ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 72<br />
peregrinações invocando proteção e nascidas do desespero e do desamparo<br />
favoreceram a difusão da doença.<br />
A guerra dos cem anos entre França e Inglaterra, o declínio do culto aos<br />
santos e a crescente veneração a Virgem teriam arrefecido o impulso de<br />
crescimento das peregrinações e redirecionado essa prática no período pós-<br />
medieval (GERSON, 1995). É importante considerar o efeito combinado dos<br />
diversos fatores que influenciaram as peregrinações (e seu declínio) naquele<br />
período, alguns já enunciados como a peste, o descrédito provocado pelas práticas<br />
abusivas da Igreja e a crise do feudalismo, além da descoberta de novos parâmetros<br />
de compreensão da realidade, com a descoberta do novo mundo.<br />
No final da baixa Idade Média a produção dinamizou-se. Entre a França e a<br />
Bélgica, a produção artesanal de tecidos passou a utilizar trabalho assalariado;<br />
houve expansão de caravanas de mercadores e casas bancárias; as cidades<br />
medievais tomaram impulso com as atividades comerciais e a regulamentação das<br />
atividades produtivas pelas Corporações de Ofício (BARBEIRO, 1984). O<br />
rompimento das relações tradicionais no campo e na cidade e o acirramento dos<br />
conflitos de classe, desencadeados pela Revolução Industrial, associados às novas<br />
concepções de realidade resultante da expansão marítima e do desenvolvimento da<br />
ciência moderna, desenharam um quadro de “fim dos tempos”, principalmente<br />
quando essas mudanças foram determinantes na percepção de novos contornos da<br />
sociedade e da religião.<br />
As peregrinações, que tinham sofrido um período de retração,<br />
acompanhando o quadro de crise e mudanças no final da Idade Média, voltaram a<br />
figurar como manifestações freqüentes do Catolicismo, pautadas pelas aparições<br />
marianas, mensagens e milagres de caráter milenarista que estimularam novos<br />
deslocamentos a partir do século XIX (TURNER, 1978). Ao mesmo tempo, o culto<br />
aos santos, característico da religiosidade medieval, permaneceu presente<br />
principalmente em pequenas comunidades, que mantiveram práticas religiosas