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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 63<br />

para expiação de faltas, para pagar determinados pecados ou para cumprir penas<br />

canônicas 52 (JONES-NERZIC, 2008).<br />

A partir do século III 53 , as peregrinações consistiam em visitar os lugares<br />

sagrados por curiosidade e vontade de ver e tocar, no sentido de perceber<br />

objetivamente o transcendente como realidade e dirimir incertezas. Com efeito, as<br />

representações disseminadas largamente sobre as peregrinações a partir destas<br />

primeiras experiências caracterizam-nas por práticas de piedade e veneração, pelo<br />

desejo do praticante de redimir seus pecados, purificando-se e obtendo absolvição<br />

de suas faltas. Nessa idealização, os motivos para empreender a jornada estão<br />

relacionados também a pedidos de cura e agradecimento de benefícios alcançados<br />

pela ajuda divina. Feitas em situações de esforço físico, renúncia a comodidade e<br />

desprendimento de bens, tem o sentido de sacrifício pelo peregrino. Essas jornadas<br />

submetem-no a desconfortos, privações e abrigos precários. Ao chegar ao destino,<br />

percorre os lugares sagrados, realizando rituais nos quais santifica objetos pessoais<br />

pondo-os em contato com relíquias dos santos, que acredita serem capazes de<br />

curar e abençoar; participa de rituais e realiza orações agradecendo conquistas e<br />

aquisições e pedindo mais. Atualmente, essas práticas são também relativamente<br />

comuns entre os moradores de cidades destinos de romarias a que tive acesso e<br />

remetem a uma compreensão deste evento que remonta ao início das peregrinações<br />

Cristãs.<br />

Para compreender as origens das peregrinações é preciso ter em conta o<br />

seu contexto de surgimento. De acordo com Sumption (2003), a intensidade peculiar<br />

da piedade medieval teve como causa principal a ampla difusão de uma visão de<br />

mundo caracterizada por absoluto estado de caos e dominada pela realidade do<br />

mal, cuja permanente intervenção divina era a única possibilidade de orientação. A<br />

52 Segundo o Código de Direito Canônico da Igreja Católica, as penas canônicas são discutidas no<br />

Livro VI - Das Sanções na Igreja – que trata dos delitos e das penas em geral, do processo penal, da<br />

aplicação e cessação das penas e dos diversos tipos de delitos. As penas canônicas correspondem a<br />

sansões que a Igreja impõe a algumas condutas particularmente relevantes, como o adultério, o<br />

incesto e aborto intencional, a exemplo.<br />

53 Segundo Sumption (2003), nos três primeiros séculos da era cristã, não havia muito o que ver em<br />

Jerusalém, pois a maior parte da cidade que Cristo havia conhecido, tinha sido destruída por Titus por<br />

volta do ano 70.

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