ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 75<br />
relações dos indivíduos com a religião, assim como as dimensões das<br />
peregrinações na atualidade, embora permaneçam marcadas por traços medievais.<br />
Considerando as peculiaridades desse tipo de fenômeno como um conjunto de<br />
práticas com relativa “autonomia institucional”, penso que se faz necessário<br />
tencionar as noções de peregrinação e romaria, no sentido de problematizar os seus<br />
usos como classificação, na medida em que institucionalmente e entre praticantes<br />
há divergências quanto a sua similaridade. Trata-se apenas de disputa semântica? É<br />
possível tratá-las como classificações para um mesmo fenômeno? Se não, o que as<br />
aproxima e as distancia? Para discutir esses aspectos, cotejarei seguidamente as<br />
classificações de Steil e Sanchis sobre romarias e peregrinações com minhas<br />
reflexões a partir de dados produzidos na aproximação empírica.<br />
De acordo com Steil (2003), essas categorias são reveladoras de posições<br />
sociais e, por meio da relação particular que os agentes desenvolvem com a<br />
realidade a que se referem, esses eventos apresentam-se com instrumentos de<br />
ação. Nesse sentido, as peregrinações estariam associadas à idéia de um caminho<br />
percorrido pautado pela alteridade: em busca de um “outro”, físico ou espiritual, o<br />
peregrino vivencia uma transformação interior 68 . Por assim ser, seria uma jornada de<br />
santificação, que também aponta para uma busca mística de si. Já as romarias,<br />
seriam caracterizadas por percursos mais curtos, envolvendo festas e devoção, além<br />
de larga participação comunitária. A relação entre romaria, festa e o aspecto<br />
comunal do evento são os principais pontos sustentados por Steil (2003a) na<br />
tentativa de discernir entre romarias e peregrinações, embora o autor reconheça que<br />
ambas as classificações dão conta de uma grande variedade de experiências de<br />
deslocamentos por motivo de devoção e culto. As romarias parecem expressar<br />
experiências de caráter mais coletivo, inclusive organizadas em muitas situações por<br />
agentes da própria instituição eclesiástica e suportadas ao longo do tempo por meio<br />
de investimentos políticos administrativos que lhes dão sustentação. O autor discute<br />
a partir dos eventos que pesquisou no Rio Grande do Sul. Ali observou também que<br />
68 Cf. NOLAN, Mary Lee; NOLAN, Sidney. Christian pilgrimage in modern western Europe. Chapel<br />
Hill/ London: The University of North Carolina Press, 1989. Citado pelo autor.