbologias convencionais.<br />

A recreação também tem o seu lugar na renovação moral que é objetivo do culto,<br />

70 Para desenvolver essas considerações esses autores escreveram textos colados nas noções<br />

elaboradas por Redfield (Peasant society and culture: an anthropological approach to civilization.<br />

Chicago: University of Chicago Press, 1956) e Srinivas (The cohesive role of Sanskritization. In:<br />

MASON, P. India and Ceylon: unity and diversity. London: Oxford University Press,1967).

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