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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 86<br />

vontade onde se encontram, seja nos locais de trabalhos, seja onde moram”<br />

(KRIPPENDORF, 2001).<br />

De fato, marcadamente depois da Segunda Guerra Mundial, o volume do<br />

fluxo de deslocamento de pessoas entre lugares aumentou e as motivações se<br />

diversificaram. Os desenvolvimentos industrial, científico e tecnológico promoveram<br />

acesso a meios de transporte para um número cada vez maior de pessoas; a<br />

globalização encurtou distâncias e o contexto sócio-econômico mundial, no final do<br />

século XX, estabeleceu a necessidade de vivenciar períodos de lazer e descanso<br />

longe da rotina “massificante” do trabalho. Isso aparece também no discurso romeiro<br />

em Juazeiro do Norte:<br />

A romaria dá chance de muita coisa. Acho que se fosse só a igreja e a<br />

religião não vinha nem um quarto do povo que vem hoje. E a gente quer<br />

unir o útil ao agradável. [...] Aqui é uma folga do trabalho também, eu quero<br />

mais é esquecer de casa, de conta, de panela no fogo, de tudo quanto é de<br />

preocupação. Deixei tudo lá e só quero saber quando voltar [...] Aqui não<br />

tem descanso porque ninguém vem pra ficar parado, deitado de cara pra<br />

cima, mas é uma folga boa dos problemas (FRANCISCA, 37, 2009).<br />

O mal estar no trabalho se constituiria como um dos elementos motores<br />

para as deambulações, mas não apenas como decorrente da competitividade e<br />

conflitos de classe. Para MacCannell (1999), o trabalho no mundo moderno não<br />

coloca classe contra classe, tanto como coloca o homem contra si mesmo, dividindo<br />

fundamentalmente a sua existência. O indivíduo moderno, para parecer humano, é<br />

forçado a forjar a própria síntese entre seu trabalho e sua cultura 69 .<br />

O trabalho, na sociedade capitalista, além de meio de sobrevivência,<br />

oferece elementos para o estabelecimento de identidades, de tal forma que aquilo<br />

que se faz gera o reconhecimento por parte do grupo ao qual se pertence, fazendo<br />

com que a ação por meio do trabalho seja determinante do valor do indivíduo na<br />

sociedade. Por outro lado, o individuo de origem rural e cultura rústica no mundo<br />

69 Tradução livre do original: “Work in the modern world does not turn class against class so much as it<br />

turns man against himself, fundamentally dividing his existence. The modern individual, if he is to<br />

appear to be human, is forced to forge his own synthesis between his work and his culture”(p. 37).

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