ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 84 Bremer (2005) assinala três abordagens mais amplas entre pesquisadores que consideraram as intersecções entre religião e turismo: a abordagem espacial, que se volta para a análise de diferentes comportamentos espaciais entre peregrinos e turistas que ocupam o mesmo espaço; a abordagem histórica, que se preocupa em compreender a relação entre as formas religiosas de viagem e as práticas turísticas; e a abordagem cultural, que entende o turismo religioso como uma prática moderna de peregrinação. No campo das investigações sociológicas destacam-se as seguintes tendências interpretativas do turismo: 1. O turismo como um simulacro ou artifício do real, na medida em que a imagem dos lugares e a forma de ser da comunidade se modificam intencionalmente para atender às expectativas do visitante; 2. O turismo como uma forma de busca de autenticidade fora do cotidiano, interpretado sob a ótica teórica utilizada nos estudos da religião; e 3. O turismo como uma forma de consumo (STEIL, 2002). A primeira tendência avalia as deambulações turísticas como simulacro e discute, basicamente, a passagem de uma posição ativa para outra passiva no viajante contemporâneo. Essa mudança provocaria uma atitude de espectador que assiste a um espetáculo preparado por terceiros – os agentes de viagem – e adquirido sob a forma de pacote, uma mercadoria oferecida como serviço comercializável (ARAÚJO, 2001). Nessa perspectiva, ocorreria um distanciamento entre o viajante e o público visitado. Os visitantes reforçariam seus valores, estrutura de origem e imagem estereotipada da realidade, através de representações caricatas do cotidiano local de visitação (KRIPPENDORF, 2001). É marcante observar que em Juazeiro do Norte, houve, ao longo do tempo e por parte do poder público e da Igreja, uma construção de cenários artificiais, capazes de acender o imaginário do romeiro a respeito dos eventos ocorridos que deram origem ao fluxo de visitações. A estátua do Padre Cícero, com 25 metros de altura, no alto da colina do Horto e o Museu Vivo, onde se reproduzem cenas do cotidiano do Padre com imagens de resina em tamanho natural, provocam
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 85 encantamento aos visitantes e suscitam manifestações que qualificam a identificação com o lugar, este deixa de ser do outro para ser o lugar do próprio visitante, uma “terra de romeiros”. A segunda tendência centra-se na perspectiva de revisão do referencial teórico de estudos da religião e rituais para a compreensão do fenômeno turístico e se legitima, na medida em que, a partir do processo de secularização, a religião estaria perdendo espaço para outras maneiras de explicar a realidade e regular a vida social. Essa segunda corrente, desencadeada por MacCannell na década de 1970 e inspirada em Durkheim - As formas elementares da vida religiosa - tem sido usada para analisar o turismo como uma “versão moderna da preocupação com o sagrado” (ABUMANSSUR, 2003). Nessa perspectiva, é possível considerar que ambos os campos - religioso e turístico - são regidos pelo mesmo mecanismo social que determina o sagrado e o profano. Numa descrição das dimensões do sagrado e do profano em um culto religioso Durkheim (1989) relata que “... tudo se passa como se ele [o praticante do ritual] tivesse se transportado realmente para um mundo especial, muito diferente do cotidiano, para um ambiente povoado de forças de excepcional intensidade, que invadem e o transformam”. Muitas vezes viajar é mesmo isso: um sair do cotidiano, não importando para onde. Viaja-se para voltar, para perceber que o cotidiano não é tão ruim. Nessa lógica, o turismo teria a mesma função social da religião. Sob o esteio dessa corrente, Krippendorf (2001, p. 36) considera que A possibilidade de sair, de viajar reveste-se de uma grande importância. Afinal, o cotidiano só será suportável se pudermos escapar do mesmo, sem o que perderemos o equilíbrio e adoeceremos. O lazer e, sobretudo, as viagens pintam manchas coloridas na tela cinzenta da nossa existência. Elas devem reconstituir, recriar o homem, curar e sustentar o corpo e a alma, proporcionar uma fonte de forças vitais e trazer um sentido à vida. Para o sujeito comum, contemporaneamente, viajar não representa descobrir um mundo novo, “as pessoas viajam porque não se sentem mais à
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Bremer (2005) assinala três abordagens mais amplas entre pesquisadores<br />
que consideraram as intersecções entre religião e turismo: a abordagem espacial,<br />
que se volta para a análise de diferentes comportamentos espaciais entre peregrinos<br />
e turistas que ocupam o mesmo espaço; a abordagem histórica, que se preocupa<br />
em compreender a relação entre as formas religiosas de viagem e as práticas<br />
turísticas; e a abordagem cultural, que entende o turismo religioso como uma prática<br />
moderna de peregrinação.<br />
No campo das investigações sociológicas destacam-se as seguintes<br />
tendências interpretativas do turismo: 1. O turismo como um simulacro ou artifício do<br />
real, na medida em que a imagem dos lugares e a forma de ser da comunidade se<br />
modificam intencionalmente para atender às expectativas do visitante; 2. O turismo<br />
como uma forma de busca de autenticidade fora do cotidiano, interpretado sob a<br />
ótica teórica utilizada nos estudos da religião; e 3. O turismo como uma forma de<br />
consumo (STEIL, 2002).<br />
A primeira tendência avalia as deambulações turísticas como simulacro e<br />
discute, basicamente, a passagem de uma posição ativa para outra passiva no<br />
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assiste a um espetáculo preparado por terceiros – os agentes de viagem – e<br />
adquirido sob a forma de pacote, uma mercadoria oferecida como serviço<br />
comercializável (ARAÚJO, 2001). Nessa perspectiva, ocorreria um distanciamento<br />
entre o viajante e o público visitado. Os visitantes reforçariam seus valores, estrutura<br />
de origem e imagem estereotipada da realidade, através de representações<br />
caricatas do cotidiano local de visitação (KRIPPENDORF, 2001).<br />
É marcante observar que em Juazeiro do Norte, houve, ao longo do tempo e<br />
por parte do poder público e da Igreja, uma construção de cenários artificiais,<br />
capazes de acender o imaginário do romeiro a respeito dos eventos ocorridos que<br />
deram origem ao fluxo de visitações. A estátua do Padre Cícero, com 25 metros de<br />
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cotidiano do Padre com imagens de resina em tamanho natural, provocam