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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 229<br />

coloca o romeiro em contato com engenhos de mundo mais amplos, melhor dizendo,<br />

com uma diversidade de mundos que se integram no grande mundo das romarias.<br />

Essas interações suscitam respostas e reações que vão dando forma ao fenômeno,<br />

algumas vezes apenas retocando, outras redesenhando o original de outras épocas.<br />

Importa pensar que seja uma benção ou uma maldição, vivemos tempos<br />

interessantes 146 , ambíguos e abertos a possibilidades diversas de interpretação. A<br />

romaria, nesse contexto, também é uma festa, uma festa com função agregadora<br />

para além da dimensão ritualística, pois há um movimento continuo que vai do pólo<br />

devocional ao festivo. Na festa, música, dança, emoção, comida e bebida são<br />

elementos comuns. Não é uma experiência de trânsito entre um pólo e outro porque<br />

a dimensão tempo está implicada. Devoção e diversão são domínios que caminham<br />

junto ao evento, não estão fixos e não podem ser acessados como dimensões<br />

congeladas da realidade. Muito menos o romeiro funciona como unidade fechada,<br />

que acessa dimensões distintas da realidade, ele é também o próprio fluxo.<br />

Descreve sua trajetória movimentando-se de forma não linear de acordo com suas<br />

experiências, revolucionando em torno de eixos móveis que se apresentam ao longo<br />

do tempo. Não quero dar uma idéia de aleatoriedade aqui, mas pensar junto como o<br />

movimento, reconhecendo um padrão coletivo de devir que, antes de estabelecer<br />

uma direção, se estabiliza na própria oscilação, podendo ser congelado num ponto<br />

de seu trajeto para análise, como a pausa do retrato, embora permaneça em<br />

movimento.<br />

O mundo não é estanque, um lugar muito menos. Nesse sentido, o Juazeiro<br />

sagrado estabelecido na memória do romeiro é fixo porque imaginado e simbólico,<br />

mas, ao mesmo tempo, as outras práticas de romaria instalam o romeiro no outro<br />

Juazeiro, o das relações cotidianas, que é movimento. Da mesma forma, o romeiro<br />

estereotipado entre fanático, adoidado e crédulo que circula no imaginário coletivo<br />

146 “Que você viva tempos interessantes” é uma velha maldição chinesa citada por Geertz no artigo<br />

"La religion, sujet d'avenir". O texto convida a compreensão da religião do ponto de vista de visões de<br />

mundo de seus produtores culturais, ou, nas palavras do próprio Geertz, “do ponto de vista nativo”. O<br />

artigo foi publicado em 5 de maio de 2006, no Le Monde, e traduzido em 14 de maio do mesmo ano<br />

para a Folha de São Paulo, sob o título “O futuro das religiões”.

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