ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 76<br />
o termo peregrinação não se aplicava quando o deslocamento era realizado por<br />
meio de ônibus, mas que deslocamentos feitos a pé, tipicamente classificados como<br />
peregrinação, também eram designados de romaria. Constatações como essa,<br />
levaram Steil a considerar a variada demanda de significados atribuídos pelos<br />
participantes das romarias e peregrinações, ao mesmo tempo em que o sentido de<br />
sua vivência, como atos de imersão no sagrado, constituem-se fatores decisivos<br />
para caracterização dessas modalidades de deslocamentos no pólo de significação<br />
que as diferencia do fenômeno turístico. Por outro lado, as romarias, por oferecerem<br />
ampla variedade de atividades, não se apresentam como fenômenos distintos em si<br />
mesmos das peregrinações, devendo-se considerá-las como eventos que<br />
acomodam sentidos e práticas diversificadas de acordo com seu contexto social,<br />
cultural e político. A fala da romeira em Juazeiro do Norte a seguir corrobora o<br />
argumento de Steil, localizando a romaria na dimensão da festa religiosa e<br />
comunitária:<br />
Você sabe que eu não sei? Eu só escuto dizer de peregrinação pela boca<br />
dos padre. É como que a gente tem que ter na cabeça que Nosso Senhor<br />
como que ta no meio de nós todo tempo. E Ele ta mesmo porque Ele<br />
caminha como naquela passagem da praia, nós pensa que é só no mundo,<br />
mas é porque num se lembra de como é, se esquece de entregar as coisa a<br />
Deus. Agora na romaria é como assim outra coisa, uma força que eu sei<br />
que é de Deus e de meu Padim, um desengano quando não vem de perder<br />
de ver a festa, os andor, as procissão, a falta do povo tudo junto, de meu<br />
Padim, só de pensar em num vim, vendo tudo lá saindo nos ônibus, nos<br />
caminhão... Ave Maria! (ORLANDINA, 62, 2006).<br />
Ao pontuar que a peregrinação está no discurso da Igreja, a romeira também<br />
localiza elementos importantes da discussão que é trazida por Sanchis (2006), ao<br />
demonstrar que romarias são representações típicas de encontro e “fricção” entre a<br />
religião do povo e a do clero. Esta posição o situa entre os autores que tratam a<br />
romaria como prática da religião popular, em oposição a práticas institucionalizadas.<br />
Essa perspectiva decorre da manutenção de larga margem de autonomia e<br />
liberdade de expressão, enquanto percurso ao sagrado e característica desses<br />
eventos, frequentemente associando festa e culto. Este autor argumenta que a