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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 68<br />

peregrinações. Para Turner (1974) os fenômenos liminares oferecem uma mistura<br />

de submissão, santidade, homogeneidade e camaradagem evidenciada em<br />

comunidades não estruturadas onde todos os membros são iguais e que<br />

caracterizam o que ele chama de “communitas”. As peregrinações de forma geral<br />

seriam fenômenos liminares ou quase liminares (TURNER; TURNER, 1978).<br />

Segundo estes autores, os fenômenos liminares seriam obrigatórios e previstos para<br />

os que dele participam (como era o caso das peregrinações medievais, inseridas<br />

num sistema de penitência e punição), além de relacionados a uma espécie de<br />

suspensão da vida cotidiana, semelhante à segregação sócio-espacial dos ritos de<br />

passagem em sociedades tribais.<br />

Num contexto moderno e contemporâneo, a peregrinação passa a ser uma<br />

ação voluntária e não obrigatória, o que escapa ao conceito de liminaridade e<br />

remete à noção criada pelo próprio Turner de “quase-liminaridade”, caracterizada<br />

por comportamentos dependentes da decisão e ação do indivíduo.<br />

Entre o século VI e XIII, a penitência assume outras características,<br />

relacionadas inicialmente à propagação da possibilidade de sua repetição e<br />

absolvição para aqueles que recaíam em pecado grave, manifestando-se também<br />

mais privada, na medida em que se tornou comum a determinação da expiação por<br />

meio de penitências tarifadas, previamente estabelecidas para os pecados<br />

confessados e redigidas em livros penitenciais. As penas consistiam em<br />

mortificações 62 mais ou menos duras, que variavam em termos de duração. Passou-<br />

se a admitir compensações e redenções, por meio de pagamentos em dinheiro à<br />

Igreja, em celebrações de missas e em pagamento a outro para realizar a<br />

penitência, ou seja, “terceirizando” o pagamento dos pecados. As comutações<br />

favoreciam abusos e distanciamento do sentido religioso da expiação (MIRANDA,<br />

1978).<br />

Em relação à penitência pública, praticada até o século IV, a penitência<br />

tarifada se diferenciava por poder ser repetida, tornar-se habitual, sem ingresso<br />

62 As mortificações variavam entre torturas corporais, vigílias, orações prolongadas e diversos tipos de<br />

abstinência (MIRANDA, 1978).

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