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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 64<br />

figura de Deus era tida como aquele que controla e responde por tudo que acontece,<br />

dos incidentes mais simples do cotidiano, aos acontecimentos mais importantes da<br />

vida. Só no século XVIII é que as pessoas estavam preparadas para admitir a<br />

existência de qualquer poder na própria natureza ou o funcionamento do mundo<br />

natural sem a atribuição da intervenção divina. Essas circunstâncias eram propícias<br />

para que as pessoas atribuíssem o regimento de suas vidas a forças divinas<br />

irresistíveis. Sem o controle do devir, o único recurso estava em suplicar e<br />

desempenhar atos piedosos, capazes de lhes propiciar remediação de suas<br />

desventuras. Assombrados por imagens do inferno e das dores que se sofria no<br />

purgatório, o mundo cristão foi educado acreditando em contos de descidas ao<br />

inferno corporais que marcaram a religião medieval com um profundo pessimismo.<br />

Essas imagens criaram no meio popular um sentimento de fatalismo em relação à<br />

salvação, considerada quase um milagre e concedida apenas através da intercessão<br />

dos santos. Desde o século V, o culto às relíquias foi criado como meio pelo qual os<br />

fiéis visualizavam possibilidades de resistência ao poder do mal do mundo 54 . Por<br />

meio do contato com as relíquias se conquistava a saúde do corpo e a absolvição da<br />

alma. Como contraponto ao mal, os santos representavam de forma familiar as<br />

forças do bem.<br />

As primeiras peregrinações do Cristianismo datam do início do século IV,<br />

quando o imperador Constantino instituiu a liberdade de culto no Império Romano<br />

em 313 d.C. Desenvolveram-se em locais onde estavam enterrados santos,<br />

apóstolos, mártires, mas, principalmente, havia um desejo de “seguir as pegadas do<br />

mestre” numa espécie de percurso inspirado nos textos das escrituras. Entre os<br />

registros das primeiras peregrinações a Terra Santa, no final do Século VI,<br />

escreveria Paulino de Nola (apud SUMPTION, 2003, p. 123) sobre a experiência<br />

peregrina:<br />

54 De acordo com Pereira (2003), um fator também importante na ampliação das peregrinações foi a<br />

multiplicação de santuários decorrentes da trasladação e repartição dos corpos de santos e mártires,<br />

a partir do século VII. As peregrinações originadas do culto às relíquias eram impossíveis de controlar<br />

pelas autoridades eclesiásticas locais que passaram a tirar partido desse movimento, aumentando a<br />

receita de instituições como mosteiros e catedrais a partir da compra de relíquias com o objetivo de<br />

atrair peregrinos que tinham por costume fazer donativos de bens e dinheiro nos locais das<br />

peregrinações.

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